Reunião de: 29/10/2020 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 56ª LEGISLATURA Comissão Externa destinada a acompanhar e promover estratégia nacional para enfrentar as queimadas em biomas brasileiros (REUNIÃO TÉCNICA) Em 29 de Outubro de 2020 (Quinta-Feira) Às 20 horas

A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Boa noite a todas e a todos que estão conosco na sala e aos que estão nos acompanhando remotamente nesta 13ª audiência pública. Declaro aberta nossa 13ª reunião da Comissão Externa destinada a acompanhar e promover a estratégia nacional para enfrentar as queimadas em biomas brasileiros. Esta reunião será transmitida pela TV Câmara, Internet, redes dos Deputados da Comissão, e os cidadãos podem participar diretamente por meio do e-Democracia. Solicitamos a todos os presentes que mantenham os microfones desligados. No momento do convite para a fala, o microfone será aberto. Nós temos muita honra de estar iniciando esta 13ª reunião com o objetivo, com o foco muito direto de que a tragédia que o Pantanal e o Brasil sofreram neste ano não se repita nos anos vindouros. Por isso, vamos iniciar a nossa atividade com um vídeo que nos entristece cada vez que o vemos, mas que serve para que comecemos a incrementar, um pouco mais, as reflexões a respeito da tragédia que aconteceu no Pantanal. Peço à equipe técnica que passe o nosso primeiro vídeo da noite. (Exibição de vídeo.)

(Exibição de vídeo.)

A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Eu acho que o vídeo mostra muito o que aconteceu. Os povos indígenas guató e boe bororo, do Estado de Mato Grosso, assim como os povos de Mato Grosso do Sul, já neste momento, estão sofrendo as consequências do que aconteceu no Pantanal.

Quero cumprimentar a companheira Lucélia, que fez um trabalho exemplar aqui no Estado do Mato Grosso, apoiando e defendendo o povo xavante. Foi um trabalho de meses de apoio ao povo xavante. Com certeza, agora teremos que abrir novos flancos de apoio aos povos do Pantanal, que estão passando por essa tragédia. Nós precisamos discutir essa tragédia e avançar. Quero agradecer a todos os nossos artistas que já estão conosco. Daremos continuidade à nossa atividade, informando que esta 13ª audiência, cujo tema é Artistas e personalidades em defesa dos biomas brasileiros, tem como objetivo unir as vozes dessa classe que se engaja na luta, proporciona muita

1/21 Reunião de: 29/10/2020 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS alegria a todo o povo brasileiro e, nos momentos de tragédia, sempre emprestou suas vozes, sempre esteve pronta para colaborar. Neste caso, tratamos da grande tragédia do bioma pantaneiro, o Pantanal, que ocupa 150 mil quilômetros quadrados no nosso Estado, o Mato Grosso, e no Mato Grosso do Sul e 40 mil quilômetros na Bolívia e no Paraguai e que tem diferentes características, mas é a grande planície úmida do mundo. Juntam-se a nós esses artistas para clamar por soluções efetivas na defesa da fauna e da flora dos biomas brasileiros — neste momento, do nosso Pantanal. Ao iniciar, agradeço ao Presidente da Câmara, o Deputado Rodrigo Maia, que foi muito preciso ao criar esta Comissão Externa e tem dado todo o apoio e contribuição para que a Comissão continue seus trabalhos, organize suas audiências e faça um relatório que possa indicar caminhos. Espero que passemos um bom tempo voltados para o problema do fogo nos biomas brasileiros, para que seja de fato atacado e solucionado. Peço ao Deputado Federal Paulo Teixeira que faça a leitura de uma carta que esta Comissão dirige, respeitosamente, aos artistas brasileiros, especialmente aos que receberam o convite e estão aqui conosco. Deputado Paulo Teixeira, por favor. O SR. PAULO TEIXEIRA (PT - SP) - Boa noite, Deputada Professora Rosa Neide, Presidente da nossa Comissão. Cumprimento os nossos colegas, nas pessoas dos Deputados Vander Loubet, Alessandro Molon, Marcelo Freixo, Professor Israel Batista e demais Deputados. Agradeço aos artistas aqui presentes: o Almir Sater, a Tayla Alaya, Marcos Palmeira, Lucélia Santos, Dira Paes, Mateus Solano, Letícia Sabatella, Rainer Cadete, Tetê Espíndola, o Thiago Lacerda, o Renato Braz, a Vera e a Zuleika. Passo à carta, cuja leitura me foi atribuída pela Presidenta Professora Rosa Neide. Carta aos Artistas Emprestem suas vozes e sua arte ao Pantanal O Brasil e o mundo encontram-se estarrecidos com os incêndios sem precedentes que se alastram pelos biomas brasileiros.

