FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS MESTRADO PROFISSIONAL EM BENS CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS

NOVA CLASSE MÉDIA: UM ESTUDO EMPÍRICO SOBRE OS ENQUADRAMENTOS DA MÍDIA

ANA ANGÉLICA RODRIGUES DE ANDRADE SOARES

Rio de Janeiro, março de 2015

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS MESTRADO PROFISSIONAL EM BENS CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS

NOVA CLASSE MÉDIA: UM ESTUDO EMPÍRICO SOBRE OS ENQUADRAMENTOS DA MÍDIA

ANA ANGÉLICA RODRIGUES DE ANDRADE SOARES

PROFESSOR ORIENTADOR ACADÊMICO: FERNANDO LATTMAN-WELTMAN PROFESSOR CO-ORIENTADOR: RENATO ROCHA SOUZA

Rio de Janeiro, março de 2015

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS MESTRADO PROFISSIONAL EM BENS CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS

PROFESSOR ORIENTADOR ACADÊMICO: FERNANDO LATTMAN-WELTMAN PROFESSOR CO-ORIENTADOR: RENATO ROCHA SOUZA

ANA ANGÉLICA RODRIGUES DE ANDRADE SOARES

NOVA CLASSE MÉDIA: UM ESTUDO EMPÍRICO SOBRE OS ENQUADRAMENTOS DA MÍDIA

Dissertação de Mestrado Profissional apresentada ao Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil – CPDOC como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Bens Culturais e Projetos Sociais

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Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Mario Henrique Simonsen/FGV

Soares, Ana Angélica Rodrigues de Andrade Nova classe média: um estudo empírico sobre os enquadramentos da mídia / Ana Angélica Rodrigues de Andrade Soares. – 2015. 154 f.

Dissertação (mestrado) - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais. Orientador: Fernando Lattman-Weltman. Coorientador: Renato Rocha Souza. Inclui bibliografia.

1. Análise do discurso. 2. Jornalismo - Objetividade. 3. Comunicação de massa - Aspectos políticos. 4. Classe média. 5. Linguística - Processamento de dados. I. Lattman-Weltman, Fernando. II. Souza, Renato Rocha. III. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais. IV.Título.

CDD – 302.23

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A tudo o que me move, ensina e inspira

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Agradecimentos

À FGV, pela inestimável oportunidade de crescimento profissional, acadêmico e pessoal Ao professor Marcelo Côrtes Neri, por sua atenção ao meu país e para comigo Ao diretor do CPDOC, professor Celso Castro, e ao diretor da DICOM, Marcos Facó, por tornarem possível Ao CPDOC e à EMAp, por me acolherem Aos orientadores Fernando Lattman-Weltman e Renato Rocha Souza, por acreditarem Aos professores Márcio Grijó e Viktor Chagas, pelos conselhos À professora Luciana Heymann, pelo olhar atento A todos os demais professores e alunos da minha turma de mestrado, por tornarem doce a árdua caminhada À Arbel Griner, por tudo o que não cabe em palavras À Evelyse Maria Freire Mendes, pelo apoio e amizade Ao Paolo Ghiu, por me ajudar a não temer números Ao Juliano Pereira, pela arte Aos meus pais, por me ensinaram a aprender Aos meus avós, pela herança imaterial A todos que me querem bem E a todos que demonstraram seu bem querer

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Sumário

Introdução ...... 12 1. Os estudos sobre a nova classe média 1. 1. Uma trajetória do economista Marcelo Neri ...... 15 1.1.1. Da PUC ao Ipea ...... 16 1.1.2. O Centro de Políticas Sociais ...... 18 1.2. Os estudos sobre a nova classe média: da FGV ao governo 1.2.1. O CPS e a nova classe média ...... 25 1.2.2. O lado brilhante da base da pirâmide ...... 29 1.3. A volta ao Ipea ...... 33 1.4. Os estudos sobre a nova classe média no âmbito governamental ...... 36 2. Fundamentos para uma Análise de Enquadramento Textualmente Orientada 2.1. Algumas noções teóricas de enquadramento da mídia ...... 44 2.2. Enquadramentos da mídia e discurso ...... 52 2.3. Análise de enquadramento como método crítico de estudo da mídia ...... 58 2.4. A Análise de Enquadramento Textualmente Orientada ...... 59 3. Fundamentos metodológicos 3.1. A Linguística Computacional ...... 61 3.2. Sobre a mineração de texto ...... 63 3.3. Lexicometria, ou estatística linguística ...... 64 3.4. Sobre o corpus da pesquisa ...... 66 4. Nova classe média: análises empíricas dos enquadramentos do jornal O Globo 4.1. Análises quantitativas preliminares ...... 69 4.2. As polaridades de sentimento nas matérias sobre a nova classe média ...... 72 4.3. Enquadramentos sobre a nova classe média e as disputas político-eleitorais 76 4.3.1. Toma, que o filho é seu – dezembro de 2010 a fevereiro de 2011 ...... 77 4.3.2. Os tucanos entram em cena – março a maio de 2011 ...... 81 4.3.3. Quem tem medo dos evangélicos? – dezembro de 2011 a fevereiro de 2012 ....85 4.3.4. O céu é o limite – junho a agosto de 2012 ...... 91 4.3.5. Mais vale uma nova classe média na mão – março a maio de 2013 ...... 98 4.3.6. Alea jacta est - março a maio de 2014 ...... 104 9

4.4. Panorama dos enquadramentos do jornal O Globo sobre a nova classe média ...... 110 Conclusão ...... 116

Referências Referências bibliográficas ...... 120 Bancos lexicais online ...... 122 Discursos, citações em notícias e autoria de artigos jornalísticos ...... 122

Notícias online ...... 123

Sites institucionais e publicações institucionais online ...... 123

Outros sites ...... 124

Anexos ...... 125

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Resumo

Em agosto de 2012, o economista-chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV), Marcelo Neri, foi nomeado presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Em março do mesmo ano, ainda pela FGV, Neri lançara o livro A Nova Classe Média: o lado brilhante da base da pirâmide, que retoma a série de estudos sobre a nova classe média que vinha realizando pela Fundação desde 2008. O presente trabalho analisa mudanças no enquadramento das notícias do jornal O Globo relativas à nova classe média nos períodos em que Marcelo Neri atuou na FGV e, posteriormente, no governo federal, por meio de uma Análise de Enquadramento Textualmente Orientada – método crítico de análise dos enquadramentos da mídia cujo intuito é auxiliar na percepção e mensuração de mudanças nos vieses noticiosos em função de variáveis políticas. Tal metodologia alia a análise linguística de grandes volumes de texto à teoria social do discurso, e foi desenvolvida em parceria com a Escola de Matemática Aplicada (EMAp/FGV), tendo como base ferramentas computacionais de Linguística de Corpus e Processamento de Linguagem Natural (PLN).

Palavras-chave: nova classe média, enquadramento, mídia, análise de discurso, política, linguística computacional.

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Lista de figuras

Figura 1: menções à nova classe média de outubro de 2006 a novembro de 2010 p.70 Figura 2: menções à nova classe média de dezembro de 2010 a maio de 2014, por ranges trimestrais p.71 Figura 3: gráfico das médias das menções à nova classe média nos dois grandes ranges analisados p. 72 Figura 4: análise de sentimento das notícias do jornal O Globo por ranges trimestrais p.74 Figura 5: diferença na polaridade de sentimento dos enquadramentos noticiosos nos períodos FGV e governo p.75 Figura 6: tagcloud - dez/10-fev/12 p.76 Figura 7: gráfico de centralidade e co-ocorrência – dez/10-fev/12 p.80 Figura 8: gráfico de centralidade e co-ocorrência de termos – mar - mai/11 p.82 Figura 9: frequências de sintagmas nominais mais frequentes – mar-mai/11 p.83 Figura 9.1: lista dos sintagmas nominais – mar-mai/11 p.83 Figura 10: frequências para os nomes próprios mais frequentes – dez/11-fev/12 p.86 Figura 10.1: lista dos nomes próprios mais frequentes p.87 Figura 11: frequência dos adjetivos mais frequentes - dez/11-fev/12 p.87 Figura 11.1: lista dos adjetivos mais frequentes - dez/11-fev/12 p.88 Figura 12: tagcloud jun-ago/12 p.92 Figura 13: gráfico de centralidade e co-ocorrência de termos jun-ago/12 p.93 Figura 14: gráfico de palavras mais frequentes – jun-ago/12 p.94 Figura 14.1: lista de palavras mais frequentes – jun-ago/12 p.94 Figura 15: gráfico das frequências de sintagmas mais frequentes – jun-ago/12 p.95 Figura 15.1: lista de sintagmas mais frequentes – jun-ago/12 p.96 Figura 16: tagcloud – mar-mai/13 p.99 Figura 17: gráfico de centralidade e co-ocorrência de termos – mar-mai/13 p.97 Figura 18: frequências dos sintagmas nominais mais frequentes– mar-mai/13 p.100 Figura 18.1: lista dos sintagmas nominais mais frequentes– mar-mai/13 p.100 12

Figura 19: gráfico de centralidade e co-ocorrência de termos – mar-mai/14 p.105 Figura 20: frequências para os 30 termos mais frequentes - mar-mai/13 p.105 Figura 20.1: lista dos 30 termos mais frequentes - mar-mai/14 p.106 Figura 21: tagcloud- mar-mai/14 p.106 Figura 22: lexical dispersion plot – quadro comparativo dos períodos de análise 1 e 2 para atores político-partidários p.111-112 Figura 23: lexical dispersion plot – quadro comparativo dos períodos de análise 1 e 2 para palavras relacionadas à economia e consumo (+ evangélicos) p. 113-114

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Introdução

Em agosto de 2012, o economista Marcelo Neri foi convidado para a presidência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), pouco mais de 12 anos após ter permanecido à frente do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV/CPS). Também em 2012, Neri havia lançado o livro A Nova Classe Média: o lado brilhante da base da pirâmide, no qual reúne e expande os principais estudos relacionados à chamada nova classe média, que começara a investigar na FGV em 2008. A repercussão na mídia dos dados sobre a nova classe média que o volume trouxera foi significativa, assim como as demais pesquisas sobre o assunto vinham sendo objeto de intensa cobertura jornalística pelo menos desde 2011 – ano em que a presidente abriu a Assembleia Geral da ONU e citou as 40 milhões de pessoas que haviam ascendido ao estrato no Brasil. A impressão era de que a escalada de prestígio da nova classe média nos veículos de comunicação estaria ligada à notoriedade de Marcelo Neri e de suas pesquisas, e que por isso ele teria sido chamado para presidir o Ipea, fundação pública submetida à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR). A dedução é até bastante óbvia; no entanto, era preciso saber se de fato estava correta, e de que maneira a hipótese poderia ser testada. O desejo era realizar um estudo empírico com o auxílio de tecnologias computacionais, para que os textos da mídia sobre a nova classe média fossem analisados em grandes conjuntos. Daí nasceu uma parceria com a Escola de Matemática Aplicada da FGV, a EMAp. O tema de estudo do mestrado passou por várias modificações até assumir a feição apresentada pelo título desta dissertação – A nova classe média: um estudo empírico sobre os enquadramentos da mídia. Ainda que inicialmente movida pelo interesse em compreender como a ida de Marcelo Neri para o governo estaria associada à cobertura da mídia sobre a nova classe média, a pesquisa teve seu foco transferido para a análise dos enquadramentos da mídia sobre o assunto. Em um primeiro momento, tal remodelagem fez parte de um recorte temático; posteriormente, demonstrou-se necessária, dada a evolução das análises. Além disso, a relação entre mídia e política passou a ser considerada no sentido contrário ao 14 inicialmente pensado: ao invés de se tentar descobrir de que maneira a cobertura midiática teria incidido sobre uma tomada de decisão governamental (no caso, o convite para que Marcelo Neri fosse presidente do Ipea), a questão passou a ser se, como, e em que medida os enquadramentos da mídia sobre a nova classe média mudaram em função de variáveis políticas. A partir daí, foi possível mobilizar os fundamentos teóricos e ferramentas metodológicas mais adequados para o desenvolvimento da pesquisa, por meio de uma perspectiva transdisciplinar. A dissertação estrutura-se em cinco eixos, que correspondem aos mesmos de desenvolvimento da pesquisa:

1) O estabelecimento de uma trajetória da carreira do economista Marcelo Neri e dos estudos sobre a nova classe média realizados por ele ou sob sua gestão, tendo como contexto as instituições pelas quais tais estudos foram empreendidos; 2) Uma discussão teórica acerca do conceito de enquadramento – iniciada a partir das formulações de Erving Goffman e ampliada para a noção de enquadramento na mídia, especialmente no jornalismo político; 3) Associado ao debate sobre a aplicação do conceito de enquadramento na análise de mídia, um panorama das formulações teóricas sobre as noções de discurso, desde a Filosofia da Linguagem até sua aplicação na Teoria Social – que permitiu a proposição de uma Análise de Enquadramento Textualmente Orientada enquanto método crítico; 4) Uma fundamentação teórica da metodologia, que inclui rudimentos das ferramentas de análise computacional mobilizadas para a realização desta pesquisa – em grande parte ancoradas na Linguística de Corpus e no Processamento de Linguagem Natural (PLN); 5) A análise computacional do corpus de matérias do jornal O Globo sobre a nova classe média, com posterior análise hermenêutica dos resultados e desenvolvimento de conclusões, que se apresentam como respostas à questão colocada pelo trabalho.

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O tempo disponível para a realização da pesquisa foi um dos critérios que definiram a composição do corpus de textos da mídia a ser analisado; por isso, ficou estabelecido que seriam estudadas as notícias sobre a nova classe média encontradas em somente um veículo, e o escolhido foi o jornal O Globo – o segundo em tiragem no país. A cronologia destas notícias constitui parâmetro fundamental das análises realizadas e orientou o particionamento do corpus noticioso em dois períodos de 21 meses cada, tendo como divisor o momento em que Marcelo Neri saiu da FGV para atuar no âmbito do governo. O início das análises foi estabelecido em função do seu fim – fixado no mês em que o economista assumiu a SAE de forma definitiva. Desta forma, o período completo vai de dezembro de 2010 a maio de 2014, e seu marco central é o mês de agosto de 2012, quando o economista foi convidado para a presidência do Ipea. E apesar da mudança de foco da pesquisa, a centralidade da trajetória de Marcelo Neri na divisão temporal do corpus foi mantida, pois reflete o reconhecimento da centralidade que seu trabalho desfrutou no governo e no debate público sobre a nova classe média no país – o que também implica assumir a relevância da questão na história brasileira recente. A Análise de Enquadramento Textualmente Orientada que esta dissertação propõe é uma tentativa de se construir um método crítico – e mais preciso – de análise dos enquadramentos da mídia, por meio de ferramentas computacionais que auxiliam na identificação e mensuração das mudanças desses enquadramentos em função de variáveis políticas. Cabe ressaltar que a metodologia sugerida pode ser aplicada a qualquer tipo de análise de enquadramento midiático, desde que os textos a serem analisados estejam digitalizados ou disponíveis online. No entanto, são as variáveis políticas que dão um tom dinâmico e conjuntural à presente pesquisa – inclusive tornando-a reveladora não apenas das formas como a mídia contribui para construir a realidade que ela recorta e noticia, bem como de características das disputas de poder (político, partidário e eleitoral) travadas no Brasil nos últimos anos.

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1. Os estudos sobre a nova classe média 1. 1. Uma trajetória do economista Marcelo Neri

Em agosto de 2008, o então economista-chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV/CPS), Marcelo Côrtes Neri, lançou a pesquisa “A Nova Classe Média” – primeira de uma série relacionada à temática e publicada no site do CPS, dentro da linha de Renda e Bem-Estar. Dali em diante, outros nove estudos tendo a nova classe média como foco seriam divulgados por Neri ainda na FGV. O último, de março de 2012, coincide com o lançamento do livro A Nova Classe Média: o lado brilhante da base da pirâmide, que no mesmo ano foi indicado ao Prêmio Jabuti na categoria Economia, Administração e Negócios. Na mesma linha de Renda e Bem-Estar, além da nova classe média, o CPS dedicava-se aos estudos nos âmbitos de “Políticas de Renda” e “Pobreza e Desigualdade”, que inauguraram as atividades do CPS, no ano 2000. O primeiro paper do site, A Robust Poverty Profile for Using Multiple Data Sources (em tradução livre, Perfil Robusto da Pobreza para o Brasil Usando Múltiplas Bases de Dados), já indicava a principal característica metodológica do centro de estudos recém-criado na FGV: a utilização, processamento e cruzamento de grandes bases de dados produzidas e divulgadas, por exemplo, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tais como a Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (Pnad), a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) e a Pesquisa Mensal do Emprego (PME). As pesquisas sobre a nova classe média, embora constituídas enquanto campo específico por seu próprio autor, se inscrevem na trajetória mais ampla de pesquisas empíricas realizadas por Marcelo Neri – cujo início pode ser estabelecido na defesa da sua tese de mestrado na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), em 1989, a segunda entre as cinco laureadas no 14o Prêmio BNDES de Economia. O estabelecimento de uma cronologia da trajetória acadêmica e profissional do economista Marcelo Neri (desde seus marcos iniciais aos seus desenvolvimentos mais recentes sobre a nova classe média, objeto da presente dissertação), aliada a uma cronologia dos estudos sobre a nova classe média empreendidos por ele (ou sob sua gestão), mostra-se interessante não enquanto tentativa de constituição de uma linearidade temporal, diacrônica, tão arbitrária quanto necessária, mas porque 17 contribui para uma maior compreensão não apenas das pesquisas sobre a nova classe média, bem como da relevância e proeminência que elas alcançaram na trajetória do próprio economista e na história recente do país. Vale lembrar, também, que esta dissertação se debruça sobre as pesquisas realizadas por Marcelo Neri sobre a nova classe média por uma questão de escopo, não entrando no mérito de esmiuçar o debate teórico das pesquisas realizadas por outros autores acerca da temática. Todavia, tal debate pode emergir na análise dos enquadramentos da mídia, servindo como balizador contextual da investigação aqui proposta.

1.1.1. Da PUC ao Ipea

Marcelo Côrtes Neri graduou-se em Economia pela PUC-RJ em 1984 e em 1989 defendeu sua tese de mestrado, na mesma instituição, sob orientação de Gustavo Franco – presidente do Banco Central durante o governo Fernando Henrique, de 1997 a 1999. Com o título Inflação e Consumo: Modelos Teóricos Aplicados ao Pós- Cruzado1, a tese foi uma das cinco vencedoras do Prêmio BNDES de Economia de 1990 e teve, entre os seus objetivos, explicar como o Plano Cruzado gerou um boom de consumo, e tratou dos seus efeitos na economia do país. “(...) corroboramos, em geral, a versão oficial de que ‘o Plano Cruzado incorporou novos agentes ao mercado consumidor’, que corresponderiam no estrito escopo deste último modelo à massa de indivíduos excluídos da órbita financeira de curto prazo da economia brasileira. (Neri, 1990:103)”. De acordo com Neri, no entanto, o aquecimento do consumo gerado ao se desinflacionar a economia gerou uma exacerbação da demanda, o que acabou por pressionar os preços e inflacionar a economia novamente. Em entrevista ao livro Memórias do IBRE: depoimentos ao CPDOC, Marcelo Neri conta seu percurso acadêmico até ser convidado para criar o Centro de Políticas Sociais, na FGV, e assim explica sua tese de mestrado.

Normalmente, quando você faz um processo de desinflação, causava recessão. Mas no Brasil e em outros países, quando se fez aquele tipo de

1 Disponível em http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/p remio/pr142.pdf. Acesso em 16 de dezembro de 2014. 18

estabilização, se gerou um boom, ou seja, se ganhou dos dois lados. O problema é que aquilo não se sustentou e estourou mais à frente. E o aquecimento do consumo desempenhou papel central nisso. Tentei entender as razões. Essa foi minha tese (Neri, 2008:352).

Ainda sobre aquela época e sua tese, Neri comenta. “Aprendi a gostar de estudar o que está acontecendo (...). Era um pouco falar da história que eu estava vivendo. Gostei da experiência de falar como observador e participante da cena, sem o distanciamento científico costumeiro” (idem). E esta tendência de se analisar o tempo presente, ou o mais recente possível, pode ser verificada nas pesquisas posteriores de Neri. Em 1996, Marcelo Neri defende seu doutorado em Princeton, nos Estados Unidos, orientado pelo canadense David Card – o que refletiu sua mudança dos estudos de mercado consumidor para os de pobreza, desigualdade e mercado de trabalho. Mesmo assim, as questões inflacionárias brasileiras estavam novamente presentes na tese Labor Markets Adaptation to Inflation and Household Financial Behavior: Lessons from Brazil, (em tradução livre, Adaptação dos Mercados de Trabalho à Inflação e Comportamento Financeiro das Famílias: Lições do Brasil). Apenas pelo título é possível notar a preocupação com a atualidade das questões de pesquisa; afinal, o fantasma da inflação somente deixa de assombrar os brasileiros a partir da estabilização da moeda promovida pelo Plano Real, iniciado em fevereiro de 1994 no governo Itamar Franco e sob a batuta do então Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, eleito presidente no mesmo ano. A questão do mercado de trabalho e da renda familiar no Brasil também serão centrais nos estudos sobre a nova classe média, como será demonstrado posteriormente. Após defender a tese, Marcelo Neri volta ao Brasil e à Universidade Federal Fluminense (UFF), onde era concursado e deu aulas enquanto cursava o mestrado. Conforme relatado no livro Memórias do IBRE, uma questão política interna da universidade levou o economista a fazer, em 1998, o concurso público para o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com o qual já tinha alguma familiaridade devido a um convênio de pesquisa entre a instituição e a UFF. Aprovado em primeiro lugar, Neri permaneceu no Ipea – onde trabalhou com economistas sociais como Ricardo Paes de Barros e André Urani – até dezembro de 1999, quando foi para a 19

FGV à convite de Antonio Pôrto Gonçalves (na época presidente do Instituto Brasileiro de Economia, o IBRE) para criar o CPS.

1.1.2. O Centro de Políticas Sociais

O Centro de Políticas Sociais (CPS) foi criado em 2000 dentro do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) – uma das principais, antigas e longevas áreas da FGV. A proposta era analisar a realidade socioeconômica brasileira através de métodos qualitativos e quantitativo (principalmente com base nas pesquisas domiciliares do IBGE) além de se preocupar com o desenho e avaliação de políticas públicas. O perfil do centro diferia dos demais pertencentes ao IBRE, cuja tradição remonta ainda aos tempos de sua fundação, em 1951, quando a preocupação dos governos mundiais do pós-guerra eram as políticas de planejamento. Ao longo do tempo, o foco do centro voltou-se para os estudos sobre equidade, o que inclui seus fatores, mensuração e estabelecimento de metas. Neste contexto, passou a adotar o que chamou de Metas Sociais: paralelas às metas macroeconômicas do governo federal, consideravam o desempenho social do país como prioritário, produzindo, desta forma, estudos no intuito de motivar ações públicas nessa direção. Além da linha de pesquisa de Renda e Bem-Estar (na qual se incluíam os estudos sobre a nova classe média), “Pobreza e Desigualdade” e “Políticas de Renda”, o CPS dedicava-se às áreas “Desenvolvimento Humano”, “Trabalho”, “Microfinanças” e “Sociedade”. O centro ainda realizava diversos seminários e tinha como uma de suas principais preocupações a difusão do conhecimento produzido para um público mais amplo do que o acadêmico e governamental, o que incluía o diálogo com a mídia, sociedade civil e suas entidades. Assim, eram realizadas entrevistas coletivas e divulgações de estudo por meio do site www.fgv.br/cps, disponíveis até os dias de hoje. Segundo a entrevista de Marcelo Neri para o livro Memórias do IBRE, a ideia inicial era de que o centro se chamasse Centro de Estudos Sociais, o que foi refutado pelo economista. “A razão mais óbvia é que, num Centro de Políticas Sociais, você está querendo estudar o social mais no sentido da atuação da política pública, e menos no sentido de um observador externo. Você quer ter uma intervenção transformadora da realidade” (Neri, 2008:355). Neri também destaca que a sigla CPS adequava-se, por analogia, ao que seria a Pnad americana – o Current Population Survey, realizado 20 em conjunto pelo U.S. Census Bureau e pelo U.S. Bureau of Labor Statistics (BLS). A pesquisa, baseada em grandes bases de dados, é considerada fonte primária de estatísticas sobre o mercado de trabalho norte-americano, além de oferecer informações demográficas por grupos sociais, regiões e sub-regiões que complementam o panorama do trabalho nos Estados Unidos. Em sua pesquisa inaugural sobre a nova classe média, por exemplo, Neri explica as vantagens de usar complementarmente a Pnad e a PME por conta da semelhança desta com o CPS. “(...) a PME usa a metodologia de painel rotativo similar àquela adotada pelo Current Population Survey americano, que permite acompanhar as informações dos mesmos indivíduos e de suas famílias durante algumas observações consecutivas” (Neri, 2008:13). A experiência de Marcelo Neri no Ipea foi decisiva para o desenho do CPS e para as pesquisas que viriam a ser desenvolvidas posteriormente. Do tempo em que trabalhou na fundação pública federal ligada à Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, o economista herdou o gosto pelas pesquisas empíricas com grandes bases de dados e o conhecimento de como tratá-las, aos moldes do Current Population Survey. É o que o economista comenta no livro Memórias do IBRE.

(...) acho que um pouco das coisas que faço hoje veio da época do doutorado, mas veio também da época em que trabalhei no Ipea, que é a melhor escola prática para quem quer trabalhar com grandes bases de microdados. Foi isso que determinou a área de estudo em que estou hoje. É uma área muito rica, porque você tem uma matéria-prima viva, que são as bases de dados levantadas pelo IBGE, pelos institutos de pesquisa e pelos diferentes ministérios e secretarias. Pesquisas domiciliares como as Pnads, os censos, entram na casa de centenas de milhares de pessoas com perguntas diretas. Uma das coisas que mais gosto no que faço é trabalhar com o que as pessoas expressam de maneira palpável e objetiva nessas pesquisas, que são dados públicos, disponíveis a quem queira trabalhar com eles, o que gera um crescente convergência de diagnósticos. (Neri, 2008:352)

A equipe inicial do CPS também viera do Ipea, contratada pela FGV, e era pequena. No entanto, apesar do grande aprendizado no instituto, o CPS não 21 reproduziria o que nele era feito, buscando diferenciais mesmo com uma equipe enxuta. O CPS empenhava-se, então, na produção e divulgação de suas principais descobertas – baseadas em dados públicos – em primeira-mão, logo que o IBGE divulgava pesquisas como a Pnad. A velocidade no processamento dos dados, na elaboração de diagnósticos sobre as transformações socioeconômicas que o Brasil vivia e na disponibilização dos resultados tornou-se a marca do centro, cuja preocupação com a comunicação para a sociedade constituía inclusive uma de suas três metas internas. “A nossa característica é a rapidez (...) Temos que ter alguma vantagem comparativa. Pegamos o dado, processamos, diagnosticamos e divulgamos, ainda que isso exija ser ousado”, afirma Neri no depoimento ao CPDOC (Neri, 2008:359). Além disso, o trabalho do CPS era pautado pelo senso de oportunidade, através do qual eram identificados ganchos temáticos e contextuais com a realidade a fim de que os estudos, além de trazerem dados novos sobre o país, adquirissem relevância e visibilidade, no Brasil e no exterior.

Fizemos, por exemplo, uma pesquisa sobre miséria, desigualdade, instabilidade, que foi lançada em outubro de 2006. Dissemos: “Época de eleição é um momento em que o mundo todo olha para o país. Vamos fazer essa pesquisa em inglês, porque o mundo está olhando para o Brasil”. Depois, durante a visita do papa ao Brasil, fizemos uma pesquisa demonstrando a estabilidade católica neste século a partir de dados inéditos. Essas pesquisas tiveram repercussão internacional em mais de uma centena de lugares, muitos deles nobres, como a Time, The Economist, Financial Times, Le Figaro, e até em jornais vietnamitas e iranianos. Por que isso aconteceu? Porque pegamos uma informação nova e a tornamos disponível no momento certo. (Neri, 2008:358)

Tal modus operandi, porém, era alvo de críticas tanto no meio acadêmico quanto no midiático. O teor das críticas variava; no meio acadêmico, os questionamentos mais comuns versavam sobre a divulgação das pesquisas para um público mais amplo e um possível prejuízo no rendimento científico em decorrência dessa escolha. No livro Memórias do IBRE, Neri se defende explicando que a mudança de foco da divulgação científica para fora do meio em que foi gerada não interfere negativamente na produção acadêmica. Ao comentar uma avaliação da 22

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o economista – também professor da Escola de Economia da FGV no Rio de Janeiro, a EPGE – conta:

(...) dos 18 professores em tempo integral, segundo o critério da Capes, fui o quarto em produção acadêmica e devo manter isso na próxima avaliação que está para acontecer. Há uma contribuição acadêmica concreta. No fundo, acho que o preconceito que existe na academia em relação à divulgação está mudando. Que importância tem você falar para os seus pares, cerca de meia dúzia de pessoas? (Neri, 2008:358)

Ainda segundo Neri, trabalhar na FGV representava uma vantagem nesse sentido, já que a Fundação tem entre seus objetivos a divulgação do conhecimento nela produzido e podia ser considerada tradicionalmente mais “livre” que o Ipea, pois não é vinculada ao Estado. Curiosamente, a credibilidade da FGV e das pesquisas empreendidas por Marcelo Neri no CPS foram postas em xeque na coluna do jornalista Guilherme Fiúza para a revista Época online em fevereiro de 2011, A história brasileira recauchutada. Nela, Fiúza comenta um encontro do ex-presidente Lula com o então presidente do IBGE e um economista na sede da FGV, no Rio de Janeiro. Apesar de não haver uma clara citação ao economista-chefe do CPS, a descrição das pesquisas e de seus resultados (mesmo contendo alguns equívocos) permite identificá-lo.

Completando o cozido institucional, figurava na reunião um representante da FGV – que produziu papers em série, com dados do IBGE, sobre as maravilhas estatísticas do Brasil pós-2003 (o ano zero). A redução da pobreza começou com o Plano Real, em 1994, mas os cortes da FGV não acham muita graça na pré-história do lulismo. Com essa amizade toda, nada mais natural que um papo amistoso numa tarde morna do Rio. Até porque o IBGE e a FGV precisavam mesmo se encontrar para informar Lula de que ele é o cara. (Fiúza, 2011)2

2 Disponível em http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI212278-15230,00- A+HISTORIA+BRASILEIRA+RECAUCHUTADA.html. Acesso em 26 de dezembro de 2014. 23

Acusado nas entrelinhas de oportunismo político e criticado quanto à metodologia utilizada na FGV, Neri respondeu ao jornalista, e a réplica – assim como a tréplica – foram publicadas no dia 4 de março. Na resposta, Marcelo Neri remonta às origens dos seus estudos e a reuniões que teve com então presidente Fernando Henrique Cardoso.

Estou de pleno acordo com o ponto de que a pobreza começou a cair depois do Real. Na verdade, eu fui o primeiro pesquisador a detectar esta tendência. Publiquei vários artigos a respeito, sendo inclusive recebido pelo então Presidente Fernando Henrique Cardoso para mostrar as evidências. Em minha profissão, este é um momento importante quando evidências e propostas podem se concretizar, se transformar em reflexão e ação por quem decide. (Neri, 2011)3

Embora possa parecer uma “picuinha”, o embate entre o jornalista e economista no site da Época é bastante ilustrativo do tipo de crítica da qual Neri era alvo concreto ou potencial. As insinuações de uso político das pesquisas do CPS ou de um timing de divulgação suspeito foram inclusive assuntos tratados na entrevista concedida ao CPDOC exatos quatro anos antes dos eventos registrados pela Época. Já naquele tempo, as pesquisas relacionadas à redução da desigualdade eram objetos de polêmica – ou melhor, de disputa. No trecho reproduzido abaixo, os historiadores Marly Motta e Carlos Eduardo Sarmento perguntam:

Lidar com questões como miséria e desigualdade, num país como o Brasil, é ir para o coração das decisões políticas. Como equilibrar o fato de a Fundação querer se manter fora da política e estar lidando com essas questões? Essa pesquisa que o senhor mencionou sobre miséria, desigualdade, instabilidade, por exemplo: causou certa celeuma o fato de o senhor ter dito às vésperas da eleição de 2006 que houve uma redução da pobreza. (Motta, Sarmento, 2008:358)

3 Disponível em http://colunas.revistaepoca.globo.com/guilhermefiuza/2011/03/04/a-numerologia-da- pobreza/ Acesso em 26 de dezembro de 2014. 24

A pergunta em si resume os principais aspectos colocados em jogo com divulgações de pesquisas que mostram as transformações na economia e sociedade brasileiras – transformações estas intimamente ligadas a tomadas de decisão de gestores governamentais – por uma fundação de direito privado e apartidária, mas historicamente parceira de governos nas três esferas e surgida a partir de um decreto presidencial. A resposta de Marcelo Neri, entretanto, passa ao largo das implicações para a FGV, fossem elas positivas ou negativas, de tais divulgações, centrando-se na reputação adquirida pelo próprio economista ao longo de sua carreira, junto à sua equipe. E, novamente, remete às descobertas sobre a redução da desigualdade no país como prova irrefutável de não-favorecimento político a nenhum dos dois partidos antagônicos no Brasil pós-1988, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e o Partido dos Trabalhadores (PT).

Acho bom você perguntar isso. A sociedade deve tomar posse da sua história. Se você analisar a nossa história enquanto grupo de pesquisa, verá que, ainda no tempo do Ipea, nós fomos os primeiros a demonstrar que a pobreza caiu depois do Plano Real. Quando a pobreza aumentou depois do Plano Real, nas crises externas, também fomos os primeiros a demonstrar e a divulgar isso. No último ano do governo Fernando Henrique, quando a miséria caiu mais, só perdeu para o pós-Real, fomos lá e dissemos isso, apesar de, pela defasagem de dados, já estarmos em pleno governo Lula. Quando a miséria subiu no primeiro ano do governo Lula, não fomos apenas os primeiros, mas fomos os únicos que dissemos que isso. Eu me sinto totalmente tranquilo para dizer o que tiver que dizer, agora e sempre. Acho que meu capital fundamental é a credibilidade desenvolvida em mais de 12 anos de pesquisas divulgadas. (Neri, 2008:358-359)

À questão colocada a seguir, sobre as pressões do mundo acadêmico e político, Marcelo Neri fala que elas ocorreram de fato no ano de 2006 (em que Lula foi reeleito para a presidência da República), mas não especifica as origens. Ele também defende o processo utilizado no centro e reconhece as consequências que a ampla divulgação poderia ter.

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Nesse caso a que você estava se referindo houve uma pressão, sim, muito desagradável. De chegar e cobrar por que estávamos divulgando a pesquisa naquele momento. Eu disse: “Divulgamos 15 dias antes das eleições porque os microdados foram disponibilizados 21 dias antes das eleições”. Nosso compromisso é: processamos os dados da maneira mais rápida que conseguimos e divulgamos o que encontramos e outros podem encontrar. Se eu fizesse diferente do que sempre fiz, aí sim haveria manipulação política. Mas também acho que não se faz omelete sem quebrar ovos. (Neri, 2008:359)

Se as pesquisas sobre desigualdade tornaram o Centro de Políticas Sociais da FGV conhecido, não fizeram por menos os estudos sobre a nova classe média – dez ao todo, produzidos e divulgados de 2008 a 2012, ano em que Marcelo Neri foi nomeado presidente do Ipea por indicação do então ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Wellington . Embora constituindo um campo de estudos específico, as investigações sobre a nova classe média se beneficiaram dos demais realizados pelo centro, já que aproveitam tendências identificadas neles para ir além. “A ascensão desta nova classe média é a principal inovação recente nesta década que se confirma aqui como a da redução da desigualdade e tem sido propulsionada por ela e agora pela volta do crescimento” (Neri, 2008:6), afirma Neri na introdução do estudo inaugural, publicado no segundo semestre de 2008. Ainda de acordo com ele, o fator que atuou mais decisivamente tanto na diminuição da desigualdade quanto no florescimento da chamada nova classe média é o trabalho, entendido por ocupação. E se não é possível dissociar os estudos sobre a nova classe média de estudos prévios ou paralelos, também não é possível dissociá-los de diretivas da presidência da FGV. Em nota de rodapé na introdução do estudo A Nova Classe Média, Marcelo Neri esclarece. “Este estudo surge de um novo desafio colocado pelo presidente da Fundação Getulio Vargas, Carlos Ivan Simonsen Leal, há dois anos, do CPS ir além das estatísticas de pobreza e estudar a classe média brasileira” (Neri, 2008:5). O economista teve o cuidado, no entanto, de frisar que as opções metodológicas e os resultados encontrados eram inteiramente de responsabilidade da equipe que o realizou.

