Diálogos E Olhares
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MEMÓRIA DAS OLIMPÍADAS NO BRASIL: DIÁLOGOS E OLHARES 1 organizadores LIA CALABRE EULA DANTAS TAVEIRA CABRAL MAURÍCIO SIQUEIRA VIVIAN FONSECA Rio de Janeiro – 2017 presidente da república michel temer ministro da cultura sérgio sá leitão fundação casa de rui barbosa presidente marta de senna diretor executivo antonio herculano lopes diretora do centro de pesquisa joëlle rouchou chefe do setor de pesquisa em políticas culturais lia calabre chefe do setor de editoração benjamin albagli neto projeto gráfico do miolo e da capa glória afflalo (a+a design) produção editorial garamond preparação e revisão maria clara jeronimo assistente de produção editorial (fcrb) rowena esteves estagiária de produção editorial (fcrb) iohanna sanches M533 Memória das olimpíadas no Brasil [recurso eletrônico]: diálogos e olhares, 1 / organizadores Lia Calabre... [et al.]. – Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 2017. Organizadores: Lia Calabre, Eula Dantas Taveira Cabral, Maurício Siqueira e Vivian Fonseca. Ebook em formato PDF. ISBN 978-85-7004-358-0 1. Jogos Olímpicos (31. : 2016 : Rio de Janeiro, Brasil) – Aspectos sociais. I. Calabre, Lia, org. II. Cabral, Eula Dantas Taveira, org. III. Siqueira, Maurício, org. IV. Fonseca, Vivian, org. CDD 796.480981 sumário prefácio 7 lia calabre apresentação 11 eula dantas taveira cabral o registro de uma memória em movimento: 16 o desafio acerca da rio 2016 carla siqueira e vivian fonseca pela memória da cidade esportiva: o rio de janeiro 21 e as competições esportivas internacionais joão manuel casquinha malaia santos esporte e modernidade: o caso do rio de janeiro 42 – uma abordagem panorâmica victor andrade de melo e fabio de faria peres política cultural, jogos olímpicos e os valores 54 da criatividade e da diversidade alexandre barbalho entre gaudí e o dragão chinês: 74 a experiência olímpica rio 2016 gilmar mascarenhas sobre vaias: considerações acerca do jogo político 96 (political game) e da brincadeira política (political play) viktor chagas megaeventos esportivos, opinião pública e mídia: 115 um balanço da cobertura midiática e das pesquisas quantitativas sobre os jogos olímpicos rio 2016 bernardo buarque, jimmy medeiros e luigi bisso a museologia que não serve para a vida, não serve 139 para nada: o museu das remoções como potência criativa e potência de resistência mario chagas e diana bogado resistência, pelo direito, história e memória 147 sandra maria teixeira o impacto dos megaeventos e da militarização 165 na vida favelada gizele de oliveira martins prefácio lia calabre* A memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro. Devemos trabalhar de forma a que a memória coletiva sirva para a libertação e não para a servidão dos homens. (Jacques Le Goff. História e memória.) O projeto “Preservação da memória das Olimpíadas: processos e ações” começou a ser construído no primeiro semestre de 2015. O objetivo desse peque- no texto, um misto de apresentação complementar e de registro de memória, é reconstituir parte do processo, mesmo sabendo que corremos os riscos dos es- quecimentos – tratando aqui a memória como “uma propriedade de conservar certas informações”, como nos ensina Jacques Le Goff.1 No primeiro semestre de 2015, o Ministério da Cultura – MinC –, sob a gestão do ministro Juca Ferreira, iniciou estudos técnicos e discussões sobre o lugar da cultura no processo de elaboração e realização dos Jogos Olímpicos. Afinal, esta não seria somente a primeira Olimpíada no Brasil, seria a primeira da América do Sul. A temática ganhou destaque, sendo criado um comitê executivo dentro do MinC para tratar do assunto, envolvendo todas as secretarias e instituições vinculadas. O governo federal, na segunda gestão do presidente Lula, havia se empe- nhado para que o país vencesse as disputas internacionais e que a cidade do Rio de Janeiro fosse eleita a sede dos Jogos da XXXI Olimpíada e dos Jogos da XV Pa- ralimpíada. A eleição ocorreu em 2009, tendo o Brasil como vencedor. Ainda que naquela época não se tenha aprofundado uma discussão sobre o lugar da cultura na preparação e realização dos jogos, não podemos deixar de destacar o fato de que Juca Ferreira era o então ministro da Cultura. Por outro lado, a ação do Ministério da Cultura, na realização da Copa do Mundo, em 2014, na avaliação de muitos especialistas e de alguns de seus membros, tinha sido muito tímida. Segundo parte desses analistas, o país havia desperdiçado uma boa oportunidade de apresentar ao mundo a diversidade e a potência das múltiplas manifestações * Doutora em História-UFF, pesquisadora e chefe do Setor de Estudos de Políticas Culturais da FCRB; presidente da FCRB 2015-2016. E-mail: [email protected]. 1 LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Ed. Unicamp, 1996. p. 423. 