As lágrimas escorreram com a combinação do “dia do fogo” para destruir a Amazônia com a mais recente destruição do Pantanal, em um cenário em que recordes históricos de desmatamento e incêndios são ultrapassados dia após dia. O nosso Cerrado também não é poupado, lócus do nascimento dos rios que banham o Pantanal; hoje, com suas cabeceiras assoreadas e desmatadas, também a pedir socorro. Como nos orienta o Papa Francisco: cuidar da casa comum é compromisso de todos e todas. E, portanto, não é possível aceitar milhões de hectares queimados, milhares de animais virando cinzas, secas intensas, incêndios criminosos, sinais invertidos e omissão do poder público, matérias (biomassa) carbonizadas carregadas para os rios, ataques ao trabalho científico, povos originários e tradicionais duramente afetados. É preciso formar uma ampla consciência social chamando a responsabilidade da opinião pública, com vigor, para esta realidade. A participação de pessoas amplamente reconhecidas na sociedade por sua atuação — artistas, atletas, intelectuais e várias outras personalidades — é fundamental para chamar a atenção da população e articular forças vivas da sociedade para pressionar, reivindicar e reforçar o compromisso do poder público com soluções sustentáveis para nossos biomas, para garantir ajuda emergencial, para prevenir novos incêndios e para restaurar os quilômetros e quilômetros destruídos. Com artistas e as mais variadas personalidades engajadas, certamente lançaremos luzes sobre os problemas e, de forma coletiva, enfrentaremos as causas e consequências dessa tragédia e, principalmente, disporemos de soluções dialogadas e pactuadas, com responsabilizações claras, para que as tragédias não voltem a se repetir. Nossos artistas e personalidades brasileiras abraçam o Pantanal. Abraçam a causa de defesa de nossos biomas! Serão embaixadoras e embaixadores de uma causa comum. A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Muito obrigada, Deputado Paulo Teixeira. Esta carta será assinada e endereçada a todos os senhores que estão aqui como convidados — assinada por 22 Parlamentares que compõem esta Comissão.

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Esta audiência de hoje foi organizada especialmente por mim e pelos Deputados Alessandro Molon, Marcelo Freixo, Professor Israel Batista, Pedro Cunha Lima e Paulo Teixeira. Os demais Deputados e todos os assessores se engajam todos os dias nesta luta e estão aqui conosco. Neste momento, peço emprestada uma poesia do nosso conterrâneo, do nosso poeta maior do Pantanal, Manoel de Barros, que passarei a ler. O rio que fazia uma volta atrás da nossa casa era a imagem de um vidro mole... Passou um homem e disse: Essa volta que o rio faz... se chama enseada... Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que fazia uma volta atrás da casa. Era uma enseada. Acho que o nome empobreceu a imagem.

A partir da imagem, da voz e de tudo que Manoel de Barros fez para divulgar o Pantanal, para enaltecer o Pantanal, que agora nós emprestemos dele todas as virtudes como poeta para continuar na defesa do Pantanal! Para fazer essa defesa, convido também um grande artista pantaneiro que está aqui conosco. E aí os deixamos livres: cada convidado, por um período de 3 minutos a 5 minutos, pode fazer uma declaração, pode fazer uma fala, pode cantar, como melhor aprouver a cada um. Primeiro, convido o nosso artista de Mato Grosso Almir Sater. O SR. ALMIR SATER - Estão me ouvindo? A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Estamos ouvindo, sim. O SR. ALMIR SATER - Pois é, são muito tristes essas imagens, realmente. Não dá para dizer quem foi o culpado disso. São vários fatores. Nós brincamos aqui que o Pantanal é um lugar em que morremos afogados nas águas e morremos de sede na seca, ou queimados. Este é um lugar muito diferente. Nós temos aqui temperaturas altíssimas, assim, de 40 graus com sensação de 50 graus, então qualquer fagulha, qualquer descuido, ascende-se um fogo... Às vezes um foguinho perto de casa dá a sensação de que está queimando o mundo. Imaginem um incêndio dessa proporção. Eu acho que esses heróis que vieram para ajudar a apagar o nosso fogo — vieram do Piauí, de diversos lugares do Brasil — merecem realmente todo o nosso apoio, a nossa consideração, o nosso respeito, porque esse é um trabalho de heróis. Ele não é fácil. O fogo, quando alcança essa potência, essa massa, esse calor absurdo, é quase impossível ser apagado. Vejo aqueles pilotos com avião jogando 20 mil litros de água em cima do Pantanal; às vezes a água nem chega ao chão. Esse é um trabalho muito difícil. Não existe culpado. Acho que nós tínhamos que pensar numa forma de prevenção e discutir com os próprios pantaneiros, com os cientistas, com o pessoal da EMBRAPA o que podemos fazer para diminuir essa combustão, diminuir um pouco esse material que propaga essa combustão com tanta força. É preciso ouvir muito os pantaneiros. Os pantaneiros são pouco ouvidos nessa hora. Eles conhecem isso aqui há muito tempo, preservam o Pantanal há muito tempo. Aqui, graças a todos os santos dos céus e ao trabalho dos pantaneiros da região, não tivemos incêndio, mas acompanhamos o incêndio nas beiras do Rio Paraguai, na região do Amolar, com muita preocupação e com medo. Praticamente toda a nossa vizinhança, todo o pessoal da nossa região, todo mundo estava muito conectado, muito ligado um com outro; em caso de qualquer foco de incêndio, todo mundo corria para ajudar, de todas as fazendas. Então, esse é um trabalho muito difícil. Acho que tem que ser pensado um jeito como nós possamos evitar isso, mas num debate sério, com cientistas, com pesquisadores, com pantaneiros, com pessoas do ramo, não só com emoção. A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Muito obrigada, Almir. Você, que vive no Pantanal, tem muito a contribuir. Informo aos nossos artistas que estão aqui que esta é a décima terceira audiência. Os pantaneiros de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul, em grande parte, nas suas representações, já vieram a esta Comissão, bem como os fazendeiros, os donos de pousadas, a EMBRAPA de Mato Grosso do Sul, a universidade federal dos dois Estados e as estaduais, as instituições

3/21 Reunião de: 29/10/2020 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS de pesquisa como um todo, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico — ANA, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais — INPE. Nós ouvimos diversas pessoas, todo mundo que foi possível. Você está correto, porque, sem ciência, não vamos avançar; e, sem o conhecimento de quem vive há 300 anos no Pantanal, que tem todo o conhecimento a respeito daquela região, também não vamos ter as respostas. Todos os Deputados desta Comissão estão debruçados sobre essa questão, para que realmente essa tragédia não volte a acontecer.