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1.2. Os estudos sobre a nova classe média: da FGV ao governo 1.2.1. O CPS e a nova classe média

A primeira pesquisa sobre a nova classe média realizada pelo CPS foi divulgada em agosto de 20084, com o mesmo nome do fenômeno que ela identificara. De acordo com o estudo, a parcela da classe C dentre as classes econômicas (E, D, C, B e A) cresceu 22,8% de abril de 2004 a abril de 2008, chegando a 52% da população. Enquanto classe central, a classe C aufere a renda média da sociedade brasileira – sendo, portanto, uma classe média no sentido estatístico – e por conta da desigualdade, esta renda média seria alta em relação à renda mediana. O estudo também contextualiza a classe C brasileira no mundo, e revela que, em 2008, 80% das pessoas do planeta viviam em países com níveis de renda per capita menores que o do Brasil. A pesquisa que mostrou a emergência de uma nova classe média brasileira – neste primeiro estudo, ainda bastante denominada classe C – teve como pano de fundo um período de bonança econômica e social, citado logo no início do texto.

O Brasil foi promovido no primeiro semestre de 2008 a “investiment grade” pelas agências internacionais de rating. Em 2007 passou a integrar o grupo de países com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) alto pela ONU. O presente estudo revela a contrapartida disto no dia-a-dia da parte mais sensível da anatomia humana: o bolso. (Neri, 2008:5)

Os elementos substantivos e os simbólicos que de acordo com Marcelo Neri caracterizariam o que ele chamou de boom da classe C também são elencados neste primeiro parágrafo que funciona como uma espécie de lead do que será desenvolvido nas demais páginas: casa, carro, computador, crédito e carteira de trabalho – todos com C, e todos haviam atingido seus recordes históricos naquele ano. Em 2008, no estudo do CPS, a classe C estava compreendida entre os imediatamente acima dos 50% mais pobres e abaixo dos 10% mais ricos, o que equivalia à faixa de renda domiciliar total de todas as fontes situada entre R$ 1.064 e R$ 4.591, a preços da grande São Paulo. Para quantificar as faixas de renda, Neri

4 Disponível em http://www.cps.fgv.br/cps/classe_media/. Acesso em 16 de dezembro de 2014. 27 explicou, de maneira simplificada, que “calculamos a renda domiciliar per capita do trabalho e depois a expressamos em termos equivalentes de renda domiciliar total de todas as fontes através da Pnad de 2006” (Neri, 2008:28). Por conta da importância dada à renda domiciliar do trabalho, os dados da Pesquisa Mensal do Emprego (PME) utilizados referem-se às seis principais metrópoles brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife), cuja disponibilidade de microdados recentes era maior. No entanto, a questão que envolve a chamada nova classe média – e que a tornaria um fenômeno novo – extrapola a renda em si, abarcando também os movimentos de distribuição de renda, as probabilidades de transição de uma faixa a outra (tanto no sentido ascendente como descendente), a análise das atitudes e expectativas das pessoas, medidas de qualidade de vida extraídas de surveys globais como o Gallup World Poll, o potencial de consumo e uma conceituação complementar desenvolvida pelo CPS para medir a evolução da nova classe média pelo ponto de vista do produtor. Isto equivaleria, em suma, à capacidade de se manter o potencial de consumo ao longo do tempo. O economista destaca o acesso ao emprego formal entre os elementos que atuam na manutenção do potencial de consumo a longo prazo, já que ele garante um nível de proteção social maior, acesso à previdência privada, à crédito imobiliário, posse legal de casa própria e seguro-saúde. E quanto aos aspectos que diferenciam a metodologia do CPS das demais, Marcelo Neri comenta:

O aspecto inovador da metodologia é a sua capacidade de olhar para aspectos simbólicos da classe média tal como a carteira de trabalho, a entrada na universidade ou na era da informática e aliarmos ao aspecto de status social ligado à demanda privada por bens que eram monopólio do Estado como previdência, escola, saúde e crédito imobiliário. Outra [sic] é a capacidade de mensurar em escala nacional cada componente citado, estudar a sua interação e a agregação dos mesmos em índices sintéticos do tamanho e da distribuição da classe média, mergulhar nos detalhes da sua determinação (por exemplo, ir além da estatística de acesso à educação, mas ver quanto se paga pela mesma), agregar a interação dos diversos componentes e monitorá-los ao longo do tempo. (Neri, 2008:24)

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Além da metodologia de pesquisa, a novidade fica por conta, claro, do fenômeno socioeconômico que ela identificara e descrevera: o surgimento de uma nova classe média no Brasil, ou o “ressurgimento da centralidade da classe média brasileira” (Neri, 2008:7), possibilitada pelo que Neri chama a “volta da carteira de trabalho” (idem). De acordo com ele, o mais comum era que fosse dada importância aos programas de transferência de renda (como o Bolsa Família) na redução da desigualdade e da pobreza, mas pouco se falou sobre o papel do crescimento do emprego formal que a Pnad de 2006 registrara – que possibilitou o aumento da renda gerada pelo trabalho nas regiões metropolitanas brasileiras. No livro Distribuição da renda e desenvolvimento econômico do Brasil, o economista Carlos Geraldo Langoni (professor da FGV/EPGE, presidente do Banco Central de 1983 a 1989 e agora diretor do Centro de Economia Mundial da FGV) destrincha a distribuição de renda do país nos anos 1960 e 1970, seguindo a trilha inaugurada por Albert Fishlow. Em capítulo sobre os efeitos redistributivos do processo de desenvolvimento econômico, Langoni comenta o que parece ser o contrário do ocorreu na década de 2000, conforme exemplificado por Neri. Segundo Langoni, nos anos 1970, o aumento das rendas médias aumentou a desigualdade ao invés de contribuir para mitigá-la. “Como já chamamos a atenção, as variações nas rendas médias beneficiaram desproporcionalmente os grupos de renda mais elevada, particularmente o colegial (+28%) e o superior (+52%). Em termos de nossas estimativas, isto resultou num maior grau de desigualdade entre classes. (Langoni, 2005[1973]:79)”. O trecho tem como pano de fundo os efeitos redistributivos das mudanças na composição educacional da força de trabalho, considerada variável- chave para se compreender o aumento da concentração de renda no período estudado.

A importância da educação para o aumento de desigualdade, mesmo considerando o efeito-puro redistributivo, é consistente com a hipótese de que o desenvolvimento econômico brasileiro levou a uma expansão diferenciada da mão-de-obra que, devido à tecnologia utilizada, beneficiou desproporcionalmente os níveis de educação mais elevados. (Langoni, 2005[1973]:106)

A tese central do livro de Langoni é que o referido aumento de desigualdade foi consequência de modificações profundas que acompanharam o processo de 29 desenvolvimento econômico no Brasil entre 1960 e 1970. Entre elas, modificações na composição educacional da força de trabalho. Assim, com a modernização dos setores produtivos no período de crescimento conhecido como “milagre econômico”, houve uma distorção na qual ganhos extras de renda estavam associados a desequilíbrios entre oferta e demanda por mão-de-obra qualificada. É interessante destacar que Langoni dissocia os índices de concentração dos indicadores de bem-estar, e chama a atenção também para o fato de que, especialmente no caso brasileiro – dado o aumento de desigualdade em uma economia cujo nível de renda per capita ainda era relativamente baixo, apesar das taxas de crescimento muito altas –

(...) há necessidade de apurar-se qual deva ser realmente a preocupação da sociedade: se a desigualdade da distribuição per se ou o fato de que ainda existe uma porção considerável da população recebendo renda monetária inferior àquilo que poderíamos chamar de mínimo do ponto de vista social. No primeiro caso, o objetivo fundamental seria a igualdade da distribuição e, no segundo, eliminação da pobreza. (Langoni, 2005[1973]:187)

Na continuação de seu raciocínio, Langoni conclui. “(...) parece haver pouca dúvida de que uma das conseqüências imediatas da aceleração do crescimento é a redução do nível de pobreza – independentemente de qualquer mudança qualitativa no fator trabalho – pela elevação do nível de emprego”. (idem). E aqui, a análise realizada por Langoni em 1973 encontra a de Marcelo Neri, realizada em 2008.

Depois de duas décadas perdidas de avanços de renda e do trabalho, a combinação de crescimento mais acelerado com marcada redução de desigualdade por um período mais longo é notável, esta é uma estória [sic] cujos novos capítulos valem a pena ser contados antes que o livro acabe, dado seu ineditismo na História [sic] estatisticamente documentada brasileira. (Neri, 2008:8)

Claro que se tratam de dois momentos bem distintos no Brasil: no primeiro, o país estava sob um regime ditatorial que teve como um dos méritos inegáveis o crescimento e modernização econômicos. No entanto, parodiando a célebre frase do ministro da Economia na época, Antonio Delfim Netto, o bolo que crescia não era 30 dividido, e a parte que mais crescia ficava restrita a uma parcela ínfima da população. Mais de 30 anos depois, o bolo crescia para quem antes nunca havia crescido e a taxas maiores do que para aqueles com maior renda. A própria forma de pirâmide social e econômica começou a mudar, estreitando-se na base e alargando-se no meio. E entre um momento e outro, viveu-se no campo político a redemocratização; no econômico e social, a hiperinflação, a estagnação econômica, o desemprego, as diversas tentativas de estabilização da moeda, o êxito com o Plano Real, políticas econômicas e políticas públicas distributivas que, combinadas, finalmente pareciam ter colocado o país no trilho do crescimento econômico e maior desenvolvimento social. E, mesmo com as grandes diferenças que separam estes dois pontos situados na história, a continuidade entre eles revela a importância do emprego formal primeiro na redução da pobreza, depois na diminuição da desigualdade – com crescimento não apenas da renda média considerada per capita, de 23,7%, de 2009 a 2011 (Neri, 2011:61) pelos dados da Pnad – como da proporção das camadas médias na sociedade brasileira.

1.2.2. O lado brilhante da base da pirâmide

Em março de 2012, Marcelo Neri lançou o livro A Nova Classe Média: o lado brilhante da base da pirâmide, que coincidiu com o último dos estudos sobre a nova classe média produzidos pelo CPS, De Volta ao País do Futuro: Projeções, Crise Européia e a Nova Classe Média Brasileira. Entre o estudo inicial e este último, ainda foram divulgados (em ordem cronológica): Miséria e a Nova Classe Média na Década da Igualdade, Crônica de uma Crise Anunciada: Choques Externos e a Nova Classe Média, Crônica da Crise: Ressaca e Resiliência Recentes, O Atlas do Bolso dos Brasileiros, Consumidores, Produtores e a Nova Classe Média, A Pequena Grande Década: Crise, Cenários e a Nova Classe Média, A Nova Classe Média: Lado Brilhante dos Pobres e Os Emergentes dos Emergentes: Reflexões Globais e Ações Locais para a Nova Classe Média Brasileira. O livro retoma todas as questões tratadas pelos estudos sobre a nova classe média anteriores (incluindo textos acadêmicos, artigos na mídia, palestras) além de se aprofundar naquelas anunciadas no estudo inaugural, como o Índice de Felicidade Futura (IFF) (Neri, 2008:23) – desenvolvido em um projeto para o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O livro também, e principalmente, 31 atualiza a metodologia, parâmetros e valores da pesquisa inicial, como por exemplo: a faixa de renda em que se situa a classe C vai de R$ 1.200 a R$ 5.174, a preços de 2011 (mas sem especificação da cidade), considerando a renda domiciliar de todas as fontes. Em 2011, ela passa a compor 55,05% da população brasileira – ou 3,05% a mais do que no período anterior. De 2003 a 2011, cerca de 39,6 milhões de pessoas (Neri, 2011:27) – o que equivaleria à população da Argentina (Neri, 2011:90) – ascenderam à nova classe média no país. Desta vez, não apenas as seis principais regiões metropolitanas foram consideradas, e sim todas as cidades brasileiras, a partir do Censo 2010. Outra diferença importante – e que talvez tenha suscitado alguns mau-entendidos ou críticas anteriores – é frisar que as faixas de renda definidas pelo CPS situavam as pessoas em estratos econômicos, não classes sociais.

Há alguns anos, estendemos a análise da pobreza absoluta para outros segmentos da população. Em particular, passamos a acompanhar a evolução das classes econômicas brasileiras (A, B, C, D, E, e a classe C, a qual batizamos a nova classe média brasileira). Os sociólogos podem relaxar, pois não estamos falando de classes sociais (operariado, burguesia, capitalistas etc.), mas de estratos econômicos. Leia-se dinheiro no bolso, que seria, segundo os economistas, a parte mais sensível da anatomia humana. (Neri, 2011:17)

Na pesquisa de agosto de 2008, no entanto, ao fixar os limites inferior e superior da renda domiciliar de todas as fontes em classes, a expressão usada era “definição das classes sociais” (Neri, 2008:27). De qualquer forma, seja para reparar um equívoco ou por prudência, logo no início do livro Marcelo Neri justifica a escolha. Mais adiante, demonstra a importância do fator renda na análise sobre a nova classe média, apesar da relevância de outros aspectos na estratificação.

Em nossa visão, baseada em renda sobre a nova classe média, aninhamos as expectativas subjetivas das pessoas e seus respectivos estoques de ativos físicos, humanos e sociais. Entretanto, para que a análise tenha consequência, há que se arbitrar um ponto de apoio central que aqui é baseado em renda. Com base na classificação das pessoas em grupos de renda, são incorporadas 32

expectativas e atitudes e a renda permanente é aquela na qual os estoques de ativos são convertidos em fluxos. (Neri, 2011:17)

Outro ponto a ser ressaltado é a ênfase no termo nova classe média, que parece ter se sedimentado ao longo de seis anos, do lançamento da primeira pesquisa ao do livro. No estudo inicial, embora chamado A Nova Classe Média, raras são as vezes em que o termo é mencionado; o mais frequente é classe C. Já no livro, classe C ainda é bastante utilizado principalmente na comparação com outras classes, mas a ênfase em nova classe média é maior. Ainda no primeiro capítulo do tomo, Marcelo Neri fala sobre os aspectos simbólicos do conceito:

Nova classe média foi o apelido que demos à classe C há anos. Chamar a pessoa de classe C soava depreciativo, pior do que classe A ou B, por exemplo. Nova classe média difere em espírito da expressão nouveau riche, que acima de tudo discrima a origem das pessoas. Nova classe média dá o sentido positivo e prospectivo daquele que realizou – e continua a realizar – o sonho de subir na vida. Aonde você vai chegar é mais importante do que onde você veio ou onde está. Nova classe média não é definida pelo ter, mas pela dialética entre ser e estar olhando para a posse de ativos e para decisões de escolher entre o hoje e o amanhã. Mais do que assíduos frequentadores de templos de consumo, o que caracteriza a nova classe média brasileira é o lado do produtor. A nova classe média busca construir seu futuro em bases sólidas que sustentem o novo padrão adquirido. (Neri, 2011:18-19)

No livro, novamente o papel do emprego formal está presente; os dados citados revelam um aquecimento do mercado de trabalho. De acordo com Neri, o crescimento do emprego formal duplicou de 2004 a 2011 – e tal incremento é considerado o principal símbolo do surgimento da nova classe média brasileira (Neri, 2011:36). Todavia, aqui nota-se uma sutil mudança de abordagem em relação ao fenômeno: em 2008, Marcelo Neri falava de um “ressurgimento da centralidade da classe média brasileira” (Neri, 2008:7), como já citado neste trabalho. Finalizando o breve compilado dos aspectos centrais no estudo originário sobre a nova classe média e no livro A Nova Classe Média: o lado brilhante da base 33 da pirâmide – que consolida e aprofunda a trajetória de pesquisa sobre o assunto até então – vale destacar que a questão da desigualdade é tratada em sua perspectiva histórica, remontando às décadas de 1960 e 1970, quando registrou um grande salto. Se em 2008 ela era tratada com foco nos anos 2000, o volume lançado em 2012 volta 50 anos estatisticamente documentados para exemplificar, através de uma comparação, a dimensão da inversão de paradigma socioeconômico que o Brasil estava vivenciando. “A renda dos 50% mais pobres nos anos 2000 sobe 69%, a imagem no espelho do ganho dos 10% mais ricos nos anos 1960” (Neri, 2011:59). No subcapítulo dedicado ao tema, ele ainda cita Carlos Langoni e a importância da sua contribuição para os estudos da desigualdade brasileira, tanto em termos metodológicos, quanto dos resultados alcançados. Três meses após o lançamento do livro, o então ministro de Assuntos Estratégicos, Moreira Franco, indicou Marcelo Neri para a presidência do Ipea – onde fora diretor de Estudos Sociais. O fato foi noticiado no dia 17 de junho de 2012 pelo jornal O Globo, que lembrou no entanto que ainda era preciso a aprovação da presidente Dilma. Ao jornal, Moreira Franco declarou:

Tem condições de liderança intelectual e poderá colaborar com o governo da presidente Dilma nas áreas econômica e social em um aspecto fundamental que é pensar políticas que permitam manter o mesmo padrão de redução das desigualdades e a integração de brasileiros ao mercado consumidor, que é a mola propulsora do crescimento. (Franco, 2012)5

Na matéria, Moreira Franco não faz menção direta à nova classe média, mas a ênfase “na integração de brasileiros ao mercado consumidor” remete à relevância do assunto para o governo – afinal, foi nos anos de governo do PT que o Brasil registrou queda contínua na desigualdade e que a chamada nova classe média florescera. O texto também sugere que a nomeação de um quadro técnico como Neri minimizaria as chances de veto pela presidente. Até o início do mesmo mês, o Ipea estava sob o comando do economista Marcio Pochmann, que saiu da presidência do instituto para tentar a prefeitura de Campinas.

5 Disponível em http://oglobo.globo.com/economia/moreira-franco-indica-economista-marcelo-neri- para-presidencia-do-ipea-5235704. Acesso em 5 de janeiro de 2015 34

A citação à nova classe média na matéria fica por conta da menção ao livro A Nova Classe Média: o lado brilhante da base da pirâmide, ao lado da citação a outro estudo do CPS, Microcrédito: o mistério nordestino e o Grameen brasileiro. A matéria lembra que o primeiro chegou a ser recomendado por Dilma no início do ano e que último serviu de base para o desenvolvimento do programa de microcrédito do governo federal “Crescer”. É possível que estes fossem indicativos suficientes de que Marcelo Neri tivesse mais requisitos para agradar à presidente do que apenas ser considerado um “perfil técnico”. Abaixo, segue trecho da recomendação citada pelo O Globo: ela foi feita em discurso da presidente Dilma em evento de comemoração pela marca de 1,5 milhão de beneficiários do Plano Brasil Sem Miséria, através da integração dos programas Renda Melhor, Cartão Família Carioca e Bolsa Família. A cerimônia ocorreu no Palácio Guanabara, sede do governo do estado do Rio de Janeiro, no dia 26 de abril de 2012. Eu sugeriria a todos aqui que se interessam por isso, que têm toda uma abnegação em relação a isso, a leitura de um livro, de um trabalho do Marcelo Neri (...), a leitura do livro dele, Nova Classe Média, que é, eu acredito, um dos estudos mais bem-feitos a respeito desse processo. (...) Ele pode ter certeza, ele inspira a gente a melhorar os nossos programas. É por várias constatações, estudos e análises dele, que nós vamos melhorando os nossos programas, então ele é um grande colaborador do governo federal (...) Acho que ele é um dos brasileiros que ajudaram o Brasil a combater a pobreza e a miséria." (Rousseff, 2012)6

Nomeado no dia 27 de agosto de 2012 através da Portaria nº 694 da Casa Civil pela ministra-chefe Gleisi Hoffman, Marcelo Neri assume a presidência Ipea no dia 12 de setembro.

1.3. A volta ao Ipea

O atual Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) tem sua origem em 1964, quando foi criado o Escritório de Pesquisa Econômica Aplicada (Epea),

6 Transcrição livre de vídeo disponível em http://www.youtube.com/watch?v=UQP5XrvWyLc. Acesso: 16 de novembro de 2013. 35 inicialmente vinculado ao Conselho Consultivo do Planejamento – órgão de assessoramento superior do governo federal na época. No ano de 1967, passou a fazer parte do Ministério do Planejamento e Coordenação Geral, e tornou-se o Instituto de Pesquisa Econômico-Social Aplicada (sob a sigla Ipea). Ainda durante o governo militar, passou a se chamar Instituto de Planejamento Econômico e Social, mantendo a sigla. A ênfase nas atividades de planejamento fez com que o instituto fosse ligado à pasta ministerial com tal função durante boa parte de sua história. Em 1990, durante o governo Collor, um decreto institui sua nomenclatura atual, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, e o Ipea brevemente respondeu à Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda – quando o titular, Antônio Kandir, também ocupou o cargo de presidente da fundação. Apenas no segundo mandato do governo Lula, quando a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) – originada no governo Collor em substituição ao Serviço Nacional de Informações (SNI) – foi reformulada e passou a ser Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR), o Ipea saiu do planejamento e passou a ser entidade vinculada à mesma, mantendo os objetivos de subsidiar a formulação de políticas públicas e programas de desenvolvimento do país. Atualmente, sete macro diretorias compõem o Ipea, entre elas a Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc). Até março de 2010, e pelo menos desde 1990, elas eram cinco, contando com a Diretoria de Estudos Sociais. De acordo com Ricardo Paes de Barros, atualmente subsecretário de Ações Estratégicas da SAE, a estabilização da moeda propiciada pelo Plano Real fez com que a preocupação com a inflação desse lugar a outras, revigorando o interesse do governo pelos estudos da área social do instituto. Isto teria se dado a partir do mandato de Fernando Henrique Cardoso. “A partir daí, comecei a conversar com Raul Jungmann sobre reforma agrária e a trabalhar no assunto, um tema que nunca tinha pesquisado antes. E mais: Vilmar [Faria] coloca José Márcio Camargo e eu para conversar com o presidente Fernando Henrique, para discutir o que fazer com a desigualdade” (Barros, 2005:145), conta o economista em entrevista do livro Ipea 40 anos: uma trajetória voltada para o desenvolvimento, realizado pelo CPDOC. A importância do Ipea e de sua área social continua no governo Lula, como fica evidente na fala de Anna Maria Peliano no volume comemorativo da instituição. Na época em que concedeu a entrevista às pesquisadoras do CPDOC organizadoras do tomo, a socióloga era diretora de Estudos Sociais. 36

No governo Lula, a área social do Ipea está participando ativamente nos debates sobre formulação e acompanhamento de políticas, especialmente aquelas de caráter intersetorial. Recentemente, fomos convocados pela Casa Civil para coordenar a elaboração do Relatório das Metas do Milênio, que abrangeu as áreas de saúde, educação, meio ambiente, pobreza, pactos internacionais. (Peliano, 2005:123-124)

A indicação e nomeação de Marcelo Neri, portanto, parece ser coerente com o contexto em que os problemas macroeconômicos, controlados e em muitos casos revertidos – como o da hiperinflação – dão lugar a novas prioridades na agenda governamental. O que não impede, também, que descobertas acadêmicas que porventura revelem resultados positivos de uma administração sejam instrumentalizadas por ela, ou que seja interessante para este mesmo governo contar com a participação de quadros técnicos que não estejam necessariamente alinhados de forma partidária, mas em termos destas prioridades. Toda essa dinâmica, é claro, está sujeita a controvérsias e a diversas interpretações. Quando tomou posse no Ipea, Marcelo Neri disse, em entrevista ao jornal O Globo. “(...) me incomoda ouvir ‘ele está ganhando um prêmio porque elogiou o governo’. Fui o único a mostrar que a pobreza aumentou no primeiro ano do governo Lula” (Neri, 2012)”7. Assim, o economista tentava afastar as suspeitas de algum tipo de favorecimento ou partidarismo, demonstrando a isenção de sua produção científica na FGV. Questionado sobre como seria comandar o Ipea – uma fundação vinculada à presidência da República e onde já havia trabalhado – Neri respondeu:

Traz uma sensação boa. É uma virada de 360 graus. Nunca pensei. Não que nunca tivesse pensado em trabalhar no Executivo, mas tinha uma certa resistência. Em 2001, fui procurado por todos os candidatos à presidência para fazer planos de governo. O único que não me convidou foi o Lula. Sempre me mantive à margem disso. Agora, quando surgiu a possibilidade, pensei: se eu não for agora, não serei mais nada nessa área. O Ipea pode

7 Disponível em http://oglobo.globo.com/economia/o-ipea-pode-contribuir-mais-tenho-como-desafio- unir-instituicao-5918800. Acesso em 7 de janeiro de 2015.

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contribuir mais. Pode aumentar sua importância. Tenho como desafio unir a instituição. (idem)

A fala de Neri novamente revela uma vontade de esclarecer que não havia nenhum tipo de favorecimento ao PT em seus estudos, e que apesar de não ter sido uma possibilidade vislumbrada antes, ir para o governo era uma oportunidade. E desta vez, a importância dos estudos sobre a nova classe média na indicação foi clara. “Classe média é uma agenda importante para SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos). Moreira Franco (o ministro responsável pela secretaria) se preocupa bastante com o papel dessa nova classe média” (ibidem). Portanto, o trabalho realizado no CPS sobre a nova classe média teria continuidade durante sua gestão no Ipea, espécie de “casa” do pesquisador, segundo suas próprias palavras na entrevista. Mesmo lembrando o que teria suscitado sua saída do Ipea em dezembro de 1999, Marcelo Neri minimiza o fato, ressaltando a importância da experiência anterior na instituição. “Senti-me um pouco restrito em minha liberdade, e surgiu a oportunidade na FGV. Sou filho da PUC, mas nascido e criado na tradição do Ipea” (Neri, 2012).

1.4. Os estudos sobre a nova classe média no âmbito governamental

A preocupação do então ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Moreira Franco, com a questão da classe média brasileira demonstrava que esta era uma agenda importante para a Presidência da República. Aproximadamente um mês após a posse de Marcelo Neri na presidência do instituto, a SAE lançou a plataforma Vozes da Classe Média, que tinha como objetivo

(...) identificar, por meio de pesquisas, quais as especificidades da nova classe média brasileira, inclusive questões relativas ao seu comportamento, mecanismos que levaram à ascensão dessa população a esse estrato e o que ela necessita para continuar no processo de elevação à classe alta, com o intuito de formulação de novas políticas públicas.8

8 Disponível em http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=15558. Acesso em 7 de janeiro de 2015. 38

O trecho faz parte de matéria institucional no site do Ipea – que é citado como um dos participantes do projeto junto ao IBGE, Banco Central, à Confederação Nacional da Indústria (CNI) e ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). De acordo com a notícia, tais instituições e o programa da ONU forneceriam dados para a pesquisa, que seria realizada com 10 mil pessoas. No entanto, o que é possível encontrar online é a publicação Cartilha Vozes da Classe Média – que conta com praticamente as mesmas parcerias e está hospedada no domínio da SAE. A menção ao Ipea, no entanto, não encontra-se na página dedicada aos créditos da publicação, na qual também são encontradas a Caixa Econômica Federal e o Instituto Data Popular. 9 Ao menos tratando-se dos estudos sobre a classe média (ou nova classe média, diferença que será explicada mais adiante) é difícil separar o Ipea da SAE, por conta do vínculo da instituição à Secretaria e à sua agenda. Muitas vezes as pesquisas promovidas pela SAE são divulgadas no site do instituto, mas sem menção a ele no material divulgado. A presente dissertação irá considerar, em termos de análise, as pesquisas institucionais sobre a nova classe média brasileira como produções da SAE/Ipea, mesmo que tal vínculo não esteja explícito nos materiais institucionais consultados. Vale salientar, também, que o trabalho não entrará no mérito desta questão, concentrando-se na mudança de enquadramento midiático com relação à nova classe média no período em que Marcelo Neri era o economista-chefe do CPS, na FGV, e a partir do momento em que ele assumiu a presidência do Ipea – incluindo, a posteriori, o período em que interinamente foi ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos. As definições sobre o estrato que ascendeu à nova classe média encontradas na Cartilha Vozes da Classe Média são anteriores à gestão de Marcelo Neri, o que significa dizer que não foram propostas por ele. Grosso modo, o panorama relacionado à nova classe média que o documento considera não é tão diferente do proposto pelo economista quando ainda estava na FGV. A cartilha, publicada em setembro de 2012, cita que 35 milhões de pessoas teriam entrado na classe média em dez anos, passando de 38% da população, em 2002, para 53%, em 2012, somando mais de 100 milhões de brasileiros (2012:7). No mesmo ano, Neri afirmara que, de 2003 a 2011, cerca de 39,6 milhões de pessoas ascenderam à nova classe média, e que

9 Disponível em http://www.sae.gov.br/site/wp-content/uploads/Cartilha-Vozes-Classe-Media.pdf. Acesso em 7 de janeiro de 2015. 39 elas comporiam 55,05% da população brasileira. Apesar da diferença de recorte temporal e de 4,6 milhões de pessoas em termos absolutos para mais na classificação do CPS de nova classe média (que equivalem à diferença de 2,05 pontos percentuais), a metodologia utilizada pela cartilha não desconsidera a magnitude do fenômeno. Contudo, é a nota de rodapé relacionada ao trecho que evidencia a distinção fundamental entre os dois métodos, ao menos para olhos leigos, no quesito renda. “Segundo uma comissão instituída pela SAE10 para encontrar uma definição prática e conceitualmente sólida para classe média, pertencem a esse grupo todas as pessoas que vivem em famílias com renda per capita entre R$ 291 e R$ 1019 (em reais de abril de 2012)” (idem, 2012:6). A classificação proposta por Marcelo Neri, em contrapartida, considera a renda domiciliar de todas as fontes, e na época correspondia à faixa de R$ 1.200 a R$ 5.174. A cartilha não especifica se considera classes econômicas e sociais, e não toma por base os estudos realizados por Marcelo Neri na FGV – o que pode ser deduzido pelo fato de que eles não são citados, ao contrário de outros, como o livro A classe média brasileira: ambições, valores e projetos de sociedade, de Amaury de Souza e Bolívar Lamounier (ibidem, 2012:10). A publicação que dá continuidade à cartilha é considerada a segunda edição dos Cadernos Vozes da Classe Média e apresenta o projeto Vozes da Classe Média, de acordo com notícia institucional divulgada no site da SAE.11 As diferenças mais evidentes com relação ao primeiro volume da série dizem respeito à forma de apresentação: se antes deveria ser uma plataforma, agora é considerada projeto; os volumes, ao invés de cartilhas, passam a ser cadernos; o layout também foi substancialmente modificado, porém os motivos para as descontinuidades não são apresentados. A temática e as parcerias institucionais, no entanto, permanecem as mesmas. Os créditos da publicação são os mesmos da anterior (com a exceção de uma redatora, antes ausente), o que não permite apontar nenhuma mudança de caráter decisório drástica que viesse a influir nos rumos de uma edição a outra. Um indício

10 A Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) instituiu em setembro de 2011 um grupo de trabalho para atuar no “desenvolvimento de uma definição prática e conceitualmente sólida, capaz de orientar as políticas públicas na esfera federal e contribuir para o desenho e a implementação de programas e ações focadas na consolidação e sustentabilidade da nova classe média brasileira”. O grupo de trabalho era composto por uma comissão de avaliação e uma comissão técnica, e atuou até abril de 2012. O relatório da Comissão para Definição da Classe Média no Brasil está disponível em http://www.sae.gov.br/site/wp-content/uploads/Relat%C3%B3rio-Defini%C3%A7%C3%A3o-da- Classe-M%C3%A9dia-no-Brasil1.pdf. Acesso em 12 de janeiro de 2015. 11 Disponível em http://www.sae.gov.br/site/?p=14148. Acesso em 8 de janeiro de 2015. 40 mais concreto é a data da publicação, novembro de 201212 – terceiro mês da gestão de Marcelo Neri à frente do Ipea – mas apenas isto não é suficiente para nenhum tipo de afirmação ou conclusão. O texto da edição parte das conclusões da cartilha, mas já começa com uma pequena revisão: entre o lançamento de uma e da outra, o IBGE divulgou a Pnad 2011. O ajuste das projeções para o ano de 2012 tendo como base a Pnad de 2011, não a de 2009, acarretou em um redimensionamento da proporção da classe média população brasileira de 53% para 52% (2012:8). Mais adiante, é possível encontrar o que pode ser encarado como um anúncio de mudança ou transição: os resultados apresentados na Cartilha Vozes da Classe Média, embora válidos, poderiam vir a sofrer mais revisões. É o que mostra o trecho a seguir, que comenta os limites de renda per capita de R$291 e R$1.019 dentro da unidade familiar.

Mesmo reconhecendo o valor e a utilidade desses limites para avaliar as transformações históricas pelas quais tem passado a distribuição de renda brasileira, é possível questionar se esses níveis de renda são mesmo adequados. Isso equivale a indagar se o tamanho da classe média brasileira deveria ser esse. (idem:11)

Embora o caderno admita a necessidade de uma modificação, a ênfase está no processo de como se chegaria à dimensão apropriada desta classe média, e não nos resultados – tanto que a segunda edição não propõe uma faixa de renda alternativa, limitando-se a indicar caminhos e a descrever características dessa classe média que permitiriam apontá-los. “O tamanho da classe média não é a única característica merecedora de atenção. É relevante acompanhar o que aconteceu com a participação dessa classe na renda total das famílias, bem como avaliar a taxa de crescimento na renda média do grupo” (ibidem:18). A perspectiva de se considerar a renda domiciliar total é a utilizada por Marcelo Neri no CPS, mas ainda não é suficiente para se estabelecer uma correlação entre a sua gestão enquanto presidente do Ipea e as

12 Também em novembro de 2012, Marcelo Neri lança, pela Editora FGV, o livro Superação da Pobreza e a Nova Classe Média no Campo, realizado em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Instituto Interamericano de Desenvolvimento Agrário. A publicação, portanto, é considerada nesta pesquisa como pertencente ao período em que o economista estava à frente do CPS. 41 modificações conceituais sobre a classe média na série realizada pela SAE, que novamente não citara Neri, nem o instituto. A terceira edição do projeto vem com mudanças evidentes: publicado em 23 de abril de 2013, ela chama-se Caderno Vozes da Nova Classe Média (grifo meu). Um mês antes, em 22 de março de 2013, Marcelo Neri assumiu de forma interina como ministro da SAE, após a ida de Moreira Franco para a Secretaria da Aviação Civil (SAC) e nomeação da presidente Dilma. Ele passou, então, a acumular os cargos de presidente do Ipea e ministro-interino da pasta, além de assumir interinamente a secretaria-executiva do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) 13. Em trecho do discurso pronunciado na cerimônia de posse na SAE, Neri lembra a trajetória dos estudos sobre a nova classe média desde a FGV, como ela se estabeleceu no debate público ao longo do tempo, e destaca a importância da mesma na agenda do governo Dilma.

Se, como diz a presidenta, o fim da miséria é apenas o começo, falta chegar ao presente: a nova classe média, fenômeno que tenho estudado há alguns anos desde a Fundação Getulio Vargas. Tenho muito orgulho dos números de 40 milhões muitas vezes citados terem se originado nos nossos computadores. É uma realidade debatida e já reconhecida por muitos como um enigma a ser decifrado com urgência, porque requer abordagens específicas nos campos econômico, político e social. (Neri, 2013)14

O volume, noticiado nos sites do Ipea15 e da SAE16, possui marcas que podem ser mais claramente atribuídas ao trabalho do economista, ou que de fato são creditadas a ele. O layout é o mesmo da segunda edição e o título inclui o nova antes

13 Marcelo Neri foi nomeado pelo presidente Lula conselheiro do CDES em agosto de 2009, onde permaneceu até 2012. Neste tempo, Neri também fez parte do Comitê Gestor do Conselho, eleito pelos demais conselheiros.O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) foi criado em maio de 2003 como uma instância de assessoramento à Presidência da República. Durante o período em que fez parte do CDES, Neri era economista-chefe do CPS/FGV. 14 Disponível em http://cps.fgv.br/nomeacao_sae. Acesso em 9 de janeiro de 2015. 15 Disponível em http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=17824. Acesso em 9 de janeiro de 2015. 16 Disponível em http://www.sae.gov.br/site/?p=16059. Acesso em 9 de janeiro de 2015.

42 do classe média, desta vez trazendo um ensaio da autoria de Marcelo Neri sobre prosperidade, equidade e oportunidade empresarial. Um dos textos que introduzem a publicação é assinado por ele, e a temática de empreendedorismo e classe média trata da importância dos pequenos novos negócios na sustentabilidade do padrão recém- alcançado (um dos aspectos que definem a especificidade da nova classe média, de acordo com Neri) e seus impactos para o país como um todo. Continuando a discussão sobre a faixa em que se insere a classe média, a edição estabelece uma renda monetária familiar total utilizando a POF que vai de R$1.300 a R$3.700 e que seria equivalente a de R$291 e R$1.019 por mês segundo a Pnad (2013a:23), mantendo esta última. Os valores para a renda familiar total estão abaixo dos estabelecidos na época da FGV, e mesmo os da Pnad foram alvo de crítica, como demonstra matéria da revista Exame do dia 29 de abril de 2013:

Depois de receber críticas por contabilizar como sendo da classe média todo brasileiro cuja renda familiar per capita esteja entre R$ 291 e R $1.019, o governo deu hoje uma resposta oficial aos comentários negativos. (...) Em relatório divulgado hoje, a Secretaria de Assuntos Estratégicos, ligada à Presidência da República, afirma que a discussão é complicada porque vem acompanhada de valores, preconceitos e auto percepção.17

Um dos indicativos mais fortes de uma mudança de enfoque da classe média para a nova classe média, contudo, é o número de vezes em que este termo é mencionado comparativamente nas três edições da publicação da SAE: a primeira registra 3 vezes; a segunda, 2 vezes; já a terceira registra 24 menções à nova classe média. Com relação à terceira edição, cabe destacar, ainda, que o termo classe média é muito mais utilizado, sendo encontrado no texto 283 vezes, e o termo Ipea vem 30 vezes (na primeira são 2, na segunda, nenhuma). Por fim, a publicação traz nos créditos o nome de Neri enquanto ministro da Secretaria e poucas modificações na equipe que realizou o estudo, além da colaboração do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE).

