ANDRELÂNDIA NO CENÁRIO TURÍSTICO DA ESTRADA REAL NO SUDESTE DO BRASIL.

Bárbara Suellen Andrade [email protected]

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO - CENTRO TECNOLÓGICO UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

Alina Gonçalves Santiago [email protected]

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Andrelândia no cenário turístico da Estrada Real no sudeste do Brasil.

RESUMO:

Andrelândia, município localizado no sul do estado de , como muitas outras cidades mineiras da região, guarda em sua paisagem características de outras épocas, entre elas, a principal, a era do ouro no Brasil, na qual o município era caminho de passagem dos exploradores, e como não dispunha do ouro para exploração, os bandeirantes ali ficaram para a produção de alimentos e gado para atender ao grande crescimento demográfico da região.

Em função de sua localização geográfica, e de ter sido o caminho do escoamento do ouro da colônia para sua metrópole, compõe, mesmo que às margens, o cenário da Estrada Real, circuito turístico que traça exatamente as estradas e cidades que os bandeirantes e escravos passavam para escoar a produção do ouro.

Porém, para fazer parte do cenário turístico, a cidade precisa incorporar diversos empreendimentos, bem como preparar os moradores para a mudança de atividade, e compartilhar as melhorias que a cidade possa ter com cada cidadão.

PALAVRAS- CHAVE: Turismo Rural, Estrada Real, Turismo, Andrelândia. 1. INTRODUÇÃO

Andrelândia, cidade localizada na região sul do estado de Minas Gerais, inserida no circuito turístico Montanhas Mágicas, conta com 12310 habitantes (de acordo com o Censo Demográfico do ano 2007) e possui o desejo de se tornar parte do cenário turístico sul - mineiro. Destacam-se as belezas naturais, o centro histórico preservado, o sítio arqueológico, bem como faz parte do berço da criação do Cavalo da raça Mangalarga Marchador. Esses animais são criados desde a época do império, em fazendas que ainda mantém as construções coloniais. Possuindo esse cenário, passa a atrair os olhos dos turistas que buscam na ruralidade uma forma de lazer e descanso.

2. CONTEXTO REGIONAL

Andrelândia encontra-se na Zona Geográfica Sul do estado de Minas Gerais, sob as coordenadas 21°44’20’’ de latitude Sul e 44°18’45’’ de longitude Oeste. A área do município é de 1005Km² e a sede se encontra a uma altitude de 905 metros acima do nível do mar. Esta distante cerca de 280Km de via , de 150Km de , de 148Km de , de 122Km de São João Del Rei e de 100Km de Caxambu.

As principais cidades que polarizam a região são: Volta Redonda e , localizadas no estado do , São José dos Campos localizada no Vale do Paraíba no estado de São Paulo, e algumas cidades de menor porte dentro de Minas Gerais que são Juiz de Fora localizada na Zona da Mata mineira, Caxambu e São Lourenço, no Circuito das Águas, e São João Del Rei, localizada no Circuito das cidades históricas.

Existem duas rodovias asfaltadas que atendem a saída da cidade para outras regiões, são elas: a MG-494, que faz a ligação da cidade com os municípios de Arantina e que se encontra com a MG- 267 (próximo ao trevo da entrada da cidade de ), estrada que liga Caxambu à Juiz de Fora, e que ao percorrer esse trajeto encontramos cidades como Baependi, , , Liberdade, Bom jardim de Minas, Lima Duarte. Esse percurso, partindo de Andrelândia pela MG-494 em direção a MG-267, permite que se chegue à cidade de Juiz de Fora, Belo Horizonte, Petrópolis e Rio de Janeiro, uma vez que a MG-267 liga-se com a BR-040, que liga as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro com a de Belo Horizonte. A outra rodovia que parte de Andrelândia é a MG-393, que liga o município à São Vicente de Minas, Mindurí, Cruzília e que vem a se encontrar com a MG-297 próximo ao município de Caxambú. De Caxambu partem diversas rodovias de grande importância, como a BR-354 que vai fazer a ligação do sul de Minas Gerais com o estado de São Paulo e a MG-347 que vai fazer a ligação com São Lourenço e depois com a rodovia Fernão Dias, que liga São Paulo a Belo Horizonte.

A ligação da cidade com a Zona Rural é feita por inúmeras estradas de terra que partem das principais rodovias, bem como de ruas da área urbana. Assim como a ligação entre alguns municípios ainda se dá por estrada de terra, como é o caso da estrada que liga Andrelândia à Santana do Garambéu.

