V. 26, N. 3, 2017 O Eixo E a Roda
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V. 26, N. 3, 2017 O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira e-ISSN 2358-9787 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Reitor: Jaime Arturo Ramírez; Vice-Reitora: Sandra Regina Goulart Almeida FACULDADE DE LETRAS Diretora: Graciela Inés Ravetti de Gómez; Vice-Diretor: Rui Rothe-Neves CONSELHO EDITORIAL Antônio Carlos Secchin, Berthold Zilly, Ettore Finazzi-Agrò, Flora Süssekind, John Gledson, João Adolfo Hansen, Leda Maria Martins, Maria Zilda Ferreira Cury, Melânia Silva de Aguiar, Murilo Marcondes de Moura, Roberto Acízelo de Souza. EDITORA Claudia Campos Soares EDITORA ADJUNTA Márcia Regina Jashke Machado ORGANIZAÇÃO Gustavo Silveira Ribeiro (UFMG) Roberto Alexandre do Carmo Said (UFMG) Eduardo Horta Nassif Veras (UFTM) REVISÃO Bruno Silva D’Abruzzo FORMATAÇÃO Alda Lopes Úrsula Francine Massula O EIXO E A RODA: revista de literatura brasileira, 1982 - Belo Horizonte. Faculdade de Letras da UFMG. ilust. 25cm Periodicidade semestral Histórico: 1982 fasc. não numerado; v.1 (1983); v.2 (1984); v.3 (não publicado); v.4 (1985); v.5 (1986); v.6 (1988); v.7 (2001) 1. Literatura brasileira – Periódicos. I. Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Letras. Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários. CDD: B869.05 ISSN:0102-4809 Faculdade de Letras da UFMG Setor de Publicações, sala 4003 Av. Antônio Carlos, 6627 – Pampulha 31270-901 Belo Horizonte, MG – Brasil Tel.: (31) 3409-6009 - www.letras.ufmg.br e-mail: [email protected] Sumário 7 Apresentação Dossiê Filosofia e Literatura no Brasil: contágio, passagem, disseminação 11 Experiência literária e afetos: ampliando o conceito de representação Literary experience and affects: broadening the concept of representation Ligia Gonçalves Diniz 39 Literatura na margem: pensando o par centro/periferia entre filosofia e estética Literature in the margin: thinking the couple center/periphery between philosophy and aesthetics André Luiz Barros da Silva 57 Clarice Lispector e as fronteiras do Nada: ensaio sobre filosofia e literatura Clarice Lispector and the borders of Nothingness: An essay on philosophy and literature Cicero Cunha Bezerra 75 Considerações sobre a literatura de Hilda Hilst e Samuel Beckett com base na crítica filosófica da linguagem de Fritz Mauthner Notes on Hilda Hilst’s and Samuel Beckett’s literature based on Fritz Mauthner’s philosophical critique of language Willian André 101 Erenkon do circum-Roraima. Ou uma poética da repetição Erenkon of circum-Roraima. Or a poetic of repetition Devair Antônio Fiorotti 129 A literatura indígena como crítica da modernidade: sobre xamanismo, normatividade e universalismo – notas desde A queda do céu: palavras de um xamã yanomami, de Davi Kopenawa e Bruce Albert Indigenous literature as critic of modernity: on shamanism, normativity and universalism – some notes from Davi Kopenawa’s and Bruce Albert’s The Falling Sky: Words of a Yanomami Shaman Leno Francisco Danner Julie Stéfane Dorrico Peres Varia 159 As dúvidas póstumas de Félix: ciúme, ressentimento e ascetismo em Ressurreição, de Machado de Assis Felix’s posthumous doubts: jelousy, resentment and asceticism in Machado de Assis’ Resurrection Vitor Cei 177 Sozinho entre as árvores: assombramentos da infância nas memórias de Pedro Nava Alone amongst the trees: hauntings of childhood in Pedro Nava’s memories Maria Alice Ribeiro Gabriel 205 Álbum de Caliban: Coelho Neto e a literatura pornográfica na Primeira República Álbum de Caliban: Coelho Neto and pornographic literature during the First Republic Leonardo Mendes 229 Reflexões éticas sugeridas por representações de fantasmas na literatura brasileira Ethical reflections suggested by representations of ghosts in Brazilian literature Cilza Bignotto Entrevista 259 A responsabilidade e as respostas da poesia. Uma conversa com Marcos Siscar Gustavo Silveira Eduardo Horta Nassif Veras Tiago Guilherme Pinheiro O eixo e a roda, Belo Horizonte, v.26, n.3, p. 7, 2017 7 Apresentação O presente número de O Eixo e a Roda, dedicado aos encontros sempre profícuos, sempre cheios de tensão produtiva, entre Literatura Brasileira e Filosofia, reúne textos que, a partir de matrizes teóricas diversas, oferecem um panorama amplo do que podem significar essas zonas de encontro. Os próprios conceitos de mimesis e representação; os muitos questionamentos surgidos entre os limites e silenciamentos impostos aos discursos não-hegemônicos (no circuito de produção e circulação de ideias no Ocidente e além); o pensamento ameríndio, suas potencialidades, encontros e desencontros com a Filosofia e a Teoria da Literatura: esses são alguns dos temas por que passam os artigos reunidos no Dossiê Temático deste número. Além dele, temos, na seção Varia, textos e reflexões de