17 Disponível em http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/para-governo-rico-no-brasil-se-acha-da- classe-media. Acesso em 10 de janeiro de 2015. 43

A quarta e última edição do Cadernos Vozes da Nova Classe Média mantém a identidade visual da anterior e foi lançada em 5 de agosto de 2013, de acordo com o site do Ipea18. Já o site da SAE noticiou o lançamento no dia 30 de agosto19. Logo nos créditos, o Ipea vem representado de maneira inédita, já que somente nesta publicação é citado no Apoio. O tema é “Classe Média e Emprego Assalariado”, tratando da formalização e estabilidade da nova classe média no mercado de trabalho – abordagem que desdobra os estudos iniciados na FGV sobre a importância do emprego formal na passagem das pessoas para a nova classe média e manutenção no estrato. Além de assinar a apresentação, Marcelo Neri também assina, como ministro interino da SAE e presidente do Ipea, um artigo junto ao diretor de Estudos e Políticas Sociais do instituto, Carlos Henrique Corseuil. A publicação não entra no mérito de discutir a definição das faixas de renda em que a classe média se inseriria e continua com a que estabelece a renda familiar per capita entre R$ 291 e R$1.019 (2013b:13). O termo nova classe média é citado 17 vezes ao longo da publicação e o Ipea é mencionado 10 vezes. A edição traz a colaboração do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Embora a preocupação com a nova classe média norteie as ações da SAE e constitua uma linha específica de ações e programas no site institucional da Secretaria20, apenas os cadernos sobre a (nova) classe média podem ser encontrados mais facilmente online – além do relatório da Comissão para Definição da Classe Média no Brasil, de setembro de 2011 – mesmo que dispersos. Por esta razão, o presente trabalho considera a série um “fio condutor” dos estudos governamentais sobre a nova classe média do momento em que o economista Marcelo Neri assumiu a presidência do Ipea até o período em que foi ministro-interino da SAE. No dia 5 maio de 2014, Neri foi efetivado ministro da SAE, deixando a presidência do Ipea – marco que encerra o escopo temporal desta pesquisa de mestrado. Estabelecer uma trajetória dos estudos sobre a nova classe média relativa ao período em que Marcelo Neri atuou no Ipea (e posteriormente acumulou a função

18 Disponível em http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=19217&catid=4&Ite mid=2. Acesso em 10 de janeiro de 2015. 19 Disponível em http://www.sae.gov.br/site/?p=17901. Acesso em 10 de janeiro de 2015. 20 Disponível em http://www.sae.gov.br/site/?page_id=11517. Acesso em 12 de janeiro de 2015.

44 com a de ministro-interino da SAE) não é o objetivo deste trabalho, mas embasa de forma mais consistente a análise dos enquadramentos da mídia relacionados à temática da nova classe média, desde a FGV ao âmbito do governo.

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2. Fundamentos para uma Análise de Enquadramento Textualmente Orientada 2.1. Algumas noções teóricas de enquadramento da mídia

As notícias da mídia – embora pautadas por critérios clássicos como “objetividade” e “imparcialidade” – constituem uma abordagem acerca de determinado tema. E apesar das diversas rotinas jornalísticas que buscam garanti-los (tais como a “pirâmide invertida”, consultar diversas fontes, checar informações, contextualizar, etc.), as marcas desse “recorte” estão sempre presentes, de formas que podem ser mais ou menos explícitas. Além disso, mais que “recortes da realidade”, as notícias da mídia são tanto interpretações de aspectos da realidade quanto construções discursivas a partir de tais interpretações, fornecendo assim importantes esquemas interpretativos (ou “chaves”) para a produção de sentidos sobre essa mesma realidade pelo público. Essa abordagem noticiosa resulta, portanto, em um ângulo, enfoque ou tratamento. E ainda, utilizando a nomenclatura na qual se baseia esta pesquisa, enquadramento. Um dos pioneiros a aplicar a definição de enquadramento aos eventos sociais de forma geral, o sociólogo Erving Goffman o define em termos da organização da experiência.

Parto do princípio de que as definições de uma situação são construídas de acordo com os princípios de organização que governam eventos – pelo menos os sociais – e nosso envolvimento subjetivo neles; enquadramentos é a palavra que eu uso para designar a tais elementos básicos como eu sou capaz de identificar. Minha frase “análise de enquadramento” é um slogan para designar o exame nesses termos de organização da experiência (Goffman, 1974:10).21

Mesmo focada na organização social da experiência e no envolvimento do indivíduo com relação aos eventos, a definição teórica do autor acerca de frame e framing extrapola a fenomenologia na qual foi gerada, sendo utilizada em escopos mais amplos e aplicada a objetos distintos que possuem como característica comum o

21 I assume that definitions of a situation are built up in accordance with principles of organization which govern events – at least social ones – and our subjective involvement in them; frames is the word I use to refer to such of these basic elements as I am able to identify. My phrase “frame analysis” is a slogan to refer to the examination in these terms of the organization of experience. Tradução livre. 46 fato de serem construções simbólicas, frequentemente discursivas. Por esta razão, a noção de enquadramento tem sido cada vez mais utilizada na análise da mídia e de suas relações com a sociedade, principalmente no campo político – como destaca Mauro Porto em seu artigo Enquadramentos da Mídia e Política:

Nas pesquisas sobre o papel dos meios de comunicação em processos políticos, um enfoque tem atingido níveis importantes de proeminência e popularidade. Este enfoque, cujo desenvolvimento é relativamente recente, tem como base o conceito de “enquadramento” (framing). Apesar do paradigma encontrar-se ainda em estado embrionário, suas aplicações têm dinamizado o campo da comunicação política, oferecendo uma nova perspectiva para entender o papel da mídia (Porto, 2002:1).

Talvez por encontrar-se em “estado embrionário” ou pela diversidade de casos ao quais é aplicado, o conceito de enquadramento não conta com uma teoria única, possuindo inclusive tipificações que variam de autor para autor. Ainda de acordo com Porto, “um dos problemas mais sérios dos estudos de enquadramento é um ‘forte indeterminismo conceitual’: o conceito é utilizado de diversas formas, com sentidos distintos e designando objetos diferentes” (Porto, 2002:14). Reconhecendo a existência desses problemas, a presente pesquisa adota definições de enquadramento relativas às notícias produzidas pela mídia sobretudo no âmbito político, mas sem entrar no mérito de utilizar classificações já existentes. Desta forma, aproveita as contribuições que tais desenvolvimentos teóricos podem fornecer para o trabalho sem correr o risco de comprometer-se com formulações que porventura entrem em conflito, limitem as análises ou até mesmo fujam do objetivo inicial da investigação. Em seu livro The Whole World is Watching: Mass Media and the Making and Unmaking of the New Left, o norte-americano Todd Gitlin analisa como os grandes veículos de comunicação norte-americanos (em especial os televisivos) cobriram o na época recém-surgido movimento estudantil contra a Guerra do Vietnã – o SDS, ou Students for a Democratic Society –, e quais as consequências dos enquadramentos utilizados pela mídia para o próprio movimento, que também teve que aprender os códigos midiáticos para ter visibilidade. 47

Embora utilizando conceitos como “ideologia hegemônica”, de Gramsci, e sua reprodução consciente ou inconsciente pelos veículos e seus profissionais, a principal contribuição de Gitlin utilizada neste trabalho é reconhecer o caráter construído dos relatos jornalísticos, apesar dos paradigmas anteriormente citados (objetividade e imparcialidade), que procuram apagar ou minimizar as marcas desta construção nas notícias produzidas. E, principalmente, como o enquadramento das notícias constrói o real ao invés de “espelhá-lo”, contribuindo inclusive para a formação dos quadros de referência de quem as consome. Sobre a cobertura de um protesto nas ruas de Chicago em agosto de 1968, Gitlin disse:

Seja o que for, simplesmente o jornalismo – em especial a televisão, com toda sua vividez – não estava meramente “segurando o espelho para a realidade”, para usar a metáfora preferida do próprio jornalismo. Ele estava pelo menos em parte compondo a realidade, e a composição estava sendo entronizada em nossas próprias deliberações – e mais, no nosso entendimento sobre o que somos e o para o que viemos (Gitlin, 2003:xiv).22

Mais adiante, ainda questionando a “aura” da representação midiática, o autor recorre a Goffman para continuar a desenvolver a ideia de que os enquadramentos nos discursos noticiosos são tanto uma maneira de os jornalistas apreenderem o evento que eles devem reportar, como uma forma de dispô-lo, além de propiciar a compreensão do mesmo pelo público – que o fará em grande medida levando em consideração o enquadramento utilizado na notícia. “A notícia é uma escolha, uma maneira de enxergar um evento (...)” (Gitlin, 2003:49-51)23. De acordo com ele, também são os próprios enquadramentos que dão a “impressão de realidade” conferida por ela.

O que faz o mundo além da experiência direta parecer natural é o enquadramento da mídia. Certamente não podemos tomar como dado que o mundo descrito é simplesmente o mundo que existe. Muitas coisas existem.

22 Whatever it is, plainly journalism – specially television, with all its vividness – was not merely “holding up a mirror to reality”, to use journalism`s own favorite metaphor. It was at least in part composing reality, and the composition was entering into our own deliberations – and more, our understanding of who we are and what we are about. Tradução livre. 23 “A story is a choice, a way of seeing an event (...).Tradução livre. 48

A cada momento o mundo fervilha de eventos. Mesmo em um evento há uma infinidade de detalhes noticiáveis. Enquadramentos são princípios de seleção, ênfase e apresentação compostos por pequenas teorias tácitas sobre o que existe, o que acontece, e o que importa. Na vida cotidiana, como Erving Goffman demonstrou amplamente, nós enquadramos a realidade a fim de negociá-la, administrá-la, compreendê-la, e escolher repertórios apropriados de cognição e ação. Enquadramentos da mídia, largamente não ditos e não confessados, organizam o mundo tanto para os jornalistas que o reportam, quanto, em grau importante, para nós que contamos com suas reportagens (Gitlin, 2003:7).24

A referência a Goffman, neste caso, é clara não apenas pela menção direta que Gitlin faz, mas principalmente pelo uso do verbo organizar: quando fala dos enquadramentos midiáticos, Gitlin destaca 1) que enquadramentos são princípios de seleção, ênfase e apresentação, ou “o ponto de vista adotado pelo texto noticioso que destaca certos elementos de uma realidade em detrimento de outros” (Porto, 2002:15); 2) que, cotidianamente e de forma geral, utilizamos enquadramentos para nos “apropriarmos” da realidade, tornando-a inteligível 3) os enquadramentos organizam o mundo para os jornalistas, e também em grau considerável, para o público – ou seja, enquadramentos midiáticos são formas importantes de organização da experiência. No livro Making News: A Study in The Construction of Reality, a socióloga Gaye Tuchman também se baseia em grande parte nos desenvolvimentos de Goffman, além de se apoiar fortemente na etnometodologia, para desenvolver sua ideia de notícia como enquadramento (Tuchman, 1978:1)25 e de que as notícias, mais do que serem relatos da realidade, a constituem e constroem – principalmente porque Tuchman leva em consideração as rotinas organizacionais e profissionais jornalísticas. Os trabalhos de Gitlin e Tuchman, neste aspecto, guardam semelhanças,

24 What makes the world beyond direct experience look natural is a media frame. Certainly we cannot take for granted that the world depicted is simply the world that exists. Many things exist. At each moment the world is rife with events. Even within a given event there is an infinity of noticeable details. Frames are principles of selection, emphasis, and presentation composed of little tacit theories about what exists, what happens, and what matters. In everyday life, as Ervin Goffman has amply demonstrated, we frame reality in order to negociate it, manage it, comprehend it, and choose appropriate repertories of cognition and action. Media frames, largely unspoken and unackowledged, organize the world both for journalists who report it and, in some important degree, for us who rely on their reports. Tradução livre. 25 news as a frame. Tradução livre. 49 embora tenham uma diferença de perspectiva que cabe assinalar aqui: Gitlin, ao contrário de Tuchman, não considera que “notícias são uma janela para o mundo” (idem)26, o que creio ser um ponto crítico na obra da socióloga. A utilização da metáfora “janela”, mesmo que seja compreensível na abordagem sobre enquadramento e afim a uma organização da experiência do mundo, traz em si uma concepção muito “naturalizada” da notícia – o que a própria autora desconstrói em seu livro. No entanto, dada a importância dos seus estudos para a sociologia da comunicação, creio ser fundamental destacar de que forma eles contribuem para este trabalho. Tuchman, como Gitlin, afirma que o enquadramento noticioso, através de princípios seletivos, define o que é um fato relevante para ser levado a conhecimento público ao mesmo tempo em que contribui para estabelecer uma ideia geral do que é a relevância. “As notícias não só emprestam às ocorrências sua existência enquanto eventos públicos como conferem singularidade a eles, pois as matérias ajudam a moldar uma definição pública de acontecimentos ao atribuir-lhes seletivamente a detalhes específicos ou "particularidades” (Tuchman, 1978:190).27 Em seguida, Tuchman explica o que podemos entender como uma relação metonímica entre o enquadramento e a realidade que ele organiza e da qual faz parte. “O enquadramento da notícia organiza a realidade diária e o enquadramento da notícia é parte e parcela da realidade diária, pois, como vimos, o caráter público é uma característica essencial da notícia” (Tuchman, 1978:193). 28 Corroborando a perspectiva dos enquadramentos enquanto ferramentas de organização da experiência do mundo sobretudo para o público, Alessandra Aldé comenta no livro A construção da política: democracia, cidadania e meios de comunicação de massa o papel da mídia na construção de “atalhos” interpretativos principalmente no que diz respeito a assuntos e temas complexos, cuja percepção de sua influência no dia-a-dia não é tão óbvia – tal como a política. Desta forma, os enquadramentos midiáticos contribuem para tornar próximos esses mundos distantes,

26 news is a window on the world. Tradução livre. 27 “News stories not only lend occurences their existence as public events, but also impart character to them, for news reports help to shape public definition of happenings by selectively attributing to them specific details or “particulars”. Tradução livre. 28 “The news frame organizes everyday reality and the news frame is part and parcel of everyday reality, for, as we have seen, the public character of news is a essential feature of news.” Tradução livre. 50 ao mesmo tempo em que, dada sua repetição e até mesmo homogeneidade, naturalizam não apenas tais temáticas, como os próprios enquadramentos.

A mídia, evidentemente, ocupa um lugar de destaque no universo de referência de todos os indivíduos, quer pela sua homogeneidade discursiva, tendendo a repetir os principais enquadramentos, quer pela acessibilidade quase universal dos meios de comunicação de massa – um conhecimento é mais acessível quanto mais recente, frequente ou cronicamente disponível. Enquanto cada indivíduo está sujeito a enormes variações no que diz respeito a outros quadros de referência, os meios de comunicação de massa oferecem maciçamente uma diversidade limitada de enquadramentos. (Aldé, 2004:135- 136).

Robert Entman, no texto Framing: Towards Clarification of a Fractured Paradigm, destaca a importância das implicações dos enquadramentos na comunicação política, também mencionando que eles são impressões da luta pelo poder no discurso ao destacar aspectos da realidade em detrimento de outros. “Enquadramento, sob esta luz, desempenha um papel fundamental na extensão do poder político – ele registra a identidade dos atores ou interesses que competem para dominar o texto” (Entman, 1993:55).29 Segundo ele, os enquadramentos – ao salientarem determinadas informações relativas a um item que é o assunto da notícia – contribuem para tornar essas mesmas informações mais noticiáveis, dotadas de sentido e memoráveis para a audiência. E assim como Aldé, Entman lembra a homogeneidade de enquadramentos nos textos noticiosos, ressaltando todavia – em um contexto de análise das matérias de política – que nem sempre isso se verifica justamente pela presença das lutas simbólicas no texto. “Refletindo o jogo de poder e fronteiras do discurso acerca de uma questão, muitos textos de notícias exibem enquadramentos homogêneos em um nível de análise, embora competindo enquadramentos em outro" (Idem).30 Se por vezes os enquadramentos se repetem, sendo essa uma das maneiras de fixarem o sentido da informação destacada – “Enquadramentos são padrões

29 Framing in this light plays a major role in the extension of political power – it registers the identity of actors or interests that competed to dominate the text. Tradução livre. 30 “Reflecting the play of power and boundaries of discourse over an issue, many news texts exhibit homogeneous framing at one level of analysis, yet competing frames at another”. Tradução livre. 51 persistentes de cognição, interpretação, e seleção, ênfase, e exclusão, através dos quais os agenciadores simbólicos rotineiramente organizam o discurso, seja ele verbal ou visual” (Gitlin, 2003:7)31 –, tampouco é porque eles apenas reproduzem padrões encontrados na esfera midiática. É o que explicam Alessandra Aldé e Fernando Lattman-Weltman no artigo O MST na TV: sublimação do político, moralismo e crônica cotidiana do nosso “estado de natureza” – no qual analisam os enquadramentos referentes a eventos que envolveram o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), fazendeiros e governo nos principais telejornais da rede Globo e do SBT, que possuíam em fins da década de 1990 as maiores audiências do país. De acordo com os autores, baseados em Fiske e Kinder, além de Entman, a inserção da mídia em um sistema simbólico mais amplo faz com que os enquadramentos noticiosos se inscrevam em uma estrutura relativamente duradoura, na qual os eventos podem até mudar, mas as formas como são tratados, nem tanto. As narrativas da mídia, por conseguinte, seriam resultado da interação entre a própria mídia, o sistema simbólico, os eventos e seus protagonistas, e ainda expectativas com relação à audiência (Aldé, Lattman-Weltman, 2000:91) – de maneira que o enquadramento seria uma forma discursiva e circunstancial de apropriação de padrões cognitivos pré-existentes. Tais fatores – aliados a rotinas organizacionais e profissionais, e levando em consideração o contexto – podem até limitar uma “autonomia” discursiva, mas não impedem que os veículos exerçam influência na reprodução de tais enquadramentos.

Por outro lado, ao se inserirem na economia política concreta os meios de comunicação de modo algum se limitam a reproduzir os padrões de enquadramento vigentes: como atores interessados eles interferem diretamente nessa reprodução, mesmo que sua própria intervenção seja limitada estruturalmente – tanto cognitiva quanto ideologicamente – por suas condições de produção e pelas variações históricas, sociais e culturais que se impõem sobre as diferentes formas de consumo e recepção dessa mesma produção. (Aldé, Lattman-Weltman, 2000:91)

31 “Media frames are persistent patterns of cognition, interpretation, and selection, emphasis, and exclusion, by which symbol-handlers routinely organize discourse, whether verbal or visual”. Tradução livre. 52

Cabe destacar que o estudo aqui proposto tem como foco os enquadramentos da mídia relativos ao conteúdo das notícias, e não as situações em que eles foram gerados ou os efeitos que os mesmos possam suscitar na recepção, deliberadamente ou não. Segundo Ricardo Fabrino de Souza e Paula Guimarães Simões no artigo Enquadramento: diferentes operacionalizações de um conceito, a análise do conteúdo discursivo seria uma segunda vertente de estudos pautados pela noção de enquadramento, ao lado da análise da situação interativa (que seria a primeira) e da análise de efeito estratégico (a terceira e última). Tal vertente compartilharia dos pressupostos de Goffman, nos quais “enquadramentos são estruturas que orientam a percepção da realidade e a ação dos sujeitos sobre ela” (Mendonça, Simões, 2012:194). Ainda de acordo com os autores, no entanto, não é no contexto pragmático que se buscam os quadros, e sim no conteúdo dos discursos. “É no conteúdo que se busca o quadro, visto como uma espécie de ângulo, que permite compreender uma interpretação proposta em detrimento de outras”. (Idem). Assim, esta pesquisa tem como objetivo realizar uma análise de enquadramento com base em análise de discurso, usando para isso métodos quantitativos e qualitativos com o intuito de mitigar limitações encontradas nesse tipo de enfoque. Tais métodos são, grosso modo, ferramentas que auxiliam na busca por uma resposta à questão “o que está ocorrendo aqui?”: para Goffman, essa resposta constitui um tipo particular de enquadramento, o enquadramento primário (Goffman, 1974:25). E este trabalho – embora não tenha como intenção classificar tipos de enquadramento – pretende responder a essa pergunta ao tentar identificar, através da análise de conteúdo das notícias relativas à nova classe média no jornal O Globo, se o enquadramento sobre a nova classe média mudou, em função de variáveis políticas, com a ida de Marcelo Neri da FGV para o governo. E, em caso positivo, de que maneira isso ocorreu. A parceria com a Escola de Matemática Aplicada nesta pesquisa tem o objetivo de auxiliar na formulação de metodologias mais precisas de análise de enquadramento no nível discursivo, o que para Porto constitui uma das deficiências comumente encontradas nesse tipo de análise.

53

(...) outra debilidade dos estudos de enquadramento é a frequente ausência de métodos sistemáticos para a análise de conteúdo da mídia. Sem este tipo de método, pesquisadores tendem a encontrar os enquadramentos que procuram ou que comprovam suas hipóteses, ignorando evidências contrárias importantes (...). É preciso, portanto, desenvolver métodos de análise mais sistemáticos e menos subjetivos. (Porto, 2002:18)

Em seu texto, Porto ainda destaca que mais importante do que a metodologia adotada é a inclusão, na análise, de classificações sistemáticas e protocolos (idem), bem como medidas quantitativas como tempo e espaço dedicados aos temas. A análise proposta nesta dissertação aprofunda este aspecto, extrapolando a quantificação para alcançar um segundo nível de análise – que evidencie, através das ferramentas formuladas pela EMAp – relações ocultas no texto, porém significativas para a identificação e descrição dos enquadramentos presentes em uma mostra com vários textos noticiosos. “A principal tarefa de se determinar o sentido de um texto deveria ser identificar e descrever enquadramentos” (Entman, 1993:57).32 Vale lembrar, também, que a metodologia desenvolvida em parceria com a Escola permite analisar grandes quantidades de texto, o que amplia as possibilidades de análise de enquadramento sobretudo no que diz respeito ao reconhecimento de padrões e desvios dos mesmos. Tendo por base as teorias de enquadramento aqui elencadas, e realizando uma apropriação da conceituação de Goffman, proponho para este trabalho uma análise de enquadramento enquanto organização do discurso, ou seja: no caso das notícias da mídia, determinada construção verbal ou não-verbal (ainda que o foco aqui seja o discurso verbal e escrito) acerca de um recorte da realidade. Em caráter complementar, acrescento a esta delimitação do conceito o fato desta construção ser influenciada por aspectos tangíveis e intangíveis desta mesma realidade, ao mesmo tempo em que não apenas exerce diversos níveis de influência sobre eles, como os constitui.

2.2. Enquadramentos da mídia e discurso

32 The major task of determining textual meaning should be to identify and describe frames. Tradução livre. 54

A complexidade do fenômeno midiático faz com que, cada vez mais, ele seja abordado com apoio de diversos campos do saber, na tentativa de compreendê-lo em sua multiplicidade de perspectivas e variáveis. Neste trabalho, a cobertura da mídia será tratada enquanto atividade essencialmente discursiva, que contribui para a atribuição, consolidação, organização e compartilhamento de sentidos dentro de uma sociedade através dos seus enquadramentos. Por ser um produto discursivo, o estudo da cobertura midiática também pode ser beneficiado pelo o que os cientistas sociais chamam “conversão linguística”. Alessandra Aldé explica, em seu livro A construção da política: democracia, cidadania e meios de comunicação de massa:

As ciências sociais viveram, nas últimas três décadas, um processo de questionamento e auto-reflexão evidente na filosofia da ciência produzida por diversas áreas, e que recebeu o nome geral de guinada narrativa ou “conversão linguística”. Seja na filosofia da história, na história das ciências, na sociologia da vida cotidiana ou na leitura mais recente da experiência etnográfica, esta abordagem aponta para o caráter discursivo, e portanto, construído, de qualquer relato. (Aldé, 2004:42)

Norman Fairclough também cita este novo paradigma na obra Discurso e mudança social, ao falar sobre como a análise linguística ganha importância enquanto método para se estudar as mudanças sociais, ao mesmo tempo em que diversas áreas de estudo se mobilizam de forma colaborativa para tentar elucidar tais mudanças.

Hoje, os indivíduos que trabalham em uma variedade de disciplinas começam a reconhecer os modos como as mudanças no uso linguístico estão ligadas a processos sociais e culturais mais amplos e, consequemente, a considerar a importância do uso da análise linguística como um método para estudar a mudança social. (...) Os limites entre as ciências sociais estão enfraquecendo, e uma maior diversidade de teoria e prática vem se desenvolvendo nas disciplinas. Tais mudanças têm-se feito acompanhar por uma “virada linguística” na teoria social, cujo resultado é um papel mais central conferido à linguagem nos fenômenos sociais. (Fairclough, 2001:19- 20) 55

Esta virada linguística nas Ciências Sociais beneficia-se em grande medida da Teoria dos Atos de Fala, de J. L. Austin, inscrita na tradição analítica da filosofia inglesa. Em linhas gerais, a principal contribuição de Austin para a Teoria da Linguagem é a superação da ideia de que há uma dissociação entre uma realidade externa e o sistema de signos que a representaria ou espelharia – a linguagem. Assim, a linguagem passa a ser concebida como uma prática social concreta, uma forma de ação, e não representação da realidade. “Não há mais uma separação entre ‘linguagem’ e ‘mundo’, porque o que consideramos a ‘realidade’ é constituído exatamente pela linguagem que adquirimos e empregamos”. (Marcondes, 1990:10). A análise da linguagem, portanto, deveria extrapolar seu estudo em si, abarcando o contexto social e cultural em que é usada, valores, paradigmas e a racionalidade da comunidade que a utiliza, além de outros elementos a ela relacionados. No livro Quando dizer é fazer: Palavras e Ação – consolidado a partir de uma série de conferências realizadas por Austin na Universidade de Harvard em 1955 – é possível identificar uma das principais razões da Teoria dos Atos de Fala ter sido apropriada pelas Ciências Sociais. Ao falar sobre proferimentos, em que dizer é de fato fazer algo, Austin explica:

Que nome daríamos a uma sentença ou a um proferimento deste tipo? Proponho denominá-la sentença performativa ou proferimento performativo, ou, de forma abreviada, “um performativo”. O termo “performativo” será usado em uma variedade de formas e construções cognatas, assim como se dá com o termo “imperativo”. Evidentemente que este nome é derivado do verbo inglês to perform, verbo correlato do substantivo “ação”, e indica que ao se emitir o proferimento está-se realizando uma ação, não sendo, consequentemente, considerado um mero equivalente a dizer algo. (Austin, 1990 [1955]:25)

Um dos aspectos determinantes de uma sentença performativa é a circunstância em que ela foi proferida, e por quem o foi – o que faz com que seja a realização de uma ação, no todo ou em parte, e não apenas dizer algo. A isso, Austin contrapôs uma longa tradição filosófica de sempre se considerar sentenças (unidade 56 linguística com estrutura gramatical dotada de sentido) como declarações, cujo papel seria o de descrever, ou relatar um fato, de forma verdadeira ou falsa. É claro que no caso específico da Teoria dos Atos de Fala, proferimento performativo é uma classificação linguística; no entanto, quando aplicada às Ciências Sociais, a dimensão performativa da linguagem torna-se útil e esclarecedora justamente por reconhecer que os discursos são produtos das suas condições de enunciação, trazendo as marcas de quem o produziu e/ou o pronunciou, do contexto, além de agirem sobre a realidade, a construindo. Michel Foucault, em A Arqueologia do Saber, descreve as formações discursivas que se constituíram em domínios como a medicina, a economia política ou a biologia, procurando entender suas condições de aparecimento, regras de transformação, descontinuidades, etc. Além disso, propõe maneiras de se analisar tais formações enquanto “práticas que formam sistematicamente os objetos de que falam”. (Foucault, 2014 [1969]:60), ao invés de serem simplesmente conjuntos de signos que designam seus objetos. Assim, no capítulo em que se dedica à análise da formação das estratégias dos discursos (determinadas organizações de conceitos, tipos de enunciação que formam teorias ou temas), ele indica como uma das três direções de pesquisa o seguinte:

A determinação das escolhas teóricas realmente efetuadas depende também de uma outra instância. Essa instância se caracteriza, de início, pela função que deve exercer o discurso estudado em um campo de práticas não discursivas. Assim, a gramática geral desempenhou um papel na prática pedagógica; de um modo muito mais manifesto e muito mais importante, a análise das riquezas desempenhou um papel não só nas decisões políticas e econômicas dos governos, mas nas práticas cotidianas, pouco conceitualizadas e pouco teorizadas, do capitalismo nascente e nas lutas sociais e políticas que caracterizaram a época clássica. (Foucault, 2014 [1969]:60)

Embora o presente estudo não se dedique a analisar discursos constituídos enquanto campos de saber, o trecho revela – guardadas as diferenças entre as abordagens teóricas de Foucault e Austin – uma preocupação semelhante do filósofo francês com a relação ativa entre as práticas discursivas (linguageiras) e o que ele 57 chama de práticas não discursivas, que podemos entender como a realidade em seu sentido prático (o da experiência sobretudo no meio social) e histórico. Neste contexto, Fairclough sugere uma “teoria social da linguagem”, que reúne “métodos para analisar a linguagem desenvolvidos na linguística e nos estudos da linguagem com o pensamento social e político relevante”. (Fairclough, 2001:19). Tal teoria seria composta em grande parte pelo que chamamos análise do discurso – que será usada na presente pesquisa como método crítico, cujo objetivo neste caso específico é mostrar conexões e causas ocultas nos textos produzidos pela mídia, levando em consideração o contexto político ao qual estão ligados. Seguindo esta linha, tais textos da mídia – ou notícias – serão considerados eventos discursivos. No longo trecho a seguir, Fairclough comenta o quão difícil é definir discurso.

Discurso é um conceito difícil, principalmente porque há tantas definições conflitantes e sobrepostas, formuladas de várias perspectivas teóricas e disciplinares. (…) Na linguística, “discurso” é usado algumas vezes com referência a amostras ampliadas de diálogo falado, em contraste com “textos” escritos. Nesse sentido, “análise textual” e “análise de discurso” (...) focalizam as propriedades organizacionais de nível superior de diálogo (por exemplo, tomada de turno, ou a estrutura de abertura e fechamentos conversacionais) ou de textos escritos (por exemplo, a estrutura de uma reportagem de crime em um jornal). Mais comumente, entretanto, “discurso” é usado na linguística com referência a amostras ampliadas de linguagem falada ou escrita. (...) “Texto” é considerado aqui como uma dimensão do discurso: o produto escrito ou falado do processo de produção textual. Finalmente, “discurso” é também usado em relação a diferentes tipos de linguagem usada em diferentes tipos de situação social (por exemplo, “discurso de jornal”, “discurso publicitário”, “discurso de sala de aula”, “discurso de consultas médicas”). Por outro lado, “discurso” é amplamente usado na teoria e na análise social como, por exemplo, no trabalho de Michel Foucault, com referência aos diferentes modos da estruturação das áreas de conhecimento e prática social. (Fairclough, 2001:21-22)

58

De todas essas abordagens, este estudo vai considerar discurso tanto a linguagem usada nos textos jornalísticos, de forma mais geral, quanto o produto jornalístico (e escrito) em sua menor unidade formal, a notícia. O que não significa, de modo algum, que as teorias formuladas sobre o discurso em outras acepções não encontrem aqui uma aplicabilidade. Pelo contrário: elas são utilizadas para embasar uma análise de discurso como método auxiliar para a análise de enquadramento da mídia. E uma definição foucaultiana é especialmente cara para esta investigação, já que um dos seus objetivos é analisar os discursos da mídia de forma crítica, inspirada na “teoria social da linguagem” de Fairclough. “(...) o discurso não é simplesmente o que traduz as lutas ou sistemas de dominação, mas pelo que, para o que se luta, o poder que se procura tomar” (Foucault, 1971:12). 33 Este trecho, encontrado na obra L`ordre du discours, pode ser aplicado à análise discursiva dos enquadramentos da mídia por duas razões fundamentais e abrangentes: 1) por trazer em seu bojo a ideia de que os discursos não são meras representações ou reflexos da realidade 2) por afirmar que nos, e pelos discursos, se travam disputas simbólicas. Os dois aspectos são quase uma síntese das teorias mobilizadas para apoiar esta pesquisa, já que, quando desenvolvidos 1`) permitem questionar a concepção de que os textos da mídia se limitam a “espelhar”, descrever ou a designar a realidade – o que implica em reconhecer o caráter performativo e construído das notícias; 2`) indicam, também, que os textos produzidos pela mídia são lugares e objetos de disputa do e pelo poder simbólico – o que pode ser associado à perspectiva de Entman ao afirmar que os enquadramentos têm função importante na extensão do poder político, registrando quem são os atores e interesses que competem para dominar o texto. Vale destacar, inclusive, que é possível fazer uma apropriação de Foucault na análise de enquadramentos midiáticos levando o próprio princípio de “ordem do discurso” em consideração e, claro, traçando paralelismos – pois os discursos noticiosos não eram o objeto sobre o qual se debruçava. No entanto, por se tratarem de práticas discursivas, as notícias e sua produção guardam similitudes com as demais práticas por ele analisadas.

33 “(...) le discours n`est pas simplement ce que traduit les luttes ou les systèmes de domination, mais ce pour quoi, ce par quoi on lutte, le pouvoir dont on cherche à s`emparer”. Tradução livre. 59

Suponho que em todas as sociedades a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída por um certo número de procedimentos que têm por papel exorcizar os poderes e perigos, controlar o evento aleatório, evitar a pesada, temível materialidade (Foucault, 1971:10-11).34

Aqui, o que chama atenção é como o que Foucault chama procedimentos – que podemos associar às rotinas jornalísticas, por exemplo – organizam a produção dos discursos, o próprio discurso e sua disseminação no meio social. E como, também, esses procedimentos, ao organizarem o discurso, organizam a experiência, a produção de sentido. E não seria isso o enquadramento nas notícias? Não é o enquadramento, inclusive, que torna inteligível a realidade, apreensível a ponto de parecer que ele é, de fato, a própria realidade espelhada ou descrita, e não uma construção?

2.3. Análise de enquadramento como método crítico de estudo da mídia

Eis, então, o que podemos afirmar ser um dos grandes méritos da análise de enquadramentos da mídia baseada na análise de discurso enquanto método crítico: mais que do que servir para testar hipóteses ou ajudar a desvelar certo aspecto da realidade em sua relação com os demais que a compõem (tal qual o caso da provável influência de variáveis políticas nos enquadramentos), este tipo de análise serve para desnaturalizar um discurso que muitas vezes é dado como “natural”, “imparcial”, ou a maneira mais “fiel”, legítima e credível de se relatar a realidade, espécie de testemunho – estratégia que muitas vezes os veículos jornalísticos usam para tentar se diferenciar da concorrência, como lembra Gitlin ao falar sobre o slogan da CBS News em 1965, “the way it is” (Gitlin, 2003:xv). Gaye Tuchman – ancorada na fenomenologia de Schutz e de teóricos nele apoiados (entre eles Harold Garfinkel e Thomas Luckmann) – utiliza o conceito de atitude natural, que Schutz retoma a partir de Husserl, para desenvolver a ideia de que notícias são apresentadas aos indivíduos como fenômenos objetivos tidos como

34 Je suppose que dans toute société la production du discours est à la fois contrôleé, sélectionnée, organisée et redistribuée par un certain nombre de procédures qui ont pour rôle d`en conjurer les pouvoirs et les dangers, d`en maîtriser l`événement aléatoire, d`en esquiver la lourde, la redoutable matérialité. Tradução livre. 60 dados, inscritos socialmente e com continuidade histórica. Assim, essa atitude natural em relação às notícias não apenas contribuiria para a constituição do mundo enquanto campo de ação, quanto para a reprodução de estruturas sociais. “Por exemplo, aceitar que a notícia é um relato verídico dos interessantes e importantes eventos de todos os dias reafirma e reproduz o papel das notícias enquanto instituição social que dissemina relatos verídicos” (Tuchman, 1978:207)35. Os veículos nacionais até hoje não se distanciam muito disso, como podemos notar em “Jornal O Globo, a fonte de informação mais completa do Brasil”, “Quer saber? Estadão” e “Folha de S. Paulo, um jornal a serviço do Brasil”.