3. HISTÓRICO DO MUNICÍPIO

Em princípios do Século XVIII, desbravadores bandeiristas partem de sua terra natal, São Paulo, para o interior na busca de um metal precioso e de grande valor para a sociedade da época: o Ouro. Tiveram sucesso em muitas de suas prospecções, porém causaram diversas conseqüências nas regiões das minas, não somente fundaram cidades que tinham o metal precioso na composição do seu solo, como também, fundaram cidades que compunham o caminho que o metal fazia para chegar do interior do território então português para os portos do litoral, principalmente na cidade do Rio de Janeiro, para o escoamento do metal para metrópole.

Para o Brasil vieram pessoas de todos os tipos, de todas as classes, como narra um padre jesuíta que viveu na época e também no trecho do historiador Eschurege, tirado do livro O Ouro em Minas:

“... a cada ano vêm novas frotas, quantidades de portugueses e de estrangeiros, para passarem às Minas. Das cidades, vilas, recôncavos e sertões do Brasil vão brancos, pardos e pretos, e muitos índios, do que os paulistas se servem. A mistura é de toda condição de pessoas: homens e mulheres, moços e velhos, pobres e ricos, nobres e plebeus, seculares e clérigos, e religiosos de diversos institutos, muitos dos quais não têm no Brasil convento nem casa...” (Padre jesuíta Antonil).(BARRETO e NETO, 2003: 43)

“...Pode-se afirmar que, a não ser no Brasil, as descobertas mineiras nunca deram causa a tão grandes e impetuosos movimentos entre homens de todas as classes. A agitação geral tornou-se tão grande em que, muitas vezes, os navios eram insuficientes para o transporte da multidão aurissedenta em demanda das possessões de além-mar...” (Eschurege) (BARRETO e NETO, 2003: 43)

Com isso, a população que se dirigiu à área que continha o ouro não necessariamente consegue seu espaço nas cidades em que a exploração era grande. Dirigem-se então para localidades próximas para poder atender àqueles que passavam com o ouro pelo caminho. Estes se fixaram na terra, realizando atividades ligadas a agricultura e a pecuária. As terras eram passadas através de doações das chamadas sesmarias, concedidas pelo Governo da Capitania das Minas.

A descoberta de ouro nas regiões de Aiuruoca e São João Del Rei foi de fundamental importância para o início do povoamento da região e do surgimento do Arraial do Turvo.

Por volta de 1740 é grande o fluxo de pessoas que passam a ocupar terras devolutas da região, que posteriormente buscam a legalização dessas terras através da concessão das cartas de sesmarias pelo então governador da capitania. De acordo com documentos, a partir da segunda metade do Século XVIII, o homem já se encontra fixado às terras da região trabalhando com a criação do gado vacum. Era bastante marcada a presença de escravos africanos nas fazendas que se instalavam no turvo, uma vez que era a mão-de-obra que a colônia passou a utilizar com o apogeu econômico e produtivo que atingiu. Nessa época, somente o escravo era a classe trabalhadora no Brasil, nenhum português cuidava dos serviços comuns, ficava a cargo dos escravos manterem a produção agrícola, acompanhar as mulheres da família, cozinhar, lavar as roupas, limpar a casa, carregar excrementos, construir os aposentos da família, entre outros.

Em 1755, Bento Ribeiro Salgado, sendo condecorado com terras através das cartas de sesmarias, permitiu que fosse celebrada a primeira missa na Capela de Nossa . Essa missa, de caráter extremamente religioso, mostrava os primórdios da ocupação das terras atualmente andrelandenses, “nascia, às margens do Rio Turvo, um pequeno povoado que mais tarde veio a chamar-se Andrelândia.” (MIRANDA, 1974: 05)

Em Minas Gerais, no século XVIII, três eram as formas de surgir povoados: primeiro em virtude da existência do ouro, depois ao longo dos antigos caminhos entre os araiais, nascidos das paradas realizadas pelos tropeiros para descanso, e por fim, pela construção de capelas locais, onde já existia a concentração humana e que posteriormente formou núcleos urbanos.

