O Suplemento Cultural Como Rede De Relações Os Intelectuais No Caderno De Sábado Do Jornal Correio Do Povo (Porto Alegre, 1967-1981)

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O Suplemento Cultural Como Rede De Relações Os Intelectuais No Caderno De Sábado Do Jornal Correio Do Povo (Porto Alegre, 1967-1981) 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação Everton Terres Cardoso O suplemento cultural como rede de relações Os intelectuais no Caderno de Sábado do jornal Correio do Povo (Porto Alegre, 1967-1981) Porto Alegre 2016 2 EVERTON TERRES CARDOSO O suplemento cultural como rede de relações Os intelectuais no Caderno de Sábado do jornal Correio do Povo (Porto Alegre, 1967-1981) Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação (linha de pesquisa Jornalismo e processos editoriais) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Comunicação e Informação. Orientação: Profa. Dra. Cida Golin Porto Alegre 2016 3 4 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação Programa de Pós-graduação em Comunicação e Informação A banca examinadora, abaixo assinada, aprova a tese intitulada O suplemento cultural como rede de relações: os intelectuais do Caderno de Sábado do jornal Correio do Povo (Porto Alegre, 1967-1981), elaborada como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em Comunicação e Informação no Programa de Pós- Graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. _____________________________________________________________________ Profa. Dra. Isabel Siqueira Travancas – UFRJ _____________________________________________________________________ Prof. Dr. Antonio Carlos Hohlfeldt – PUCRS _____________________________________________________________________ Profa. Dra. Marcia Benetti Machado – UFRGS _____________________________________________________________________ Profa. Dra. Aline do Amaral Garcia Strelow – UFRGS Porto Alegre, 23 de maio de 2016 5 A meus pais, Virceu e Solema. À minha orientadora Cida Golin. Àqueles cujas memórias jamais nos deixam esquecer como as coisas foram. 6 AGRADECIMENTOS Agradeço àqueles que, de alguma forma, participaram deste percurso. À família e aos amigos, por compreenderem minhas ausências. Aos amigos Ricardo, Paulo, Bianca, Marina, Caroline, Bernardo, Marilise, Sandro, José e Wagner pelas presenças constantes e afetuosas. À minha orientadora, Dr.ª Cida Golin, pelos saberes compartilhados, pelas muitas portas abertas, pela confiança, pela paciência e pela amizade. Aos colegas Mariana, Anna, Luciano, Bianka, Maria Rita, Débora, Anelise, Gabriela e Sabrina pela amizade e por compartilharem as angústias. À professora Dra. Marcia Benetti por suas contribuições na banca de qualificação e pela marca deixada em minha trajetória. Ao professor Dr. Antonio Hohlfeldt pelos constantes testemunhos, pela participação na banca de qualificação e pelo empréstimo de sua coleção do Caderno de Sábado. Ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul pela possibilidade de realizar este sonho. Ao secretário de Comunicação Social da UFRGS, Ricardo Schneiders da Silva, e aos colegas da equipe do Jornal da Universidade pela possibilidade de dedicar mais de meu tempo a este projeto. À Universidade do Vale do Rio dos Sinos pela experiência enriquecedora da docência. Ao Estado brasileiro pela formação em pós-graduação em uma universidade pública, gratuita e de qualidade. 7 A volta ao passado foi meu coração quem me ensinou, a gente pode fazê-la toda vez que quiser. Paulo de Gouvêa na capa da edição de 7 de abril de 1979 do Caderno de Sábado Afinal, toda arte traduz uma época. A forma como o fez, em certo momento do passado, se não nos agrada nesse momento, nem por isso deixa de ser um fato de cultura. Guilhermino Cesar na capa da edição de 4 de março de 1978 do Caderno de Sábado 8 RESUMO Os intelectuais são agentes sociais que – amparados no capital cultural e no poder a ele associado, no domínio da escrita e na circulação pública de suas ideias – ocupam uma posição de destaque no contexto social. Criadores e mediadores culturais, ou organizadores da cultura, constituem um campo que, marcado por lutas por um tipo específico de capital simbólico, apresenta hierarquias definidas de agentes e instituições. O jornalismo cultural, sobretudo por meio dos suplementos, se posiciona como sistema pretensamente perito e modo de conhecimento da realidade que cumpre funções de mediação entre essa elite culta e o público. Especializados e situados na interseção dos campos jornalístico e intelectual, os encartes dedicados à cultura acabam por fazer circular o pensamento desses intelectuais e se constituem, assim, em redes de sociabilidade. Este trabalho, então, parte da seguinte pergunta problematizadora: como o projeto editorial do Caderno de Sábado se configurou como uma rede de relações entre intelectuais de 1967 a 