2.4. A Análise de Enquadramento Textualmente Orientada

Por compartilharem características comuns, a análise de enquadramento e a análise de discurso também possuem limitações semelhantes. Um deles, e que este trabalho tem o objetivo de tentar mitigar, é o de uma formalização incipiente. Ou, como sublinhou Porto no caso específico das análises de enquadramento da mídia, uma falta de métodos mais sistemáticos e menos subjetivos de análise. Norman Fairclough chama atenção para isso ao falar sobre o método de análise que propõe, a Análise de Discurso Textualmente Orientada (ADTO). Basicamente, o que Fairclough sugere é uma análise de discurso que reúna a análise linguística e a teoria social, combinando um sentido mais socioteórico de discurso com o de texto e interação na análise de discurso orientada linguisticamente. (Fairclough, 2001:22). Ainda acordo com ele, o conceito de discurso e análise de discurso é tridimensional, já que o que ele chama evento discursivo (qualquer exemplo de discurso, ou mostra) é considerado um texto, um exemplo de prática discursiva e um exemplo de prática social, simultaneamente. E cada uma dessas dimensões, portanto, devem ser tratadas com os referenciais teóricos mais apropriados a elas, mas de forma holística. Ainda segundo o autor, o trabalho de Foucault oferece importantes contribuições para a ADTO (tanto na sua fase arqueológica, citada neste trabalho, quanto na genealógica), mas sua abstração dificulta que ele seja aplicado à mesma.

35 “For example, accepting that news is a veridical account of the interesting and important events of everyday reafirms and reproduces the role of news as social institution disseminating veridical accounts”. Tradução livre. 61

Faz-se necessário, então, “operacionalizar sua percepção em métodos reais de análise” (Fairclough, 2001:62), já que Fairclough considera que os estudos foucaultianos negligenciariam a análise textual.

(...) um contraste essencial entre Foucault e a ADTO é que a análise de discurso de Foucault não inclui a análise discursiva e linguística dos textos reais. Porém, a inclusão de tal análise pode ser um meio de superação de certas fraquezas que os comentadores têm encontrado nos trabalhos de Foucault. Eu não estou sugerindo uma redução da análise de discurso à análise textual ou linguística. A questão é antes se a análise incluiria instâncias concretas de discurso. (Fairclough, 2001:82)

A análise de enquadramento realizada através da análise de corpus de textos da mídia pretende justamente superar essas limitações, ao propor a análise linguística de instâncias concretas de discurso como uma das camadas que possibilitam uma compreensão mais global do fenômeno midiático em sua inter-relação com os demais aspectos da realidade. Além disso, cabe destacar que a análise proposta neste trabalho, por ser centrada no conteúdo das notícias, encontra nas metodologias computacionais de Linguística de Corpus e Processamento de Linguagem Natural apoio fundamental, já que elas permitem a geração de dados estatísticos lexicais e semânticos que embasam, de forma mais precisa, análises posteriores. Assim, fazendo uma apropriação da nomenclatura do método de análise de discurso de Norman Fairclough – e também uma adaptação dos seus fundamentos e objetivos – proponho uma Análise de Enquadramento Textualmente Orientada, como método crítico de análise de enquadramento das notícias da mídia, apoiado em análise de discurso.

62

3. Fundamentos metodológicos 3.1. A Linguística Computacional

Conforme explicado anteriormente neste trabalho, a necessidade de se encontrar métodos de análise de discurso (e por consequência, de enquadramento) mais sistematizados, baseados em instâncias textuais concretas, levou à proposição de uma Análise de Enquadramento Textualmente Orientada – método crítico de análise de enquadramento da mídia cujo intuito é fornecer ferramentas para uma compreensão mais ampla das relações entre a mesma e os demais aspectos da realidade através de seu principal produto: a notícia. No caso desta pesquisa, o objetivo é desenvolver métodos que auxiliem na percepção e mensuração do enquadramento da cobertura midiática em função de variáveis políticas, tendo como objeto os enquadramentos relativos à nova classe média no momento em que Marcelo Neri estava na FGV e quando ele passou a desenvolver suas pesquisas sobre o assunto no âmbito do governo (possibilitando inclusive um maior entendimento da influência da mídia sobre as tomadas de decisão governamentais). Segundo Matthes e Kohring, as abordagens metodológicas de análise de conteúdo dos enquadramentos da mídia geralmente se dividem em cinco tipos, não excludentes: hermenêutico, linguístico, holístico-manual, orientado por computador e dedutivo (Matthes, Kohring, 2008:262). Ainda de acordo com os autores, é frequente a perda de padronização e objetividade nas abordagens puramente hermenêuticas, holísticas e dedutivas – limitações que esta pesquisa tenta superar. Para isso, o estudo combina os tratamentos hermenêutico, holístico, linguístico e orientado por computador, apoiando-se fortemente em metodologias computacionais de Linguística de Corpus e Processamento de Linguagem Natural (PLN), já que elas proporcionam a geração de dados estatísticos linguísticos que embasam de maneira mais completa e sistematizada as análises posteriores. Outra grande vantagem do uso de tais ferramentas é o processamento de grandes quantidades de texto e a evidenciação de relações ocultas entre palavras e expressões (consideradas enquanto “termos”) – que podem ser índices significativos de uma abordagem noticiosa predominante em um conjunto de textos, por exemplo. E, para tanto, esta dissertação conta com a parceria da Escola de Matemática Aplicada (FGV/EMAp). 63

O desenvolvimento de novas ferramentas para análise da mídia – que também tornem possível o estabelecimento de uma genealogia das notícias (ou como, quando, porquê e em que contexto elas surgem) – constitui uma das linhas de pesquisa da EMAp, que está produzindo a Media Cloud BR. O projeto é inspirado na plataforma Media Cloud, produzida pelo MIT Center of Civic Media (através do MIT Comparative Media Studies/Writing e do MIT Media Lab) e a Harvard Law School, e que tem como objetivo estudar os ecossistemas e vieses de cobertura da mídia por meio do rastreamento de milhões de matérias.36 A intenção da EMAp é desenvolver um projeto brasileiro em moldes análogos através de uma equipe multidisciplinar, aplicando na análise da mídia online ferramentas semelhantes às cada vez mais utilizadas na mensuração e compreensão de fenômenos comunicacionais na web – principalmente os de grande escala, tais como o uso das redes sociais nos casos de manifestações de massa contra governos, no Brasil e no mundo. Todavia, o uso de tais ferramentas para analisar os conteúdos da mídia (seja de forma acadêmica ou com fins estratégicos) ainda é pouco difundido, e este trabalho pode contribuir para este campo de estudos. O apoio fundamental para a Análise de Enquadramento Textualmente Orientada proposta nesta pesquisa vem das ferramentas da Linguística Computacional através de rotinas desenvolvidas pela EMAp. A Linguística Computacional é a área de conhecimento que explora as relações entre Linguística e Informática, tornando possível a construção de sistemas com capacidade de reconhecer e produzir informação apresentada em linguagem natural. Segundo Gabriel de Ávila Othero,

A Linguística Computacional envolve as diferentes áreas de pesquisa tradicionalmente conhecidas em Lingüística [sic] Teórica e Aplicada, como a Sintaxe, a Semântica, a Fonética e a Fonologia, a Pragmática, a Análise de Discurso, etc. Todo esse conhecimento é utilizado para tentar processar (“leia-se compreender e produzir”) as línguas naturais e dominar o conhecimento lingüístico envolvido no domínio de uma linguagem natural. (Othero, 2006: 342)

36 Disponível em http://civic.mit.edu/media-cloud. Acesso em 16 de novembro de 2013. 64

Ainda de acordo com Othero, a Linguística Computacional pode ser dividida em duas subáreas: a Linguística de Corpus e o Processamento de Linguagem Natural (PLN). A Linguística de Corpus preocupa-se com o trabalho a partir de corpora eletrônicos que contenham amostras de linguagem natural – no caso desta pesquisa, textos digitalizados da mídia. Geralmente voltados para o estudo de fenômenos linguísticos e sua ocorrência em grandes amostras, os trabalhos envolvendo esse tipo de corpora nem sempre têm o objetivo de produzir algum software ou aplicativo. Nestes casos, cabe à área de PLN a construção de programas capazes de interpretar e/ou gerar informações em linguagem natural. “Essa divisão nem sempre é nítida, uma vez que há muitos trabalhos que envolvem as duas áreas” (Othero, 2006:342), alerta o pesquisador em seu artigo. Este, por exemplo, é o caso das ferramentas usadas nesta pesquisa, já que ela exige o uso de programas que processem o corpus textual, ou seja: que compreendam e produzam informações linguísticas a partir de uma coleção de textos.

3.2. Sobre a mineração de texto

Uma das principais técnicas que combinam as ferramentas de PLN e Linguística de Corpus – além de outras advindas da mineração de dados, machine learning, recuperação da informação e organização do conhecimento – para processar um corpus composto por uma grande quantidade de textos é a de text mining, ou mineração de textos, conforme explicam Ronen Feldman e James Sanger.

A mineração de texto podem ser amplamente definida como um processo de conhecimento intensivo em que um usuário interage com uma coleção de documentos ao longo do tempo por meio de um conjunto de ferramentas de análise. De forma análoga à mineração de dados, a mineração de texto procura extrair informação útil a partir de fontes de dados através da identificação e exploração de padrões interessantes. No caso da mineração de texto, no entanto, as fontes de dados são coleções de documentos e padrões interessantes são encontrados não entre os registros do banco de dados 65

formalizados, mas nos dados textuais não estruturados nos documentos dessas coleções. (Feldman, Sanger: 2007, 1)37

De acordo com a pesquisadora Marti Hearst, o principal diferencial possibilitado pelo text mining não é o encontro de padrões, mas a capacidade que o método possui de extrair relações que estão ocultas nos textos – o que justamente o transforma em uma excelente ferramenta para análise de discurso. “Na mineração de texto, o objetivo é encontrar informações até então desconhecidas, algo que ninguém sabe ainda, e que por isso não poderia ter sido escrito” (Hearst, 2003)38. Embora muito focada nos usos do text mining na biomedicina, esta explicação é afinada com os objetivos de Fairclough (e, por conseguinte, à proposta de uma Análise de Enquadramento Textualmente Orientada), já que, segundo ele, a análise de discurso deve ser um método crítico. “Crítico implica mostrar conexões e causas que estão ocultas (…)” (Fairclough, 2011:28).

3.3. Lexicometria, ou estatística linguística

De acordo com Patrick Charaudeau e Dominique Maingueneau, a lexicometria – também chamada estatística linguística, estatística lexical ou quantitativa, estatística textual e até análise dos dados em linguística – é uma metodologia de estudo do discurso que se pretende exaustiva, sistemática e automatizada; e embora o termo que a identifique seja recente, a técnica de se medir (ou contar) as unidades lexicais tem origens bastante antigas. (Charaudeau, Maingueneau, 2012:302). Nos dias de hoje, a lexicometria conta com ferramentas computacionais e alia a Linguística de Corpus à Descoberta de Conhecimento em Textos, “possibilitando análises qualitativas a partir de dados de natureza quantitativa” (Bastos, Bercht,

37 Text mining can be broadly defined as a knowledge-intensive process in which a user interacts with a document collection over time by using a suite of analysis tools. In a manner analogous to data mining, text mining seeks to extract useful information from data sources through the identification and exploration of interesting patterns. In the case of text mining, however, the data sources are document collections, and interesting patterns are found not among formalized database records but in the unstructured textual data in the documents in these collections. Moreover, because of the centrality of natural language text to its mission, text mining also draws on advances made in other computer science disciplines concerned with the handling of natural language. Perhaps most notably, text mining exploits techniques and methodologies from the areas of information retrieval, information extraction, and corpus-based computational linguistics. Tradução livre. 38 In text mining, the goal is to discover heretofore unknown information, something that no one yet knows and so could not have yet written down. Tradução livre. 66

Martins, Wives, 2011:278) em grandes volumes textuais. Ela é, portanto, parte fundamental da mineração de textos – e por conseguinte desta pesquisa, já que se propõe a realizar uma análise textual dos enquadramentos da mídia. Ainda segundo Charaudeau e Maingueneau, há três operações preparatórias que a lexicometria deve efetuar: (1) a escolha, após a divisão da cadeia textual em unidades que podem ser estudadas; (2) a reunião de um corpus fechado de textos, que dividem esse corpus; (3) e a comparação de resultados quantificados, efetuada com base nas unidades apresentadas nesses textos (Charaudeau, Maingueneau, 2012:302). Sobre o corpus, os autores ressaltam que ele deve ser estabilizado (já que suas partes formam as bases da comparação) e que ele “é, de fato, encarregado de responder às questões que o pesquisador formula e que procura esclarecer, senão resolvê-las, por métodos lexicométricos”. (Charaudeau, Maingueneau, 2012:303). Apesar de ser um método sistematizado, a lexicometria – assim como todos os outros métodos de análise computacional, linguísticos ou não – depende da interpretação que o pesquisador faz dos dados e da inserção dos mesmos em uma conjuntura, e é isso que pode revelar, nesta pesquisa, os enquadramentos, os atores e interesses que competem para dominar o(s) texto(s). Este processo, inclusive, é sujeito a idas e vindas, e pode ser composto por várias camadas de análise, que complexificam a interpretação do fenômeno a ser investigado.

A interpretação depende das hipóteses formuladas no início (tema da investigação) e das respostas mais ou menos adequadas fornecidas pelo corpus após o tratamento. Várias experiências podem, e frequentemente devem, ser feitas (...) à procura de explicações que resistam às variações de análise. Partindo-se de constatações quantificadas, pode-se assim salientar as inferências de nível em nível (...). É evidente que, por mais que o pesquisador avance em nível de inferência, mais ele perde essa certeza que ele acreditava ter adquirido ao recorrer à lexicometria. (Charaudeau, Maingueneau, 2012:304)

As análises textuais deste trabalho (tanto as lexicométricas quanto as demais) foram geradas no Ipython – uma interface de desenvolvimento para a linguagem 67

Python que conta com ambientes gráficos e de linha de comando39. A interface de programação Ipython é utilizada pela EMAp e as rotinas utilizadas na presente pesquisa foram desenvolvidas pela própria Escola, utilizando pacotes existentes no ecossistema Python para Processamento de Linguagem Natural (PLN) e também módulos para PLN em Python criados por ela. Tais rotinas utilizam ainda algumas das análises comuns no escopo de PLN, como análises estatísticas linguísticas (frequência de ocorrência, co-ocorrências, etc.), análises morfológicas (part-of-speech tagging, também conhecida POS tagging ou POST), além de Named-Entity Recognition (na sigla em inglês, NER), análise de sentimento, entre outras – que, em conjunto, possibilitam a análise dos enquadramentos da mídia desta dissertação.

3.4. Sobre o corpus da pesquisa

A fim de que os enquadramentos das matérias que citam a nova classe média, ou tratam do assunto, possam ser comparados tendo como base os períodos de tempo em que o economista Marcelo Neri estava na FGV e depois quando foi para o âmbito do governo (assumindo a presidência do Ipea e interinamente a Secretaria de Assuntos Estratégicos, a SAE), o corpus de textos da mídia desta pesquisa foi dividido inicialmente da seguinte forma: dois períodos, tendo como marco central o mês de agosto de 2012 – já que no dia 27 ele foi nomeado presidente do Ipea – e como marco final o mês de maio de 2014, quando ele se tornou ministro-chefe da SAE e teve que deixar o Ipea. Então, para que a primeira divisão do corpus correspondesse ao mesmo período de tempo da segunda (21 meses), fixou-se o início da análise em dezembro de 2010. Assim, temos 21 meses de dezembro de 2010 a agosto de 2012, e 21 meses de setembro de 2012 a maio de 2014. Ao todo, portanto, são 42 meses de análise, divididos em dois grandes ranges de 21 meses. Desta forma, tem-se um corpus homogêneo, que gera um número de textos e de menções suficientemente extenso para serem trabalhados pelas ferramentas acima citadas, sem saturar a pesquisa com dados que não podem ser analisados em tempo hábil. Devido à limitação de tempo característica do mestrado, escolheu-se trabalhar com as matérias online de apenas um jornal, O Globo – o segundo em circulação

39 “Python é uma linguagem de programação open-source, de alto nível, interpretada, orientada a objetos, funcional, de tipagem dinâmica e robusta. Lançada em 1991 por Guido van Rossum, atualmente possui um modelo de desenvolvimento comunitário, aberto e gerenciado pela organização sem fins lucrativos. (Venâncio, 2014:82) 68 nacional de acordo com dados da Associação Latino-Americana de Publicidade (ALAP) para janeiro de 201440: 299.821 exemplares. O primeiro lugar, a Folha de São Paulo, registrava circulação de 332.354 exemplares. No entanto, embora a circulação e alcance nacional sejam importantes, o que de fato pesou na escolha de O Globo foram os primeiros fatores de análise. Contabilizadas, as matérias sobre a nova classe média no O Globo no período total de tempo a ser analisado (dezembro de 2010 a maio de 2014) somam 361, enquanto as da Folha são 323. Além disso, os textos do jornal O Globo são tecnicamente melhores para serem processados, pois dependem menos de intervenções manuais na fase de pré-processamento (o que resulta em análises mais precisas). Quanto à escolha da mídia online, deve-se à possibilidade de otimização dos métodos de análise computacional já existentes – desenvolvidos e/ou utilizados pela EMAp – e não oferece nenhum tipo de prejuízo. Pelo contrário: as versões de jornais como O Globo para assinantes (que foi utilizada para a extração das matérias desta pesquisa) funcionam também como arquivos integrais das edições e garantem o acesso a todo conteúdo. As matérias sobre a nova classe média que compõem a pesquisa foram extraídas pelas ferramentas computacionais de mineração e análise de texto da EMAp a partir da utilização do termo nova classe média enquanto “palavra-chave”. Para a Linguística e as Ciências da Computação, “palavra-chave” se refere, respectivamente, a uma palavra que ocorre no texto com mais frequência do que se espera que ela ocorresse somente por acaso, e à palavra ou identificador que possui um sentido particular para a linguagem de programação. Assim, para extrair as matérias consideradas relativas à nova classe média, o termo nova classe média teve que ser citado no texto ao menos uma vez, a fim de ser identificado pela rotina de programação. O termo nova classe média não se trata de uma palavra de acordo com a noção de “palavra” na Linguística tradicional. “(...) a palavra é um elemento lingüístico significativo composto de um ou mais fonemas; essa sequência é suscetível de uma transcrição escrita (...) compreendida entre dois espaços em branco (...)”. (Dubois, Giacomo, Guespin, Marcellesi, Marcellesi e Mevel, 2006:450). A referida expressão é composta, portanto, por três palavras. Todavia, em linguagem de programação, este problema é resolvido ao se considerar “nova classe média”, por exemplo, como

40 Disponível em http://www.alap.com.br/noticias/os-50-maiores-jornais-do-brasil-jan14. Acesso em 21 de janeiro de 2015. 69 unidade de texto inscrita entre dois brancos gráficos da seguinte forma: nova_classe_média. A partir da identificação do termo nova classe média em uma primeira etapa de mineração de textos para a composição do corpus, então, realizam- se as demais camadas de mineração no mesmo – camadas que revelam quais outras palavras (ou colocações) se associam ou co-ocorrem com nova classe média, em que quantidades, de que maneiras e em quais momentos. Cabe ressaltar, ainda, que esta pesquisa considera apenas os textos das matérias e artigos em conjuntos maiores ou menores, e não as chamadas, e também não diferencia os textos opinativos dos informativos, considerando todos como notícias; o lugar que elas possam ter vindo a ocupar no site do jornal também será desconsiderado, pois esse tipo de análise semiótica não faz parte do escopo da Análise de Enquadramento Textualmente Orientada. Além disso, a posição que as matérias ocuparam perde-se quando elas são arquivadas, e os textos ficam disponíveis apenas através de seus links. Todavia, as datas em que tais notícias foram publicadas são um parâmetro essencial para a análise aqui empreendida, já que as variáveis políticas que podem ter exercido influência nos enquadramentos noticiosos identificados são relacionadas aos mesmos cronologicamente. A interpretação das informações resultantes das análises sistematizadas dos textos que formam o corpus deste estudo constitui, assim, a camada mais profunda da análise, mas não necessariamente a última, já que é a partir dela que se realizam novas experiências analíticas que têm como objetivo explorar as respostas que os dados gerados fornecem à questão inicial da pesquisa: se, e em que medida, os enquadramentos da mídia sobre a nova classe média mudam quando o economista Marcelo Neri deixa a FGV para atuar na esfera governamental. E é a interpretação de tais dados que constitui a parte hermenêutica da metodologia proposta neste trabalho. Os resultados estatísticos linguísticos obtidos a partir do corpus de notícias da mídia (como por exemplo, as palavras e colocações mais frequentes, as relações entre elas, frases mais importantes) são associados ao contexto político e social em que se inserem de forma diacrônica, em uma tentativa de desvelar o sentido que assumem além da significância semântica. A partir de padrões e da descoberta de relações entre palavras e expressões é apreendida uma instância de sentido mais abrangente, ancorada no tempo, em que partes significativas dos discursos noticiosos relativos à nova classe média são relacionadas à conjuntura sociopolítica; desta forma, são identificados os enquadramentos preponderantes em determinado período. Vale 70 sublinhar, também, que este trabalho não possui a intenção de criar categorias de enquadramentos, mas sim de identificá-los e de apreender em que medida variáveis políticas estão inter-relacionadas aos mesmos.

4. Nova classe média: análises empíricas dos enquadramentos do jornal O Globo 4.1. Análises quantitativas preliminares

Conforme dito anteriormente, o corpus deste trabalho é formado por 361 matérias do jornal O Globo que citam a nova classe média entre dezembro de 2010 e maio de 2014. O mês de agosto de 2012 é o marco central da análise – já que nele o então economista-chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV, Marcelo Neri, foi nomeado para a presidência do Ipea. Maio de 2014 finaliza o período a ser estudado, pois foi no início deste mês que Marcelo Neri foi convidado para assumir a SAE e teve que deixar o Ipea. Desta forma, os dois ranges de análise possuem 21 meses cada, e correspondem de forma equitativa a períodos em que Marcelo Neri atuava no âmbito da FGV e, posteriormente, no governo – totalizando, assim, 42 meses. Tal particionamento do corpus tem como intuito: a) facilitar a identificação dos enquadramentos e de sua relação com variáveis políticas, reconhecidas a partir de referências situadas no tempo (período FGV e período governo); e b) permitir a análise dos enquadramentos encontrados em bases temporais iguais. Além da formação do corpus para esta pesquisa, foi realizada uma extração livre, não totalmente inserida no escopo da presente investigação, com o objetivo de se identificar quando teria ocorrido a primeira menção à nova classe média no jornal O Globo. A experiência revelou um dado interessante, que pode inclusive constituir um desdobramento futuro da pesquisa iniciada nesta dissertação: em 23 de outubro de 2006, na matéria “Alckmin usa Dirceu para atacar Lula, que tenta atrair classe média”, o texto sobre o horário eleitoral das eleições presidenciais traz o seguinte trecho, com aspas creditadas ao então presidente e candidato à reeleição, Luís Inácio Lula da Silva:

- O Brasil tem assistido nos últimos anos à ascensão de uma nova classe média, com alto espírito empreendedor. Caso seja reeleito, vou dirigir uma atenção muito especial para este segmento, dando oportunidades 71

para que seu potencial criativo e produtivo seja intensamente aproveitado - disse Lula ao fim do programa.41

Embora fazer uma genealogia do termo nova classe média nos jornais brasileiros não faça parte dos objetivos deste trabalho, o “achado” traz pistas importantes sobre a relevância da nova classe média para o governo do PT, antes mesmo da divulgação da primeira pesquisa sobre o assunto realizada pelo economista Marcelo Neri na FGV. Vale também destacar o crescimento no número de matérias sobre a nova classe média no O Globo desde então: de outubro de 2006 a julho de 2008 (quando a pesquisa é lançada) são registradas outras seis matérias apenas; após o lançamento da pesquisa Nova Classe Média, de agosto de 2008 a novembro de 2010 (um mês antes do início do range da presente pesquisa, que se inicia em dezembro de 2010) já são contabilizadas 71 matérias, distribuídas conforme abaixo:

Figura 1: menções à nova classe média de outubro de 2006 a novembro de 2010

Se ainda fizermos um índice de frequência levando em consideração o período que vai de outubro de 2006 até imediatamente antes do lançamento da pesquisa, teremos 3,83 matérias sobre a nova classe média/ano; já desde que a pesquisa foi lançada até novembro de 2010, são 30,86 matérias/ano – ou seja, uma frequência oito vezes maior de matérias por ano sobre a nova classe média no jornal O Globo desde que a pesquisa foi lançada até o início do período de análise da dissertação propriamente dito, com concentração de 42 matérias no período relativo a 2010. Uma

41 Ver anexo 1 deste trabalho 72 hipótese secundária lançada a partir de tais constatações (e a ser confirmada ou refutada por outros estudos) é a de que o lançamento da pesquisa A Nova Classe Média por Neri na FGV de fato propiciou a fixação do termo no debate público através do agendamento da mídia. Voltando ao período que é objeto deste estudo (dezembro de 2010 a maio de 2014), tem-se a seguinte distribuição da quantidade de matérias sobre a nova classe média, dividida por trimestres:

Figura 2: menções à nova classe média de dezembro de 2010 a maio de 2014, por ranges trimestrais

A divisão das matérias por ranges trimestrais é complementar à macro divisão em dois grandes períodos comparativos de análise, pois funciona como auxiliar no estabelecimento de uma perspectiva diacrônica dos vieses dos textos da mídia. Compondo 14 blocos de matérias, tais ranges trimestrais permitem ainda a realização de aproximações de foco quando são encontradas variações que podem ser indicativas de mudanças nos enquadramentos noticiosos sobre a nova classe média. No caso da evolução das menções à nova classe média na totalidade do período estudado, vê-se pela figura 2 que as quantidades não apresentam grandes variações. O balanceamento quantitativo revelado em períodos mais curtos de tempo na análise das matérias do jornal O Globo é um forte indicador de que a nova classe média (seja como assunto principal, ou correlacionada a outros temas) pautou o veículo de forma constante, o 73 que revela a importância do assunto para o jornal e para o debate público no intervalo investigado. Assim – tendo em vista a organização e construção da realidade diária propiciada pelos enquadramentos das notícias – é possível entender que o assunto nova classe média, selecionado em meio a tantas outras pautas disponíveis, foi considerado relevante para ser noticiado de maneira quantitativamente homogênea, ao mesmo tempo em que os enquadramentos sobre a nova classe média contribuíram para o estabelecimento de uma ideia geral de que a nova classe média era mesmo um fenômeno relevante. Apesar da relativa homogeneidade da distribuição quantitativa das matérias sobre a nova classe média ao longo do tempo, faz-se necessário descobrir se esse padrão mantém-se na comparação entre os períodos FGV e governo da atuação do economista Marcelo Neri. Desta forma, quando tomadas nos dois grandes períodos – de dezembro de 2010 a agosto de 2012 (período anterior à nomeação de Neri como presidente do Ipea), e setembro de 2012 a maio de 2014 – nota-se que as quantidades de menções à nova classe média no O Globo são mais numerosas no período em que Neri atuava no governo: 188, contra 173 no período relativo à FGV, ou aproximadamente 9% a mais. Se calculadas as médias das menções em cada um dos períodos analisados, o resultado é semelhante, chegando também a 9%.

Figura 3: gráfico das médias das menções à nova classe média nos dois grandes ranges analisados

4.2. As polaridades de sentimento nas matérias sobre a nova classe média

74

A preponderância numérica de matérias que citam a nova classe média no período em que o economista Marcelo Neri estava no governo, no entanto, ganha novos contornos quando analisada juntamente ao gráfico que relaciona o sentimento das matérias do jornal O Globo por ranges trimestrais. Rotina comumente utilizada para determinar a atitude subjetiva de um usuário de redes sociais em relação a um tópico, a análise de sentimento utilizada neste trabalho mensura a polaridade de conjuntos de notícias, sendo expressa em um continuum entre as polaridades negativa e positiva (Pang, Lee, 2008:6). A metodologia de análise de sentimentos da EMAp usa duas espécies de “bancos” de léxicos polarizados para o português: o OpLexicon, produzido no Brasil por uma equipe multidisciplinar com pesquisadores de diversas universidades, e o SentiLex-PT 02, desenvolvido em Portugal. Juntos, estes bancos apresentam palavras classificadas com polaridades de sentimentos -1, 0 e +1. São mais de 100 mil adjetivos, nomes, verbos e expressões idiomáticas42, classificados de forma manual ou automática (quando o próprio programa, baseado em parâmetros estabelecidos manualmente pelos pesquisadores, classifica as palavras e expressões). Utilizados como base para a análise de sentimento de corpora linguísticos, tais bancos são usados pelas rotinas de análise para atribuir polaridades aos léxicos constituintes dos conjuntos de textos; posteriormente, as polaridades são somadas e delas são tiradas uma média – o que confere a polaridade de sentimento a determinado conjunto de textos. Apesar de serem utilizados dois bancos de léxicos (um de português “brasileiro” e outro de português de Portugal), eles não se sobrepõem nem se anulam, pois são utilizados complementarmente (a prioridade é do léxico em português “brasileiro”; na falta de determinada palavra ou expressão idiomática, o outro é acionado). Além disso, cabe lembrar que a análise contextual das polaridades dos conjuntos de notícias (assim como das demais análises linguísticas deste trabalho) é fundamental, já que é ela que confirma, ou não, a possível correlação das polaridades de sentimentos das notícias com enquadramentos. A análise de sentimento deve ser encarada, portanto, como uma métrica indicativa. Para avaliar a evolução das polaridades de sentimento das notícias relacionadas à nova classe média ao longo do tempo, as mesmas foram calculadas nos blocos trimestrais e dispostas de forma cronológica, marcando os grandes ranges correspondentes ao trabalho de Marcelo Neri na FGV e, posteriormente, no governo.

42 Disponível, respectivamente, em http://dmir.inesc-id.pt/project/SentiLex-PT_02 e em http://ontolp.inf.pucrs.br/index.php. Acesso em 4 de fevereiro de 2015. 75

Neste caso, nota-se uma relação inversamente proporcional entre a maior concentração de matérias sobre a nova classe média no período relativo ao governo e as polaridades no mesmo intervalo – cujo sentimento nas divisões por trimestre é predominantemente negativo. A tabela traz as polaridades em todo o grande período (subdividido em 14 blocos), e marcações das seguintes variáveis políticas: tempo de atuação na FGV e tempo de atuação no governo, que inclui os períodos pré e pós- protestos de junho de 2013. Na figura 4, pode-se perceber que as polaridades de sentimento das matérias sobre a nova classe média são majoritariamente positivas e ascendentes enquanto Neri estava no Centro de Políticas Sociais da FGV, e que o pico positivo coincide com a época em que foi nomeado presidente do Ipea (jun/12 - ago/12). Ainda neste período, tem-se apenas um trimestre cujas notícias apresentam polaridade negativa, mas o fato não parece estar correlacionado a nenhum marco político relevante43. A polaridade geral do range é 0,065.

43 Este trimestre de polaridade negativa parece estar relacionado à repercussão, no Brasil, da questão da crise econômica europeia, e ao temor de uma crise mundial – mas não à nova classe média em si. Além disso, há a posse de Crivella como ministro da Pesca e a suspeita de um certo mal-estar por conta de uma declaração do ministro Gilberto Carvalho sobre uma possível disputa ideológica do PT com evangélicos, esta sim relacionada à nova classe média. 76

Figura 4: análise de sentimento das notícias do jornal O Globo por ranges trimestrais

Já a partir do momento em que Neri vai para o governo, 4 dos 7 trimestres avaliados apresentam polaridade negativa, e o mais negativo entre eles (mar/13 - mai/13) e também de todo o range coincide com um fato político marcante: em maio de 2013, o economista Marcelo Neri assume como ministro-interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE). Vale ressaltar que, a partir daí, apenas um trimestre apresentou polaridade positiva, enquanto os dois últimos são negativos – o que inclui a época em que Neri deixou a presidência do Ipea para ser ministro da SAE, em maio de 2014. A polaridade geral deste range é 0,00747 – o que representa uma queda de 89% na polaridade do sentimento das notícias nos dois períodos, como demonstra a figura 5:

Figura 5: diferença na polaridade de sentimento dos enquadramentos noticiosos nos períodos FGV e governo

A análise de sentimento das matérias do jornal O Globo sobre a nova classe média pode ser encarada como um indicador significativo de mudanças nos enquadramentos relativos ao assunto. Desta forma, pode-se interpretar – relacionando o sentimento das matérias aos enquadramentos do jornal O Globo sobre a nova classe média – que o viés no período correspondente ao tempo de atuação de Marcelo Neri na FGV é mais positivo do que o da época em que trabalhou no governo. Esta 77 constatação, todavia, não quer dizer que esta mudança esteja relacionada à figura do economista: as análises demonstram que os enquadramentos sobre a nova classe média são sensíveis a variáveis políticas e econômicas em nível macro (disputas eleitorais, políticas governamentais, situação econômica e política do país) – assim como a própria situação da nova classe média brasileira é sensível a variáveis semelhantes. O convite do governo para que Marcelo Neri fizesse parte dos seus quadros está contextualmente ligado a um momento político e economicamente otimista, coincidindo com a polaridade sobre a nova classe média mais alta de todo o range de análise; daí para frente, o tom é menos otimista com a situação geral do país, e as polaridades dos enquadramentos do jornal O Globo sobre a nova classe média refletem esse impacto, na medida em que são indícios de enquadramentos (ou construções discursivas acerca da nova classe média) mais críticos. Sobre este ponto, vale destacar que é considerada a possibilidade de enquadramentos mais negativos estarem relacionados a um papel de oposição ao governo mais abertamente exercido pelo O Globo, mas não é objetivo deste trabalho aprofundar-se em tal hipótese. Apenas a análise de sentimento não apresenta elementos suficientes para a descrição de enquadramentos, embora seja de grande auxílio na identificação de mudanças nos mesmos ao longo do tempo, como demonstrado anteriormente. Sendo assim, ela é complementar às análises a seguir, pois aponta para potenciais momentos de inflexão nos vieses das matérias sobre a nova classe média, exigindo investigações mais focais acerca deles e de suas relações com o contexto político e econômico do país.

4.3. Enquadramentos sobre a nova classe média e as disputas político-eleitorais

Do otimismo com a novidade da nova classe média a um certo ceticismo ou questionamento quanto à sustentabilidade, no tempo e no bolso, do padrão de vida recém-conquistado por 40 milhões de pessoas. Assim os enquadramentos do O Globo sobre a nova classe média evoluem ao longo dos 42 meses analisados, mostrando ainda como podem ser agrupados em dois grandes conjuntos: o primeiro, relativo ao período de atuação de Marcelo Neri na FGV, é auge da nova classe média e disputa político-partidária. Em alta na primeira metade do governo Dilma, a nova classe média é objeto de desejo de tucanos e evangélicos, enquanto o PT “monitora” e chega a temer o movimento da concorrência, se esforçando em demonstrar sua 78

“paternidade” e “responsabilidade” para com a cria – um imenso mercado consumidor com tamanho suficiente para decidir uma eleição. Já no segundo momento, quando o economista fazia parte dos quadros do governo, o enquadramento é deterioração econômica, nova classe média e disputa eleitoral; os esforços governamentais para manter o poder de compra e garantir o status da nova classe média enquanto classe consumidora continuam presentes, mas a piora das condições da economia e de vida da população não apenas colocam em risco a perdurabilidade dessa nova classe média, como fomentam uma abordagem mais crítica por parte do jornal – muitas vezes editorialmente de oposição ao governo. O final do último período de análise, maio de 2014, encontra-se no início de um campo (ou tempo) minado, politicamente decisivo, pois se avizinha das eleições presidenciais de outubro. E, de uma forma geral, as análises relativas à época da atuação de Neri no governo (que nesta dissertação compreende à boa parte da segunda metade do mandato de Dilma Rousseff) não se revelam muito alvissareiras para o PT; porém, o são para o PSDB – como pôde ser confirmado posteriormente com a apertada reeleição da candidata petista sobre o tucano Aécio Neves. Vale destacar, também, que o final de período de análises revela o próprio jornal O Globo enquanto ator politicamente interessado na disputa eleitoral. A fim de demonstrar tais enquadramentos, foram selecionados seis ranges trimestrais em que eles estão mais evidentes ou indicam uma inflexão significativa de viés noticioso: três deles correspondem a polaridades de sentimento positivas e três, a negativas. Para cada um deles, são mobilizadas as análises estatísticas computacionais que melhor os traduzem, pois são justamente as que trazem os índices discursivos mais fortemente associados a mudanças de enquadramento sobre a nova classe média em função de variáveis políticas.