8 prefácio culturais nacionais, seja no campo das culturas tradicionais, seja no das artes contemporâneas. A realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos se apresentava, então, como uma nova oportunidade para o campo da cultura. Pois, com os olhares das mais diversas regiões do mundo e, mesmo, de todo o país, voltados para o Brasil e mais especificamente para o Rio de Janeiro: por que não aproveitar o momento para divulgar as manifestações culturais e artísticas brasileiras, contando com os aparatos das mídias nacionais e internacionais que aqui se instalariam? Dentro dessa perspectiva, o Ministério da Cultura provocou suas institui- ções vinculadas, conjunto do qual faz parte a Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), a se engajarem no projeto, propondo atividades ligadas à natureza da missão institucional de cada uma delas. Nesse sentido, a Casa de Rui, inicial- mente, dedicou-se ao planejamento de uma série de encontros e seminários – que resultou na realização do ciclo de palestras Educação e Esporte; na edição espe- cial da série História e Culturas Urbanas, denominada “Rio olímpico, Rio dos es- portes”; e do “Olimpíadas vão ao cinema”, ciclo de filmes e debates, que contou com a parceria do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporâ- nea do Brasil (CPDOC) da FGV. Foi ainda realizada a exposição “Rio de Janeiro: cidade esportiva, cidade olímpica – imagem dos esportes nas revistas ilustradas”, construída a partir do acervo de revistas ilustradas da FCRB. Porém, faltava algo. Havia da parte de alguns parceiros interlocutores do MinC, que atuavam na Autoridade Pública Olímpica, uma preocupação com a perda da memória das Olimpíadas. Não no campo especificamente esportivo, mas no da engenharia e da expertise construída, necessárias para a realização de um evento de tal magnitude, envolvendo múltiplas instâncias públicas e privadas, em uma cidade complexa e já internacionalmente famosa como o Rio de Janeiro. Como criar condições para a realização de estudos posteriores sobre o evento? Como fornecer elementos para a ampliação das análises futuras sobre os legados que não partisse apenas dos documentos e discursos oficiais previamente selecionados para tal? Pois, como nos alerta Le Goff: Tornarem-se senhores da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações das classes, dos grupos, dos indivíduos que dominaram e dominam as sociedades históri- cas. Os esquecimentos e os silêncios da história são reveladores desses mecanismos de manipulação da memória coletiva. O estudo da memória social é um dos meios fundamentais de abordar os problemas do tempo e da história, relativamente aos quais a memória está ora em retraimento, ora em transbordamento.2 2 Ibid., p. 426. lia calabre 9 Nesse universo onde transitam as questões em torno da preservação da memória e da pesquisa, a FCRB foi estimulada a elaborar um projeto complemen- tar que, dialogando com a própria missão institucional, permitisse que um con- junto de informações e dados pudessem ser coletados e produzidos, servindo de fonte para futuras análises sobre o processo, a partir de variadas fontes e diversos atores sociais envolvidos com o evento. Ao longo do ano de 2015, as discussões foram evoluindo e foi sendo cons- truído o desenho de um projeto dedicado à memória das Olimpíadas, mas que recuperasse os processos e as ações. A ideia é que documentos de uma maneira geral, notícias da imprensa nacional e internacional, dados e informações gerais, pudessem ser coletados e reunidos numa base de dados (um repositório) acessí- vel por meio de um site específico. A esses dados produzidos pelos mais diferen- tes meios seriam somados depoimentos coletados por meio da metodologia de história oral. Aqui, devemos abrir um parêntese e ressaltar a importância da parceria do CPDOC, através de um contrato de serviço, mas que se estendeu para muito além do mesmo, desdobrando em parceria para a realização de atividades extras. Soma-se ainda nesse processo a parceria da equipe da Autoridade Pública Olímpica, que além do incentivo junto ao MinC nos forneceu informações e con- tatos fundamentais para a etapa das entrevistas de história oral. Entre fevereiro e março de 2016, foi formatado o projeto “Preservação da memória dos Jogos Olímpicos”, que tinha como objetivo, como consta no termo de referência assinado entre o MinC e a FCRB: “a preservação e a produção de um conjunto documental de amplo espectro, relacionado desde o processo de cons- trução do projeto de sediar o evento no Brasil, mais especificamente na cidade do Rio de Janeiro, ao momento de realização dos Jogos Olímpicos”. O projeto foi alicerçado em três eixos: cultura, esporte e cidade, tendo como fio condutor a preservação da memória. Entre o início do projeto, seu desenvolvimento e a realização das Olimpía- das, a situação política do país passou por várias reviravoltas, instaurando-se uma conjuntura de grave crise político-institucional. Articulações orquestradas por determinados grupos políticos resultaram no impeachment da presidenta elei- ta democraticamente Dilma Rousseff. O afastamento inicial da presidenta ocor- reu em maio de 2015, seguido, imediatamente, pelo pedido de exoneração do ministro da Cultura Juca Ferreira (entre outros) e seus secretários.