Os Exercícios De Hilda Hilst • 6 26 Perguntas a Milton Hatoum • 17 Os Paraísos De John Milton • 36 Oito Poemas Malcriad
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o jornal de literatura do Brasil 180 desde abril de 2000 CURITIBA, ABRIL DE 2015 | www.rascunho.com.br MON MUNIZ A : R : A P A C A ARTE D ARTE ENSAIO Os exercícios de Hilda Hilst • 6 INQUÉRITO 26 perguntas a Milton Hatoum • 17 ENSAIO Os paraísos de John Milton • 36 INÉDITO Oito poemas malcriados, de Francisco Alvim • 44 2 | | abril de 2015 translato | EDUARDO FERREIRA o jornal de literatura do Brasil O SENTIDO QUE fundado em 8 de abril de 2000 Rascunho é uma publicação mensal da Editora Letras & Livros Ltda. SE PROJETA ALÉM Caixa Postal 18821 CEP: 80430-970 Curitiba - PR [email protected] raduzir também é Projetar a ressurreição do Cortar a pulsão pela linha cada vez mais rascunho.com.br projetar o sentido texto primeiro — única chan- longa, com tendência cada vez maior ao para além de sua ba- ce de sobrevivência do original, abstruso. Conter excessos de entusiasmo — se espacial e tempo- como tantas vezes já se disse. arrefecer a irrequietude vazada em jorros er- EDITOR ral. Apanhar o texto Conceber, na nova língua, re- ráticos de criatividade. Traduzir como ato Rogério Pereira Tdo papel, contido em certo in- dação com alta capacidade de de controle da proliferação de significados. tervalo de tempo, e lançá-lo no transmissão de conhecimentos. O tradutor agraciado com resplandecen- ambiente inóspito — mas talvez Texto saturado de informação, te nimbo de santidade; a seus pés, a massa Editor-assistente também ávido por novidade — mas também perfeitamen- agradecida de leitores. Samarone Dias de nova língua, novos leitores. te permeável, para quem tiver Ou caberia pinçar certos fios de sen- Uma aposta no significado fu- sentidos atentos. tidos, dando à escritura ares de fina costu- turo, algo que se deve antever, Sentir as correrias que sa- ra? De fato, coser sentidos escolhidos em Colunistas consolidar e reescrever. codem o substrato do texto. Mo- tecido novo, armando linha a linha o texto Affonso Romano de Sant’Anna Retirar do texto o tuta- vimentos de sentidos instáveis traduzido. Trabalho de paciente e sofistica- no, aquilo que se pode projetar à procura de sólida moldagem, do artesão. Alberto Mussa em novo texto, deixando para mesmo que temporária. Ou, por Ao tradutor resta alcançar êxito no pro- Eduardo Ferreira trás — com dose não pequena outro ângulo, corre-corre de sig- jeto de arriscar texto novo, sempre se intro- Fernando Monteiro de remordimento — os restos nificados vibrantes, arredios a duzindo — ele mesmo, tradutor — como de sentido que não se vergam toda tentativa de fixação. ingrediente a mais, elemento surpresa. Melí- João Cezar de Castro Rocha à translação. Sempre sobrarão Captar também os senti- flua arte essa, de projetar o contentamento de José Castello restos, além das facetas fugi- dos que se formam no espaço tantos ouvidos alheios — além dos seus pró- Nelson de Oliveira dias de um impenetrável núcleo exterior às palavras, breve espa- prios, já tão exigentes. anassêmico. Mas o que se proje- ço que medeia entre papel/tela e Arte que também implica certo sardo- Raimundo Carrero ta já será suficiente para susten- retina. Breve espaço onde se di- nismo, por desde o início saber-se impra- Rinaldo de Fernandes tar o novo texto e, certamente, gladiam definições concorren- ticável. A consciência do impraticável, do Rogério Pereira contentar a imensa maioria dos tes, sem pacificação que não seja impossível: sentimento que dispara a mola leitores. Ou não? a de um contexto matizado pela da impotência, mola que projeta o gesto tea- Ler no texto o que se pro- inevitável idiossincrasia de cada tral de desespero de todo tradutor. O saber-se Projeto gráfico e programação visual cura. Partindo, sempre, de pres- tradutor (esta, uma das raízes herdeiro de uma sina de artista, daquele que Rogério Pereira / Alexandre De Mari supostos e preconceitos que das tantas diferenças entre tra- tem por ofício andar na corda bamba: de um fazem a base de qualquer leitura. duções feitas por conterrâneos lado, a irrelevância; de outro, a crítica mais Algo que vai além do contexto, contemporâneos). virulenta. Dois fundos precipícios. À frente e Colaboradores desta edição ao incluir elemento intrinse- Ao tradutor cabe, en- além, não o paraíso, mas, quem sabe, ao me- André Argolo camente pessoal — a bagagem tão, como que tolher o texto, nos o mero consolo de uma consciência tran- cultural de cada um. talhando-o à sua semelhança. quila. Suficiente? André Caramuru Aubert Arthur Tertuliano Carolina Vigna Cristiano Ramos Donald Hall Francisco Alvim rodapé | RINALDO DE FERNANDES Guilherme Pavarin Haron Gamal Luiz Horácio Luiz Paulo Faccioli Marcos Pasche ANotAÇÕES SOBRE Martim Vasques da Cunha Maurício Melo Júnior Ovídio Poli Junior ROMANCES (20) Rodrigo Gurgel Vanessa C. Rodrigues Vilma Costa m termos de conteú- civilização, para