4.3.1. Toma, que o filho é seu – dezembro de 2010 a fevereiro de 2011

O range que vai de dezembro de 2010 a fevereiro de 2011 corresponde ao último mês de mandato do presidente Luís Inácio Lula da Silva e aos dois primeiros meses do governo de sua sucessora, Dilma Rousseff – eleita no segundo turno com praticamente 56,05% dos votos válidos44, em embate contra seu oponente José Serra,

44 Disponível em http://placar.eleicoes.uol.com.br/2010/2turno/. Acesso em 2 de março de 2015 79 do PSDB. Dois destes meses são também os primeiros de atuação de Ana de Hollanda à frente do Ministério da Cultura, no qual permaneceu até setembro de 2012. Durante sua gestão, foi criado o Vale-Cultura, programa de incentivo ao consumo cultural que continua até hoje. Não fossem as análises estatísticas do conteúdo das matérias que citam a nova classe média no jornal O Globo, dificilmente seria dada a devida atenção à pasta e à ministra no que diz respeito a políticas públicas direcionadas à nova classe média. E é por isso que este range, composto por apenas 14 matérias (a menor quantidade entre todos os trimestres analisados), foi escolhido como um dos mais significativos para as análises dos enquadramentos noticiosos sobre as disputas políticas pelo segmento. O alerta para a relevância política do período veio de uma das ferramentas mais conhecidas da análise linguística computacional: a “tagcloud”, ou nuvem de palavras, eficaz por permitir uma visualização simples dos dados de texto, conforme segue:

Figura 6: tagcloud - dez/10-fev/12

A “tagcloud” representa a importância estatística das palavras por meio do tamanho da fonte: quanto maior o tamanho da palavra na tabela, maior a frequência da mesma no conjunto de textos analisado. Já a cor nas tagclouds não traz nenhuma informação estatística adicional, sendo utilizada apenas para facilitar a visualização dos dados. Nesta figura, vê-se em destaque – além da expressão nova classe média – as palavras cultura, ana, ministra, cultura e culturais, além de teatro, em menor escala, porém relacionada no campo conceitual (ou associativo) da palavra “cultura”. 80

A chave para a compreensão do contexto em que essas palavras apareceram no trimestre, no entanto, vem de outra ferramenta, que extrai as frases mais relevantes de um corpus de textos. O nome da rotina é autodescritivo: “frases importantes”. O parâmetro da ferramenta define como frases mais importantes aquelas que contêm palavras estatisticamente mais importantes, ou seja, as que ocorrem com muita frequência em um texto, mas não em outro. As frases que atendem aos parâmetros da ferramenta são extraídas das notícias originárias e dispostas automaticamente em um documento único, correspondente ao conjunto de textos analisado. Entre as frases mais importantes do período, foi possível encontrar duas, bastante elucidativas: a) “Em sua primeira fala como ministra, Ana aproveitou para fazer um apelo aos muitos parlamentares presentes: para que o Vale Cultura - que subsidia a ida de trabalhadores a programas culturais - seja aprovado ainda este ano” e “A ministra quer que cinema, teatro, música e outros bens culturais também ganhem o gosto da nova_classe_média brasileira45” [sic]46. Tais frases são oriundas de matéria sobre a posse da ministra, na qual ela anuncia a intenção de implementação do Vale Cultura em 2011 – benefício de R$ 50 mensais que pode ser requerido pelo trabalhador que ganha até cinco salários mínimos, e que ajuda a custear despesas com atrações culturais e cursos na área.47 O gráfico de “centralidade e co-ocorrência de palavras” para o trimestre confirma a relevância da política do Ministério da Cultura para a nova classe média e, por conseguinte, a importância do ator político governo, aqui representado pelas palavras ministra e Ana, co-ocorrentes entre si e nova classe média. Co-ocorrentes são palavras que ocorrem próximas, e centralidade diz respeito aos vértices que os nós gráficos (no caso, os termos) concentram (a quantidade de vezes que o termo co- ocorre com outro). Temos ainda as palavras renda e produtos, que enfatizam a relação nova classe média e consumo, já que fazem parte do campo conceitual deste último.

45 Os separadores underline foram utilizados pela programação computacional para que fossem extraídos os termos nova classe média e, assim, realizadas as rotinas de análise. Tais separadores serão mantidos no texto para marcar que tais frases e expressões foram extraídas automaticamente por essas rotinas. 46 ver anexo 2 deste trabalho 47 Disponível em http://www.cultura.gov.br/valecultura. 81

Figura 7: gráfico de centralidade e co-ocorrência – dez/10-fev/12

O Vale-Cultura claramente se alinha às ações governamentais inicialmente pensadas para a nova classe média – considerada agenda prioritária pelo PT desde a reeleição de Lula, que prometeu em programa eleitoral de 2006 propiciar que seu potencial produtivo e criativo fosse aproveitado, conforme citado no início deste capítulo. Esta fala do então presidente (que também traz a primeira menção à nova classe média do jornal O Globo) mostra a diretriz do partido no sentido de tomar as rédeas dos rumos do estrato econômico e social surgido sobretudo nos anos em que esteve no poder, até para que o poder da sigla se perpetuasse. No entanto, a continuidade das políticas direcionadas ao segmento começa a mostrar um certo desvio, com deslocamento do paradigma “potencial produtivo e criativo” para o de “potencial de consumo” dessa nova classe média, mais claramente visível na seguinte frase: “(…) foi incumbido pela presidente Dilma Rousseff de mapear as empresas capazes de fornecer equipamentos para o setor de informática e comunicações. Segundo ele, Dilma quer que a nova_classe_média [sic] possa comprar tablets a 82 prestação”.48 Tal frase, presente entre outras estatiscamente selecionadas na análise “ocorrência de expressão” – cujo objetivo é demonstrar em que trechos os termos mais relevantes das análises computacionais se encontram49 – faz parte da notícia “Governo vai dar incentivos fiscais para popularizar tablets, diz Bernardo”, de 20 de janeiro de 2011. O texto refere-se ao ministro das Comunicações à época, , mas não explica que a política de popularização dos tablets, na verdade, fazia parte de uma diretiva da pasta para a promoção da inclusão digital. O foco da notícia era o incentivo do consumo de tais gadgets, e o trecho completo encontra-se no corpo da matéria:

O ministro vem afirmando, desde que tomou posse nas Comunicações [sem grifo no original], que foi incumbido pela presidente Dilma Rousseff de mapear as empresas capazes de fornecer equipamentos para o setor de informática e comunicações. Segundo ele, Dilma quer que a nova classe média possa comprar tablets a prestação. 50

A expressão em negrito confirma que uma das pautas de início de ano no jornal era saber que ações os novos ministros tomariam em suas pastas; e as análises revelam que a nova classe média (ou seria o consumo da nova classe média?) era, para o jornal, prioridade do governo federal.

4.3.2. Os tucanos entram em cena – março a maio de 2011

A emergência do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (e consequentemente do PSDB) enquanto ator político em disputa pela nova classe média fica muito evidente por meio do gráfico de centralidade e co-ocorrência de termos do range formado pelas 31 matérias que vão de março de 2011 a maio de 2011 – curiosamente um período bem distante das próximas eleições presidenciais, que iriam ocorrer somente dali a quatro anos. Entretanto, o período está bem próximo do

48 Ver anexo 3 deste trabalho. 49 Da mesma forma que nas “frases importantes”, os separadores underline foram utilizados pela programação computacional para extrair os termos nova classe média e, assim, realizar as rotinas de análise de “ocorrências de expressão”. Tais separadores também serão mantidos no texto para marcar que tais frases e expressões foram extraídas automaticamente por essas rotinas, e reunidas em apenas um documento relativo às análises do período. 50 Ver anexo 4 deste trabalho. 83

último pleito (outubro de 2010), do qual novamente um candidato tucano, José Serra, saiu derrotado no segundo turno.

Figura 8: gráfico de centralidade e co-ocorrência de termos – mar - mai/11

O gráfico demonstra como a centralidade das relações entre as palavras se concentra no ex-presidente FHC e na nova classe média, cujos termos que os designam e ou representam estão agrupados e interligados à esquerda, no alto da figura, e formam uma espécie de rede quase isolada, em forma de diamante. Mais na periferia do gráfico, encontra-se PSDB, PT, classes, Lula e país – o termo mais afastado. Lula, PSDB e PT estão interligados por uma forma triangular (os dois primeiros em dois ângulos de oposição), na parte inferior. E é interessante notar que tanto PSDB, PT e Lula ligam-se ao termo nova classe média, nó mais central, localizado no topo. A configuração da rede de palavras sugere fortemente um enquadramento de disputa política entre as estratégias do dois partidos pela nova classe média em um verdadeiro duelo de titãs – já que ambos são ex-candidatos rivais à presidência, ex- presidentes e líderes dos partidos que polarizam o país desde a redemocratização. Mais pistas sobre essa disputa vieram da tabela de “frequências dos sintagmas 84 nominais mais frequentes” extraídos do corpus textual do range. Os sintagmas nominais são compostos pelos elementos não-verbais que constituem uma oração – ou seja, eles formam a unidade de significado da oração, sem os verbos. Assim, temos para este range, conforme o histograma a seguir:

Figura 9: frequências de sintagmas nominais mais frequentes – mar-mai/11

Figura 9.1: lista dos sintagmas nominais – mar-mai/11 85

Aqui, os sintagmas nominais que podem esclarecer um pouco mais as relações reveladas pelo gráfico de centralidade e co-ocorrência de termos são o PT, o PSDB, Fernando Henrique Cardoso, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, as oposições, o governo Lula, polêmico artigo, o presidente estadual do PT, políticas sociais de o [sic] governo lula. Todavia, são as análises de “ocorrência de expressão” (que mostram o contexto em que esses sintagmas aparecem) as mais elucidativas: o artigo polêmico, por exemplo, é de Fernando Henrique Cardoso. “A nova_classe_média [sic] já está no radar da oposição, o que ficou claro recentemente em um artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. No texto (…), FH defende que as oposições devem deixar de lado o "povão" e priorizar as novas classes médias”. Outras ocorrências de expressão complementam o que seria esse artigo. “o [sic] sociólogo e presidente de honra do PSDB tenta entender qual será o papel político da chamada "nova_classe_média" [sic], cuja ascensão há muito vem sendo discutida pelos economistas” e “E FHC chama a atenção para a disputa pelo voto da "nova_classe_média" [sic]. Todos estão de olho nos emergentes? Essa reflexão deve ter sido feita pelo ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso”.51 A repercussão do jornal O Globo é sobre o artigo O papel da oposição, que FHC divulgou em abril de 2011 na revista Interesse Nacional (também um dos sintagmas nominais arrolados acima), uma publicação online do UOL – que faz parte do Grupo Folha.52 Textos do jornal O Globo como “O PSDB e seus Dilemas”53 e “Declaração de FH incomoda partidos da oposição”54 tratam do assunto, cujo “o outro lado” é abordado como demonstra a expressão encontrada na análise: “O presidente estadual do PT, deputado Edinho Silva, afirmou que outra estratégia das eleições será disputar com o PSDB o apoio da nova_classe_média [sic], formada a partir de avanços na economia e de políticas sociais do governo Lula. O setor já é cobiçado pelos tucanos (…)”55. Contudo, apesar do então presidente do PT de São Paulo aparecer preocupado com a estratégia do PSDB, Lula teria inquietações diferentes para as eleições municipais, de acordo com a expressão a seguir: “O ex-presidente Lula quer forçar o PT a abrir o leque de alianças em São Paulo para avançar sobre a

51 Ver anexo 5 deste trabalho. 52 Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/poder/2011/04/902057-leia-integra-do-artigo-do-ex- presidente-fhc-em-revista.shtml. Acesso em 3 de março de 2015. 53 Ver anexo 6 deste trabalho. 54 Ver anexo 7 deste trabalho. 55 Ver anexo 5 deste trabalho. 86 chamada nova_classe_média [sic] e os ‘órfãos do malufismo e do quercismo’ nas eleições de 2012”.56 Outra personagem atenta ao potencial eleitoral da nova classe média, mas que apareceu somente nas ocorrências de expressão, é a hoje ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento pelo PMDB, Kátia Abreu – na época, senadora do PSD pelo estado do Tocantins e ainda interessada nas oportunidades que o partido teria para crescer. Segundo o trecho em que aparece, “Kátia Abreu está convencida de que existe um nicho eleitoral que o novo partido pode ocupar, representado pela nova_classe_média [sic] ascendente e por todos os anseios e necessidades que virão com ela”. Este é, portanto, o range em que o enquadramento noticioso de disputa política e eleitoral se revela mais veementemente, por meio do surgimento de diversos atores políticos partidários que, recém-saídos de uma grande eleição, já pensam em como assegurar o que conquistaram, ou em seduzir o contingente eleitoral decisivo para uma tão almejada vitórias nas urnas – a nova classe média.

4.3.3. Quem tem medo dos evangélicos? – dezembro de 2011 a fevereiro de 2012

Pelo menos a partir das eleições de 2010, as preocupações político-partidárias relacionadas à nova classe média (declaradas ou subjacentes) nunca deixaram de ser eleitorais, já que um novo pleito – dessa vez, as eleições municipais – se aproximava, e a experiência do sufrágio passado mostrou algumas “janelas de oportunidade”, principalmente para os poderes executivo federal e estaduais. Tais preocupações com a nova classe média eram mostradas, nas notícias, por meio de políticas voltadas para o segmento (no caso governo) ou na declaração pública de estratégias partidárias para “arrematar o quinhão”. E embora as análises computacionais do range que corresponde às matérias de dezembro de 2011 a 2012 (27, ao todo) não exibam indícios tão claros da batalha que já começava a se desenhar, elas trazem pistas importantes do que estaria por vir – sobretudo acerca dos novos atores neste “teatro”. Por se tratar de atores nem sempre protagonistas e em “tramas” secundárias, as primeiras pistas do aparecimento de uma disputa do PT com os evangélicos pela nova classe média vieram das análises de frequência de nomes próprios e adjetivos

56 idem. 87 extraídas do corpus de matérias relativos ao trimestre. Também chamou atenção para este range o fato de ele ser o único com polaridade negativa dentre os sete que compõem a fase em que o economista Marcelo Neri ainda atuava na FGV – daí a necessidade de uma investigação mais localizada. Dentre os dez nomes próprios mais frequentes, de acordo com a tabela abaixo, estão Gilberto Carvalho, Dilma, Crivella, Secretaria Geral da Presidência, Fundação Getulio Vargas e Fórum Social Mundial. Por enquanto, é possível apenas identificar que Gilberto Carvalho era ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, cargo no qual permaneceu durante todo o primeiro mandato do governo Dilma. Além disso, o senador pelo PRB e bispo licenciado havia tomado posse no ministério da Pesca no final de fevereiro de 2012.

Figura 10: frequências para os nomes próprios mais frequentes – dez/11-fev/12

88

Figura 10.1: lista dos nomes próprios mais frequentes

A tabela a seguir, dos adjetivos mais frequentes, traz entre os cinco primeiros o termo evangélicos – o que é mais um indicador que o foco da investigação do enquadramento predominate no range possa estar relacionado a este segmento religioso da população, mas que atualmente representa sobretudo um grupo de poder.

Figura 11: frequência dos adjetivos mais frequentes - dez/11-fev/12

89

Figura 11.1: lista dos adjetivos mais frequentes - dez/11-fev/12

Novamente, é a análise das ocorrências de expressões que ajuda a solucionar o “mistério”. Entre elas, está “(…) declarações do ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, sobre uma ‘disputa ideológica’ do governo com líderes evangélicos pela nova_classe_média [sic]. Crivella, que é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, também negou que o convite de Dilma tenha relação com o caso”.57 Também são reveladoras as expressões “(…) Geral da Presidência [sic] e olhos e ouvidos de Lula na administração Dilma, no Fórum Social Mundial. Ele chamou a atenção para a necessidade de não deixar a nova_classe_média [sic] ‘à mercê’ dos meios de comunicação no país, sugerindo que são disseminadores de uma ideologia conservadora” e “Crivella deixou claro que irá agir para tentar melhorar o relacionamento do Planalto com os evangélicos”. Com estes trechos, foi possível encontrar as notícias que completam o quebra- cabeça. Elas são “A Disputa pela Classe C”, do dia 11 de fevereiro, por Ricardo Noblat, e “Marcelo Crivella é o novo ministro da Pesca do governo Dilma”, publicada no dia 29 do mesmo mês. Na primeira, o lead esclarece o imbroglio:

57 Ver anexo 8 deste trabalho. 90

O controle político da chamada “nova classe média”, que pode se transformar na célebre situação de a criatura se voltar contra o criador, tem provocado polêmicas a partir da explicitação da preocupação do ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência e olhos e ouvidos de Lula na administração Dilma, no Fórum Social Mundial. Ele chamou a atenção para a necessidade de não deixar a nova classe média “à mercê” dos meios de comunicação no país, sugerindo que são disseminadores de uma ideologia conservadora. Ao mesmo tempo, chamou para o centro da luta política os evangélicos, com quem disse que as esquerdas devem disputar ideologicamente a massa dos emergentes.58

Aqui fica bastante claro o contexto da disputa do PT pela nova classe média, mas com os evangélicos: Gilberto Carvalho, representante do governo no Fórum Social de 2012, exprimira na ocasião a sua preocupação aparentemente sem o aval da presidência, já que convocara uma luta justamente contra o grupo que o partido viria a se aliar: o partido tentava se aproximar da bancada evangélica ao convidar Crivella para o ministério da Pesca. A segunda notícia complementa a primeira, ao tentar imprimir um tom conciliador à fala do senador evangélico. “Sempre batalhei para dirimir controvérsias - disse o novo ministro. - Os evangélicos votamos quase majoritariamente na presidente Dilma. Faço parte do governo. Acredito que (com a nomeação) deve haver uma aproximação maior – disse” [sic]59. As expressões em que as palavras estatiscamente mais relevantes ocorrem finalmente trazem Marcelo Neri – identificado como economista da FGV – enquanto fonte especializada para explicar o porquê do frenesi político em torno da nova classe média: a resposta está na importância da mesma na decisão eleitoral e no seu peso na economia do país. Elas encontram-se também na notícia “A Disputa pela Classe C”.

(…) cerca de 39,6 milhões ingressaram nas fileiras da chamada nova_classe_média entre 2003 e 2011, número que vira 59,8 milhões se contarmos desde 1993. Para o economista da Fundação Getulio Vargas no Rio Marcelo Neri, isso significa que a nova_classe_média brasileira não só

58 Ver anexo 9 deste trabalho. 59 Ver anexo 10 deste trabalho. 91

inclui o eleitor mediano, aquele que decide o segundo turno de uma eleição, mas também que ela poderia sozinha decidir um pleito eleitoral. Complementarmente, a nova_classe_média é a classe também dominante do ponto de vista econômico, pois já concentrava 46,6% do poder de compra dos brasileiros em 2011, superando as classes A e B, essas com 45,6% do total do poder de compra. As escolhas eleitorais serão, portanto, pela nova_classe_média e para a nova_classe_média [sic].60

As mesmas análises computacionais ainda selecionaram estatiscamente um trecho de matéria em que figura o ex e atual ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, que substituiu em 5 de fevereiro de 2015 o economista Marcelo Neri na função. Em: “ex-ministro Mangabeira Unger achava ‘decisivo’ para qualquer orientação transformadora do Brasil o surgimento de uma nova_classe_média [sic], e uma nova cultura de emergentes, ‘esse pessoal que estuda à noite, luta para abrir um negócio, ser profissional independente (…)’”. A chave para a compreensão do texto encontra-se, mais uma vez, no texto do Noblat. Nele, Mangabeira Unger também é fonte especializada, procurada na tentativa de compor o panorama da disputa pela nova classe média por vários ângulos – ou enquadramentos. O trecho a seguir contém a expressão selecionada pela ferramenta computacional de análise e comenta qual seria a tese do acadêmico.

O ex-ministro Mangabeira Unger achava “decisivo” para qualquer orientação transformadora do Brasil o surgimento de uma nova classe média, e uma nova cultura de emergentes, “esse pessoal que estuda à noite, luta para abrir um negócio, ser profissional independente, que está construindo uma nova cultura de autoajuda e de iniciativa, e está no comando do imaginário nacional”. Dentro desse contexto, ele considerava que o movimento evangélico precisava ser visto “como um elemento entre muitos dessa nova base social. São dezenas de milhões de brasileiros organizados”.

60 Ver anexo 8 deste trabalho.

92

Mangabeira desenvolveu a tese de que evangélicos brasileiros têm semelhança com pioneiros que fundaram os EUA e tinham o espírito empreendedor que faria a diferença para o desenvolvimento do Brasil.61

O enquadramento predominante no trimestre que vai de dezembro de 2011 a fevereiro de 2012 é um dos mais elucidativos das disputas eleitorais pela nova classe média que viriam a eclodir ferozmente nas eleições de 2014, e ainda traz personagens de acontecimentos políticos que se dariam somente em fevereiro de 2015 – quando a presidente Dilma decidiu chamar novamente Unger para a SAE, um mês após a posse de Marcelo Neri à frente da pasta. Mesmo não figurando entre os nomes próprios mais frequentes (assim como Neri não figurou), Mangabeira Unger é encontrado em aspas contidas entre as expressões com os termos estatiscamente mais relevantes. Se esta pesquisa tivesse sido realizada antes da troca de comando da SAE, a presença de Unger nas análises talvez não chamasse a atenção. No entanto, ela hoje pode ser encarada como o prenúncio do surgimento de um outro (e inesperado) ator em disputa não somente “pela ideia acadêmica sobre a nova classe média mais interessante para o governo”, mas pela ideia que o próprio governo decidiria abraçar, três anos depois.

4.3.4. O céu é o limite – junho a agosto de 2012

O período que vai de junho a agosto de 2012 é, de acordo com o com o gráfico da evolução da polaridade de sentimento das notícias do jornal O Globo sobre a nova classe média, o ponto mais alto. Ou seja, as 23 matérias que compõem o range trimestral são classificadas com a polaridade de sentimento mais positiva de todo período de análise. Em termos políticos, também se pode considerar que o trimestre constitui o ponto alto das análises como um todo: nele, o enquadramento predominante é o da bonança. Esta foi a época em que Marcelo Neri recebeu o convite para ser presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e tomou posse na nova função, depois de doze anos atuando na FGV. A pauta do jornal O Globo era falar sobre quem descobriu essa tal de nova classe média, e saber mais sobre ela. Além disso, a pauta era também saber quem eram esses tais evangélicos, e falar mais sobre eles.

61 Ver anexo 9 deste trabalho 93

Desta vez, a importância estatística da palavra evangélicos ficou bem clara na tagcloud correspondente ao trimestre analisado, reforçada pelo destaque da palavra igrejas – parte do mesmo campo conceitual.

Figura 12: tagcloud jun-ago/12

Nova classe média também vem em destaque, assim como governo e CDES – o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social – do qual Neri havia sido integrante e membro do conselho gestor. Todavia, é o gráfico de centralidade e co- ocorrência de termos que diz mais sobre como eles estão correlacionados no corpus. 94

Figura 13: gráfico de centralidade e co-ocorrência de termos jun-ago/12

Nele, o termo nova classe média é o mais central, ligando-se a todos os demais encontrados na periferia, como governo, evangélicos, expansão e CDES. Destes, apenas evangélicos, expansão e igrejas estão interligados e triangularmente – o que indica que fazem parte do mesmo contexto. Já os outros termos no campo conceitual da palavra governo, incluindo a mesma e CDES, ligam-se à nova classe média e às demais, o que significa que elas fazem parte de um outro contexto noticioso. Em suma, o que une as temáticas tratadas é a nova classe média; fora isso, elas não possuem mais nenhuma relação entre si. 95

Figura 14: gráfico de palavras mais frequentes – jun-ago/12

Figura 14.1: lista de palavras mais frequentes – jun-ago/12

O gráfico das palavras mais frequentes mostra que, depois de nova classe média (que lidera o número de menções, com quase 30), o termo evangélico aparece entre os cinco mais frequentes, contabilizando 10 menções. Além disso, entre as 30 palavras mais frequentes, podem ser encontradas outras duas no mesmo campo conceitual – igrejas e pentecostais. No campo conceitual relacionado a governo, estão 96 presentes governo, CDES e Conselho, mas não é possível afirmar que Brasília e presidente também o sejam. A figura a seguir, com os sintagmas nominais mais frequentes, reforça a possibilidade de estabelecimento de tal relação, indicando ainda que o campo conceitual governo, neste caso, ganha força ao ser representado pelo economista Marcelo Neri: Néri [sic], os integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social (CDES), o Conselho de Desenvolvimento Econômico, o chamado Conselhão são sintagmas diretamente associados à figura do economista, assim como os maiores estudiosos da nova (classe média). Já a Presidência da República é claramente associada ao poder executivo.

Figura 15: gráfico das frequências de sintagmas mais frequentes – jun-ago/12

97

Figura 15.1: lista de sintagmas mais frequentes – jun-ago/12

A análise das ocorrências de expressões esclarece mais que o contexto em que as palavras e sintagmas estatiscamente relevantes aparecem: elas deixam bem clara a prioridade do governo para com a nova classe média, em uma tentativa de dar continuidade às conquistas do mandato de Luís Inácio Lula da Silva. “Um dos maiores ativos econômicos e sociais do país para o futuro próximo, a nova_classe_média [sic] brasileira é a grande aposta do governo para o desenvolvimento nas próximas décadas”, diz um dos trechos. Em outro, o então ministro da SAE, Moreira Franco, explica as razões dessa “aposta”.

É o grande ativo e legado do governo Lula, desde que o governo e a sociedade conseguiram ter moeda. Mas temos que evitar que a nova_classe_média [sic] retorne à situação anterior e que sejam criadas condições para que se consolide — disse o ministro da SAE, Wellington Moreira Franco. Inclusão e educação financeira também estão na lista dos temas estudados pelo governo neste momento para assegurar à nova_classe_média [sic] a manutenção do seu novo status social e econômico.62

62 ver anexo 11 deste trabalho. 98

É esta fala que sintetiza, ainda, os motivos que levaram à escolha do economista-chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV, Marcelo Neri, para assumir a presidência do Ipea – instituto de pesquisa ligado à SAE. A nova classe média era não somente prioridade, mas assunto estratégico para o governo petista. E, naquele momento, o perfil de Marcelo Neri era considerado o ideal para a função, como demonstra outro trecho:

Especialista em pobreza e desigualdades, Néri [sic] é também um dos maiores estudiosos da nova_classe_média brasileira [sic], além de um dos integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o chamado “conselhão”, indicado pelo Comitê Gestor do CDES eleito pelos demais conselheiros.63

Já a relação entre nova classe média e evangélicos não fica tão explícita nas ocorrências de expressões, entre as quais foi possível encontrar apenas umas pista. “(…) a expansão da chamada nova_classe_média [sic], vinda de segmentos de menor renda, com boa presença de evangélicos; por isso também houve essa expansão grande dos evangélicos pentecostais…”. Para esclarecer este contexto, foi preciso buscá-lo na notícia “Demógrafo diz que até 2030 católicos devem ser menos de 50%”. Nela, o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence/IBGE), investiga a diminuição no número de católicos no país e a expansão das igrejas evangélicas – segundo ele, fenômeno em boa parte relacionado à expansão da nova classe média. No campo político, é interessante retomar as análises anteriores, quando identificou-se que o então secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse ser preciso disputar os emergentes com os evangélicos – o que ironicamente revelou-se um erro ainda maior, já que ele desconsiderou que grande parte desse segmento é composto por adeptos da religião evangélica. Cabe acrescentar, ainda, que o jornal O Globo buscara Mangabeira Unger como fonte que associava empreendedorismo, ascensão social e adesão a religiões protestantes no Brasil. Esta relação inclusive já havia sido feita por Marcelo Neri no estudo O Mapa das Religiões.64

63 Idem. 64 Disponível em http://www.cps.fgv.br/cps/bd/rel3/REN_texto_FGV_CPS_Neri.pdf. Acesso em 10 de março de 2015. 99

4.3.5. Mais vale uma nova classe média na mão – março a maio de 2013

Marcelo Neri foi convidado para ser presidente do Ipea em um momento de otimismo e esperança quanto àquele futuro tão prometido e que finalmente parecia ter chegado ao país. A ascensão da nova classe média era noticiada como o sinal inequívoco de que estes tempos estavam próximos e era preciso assegurar, de fato, que eles viriam – os tempos em que todos, incluindo a nova classe média, estariam a salvo de intempéries, e poderiam respirar (e viver) aliviados. Todavia, quando o economista assumiu interinamente a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), substituindo Moreira Franco, os ventos (e os enquadramentos) já haviam mudado de direção. Os tempos não eram o mesmos. Curiosamente, o range das 31 matérias que compreendem os meses de março a maio de 2013 (mês em que Neri foi para a SAE) é o de polaridade de sentimento mais negativa de todos os 14 trimestres analisados, o que exigiu uma investigação mais profunda. O que teria acontecido? O consumo da nova classe média ainda era prioridade do governo petista, e políticas públicas continuavam a ser anunciadas e implementadas, na tentativa de garanti-lo. É de março, por exemplo, o Plano Nacional de Consumo e Cidadania (Plandec). No entanto, as vozes que questionavam o conceito de nova classe média e a administração federal se faziam mais fortes, e nos enquadramentos do O Globo o próprio governo parecia patinar na tentativa de não deixar cair quem havia conseguido “subir na vida”. Os consumidores já não eram tão pujantes, e enquanto cidadãos mereciam mais. E agora, quem poderia defendê-los? E é aqui, no início da segunda metade do mandato de Dilma Rousseff, e praticamente um ano e meio antes das eleições presidenciais de 2014, que os contornos do sufrágio mais disputado da história brasileira se intensificam. Novamente, a primeira pista para a compreensão do enquadramento predominante vem da tagcloud do período, abaixo:

100

Figura 16: tagcloud – mar-mai/13

Das palavras em destaque na tagcloud, as que mais chamam a atenção – além de nova classe média – são demandas, renda e população, localizadas bem próximas umas das outras e no alto da tabela. Mais discreta, surge garantia, e mais afastadas e menos destacadas, consumo e consumidor, opostas em uma mesma diagonal.

Figura 17: gráfico de centralidade e co-ocorrência de termos – mar-mai/13 101

O gráfico de centralidade e co-ocorrência de termos para o período revela, ainda, que a palavra demandas está diretamente ligada à população, mas oposta à mesma. Ela também não se liga diretamente à nova classe média, mas indiretamente, por meio de população. São os sintagmas nominais mais frequentes que indicam a relação entre estes termos, conforme segue:

Figura 18: frequências dos sintagmas nominais mais frequentes– mar-mai/13

Figura 18.1: lista dos sintagmas nominais mais frequentes– mar-mai/13 102

Por estes sintagmas, é possível perceber uma preocupação com a garantia dos direitos do consumidor por meio de exemplos como a defesa dos direitos do consumidor, demandas do consumidor, as demandas judiciais nos juizados de pequenas causas e a causa dos conflitos. As análises de ocorrência de expressão fornecem mais uma informação preciosa: a de que muito provavelmente isso faz parte do contexto de políticas governamentais para tratar da questão. “(…) O ministro destacou que, com a entrada de milhões de brasileiros na nova_classe_média [sic], as demandas dessa população ganharam nova dimensão e que os Procons precisam ser fortalecidos. Ele destacou que, hoje, 70% das demandas são relacionados a demandas do consumidor. O custo médio de cada processo chega a R$ 1 mil”. 65 Foi preciso, no entanto, buscar a notícia que confirmaria a hipótese. Ela saiu no dia 15 de março, com o título “Dilma anuncia planos com medidas para melhorar proteção ao consumidor”.

O governo federal lançou nesta sexta-feira o Plano Nacional de Consumo e Cidadania (Plandec), com um pacote de medidas que buscam melhorar a qualidade de produtos e serviços e incentivar as relações de consumo. (…)

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, destacou ainda a criação uma Câmara Nacional de Relações do Consumo (…) O ministro afirmou que os poderes Executivo e Judiciário vão trabalhar juntos para garantir a defesa dos direitos do consumidor no Brasil. O governo deverá focar o tripé que une combate à causa dos conflitos, afirmação de melhor resolução dos conflitos e punição às empresas. O ministro destacou que, com a entrada de milhões de brasileiros na nova classe média, as demandas dessa população ganharam nova dimensão e que os Procons precisam ser fortalecidos. Ele destacou que, hoje, 70% das demandas judiciais nos juizados de pequenas causas são relacionados a demandas do consumidor. O custo médio de cada processo chega a R$ 1mil.66

Ao mesmo tempo em que o jornal anuncia as medidas do governo para proteger esse consumidor da nova classe média, em outras notícias ele começa a explorar o esgotamento da capacidade de consumo do segmento, como é possível

65 Ver anexo 12 deste trabalho. 66 Ver anexo 13 deste trabalho. 103 notar pela ocorrência de expressão “Na classe C, a tão comentada nova_classe_média [sic] e que reúne grande parte dos novos consumidores, também houve queda no volume de compras de bens não duráveis”. 67 O veículo também recorre ao debate acadêmico sobre as condições de vida da nova classe média, conforme a ocorrência de expressão a seguir:

As sociólogas Christiane Uchôa e Celia Kerstenetzky, da UFF, analisaram os indicadores sociais da nova_classe_média [sic], com base na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE de 2009. E se surpreenderam ao perceber que 9% dos pais de família do grupo são analfabetos, 71% das famílias não têm planos de saúde e 1,2% das casas (cerca de 400 mil) sequer têm banheiros. “A chamada nova_classe_média [sic] não se parece com a classe média como a reconhecemos” concluem as pesquisadoras.68

O Globo decide também ouvir o lado do governo, representado por Marcelo Neri, que ainda não havia assumido a SAE interinamente. Em sua fala, o economista parece disposto a entender as críticas, minimizando-as.

Criador do conceito “nova_classe_média”, o economista Marcelo Neri, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vê nas críticas uma reação de sociólogos que, para ele, “se sentem um pouco invadidos”. 69

Na análise de frases importantes, outro trecho chama atenção: nele, um professor da UFRJ é citado, comentando a situação da nova classe média, que não seria assim tão boa. “Para João Saboia, professor de Economia da UFRJ, a melhora da situação da nova_classe_média [sic] deve ser não apenas dentro de casa, mas também fora dela”.70 A citação pode ser encarada como uma chamada de responsabilidade do governo, que deveria ser capaz de prover as melhorias no espaço e serviços públicos – fundamentais para um bem-estar mais efetivo da população.

67 Ver anexo 12 deste trabalho. 68 idem 69 ibidem 70 ver anexo 14 deste trabalho. 104

É também neste pano de fundo de uma necessidade de melhoria geral das condições de vida que a questão eleitoral ressurge, identificada pela seguinte oração, também encontrada entre as frases importantes: “O foco dos tucanos é minimizar duas fragilidades do PSDB: as percepções públicas de que o partido não dialoga com o povo e de que suas políticas não tratam do dia a dia da população”.71 Como ela não cita a nova classe média, foi necessário buscar, no corpus, a notícia da qual foi extraída. Em “Aécio usa a televisão para se tornar mais popular”, publicada no dia 20 de maio, o jornal O Globo comenta a propaganda que o PSDB acabara de lançar nacionalmente – “estrelada” pelo senador mineiro e futuro candidato da sigla à presidência.

Aécio começa a aparecer em pequenos comerciais de 30 segundos, conversando com pessoas comuns sobre economia doméstica. Ou seja, tratará de temas como inflação, impostos e endividamento das famílias, mas sob a perspectiva da chamada nova classe média [sem grifo no original] e das famílias que ainda lutam para chegar a ela. O foco dos tucanos é minimizar duas fragilidades do PSDB: as percepções públicas de que o partido não dialoga com o povo e de que suas políticas não tratam do dia a dia da população.72

As análises do range que vai de março a maio de 2013 mostram a ocorrência de um enquadramento noticioso subjacente, intencional ou não, que explora o paradigma da “falta”, evidente principalmente na cobertura do debate científico sobre o conceito de nova classe média. Famílias sem planos de saúde, casas sem banheiros, governo que deixa a desejar na administração da coisa pública. Este paradigma da “falta” acaba sendo desdobrado em um enquadramento de “vazio de poder”, que poderia ser preenchido pela oposição justamente no aspecto em que o governo se mostrava falho. A nova classe média no seu auge já era disputada, e agora que carecia de maiores cuidados seria mais disputada ainda. Afinal, ela sozinha podia decidir um pleito, e o PSDB não ia perder a chance de tentar conquistar essa nova classe média mais exigente.