Era de costume dos desbravadores percorrerem seus caminhos carregando imagens de santos para que os mesmos protegessem seus passos. Assim que chegavam às localidades que iam se instalar a primeira providência que tomavam era a construção de uma capela para a irmandade que protegeu todo o contingente no caminho percorrido. Assim que a capela estava edificada, com o passar do tempo iam surgindo diversas casas nas suas proximidades. E posteriormente surgiam vendas, armarinhos, locais de pouso, formando um núcleo urbano eficiente.

Em 1749, a região do Turvo já se encontrava densamente povoada, ocupada por fazendeiros que já obtinham sua renda de sua produtividade, surge a idéia de se construir uma capela. Uma vez que para se receber o sacramento os habitantes da região tinham que percorrer grandes distâncias, por caminhos tortuosos até a capela mais próxima.

“É de se imaginar o quanto era difícil vencer tal distância naqueles tempos, ora carregando nos braços um recém-nascido a ser batizado; ora carregando na padiola um cadáver a ser encomendado e condignamente sepultado.” (MIRANDA, 1974: 07)

A construção da capela teve como intermediador gerador do pedido de autorização para sua construção foi feito por André da Silveira que tendo em mãos o documento favorável para escolher a irmandade que tal capela iria abrigar, tratou de providenciar o espaço para tal edificação. Em 1752, depois de escolhida a invocação de Nossa Senhora do Porto, Manoel Caetano da Costa e sua esposa Inácia de Jesus, doaram terras e dessa forma, a capela começou a ser erguida nesse espaço. Em quatro de junho de 1755 a capela foi benta. Após dois anos de abertura da capela várias residências já haviam sido construídas ao seu redor.

No ano de 1757, a população já falava na elevação à categoria de Arraial do Turvo, comprovando como foi rápida a formação do núcleo urbano. Com o passar dos anos, o Arraial do Turvo progrediu. Já no ano de 1864 atingia a condição de Vila, “uma das mais antigas de Minas Gerais na época do império” (MIRANDA, 1974: 09). Em 1866, foi instalada em Andrelândia a Casa de Câmara e Cadeia, um sobrado considerado o terceiro mais sólido e elegante da Província. Com a presença de tal edificação, em 1868, adquiriu o título de cidade, o grau máximo na escala da evolução administrativa.

Em 14 de julho de 1832, cria-se a Freguesia de Nossa Senhora do Porto do Turvo, com isso, o povoado do Turvo passou a ser reconhecido pela Igreja. Em 15 de outubro de 1827, foi estabelecido que cada Freguesia ou Capela Curada deveria possuir a presença de um Juiz de Paz e um suplente. Em 21 de outubro de 1866, o município Vila Bela do Turvo foi instalado, juntamente com a primeira Câmara Municipal. Em 28 de julho de 1868, a Vila Bela do Turvo sobe à categoria de cidade, denominada Cidade do Turvo.

“No ano de 1930, (...), o município composto pelos distritos de Arantes (), Bom Jardim de Minas, Cianita (Madre de Deus), São Vicente Ferrer (São Vicente de Minas) e pela sede passou a denominar-se Andrelândia, uma justa homenagem ao benemérito fundador André da Silveira.” (MIRANDA, 1974: 46)

4. TURISMO

Segundo a Organização Mundial do Turismo - OMT, o turismo consiste nas “Atividades que as pessoas realizam durante suas viagens e permanência em lugares distintos dos que vivem, por um período de tempo inferior a um ano consecutivo, com fins de lazer, negócios e outros.” (OMT, 2005).

O fenômeno do turismo ocorre no planeta desde os períodos antigos, com os povos babilônios, cerca de 4000 a.C. povos se deslocavam para o encontro de outros povos, trazendo como conseqüência influências na cultura primária. Cerca de mil anos depois, o Egito inicia sua movimentação sobre o território.

A partir do final do século XVII e início do século XIX, com o desenvolvimento de uma sociedade industrial capitalista, as viagens tornam-se fator de status social demonstrando o poderio econômico de cada viajante. Nos séculos anteriores os deslocamentos eram realizados com cavalos e carroças, e as grandes distâncias eram vencidas com as embarcações lançadas ao mar, utilizando como força motriz o vento. No século XIX, vivenciamos o desenvolvimento dos meios de transporte, surgem o navio e o trem utilizando a tecnologia do vapor. A descoberta de novas formas de energia e de indústria causam o inchamento nas cidades, o desenvolvimento das redes de comunicação e a troca cultural entre os povos.