reintegrá-las na que evita[ram] que o mundo sucumbisse”. Vivian Schlesinger do, o que caracteriza sociedade como objetos de va- Em Glasser e a bateria conta-se a história de Wilker Sousa a primeira e a segun- lor. Diamond e o ensino, numa um homem com um coração artificial que da partes de Matteo linha parecida, narra a história funciona através de uma bateria de caminhão perdeu o emprego, de uma escola tomada pelo li- (esta é ligada ao peito do homem por um fio). ILUSTRADORES Ede Gonçalo M. Tavares, é o fa- xo, que sobe os andares, vai en- Glasser, para onde vai, precisa carregar a ba- Carolina Vigna to de todos os relatos trazerem chendo as salas — “[o professor] teria, que é pesada, com mais de vinte quilos. Dê Almeida uma situação absurda. Assim, Diamond tinha a ideia fixa de O relato focaliza o momento em que Glas- Fábio Abreu por exemplo, no relato Ashley e a que o lixo queria regressar a esse ser vai para um bordel ter um encontro com encomenda um indivíduo vai en- mundo através de uma das suas uma prostituta e, na hora de subir as escadas, FP Rodrigues tregar um embrulho numa rua marcas mais fortes: a alfabetiza- e ainda de consumar o ato, precisa do auxílio Hallina Beltrão extensa cujos prédios, todos, têm ção” —, sendo que, no fim, “re- do gerente do bordel e da própria prostitua Osvalter o número 217. O relato Bau- sistem” ao acúmulo de sujeira e para poder conduzir a bateria. “Kashine e o Ramon Muniz mann e o lixo é a história de um ao ar infecto um professor e seus NÃO”, por sua vez, trata de um adolescente indivíduo que “lava” o lixo, que vinte e dois alunos. Sobre estes, de dezesseis anos que vivia a “espalhar não por Robson Vilalba faz a assepsia de peças recolhidas assinala, com ironia, o narrador: onde passa[va]”, que escrevia a palavra “não” Theo Szczepanski na lixeira para reintroduzi-las na “...eram os vinte e dois homens em tudo. E por aí vai. abril de 2015 | | 3 IMA L 11 FELIPE 13 32 46 Desalinho A casa cai Paradiso Poemas Laura Liuzzi Marcelo Backes José Lezama Lima Donald Hall cartas vidraça | SamaRone DIas [email protected] O NOSSO NOBEL GURGEL PREGUIÇOSO Pô, Calheiros, UÇÃO D O Sonolenta e preguiçosa (Mais um naturalista, R Rascunho #178) a crítica de tom — diga-se de que sacanagem passagem — nada sutil do Rodrigo Gurgel. Concluir que o homem que perde ou, segundo Rodrigo, “um O presidente do Senado, Renan povo treinado no apadrinhamento de coronéis e Calheiros, não gosta de literatura. nas benesses governamentais”, é um homem que Estranho seria, se gostasse. Mas DIVULGAÇÃO/REP FOTOS: não lutou é um sofisma imperdoável. Segundo sua poderia ser um pouco mais sensível. lógica, existem apenas dois lados, o do homem No ar desde outubro de 2001, na que vence porque lutou “com suas próprias forças” TV Senado, o programa Leituras e com isso, naturalmente, venceu; e o homem acaba de ter seu fim decretado derrotado, que, vítima passiva de suas agruras, foi para espanto de todos. Mas em derrotado. A visibilidade do universo material dos especial do jornalista e apresentador vencidos sempre será incômoda para os olhares Maurício Melo Júnior, que conduzia dos vencedores. Nisso, o autor da crítica demonstra o programa desde a estreia com a toda a virtude de sua ignorância. entrevista de Lya Luft. Ao longo de Bruno Barroso • via e-mail treze anos, o Leituras manteve periodicidade semanal e fez cerca de Agora, vai. A União seiscentas entrevistas com autores brasileiros, como Lygia Fagundes Brasileira de Escritores Teles, Moacyr Scliar e Autran Dourado. Ao final de cada programa, (UBE) indicou o historiador FORMATO RUIM dois livros de literatura brasileira eram analisados. e cientista político Luiz Ao contrário de algumas mensagens que li na edição Alberto de Vianna Moniz de janeiro, eu preferia o antigo formato. Nada contra Bandeira para o Prêmio tablóides, mas nesse caso prefiro o tradicional. O MOTIVO Nobel de Literatura de Celso Camilo dos Santos • Assis - SP Segundo nota oficial, o motivo para o fim do Leituras é quase uma 2015. Atualmente, ele vive questão de segurança pública. “Este ano, o Senado estabeleceu em Heidelberg (Alemanha), como uma de suas prioridades focar o trabalho legislativo em temas onde é cônsul honorário do HORÁCIO INCOMPETENTE importantes da agenda política nacional como a Reforma Política Brasil. Moniz Bandeira é A resenha Amor aos animais (Rascunho e outros projetos de interesse do país. Em face disso, os veículos autor de mais de 20 obras, #178), de Luiz Horácio, é um dos textos críticos de comunicação vão centrar esforços de produção na cobertura entre quais estão ensaios mais incompetentes que tenho lido nos últimos intensa do trabalho de mais de 20 comissões temáticas, das políticos e coletâneas de anos. Alguém precisa informar a esse senhor reuniões e votações em plenário, além de muitas outras atividades poesias, como Verticais que mesmo os juízes de direito devem justificar diárias de caráter essencialmente legislativo.