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Fundação Biblioteca Nacional Ministério da Cultura Programa Nacional de Apoio à Pesquisa 2012 Programa Nacional de Apoio à Pesquisa Fundação Biblioteca Nacional - MinC Guilherme Moreira Fernandes A HOMOSSEXUALIDADE DE PERSONAGENS PROTAGONISTAS DAS TELENOVELAS DA REDE GLOBO: UMA LEITURA A PARTIR DOS PERIÓDICOS GERAIS E ESPECIALIZADOS DO ACERVO DA BIBLIOTECA NACIONAL 2012 2 Sumário Introdução p. 03 1. Considerações sobre Gênero e Identidade Homossexual p. 06 1.1 Identidades de Gênero: de Scott à Butler p. 10 1.2 Considerações sobre Estética Camp p. 13 1.3 Breve história do Movimento Homossexual p. 15 2. História da Representação da Homossexualidade na Teledramaturgia: o contexto da Ditadura Militar p. 18 3. Censura às Diversões Públicas e a Homossexualidade na Telenovela p. 38 4. A TV de Papel e o recurso comunicativo: notas metodológicas p. 49 5. A homossexualidade na telenovela “O Rebu” p. 58 5.1 Introdução p. 58 5.2 O enredo e os personagens p. 61 5.3 O recurso comunicativo da homossexualidade na TV de Papel p. 66 6. A homossexualidade na telenovela “Os Gigantes” p. 76 6.1 Introdução p. 76 6.2 O enredo e as personagens p. 77 6.3 O recurso comunicativo da homossexualidade na TV de Papel p. 80 7. A homossexualidade na telenovela Brilhante p. 91 7.1 Introdução p. 91 7.2 O enredo e as personagens p. 92 7.3 O recurso comunicativo da homossexualidade na TV de Papel p. 94 Conclusão p. 115 Fontes de Informação p. 118 Corpus primário de pesquisa p. 118 Referências Bibliográficas p. 124 3 Introdução Esta pesquisa, realizada entre os meses de dezembro de 2012 a novembro de 2013, teve como objetivo identificar em jornais e revistas, de cunho geral e especializado, relações de gênero e identidade homossexual de personagens homoafetivos em telenovelas globais, exibidas durante o período do Governo Militar (1964-1986) e que apresentaram LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) como protagonistas ou pertencentes ao núcleo protagonista. Em nossa dissertação de mestrado, intitulada “A representação das identidades homossexuais nas telenovelas da Rede Globo: uma leitura dos personagens protagonistas no período da censura militar à televisão” (FERNANDES, 2012) identificamos três telenovelas que apresentaram personagens com essas características, a saber: “O Rebu” (1974-1975, de Bráulio Pedroso, 22h), “Os Gigantes” (1979-1980, de Lauro César Muniz, 20h) e “Brilhante” (1981-1982, Gilberto Braga, 20h). A partir do conhecimento prévio do enredo e das personagens partimos para a leitura dos jornais e revistas, iniciando duas semanas antes do início da trama e finalizando com duas semanas após o fim do folhetim televisivo. Partindo da concepção da “TV de papel” desenvolvida pelo professor Adolfo Queiróz (2010) buscamos registros da análise dos personagens LGBTs imputadas pelos jornalistas e críticos de televisão. Assim, a finalidade foi a de perceber o “recurso comunicativo” (LOPES, 2009) na simbiose entre a televisão e o jornalismo impresso. Foram selecionados os quatro principais jornais massivos do período, os paulistas “Folha de S. Paulo” (FSP) e “O Estado de S. Paulo” (ESP) e os cariocas “O Globo” (OG) e “Jornal do Brasil” (JB). As principais revistas de informação geral, “Veja” (VJ) e “Istoé” (IE), e as de cunho especializado “Amiga TV Tudo” (AM), “Sétimo Céu” (SC) e “TV Contigo” (TC). Lemos as edições disponíveis no acervo da Biblioteca Nacional e anotamos todas as referências à homossexualidade dos personagens. A “Istoé”, em circulação a partir de 1976, não foi utilizada para a análise de “O Rebu”. De antimão afirmamos que encontramos um número pequeno de matérias e críticas com destaque para a orientação homossexual das personagens. Listamos alguns motivos que iremos discorrer sobre eles no decorrer deste relatório. O primeiro deles foi o tímido espaço encontrado nesses veículos para a análise crítica das telenovelas. 4 “Sétimo Céu” e “Tv Contigo” se limitaram a antecipar enredos ou a focar na vida pessoal dos principais atores das tramas que estavam sendo exibidas. “Amiga Tv Tudo”, de conteúdo mais crítico, limitava-se, por vezes, a publicação de pequenas notas. “O Estado de S. Paulo” praticamente ignorou todas as três tramas estudadas. “Jornal do Brasil” com o decorrer dos anos passou a abrir mais espaço para a televisão. Em 1974- 1975 encontramos pouquíssimas matérias sobre o principal veículo de comunicação massiva, em franco crescimento neste período. A parte de espetáculo do “Caderno B” praticamente se limitava às outras artes, como o teatro, o cinema e a música. Diferentemente, a “Folha de S. Paulo” produziu uma grande material nesse período, através das críticas de Helena Silveira. Contudo, à época de “Os Gigantes” houve uma queda muito grande no volume de material