Universidade Federal De São Paulo Escola De Filosofia, Letras E Ciências Humanas Danielle Yumi Suguiama O Daomé E Suas “Ama
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DANIELLE YUMI SUGUIAMA O DAOMÉ E SUAS “AMAZONAS” NO SÉCULO XIX: leituras a partir de Frederick E. Forbes e Richard F. Burton GUARULHOS 2019 DANIELLE YUMI SUGUIAMA O DAOMÉ E SUAS “AMAZONAS” NO SÉCULO XIX: leituras a partir de Frederick E. Forbes e Richard F. Burton Dissertação apresentada ao Programa de Pós- graduação à Universidade Federal de São Paulo para a obtenção do título de Mestre em História. Área de concentração: História Orientação: Prof. Dr. Jaime Rodrigues GUARULHOS 2019 Suguiama, Danielle Yumi. O Daomé e suas “amazonas” no século XIX : leituras a partir de Frederick E. Forbes e Richard F. Burton / Danielle Yumi Suguiama. Guarulhos, 2018. 167 f. Dissertação(Mestrado em História) – Universidade Federal de São Paulo, Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,2018. Orientação:Prof. Dr. Jaime Rodrigues. 1. Reino Daomé. 2. "Amazonas". 3.História da África. I.Jaime Rodrigues. II. Doutor. Danielle Yumi Suguiama O Daomé e suas “amazonas” no século XIX: leituras a partir de Frederick E. Forbes e Richard F. Burton Dissertação apresentada ao Programa de Pós- graduação à Universidade Federal de São Paulo para a obtenção do título de Mestre em História. Área de concentração: História Orientação: Prof. Dr. Jaime Rodrigues Aprovação: ____/____/________ Prof. Dr. Jaime Rodrigues Universidade Federal de São Paulo - EFLCH Prof. Dr. Alexsander Lemos de Almeida Gebara Universidade Federal Fluminense - UFF Profª. Drª. Patricia Teixeira Santos Universidade Federal de São Paulo - EFLCH Para Ricardo Shigueru, meu pai AGRADECIMENTOS O primeiro agradecimento se destina ao meu orientador, Prof. Dr. Jaime Rodrigues, que sempre acreditou na concretização dessa pesquisa, mesmo quando ela era ainda um projeto com ideias sem formas definidas. Obrigada pela dedicação, paciência e sugestões que, com certeza, enriqueceram essa dissertação e minha trajetória como pesquisadora. Agradeço à CAPES pela concessão da bolsa de mestrado e à UNIFESP por viabilizar a concretização dessa pesquisa e por minha formação intelectual e acadêmica. À Profª. Drª. Patricia Teixeira Santos e Prof. Dr. Alexssander Gebara pelas valiosas sugestões ao encaminhamento da dissertação e pela disposição de, mais um vez, revisitar esses textos. Aos professores das disciplinas cursadas na pós-graduação: Profª. Drª Andrea Slemian, Profª Drª. Marcia d’Alessio, Prof. Dr. André Machado, Prof. Dr. Denilson Botelho e Prof. Dr. Luigi Biondi por contribuírem na reflexão das temáticas abordadas, a partir de discussões e sugestões que fizeram a minha pesquisa. Aos colegas de graduação que integraram o grupo de estudos sobre as leituras obrigatórias para o processo seletivo. Agradeço à minha mãe, Mitiyo Ito Suguiama e minha irmã Vivian Yuri Suguiama por acreditarem em meu potencial, sempre me incentivando a continuar minha trajetória acadêmica e por todo amor e cuidado que dedicaram-me ao longo da vida. Ao meu companheiro Caio Fernando Alves Duarte Santos que está ao meu lado desde os primeiros anos de graduação e que partilhou cada angústia e incerteza que o processo do mestrado me gerou. Pelas