interesse sobre Machado de Assis, Coelho Neto, Pedro Nava, entre outros. Esses, bem como a entrevista que encerra o volume, onde se discute, por exemplo, o papel e as responsabilidades da poesia no jogo permanente de ideias estabelecido entre a literatura e o pensamento abstrato, de uma forma ou de outra também dialogam com o tema do Dossiê. Aos estudantes, pesquisadores e demais interessados, convidamos à leitura e à divulgação. A comissão organizadora Gustavo Silveira Ribeiro Roberto Alexandre do Carmo Said Eduardo Horta Nassif Veras DOSSIÊ Filosofia e Literatura no Brasil: contágio, passagem, disseminação O eixo e a roda, Belo Horizonte, v. 26, n. 3, p. 11-38, 2017 Experiência literária e afetos: ampliando o conceito de representação Literary experience and affects: broadening the concept of representation Ligia Gonçalves Diniz Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF / Brasil [email protected] Resumo: Este ensaio tem por objetivo investigar os limites do conceito tradicional de representação literária, definida como a relação de sentido entre texto literário e mundo, propondo a inclusão dos afetos – sensações e emoções – como formas de ampliar a configuração da realidade na experiência de leitura. A reflexão parte da noção de representação como entendida por uma parcela significativa da filosofia ocidental moderna e se baseia nas ideias originais de Charles Peirce e Cornelius Castoriadis, entre outros, para propor a importância de uma dimensão corporal da experiência estética. Na literatura, essa dimensão tem vida na imaginação, entendida aqui como um espaço híbrido da consciência, no qual os afetos resistem à circunscrição em interpretação e entendimento racional, mantendo no leitor a vivacidade da experiência. Palavras-chave: representação; afeto; imaginação; leitura; experiência. Abstract: This essay intends to reflect upon the limits of the traditional concept of literary representation, understood as the relation of meaning between literary texts and the world. It suggests that the inclusion of affects – sensations and emotions – as ways of broadening our configuration of reality may enrich the manner we approach reading experiences. This reflection departs from the notion of representation as adopted by part of the modern occidental thought and, with ideas proposed by thinkers such as Charles Peirce and Cornelius Castoriadis, eISSN: 2358-9787 DOI: 10.17851/2358-9787.26.3.11-38 12 O eixo e a roda, Belo Horizonte, v. 26, n. 3, p. 11-38, 2017 concludes that there is an important corporeal dimension in aesthetic experiences. In literature, this dimension comes alive in the imagination, understood in this context as a hybrid space in consciousness, in which affects resist interpretation and rational understanding, keeping in the readers the vivacity of their experience. Keywords: representation; affect; imagination; reading; experience. Recebido em: 2 de maio de 2017. Aprovado em: 14 de setembro de 2017. 1 Introdução A filosofia ocidental moderna e a teoria literária compartilham, em grande medida, o mesmo universo conceitual, que tem entre seus fundamentos a ideia de representação; esta, em uma enunciação neutra, pode ser entendida como o modo de acessarmos e nos relacionarmos, com base em elaborações mentais simples ou complexas, com o mundo à nossa volta. A forma como essa relação se dá – bem como o papel que assumem essas elaborações mentais em relação ao pensamento e à razão – variou e varia imensamente ao longo dos séculos e entre as diversas abordagens teóricas. Michel Foucault, por exemplo, dedicou, em grande medida, seu livro As palavras e as coisas a pensar como a relação entre representação, sobretudo linguística, e conhecimento foi modificada desde Descartes até Kant e além: de uma identificação entre uma e outro, em que pensar era empregar ideias para representar o objeto do pensamento, e na qual as palavras formavam uma “rede incolor a partir da qual os seres se manifestam e as representações se ordenam”, até o momento em que a linguagem aponta para suas próprias fronteiras e em que as coisas do mundo retiram-se daquela “rede incolor” rumo “à sua essência própria” e “definem para si um espaço interno que, para nossa representação, está no exterior” (FOUCAULT, 2007, p. 428-429, 430, 329). Com essa virada, a representação deixa de ser uma espécie de mapa para as coisas do mundo e tem sua origem deslocada, sendo constituída pela mente humana – entre nós e as coisas passa a haver uma fronteira, que, ao mesmo tempo que delimita um exterior e um interior, carrega o processo representacional de subjetividade. O eixo e a roda, Belo Horizonte, v. 26, n. 3, p. 11-38, 2017 13 Se saltarmos até as teorias da psicologia da mente contemporânea, mantemos, sob o conceito de representação, a noção de que há duas instâncias – uma externa, outra interna à mente