Juiz De Fora E O Caminho Novo: Uma Análise Sobre a Gestão Pública Do Turismo E Do Patrimônio1
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Juiz de Fora e o Caminho Novo: Uma análise sobre a gestão pública do turismo e do patrimônio1 Joanna Darc de Mello Croce (UFJF) 2,3 Resumo: A pesquisa em questão tem como objetivo analisar a gestão pública do turismo no município de Juiz de Fora – MG através do seu vínculo com o Circuito Turístico Caminho Novo (CTCN) e a inclinação para o turismo histórico-cultural. A metodologia utilizada para a realização deste trabalho compreende uma revisão bibliográfica de base conceitual sobre o tema estudado, isto é, através da análise das políticas públicas de turismo no Brasil e das teorias do planejamento turístico, bem como do contexto histórico do Caminho Novo e do surgimento da cidade de Juiz de Fora através dele. Posteriormente, são realizadas análises documentais e entrevistas com representantes das entidades envolvidas. O principal resultado deste trabalho foi constatar que, embora exista um potencial para o “turismo histórico” ligado ao patrimônio na cidade, o atual foco da gestão pública está no segmento do “turismo de negócios e eventos”. Palavras-chave: Circuito Turístico Caminho Novo; planejamento turístico; turismo histórico-cultural; INTRODUÇÃO O município de Juiz de Fora, localizado na Zona da Mata, em Minas Gerais, surgiu no século XVIII, no auge do período da mineração, e possui aspectos históricos e culturais de grande relevância. O Cine Theatro Central, Museu Mariano Procópio, Museu do Crédito Real, Morro do Imperador, Usina de Marmelos, Parque Halfeld, Museu Ferroviário e Catedral Metropolitana são alguns dos patrimônios juizforanos de suma importância que, no entanto, não são devidamente valorizados pela gestão pública, no processo de planejamento turístico municipal, e por grande parte da população, que acaba desmotivando os visitantes da cidade quanto a esses atrativos. Por sua importância histórica e localização geográfica, Juiz de Fora compõe o Circuito Turístico Caminho Novo (que ainda agrega os municípios de Simão Pereira, 1 Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de agosto de 2014, Natal/RN. 2 Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Mestranda pelo Programa de Pós- Graduação em Ciências Sociais (UFJF). E-mail: [email protected] 3 Nota de agradecimento: à FAPEMIG, pelo auxílio financeiro relativo à estadia durante a realização do evento em Natal/RN. Santana do Deserto, Matias Barbosa e Santos Dumont). O circuito Caminho Novo recebe esse nome porque, a partir do século XVII, tornou-se uma rota mais curta e segura para a transferência do ouro (que ia de Ouro Preto até o porto do Rio de Janeiro) do que o Caminho Velho, que chegava à Paraty. O Caminho Novo é um dos caminhos que compunham a Estrada Real, e hoje faz parte do Instituto Estrada Real, que é gerido pela FIEMG a fim de promover o turismo como forma de auto-sustentação dos municípios envolvidos. Diante disso, surge uma problemática: Por que o turismo histórico em Juiz de Fora não se afirma voltado para o patrimônio, embora a cidade seja uma das principais do Circuito Turístico Caminho Novo? A fim de responder a esta questão, essa pesquisa procura atender ao seu objetivo geral, que é “analisar a gestão pública do turismo no município de Juiz de Fora através do seu vínculo com o Circuito Turístico Caminho Novo e o potencial para o turismo histórico-cultural”. A pesquisa se justifica pela possibilidade do Circuito Turístico Caminho Novo constituir uma importante identidade turística que atrela o caráter histórico da região ao desenvolvimento desta. No entanto, há pouca abordagem acerca da relação Caminho Novo/Juiz de Fora/Turismo, no que diz respeito à falta de investimentos e preocupação para com a questão histórica. O método utilizado para a realização dessa pesquisa abrangerá três etapas fundamentais. A primeira compreenderá uma revisão bibliográfica de base conceitual e teórica sobre o planejamento voltado para o turismo, sobre as políticas públicas no Brasil, e sobre o contexto histórico de Juiz de Fora e do Caminho Novo. Além disso, uma coleta de dados por meio de entrevista, que é realizada com representantes da Prefeitura de Juiz de Fora e do Circuito Turístico Caminho Novo. Na segunda etapa são coletados dados através da análise dos documentos expostos por esses representantes através da análise documental. Na terceira etapa metodológica, os dados coletados em entrevista são, finalmente, analisados. Este artigo está dividido em três tópicos. O primeiro aborda o planejamento turístico e as políticas públicas no Brasil, fundamental para que se possa entender como elas se aplicam no contexto municipal. O segundo tópico trata do contexto histórico do Caminho Novo, bem como da origem da cidade de Juiz de Fora através dele. Já o terceiro tópico expõe a visão da prefeitura de Juiz de Fora acerca da atividade turística e 2 do turismo histórico-cultural, tanto na cidade quanto no Circuito Turístico Caminho Novo. 1. O Planejamento Turístico e as Políticas Públicas no Brasil Para contextualizar a relação do Circuito Turístico