conversas entusiasmadas que cada elemento novo descoberto gerava e por todo cuidado, amor e atenção que sempre me proporcionou em todos esses anos. RESUMO Essa pesquisa tem como objetivo analisar as visões apresentadas por Frederick E. Forbes e Richard F. Burton sobre o reino Daomé e as “amazonas”. As fontes utilizadas foram: Dahomey and the dahomans e A mission to Gelele respectivamente. Apesar de ambos serem representantes ingleses no reino Daomé, suas considerações sobre o reino e os nativos diferem significativamente. As diferenças em suas descrições se originaram dos contextos distintos que cada um deles encontrou durante suas viagens. Palavras-chave: África. Reino Daomé. “Amazonas” ABSTRACT This research aims to analyze the visions presented by Frederick E. Forbes and Richard F. Burton about the Kingdom of Dahomey and the “amazons”. The sources used were: Dahomey and the dahomans and A mission to Gelele. Although both are english representatives in the Kingdom of Dahomey, their considerations about the kingdom and the natives differ significantly. The differences in their descriptions originated from the distinct contexts each of them encountered during their travels. Keywords: Africa. Kingdom of Dahomey. “Amazons”. LISTA DE IMAGENS FIGURA 1 – “Gezo, king of Dahomey” 68 FIGURA 2 – “Sarah Forbes Bonnetta: a african native” 83 FIGURA 3 – “Seh-Dong-Hong-Beh: an amazon in the dahoman army” 94 FIGURA 4 – “Amazon” 120 FIGURA 5 – “The king’s victims” 121 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 10 INTRODUÇÃO: A ÁFRICA E AS “AMAZONAS”: HISTORIOGRAFIA E FONTES 16 A ÁFRICA COMO OBJETO DE ESTUDO DOS HISTORIADORES 16 AS “AMAZONAS” DO DAOMÉ NA HISTORIOGRAFIA 24 RELATOS DE VIAGEM: PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS DE ANÁLISE 26 CAPÍTULO 1 - OS TRÊS PILARES DA SOCIEDADE DAOMEANA: DUALIDADE, GUERRA E LEGITIMIDADE REAL 35 PRIMEIROS DESLOCAMENTOS POPULACIONAIS E O PRINCÍPIO DA DUALIDADE EM SEUS MITOS FUNDACIONAIS 36 INSERÇÃO NO TRÁFICO DE ESCRAVOS 40 ORGANIZAÇÃO POLÍTICA 44 PRINCIPAIS CARGOS MASCULINOS 45 PRINCIPAIS CARGOS FEMININOS 48 MULHERES ARMADAS OU “AMAZONAS” 54 DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AO COMÉRCIO DE ÓLEO DE PALMA 60 CAPÍTULO 2 - FREDERICK FORBES E SEU OLHAR SOBRE AS “AMAZONAS” 65 FREDERICK FORBES 65 DAHOMEY AND THE DAHOMANS: AS GUERRAS E SEUS HABITANTES 67 DAOMEANOS E SUAS MANEIRAS: SOCIEDADE, ECONOMIA E ORGANIZAÇÃO POLÍTICA 73 DAHOMEY AND THE DAHOMANS: AS CELEBRAÇÕES DOS “COSTUMES” EM ABOMÉ 80 PROCESSOS FORMADORES DO DAOMÉ E A ORIGEM DA VALORIZAÇÃO MILITAR DO REINO SEGUNDO FORBES 84 AS “AMAZONAS” DO DAOMÉ SOB O OLHAR DE FREDERICK FORBES 86 DE GUARDAS REAIS A MILITARES 91 DECAPITAÇÃO DE CABEÇAS INIMIGAS 97 CAPÍTULO 3 – REINO DAOMÉ E AS “AMAZONAS” DE RICHARD BURTON 102 PROJETOS PARA O “PROGRESSO” DAS TERRAS AFRICANAS 108 CONCEPÇÕES SOBRE “RAÇA” E CULTURA 111 A MISSION TO GELELE: ITINERÁRIO E ABORDAGENS 117 TRÁFICO, AGRICULTURA E COMÉRCIO 124 O DAOMÉ E O REI GLELE AOS OLHOS DE BURTON 126 AS GUERRAS DE ABEOKUTA E O DESGASTE NAS RELAÇÕES ENTRE INGLATERRA E DAOMÉ 133 GUERRAS DE ABEOKUTA EM 1851 E 1864 135 AS “AMAZONAS” EM BURTON 138 “A VIDA NO DAOMÉ É BASEADA NA HISTÓRIA E É A HISTÓRIA QUE GOVERNA O REINO”: A LEGITIMAÇÃO DO PODER MONÁRQUICO 146 OS SENTIDOS DO