1981? Para tal, operou-se um processo inicial exploratório das 646 edições do suplemento e se chegou à lista dos dez colaboradores mais frequentes no período: o poeta e tradutor Mario Quintana; o funcionário público, professor, crítico literário e historiador Guilhermino Cesar; o crítico musical, livreiro e conferencista Herbert Caro; o professor, jornalista e crítico literário e teatral Antonio Hohlfeldt; o jornalista, poeta e teatrólogo Paulo de Gouvêa; a romancista, cronista e jornalista Clarice Lispector; o engenheiro, historiador e professor Francisco Riopardense de Macedo; o advogado, poeta e crítico literário Paulo Hecker Filho; o funcionário público, crítico literário e historiador Moysés Vellinho; e o jornalista Ney Gastal. A seguir, a fim de detectar indícios que pudessem servir para amparar a reflexão proposta, procedeu-se uma pesquisa de caráter longitudinal e panorâmico. Para tal, realizou-se a Análise de Conteúdo de 3.029 ensaios, artigos, crônicas, contos e poemas assinados por esses nomes. No processo de categorização, os textos foram classificados segundo as temáticas e as referências geográficas e temporais. A partir dos dados coletados no corpus e de pesquisa bibliográfica, foram traçados os itinerários desses indivíduos e se procurou, entre eles, cruzamentos na história da intelectualidade sulina. Chegou-se, então, a uma rede de sociabilidade que estava estruturada ao redor dos dois editores do Caderno de Sábado – P. F. Gastal e Oswaldo Goidanich. O suplemento, naquele momento histórico, se posicionou como um articulador desse sistema de relações; hoje, resta como memória e como registro documental da movimentação cultural e da produção intelectual do período. Vislumbra-se, assim, uma dinâmica de recrutamento baseada em afinidades intelectuais e adesão ao projeto editorial. Percebe-se, também, um movimento de reconhecimento desses sujeitos, por parte da publicação, que se manifesta nas escolhas editoriais e num sistema de homenagens. Ainda, é possível entrever indícios de estratificação baseada no capital simbólico acumulado e na relação desses agentes com os movimentos e agrupamentos de intelectuais, as entidades de congregação e reconhecimento, os circuitos da escrita – sistema literário, mercado editorial e imprensa –, a academia e o Estado. O Caderno de Sábado, ao mesmo tempo que participava da dinâmica de consagração, angariava prestígio para si mesmo e também para o Correio do Povo, naquele momento um jornal de alcance e repercussão nacional. Palavras-chave: Jornalismo cultural. Suplemento cultural. Intelectuais. Caderno de Sábado. Correio do Povo. 9 ABSTRACT Intellectuals are social agents that – based on the cultural capital and the power associated with it, in the ability of writing and public circulation of their ideas – occupy a prominent position in the social context. Creators and cultural mediators, or culture organizers, they are part of a field marked by struggles for a specific type of symbolic capital and that has defined hierarchies of agents and institutions. Cultural journalism, especially by means of cultural supplements, is positioned as supposedly expert system and knowledge of reality that meets mediation functions between this educated elite and the public. Specialized and located at the intersection of journalism and intellectual fields, cultural supplements make the thoughts of these intellectuals public and form, this way, social networks. This work then aims to discuss the following question: how is Correio do Povo’s Caderno de Sábado (Porto Alegre, 1967-1981), within the historical context in which it took root, configured as a network of relations between intellectuals? To achieve such objective, it was conducted an exploratory process that included all the 646 editions and a list of the ten most frequent authors in the period was elaborated: the poet and translator Mario Quintana; the civil servant, teacher, literary critic and historian Guilhermino Cesar; the music critic, bookseller and lecturer Herbert Caro; the professor, literary and theatrical critic and journalist Antonio Hohlfeldt; the journalist, poet and playwrighter Paulo de Gouvêa; the novelist, columnist and journalist Clarice Lispector; the engineer, historian and professor Francisco Riopardense de Macedo; the lawyer, poet and literary critic Paul Hecker Filho; the civil servent, literary critic and historian Moysés Vellinho; and journalist Ney Gastal. After this, with the objective of collecting indexes that could serve to support this reflection, a longitudinal and panoramic investigation was made. A Content Analysis was conducted with 3,209 essays, articles, chronicles, short stories and poems signed by those names. In the categorization process, the texts were classified according to their themes and
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