Chamo também, com muito orgulho e carinho, Tetê Espíndola, uma pessoa que ajudou a organizar esta audiência de hoje e que sempre emprestou sua voz maravilhosa às causas do nosso País. Vamos ouvi-la. A SRA. TETÊ ESPÍNDOLA - Estão me ouvindo? A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Sim, está tranquilo. A SRA. TETÊ ESPÍNDOLA - Estou em São Paulo. Sou de Campo Grande. Tive uma convivência bem pouca com o Pantanal. Em 2006, há 15 anos, fiz uma viagem pelo Rio Paraguai, começando pelo Rio Cuiabá. Fiquei muito emocionada de ver tudo tão preservado. Descemos o rio de chalana, na estação do inverno, em julho. De repente, depois de 15 anos, vi essas imagens. Fiquei desesperada, angustiada, chocada, quando as vi. Existe um chakra da garganta. Como já me disseram, eu tenho pássaros na garganta, e os meus pássaros se calaram, não conseguiram cantar. Não consegui cantar mais nada. Eu tive um sonho em que viro uma nuvem. Fui para o Pantanal e lá chovi. Salvei muitos bichos. A minha preocupação maior é com a fauna e com a flora. Acho que a flora vai se recuperar logo, mas, com relação aos bichos, vai ser muito difícil. Então, eu, como um pássaro, fiquei muito arrasada. Fui à luta. Resolvi fazer um alerta, por meio de uma música do Itamar Assumpção, que a compôs em 1988, em Cuiabá, já prevendo a situação do Pantanal. Vou cantar só um pedacinho dela. É tudo que eu posso fazer. Hoje, eu estou sentindo que os pássaros estão querendo isso. (É entoada a música Adeus Pantanal.)

A SRA. TETÊ ESPÍNDOLA - E é isso que não quero que aconteça, gente. Eu tenho esperança de que possamos realmente unir todas essas boas cabeças, essas pessoas maravilhosas que temos no nosso Brasil, que sabemos onde estão, e de todas se unirem junto conosco para isso não acontecer. É esse o meu alerta. É isso. A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Que os pássaros que estão na voz da nossa diva mato- grossense — vou chamá-la assim, Tetê — possam continuar vivos aqui no Pantanal e que seu sonho de nuvem habite em todos nós e em todas as nossas ações! O Pantanal precisa de chuva. Nós precisamos de chuva. A SRA. TETÊ ESPÍNDOLA - Muita. A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - O INPE está dizendo que nós teremos anos seguidos de seca. E nós devemos planejar o próximo ano para que a seca que virá novamente não faça o que fez este ano. Eu estou muito emocionada com a sua fala, com a do Almir e com as contribuições. Se algum artista dos que vieram para participar for chamado e não quiser falar — porque algumas pessoas disseram: "eu quero ir, mas não quero falar" —, não há problema. Quem quiser, fará uso da palavra. Convido agora para fazer uso da palavra a companheira Lucélia Santos. E quero reforçar o trabalho maravilhoso que ela fez aqui. O mais recente trabalho dela foi para o povo xavante, não é, Lucélia? Sei que você faz muitos. A SRA. LUCÉLIA SANTOS - Boa noite. Eu queria pedir uma gentileza. Queria passar minha vez para o Marcos Palmeira, porque ele está com uma Internet oscilante, e eu queria muito ouvi-lo. E, depois do Marcos, eu falo. Pode ser? A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Tranquilo, tranquilo. A SRA. LUCÉLIA SANTOS - Peço isso para não corrermos o risco de perdê-lo. Se o Marquinhos ainda estiver conectado... Marcos, eu estou lhe passando a palavra, porque eu queria ouvi-lo também. A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Muito bom. 4/21 Reunião de: 29/10/2020 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

Seja bem-vindo, Marcos. Você tem um trabalho maravilhoso. Agradeço aos Deputados que fizeram contato para que você estivesse aqui conosco. (Pausa.) Lucélia, acho que a conexão dele caiu. Mas, na hora em que ele retornar, nós o chamamos. A SRA. LUCÉLIA SANTOS - Está bem. Então, eu vou fazer uso da palavra. Boa noite, Deputada Rosa Neide, boa noite a todos os Deputados presentes. Não vou falar o nome de um por um, mas registro o meu boa-noite e minhas considerações. Boa noite a todos os meus colegas artistas que estão hoje nesta roda de conversa. Deputada, parabéns pela sua iniciativa e pelo seu trabalho. Muito obrigada pelo convite para poder participar desta audiência. Vou contar uma coisa: durante todo esse processo, evitei ao máximo ver cenas e imagens da morte dos animais, porque sou muito fraca para isso. Eu sou capaz de me tornar uma pessoa muito forte para lutar dentro dos parâmetros dos seres humanos, mas, quando se trata de maus-tratos e de uma tragédia que envolve animais e a floresta, não. Há mais de 35 anos, venho fazendo denúncias e lutando pela preservação dos biomas, pela preservação da fauna e da flora, mas ver os animais morrerem com tanto sofrimento é algo para mim insuportável. É realmente insuportável. Não consigo ver essas imagens. Eu acho o fim da espécie humana permitir que se chegue a um ponto como este. É grave demais. É grave para além de todos os limites.