71 idem. 72 Ver anexo 15 deste trabalho 105

4.3.6. Alea jacta est - março a maio de 2014

O último trimestre de análise deste trabalho (com as 21 matérias relativas ao período que vai de março a maio de 2014) é também o período em que foram definidos os “gladiadores” da “batalha” da democracia que iria acontecer no mês de outubro daquele ano: em meados de abril, Eduardo Campos e Marina Silva formalizaram chapa à presidência pelo PSB; no final do mês, o PSDB lançou oficialmente a candidatura de Aécio Neves. Dez dias depois, no dia 3 de maio, o PT formalizou a candidatura de Dilma Rousseff à reeleição. E em meio ao turbilhão dos atores políticos se preparando para entrar no palco da campanha eleitoral, o economista Marcelo Neri deixou a presidência do Ipea para assumir em definitivo a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE). Como na época em que assumira a SAE interinamente, os tempos (e enquadramentos) não são os mais auspiciosos: a Standards&Poor`s reduziu a nota de crédito do Brasil, o governo havia elevado a projeção da inflação para aquele ano e o IBGE divulgara um crescimento do PIB de apenas 0,2% entre janeiro e março... mas anunciara a suspensão da divulgação da Pnad Contínua para revisar a metodologia. A capacidade de consumo da nova classe média continuava a ser colocada à prova, e as apostas sobre quem conseguiria cativar o segmento na disputa eleitoral, e como, começaram. A sorte estava lançada. As análises do período são as primeiras, e únicas, em que o termo inflação aparece em destaque. A análise de centralidade e co-ocorrência de termos, por exemplo, traz a palavra em posição periférica, mas diretamente ligada aos termos nova classe média e classe (que também estão interligados) – o que é um indicador bem forte de um enquadramento que trata a questão da inflação como associada à classe social (termo também ligado a classe) e, portanto, à nova classe média: 106

Figura 19: gráfico de centralidade e co-ocorrência de termos – mar-mai/14

O histograma abaixo, com as frequências das 30 palavras mais frequentes, fornece mais indícios da relevância da palavra inflação, já que ela figura entre as cinco mais frequentes, atrás de nova classe média, classe, população e renda:

Figura 20: frequências para os 30 termos mais frequentes - mar-mai/14 107

Figura 20.1: lista dos 30 termos mais frequentes - mar-mai/14

A tagcloud reafirma um certo protagonismo da palavra inflação, bem como de classe, população, renda e social (além de nova classe média), e traz em destaque outros termos que aparecem entre os mais frequentes, como 1,17 e D. Por quê?

Figura 21: tagcloud- mar-mai/14

A análise das ocorrências de expressão esclarece o contexto em que tais palavras aparecem e confirma a importância não somente da palavra inflação, mas de tudo o que envolve, em um campo associativo, a questão de classe e renda, conforme pode-se notar em “(…) (IPCA). A mordida no orçamento só não foi mais doída 108 porque a renda da classe C continuou a subir. No entanto, ainda em fase de expansão, a nova_classe_média [sic] já está dividida. Boa parte se encontra em uma zona de rebaixamento e corre o risco de voltar à classe D”73. A situação da nova classe média era pauta prioritária e era declaradamente relacionada à questão eleitoral. “No domingo, reportagens de O GLOBO sobre os motivos da satisfação/insatisfação do brasileiro e acerca dos efeitos corrosivos da inflação no bolso da “nova_classe_média” ajudam na garimpagem do porquê a maioria dos eleitores desejam Dilma no Planalto, mais [sic] uma proporção bem maior quer mudanças”.74 O espaço de domingo é o mais nobre do jornal, e o trecho indica que diversas matérias na edição citada tentavam entender (ou construir uma ideia de) como o poder de consumo e a sensação de bem-estar da população iriam se tornar ativos eleitorais na disputa que se acercava. O tom crítico e distópico do jornal O Globo exacerba-se em “(…) todos aqueles que foram incluídos na ‘nova_classe_média’ e que, hoje, veem o sonho de melhoria de qualidade de vida se esvair em meio ao transtorno urbano e à conta salgada do supermercado”.75 Outras vezes, o veículo recorre à “imparcialidade” de levantamentos para dar a notícia. “(…) estudo detalhado sobre os ganhos e os gastos das classes C, D e E trouxe um dado novo sobre a classe C, considerada a nova_classe_média do País: a renda dessa parcela da população não é tão estável quanto se pensa”76. O panorama das intenções de voto e a liderança da presidente e candidata à reeleição, Dilma Rousseff, é também objeto de investigação, desta vez científica. Para isso, recorreu-se a uma fonte na academia. O trecho faz parte da matéria “Dilma sobe entre os mais ricos e Aécio melhora entre os mais pobres”, do dia 23 de maio77. “Para a professora de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) Maria do Socorro Sousa Braga, a melhora de Dilma entre os que ganham mais pode ter relação com a nova_classe_média [sic]”78. Mesmo com o panorama político e econômico não muito favorável, a liderança de Dilma demonstrava que ainda havia chances para o PT. Mas, se tanta gente ansiava por mudanças, tal quadro poderia ser revertido. Vale destacar que, na mesma matéria, não

73 Ver anexo 16 deste trabalho 74 Idem 75 Ibidem 76 Ver anexo 16 deste trabalho 77 Ver anexo 17 desse trabalho 78 Idem 109 foram citadas fontes acadêmicas que explicassem a ascensão de Aécio no eleitorado de menor renda. O jornal era taxativo quanto à importância dos rumos e escolhas da nova classe média para o país como um todo. “Somadas, a classe média tradicional e essa nova_classe_média [sic] emergente são 54% da população. Tudo que acontecerá no Brasil nos próximos anos passará por aí”.79 E se 54% já é um número eleitoralmente significativo (afinal, em um segundo turno, a eleição se dá por maioria simples - ou seja, 50% + 1 voto), o montante que esse contingente é capaz de movimentar em termos econômicos tampouco é desprezível. “ensinar [sic] a consumir parece uma necessidade cada dia maior diante de uma nova_classe_média [sic] que já representa 54% da população brasileira, nada menos do que 108 milhões de pessoas, que movimentaram R$ 1,17 trilhão (…)”80. Quais seriam, então, as estratégias de campanha para conquistar esse eleitorado? Uma das expressões fornece pistas. “(…) primeiro ano em que a internet terá papel central na campanha presidencial. E a aposta dos marqueteiros, para se aproximar do eleitor jovem e da nova_classe_média [sic], é explorar a intimidade dos pré-candidatos na rede”. O trecho faz parte da matéria “Candidatos à presidência apostam na divulgação da intimidade na internet para ganhar votos”, do dia 2 de março. Ou seja, as estratégias eleitorais já estavam sendo implementadas na chamada pré-campanha e noticiadas pelo jornal mais de um mês antes do lançamento oficial das candidaturas. O interessante das análises das matérias do trimestre março-maio de 2014 é notar como os enquadramentos das disputas pela nova classe média estão muito mais evidentes, não tanto pelas temáticas associadas ao termo que representa um segmento da população, mas editorialmente. Neste período, o jornal O Globo sai detrás da cortina de uma pretensa imparcialidade e objetividade, posicionando-se abertamente enquanto ator político interessado na disputa que se desenhava e era desenhada pelo veículo. Seguindo a trilha aberta pelo trecho anteriormente citado, e aqui repetido – “No domingo, reportagens de O GLOBO sobre os motivos da satisfação/insatisfação do brasileiro e acerca dos efeitos corrosivos da inflação no bolso da ‘nova_classe_média’ [sic] ajudam na garimpagem do porquê a maioria dos eleitores

79 Ibidem 80 Ver anexo 16 deste trabalho 110 desejam Dilma no Planalto, mais [sic] uma proporção bem maior quer mudanças” chega-se de fato a um texto editorial, assinado por Ricardo Noblat, do dia 27 de maio de 2014. Em “Explicações para o desejo de mudanças (Editorial)”, encontramos a expressão, estatiscamente selecionada pelas ferramentas computacionais:

(…) No domingo, reportagens do GLOBO sobre os motivos da satisfação/insatisfação do brasileiro e acerca dos efeitos corrosivos da inflação no bolso da “nova classe média” ajudam na garimpagem do porquê a maioria dos eleitores deseja Dilma no Planalto, mas uma proporção bem maior quer mudanças. [sem grifo no original] Em síntese, pesquisa da FGV, da Diretoria de Análise de Políticas Públicas, feita junto a 3.600 pessoas, entre março e abril, nas principais regiões metropolitanas, concluiu que, se a vida melhorou dentro de casa, se degradou bastante fora. (…) Supõe-se que os que melhoraram o padrão de vida, com o grande acesso ao crédito dos últimos anos, com o qual mobiliaram, reformaram a casa e adquiriram eletrodomésticos, tendam a preferir manter tudo como está em Brasília. Mas, como padecem da falta de serviços públicos essenciais, querem mudanças. E trata-se de serviços que dependem do Estado. Outro aspecto é o impacto da inflação nos salários dos que acabam de ascender à classe média. Pelos cálculos do Instituto Data Popular, a elevação dos preços subtraiu, em um ano, R$ 73 bilhões do poder de compra desta faixa da população. Descaso com investimentos em infraestrutura urbana e desleixo diante da inflação começam a aparecer no pano de fundo destas eleições. Qual o efeito final nas urnas, ainda não é possível saber. Mas estas são questões a serem consideradas81.

O editorial cita duas pesquisas: uma da Diretoria de Análise de Políticas Públicas (FGV/DAPP) e outra do Instituto Data Popular para embasar, qualificar e dar voz às inquietações do jornal – e estes são procedimentos clássicos e necessários ao jornalismo, se utilizar de fontes credíveis e de aspas. Todavia, o mais importante é

81 Ver anexo 18 deste trabalho 111 que as marcas discursivas que levaram ao editorial aqui transcrito confirmam algo que se resiste admitir: por trás de muitos enquadramentos noticiosos há intenções, e para construir esses enquadramentos são instrumentalizados (no sentido de servirem como citações que ajudam a contar uma “história”, a notícia) fatos, dados, fontes e até mesmo instituições cujos estudos convêm a essas intenções. Isso não quer dizer que tudo faça parte de uma grande teoria da conspiração, mas sim que é não é possível dissociar a visão de um veículo jornalístico, inserido no sistema econômico de uma forma geral, dos enquadramentos diários de suas notícias. Esta constatação não faz parte da hipótese inicial deste trabalho e por isso não será aprofundada; no entanto, não foi possível deixar de assinalá-la. O que faz parte da hipótese inicial desta pesquisa é a ocorrência de mudanças nos enquadramentos sobre a nova classe média em função de variáveis políticas, e esta constatação é mais um dos elementos que confirmam que os enquadramentos mudam, e significativamente, em função de tais variáveis. Para tornar tais inflexões nos enquadramentos do jornal O Globo evidentes em uma perspectiva diacrônica e contrastiva, o final deste capítulo traz as chamadas análises de dispersão lexical. Elas levam em consideração todo o corpus de notícias, mas seus resultados são comparados tendo como base a divisão do mesmo nos períodos 1 e 2, que correspondem respectivamente ao tempo de atuação de Marcelo Neri na FGV e, a posteriori, no governo.

4.4. Panorama dos enquadramentos do jornal O Globo sobre a nova classe média

O lexical dispersion plot (ou gráfico de dispersão lexical) é o tipo de análise escolhido para fornecer um panorama dos enquadramentos predominantes no jornal O Globo sobre a nova classe média, além de trazer pistas sobre a associação do termo nova classe média ao economista Marcelo Neri e às instituições às quais esteve vinculado. O gráfico de dispersão lexical é uma forma de visualização temporal de dados linguísticos que mostra a posição relativa de determinadas palavras por meio de pontos que indicam a localização das mesmas no corpus. O eixo X estrutura-se cronologicamente através da distância entre as palavras, como se todas as palavras de todos os textos que compõem o estudo tivessem sido “empilhadas” ao longo do tempo. Isso significa dizer que quanto mais próximas do 0, mais próximas as palavras se encontram do início do range de análise. 112

Os gráficos analisam a dispersão de todas as palavras no corpus de notícias relacionadas à nova classe média ao longo dos dois grandes períodos do estudo: o primeiro correspondente ao tempo atuação de Neri na FGV, e o segundo, à época em que Neri atuava no governo. As palavras escolhidas para a análise são FGV, CPS, Ipea, Secretaria de Assuntos Estratégicos, SAE, Néri, Neri, Dilma, Lula, FHC, Fernando Henrique, Aécio, PT e PSDB. No primeiro momento, nota-se uma intensa concentração de todas essas palavras (com exceção de Aécio) – principalmente das que pertencem ao campo associativo governo, como SAE, Dilma, Lula e PT. Tal concentração indica que o governo do PT foi homogeneamente citado ao longo de todo primeiro período de análise; no entanto, interessante é perceber que as palavras PSDB e FHC também são bastante e homogeneamente citadas, o que fornece mais indícios do enquadramento de intensa disputa político-partidária em torno da nova classe média nas notícias do jornal O Globo que vão de dezembro de 2010 e agosto de 2012. Vale destacar, ainda, como as palavras Néri e Neri (que compreendem as duas variações do sobrenome do economista encontradas nos textos do veículo, a primeira com erro de grafia) são bastante citadas no decorrer do período 1, o que aponta para um grande correlação entre as menções ao economista e ao termo nova classe média.

1

113

2

Figura 22: lexical dispersion plot – quadro comparativo dos períodos de análise 1 e 2 para atores político-partidários

Já no segundo quadro as disputas político-partidárias ficam mais rarefeitas, como fica evidente pela quantidade bem menor de palavras relacionadas ao governo e ao PSDB: neste período, a identidade dos atores em disputa pela nova classe média já não é tão importante para os enquadramentos noticiosos. No entanto, o enquadramento de disputa eleitoral é fortalecido com o surgimento do senador mineiro Aécio Neves no final da análise – que é também a época em que suas estratégias na pré-campanha (voltadas para a nova classe média) são divulgadas e sua candidatura à presidência é oficializada pelo PSDB. As citações à FGV permanecem estáveis nos dois períodos e o Ipea é muito pouco citado em ambos, enquanto as menções relativas à SAE diminuem bastante – assim como as menções a Marcelo Neri. Sobre este último aspecto, duas hipóteses não-excludentes são consideradas: a) a diminuição das menções à SAE e ao economista estão correlacionadas, já que seriam sintomáticas de um menor protagonismo conferido ao governo nas notícias sobre a nova classe média no jornal O Globo; b) a menor quantidade de menções a Marcelo Neri aponta para um certo “descolamento” entre seu nome e a nova classe média, o que pode ser indicativo de uma perda relativa da relevância da “autoria acadêmica” do conceito – já que, a partir deste momento, o economista representava o governo. Outro quadro comparativo de dispersão lexical confirma a predominância de um enquadramento de deterioração econômica no segundo momento da análise. Para tentar identificar como, e em que medida, os assuntos relativos ao consumo e à 114 economia apareceram nos dois períodos, foram escolhidas as palavras renda, inflação, consumo, consumidor, mercado e trabalho. A palavra evangélicos também está no quadro a seguir, embora sua análise esteja relacionada às disputas político-partidárias. Seguindo a tendência de concentração da disputa político-partidária identificada no primeiro período de análise, as menções ao grupo evangélicos estão todas localizadas neste ínterim e ausentes do posterior. Já a distribuição das palavras no campo associativo de economia e consumo é mais equilibrada; contudo, as sutilezas das frequências e posições revelam alterações nos enquadramentos predominantes. A palavra renda é encontrada de forma abundante e homogênea ao longo dos dois períodos de análise, o que significa que a questão da renda esteve fortemente associada à nova classe média no corpus de notícias de maneira geral. A palavra consumo é bem mais frequente no primeiro período, enquanto a palavra consumidor aparece bem menos. No segundo período de análise, esta relação inverte-se: enquanto o substantivo consumo escasseia, consumidor tem sua frequência aumentada e sua distribuição torna-se mais homogênea na extensão do intervalo.

1

115

2

Figura 23: lexical dispersion plot – quadro comparativo dos períodos de análise 1 e 2 para palavras relacionadas à economia e consumo (+ evangélicos)

Embora a distribuição de uma delas compense a da outra – já que consumo e consumidor fazem parte do campo associativo “consumo” – em uma camada semântica mais profunda há uma digressão do sentido de consumo (em sua acepção ampla) para uma personificação do ato de “consumir”: no segundo período de análise, o consumidor é mais relevante do que a abstração representada pela palavra consumo. É também no segundo período de análise que as menções à inflação dobram, representadas pelos seus pontos de localização no corpus. No primeiro são contabilizados 5; no segundo, 10. Tal fato confirma a construção discursiva do jornal com ênfase em um cenário de deterioração econômica – exemplificado nas notícias por meio da percepção da inflação e de sua influência direta no poder de compra do consumidor. As palavras mercado e trabalho também estão presentes ao longo dos dois períodos, sendo que trabalho aparece dissociado de mercado no início do segundo; neste intervalo (que equivale a um terço do segundo período), mercado está correlacionado apenas à consumidor. Ou seja, houve uma desambiguação do sentido de mercado, que poderia ser mercado de trabalho ou mercado consumidor – denotando que, no terço inicial do segundo range de análise, a ênfase dos enquadramentos noticiosos estava em mercado consumidor. 116

As análises dos diversos lexical dispersion plots confirmam que o enquadramento de disputa política (de uma forma geral) é predominante no primeiro período de análise e o de deterioração econômica, no segundo; contudo, elas também demonstram que a questão da renda e do consumo foram pano de fundo para ambas as abordagens – o que contribui para corroborar a percepção de que a situação econômica da nova classe média foi decisiva para os enquadramentos do jornal O Globo nas notícias que tratavam sobre ela como pauta principal, ou como assunto secundário, tratado a reboque de outras questões.

117

Conclusão

Os enquadramentos do jornal O Globo sobre a nova classe média são, de fato, sensíveis a variáveis políticas (e econômicas) de alcance nacional: as disputas político-partidárias, eleitorais, a condução das políticas governamentais e a situação político-econômica do país estão relacionadas a inflexões significativas nos vieses das notícias que trazem a nova classe média como pauta principal, “pano-de-fundo” ou gancho para as demais questões tratadas pelo veículo estudado. Esta é a principal conclusão desta pesquisa – cuja hipótese inicial era verificar se, e em que medida, os enquadramentos das notícias sobre a nova classe média mudavam em função de variáveis políticas. Pode-se afirmar, portanto, que tal hipótese de trabalho foi confirmada; todavia, ter a hipótese confirmada não significa que a condução das análises empíricas textualmente orientadas não trouxe surpresas, ou não impôs correções nos rumos da investigação. A revisão fundamental que o andamento das análises exigiu foi o deslocamento do foco institucional inicialmente pensado para este estudo em direção a outro, de cunho político-conjuntural em nível macro. Ao ser formulada, a hipótese de trabalho presumia que a saída do economista Marcelo Neri da FGV para o governo seria a variável-chave para as mudanças de enquadramento nas notícias sobre a nova classe média no jornal O Globo. No entanto, as próprias análises revelaram que a variável primária – ou principal – é o contexto político e econômico brasileiro. Quando o país vivia o que era narrado como sua fase áurea e estava no começo de um terceiro mandato seguido do PT, os enquadramentos sobre a nova classe média diziam respeito às disputas políticas e partidárias em torno dela. As últimas eleições presidenciais ainda eram recentes e deixaram lições: o partido ou grupo de poder que quisesse ganhar as próximas deveria conquistar “corações e mentes” do segmento. Paralelamente, o jornal cobria as tomadas de decisão do Palácio do Planalto, agora sob comando de Dilma Rousseff. Como e para quem ela governaria? Na trilha aberta por Lula (cujo governo deixara a nova classe média como um dos principais legados), a nova classe média aparecia como prioritária em diversos tipos de políticas públicas (acesso à cultura, inclusão digital) – mas sempre como mercado consumidor. E é neste contexto de promoção (e valorização) do potencial de consumo da nova classe média que o economista Marcelo Neri é convidado para fazer parte dos quadros governamentais: primeiro, como presidente do Ipea, depois e 118 concomitantemente, como ministro-interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), até assumi-la em definitivo. Como frisava Moreira Franco antes de deixar a pasta, a nova classe média era uma agenda de extrema importância, e em prol da mesma seriam direcionados os esforços do governo. Em um segundo momento, as condições econômicas do país davam margem a enquadramentos abertamente mais críticos do jornal O Globo quanto à gestão petista. Nas pautas, a nova classe média era personagem (no sentido do jargão jornalístico) “símbolo” de que as coisas já não eram iguais a antes; uma espécie de termômetro não apenas do país, mas do governo do PT: se a nova classe média não estava bem, o governo estava deixando a desejar – a relação de causalidade estava implícita em construções discursivas que sugeriam que o primeiro fato era consequência (ou sintoma) do outro. A manutenção do potencial de consumo desta nova classe média era uma das preocupações do jornal, que tratava do assunto em suas matérias. Os enquadramentos chamavam a atenção para a importância do poderio econômico que o segmento representava e trouxeram de volta a questão eleitoral (já que novas eleições presidenciais ocorreriam em breve), lembrando que a nova classe média compreendia mais da metade dos habitantes do Brasil. O bem-estar dessa nova classe média e da população em geral também era alvo de questionamentos, e estes elementos contribuíram para a construção de enquadramentos de polarização e partidarização políticos. O Globo não se arriscava a fazer prognósticos, mas deixava claro que a situação da nova classe média seria um ativo eleitoral decisivo no pleito de outubro de 2014 – e que o estrato continuava a ser, portanto, objeto de disputa. Enquanto isso, revelava as estratégias de campanha antes mesmo do anúncio oficial das candidaturas e investigava as razões para a liderança da presidente Dilma nas intenções de voto. Neste período, as análises trouxeram ainda as marcas discursivas que posicionam explicitamente o jornal enquanto ator interessado na disputa eleitoral que seria travada mais adiante, colaborando inclusive para o seu agendamento. A percepção de que os enquadramentos noticiosos sobre a nova classe média se alteram em função das variáveis político-conjunturais não invalida, contudo, a formação do corpus e do período de análise tendo como marco a ida de Marcelo Neri da FGV para o governo: o momento de mudança na atuação profissional do economista está ligado a um momento esperançoso com relação ao país e ao reforço do prestígio da nova classe média no programa de governo do PT – constituindo, 119 assim, um balizador fundamental não apenas da carreira de Neri, como da gestão Dilma Rousseff no que tange ao segmento. Tal iniciativa do governo Dilma (o convite para que Marcelo Neri assumisse a presidência do Ipea), porém, não pareceu ser suficiente para que, dali em diante, o jornal O Globo abordasse os assuntos relativos à nova classe média com o mesmo tom confiante que predominava até então: o declínio econômico mostrou-se mais determinante na construção dos enquadramentos do que as políticas e tomadas de decisão governamentais direcionadas a ela. Da mesma forma, a cronologia da trajetória de Marcelo Neri e dos estudos sobre a nova classe média (realizados por ele ou sob sua direção) continua pertinente a esta pesquisa, já que é crucial para a compreensão da relevância do fenômeno nova classe média na história recente do país e para o entendimento da fixação do conceito no debate público por meio dos enquadramentos da mídia. A Análise de Enquadramento Textualmente Orientada proposta neste trabalho está longe de se esgotar, demandando uma série de ajustes e aperfeiçoamentos metodológicos. Ela possui, contudo, o inegável mérito de avançar na operacionalização da análise de enquadramento por meio de ferramentas computacionais que permitem o processamento de grandes amostras discursivas – ferramentas estas igualmente capazes de fornecer resultados linguísticos bastante objetivos, além de variados. Não obstante as necessidades de aprimoramento, a metodologia mostra-se eficaz no objetivo almejado: apontar de que maneira as modificações nos usos linguageiros das notícias estão ligadas não apenas a mudanças nos enquadramentos noticiosos, mas a processos sociais mais amplos, como disputas de poder. Ademais, a análise dos enquadramentos da mídia enquanto método crítico comprovou a hipótese da influência de variáveis políticas nos mesmos, e foi fundamental para a identificação de marcas discursivas que ajudam a desnaturalizar o relato jornalístico – frequentemente associado a um “espelho” graças a técnicas de produção e redação que visam fazê-lo parecer imparcial e objetivo, ao invés de uma prática narrativa que também constrói a realidade sobre a qual se debruça. A utilidade do desenvolvimento de métodos críticos de análise dos enquadramentos da mídia é, por essas razões, inconteste. Afinal, tais enquadramentos ainda são consideravelmente responsáveis pela produção, consolidação, organização e compartilhamento de sentidos na sociedade, e desvendá-los faz parte da tentativa de 120 se compreender a importância e o funcionamento dos fluxos simbólicos no meio social.

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Notícias online

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Sites institucionais e publicações institucionais online

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Outros sites

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126

Anexos

Anexo 1

Anexo 1: imagem de arquixo txt para notícia “Alckmin usa Dirceu para atacar Lula, que tenta atrair classe média”, de 26 de outubro de 2006. É desta forma que a rotina de programação extrai o texto da notícia.

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Anexo 2 frases mais importantes(1): posse nas Comunicações, que foi incumbido pela presidente Dilma Rousseff de mapear as empresas capazes de fornecer equipamentos para o setor de informática e comunicações. A chamada "nova_classe_média" deverá encerrar 2010 com 45% da fatia de gastos desses produtos no país, enquanto os mais ricos ficarão com 37%. Em sua primeira fala como ministra, Ana aproveitou para fazer um apelo aos muitos parlamentares presentes: para que o Vale Cultura - que subsidia a ida de trabalhadores a programas culturais - seja aprovado ainda este ano. A ministra quer que cinema, teatro, música e outros bens culturais também ganhem o gosto da nova_classe_média brasileira. Quando o Juscelino Kubitschek me contou que a oposição foi a a Suprema Corte para destruir seu programa, percebi que o Padre Eterno fez pelo senhor o que fez por mim: presenteou-nos com uma oposição que assegura nosso lugar na História. O mercado doméstico apresentou crescimento de 4,7%, principalmente em função dos seguintes fatores: (i) melhor cenário econômico brasileiro, que contribuiu para o maior acesso da nova_classe_média brasileira ao transporte aéreo no País; (ii) índices positivos de 127

regularidade e pontualidade, como resultado das medidas adotadas na malha aérea e escala de tripulantes, de forma a garantir uma operação consistente durante o principal período do ano em termos de volume de tráfego; (iii) gerenciamento dinâmico de tarifas, que permitiu o fortalecimento do yield nesse mês; (iv) ampliação do número de destinos regionais brasileiros, bem como adição dos mercados operados pela NOAR e a recente introdução do acordo comercial com a Passaredo; e (v) foco da Companhia em voos de curta duração (cerca de 95% das decolagens da GOL correspondem a voos de até 3 horas). Trinta anos depois, verificou-se que a GI Bill foi um dos fatores determinantes para o surgimento de uma nova_classe_média. Essa nova_classe_média abarca agora 50,5% da população e reúne famílias com uma renda domiciliar entre R$ 1.126 e R$ 4.854 mensais, com variações relacionadas ao número de dependentes. Segundo a classificação da Fundação Getulio Vargas (FGV), as famílias de classe C são aquelas com renda mensal entre R$ 1.115 e R$ 4.807.

frases mais importantes(2): posse nas Comunicações, que foi incumbido pela presidente Dilma Rousseff de mapear as empresas capazes de fornecer equipamentos para o setor de informática e comunicações.

A ministra quer que cinema, teatro, música e outros bens culturais também ganhem o gosto da nova_classe_média brasileira.

Quando o Juscelino Kubitschek me contou que a oposição foi a a Suprema Corte para destruir seu programa, percebi que o Padre Eterno fez pelo senhor o que fez por mim: presenteou-nos com uma oposição que assegura nosso lugar na História.

O mercado doméstico apresentou crescimento de 4,7%, principalmente em função dos seguintes fatores: (i) melhor cenário econômico brasileiro, que contribuiu para o maior acesso da nova_classe_média brasileira ao transporte aéreo no País; (ii) índices positivos de regularidade e pontualidade, como resultado das medidas adotadas na malha aérea e escala de tripulantes, de forma a garantir uma operação consistente durante o principal período do ano em termos de volume de tráfego; (iii) gerenciamento dinâmico de tarifas, que permitiu o fortalecimento do yield nesse mês; (iv) ampliação do número de destinos regionais brasileiros, bem como adição dos mercados operados pela NOAR e a recente introdução do acordo comercial com a Passaredo; e (v) foco da Companhia em voos de curta duração (cerca de 95% das decolagens da GOL correspondem a voos de até 3 horas).

Essa nova_classe_média abarca agora 50,5% da população e reúne famílias com uma renda domiciliar entre R$ 1.126 e R$ 4.854 mensais, com variações relacionadas ao número de dependentes.

Trinta anos depois, verificou-se que a GI Bill foi um dos fatores determinantes para o surgimento de uma nova_classe_média.

Anexo 2: frases mais importantes para o período de análise que vai de dezembro de 2010 a fevereiro de 2011. Como não foi possível fazer a imagem de todo o documento, o conteúdo foi recortado e colado, encontrando-se da mesma forma como foi extraído pela rotina de programação.

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Anexo 3

os que mais vêm sendo consumidos são os eletrodomésticos. A ministra quer que cinema, teatro, música e outros bens culturais também ganhem o gosto da nova_classe_média 128

brasileira. Em sua primeira fala como ministra, Ana aproveitou para fazer um apelo aos muitos parlamentares presentes: para que o Va os que mais vêm sendo consumidos são os eletrodomésticos. A ministra quer que cinema, teatro, música e outros bens culturais também ganhem o gosto da nova_classe_média brasileira. Em sua primeira fala como ministra, Ana aproveitou para fazer um apelo aos muitos parlamentares presentes: para que o Va ornou a principal consumidora de eletrodomésticos e eletrônicos e desbancou as famílias das classes A e B durante os anos de governo Lula. A chamada "nova_classe_média" deverá encerrar 2010 com 45% da fatia de gastos desses produtos no país, enquanto os mais ricos ficarão com 37%. RIO - A classe C -

- A classe C - a grande queridinha do varejo brasileiro nos últimos anos - agora também é a estrela do mercado financeiro. Depois de ir às compras, a nova_classe_média despertou seu interesse pelas ações, revela reportagem de Lucianne Carneiro, publicada na edição deste domingo do GLOBO. Estudo feit s apenas em proteger os veteranos da guerra. Trinta anos depois, verificou-se que a GI Bill foi um dos fatores determinantes para o surgimento de uma nova_classe_média. Quando o Juscelino Kubitschek me contou que a oposição foi à Suprema Corte para destruir seu programa, percebi que o Padre Eterno f nosso lugar na História. Sete anos e oito meses depois, a Folha voltou a procurá-las. Três deixaram para trás a renda média de R$ 500 e ascenderam à nova_classe_média ou estão no limiar. Essa nova_classe_média abarca agora 50,5% da população e reúne famílias com uma renda domiciliar entre R$ 1.126 meses depois, a Folha voltou a procurá-las. Três deixaram para trás a renda média de R$ 500 e ascenderam à nova_classe_média ou estão no limiar. Essa nova_classe_média abarca agora 50,5% da população e reúne famílias com uma renda domiciliar entre R$ 1.126 e R$ 4.854 mensais, com variações relaciona e R$ 4.854 mensais, com variações relacionadas ao número de dependentes. Segundo Meirelles, o crescimento do consumo na classe C, também chamada de 'nova_classe_média', tem três explicações: o grupo social inchou no período, passando a englobar 50,5% dos brasileiros, segundo a Fundação Getúlio Varg m, e também cresceu a oferta de crédito a seus integrantes. Nesse setor, segundo o Data Popular, a classe C já gasta mais do que as classes A e B: a 'nova_classe_média' deverá encerrar 2010 com 45% das despesas com esses produtos, enquanto os mais ricos responderão por 37%. O mercado doméstico apres u crescimento de 4,7%, principalmente em função dos seguintes fatores: (i) melhor cenário econômico brasileiro, que contribuiu para o maior acesso da nova_classe_média brasileira ao transporte aéreo no País; (ii) índices positivos de regularidade e pontualidade, como resultado das medidas adotadas n decolagens da GOL correspondem a voos de até 3 horas). Assim como o varejo descobriu e está investindo no atendimento diferenciado ao consumidor da "nova_classe_média", os autônomos, profissionais liberais, vendedores ambulantes e microempreendedores em geral formam a "classe C" do mercado brasilei h relatam as festas selvagens de famílias abastadas, movidas a sexo e drogas na ultraconservadora Arábia Saudita. Um sinal de que o surgimento de uma nova_classe_média, com nível universitário, interessada em sucesso e status, terá grande impacto no Oriente Médio nos próximos anos. "A grande batalha 129

mo e à religião que causou a transformação, mas o comércio", compara o escritor paquistanês Vali Nasr, em seu livro "Forças da fortuna, a ascensão da nova_classe_média muçulmana". posse nas Comunicações, que foi incumbido pela presidente Dilma Rousseff de mapear as empresas capazes de fornecer equip dente Dilma Rousseff de mapear as empresas capazes de fornecer equipamentos para o setor de informática e comunicações. Segundo ele, Dilma quer que a nova_classe_média possa comprar tablets a prestação. "Família Braz II", de Dorrit Harazim e Arthur Fontes (RJ, 82 min). Reencontrando personagens foca t Harazim e Arthur Fontes (RJ, 82 min). Reencontrando personagens focalizados em outro documentário, há uma década, os diretores atualizam a visão da nova_classe_média brasileira, através do perfil de uma família moradora na Vila Brasilândia paulistana.

Anexo 3: ocorrências de expressão para o de análise que vai de dezembro de 2010 a fevereiro de 2011. Como não foi possível fazer a imagem de todo o documento, o conteúdo foi recortado e colado, encontrando-se da mesma forma como foi extraído pela rotina de programação. O mesmo padrão é adotado nos demais anexos.

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Anexo 4

Anexo 4: imagem do arquivo txt da notícia “Governo vai dar incentivos fiscais para popularizar tablets, diz Bernardo”, de 20 de janeiro de 2011.

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Anexo 5

SÃO PAULO - A Gol inicia neste mês a venda de passagens aéreas em quiosques instalados em estações do metrô paulista. A empresa pretende atrair a nova_classe_média com o canal de vendas. BRASÍLIA - "Galinha dos ovos de ouro", na avaliação do governo, a nova_classe_média é um dos cinco alvos prio etrô paulista. A empresa pretende atrair a nova_classe_média com o canal de vendas. BRASÍLIA - "Galinha dos ovos de ouro", na avaliação do governo, a nova_classe_média é um dos cinco alvos prioritários da política de longo prazo que está sendo elaborada sob a coordenação do ministro da Secretaria de mpedir a perda de poder aquisitivo dos que ascenderam às classes C e D na última década e o retorno dessa fatia da população à situação de pobreza. A nova_classe_média já está no radar da oposição, o que ficou claro recentemente em um artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. No texto, publ

"Interesse Nacional", FH defende que as oposições devem deixar de lado o "povão" e priorizar as novas classes médias. Moreira Franco também analisa a nova_classe_média para além de seu impacto na economia. Segundo ele, esta parcela da população pode ter, do ponto de vista histórico, o mesmo signific qualidade: - Isso definiu institucionalmente o tamanho e a presença do Estado brasileiro e teve efeitos político-eleitorais. Se houver esta trava, a nova_classe_média poderá cumprir o mesmo papel. Estamos vivendo uma nova etapa, novo padrão e qualidade de crescimento econômico. Além da nova_classe_ ta trava, a nova_classe_média poderá cumprir o mesmo papel. Estamos vivendo uma nova etapa, novo padrão e qualidade de crescimento econômico. Além da nova_classe_média, os outros quatro pontos básicos de atuação de sua secretaria são a erradicação da pobreza, o desenvolvimento pleno na primeira infâ ar políticas específicas para estas áreas e já vem ajudando ministérios, estados e municípios a executarem ações. As políticas específicas voltadas à nova_classe_média ainda estão sendo elaboradas. Mas já está claro que o conjunto de ferramentas a serem usadas precisa levar em consideração a conjunt

"no conta-gotas", segundo o ministro, de modo que possam se adequar aos cenários doméstico e internacional sem prejudicar o andamento da economia. A nova_classe_média, segundo o ministro, tem papel-chave para o desenvolvimento do país, daí a necessidade de se investir em políticas voltadas para est egos e garantir produtividade à economia. O ex-presidente Lula quer forçar o PT a abrir o leque de alianças em São Paulo para avançar sobre a chamada nova_classe_média e os "órfãos do malufismo e do quercismo" nas eleições de 2012. Assinante do jornal leia mais em Lula quer atrair malufistas e nova_ mada nova_classe_média e os "órfãos do malufismo e do quercismo" nas eleições de 2012. Assinante do jornal leia mais em Lula quer atrair malufistas e nova_classe_média em SP A nova rodada de resultados do Censo 2010 derrama baldes de água fria na disputa pela nova_classe_média. É fato que houve mobi a mais em Lula quer atrair malufistas e nova_classe_média em SP 131

A nova rodada de resultados do Censo 2010 derrama baldes de água fria na disputa pela nova_classe_média. É fato que houve mobilidade social, mas a maior parte dos brasileiros continua pobre e sem acesso a condições dignas de vida. Isso, a pobre e sem acesso a condições dignas de vida. Isso, nua e cruamente, é o que revela o IBGE.