Caminho Novo com o município de Juiz de Fora, é necessário que haja uma compreensão ampla sobre dois aspectos que regem e estabelecem essa relação: O Planejamento Turístico e as Políticas Públicas, que aqui serão abordadas especificamente as de Turismo em âmbito nacional. Por planejamento, entende-se que é: um processo que consiste em determinar os objetivos de trabalho, ordenar os recursos materiais e humanos disponíveis, determinar os métodos e as técnicas aplicáveis, estabelecer as formas de ação e expor com precisão todas as especificações necessárias para que a conduta da pessoa ou do grupo de pessoas que atuarão na execução dos trabalhadores seja racionalmente direcionada para alcançar os resultados pretendidos. (ESTOL et ALBUQUERQUE apud RUSCHMANN in ANSARAH, 2001, p.67) A preocupação com o planejamento se dá desde a Idade Antiga e seu objeto de análise foi a cidade, visando a expansão territorial. Alguns marcos para o desenvolvimento da idéia de planejamento foram a Revolução Francesa, a Revolução Industrial e o Liberalismo Econômico, e neste contexto o planejamento assume um cunho essencialmente econômico, pois o principal objetivo era o desenvolvimento dos países marcados e/ou influenciados por tais eventos citados anteriormente. Tal período discutido difere do planejamento dos tempos atuais, posto que agora há uma preocupação maior com um modelo que possua aspectos paraeconômicos, ou seja, que vão além da questão econômica e levam em conta o caráter social, ambiental e cultural. O turismo, por sua vez, enquanto atividade a ser planejada, também participa destas tendências. A partir desse ponto de referência, este planejamento turístico é moldado levando-se em consideração toda a cadeia de relações sociais, econômicas, culturais e ambientais. E, mais do que isso, o planejamento turístico deve-se centrar na gestão do espaço público, que é o destino turístico, pois ele é a matéria-prima da atividade. Uma das formas de se verificar a gestão ou o envolvimento turístico de uma determinada localidade é através dos parâmetros, que deverão ser analisados e transformados em informações precisas e úteis para que se desenvolva o planejamento turístico. Para Mario Petrocchi (2009, p.02), 3 o planejamento do turismo deve considerar todas as formas possíveis de contribuição ao bem-estar dos moradores e desenvolvimento integral do destino. Porque o turismo não é um fim em si mesmo e nos núcleos receptores existem as aspirações da sociedade e outras atividades econômicas. Desta forma, é possível perceber que os parâmetros utilizados por Petrocchi consistem no nível de bem-estar local e na intensidade com que o turismo se integra com as outras esferas de ação do município, tais como a educação, a saúde, etc. Assim, percebe-se que quanto mais próximo destas metas, melhor está sendo executada a gestão do planejamento. Um dos pontos cruciais para se executar o planejamento é considerar suas cinco principais fases. É claro que não há um método único, pois o planejamento é flexível a determinadas circunstâncias, porém existe uma base para se começar a desdobrar os diversos modelos de planejamento. Essas fases, como premissas, são: (1) Diagnóstico (análise do meio – oferta e demanda -, que é o levantamento da situação presente); (2) Objetivos (formulados a partir do que se quer alcançar); (3) Estratégias (são os meios, os recursos que serão utilizados para se atingir os objetivos); (4) Ações (é a execução, na prática, das estratégias estabelecidas); (5) Controle (acompanha todo o processo e verifica se o que foi planejado está sendo implementado, é a fase de monitoramento e avaliação). Essas cinco fases são essenciais para que se possa realizar um planejamento de forma eficaz e que seja sustentável entre os diversos setores envolvidos, pois sem elas o processo de planejamento pode se tornar equivocado e conseqüentemente culminar em algo que não contribua positivamente para o desenvolvimento da atividade turística; daí também a importância de se planejar o turismo, e não simplesmente implantá-lo sem um processo de reflexão e análise, uma vez que as conseqüências podem ser negativas e irreversíveis. Mas, para se executar de forma efetiva o planejamento proposto, é importante saber que existem três níveis de planejamento, sendo o “estratégico” (longo prazo) o das grandes proporções e o que irá comandar os outros dois, o “tático” (médio prazo) é o nível intermediário e tem um caráter gerencial, enquanto que o “operacional” (curto prazo) é o mais básico, mas é ele que irá tornar o planejamento funcional. Essa serialização, portanto, é que viabilizará a execução do planejamento. Nesse sentido, pode-se dizer que o responsável pela definição de orientações para planejamento turístico no Brasil é o governo federal, que desenvolve políticas públicas visando estabelecer diretrizes para a administração e o desenvolvimento da 4 atividade turística no país, caracterizando-se, assim, como nível estratégico. Dessa forma, fica à cargo dos Estados (em que prevalece o nível tático) adaptar tais diretrizes para suas regiões, e cabe aos municípios (num nível mais operacional) executá-las.