Isso posto, penso que não podemos deixar de politizar essa questão, porque isso tem nome e sobrenome, esses desmandos. Eu pergunto por que o Pantanal... O Almir colocou uma coisa muito claramente: há a questão do local, que pode chegar a temperaturas elevadíssimas. É um calor insuportável, qualquer chispa de fogo pode se transformar num acidente e numa queimada grandiosa. Mas, há muitos anos, esse problema existe no Pantanal, e, nunca, nunca, nunca, até hoje, desde que eu me conheço por gente, no Brasil, ocorreu algo com essa dimensão, com essas proporções. Isso me parece um acidente criminoso. É muito boa a carta que o Deputado leu e que os artistas deverão assinar — eu a assino prontamente —, mas nós temos que entender realmente, como diz a carta, qual é a origem dessa tragédia. Se nós não detectarmos claramente a origem, não conseguiremos tratar as consequências e não conseguiremos evitar que isso volte a acontecer. Todos nós aqui presentes a esta mesa de reunião sabemos que todo o sistema protetor do meio ambiente está sendo desmontado de uma forma criminosa, de uma forma irreversível. É irreversível! Algumas coisas podem ser reversíveis, como a Tetê muito bem disse. Pode ser que a flora volte a brotar, mas não vai ser assim, há que haver um esforço enorme para fazer essa floresta se levantar outra vez. Isso não vai acontecer sem muito trabalho. Mas o que fazer com os bichos? Há uma série de espécies que certamente vamos perder. E como vamos evitar o sofrimento dos animais? Isso, para mim, me parece o mais importante. Então, eu não vou usar a palavra por muito tempo. Quero dizer apenas a vocês que esse trabalho é importantíssimo, é fundamental. Estou inteiramente à disposição desta Comissão para que possamos analisar fria e cientificamente — como disse o Almir, vamos analisar cientificamente — a origem do problema. Vamos trabalhar intensamente, tentando sensibilizar a sociedade brasileira, o maior número de artistas e a população de um modo geral para que isso não volte a acontecer jamais, para evitar que esse problema volte a acontecer, porque é insuportável para o Brasil a imagem da destruição, dos maus-tratos, das queimadas e da morte. O Brasil não é um país com essa energia, não é um país com esse astral. O Brasil é o país do amor, do afeto, do verde, da alegria e da vida. Nós temos essa qualidade e não podemos abrir mão de sermos brasileiros neste momento. Acho que o que eu poderia dizer é isto: estou 100% à sua disposição. A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Muito obrigada, Lucélia. Encanta-nos o seu compromisso. Como eu continuo dizendo, sou muito grata por tudo que você fez pelo povo xavante, do nosso Mato Grosso, neste momento de pandemia. Você emprestou todo o seu trabalho e sua energia para que o Brasil pudesse olhar a tragédia do povo xavante. Agora se coloca à disposição, como todos, com certeza, que utilizaram o seu tempo para estar aqui.

Sou muito grata a você. Neste momento, convido o Marcos Palmeira, que já retornou à nossa sala, para também fazer o uso da palavra. Marcos, o microfone é seu.

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O SR. MARCOS PALMEIRA - Boa noite. É um prazer estar aqui, em um momento realmente complexo, para falar com os Deputados, com os meus amigos atores e atrizes. Enfim, é muito triste tudo isso. Eu cresci vendo a Mata Atlântica sendo destruída, sendo devastada. Espero não morrer vendo o Pantanal devastado ou a Amazônia completamente devastada. Temos que pensar em que tipo de ambiente queremos viver no futuro, o que estamos buscando como sociedade de consumo, o que queremos consumir, essas questões. Eu não entendo, temos um Governo... Estamos aqui para pensar em soluções, mas é impossível não falar de um Ministro do Meio Ambiente que odeia o meio ambiente. Eu nunca vi isso. É muito frustrante. Vivemos todo o dia essa situação. A população está angustiada. Como comunicamos a importância do meio ambiente à sociedade civil? Acho que há uma dificuldade na comunicação, porque também não achamos uma forma de as pessoas realmente entenderem o que está acontecendo. Ao mesmo tempo, também só ficar batendo não dá muita resposta. Quanto mais você acha um inimigo para bater, mais você fortalece o inimigo. Então, temos que pulverizar isso. Temos que, realmente, mobilizar as pessoas. O trabalho dos brigadistas é uma coisa impressionante. É muito triste estarmos com um olhar na economia totalmente furado. Será que o Brasil vai perder a chance, mais uma vez, de ser o País do futuro ambientalmente, de forma sustentável, com produção de alimento de verdade? Se ficarmos falando de commodities... Sabe, eu estou cansado dessa economia de commodity, em que produzimos grãos para vender para fora, para transformar em ração, e darmos para os nossos animais. Nesse entendimento, que equilíbrio é esse? Qual é o retorno que estamos dando para a natureza? Pergunto porque estamos tendo a resposta, não é? É normal que isso venha junto com esse vírus. Essa pandemia que estamos vivendo é uma resposta. O meio ambiente está doente. Esse vírus é a natureza expurgando a sua doença e nos cobrando um preço muito alto. Não adianta mais fingir. Como disseram a Lucélia e o Almir, a questão da ciência é muito importante. Não dá mais para ficar achando, achando... Os satélites estão todos aí. Então, a minha vida hoje se divide em dois lados: o lado A é o artístico, o lado B é o meio ambiente, é o que eu faço, o meu dia a dia, no meu pequeno espaço, a minha relação com os índios. Até hoje não temos uma política indigenista definida! Até hoje discutimos coisas que são da época da ditadura. Há um discurso que nos faz acreditar que estamos prosperando, e vemos a miséria aumentando, as pessoas mais carentes, passando mais fome, e menos pessoas se beneficiando disso tudo. Temos que virar essa casinha. É muito legal ter essa conexão com os Deputados, porque só vamos mudar isso através da política mesmo, entenderam? São vocês ali lutando, e a sociedade civil vindo junto, comprando essa briga de verdade. Então, eu me coloco aqui à disposição. Vou assinar a carta. Peço desculpas porque oscila um pouco a minha imagem. Às vezes, eu saio, porque começou a chover, graças a Deus, mas ainda está muito seco. Então é isso. Acho que temos que mudar o foco, pensar em uma economia verde. Temos que mudar, e a chance está aí, à nossa frente. Como vamos recuperar esse Pantanal? Qual é o projeto de recuperação desse Pantanal? Que sementes nós vamos ajudar a plantar nesse Pantanal? Que bicho vamos tentar salvar? É muito triste tudo isso, é muito triste.