XWETANÚ OU “COSTUMES” DO DAOMÉ SEGUNDO BURTON 148 CONSIDERAÇÕES FINAIS 158 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 161 10 APRESENTAÇÃO As amazonas não deveriam se casar e, em suas próprias declarações, elas tinham mudado de sexo: “Nós somos homens”, diziam elas, “não mulheres” (...) O que os homens fazem, as amazonas se esforçam para superar. (FORBES, 1851, v.1, p.23) A existência de um corpo militar feminino altamente treinado foi descrita pela maioria dos viajantes europeus que estiveram no reino do Daomé durante os séculos XVIII e XIX. Por associarem a guerra a uma função puramente masculina, as mulheres guerreiras do Daomé ganharam destaque nos relatos dos viajantes. Se o emprego de mulheres nas atividades militares foi surpreendente para os europeus, entre os reinos africanos a prática parecia ser recorrente e, apesar disso, Frederick Forbes atribuiu ao Daomé o pioneirismo no desenvolvimento de um corpo militar exclusivamente feminino. Entretanto, há evidências de que os reinos vizinhos, como o reino Oyó, também tenham formado seus próprios pelotões femininos. As “amazonas” do Daomé permanecem no imaginário contemporâneo e são vistas como exemplos do protagonismo feminino negro e interpretadas como símbolos de luta e resistência negra, sobretudo, das mulheres. As “amazonas” foram representadas em algumas produções cinematográficas, sendo a mais recente o filme “Pantera Negra” (2018), produzida pela Marvel Studios. Nele é contada a trajetória do príncipe T’Challa e a luta para garantir sua sucessão ao trono do reino Wakanda. A influência das “amazonas” está nas personagens das guardas de T’Challa que demonstram destreza militar, além de uma intensa fidelidade ao soberano. O filme, apesar de ficcional se destacou pelo emprego de elementos presentes em sociedades tradicionais africanas, para além das mulheres guerreira. No filme “Cobra verde” (1987) de Werner Herzog elas são personagens presentes coletivamente, e interpretadas apenas de forma genérica, sem o desenvolvimento individual dos personagens. Em 1967, o fotógrafo norte- americano Irwin Penn esteve no Daomé e fotografou mulheres daomeanas, influenciado pelo imaginário em torno das guerreiras históricas do reino. A existência de representações cinematográficas e artísticas das “amazonas”, demonstram que, apesar de terem resistido somente até o século XIX, o valor simbólico presente no imaginário social se fortaleceu e continua vivo, de forma ainda mais intensa, a partir da dramatização delas em filmes de grande circulação como o “Pantera Negra”. 11 No reino Daomé, as mulheres conquistaram espaços de atuação mais alargados, se comparados com a realidade britânica. Elas atuavam em cargos políticos, nas forças armadas e no comércio. Além disso, eram responsáveis pelo desenvolvimento agrícola e trabalhos afeitos à instituição familiar. Outra realidade possível era adentrar à comunidade palaciana no Daomé, onde as mulheres poderiam vivenciar maiores oportunidades de atuação social. O imaginário dualista ajuda a explicar a existência de cargos ocupados por mulheres naquele reino. Isso significa que, para cada cargo ou função ocupado por um homem, haveria outro idêntico e simultaneamente exercido por uma mulher. Esse princípio também estava presente