Com o advento da industrialização e das lutas sociais, em que os operários passam a ser protegidos por direitos trabalhistas, surgem as férias remuneradas, o décimo terceiro salário; com isso sobra tempo e dinheiro para conhecer localidades adversas.

A partir de então, pessoas saem de suas residências em busca de locais diferentes de sua vivência, seja por belezas naturais diferentes das que convivem, seja por busca de novas culturas, novas histórias, novos costumes. Porém, essa busca por novas vivências pode ser negativa para a população que recebe. Muitas vezes não existe a troca cultural, e sim uma massificação da cultura, em que o turista chega na cidade, não convive com seus habitantes, já que passa pouco tempo, e consome souvenires industrializados que não exprimem a real arte e artesanato locais, como conseqüência, observa-se a falta de preocupação com a manutenção do ambiente visitado pelo turista, gerando um turismo degradador, que altera não somente a natureza, como também as condições sociais e os hábitos locais.

Diante dessas alterações degradantes no ambiente não somente natural, como cultural e social, atualmente vêm se comentando sobre um turismo globalmente responsável, mantendo como principal característica a sustentabilidade ecológica, social e econômica. A preocupação com a fomentação de uma proposta voltada para a valorização do turismo sustentável e responsável surge a partir de 1980, numa conferência da OMT (Organização Mundial de Turismo), vindo a facilitar a compreensão no processo de desenvolvimento do turismo rural, voltados para a valorização do ambiente, da população residente e de sua cultura.

A Embratur define o turismo rural como: “atividade multidisciplinar que se realiza no meio ambiente, fora de áreas intensamente urbanizadas. Caracteriza-se por empresas turísticas de pequeno porte, que tem no uso da terra a atividade econômica predominante, voltada para práticas agrícolas e pecuárias.” (EMBRATUR). Assim sendo, o turismo real envolve como atividades: caminhadas, visitas familiares e amigos, visitas a museus, galerias e sítios históricos, festivais, rodeios e shows regionais, esportes na natureza, visitas a paisagens da fauna e da flora, gastronomia regional, artesanato e produtos agro-industriais, campings, hotéis-fazenda, albergues, entre outros.

4.1 TURISMO NO ESPAÇO RURAL

O turismo no espaço rural também é uma atividade bastante antiga, que remete aos tempos dos imperadores romanos, que para descanso se refugiavam nos campos, fugindo da vida cotidiana. Na Idade Média, os nobres retornavam ao campo à procura de descanso e lazer. Após a Revolução Industrial, houve uma fuga em larga escala do campo para as cidades, porém, muitas pessoas mantiveram o hábito de visitar familiares e amigos que permaneceram no campo, procurando também vivenciar as atividades praticadas no campo que não existia nas cidades. Porém a atividade turística no espaço rural, como estratégia de modificações sócio-econômicas surge a cerca de 150 anos na Alemanha (OPPERMAN apud ROQUE, 2001:03), em que as fazendas recebiam as crianças em período de férias escolares, oferecendo a elas acomodações mais econômicas e atividades completamente fora do cotidiano de crianças das cidades.

Nota-se nos últimos anos um enorme crescimento dessa atividade, em virtude das diversas modalidades de turismo encontradas no espaço rural. Algumas atividades se ligam, num laço estreito, com o cotidiano agropecuário, com a valorização do campo e das atividades nele desenvolvidas, e com a valorização da cultura local. Outra forma de turismo que aproveita o mesmo espaço se dá por grandes empreendimentos hoteleiros, resorts, que somente aproveitam o sítio para desenvolver sua atividade, mas não tem ligação com a cultura da população rural.

4.2 MODALIDADES DO TURISMO OCORRIDO NO ESPAÇO RURAL

Existem diferentes formas de existência do turismo no espaço rural, estas podem ser classificadas de acordo com seus valores, suas diferentes motivações, oportunidades, necessidades e disponibilidade de produtos a serem ofertados. Analisando tais características, encontramos no espaço rural o turismo rural, turismo ecológico ou ecoturismo, turismo cultural, turismo religioso, turismo esportivo, entre outros, como exemplificado na Figura 1.

As características fundamentais dessa atividade advêm da motivação do turista em conhecer e conviver com novos hábitos, idéias, museus, igrejas, obras de artes. Segundo Zimmermman, 1996, o turismo no

Figura 1 - Tipologias de turismo no espaço espaço rural é embasado na utilização dos recursos rural. Fonte: Arquivo Pessoal culturais de território em área rural, recursos artísticos, históricos e costumes, podendo ou não interagir com a realidade do turismo em espaços rurais voltados para atividades agropecuárias.