Eu agradeço por estar aqui dividindo essas dificuldades e me coloco à disposição para pensarmos juntos em soluções que sejam simples. Só acredito em coisas simples. Não venham me falar em grandes obras, em grandes investimentos. Acho que são pequenas ações que vão trazer grandes transformações, e não deixa de ser uma pequena grande ação o que estamos fazendo aqui hoje também. Obrigado. Seguimos juntos aqui. Contem comigo! A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Muito obrigada, Marcos Palmeira. O seu trabalho, a sua luta já inspira muitas pessoas. É isso que nós Parlamentares estamos pedindo. Vamos ter vocês conosco. Como você disse, é preciso que a sociedade civil e o Parlamento estejam unidos para dar as respostas. Vou convidar também, para fazer uso da palavra, um músico que também nos ajudou muito nessa organização, o Renato Braz. Enquanto ele se prepara para falar, agradecemos a presença aqui conosco da Dira Paes, da Letícia Sabatella, do Mateus Solano, do Rainer Cadete, da Thaila Ayala e do Thiago Lacerda. Aquele e aquela que quiserem, agora na sequência, fazer a sua fala eu gostaria que nos comunicassem aqui no chat. Muita gente disse que queria participar, mas que não queria falar. Então, se alguém quiser falar, eu gostaria que colocasse o nome aqui no chat. 6/21 Reunião de: 29/10/2020 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

Renato, muito obrigada por você estar aqui conosco, com esse menino lindo aí ao lado, o que nos fortalece mais na luta. O microfone é seu. O SR. RENATO BRAZ - Olá, queridos. Boa noite. É um grande prazer estar aqui. Eu queria cumprimentar os meus companheiros artistas. Este aqui é o Doric. Ele também tem sangue guarani como eu. Eu cantaria, mas, por questões técnicas, vou ler a letra de uma música do nosso querido Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, chamada Borzeguim. É fruta do mato Borzeguim, deixa as fraldas ao vento E vem dançar E vem dançar Hoje é sexta-feira de manhã Hoje é sexta-feira Deixa o mato crescer em paz Deixa o mato crescer Deixa o mato Não quero fogo, quero água Deixa o mato crescer em paz Não quero fogo, quero água Deixa o mato crescer Hoje é Sexta-Feira da Paixão, Sexta-Feira Santa Todo dia é dia de perdão Todo dia é dia santo Todo dia Todo santo dia Ah, e vem João, e vem Maria Todo dia é dia de folia Ah, e vem João, e vem Maria Todo dia é dia O chão no chão Deixa o mato crescer em paz O pé na pedra Deixa o mato crescer em paz O pé no céu Deixa o tatu-bola no lugar Deixa a capivara atravessar Deixa a anta cruzar o ribeirão Deixa o índio vivo no sertão Deixa o índio vivo nu Deixa o índio vivo Deixa o índio Deixa É fruta do mato Escuta o mato crescendo em paz É fruta do mato

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Escuta o mato crescendo Escuta o mato Escuta Escuta Escuta o vento cantando no arvoredo Passarim passarão no passaredo Deixa a índia criar seu curumim

Vá embora daqui coisa ruim Some logo Vá embora Em nome de Deus É fruta do mato Borzeguim, deixa as fraldas ao vento E vem dançar E vem dançar O jacu já tá velho na fruteira O lagarto teiú tá na soleira Uirassu foi rever a cordilheira Gavião grande é bicho sem fronteira Cutucurim, cutucurim Gavião(zão) Gavião(ão) Caapora do mato é capitão Ele é dono da mata e do sertão Caapora do mato é guardião Jaguaretê É vigia da mata e do sertão Deixa a onça viva na floresta Deixa o peixe n'água que é uma festa Deixa o índio vivo Deixa o índio Deixa Deixa Dizem que o sertão vai virar mar Dizem que o mar vai virar sertão Deixa o índio Dizem que o mar vai virar sertão Dizem que o sertão vai virar mar Deixa o índio Deixa Deixa Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Muito obrigada, Renato.