RIO - O PT é citado como o partido mais admirado pela nova_classe_média, faixa que reúne as famílias com renda mensal entre três e dez salários mínimos. Já o PSDB tem seu melhor desempenho entre os eleito contra 6% do PMDB e 5% do PSDB. Só se fala na expansão da classe C - e não à toa. Os mais de 20 milhões de brasileiros que passaram a fazer parte da nova_classe_média entraram de vez para a sociedade de consumo e, nos últimos anos, abocanharam parte dos produtos que tinham sido elaborados, original e ao entretenimento, aos novos serviços espalhados pelo Brasil afora, às quais se soma o que vem sendo chamado sem muita precisão de “classe c” ou de nova_classe_média. A Nestlé já tem 31 unidade fabris no Brasil e além da nova fábrica no Rio de Janeiro, pelo menos uma a mais pode ser anunciada pela

Zurita disse que a outra unidade poderá ser erguida ou no Sudeste, para ficar perto do mercado consumidor, ou no Nordeste, para atender a ascensão da nova_classe_média. A economista Laura Haralyi, do Itaú Unibanco, lembra que a demanda da nova_classe_média brasileira pressiona a inflação - que, para rcado consumidor, ou no Nordeste, para atender a ascensão da nova_classe_média. A economista Laura Haralyi, do Itaú Unibanco, lembra que a demanda da nova_classe_média brasileira pressiona a inflação - que, para 2011, está prevista pelo banco para fechar em 6,3%. Isso permite o repasse das altas das ersonagens de "A Família Braz", moradores da Vila Brasilândia, na Zona Norte paulistana, para constatar que todos melhoraram de vida, subindo para a "nova_classe_média" que emergiu da bonança econômica do governo Lula. Cada um dos adultos tem seu carro na garagem, com acesso a bens antes impensáveis verteu o jogo no debate político brasileiro. O ponto: o sociólogo e presidente de honra do PSDB tenta entender qual será o papel político da chamada "nova_classe_média", cuja ascensão há muito vem sendo discutida pelos economistas. A aprovação de Dilma em setores de classe média aumentou. E FHC cham o vem sendo discutida pelos economistas. A aprovação de Dilma em setores de classe média aumentou. E FHC chama a atenção para a disputa pelo voto da "nova_classe_média". Todos estão de olho nos emergentes? Essa reflexão deve ter sido feita pelo ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso. S o do PSDB, em que pregou um ativismo maior das oposições e a busca de uma nova base social. Não o “povão”, que teria sido cooptado pelo PT, mas sim a nova_classe_média, que hoje compra apartamentos em 30 anos, adquire eletrodomésticos à vista e viaja quando quer para o Exterior. Kátia Abreu está con a e viaja quando quer para o Exterior. Kátia Abreu está convencida de que existe um nicho eleitoral que o novo partido pode ocupar, representado pela nova_classe_média ascendente e por todos os anseios e necessidades que virão com ela. Depois de tentar ridicularizar a preocupação do ex-presidente Fe

132

por todos os anseios e necessidades que virão com ela. Depois de tentar ridicularizar a preocupação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso com a nova_classe_média brasileira, transformando-a em abandono das classes populares, em reunião ontem com prefeitos do PT no estado de São Paulo o ex-pres

, como as classes médias e os empresários. O GLOBO : Foi isso que levou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a sugerir que a oposição invista na nova_classe_média em vez de disputar o apoio do povão com o PT? RIO - Só se fala na expansão da classe C - e não à toa. Os mais de 20 milhões de brasi o apoio do povão com o PT? RIO - Só se fala na expansão da classe C - e não à toa. Os mais de 20 milhões de brasileiros que passaram a fazer parte da nova_classe_média entraram de vez para a sociedade de consumo e, nos últimos anos, abocanharam parte dos produtos que tinham sido elaborados, original e Fabiana Ribeiro.

O presidente estadual do PT, deputado Edinho Silva, afirmou que outra estratégia das eleições será disputar com o PSDB o apoio da nova_classe_média, formada a partir de avanços na economia e de políticas sociais do governo Lula. O setor já é cobiçado pelos tucanos, conforme defen olêmico artigo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na semana passada.

Em polêmico artigo para uma revista, propôs que as oposições invistam na nova_classe_média, arrematando com a tese de que, "se o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os movimentos sociais ou sociais ou o povão, isto é, sobre as massas carentes e pouco informadas, falarão sozinhos". Para cumprir o objetivo, Innocenzi confia na ascensão da nova_classe_média no Brasil. O executivo lembrou que no ano passado 7 milhões de brasileiros viajaram de avião pela primeira vez, em voos dentro do pa tinentes. RIO - A oferta de crédito fácil por instituições financeiras particulares e os subsídios públicos do programa Minha Casa Minha Vida, para a nova_classe_média, levaram a região entre Bangu e Campo Grande (AP-5) a consolidar a primeira colocação no ranking, em área construída, de novas unida e 14.123 unidades para 11.767 no ano passado): SÃO PAULO - Após dois dias de debates sobre como será o futuro do turismo na era da internet e sobre a nova_classe_média brasileira, o triste presente da falta de infraestrutura dos aeroportos do país foi o tema do painel que fechou o Fórum Panrotas, no ismo internacional. O presidente estadual do PT, deputado Edinho Silva, afirmou que outra estratégia das eleições será disputar com o PSDB o apoio da nova_classe_média, formada a partir de avanços na economia e de políticas sociais do governo Lula. O setor já é cobiçado pelos tucanos, conforme defen

Anexo 5: ocorrências de expressão para o período de análise que vai de março a maio de 2011.

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Anexo 6: 133

Para ler a íntegra clique em O PSDB e seus Dilemas

Em seu já famoso texto a respeito dos desafios da oposição, publicado há três semanas na revista Interesse Nacional, Fernando Henrique Cardoso sugere que o PSDB precisa reinventar-se, seja no plano programático, seja em sua inserção social.

A parte mais conhecida do artigo é a que trata da segunda questão, na qual FHC propõe uma reconsideração do “público a ser alcançado” por seu partido. É nela que aparece a frase que mais discussões suscitou.

Embora não dissesse, em nenhum momento, que o PSDB devia “se esquecer do povão”, é isso que ficou. Seu argumento era outro: para ele, as oposições não deviam permanecer em uma eterna queda de braço com o PT pela simpatia do “povão” e dos movimentos sociais, pois era uma disputa desigual, dado o poder de persuasão e a capacidade de cooptação do governo (ou seja, do próprio PT).

Tendo, em uma das mãos, o Bolsa-Família, e, na outra, o controle das centrais sindicais e dos movimentos populares organizados, era uma briga da qual o PT sairia sempre vencedor.

Na opinião do ex-presidente, o PSDB devia voltar-se para outros segmentos da sociedade, sub-representados e silenciosos.

Seria um terreno mais fértil, formado por “toda uma gama de classes médias”: “novas classes possuidoras”, “profissionais das atividades contemporâneas ligadas à TI e ao entretenimento”, “aos novos serviços espalhados Brasil afora”.

Ou seja, não é que o PSDB devesse abdicar do “povão”, mas constatar que havia todo um Brasil sem voz a atrair. Esse seria o “público a ser alcançado”.

É fácil enxergar no artigo a mágoa de FHC contra a ingratidão do “povão”. O tom depreciativo e pouco simpático que adota (“massas carentes e pouco informadas” , “benesses às massas”, a própria palavra “povão”, etc.), típico do pensamento elitista, sugere a decepção de quem, um dia, se achava adorado e, em outro, se viu desprezado.

Deve mesmo ser complicado para alguém com seus atributos de personalidade saber-se um ex-presidente com avaliação tão negativa, depois de ter estado nas graças de todo o país, como brilhante vencedor da luta contra a inflação.

E o pior é que o “povão” foi traí-lo justo com seu maior inimigo, o PT. Não foi apenas que ele caiu, mas que outros subiram.

Anexo 6: texto do artigo “O PSDB e seus Dilemas”, do dia 27 de abril de 2011. Extraído pela rotina de programação.

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Anexo 7

BRASÍLIA e SÃO PAULO - Causou constrangimento no PSDB e no DEM a forma como o ex- presidente Fernando Henrique, no artigo "O papel da oposição", na revista "Interesse Nacional", expôs sua estratégia para a volta ao poder: deixar de lado o "povão" e priorizar as novas classes médias. Para parlamentares dos dois partidos, a repercussão dessa declaração anulou o impacto dos bons argumentos utilizados por FH.

A avaliação é que FH teria acertado se tivesse ficado na crítica ao aparelhamento dos movimentos sociais pelo PT e na impossibilidade de a oposição atrair esse público. Já petistas disseram que o artigo frisou o "perfil elitista" do PSDB. Trechos do artigo foram 134

publicados nesta terça-feira pela "Folha de S. Paulo". O texto integral saiu, depois, no Blog do Noblat.Aécio se diz mais otimista com o futuro da oposição

No artigo, Fernando Henrique diz: "Enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os 'movimentos sociais' ou o 'povão', isto é, sobre as massas carentes e pouco informadas, falarão sozinhos. Isto porque o governo 'aparelhou', cooptou com benesses e recursos as principais centrais sindicais e os movimentos organizados da sociedade civil e dispõe de mecanismos de concessão de benesses às massas carentes mais eficazes do que a palavra dos oposicionistas, além da influência que exerce na mídia com as verbas publicitárias."

- Vejo o futuro da oposição numa ótica mais otimista do que o presidente Fernando Henrique. Sou mais otimista em relação à afirmação da oposição, diante das várias classes sociais, até mesmo em razão do êxito das gestões do PSDB tanto no plano nacional como no estadual. Em Minas, o resultado das gestões do PSDB nos aproximou muito de integrantes das classes C e D. O artigo é um belo documento que deve ser compreendido na sua inteireza. Não se pode destacar um ou outro ponto, sob pena de distorcer suas posições.

- O artigo é excelente, sobre o ideário da oposição brasileira. Ele dissecou as nossas fraquezas, as nossas forças e onde a gente pode, de fato, se comunicar com a sociedade. Ele quis dizer o seguinte: temos que falar para todas as classes, mas vamos nos concentrar na classe média que lê mais, está mais bem informada

Os presidentes dos três principais partidos de oposição (PSDB, DEM e PPS) tiveram opiniões divergentes. O tucano Sérgio Guerra elogiou:

- É muito mais fácil avançar em setores novos, como a classe média, do que em setores que dependem de programas do governo como o Bolsa Família. Aliás, isso explica a nossa dificuldade eleitoral no Nordeste.

Para o presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), FH não foi bem compreendido:

- Acho que houve um mal-entendido. Ele sabe que todo partido tem que ter sintonia com a sociedade: com pobres, ricos e classe média. Fernando Henrique é suficientemente hábil para não cometer esse deslize que lhe estão atribuindo.

Mas o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), foi duro nas críticas:

- Acho uma análise equivocada. Porque até Fernando Henrique foi beneficiário desses votos do "povão" nas eleições de 1994, quando foi eleito com os votos dos coronéis do Nordeste.

Para os governistas, o ex-presidente explicitou o caráter elitista do PSDB.

- Ele está contando o que todo mundo já sabia: que tucanos não são a favor dos pobres, e sim da classe média - disse o deputado André Vargas (PT-PR).

Anexo 7: texto da notícia “Declaração de FH incomoda partidos da oposição”, de 12 de abril de 2011.

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Anexo 8 omissor: ao contrário do que acontece no países centrais, que enfrentam crise e desemprego, no Brasil, o mercado de trabalho ainda está aquecido, uma nova_classe_média passa a ter acesso a novos bens — como o carro — e a renda continua em elevação.

"New York Times" publicou uma matéria sobre a inva 135

novos bens — como o carro — e a renda continua em elevação.

"New York Times" publicou uma matéria sobre a invasão brasileira de Miami, onde a nossa nova_classe_média está indo comprar apartamentos, eletrodomésticos, roupas e bolsas de grife — tudo mais barato lá do que aqui. A crise na Europa, con entos, eletrodomésticos, roupas e bolsas de grife — tudo mais barato lá do que aqui. A crise na Europa, contrapondo com o Brasil em crescimento e uma nova_classe_média em ascensão, tem atraído cada vez mais as empresas francesas a adquirirem capital de companhias brasileiras. A disputa pelo controle valho de não a deixar “à mercê” de influências conservadoras, tem razões quase matemáticas: cerca de 39,6 milhões ingressaram nas fileiras da chamada nova_classe_média entre 2003 e 2011, número que vira 59,8 milhões se contarmos desde 1993. Para o economista da Fundação Getulio Vargas no Rio Marcelo e 2011, número que vira 59,8 milhões se contarmos desde 1993. Para o economista da Fundação Getulio Vargas no Rio Marcelo Neri, isso significa que a nova_classe_média brasileira não só inclui o eleitor mediano, aquele que decide o segundo turno de uma eleição, mas também que ela poderia sozinha dec eitor mediano, aquele que decide o segundo turno de uma eleição, mas também que ela poderia sozinha decidir um pleito eleitoral. Complementarmente, a nova_classe_média é a classe também dominante do ponto de vista econômico, pois já concentrava 46,6% do poder de compra dos brasileiros em 2011, super compra dos brasileiros em 2011, superando as classes A e B, essas com 45,6% do total do poder de compra. As escolhas eleitorais serão, portanto, pela nova_classe_média e para a nova_classe_média. Para o economista da FGV do Rio, “Lula é a cara da nova_classe_média, FH e Dilma lembram mais a classe m

011, superando as classes A e B, essas com 45,6% do total do poder de compra. As escolhas eleitorais serão, portanto, pela nova_classe_média e para a nova_classe_média. Para o economista da FGV do Rio, “Lula é a cara da nova_classe_média, FH e Dilma lembram mais a classe média mais tradicional do po compra. As escolhas eleitorais serão, portanto, pela nova_classe_média e para a nova_classe_média. Para o economista da FGV do Rio, “Lula é a cara da nova_classe_média, FH e Dilma lembram mais a classe média mais tradicional do ponto de vista simbólico”. A aprovação maciça da operação da Polícia Mil ação contou com o apoio de nada menos que 82% da população da cidade, é reflexo, na visão de Amaury de Souza, do posicionamento conservador não só da nova_classe_média, mas de praticamente toda a população de São Paulo e, provavelmente, do Brasil. SÃO PAULO - A crise na Europa, contraponto com o Bra praticamente toda a população de São Paulo e, provavelmente, do Brasil. SÃO PAULO - A crise na Europa, contraponto com o Brasil em crescimento e uma nova_classe_média em ascensão, tem atraído cada vez mais as empresas francesas a adquirirem capital de companhias brasileiras. O número de corporações sas Francesas no Brasil. Ele disse que há uma tendência de aumentar ainda mais com o agravamento da crise europeia: Mas o investimento em educação da nova_classe_média existe. Amanda Miranda, de 16 anos, é a primeira da sua casa, que tem renda de cerca de R$ 2.000, a sair do país. Em julho, Amanda p

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semanas estudando inglês em Bournemouth, a 160 quilômetros de Londres. ''As mais eficazes mobilizações populares são aquelas que começam a partir da nova_classe_média modernizada e, particularmente, a partir de um enorme corpo estudantil. Elas são mais eficazes em países em que, demograficamente, j ial à Primavera Árabe, um movimento que despertou seu fascínio.

O aumento da renda e do emprego, a inflação sob controle e a ascensão para a chamada nova_classe_média são os motores dessas mudanças, avaliam especialistas. Enquanto produtos e serviços ligados à tecnologia vão pesar cada vez mais, os s dispostas a trabalhar como empregada doméstica, que agora conseguem postos mais qualificados. Para Alessandra Ribeiro, da Tendências, a ascensão da nova_classe_média pode explicar, em parte, a perda de peso do item, já que a maior parte não tem o hábito de comer fora como nas classes A e B. Sem en o hábito de comer fora como nas classes A e B. Sem entrarmos na discussão dos méritos ou deméritos do capitalismo, podemos dizer que o crescimento da nova_classe_média também vem contribuindo, e muito, para o expressivo aumento de viagens de avião no Brasil. Aumento este que tem como uma de suas con m que o Poder Público investe na infraestrutura de transporte no Brasil. Muitos manifestantes que estão indo às ruas russas são representantes de uma nova_classe_média moderadamente rica que está infeliz com o sistema político rígido controlado apenas por um homem. BRASÍLIA - O presidente da Frente que o ministro explique suas declarações no Fórum Social Mundial em Porto Alegre, onde defendeu que o Estado deve fazer uma disputa ideológica pela "nova_classe_média", que estaria hoje sob a hegemonia de setores conservadores, como os evangélicos. OTTE: No momento, o Brasil e alguns outros países o momento, o Brasil e alguns outros países da Ásia vão muito bem. São países que hoje têm um peso decisivo na economia mundial. No Brasil, surgiu uma nova_classe_média com poder aquisitivo, o que impulsionou a economia. Se não houver uma crise mundial, eu diria que ela foi evitada por causa de paíse ulsionou a economia. Se não houver uma crise mundial, eu diria que ela foi evitada por causa de países como o Brasil. O controle político da chamada “nova_classe_média”, que pode se transformar na célebre situação de a criatura se voltar contra o criador, tem provocado polêmicas a partir da explicit ral da Presidência e olhos e ouvidos de Lula na administração Dilma, no Fórum Social Mundial. Ele chamou a atenção para a necessidade de não deixar a nova_classe_média “à mercê” dos meios de comunicação no país, sugerindo que são disseminadores de uma ideologia conservadora. O ex-ministro Mangabeira de uma ideologia conservadora. O ex-ministro Mangabeira Unger achava “decisivo” para qualquer orientação transformadora do Brasil o surgimento de uma nova_classe_média, e uma nova cultura de emergentes, “esse pessoal que estuda à noite, luta para abrir um negócio, ser profissional independente, que de iniciativa, e está no comando do imaginário nacional”. O economista Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas, criador do termo e um estudioso da “nova_classe_média”, explica que a designação reflete “o sentido positivo e prospectivo daquele que realizou — e continua a realizar — o sonho de subir ontinua a realizar — o sonho de subir na vida. Mais importante do que de onde você veio ou está é aonde vai chegar”. Ele diz que “o que caracteriza a nova_classe_média é o lado do 137

produtor. A carteira de trabalho é seu principal símbolo. É o que chamamos de lado brilhante dos pobres”. E, por último, do do produtor. A carteira de trabalho é seu principal símbolo. É o que chamamos de lado brilhante dos pobres”. E, por último, a lembrança de que uma nova_classe_média engrossa o meio da pirâmide. Será decisiva na escolha do melhor perfil para preservar suas conquistas. Diante da gravidade da crise pouco as taxas básicas de juros. O governo também resolveu reduzir impostos incidentes sobre alguns bens de consumo duráveis demandados pela chamada nova_classe_média, e voltou a facilitar o crédito. A construção de habitações no programa Minha Casa, Minha Vida recebeu novo impulso. O site do jorna

5 milhões de pessoas no limite da pobreza (17% da população); em 2009, eram 115 milhões (23%). Esse aumento não se deu pela ascensão de pessoas a uma nova_classe_média, como no Brasil, e sim pelo desemprego causado pela crise. Na prática, quem era da classe média perdeu o emprego e ficou mais pobre. omo a redução do IPI para geladeiras, fogões, máquinas de lavar e tanquinhos não terá o mesmo efeito que em 2009. Há dois anos havia forte demanda da nova_classe_média por bens duráveis e, por isso, as vendas desses artigos subiram 22%: BRASÍLIA - De cada cinco pessoas da nova_classe_média (que reún nos havia forte demanda da nova_classe_média por bens duráveis e, por isso, as vendas desses artigos subiram 22%: BRASÍLIA - De cada cinco pessoas da nova_classe_média (que reúne 20,9 milhões de brasileiros), uma não se reconhece como parte desse segmento. Além disso, tem uma percepção negativa sobr a renda anterior, têm baixo nível de escolaridade e, portanto, ainda estão muito vulneráveis. Ele defende que o governo trate de forma diferenciada a nova_classe_média dentro das políticas públicas. A presidente da CNA, senadora Kátia Abreu, destacou que a nova_classe_média, embora represente 55% da ue o governo trate de forma diferenciada a nova_classe_média dentro das políticas públicas. A presidente da CNA, senadora Kátia Abreu, destacou que a nova_classe_média, embora represente 55% da população brasileira, consome apenas 30% do total de bens e serviços produzidos no país. Os 70% restantes ens e serviços produzidos no país. Os 70% restantes estão localizados nas classes A, B, D, E. De modo geral, tanto nas áreas urbanas, quanto rurais a nova_classe_média acredita que estudar é a melhor forma para mudar de vida. A compra da casa própria também faz diferença para esse segmento da popula declarações do ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, sobre uma "disputa ideológica" do governo com líderes evangélicos pela nova_classe_média. Crivella, que é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, também negou que o convite de Dilma tenha relação com o caso nversa que manteve com a presidente, Crivella deixou claro que irá agir para tentar melhorar o relacionamento do Planalto com os evangélicos. RIO – A nova_classe_média não é apenas a menina dos olhos do varejo brasileiro. Agências de intercâmbio já detectaram nela um filão e estão apostando suas fic s de Viagens Educacionais e Culturais. O diretor da agência BEX de Niterói, João Mofati, afirma que o planejamento das viagens no caso de famílias da nova_classe_média tem foco bem definido no conteúdo educacional e que passeios e viagens extras são mais raros. 138

RIO – De olho no fôlego da nova_classe amílias da nova_classe_média tem foco bem definido no conteúdo educacional e que passeios e viagens extras são mais raros. RIO – De olho no fôlego da nova_classe_média para o consumo, as empresas estão distribuindo o pagamento dos produtos em mais de um cartão de crédito para burlar o obstáculo da r is caros, como TV, geladeira e fogão, os maiores sonhos de consumo da classe C. As companhias aéreas são outras que estão lançando estratégias para a nova_classe_média. Gol, TAM e Webjet passaram a comercializar passagens também em metrôs, centros populares e lojas do varejo. Há menos de um mês com dos os dias e tem planos de ampliação desses pontos de venda. Para a advogada Ellen Gonçalves, do Pires & Gonçalves Advogados Associados, o fato de a nova_classe_média consumir um produto durável é uma amostra de cidadania. Ela frisa, no entanto, que é preciso que fornecedores, empresas e órgãos púb ma amostra de cidadania. Ela frisa, no entanto, que é preciso que fornecedores, empresas e órgãos públicos desenvolvam uma educação para o consumo. A nova_classe_média brasileira cresce; mas ainda temos uns 20 milhões de cidadãos (todos o são) abaixo da linha de pobreza. João Gilberto ganhou ação co e corruptores (esses também existem) andam à solta por aí. Kim Jong-il morreu; mas Vaclav Havel também. E assim por diante. De cada cinco pessoas da nova_classe_média (que reúne 20,9 milhões de brasileiros), uma não se reconhece como parte desse segmento. Além disso, tem uma percepção negativa sobr a renda anterior, têm baixo nível de escolaridade e, portanto, ainda estão muito vulneráveis. Ele defende que o governo trate de forma diferenciada a nova_classe_média dentro das políticas públicas. Leia mais em Um quinto da nova_classe_média não se reconhece como tal

Os grandes grupos editoriais e muito vulneráveis. Ele defende que o governo trate de forma diferenciada a nova_classe_média dentro das políticas públicas. Leia mais em Um quinto da nova_classe_média não se reconhece como tal

Os grandes grupos editoriais estrangeiros estão enlouquecidos com a perspectiva de entrar num mercado com os estão enlouquecidos com a perspectiva de entrar num mercado com o potencial de expansão como o nosso. Um dos raros países que estão crescendo, uma nova_classe_média se formando, a consciência da necessidade da leitura se alastrando, os dirigentes finalmente entendendo que não dá mais para posterg

Anexo 8: ocorrências de expressão para o período de análise que vai de dezembro de 2011 a fevereiro de 2012.

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Anexo 9

O controle político da chamada “nova classe média”, que pode se transformar na célebre situação de a criatura se voltar contra o criador, tem provocado polêmicas a partir da 139

explicitação da preocupação do ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência e olhos e ouvidos de Lula na administração Dilma, no Fórum Social Mundial.

Ele chamou a atenção para a necessidade de não deixar a nova classe média “à mercê” dos meios de comunicação no país, sugerindo que são disseminadores de uma ideologia conservadora.

Ao mesmo tempo, chamou para o centro da luta política os evangélicos, com quem disse que as esquerdas devem disputar ideologicamente a massa dos emergentes.

Anteriormente, ele já havia deixado claro que essa é uma preocupação prioritária do governo, pois a nova classe emergente seria, no seu modo de ver, “um pouco polêmica, porque não tem uma posição ainda consolidada”.

Os evangélicos reagiram com vigor, e o ministro foi chamado até mesmo de “safado” pelo senador Magno Malta, líder de um partido aliado do governo.

E a nova ministra da Secretaria das Mulheres, , mal assumiu e já se tornou alvo dos evangélicos por sua defesa do aborto.

O cientista político Amaury de Souza diz que não apenas a classe C, mas grande parte da população brasileira é conservadora “se por tal se entende o apego à lei e ordem e a um conjunto de valores relativos ao comportamento individual, à família e à vida em sociedade, muitos dos quais compõem o que se conhece por “moral cristã””.

Ele chama a atenção para a impossibilidade de uma classe que engloba a metade do eleitorado votar de forma homogênea.

“No entanto, os segmentos política e institucionalmente mais organizados da classe C, como os evangélicos, constituem uma formidável força política. Basta lembrar o papel decisivo que desempenharam na eleição de 2010, capitaneando uma onda conservadora que levou a disputa presidencial ao segundo turno.

Se os evangélicos se tornarem antipetistas, o mérito, ironiza Amaury de Souza, será em boa medida do secretário-geral da Presidência Gilberto Carvalho, que convocou o seu partido a travar “uma disputa ideológica com líderes evangélicos pelos setores emergentes”.

O ex-ministro Mangabeira Unger achava “decisivo” para qualquer orientação transformadora do Brasil o surgimento de uma nova classe média, e uma nova cultura de emergentes, “esse pessoal que estuda à noite, luta para abrir um negócio, ser profissional independente, que está construindo uma nova cultura de autoajuda e de iniciativa, e está no comando do imaginário nacional”.

Dentro desse contexto, ele considerava que o movimento evangélico precisava ser visto “como um elemento entre muitos dessa nova base social. São dezenas de milhões de brasileiros organizados”.

Mangabeira desenvolveu a tese de que evangélicos brasileiros têm semelhança com pioneiros que fundaram os EUA e tinham o espírito empreendedor que faria a diferença para o desenvolvimento do Brasil.

O cientista político Alberto Carlos de Almeida, do Instituto Análise, acha que não são os políticos e os partidos que fazem a cabeça do eleitorado e doutrinam os grupos sociais, neste caso a classe C, “mas é o oposto que acontece”.

Para ele, os políticos têm que adaptar seu discurso para uma nova maneira de pensar. “Assim, se a classe C for mais numerosa e mais conservadora, o PT precisará de um discurso mais conservador para se manter no poder”.

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O PT já fez isso e continua fazendo, ressalta, lembrando que na eleição de 2010 “o discurso de Dilma enfatizou a importância da classe média, de progredir na vida”. Isso não foi feito pelo PT, por exemplo, na eleição de 2002 e 2006.

Alberto Carlos está convencido de que a nova classe C, seu aumento numérico, o aumento de sua renda e escolaridade “empurrarão todos para a direita”.

Ainda nesta mesma direção, uma das coisas que acontecerá em breve, na sua previsão, é a demanda por um discurso político permanentemente a favor de redução de impostos. “Os políticos irão atender a esta demanda, é só uma questão de tempo”, diz ele.

O economista Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas, criador do termo e um estudioso da “nova classe média”, explica que a designação reflete “o sentido positivo e prospectivo daquele que realizou — e continua a realizar — o sonho de subir na vida. Mais importante do que de onde você veio ou está é aonde vai chegar”.

Ele diz que “o que caracteriza a nova classe média é o lado do produtor. A carteira de trabalho é seu principal símbolo. É o que chamamos de lado brilhante dos pobres”.

Marcelo Neri explica que quando as pessoas sobem na vida, começam a ter o que perder e ficam mais conservadoras.

Seu grupo na Fundação Getulio Vargas, em acordo com o Senai, produziu pesquisa sobre a educação profissional relacionada às ideias da nova classe media.

A educação profissional é “a cara da classe C”, define Neri: “Mais que a cultura bacharelesca da classe média tradicional”, como reflexo de novos valores, “um misto de buscar semelhança com a tradicional classe média e ter origens diferenciadas”. (Continua amanhã)

Anexo 9: artigo “A Disputa pela Classe C”, de Ricardo Noblat, do dia 11 de fevereiro de 2012.

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Anexo 10

BRASÍLIA – O senador Marcelo Crivella (PRB) é o novo ministro da Pesca e Aquicultura do governo Dilma Rousseff. Ele substitui Luiz Sérgio (PT-RJ), que volta a exercer o mandato na Câmara dos Deputados. O anúncio foi feito nesta quarta-feira, em nota lida pelo porta-voz da Presidência. A presidente Dilma Rousseff informou a troca na pasta sem detalhar os motivos. No texto, Dilma agradece o trabalho desempenhado por Luiz Sérgio.

Luiz Sérgio iniciou o governo Dilma como ministro das Relações Institucionais, mas, sem se sair bem na articulação política, assumiu a pasta da Pesca no lugar de Ideli Salvatti, que foi para o seu lugar.

A mudança na pasta da Pesca visa a atender uma antiga reivindicação do PRB, que tem uma bancada de dez de deputados e cobrava do governo a participação no primeiro escalão. Crivella é o único senador do partido. O PRB, aliás, era a legenda do ex-vice-presidente da República José Alencar. A ministra da Secretaria das Relações Institucionais da Presidência, Ideli Salvatti, lembrou que o partido é um "precioso aliado" do governo, desde a gestão Lula.

- A presidente fez um profundo reconhecimento pelo trabalho que o ministro Luiz Sérgio desenvolveu, mas também da importância de poder contar no governo, no ministério, com a representação do PRB, um partido pelo qual todos nós temos o maior respeito pela sua atuação e principalmente pelo respeito que todos nós temos, até uma forma de homenagear o nosso ex-vice presidente José Alencar. Toda a discussão da presidenta foi no sentido de integrar um partido que, durante todo o período do presidente Lula e agora, durante todo o governo da presidenta Dilma, sempre foi um partido extremamente aliado, firme, e atuante 141

nas ações do governo. É a incorporação efetiva de um precioso aliado de muito tempo do nosso projeto - disse Ideli.

A ministra negou que a entrada de Crivella no ministério tenha sido uma tentativa do governo de acalmar os ânimos da bancada evangélica, que criticou duramente declarações do ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, sobre uma "disputa ideológica" do governo com líderes evangélicos pela nova classe média. Crivella, que é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, também negou que o convite de Dilma tenha relação com o caso. Apesar de declarar que não tocou no assunto durante a conversa que manteve com a presidente, Crivella deixou claro que irá agir para tentar melhorar o relacionamento do Planalto com os evangélicos.

- Sempre batalhei para dirimir controvérsias - disse o novo ministro. - Os evangélicos votamos quase majoritariamente na presidente Dilma. Faço parte do governo. Acredito que (com a nomeação) deve haver uma aproximação maior - disse.

Crivella também negou que a entrada do PRB no governo - o partido tem uma bancada de apenas 10 deputados e apenas um senador - possa interferir na disputa pela Prefeitura de São Paulo, onde Celso Russomanno é candidato e aparece em boa posição nas pesquisas eleitorais.

- O PRB tem candidato e em nenhum momento isso foi aventado. Só tivemos conversas técnicas - afirmou o novo ministro.

O senador recebeu o convite de Dilma no fim de semana, como revelou. A exemplo de outros titulares da Pesca, como a atual ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, ele nada entende de pescaria. Mas defendeu que a Pasta crie uma empresa como a Embrapa, que se destaca em pesquisa na Agricultura.

Em nota à imprensa, Luiz Sérgio disse que passará o cargo a seu sucessor nesta sexta-feira. Luiz Sérgio repete a nota oficial do Palácio do Planalto, afirmando que “a mudança permite a incorporação ao Ministério de um importante partido aliado da base do governo”.

Ele agradece a confiança da presidente no período em que foi ministro de Relações Institucionais e da Pesca. Luiz Sérgio dia que voltará à Câmara dos Deputados e continuará contribuindo "para o sucesso e as conquistas deste governo". Também agradece o trabalho de seus assessores e deseja êxito ao novo ministro.

O ministro reafirma a "convicção quanto à importância do Ministério da Pesca e Aquicultura para o desenvolvimento do enorme potencial das atividades pesqueira e aquícola em nosso País". Diz ainda que "em pouco tempo, o Brasil despertará para esse potencial e os frutos do trabalho deste ministério serão amplamente reconhecidos pela sociedade".

São esperadas ainda outras mudanças ao longo das próximas semanas no governo. O PR, por exemplo, pressiona a presidente para recuperar o controle do Ministério dos Transportes, que perdeu com a saída do senador Alfredo Nascimento (PR-AM), em julho do ano passado. Passos é filiado ao PR, mas o partido entende que ele é uma escolha pessoal de Dilma e não se sente representado no governo. O PDT também espera um chamado de Dilma para indicar um nome para o Ministério do Trabalho.

A presidente se reuniu nesta quarta-feira com o ministro dos Transportes e, segundo informações do Palácio do Planalto, foi uma reunião técnica para discutir ferrovias e trem- bala. Com a resistência do Palácio do Planalto a devolver o Ministério dos Transportes ao PR, a legenda sinalizou que poderá tomar posições independentes nas eleições municipais, tumultuando o cenário mais caro ao PT: a disputa pela prefeitura de São Paulo. Na noite desta terça-feira, o PR anunciou que pode apoiar o tucano José Serra ou até lançar o deputado federal Tiririca (PR-SP) como candidato próprio. O comando do PR deu um prazo ao governo até 20 de março, quando deve reunir sua Executiva Nacional para definir candidaturas municipais.

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“O Ministro da Pesca e Aquicultura, deputado Luiz Sérgio de Oliveira, está deixando o cargo depois de prestar inestimável contribuição ao governo. À frente da Secretaria de Relações Institucionais e, depois, como responsável pela pasta da Pesca e Aquicultura, Luiz Sérgio desempenhou com dedicação e compromisso com o país todas as tarefas que lhe foram atribuídas pela presidenta Dilma Rousseff.

“Em seu lugar, assume o senador Marcelo Crivella, representando o PRB, partido do inesquecível ex-vice presidente José Alencar. A mudança permite a incorporação ao Ministério de um importante partido aliado da base do governo. A presidenta está segura de que, à frente do Ministério da Pesca e Aquicultura, o senador Marcelo Crivella prestará relevantes serviços ao Brasil.

“O ministro Luiz Sérgio retorna à Câmara dos Deputados, onde continuará a merecer o apoio e a confiança da presidenta Dilma Rousseff e a prestar excepcional contribuição ao país”.

Anexo 10: notícia “Marcelo Crivella é o novo ministro da Pesca do governo Dilma”, do dia 29 de fevereiro de 2012.

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Anexo 11 vance na classificação e seja considerada “classe A” nos próximos cinco anos. Além de promover uma migração das classes mais baixas para fortalecer a nova_classe_média rural. EUSTÁQUIO: Sim, a Igreja Católica é centralizada até para a formação de seus padres, por exemplo, enquanto a formação de past r das igrejas evangélicas também auxilia na sua expansão. E mais um fator precisaria ser considerado para explicar esse quadro: a expansão da chamada nova_classe_média, vinda de segmentos de menor renda, com boa presença de evangélicos; por isso também houve essa expansão grande dos evangélicos pent ar a parcela não praticante nesse grupo e na totalidade dos evangélicos.

Um dos maiores ativos econômicos e sociais do país para o futuro próximo, a nova_classe_média brasileira é a grande aposta do governo para o desenvolvimento nas próximas décadas. Especialista em pobreza e desigualdades, Néri é de aposta do governo para o desenvolvimento nas próximas décadas. Especialista em pobreza e desigualdades, Néri é também um dos maiores estudiosos da nova_classe_média brasileira, além de um dos integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o chamado “conselhão”, indicado pel o Comitê Gestor do CDES eleito pelos demais conselheiros. BRASÍLIA e RIO. Um dos maiores ativos econômicos e sociais do país para o futuro próximo, a nova_classe_média brasileira é a grande aposta do governo para o desenvolvimento nas próximas décadas. Dados inéditos antecipados pela Secretaria de A rasil que Queremos”. — É o grande ativo e legado do governo Lula, desde que o governo e a sociedade conseguiram ter moeda. Mas temos que evitar que a nova_classe_média retorne à situação anterior e que sejam criadas condições para que se consolide — disse o ministro da SAE, Wellington Moreira Franco

SAE, Wellington Moreira Franco. Inclusão e educação financeira também estão na lista dos temas estudados pelo governo neste momento para assegurar à nova_classe_média a manutenção do seu novo status social e econômico. Segundo a SAE, 50% do consumo da classe média hoje são financiados, e a maior pa 143

da classe média hoje são financiados, e a maior parte destes recursos está fora do banco. Os financiamentos são tomados no mercado varejista. RIO - A nova_classe_média está descobrindo os antiquários. O aumento do poder aquisitivo da chamada classe C e a descoberta de que o custo-benefício de móveis o que atestam proprietários de antiquários na cidade. É outra situação, diferente da dos EUA, pois têm os consumidores do seu lado, produzem para uma nova_classe_média cujo apetite por informação é voraz. Há vários tipos de jornais, para públicos variados, uma época de ouro. Mesmo amplamente critica a públicos variados, uma época de ouro. Mesmo amplamente criticados por especialistas, as vendas de títulos de capitalização sobem como um foguete. A nova_classe_média foi uma das principais responsáveis por isso. Segundo dados da Federação Nacional de Capitalização (FenaCap), o setor bateu recorde tor bateu recorde e faturou R$ 7,9 bilhões no primeiro semestre, alta de 19,2% frente ao mesmo período do ano passado. BRASÍLIA - Autor dos livros “A nova_classe_média” e “Microcrédito: o mistério nordestino e o grameen brasileiro”, ambos citados pela presidente Dilma Rousseff como referência, o eco o cumprimento das metas de educação. Deu um salto na época do milagre, depois no Real e o dos últimos anos, desde o fim de 2003. O grande símbolo da nova_classe_média é o trabalho formal, com carteira assinada. Isso e educação são fundamentais para o novo salto, mais importantes do que crédito para ocessos receberam parecer da superintendência-geral do órgão antitruste. Durante a sua posse, no Ministério da Justiça, ele afirmou que a ascensão da nova_classe_média, que ganhou 40 milhões de brasileiros na última década, traz um novo desafio para o órgão antitruste e que novos avanços são impresc ilhões de brasileiros na última década, traz um novo desafio para o órgão antitruste e que novos avanços são imprescindíveis. Por quê? Pertencentes à nova_classe_média, os novos consumidores aproveitaram a fase acelerada e levaram para dentro de casa uma sensação boa, que se chama conforto.