4.2.1 TURISMO ESPORTIVO:

O turismo esportivo é um segmento do mercado turístico que consiste na interação homem-corpo- natureza. Muitas vezes é tratado como turismo de eventos, porém possui diferenças à medida que existe, ou pelo menos é proposto, a interação homem-natureza, e a preservação do espaço em que ocorre a prática de esporte, já que se houver alterações no ambiente, também ocorrerá alterações nas atividades realizadas nele. O desafio é, portanto, encontrar meios de tornar o turismo esportivo sustentável em si mesmo, e capaz de contribuir para o desenvolvimento do turismo sustentável em geral (SWARBROOKE, 2000: 31). Porém é uma modalidade de turismo que permite a conscientização das pessoas para a manutenção do ambiente natural.

Essa modalidade turística, como fenômeno social e econômico, ocupa uma crescente segmentação do mercado do turismo, com a implantação de produtos específicos para o público que usufrui da modalidade, já que o homem busca sair da sua habitualidade para procurar um destino turístico aliado a uma prática esportiva.

4.2.2 TURISMO ECOLÓGICO OU ECOTURISMO:

A EMBRATUR define ecoturismo como:

“O turismo desenvolvido em localidades com potencial ecológico, de forma concervacionista, procurando conciliar a exploração do potencial turístico com o meio ambiente, harmonizando as ações com a natureza, bem como oferecer aos turistas um contato íntimo com os recursos naturais e culturais da região, buscando a formação de uma consciência ecológica.”

O Turismo Ecológico é aquele diretamente ligado com a natureza e suas potencialidades, seja para contemplação ou para conhecimento do ecossistema apreciado. Os principais componentes para que ocorra tal modalidade são a paisagem natural, os recursos naturais e a biodiversidade. É a busca da ligação do meio humano com o meio natural. O ecoturismo está diretamente vinculado à paisagem natural e a preservação da mesma, por isso busca a preservação do espaço natural, á que este espaço é que oferece a qualidade da atividade que a ele se vincula.

Para tal modalidade turística, deve existir alguns critérios de sustentabilidade, seja ambiental, social, cultural ou econômica, de valorização dos aspectos educativos de manutenção da paisagem e também da participação da comunidade local para que a mesma auxilie na manutenção do espaço semi-intocável.

Esse tipo de atividade ocorre principalmente no meio rural, e não interfere somente na natureza, mas também na comunidade local e em sua cultura. Essa é uma forma alternativa ao turismo de massa, que atualmente se caracteriza como degradador.

4.2.3 TURISMO RURAL:

É uma modalidade praticada nos espaços rurais produtivos, só ocorrem em locais onde existe a atividade agropecuária, a cultura da população campeira e suas tradições e o alojamento nas propriedades rurais. Muitos confundem o turismo no espaço rural e o turismo rural como exemplifica a figura ao lado, porém são diferentes, já que o primeiro abrange o segundo e algumas outras modalidades como aquelas abordadas até aqui.

O turismo rural proporciona ao usuário o total

Figura 2 - Englobamento do turismo no espaço rural. contato com a cultura do campo, bem como com Fonte: Arquivo Pessoal suas atividades cotidianas, as crenças regionais que se enquadram na exclusividade rural. O alojamento se dá em sede de propriedades, sejam elas adaptadas à recepção dos turistas ou sejam elas voltadas somente para a atividade, como no caso as pousadas; as pessoas que buscam esse tipo de turismo são inseridas no cotidiano do campo. De acordo com Zimmermann, os princípios de existência do turismo rural são o atendimento familiar, a preservação das raízes, a harmonia e sustentabilidade ambiental, a autenticidade de identidade, a qualidade do produto e o envolvimento da comunidade local.

Existem diversas sub-modalidades dentro do turismo rural, entre elas podemos citar o agroturismo, hotel-fazenda, fazenda-hotel, pousada-rural, colônias de férias rurais e também a criação, exposição e comércio de equinos.

4.3 O CENÁRIO DO TURISMO RURAL NO BRASIL, E NO SUL DO ESTADO DE MINAS GERAIS

No Brasil, as atividades turísticas no meio rural ganharam importância nos últimos 20 anos, porém os diversos tipos de turismo que podem ocorrer no espaço rural ainda são confundidos.