8/21 Reunião de: 29/10/2020 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

Você tomou por empréstimo a letra do Jobim, que nos leva a fazer uma grande reflexão. Você esteve conosco, fazendo convites e nos estimulando. Eu lhe agradeço muito em nome de todos os Deputados que também conversaram diretamente com você, em nome do Deputado Paulo Teixeira e dos demais presentes. O SR. RENATO BRAZ - Queria também fazer aqui um agradecimento a todos os que não puderam participar por motivos técnicos, como o Chico Buarque, que não está aqui, mas está sempre conosco; o Ney Matogrosso, também, que, por motivos técnicos, não pôde dar o seu depoimento, mas também está sempre conosco. Um beijo grande para todos eles. A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Muito obrigada a todos eles e muito obrigada a você por toda a interação. Estamos juntos! (Palmas.) O SR. RENATO BRAZ - Obrigado. A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Eu estou aqui com a lista do nome dos inscritos. Tem a palavra Edmara Barbosa. Por favor, Edmara. O microfone é seu. A SRA. EDMARA BARBOSA - Boa noite. Estamos falando aqui em nome da arte. Eu acho que esse poema mostra por onde temos que começar. Concordo com o Marquinhos que não podemos tirar o peso da política de tudo que está acontecendo nos dias de hoje e também do mau uso do solo, do mau uso das águas. Enfim, acho que o que está acontecendo hoje no Pantanal tem uma série de motivos que não dá para sabermos ao certo onde começou, mas a verdade é que o fogo se alastrou de maneira terrível, dizimando a fauna, dizimando a flora, dizimando as áreas indígenas, por exemplo. Quem olha vai saber que daqui a pouco eles não vão ter como se alimentar. Na hora em que o fogo acaba, ele deixa atrás um rastro de destruição e de miséria que não tem conserto, a não ser que replantemos. Desde , eu tenho trabalhado com a sintropia, incentivado, tenho feito áreas. Estou com o Marquinhos agora tentando fazer ali um projeto-piloto, para mostrar para as pessoas a possibilidade de fazer o plantio e o uso da terra de maneira correta, criando floresta, criando vida, e não criando morte; lidando com a vida, e não com a morte. É possível criar gado, galinha, porco. É possível plantar soja em agrofloresta.

Daqui a pouco, daqui a meio ano, meu pai estará fazendo 90 anos, e estará no ar de novo Pantanal, que foi um marco na nossa vida. Quem vai escrever será o meu filho, que nasceu na época de Pantanal — conversei até com o Almir hoje sobre isso — e vai lá visitar o Pantanal, porque não o conhece. Nós temos uma possibilidade, nós da classe artística, de nos juntarmos e fazermos Pantanal reverberar para além do Pantanal. Tem que sair de Pantanal e reverberar para o mundo essa questão que estamos aqui afirmando, que vocês, que fizeram esse levantamento todo, estão comentando. Eu acho que a questão política precisa ser resolvida urgentemente, porque hoje vivemos num país que parece que é o quintal da casa do Presidente da República. Desculpe-me se alguém não concorda, mas eu acho que há um excesso, há um excesso. Vivemos uma ditadura que não é ditadura. Existe uma condição política que precisa ser resolvida. Só com a arte, só com o nosso trabalho, só com o replantio, talvez nós não consigamos deter isso, porque é muito mais rápido você pôr fogo, você passar o correntão, você derrubar árvore, você vender do que você replantar. A floresta vai demorar, no mínimo, no mínimo, com todos os esforços que temos feito para procurar uma solução, uns 4 anos para voltar a brotar. Há uma série de coisas que é preciso se fazer para replantar uma floresta do tamanho da que foi destruída. Vocês passaram esse vídeo, mas eu tenho visto outros até piores. Nós vimos agora uma nuvem de vento e de fumaça que quase matou o pessoal da Globo que estava fazendo uma reportagem. A tragédia tem uma dimensão que é realmente de catástrofe. Eu fico pensando em por que isso não foi dito ainda, por que o Pantanal não foi colocado ainda nessa situação de catástrofe e como está se fazendo com essas comunidades que estão sendo hoje impactadas pela queimada, pelo fogo, pela morte, pela falta de alimento que está batendo na porta delas. Nós estamos falando de animal, Lucélia. Isso é triste mesmo, sabe por quê? Porque esses animais não vão poder voltar para a floresta, mesmo aqueles que estão sendo salvos, porque não vai haver alimento. Existe toda uma cadeia que foi quebrada com o fogo, que não só mata os animais rasteiros — o macaco morre queimado em cima da árvore. E os bichos que sobreviverem, que conseguirem ir para a água, porque é para lá que eles estão migrando, para tentar chegar ao rio,

9/21 Reunião de: 29/10/2020 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS eles não vão ter possibilidade de viver, porque vai faltar caça. Então, a tragédia é muito maior do que só ter queimado 20, 30 mil hectares do Pantanal. Um pouquinho antes, um tempo atrás — eu vou compartilhar depois com vocês —, nós fizemos um vídeo com o Carlos Nobre, o Thomas Lovejoy e o Felipe Pasini, da sintropia, com o Bial os entrevistando, para falar da consequência desse pacote. A consequência é o fim da espécie humana. Não há mais o que dizer. Nós estamos chegando a um ponto em que as pessoas estão olhando para o Pantanal e não estão olhando para o degelo, que está liberando não sei quantos milhões de metano, acabando, rompendo mais um pouco com a camada de ozônio, transformando a Terra em um planeta quente. Costumo dizer que, quando comecei a fazer Velho Chico, eu não tinha noção do que era um rio degradado, porque vi um povo que tinha água na porta de casa e morria de sede porque o rio estava envenenado, porque o rio estava assoreado, porque o rio era tratado como um objeto morto porque não tinha mais peixe, porque o cara vai lá fazer hidrelétrica, etc. Existe aqui uma atuação humana, o que não vou condenar, porque acho que foi a maneira que resolvemos isso até hoje. Isso é um processo que vem ocorrendo há 100 anos, 200 anos. Nós estamos vivendo essa contaminação pelo agrotóxico, que é algo de menos de 100 anos. E olha tudo que nós destruímos!