Mas a I veitaram a fase acelerada e levaram para dentro de casa uma sensação boa, que se chama conforto.

Mas a Infraero admite que os passageiros da chamada nova_classe_média, que passaram a viajar de avião nos últimos anos, podem achar os preços proibitivos. BRASÍLIA — Primeiro, foram o frango e o iogurte e LCD, a máquina de lavar roupas, o carro e as primeiras viagens de avião. Agora, depois de ter acesso a bens e serviços com os quais nem sonhava, a nova_classe_média começa a realizar investimentos mais arrojados. Muitos desses brasileiros aplicam em renda fixa e papéis do Tesouro Direto, mais con meça a atrair a atenção desse público. Na DF Investor, empresa de São José dos Campos com foco em educação financeira, 40% dos mil clientes já são da nova_classe_média. Na avaliação de Felipe Chad, a nova_classe_média ainda é conservadora, mas já percebeu que é possível poupar, por exemplo, cem reai tor, empresa de São José dos Campos com foco em educação financeira, 40% dos mil clientes já são da nova_classe_média. Na avaliação de Felipe Chad, a nova_classe_média ainda é conservadora, mas já percebeu que é possível poupar, por exemplo, cem reais por mês para ter uma aposentadoria mais tranquil 144

a comprar outro. Para o economista Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da FGV, os agentes financeiros demoraram para enxergar o potencial da nova_classe_média. Mas observa que este é apenas o início de uma grande jornada. Mas não são apenas minorias que temem mudanças. A nova_classe_média s gar o potencial da nova_classe_média. Mas observa que este é apenas o início de uma grande jornada. Mas não são apenas minorias que temem mudanças. A nova_classe_média síria, que tem emprego em bancos e dirige carros de US$ 15 mil, sente-se ameaçada pela revolta. Muitos temem perder os privilégios q onsideradas “classe B” sejam consideradas “classe A” nos próximos cinco anos, além de promover uma migração das classes mais baixas para fortalecer a nova_classe_média rural. A futura Agência Nacional de Extensão Rural tentará incentivar o crescimento do setor que, na previsão do Banco Central, deve onsideradas “classe B” sejam consideradas “classe A” nos próximos cinco anos, além de promover uma migração das classes mais baixas para fortalecer a nova_classe_média rural. Especialista em pobreza e desigualdades, Néri é também um dos maiores estudiosos da nova_classe_média brasileira, além de um as classes mais baixas para fortalecer a nova_classe_média rural. Especialista em pobreza e desigualdades, Néri é também um dos maiores estudiosos da nova_classe_média brasileira, além de um dos integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o chamado “conselhão”, indicado pel o chamado “conselhão”, indicado pela Presidência da República. É do Comitê Gestor do CDES eleito pelos demais conselheiros. SÃO PAULO — A ascensão da nova_classe_média está mexendo com o mercado brasileiro de seguros. Com ganho de renda nos últimos anos, esses novos consumidores já começaram a const de carros oferecidos pela empresa cresceu de 29,1% para 41,3%. Já uma pesquisa feita pelo Bradesco Seguros mostrou outra importante preocupação dessa nova_classe_média. De acordo com as seguradoras, a tendência é que os consumidores da nova_classe_média passem cada vez mais a contratar seguros. No B elo Bradesco Seguros mostrou outra importante preocupação dessa nova_classe_média. De acordo com as seguradoras, a tendência é que os consumidores da nova_classe_média passem cada vez mais a contratar seguros. No Brasil, segundo estimativa da consultoria Accenture, a migração das classes D e E para

RIO - Não são apenas as relações familiares que mudaram nos lares brasileiros. Mudaram também as relações de consumo, principalmente nas famílias da nova_classe_média. Depois de usar o crédito facilitado para comprar carro, TV, celular, computador e trocar o fogão e a geladeira, elas têm novos desa

ção Getúlio Vargas (FGV) e faz parte da equipe de pesquisadores do Ipea. Especialista em pobreza e desigualdades, Néri é um dos maiores estudiosos da nova_classe_média brasileira, além de um dos integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o chamado “conselhão”, indicado pel r das igrejas evangélicas também auxilia na sua expansão. E mais um fator precisaria ser considerado para explicar esse quadro: a expansão da chamada nova_classe_média, vinda de segmentos de menor renda, com boa presença de evangélicos; por isso também houve essa expansão grande dos evangélicos pent

Anexo 11: ocorrências de expressão para o trimestre de junho a agosto de 2012.

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Anexo 12

junto aos parentes das vítimas da tragédia de Santa Maria ou sua imagem na televisão ao lado papa Francisco.

— Com a economia estável e a chegada da nova_classe_média, especialmente no Brasil, vocês têm um papel importante no “cross-over”. O ministro afirmou que os poderes Executivo e Judiciário vã dos conflitos, afirmação de melhor resolução dos conflitos e punição às empresas. O ministro destacou que, com a entrada de milhões de brasileiros na nova_classe_média, as demandas dessa população ganharam nova dimensão e que os Procons precisam ser fortalecidos. Ele destacou que, hoje, 70% das dema mil. A maior presença de negros no ensino superior e a diminuição da desigualdade racial em termos de renda se correlacionam também com a expansão da nova_classe_média (cuja renda média per capita varia entre R$ 291 e R$ 1.109), que se beneficiou da valorização do salário mínimo, do crescimento da e

Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais (Laeser), da UFRJ. Nos estratos que estão entre os 10% mais pobres dessa nova_classe_média, o percentual de pretos e pardos é de 62%. No outro extremo, dos 10% mais ricos, o percentual cai para 39%. A estratégia foi dividid oas comuns sobre economia doméstica. Ou seja, tratará de temas como inflação, impostos e endividamento das famílias, mas sob a perspectiva da chamada nova_classe_média e das famílias que ainda lutam para chegar a ela. O foco dos tucanos é minimizar duas fragilidades do PSDB: as percepções públicas d opulação. As economias em desenvolvimento estão crescendo, em média, cerca de 6 por cento ao ano, tirando milhões de pessoas da pobreza e criando uma nova_classe_média global, que também deu origem a crescente desigualdade. Mantega, disse ainda não ter notado arrefecimento da atividade no setor de s supermercados, ou “cansaço” do setor. Ele afirmou que o segmento cresceu nos últimos anos devido à inclusão social que levou milhões de brasileiros à nova_classe_média. A acompanhante de idosos Fernanda Nascimento, 25 anos, e seu marido, o pedreiro Carlos Rogério de Oliveira, de 31, não terminaram o articular e o casal enfrenta uma jornada de trabalho de mais de dez horas por dia. Mas a renda mensal da família, de R$ 2.100, faz dela um retrato da nova_classe_média brasileira. Será mesmo? As sociólogas Christiane Uchôa e Celia Kerstenetzky, da UFF, analisaram os indicadores sociais da nova_class etrato da nova_classe_média brasileira. Será mesmo? As sociólogas Christiane Uchôa e Celia Kerstenetzky, da UFF, analisaram os indicadores sociais da nova_classe_média, com base na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE de 2009. E se surpreenderam ao perceber que 9% dos pais de família do g is de família do grupo são analfabetos, 71% das famílias não têm planos de saúde e 1,2% das casas (cerca de 400 mil) sequer têm banheiros. “A chamada nova_classe_média não se 146

parece com a classe média como a reconhecemos” concluem as pesquisadoras. Criador do conceito “nova_classe_média”, o economis uer têm banheiros. “A chamada nova_classe_média não se parece com a classe média como a reconhecemos” concluem as pesquisadoras. Criador do conceito “nova_classe_média”, o economista Marcelo Neri, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vê nas críticas uma reação de sociólogos quisa Econômica Aplicada (Ipea), vê nas críticas uma reação de sociólogos que, para ele, “se sentem um pouco invadidos”: Na classe C, a tão comentada nova_classe_média e que reúne grande parte dos novos consumidores, também houve queda no volume de compras de bens não duráveis, mas menos intensa que iro, caiu em 3% o volume de itens adquiridos pelo grupo. Nem as classes A e B passaram incólumes: o consumo nessas faixas de renda ficou estagnado. A nova_classe_média, e a velha também, exige um redesenho das estruturas urbanas. Foram grandes os avanços recentes da sociedade brasileira. Porém, nada os dez anos entre crescimento e redução de desigualdade simplesmente não ocorreria. Os programas de transferência de renda perderiam sua eficácia e a nova_classe_média sofreria um envelhecimento precoce. O ministro afirmou que os poderes Executivo e Judiciário vão trabalhar juntos para garantir a de dos conflitos, afirmação de melhor resolução dos conflitos e punição às empresas. O ministro destacou que, com a entrada de milhões de brasileiros na nova_classe_média, as demandas dessa população ganharam nova dimensão e que os Procons precisam ser fortalecidos. Ele destacou que, hoje, 70% das dema s são relacionados a demandas do consumidor. O custo médio de cada processo chega a R$ 1 mil.

— Entre 2003 e 2011, 40 milhões de pessoas entraram na nova_classe_média e três quartos são pretos e pardos, quase a população negra sul-africana. Essa nova_classe_média é fruto do orgulho e do aumento da

Entre 2003 e 2011, 40 milhões de pessoas entraram na nova_classe_média e três quartos são pretos e pardos, quase a população negra sul-africana. Essa nova_classe_média é fruto do orgulho e do aumento da renda — resume Néri. A nova_classe_média também será destacada por Hélio Portocarrero, ex-superin s quartos são pretos e pardos, quase a população negra sul-africana. Essa nova_classe_média é fruto do orgulho e do aumento da renda — resume Néri. A nova_classe_média também será destacada por Hélio Portocarrero, ex-superintendente da Susep e ex-diretor da Federação Nacional de Capitalização (FenaC alistas, o déficit na conta de viagens está ligado à nova realidade da economia brasileira, que viu nada menos que 30 milhões de pessoas ascenderem à nova_classe_média na última década, ávidas por bens e serviços antes inacessíveis. Em terceiro lugar, estão os custos com transportes, com déficit de na visão do pesquisador, seria aplicar esse dinheiro no SUS que a atender a toda a população. No estudo, o Ocké-Reis não levou em conta o impacto da nova_classe_média e o aumento do trabalho formal na elevação das deduções dos gastos com planos de saúde no Imposto de Renda. RIO - Se as cerca de 12 o e Bahia. Essa camada da população movimenta R$ 56 bilhões anuais, recursos superiores ao Produto Interno Bruto (PIB) de países como a Bolívia. Essa nova_classe_média urbana 147

possui renda para ir às compras, mas ainda vive em moradias inadequadas e condições de trabalho muitas vezes precárias. O pod bana possui renda para ir às compras, mas ainda vive em moradias inadequadas e condições de trabalho muitas vezes precárias. O poder de consumo dessa nova_classe_média foi diagnosticado na pesquisa “As favelas brasileiras, um mercado de R$ 56 bilhões” do Instituto Data Favela, feito por encomenda da melhoria na renda contrasta com a falta de infraestrutura nas comunidades. Para João Saboia, professor de Economia da UFRJ, a melhora da situação da nova_classe_média deve ser não apenas dentro de casa, mas também fora dela: Quem é só comemoração com o crescimento da renda da nova_classe_média é a elhora da situação da nova_classe_média deve ser não apenas dentro de casa, mas também fora dela: Quem é só comemoração com o crescimento da renda da nova_classe_média é a vendedora de bolo Ângela Maria Ferreira. Moradora da Favela da Grota, que faz parte do Complexo do Alemão, tem dentro de sua cas membros. Segundo a FGV, a renda familiar dessa faixa fica em R$ 9.745 por mês. Para o economista da PUC-Rio Luiz Roberto Cunha, a própria ascensão da nova_classe_média tem impulsionado os preços para os mais ricos: RIO – De olho no aumento da nova_classe_média, as teles vêm apostando na expansão de sta da PUC-Rio Luiz Roberto Cunha, a própria ascensão da nova_classe_média tem impulsionado os preços para os mais ricos: RIO – De olho no aumento da nova_classe_média, as teles vêm apostando na expansão de seus serviços — como internet banda larga, telefonia e TV por assinatura — em áreas de menor açu) e até localidades com menos de seis mil habitantes, como Silva Jardim (Baixada Litorânea) e Duas Barras (Região Serrana).

Os filhos da chamada nova_classe_média são mais informados, conectados à internet e têm opiniões menos conservadoras sobre a mulher e o homossexualismo do que seus pais, r locaria o continente no sentido do desenvolvimento. Com essas taxas seria mais fácil satisfazer demandas de 60 milhões de cidadãos que fazem parte da nova_classe_média [na região]", destacou o economista. Helio Portocarrero, ex-superintendente da Susep e atual diretor- executivo Casa de Rui Barbosa sep e atual diretor- executivo Casa de Rui Barbosa saiu em defesa do seguro de garantia estendida, considerado por ele o grande seguro patrimonial da nova_classe_média. — É preciso ter o cuidado de não jogar o bebê fora junto com a água do banho. O seguro garantia estendida é no meu ponto de vista o

_média. — É preciso ter o cuidado de não jogar o bebê fora junto com a água do banho. O seguro garantia estendida é no meu ponto de vista o seguro da nova_classe_média e tem um papel importante de evitar a frustração do consumo. O que acontece quando esse grupo emergente compra a prestação e fica de depois do prazo de garantia de fábrica e não houver dinheiro para repor, ele vai continuar devedor. A garantia estendida assegura o patrimônio dessa nova_classe_média que precisa ser protegido – argumentou O presidente da CNDL, Roque Pellizzaro, destacou que, com o crescimento da chamada nova_class nio dessa nova_classe_média que precisa ser protegido – argumentou 148

O presidente da CNDL, Roque Pellizzaro, destacou que, com o crescimento da chamada nova_classe_média, com a ascensão de consumidores da classe D, muitos brasileiros passaram a ter acesso ao consumo sem saber planejar suas contas.

N causa da atriz de biquíni? Outra razão me faz curtir o Porta dos Fundos: é humor desavergonhadamente classe média — a tradicional. Com a ascensão da nova_classe_média, os olhos cresceram para cima dela. No humor, isso se traduziu na consagração de um “Zorra Total” (no ar desde 1999, quando o proces já estava em marcha, marcha lenta, mas estava). Embora nem de longe rivalize com o horário nobre na Globo, o Porta dos Fundos talvez indique ou que a nova_classe_média não quer rir apenas dela mesma — e por que haveria de querer? — ou que a tradicional ainda enche estádio.

Anexo 12: ocorrências de expressão para o período de março a maio de 2013

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Anexo 13

BRASÍLIA - O governo federal lançou nesta sexta-feira o Plano Nacional de Consumo e Cidadania, com um pacote de medidas que buscam melhorar a qualidade de produtos e serviços e incentivar as relações de consumo. Entre as principais mudanças, a secretária Nacional do Consumidor, Juliana Pereira, destacou que três resoluções do Conselho Monetário Nacional (CMN) serão assinadas para permitir a transparência das informações e aumentar a liberdade de escolha dos consumidores na hora de contratar um serviço bancário. As instituições financeiras deverão informar a diferença entre o custo de uma tarifa individual e um pacote de tarifas.

A partir dessas mesmas resoluções, disse ela, os bancos deverão dar maior destaque aos custos financeiros das operações de crédito.

- O consumidor precisa saber quanto é juro, quanto é tarifa e quanto é encargo para comparar o melhor serviço financeiro para ele. Isso é muito importante - ressaltou.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, destacou ainda a criação uma Câmara Nacional de Relações do Consumo. Integrada por ministros de Estado, essa câmara deverá, em 30 dias, criar uma relação de produtos essenciais ao consumidor. Qualquer problema verificado pelo consumidor em produtos incluídos nessa lista, desde que estejam na garantia, terá que ser solucionado imediatamente ao consumo. O ministro também assinou um projeto de lei que busca fortalecer os Procons.

O ministro afirmou que os poderes Executivo e Judiciário vão trabalhar juntos para garantir a defesa dos direitos do consumidor no Brasil. O governo deverá focar o tripé que une combate à causa dos conflitos, afirmação de melhor resolução dos conflitos e punição às empresas. O ministro destacou que, com a entrada de milhões de brasileiros na nova classe média, as demandas dessa população ganharam nova dimensão e que os Procons precisam ser fortalecidos. Ele destacou que, hoje, 70% das demandas judiciais nos juizados de pequenas causas são relacionados a demandas do consumidor. O custo médio de cada processo chega a R$ 1 mil.

— Às vezes, para resolver uma demanda de R$ 300, o Estado gasta R$ 1 mil — afirmou.

O presidente da Anatel, João Rezende, afirmou que o Plano Nacional de Consumo e Cidadania levará a um aumento na competição entre as empresas do setor e poderá contribuir para a redução de preços. 149

— Quando incentiva maior comparabilidade dos preços entre as empresas, (o governo) provoca aumento da competição que pode levar à redução de tarifas — afirmou, após a divulgação do plano.

Na primeira etapa do plano, três comitês técnicos formarão um observatório nacional das relações de consumo. O Comitê Técnico de Consumo e Regulação será responsável pela implementação de medidas para reduzir os conflitos nos serviços regulados. O de Consumo e Turismo vai atuar para o aprimoramento dos serviços de atendimento aos turistas nacionais e estrangeiros, especialmente em grandes eventos.

Por último, o Comitê de Consumo e Pós Venda terá a função de melhorar os procedimentos de atendimento ao consumidor e criar indicadores de qualidade das relações de consumo. Esses comitês serão formados por representantes de ministérios e agências reguladoras.

Além disso, a partir da aprovação do projeto de lei que será enviado ao Congresso Nacional para fortalecer os Procons, acordos feitos em todos os Procons serão considerados títulos executivos judiciais. O objetivo é reduzir o número de conflitos entre fornecedores e consumidores que chegam ao Judiciário.

Para o setor de comércio eletrônico, um decreto garante ao consumidor o direito a informações claras e objetivas a respeito da empresa que está vendendo algo e sobre o produto ou serviço que está sendo prestado. O mesmo decreto cria procedimentos claros sobre o exercício do direito de arrependimento e obriga à criação do canal de atendimento ao consumidor.

Um novo regulamento simplifica as regras para atendimento, cobrança e ofertas de serviços de telecomunicações. Para a implantação desse regulamento, o governo vai abrir uma consulta pública durante 30 dias.

Anexo 13: texto da notícia “Dilma anuncia planos com medidas para melhorar proteção ao consumidor”, de 15 de março de 2013

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Anexo 14 frases mais importantes(1): O poder de consumo dessa nova_classe_média foi diagnosticado na pesquisa As favelas brasileiras, um mercado de R$ 56 bilhões do Instituto Data Favela, feito por encomenda da Central Única das Favelas (Cufa). — Entre 2003 e 2011, 40 milhões de pessoas entraram na nova_classe_média e três quartos são pretos e pardos, quase a população negra sul-africana. Ele afirmou que o segmento cresceu nos últimos anos devido a a inclusão social que levou milhões de brasileiros a a nova_classe_média. Com a ascensão da nova_classe_média, os olhos cresceram para cima dela. Outra razão me faz curtir o Porta dos Fundos: é humor desavergonhadamente classe média — a tradicional. Para João Saboia, professor de Economia da UFRJ, a melhora da situação da nova_classe_média deve ser não apenas dentro de casa, mas também fora dela: Quem é só comemoração com o crescimento da renda da nova_classe_média é a vendedora de bolo Ângela Maria Ferreira. O foco dos tucanos é minimizar duas fragilidades do PSDB: as percepções públicas de que o partido não dialoga com o povo e de que suas políticas não tratam do dia a dia da população. No humor, isso se traduziu na consagração de um Zorra Total (no ar desde 1999, quando o processo de redistribuição de renda já estava em marcha, marcha lenta, mas estava). 150

As economias em desenvolvimento estão crescendo, em média, cerca de 6 por cento ao ano, tirando milhões de pessoas da pobreza e criando uma nova_classe_média global, que também deu origem a crescente desigualdade. Em terceiro lugar, estão os custos com transportes, com déficit de US$ 8,7 bilhões em 2012.

frases mais importantes(2):

O poder de consumo dessa nova_classe_média foi diagnosticado na pesquisa As favelas brasileiras, um mercado de R$ 56 bilhões do Instituto Data Favela, feito por encomenda da Central Única das Favelas (Cufa).

— Entre 2003 e 2011, 40 milhões de pessoas entraram na nova_classe_média e três quartos são pretos e pardos, quase a população negra sul-africana.

Ele afirmou que o segmento cresceu nos últimos anos devido a a inclusão social que levou milhões de brasileiros a a nova_classe_média.

Para João Saboia, professor de Economia da UFRJ, a melhora da situação da nova_classe_média deve ser não apenas dentro de casa, mas também fora dela: Quem é só comemoração com o crescimento da renda da nova_classe_média é a vendedora de bolo Ângela Maria Ferreira.

O foco dos tucanos é minimizar duas fragilidades do PSDB: as percepções públicas de que o partido não dialoga com o povo e de que suas políticas não tratam do dia a dia da população.

As economias em desenvolvimento estão crescendo, em média, cerca de 6 por cento ao ano, tirando milhões de pessoas da pobreza e criando uma nova_classe_média global, que também deu origem a crescente desigualdade.

Em terceiro lugar, estão os custos com transportes, com déficit de US$ 8,7 bilhões em 2012.

Anexo 14: frases mais importantes do período de março a maio de 2013

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Anexo 15

BRASÍLIA Com os olhos voltados para as classes C e D, o senador Aécio Neves (MG) começa a estrelar esta semana a propaganda partidária nacional do PSDB. O primeiro objetivo do novo presidente do partido e pré-candidato à Presidência da República é tornar- se mais conhecido do público nacional. Pesquisas recentes mostram que cerca de 40% do eleitorado não conhecem o mineiro, situação que se agrava nas classes mais pobres e no interior do país.

A estratégia foi dividida em duas partes. Nesta semana, a partir de amanhã, Aécio começa a aparecer em pequenos comerciais de 30 segundos, conversando com pessoas comuns sobre economia doméstica. Ou seja, tratará de temas como inflação, impostos e endividamento das famílias, mas sob a perspectiva da chamada nova classe média e das famílias que ainda lutam para chegar a ela. O foco dos tucanos é minimizar duas fragilidades do PSDB: as percepções públicas de que o partido não dialoga com o povo e de que suas políticas não tratam do dia a dia da população.

A segunda parte da estratégia de comunicação aparecerá no programa partidário do dia 30. Durante dez minutos, Aécio fará uma viagem por várias cidades de Minas Gerais, mais uma vez conversando com a população e mostrando como o governo mineiro, que ele ocupou entre 2003 e 2010, ajudou a resolver problemas. A ideia é usar políticas locais como exemplos do que pode ser levado para o resto do país. Aécio só não será a única estrela 151

tucana em São Paulo, onde o governador Geraldo Alckmin também aparecerá na propaganda. Procurado, Aécio confirmou a estratégia:

— Vamos mostrar o que o PSDB é de fato, desmistificando essa impressão de que o partido seja de elite. A partir da experiência de Minas Gerais, conseguiremos mostrar de verdade como cuidamos das pessoas.

O PSDB testou os programas com 48 grupos de entrevistados de 12 estados, sempre membros das classes B, C e D. Além de ouvi-los sobre os novos filmes, os publicitários do tucano ouviram também sua opinião sobre as recentes propagandas do PT, que exaltaram a presidente Dilma Rousseff, e do PSB, focadas no governador pernambucano Eduardo Campos.

O fato de o grupo de entrevistados não envolver a classe A deve-se aos resultados das pesquisas feitas pelo PSDB. Nelas, o candidato tucano já tem hoje intenções de voto próximas à da presidente Dilma Rousseff e, como demonstram as duas últimas eleições nacionais, este eleitorado tradicionalmente apoia os candidatos tucanos. Já a classe E é vista como a mais difícil de ser conquistada, inclusive em função da grande dependência das políticas do governo federal. Entre os mais pobres, a intenção de votos em Dilma beira os 65%.

Anexo 15: texto da notícia “Aécio usa a televisão para se tornar mais popular”, publicada no dia 20 de maio

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Anexo 16 da e da oferta de crédito, uma parcela relevante da população ascendeu das classes D e E, nos últimos anos, para a classe C e passou a ser chamada de nova_classe_média. Cerca de 108 milhões de pessoas estão nessa camada social que movimentou nada menos que R$ 1,17 trilhão em 2013. Com renda mais alt rca de 108 milhões de pessoas estão nessa camada social que movimentou nada menos que R$ 1,17 trilhão em 2013. Com renda mais alta e crédito farto, a nova_classe_média foi às compras. Reformou a casa, comprou móveis, trocou o tanque pela máquina de lavar roupa e comprou TV de LCD: um dos símbolos da bo e internet banda larga. Por tudo isso, a classe média é responsável por 58% do crédito no Brasil.

Faz mal a todos aqueles que foram incluídos na “nova_classe_média” e que, hoje, veem o sonho de melhoria de qualidade de vida se esvair em meio ao transtorno urbano e à conta salgada do supermercado aldade. O levantamento, que ouviu 1.500 pessoas no país, considera a evolução do consumo entre 2011 e 2013 e vai da explosão de compras, a reboque da nova_classe_média, ao freio do ano passado. Até 2018, a Mintel estima que o consumo cresça em média 7,2% ao ano, alcançando R$ 4,24 trilhões. Incentiv onsumidores devem evitar compras por impulsos, privilegiando itens mais acessíveis, que tragam satisfação. Somadas, a classe média tradicional e essa nova_classe_média emergente são 54% da população. Tudo que acontecerá no Brasil nos próximos anos passará por aí. Bem- aventurados os que conseguirem d

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ue nessa primeira reunião com os empresários foram apresentadas sugestões para melhorar o programa, para ampliar as faixas de atendimento e atender a nova_classe_média e foram discutidos aspectos que podem elevar o preço das habitações construídas pelo programa.

BRASÍLIA E RIO - A escalada da infla dor Amplo (IPCA). A mordida no orçamento só não foi mais doída porque a renda da classe C continuou a subir. No entanto, ainda em fase de expansão, a nova_classe_média já está dividida. Boa parte se encontra em uma “zona de rebaixamento” e corre o risco de voltar à classe D por causa das condições d consideram que o resultado da eleição foi determinado pela conjunção de duas grandes mudanças que ocorreram na sociedade indiana: a emergência de uma nova_classe_média, que saiu do campo para as cidades, e os primeiros impactos do crescimento da participação dos jovens na política. Esses fatores est mo o primeiro ano em que a internet terá papel central na campanha presidencial. E a aposta dos marqueteiros, para se aproximar do eleitor jovem e da nova_classe_média, é explorar a intimidade dos pré-candidatos na rede. No domingo, reportagens de O GLOBO sobre os motivos da satisfação/insatisfação

No domingo, reportagens de O GLOBO sobre os motivos da satisfação/insatisfação do brasileiro e acerca dos efeitos corrosivos da inflação no bolso da “nova_classe_média” ajudam na garimpagem do porquê a maioria dos eleitores desejam Dilma no Planalto, mais uma proporção bem maior quer mudanças. A ren tou a cair, e a renda está subindo. Isso é mais surpreendente hoje do que há alguns anos. No mercado de trabalho, que é onde o presente e o futuro da nova_classe_média vão ser decididos, o processo continua. No domingo, reportagens do GLOBO sobre os motivos da satisfação/insatisfação do brasileiro e

. No domingo, reportagens do GLOBO sobre os motivos da satisfação/insatisfação do brasileiro e acerca dos efeitos corrosivos da inflação no bolso da “nova_classe_média” ajudam na garimpagem do porquê a maioria dos eleitores deseja Dilma no Planalto, mas uma proporção bem maior quer mudanças. O de An

. Que situação econômica explicaria os protestos? Qual força social estaria por trás deles? Trabalhadores, excluídos, a juventude, desempregados, uma nova_classe_média? Göran Therborn, sociólogo sueco que é professor em Cambridge, estuda o movimento geral, e sustenta que há novas massas na rua no pl a Bolívia, etnias asiáticas e africanas); populações “excluídas” (periferias e favelas de países subdesenvolvidos); proletários e assalariados de uma nova_classe_média, (surgida nos Brics e na China).

Mais uma pista a indicar o andar da carruagem. Parcela da população brasileira é arrastada para ci stada para cima e para baixo da pirâmide social pelas ondas de marés enchentes e marés vazantes. A primeira carrega as pessoas da classe C, a chamada nova_classe_média, para um passeio pelos territórios do grupo B, às vezes com direito a uma escapulida (rápida) ao topo, onde habita a categoria A. Qu icia a subida é grana extra. Um estudo detalhado sobre os ganhos e os gastos das classes C, D e E trouxe um dado novo sobre a classe C, considerada a nova_classe_média do País: a renda dessa parcela da 153

população não é tão estável quanto se pensa. Na verdade, tanto o valor quanto as fontes de rendime verdade, tanto o valor quanto as fontes de rendimento tendem a mudar, às vezes drasticamente, mês a mês. Leia mais em Pesquisa mostra que a renda da nova_classe_média muda todos os meses Algumas hipóteses foram levantadas para o fenômeno. Para a professora de Ciência Política da Universidade Federa

ítica da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) Maria do Socorro Sousa Braga, a melhora de Dilma entre os que ganham mais pode ter relação com a nova_classe_média. Afinal, ensinar a consumir parece uma necessidade cada dia maior diante de uma nova_classe_média que já representa 54% da população lma entre os que ganham mais pode ter relação com a nova_classe_média. Afinal, ensinar a consumir parece uma necessidade cada dia maior diante de uma nova_classe_média que já representa 54% da população brasileira, nada menos do que 108 milhões de pessoas, que movimentaram R$ 1,17 trilhão, no ano pa

ões de pessoas, que movimentaram R$ 1,17 trilhão, no ano passado, segundo dados do Instituto Data Popular. Somadas, a classe média tradicional e essa nova_classe_média emergente são 54% da população. Tudo que acontecerá no Brasil nos próximos anos passará por aí. Bem- aventurados os que conseguirem d stada para cima e para baixo da pirâmide social pelas ondas de marés enchentes e marés vazantes. A primeira carrega as pessoas da classe C, a chamada nova_classe_média, para um passeio pelos territórios do grupo B, às vezes com direito a uma escapulida (rápida) ao topo, onde habita a categoria A. Qu

Anexo 16: ocorrências de expressão do trimestre que vai de março a maio de 2014

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Anexo 17

SÃO PAULO - A reação da presidente Dilma Rousseff registrada pela pesquisa Ibope foi alavancada principalmente pelas intenções de voto de um eleitorado que está longe de ser o tradicional do PT. Foi no grupo dos eleitores mais ricos — o que na metologia usada pelo Ibope inclui majoritariamente a classe média brasileira — que Dilma teve seu maior crescimento no último mês. Em sentido oposto seguiu o pré-candidato do PSDB, Aécio Neves. A melhor performance dele, em comparação ao levantamento de abril, deu-se junto aos eleitores que estão entre os mais pobres — aqueles com renda entre um e dois salários mínimos. Eduardo Campos (PSB) registrou o mesmo ritmo de crescimento nos dois grupos.

O aumento de intenções de voto de Dilma entre os mais ricos e de Aécio entre os mais pobres já havia aparecido na sondagem do Datafolha no início do mês. A pesquisa Ibope vem confirmar essa tendência que, para especialistas ouvidos pelo GLOBO, é curiosa e precisa ser acompanhada de perto nos próximos levantamentos para ter suas causas entendidas.

Segundo o Ibope, Dilma cresceu 12 pontos percentuais entre os eleitores com renda acima de cinco salários mínimos, passando de 26% em abril para 38% em maio. Com a escalada, ela superou Aécio. No mês passado, os dois estavam empatados nesse segmento. O tucano oscilou um ponto para baixo e tem hoje a simpatia de 25% dos eleitores.

O maior crescimento de Aécio, de sete pontos, aconteceu entre os entrevistados mais pobres, historicamente ligados ao PT. Ele saltou de 10% das intenções de voto para 17%.

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Algumas hipóteses foram levantadas para o fenômeno. Para a professora de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) Maria do Socorro Sousa Braga, a melhora de Dilma entre os que ganham mais pode ter relação com a nova classe média.

— Esse é o conjunto do eleitorado mais preocupado com a ameaça de retrocesso. Esse é o eleitor mais suscetível ao discurso do medo que o PT levou a TV nos últimos dias — afirmou.

Para o professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em marketing político Paulo José Cunha, o avanço de Dilma pode ser explicado também pelo perfil conservador desse eleitorado.

Já o crescimento de Aécio entre os mais pobres, para Cunha, indica que o tucano “estaria conseguindo conquistar, com o discurso sobre corrupção, os decepcionados com o governo, embora beneficiários de programas sociais”.

Apesar dessas movimentações, Dilma continua tendo no eleitorado mais pobre seu maior capital eleitoral, com apoio de mais de 40% dos entrevistados, enquanto Aécio tem maior adesão entre os mais ricos.

Anexo 17: texto da matéria “Dilma sobe entre os mais ricos e Aécio melhora entre os mais pobres”, do dia 23 de maio.

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Anexo 18

Com a parte inicial da Copa do Mundo coincidindo com o período em que os partidos farão suas convenções, demorará mais que o usual para as eleições entrarem no radar das preocupações da população. E se a seleção chegar à final, no domingo 13 de julho, mais tempo deverá levar para que suba a temperatura da disputa, mesmo que o programa eleitoral vá ao ar a partir do início desse mês.

Este é um dos motivos pelos quais as pesquisas que têm sido feitas não servem como delineadores seguros das tendências do eleitorado em outubro. Mas pelo menos parece certo que, devido a uma série de fatores, entre eles a própria conjuntura da economia e algumas de suas perspectivas, a tentativa do segundo mandato de Dilma Rousseff deverá ser o maior desafio do PT desde a primeira vitória de Lula em 2002.

Apesar da importância relativa das pesquisas, em que Dilma se mantém favorita, um sugestivo dado precisa ser levado em conta: a candidata à reeleição lidera as sondagens, com 40% das intenções de voto, mas 70% dos entrevistados desejam mudanças no governo. Há um extenso campo para especulações em torno desta aparente contradição. Que talvez sequer exista.

No domingo, reportagens do GLOBO sobre os motivos da satisfação/insatisfação do brasileiro e acerca dos efeitos corrosivos da inflação no bolso da “nova classe média” ajudam na garimpagem do porquê a maioria dos eleitores deseja Dilma no Planalto, mas uma proporção bem maior quer mudanças.

Em síntese, pesquisa da FGV, da Diretoria de Análise de Políticas Públicas, feita junto a 3.600 pessoas, entre março e abril, nas principais regiões metropolitanas, concluiu que, se a vida melhorou dentro de casa, se degradou bastante fora.

Em contrapartida, Saúde, Segurança, Transporte e Educação foram reprovados majoritariamente: o menor índice (57%) foi o de insatisfação com a Educação no Recife e o maior (85%), com a Segurança, em Brasília.

Supõe-se que os que melhoraram o padrão de vida, com o grande acesso ao crédito dos últimos anos, com o qual mobiliaram, reformaram a casa e adquiriram eletrodomésticos, 155

tendam a preferir manter tudo como está em Brasília. Mas, como padecem da falta de serviços públicos essenciais, querem mudanças. E trata-se de serviços que dependem do Estado.

Outro aspecto é o impacto da inflação nos salários dos que acabam de ascender à classe média. Pelos cálculos do Instituto Data Popular, a elevação dos preços subtraiu, em um ano, R$ 73 bilhões do poder de compra desta faixa da população.

Descaso com investimentos em infraestrutura urbana e desleixo diante da inflação começam a aparecer no pano de fundo destas eleições. Qual o efeito final nas urnas, ainda não é possível saber. Mas estas são questões a serem consideradas.

Anexo 18: texto do editorial “Explicações para o desejo de mudanças”, do dia 27 de maio