Como o Brasil possui um vasto território, com uma biodiversidade que chega a ser absurda, se comparada a outros territórios, a criação de animais e cultivo de plantas é uma atividade de grande importância no país, o que facilita o desenvolvimento de atividades no campo ligadas ao turismo, para aqueles que vivem e convivem com a cidade.

O turismo rural brasileiro, marca início nos anos 80, em Lages, Santa Catarina (ROQUE, 2001: 67), por um tempo foi conhecida como “Capital Nacional do Turismo Rural”, uma vez que a cidade desenvolveu essa modalidade de turismo para enfrentar dificuldades financeiras existentes. No início as fazendas recebiam as pessoas no período da manhã, este permanecia até o período da noite participando de atividades como tosa de ovelhas e colheita do plantio. A partir daí a atividade se espalhou pelo país, e na mesma época, surge atividade semelhante no estado de São Paulo, onde um grupo de empresários se reuniu e montou um produto turístico formado por 15 sedes de antigas fazendas da região, oferecendo cavalgadas, hospedagem e gastronomia típica. Dez anos depois, nos anos 90, essa modalidade chega ao estado de Minas Gerais, no município de Carrancas, cerca de 100Km de Andrelândia, na Fazenda do Engenho e depois passa a se espalhar por todo o país.

Segundo Roque (2001) Minas Gerais é o estado brasileiro que possui o maior número de empreendimentos voltados para a atividades turísticas no espaço rural. Os estabelecimentos oferecem produtos voltados à tradição agropecuária, enriquecido pela arquitetura de fazendas antigas, igrejas e monumentos, bem com serras, cachoeiras e muitos outros atrativos que transformam essa modalidade num vasto leque de opções de atividades.

Diante do sucesso da atividade turística no espaço rural, o Estado de Minas Gerais já possui entidades representativas dessa tipologia turística, tais como a AMETUR (Associação Mineira de Turismo Rural) e a Astral (Associação Sul Mineira de Turismo Rural), entre outras. Tem-se conhecimento que as sedes de fazendas em Minas Gerais abrem suas porteiras primeiro para vizitação e depois para pernoite a cerca de 15 anos. A atividade de abrigo de viajantes já ocorria na região, pelo fato da mesma estar num ponto estratégico entre os maiores núcleos urbanos do Império, São Paulo e Rio de Janeiro, e estar na metade do caminho dos viajantes dessa localidade com destino aos sertões. O ato de dar pouso a esses viajantes em sedes de fazendas era comum. Porém, nos últimos anos, essa atividade crece num rítimo acelerado.

O Turismo como atividade rural, surge, no Sul de Minas Gerais, como forma de driblar os problemas financeiros com a produção, com o alto preço de manutenção das lavouras e dos rebanhos, os fazendeiros observando as experiências de sucesso dos fazendeiros do estado de São Paulo, passam a receber em suas fazendas turistas. Cabe ressaltar que todas as sedes de fazenda que abriram suas porteiras para receber o turista, eram propriedades com produção agrícola e criação de animais e administradas por membros da mesma família.

O modelo adotado, na região sul de Minas Gerais se assemelha ao adotado na França, pois são voltados para realidade produtiva agropecuária, porém no Brasil adquirem peculiaridades e características próprias. Muitos fazendeiros posuem essa consciência, pois França e Brasil possuem diversidades enormes quanto ao clima, relevo, biodiversidade e atividades desenvolvidas no meio rural.

Geralmente o empreendimento turístico é administrado pela mulher da família, gerando emprego e renda extra para aqueles que viviam somente da produção agropecuária.

A região sul de Minas Gerais possui diversas características que justificam sua aptidão para a implementação de atividades ligadas ao turismo rural, dentre elas a beleza natural (região montanhosa), cultura, tradições e produtos típicos do local, tais como queijo, doce de leite, pão de queijo, café, somando isso às dificuldades enfrentadas pelo setor agropecuário no país, esses fatores funcionaram como motivação para que proprietários de terra se insiram no cenário do turismo rural no Brasil.

4.4 O TURISMO NO CENÁRIO DE ANDRELÂNDIA

O município de Andrelândia possui diversas características que facilitam sua inserção na atividade turística, além de possuir um núcleo histórico como centralidade, sedes de fazendas centenárias, belezas naturais, está próxima do berço de criação do cavalo Mangalarga Marchador, o qual movimenta seus criadores e seus adoradores por diversas cidades em busca do melhoramento da raça, de lazer, de compra e venda, de apreciação.