Então, existe uma maneira de fazer isso de novo. Hoje, existe tecnologia. A agrofloresta consegue restaurar inclusive tudo o que foi destruído. Não é uma coisa a curto prazo, porque o impacto é muito grande, mas isso pode ser feito. Fica aqui então a nossa proposta para vocês da Comissão e para o pessoal do Pantanal. Conversei com o Almir sobre isso. Estou fazendo uma força-tarefa, juntando os brigadistas, o pessoal que trabalha com agrofloresta lá no Cerrado, e convidando os meninos, os primeiros alunos do Ernst, para irmos ao Pantanal ensinar as pessoas a plantarem a floresta que foi queimada. Temos que ensinar as pessoas que têm pequenas propriedades a recompô-las, para terem frutos e viverem de novo da terra, porque tenho certeza de que o Governo não vai dar conta disso. Bolsa nenhuma vai dar conta de alimentar essas pessoas que hoje estão totalmente desamparadas. Não existe bolsa, não existe nenhum assistencialismo que possa resolver o que essa índia perdeu, que é a sua cultura, que é a maneira como ela sobrevive e como aprendeu a viver. Isso é uma coisa que temos que resolver de outro ponto. Estou fazendo isso com o Marquinhos. Agora, resolvi chamar os meninos e pedir que se virassem. Vamos desenhar a situação e ver como fazer isso. Eu estou contando com a ajuda de vocês que são do Pantanal, que têm possibilidade de colocar esses meninos nessas áreas, para fazerem cursos, assistirem às aulas e ensinarem. O Marquinhos apresentou-me um amigo dele, aí do , com quem estou conversando, para ver se me arruma algumas mudas. O reflorestamento em áreas queimadas se dá muito com o plantio de grãos, milho, mandioca e outras coisas desse tipo. Não dá para plantar árvore grande, mas dá para recuperar a área aos poucos. Dá para produzir alimentos dessa maneira, e, assim, as pessoas vão poder recompor a floresta para, depois, voltar a ter frutos. Essa é uma contribuição que eu quero dar a vocês. Estou me dispondo a fazer isso, vou fazer de qualquer maneira. Vamos achar um jeito de chegar lá para dar esse curso, essa aula. Eu consigo juntar os meninos, para fazer essa força-tarefa. Isso faz parte de um projeto que estou fazendo, chamado Festival Floresta Viva. Quando o Pantanal foi ao ar, começamos a fazer uma ação — há um tempo, estou trabalhando nisso —, um trabalho junto com a comunidade, para lhe dar visibilidade. Para fazer a divulgação da novela, que depende, é óbvio, da aprovação da Globo, queremos divulgar o Pantanal dentro do Pantanal, mostrando os atores convivendo com aquela comunidade. Essa ação dura em torno de 1 ano. Tenho um monte de parceiros, na área do artesanato, da gastronomia, do plantio. Enfim, são sete ações que viram documentários, viram programas para a TV. Eu espero que a Globo aceite isso de bom grado e deixe um legado na área em que faz novelas. Como artistas, temos que começar a nos comprometer com isso. Não podemos usar uma área, ir lá gravar... Sabemos que contamos com a boa vontade das pessoas. Na gravação de Velho Chico, vimos as pessoas se movimentando para ajudar. A Globo tem que deixar um legado. O artista tem que sair da área em que grava, deixando um legado à comunidade e dando- lhe visibilidade, para, do lado de cá, entendermos o que acontece. Nós que vivemos na cidade grande, sem a menor noção do que é uma floresta, um bicho queimado ou um bicho vivo, temos que começar a trazer essa imagem, essa narrativa para a cidade, porque não sabemos o que é um indígena. É muito fácil atacar o indígena, porque não o conhecemos. É muito fácil culpar o indígena, culpar o ribeirinho, culpar o pequeno lavrador pelo incêndio, visto que quem está do lado de cá vai acreditar em qualquer coisa porque não sabe como essas pessoas vivem.

Eu acho que, como comunicador, como artista, temos esta possibilidade agora. Algo acontecendo ou não, a Globo topando ou não, eu estou indo para o Pantanal de qualquer maneira. Tenho agora um motivo muito maior do que o que tinha no passado, que era conseguir trazer para o primeiro plano essas comunidades. Hoje eu quero ir para reflorestar, e gostaria muito de poder contar com a ajuda de vocês. Acho que o abaixo-assinado é importante, Deputada. É muito importante o trabalho que vocês estão fazendo, a parte política, para tentar conter um pouco isso e fazer essas pessoas entenderem que não estão somente destruindo o Pantanal, não estão somente abrindo área de soja, estão acabando com a nossa vida.