encontrado. O principal veio das críticas expressas na coluna “A novela, ontem” em que diversos críticos realizam a análise do capítulo exibido no dia anterior. De terça-feira a sábado, todas as telenovelas exibidas no estado de São Paulo foram comentadas. Artur da Távola foi o principal crítico do “O Globo” (também escrevia a crítica na última página de “Amiga”) que também deve outros nomes importantes, a exemplo da colunista Hildegard Angel (que também escrevia para a revista “Amiga”). A “Veja” tinha críticas e reportagens de Artur Xexéu, contudo à grande maioria dos registros encontrados na seção “Televisão” não eram assinados por nenhum jornalista. “Istoé” tinha Maria Helena Dutra, que também escreveu para o “Jornal do Brasil”. De forma geral, como acontece ainda nos dias de hoje, as semanárias informativas dedica apenas uma página para a nossa televisão. Em relação à homossexualidade em “Os Gigantes” e “Brilhante” não encontramos nenhuma referência na “Istoé”. O segundo ponto foi a forma, também tímida, da representação homossexual. A Censura proibida uma abordagem explícita. Desta forma, os autores usavam subterfúgios e metáforas nas cenas em que indicavam a homossexualidade das personagens, de tal maneira que dificultava a compreensão, visto que tudo poderia ser entendido como uma relação de amizade. A homossexualidade ganhou as páginas dos jornais em três casos distintos, que não foram o foco desta pesquisa. No seriado “Malu Mulher” (1979-1980) dois episódios abordaram explicitamente a homossexualidade. Nas telenovelas “Cirande de Pedra” (1981) e “O Homem Proibido” (1982) houve polêmicas com a censura. Ambas tiveram a adaptação de Teixeira Filho e não abordaram a homossexualidade na televisão, contudo, nas obras originais – de Lygia Fagundes Telles e Nélson Rodrigues (como Suzana Flag), respectivamente, tal assunto 5 foi inserido no enredo. Acreditamos que por terem sido veiculadas no horário das 18h, Teixeira Filho preferiu abortar a polêmica. Trataremos desse assunto em capítulos seguintes. O terceiro e último ponto envolve o tabu da homossexualidade. As revistas especializadas não interessaram (e ainda hoje não se interessam) por aprofundar nos temas polêmicos trazidos pelas telenovelas, justamente os que promovem o debate social e que também pode ser entendido como “merchandising social”, “agendamento temático”, “temas de responsabilidade social” ou “recurso comunicativo”. As publicações generalistas, através dos críticos, em especial Artur da Távola, Maria Helena Dutra e Helena Silveira, abordaram os temas, contudo raramente aprofundados. Retratar um comportamento social e utilizar a ficção como recurso comunicativo é recente. No (ótimo) suplemento “Folhetim” da “Folha de S. Paulo” diversos assuntos foi discutido, com certa profundidade, por um conjunto de especialistas no tema. Encontramos duas edições que se propôs a debater a homossexualidade, contudo, a única citação à televisão foi reduzida a um único parágrafo escrito pelo jornalista e militante gay João Silvério Trevisan. Dividimos este trabalho em sete capítulos, além da conclusão. No primeiro capítulo abordamos a identidade de gênero e de orientação sexual. Buscamos referências teóricas que vão dialogar com o perfil dos personagens e a argumentação da sexualidade realizada pelos críticos. Também apresentamos um pouco da história do movimento homossexual no Brasil, com o intuito de afirmar que mesmo antes da consolidação do movimento, a teledramaturgia já mostrava a representação homossexual. No segundo capítulo abordamos um pouco da historiografia da representação da homossexualidade na teledramaturgia, o objetivo foi o de mostrar que os personagens de “O Rebu”, “Os Gigantes” e “Brilhante” não estiveram sozinhos no momento de censura militar. No capítulo seguinte abordamos a censura às diversões públicas, com foco na televisão, objetivando amparo na legislação vigente para ver o que poderia ou não ser exibido em cada faixa de horário. As conceituações teórico-metodológicas baseada na TV de Papel e no recurso comunicativo, que nortearam este trabalho, aparece no quarto capítulo. Na sequência estão os resultados propriamente desta pesquisa, nas análises centradas nas telenovelas “O Rebu”, “Os Gigantes” e “Brilhante”. 6 1 1. Considerações sobre Gênero e Identidade Homossexual Acreditamos que o trabalho de Peter Berger e Thomas Luckmann (2009) representa um importante argumento para a construção de identidades e, ao mesmo tempo, reafirma as ideias de Michel Foucault (1988) sobre a construção da sexualidade. Berger e Luckmann defendem que a realidade é socialmente construída. O homem e a mulher partilham de diversos processos de interações sociais que são responsáveis pela produção de sentido (e também de autossentidos), o que culmina em cristalizações subjetivas de