Para que ocorra o desenvolvimento do turismo se torna necessário um sério planejamento, uma vez que essa atividade exige a valorização dos espaços naturais como fonte de riqueza, tornando- se fator importante para o desenvolvimento local. Dessa forma, a paisagem torna-se um elemento que valoriza a região, por isso a necessidade da preservação e da qualificação da paisagem como forma de atrativo dentro de espaços turísticos.

O Planejamento do município para que a atividade turística seja inserida em seu meio é um instrumento que direciona as ações a serem tomadas montando estratégias, de forma participativa, em conjunto com a sociedade, e também levando em conta o desenvolvimento sustentável da região. Assim sendo, o desenvolvimento dos espaços rurais passa a atrair uma melhor qualidade de vida aos moradores. A participação dos agricultores em conjunto com a prefeitura na tomada de decisões, torna o processo mais democrático, e também mais facilmente compreensível pelos interessados, inclusive incentivando-os ao adentrar no cenário discutido.

“Um dos principais desafios é fazer com que a atividade turística seja responsável por esta mudança, dando condições para que o agricultor se estabeleça no meio onde vive, exercendo suas funções com dignidade e orgulho. Ainda, por meio de estudos já realizados anteriormente que contemplaram a importância do patrimônio cultural para atividade turística, verificou-se a oportunidade de valorizar a cultura local através da revitalização do espaço rural e a divulgação das manifestações culturais.”(WALKOWSKI, 2008: 16)

Percebe-se, no município de Andrelândia o estreitamento das relações rurais-urbanas, já que as mesmas se complementam, se confundem, e se repetem nos diferentes cenários. De acordo com Walkolwski, mesmo mantendo essa proximidade, as desigualdades sociais entre as duas esferas do município ainda se mantém, uma vez que o meio rural desprovê de alguns serviços básicos, como energia elétrica, coleta de lixo, transporte público, entre outros. As dificuldades pelas quais passam as famílias que habitam o campo é conseqüência da falta de incentivos públicos e privados.

“Em alguns Municípios, famílias se vêm obrigadas a vender suas propriedades em busca de melhores alternativas de vida. Em relação à atividade turística, geralmente estas propriedades são vendidas para pessoas de fora do município que abrem novos empreendimentos e, em sua maioria, não aproveitam a mão de obra local. O surgimento de atividades não-agrícolas, por meio de apoio institucional, possibilita que muitos agricultores abram suas portas para receberem visitantes. Uma alternativa seria incentivar o associativismo no campo como forma de fortalecer os pequenos agricultores e impedir que empreendimentos de fora adquiram força e expulsem as famílias locais.” (WALKOWSKI, 2008: 32)

O desenvolvimento de atividades que incentivam e instruem o produtor rural facilitam a melhoria da qualidade de vida do mesmo, porém estes não devem perder a forma de vida em que sempre viveram como forma de preservação da cultura, essa população, então, passa a ser inserida nas atividades desenvolvidas para atendimento do turista e da população como um todo através de novas oportunidades de trabalho e como conseqüência disso, o desenvolvimento econômico e social de Andrelândia.

A valorização do Patrimônio Histórico Rural já é um tema de extrema importância, porém com um uso para cada edificação e cada espaço preservado, faz com que este se deteriore menos com o passar do tempo, uma vez que exige, para receber pessoas, manutenção. Assim, existe a necessidade de que cada proprietário rural conheça cada elemento da arquitetura que compõe seu espaço, para que dessa forma seja preservado e restaurado da maneira correta, fazendo com que o Brasil não perca sua identidade rural, que foi deixada ao longo do período de colonização por diversos povos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ROQUE, Andreia Maria. Turismo no espaço rural brasileiro: um estudo multicaso nas regiões sul e sudoeste de Minas Gerais. Dissertação de Mestrado apresentada na Universidade Federal de (UFLA): 2001.

SWARBROOKE, John. Turismo sustentável: conceitos e impacto ambiental. São Paulo: Aleph, 2000

WALKOWSKI, Marinês da Conceição. O PROCESSO PARTICIPATIVO NO PLANEJAMENTO TURÍSTICODO ESPAÇO RURAL DE ALFREDO WAGNER-SC. Dissertação apresentada à Pós- Graduação de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis: 2008

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