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A expectativa de vida aqui no planeta não é 100 anos. Eu tenho netos e não sei como eles vão sobreviver. Eu estou desesperada porque estou começando a ver que a geração dos meus netos não vai ter o que comer. Vai haver uma crise hídrica. O que está se configurando com essa nossa atitude, com a atitude da raça humana, que somos nós, é isso. Como o Marcos falou, a pandemia veio para nos mostrar que o limite chegou. A Terra está tentando nos mandar embora daqui, e vai conseguir graças à nossa intervenção. É isso! A minha proposta para vocês é essa. E, se estamos aqui, eu espero que possamos, como artistas, fazer alguma coisa. Vamos pensar numa ação de verdade, vamos pensar em alguma coisa que reverbere de verdade! Neste momento eu não acho que seja racional fazer arma para lutar ou para evitar tomar pedrada. Eu acho que temos que fazer o contrário: emocionar, como esse maravilhoso poema do Tom Jobim. É isso que temos que fazer. Obrigada. A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Muito obrigada, Edmara. Você trouxe grandes contribuições. Eu quero dizer que, aqui no Estado de Mato Grosso, nós temos muitos grupos de pantaneiros trabalhando diretamente no Pantanal. Quero aqui abraçar o grupo Amigos do Pantanal, que está alimentando os animais. Quando você vier para cá, é muito importante falar com pessoas que conhecem de fato o Pantanal, nasceram e cresceram no Pantanal e sabem realmente o que podemos fazer aqui na parte norte. Com o Deputado Vander, que está aqui e é da parte sul do Estado, e os demais, que façamos algo em conjunto, exatamente o que você falou, ouvindo as comunidades tradicionais e originárias do Pantanal. Elas sabem o que devemos fazer, junto com todos os cientistas. Eu quero agradecer mais uma vez a todos os que estão aqui e pedir, por gentileza, a observância do tempo. Muita gente — vejo muito Deputado aqui com a mão erguida — quer falar também. Eu vou dar sequência e depois chamar todos os que se inscreveram. Para saudação, eu quero chamar Preta Ferreira, que também nos dá a alegria de estar conosco e se inscreveu para falar. A SRA. PRETA FERREIRA - Muito boa noite a todos aqui presentes. É um prazer estar aqui com vocês, meus amigos da política, meus amigos da arte. Deputada Professora Rosa, eu estava agora há pouco numa live com a Dilma e a Deputada Maria do Rosário e queria lhe dizer que ia participar, que podia contar comigo. Então, aqui estou para lhe dizer isso, porque precisamos salvar nossas vidas. Salvar a floresta é nos salvarmos. Precisamos comunicar à população — numa linguagem mais simplificada para que as pessoas entendam — que, automaticamente, queimando as florestas, ela está se matando. Então, precisamos achar um meio para nos comunicarmos com essa população que não entende sobre isso e que teve, durante a vida toda, a educação negada. E esse desmatamento, essa queima também é falta de educação. A população brasileira não teve uma educação boa. Não chegou a ela o ensino do que é a floresta, do que significa o desmatamento, a queimada. Precisamos falar com a população carente, porque essas pessoas não entenderam ainda. Quando essas pessoas souberem do perigo, do risco disso tudo, aposto que elas também vão querer estar junto conosco.

Precisamos também achar um meio de pedir reforço e ajuda fora do País porque sabemos que aqui, com esse desgoverno que está no poder, infelizmente, não vamos conseguir. Quero dizer a vocês que contem comigo e contem com toda a população sem-teto de São Paulo, porque nenhuma luta anula outra. Temos que nos juntar, nos unir, porque nosso inimigo é comum. O nosso inimigo está aqui para desflorestar, para nos matar, e temos que nos unir para trazer vida e reflorestamento. Contem conosco. A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Muito obrigada, Preta. Você é muito bem-vinda a esta luta. Sabemos que você é da luta e vamos contar com você, sim. Convido também, para falar por 3 minutos, o Rainer Cadete, que já se inscreveu para isso. Estou muito honrada com a sua presença, com a sua disposição em nos ajudar. Rainer tem a palavra. O SR. RAINER CADETE - Boa noite, meus queridos colegas de trabalho. Boa noite, Deputados. Boa noite a todos. Eu só queria deixar registrada a importância desta reunião, a importância de não desistir das coisas relevantes, essenciais. Eu tenho lido bastante um autor chamado Ailton Krenak e aprendi com ele que nós somos a natureza. Essa mania de pensar que a natureza está lá e que vamos lá salvá-la é um pouco equivocada, porque nós somos a natureza no final das contas. 11/21 Reunião de: 29/10/2020 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

Aprendi também que a relação que os povos indígenas têm com a natureza não é de extração, é uma relação humanizada. O rio é o tio, a montanha é o avô, a terra é a mãe. E é isso! Acho que temos que conscientizar as pessoas de que isso é real, de que isso é urgente. Eu me coloco à disposição de todos vocês. Acho muito importante esta reunião. É isso aí, gente! Vamos seguir firmes e fortes. Muito obrigado. A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Muito obrigada, Rainer. Realmente para os indígenas a terra é a mãe, e, neste momento, estamos matando a mãe deles. Como a Edmara disse, nós estamos demonstrando que não temos mais condições de viver no planeta. Se matarmos a mãe, estaremos partindo daqui. E não é isso o que queremos. Convido agora, também para falar por 3 minutos, as amigas e parceiras de uma luta inteira Vera e Zuleica. A SRA. VERA BAGGETTI - Nós vamos cantar uma música que fizemos que se chama Pantanal-Solidão? (Apresentação artística.) A SRA. ZULEICA ARRUDA - É um prazer imenso estar aqui com a Deputada Professora Rosa Neide, que já conhecemos há muito tempo. Ela é uma batalhadora, e luta contra todos esses problemas que temos enfrentado, inclusive no Estado.

Quero cumprimentar também todos esses artistas que estão presentes, pessoas de luta, que já conhecemos há muito tempo, brasileiros amorosos que gostam da nossa Pátria, que gostam de tudo que nos pertence. Eu só queria falar sobre a questão da ciência, que foi citada, e colocar uma pitadinha de emoção dentro dela. Em 1990, Goleman, um psicólogo americano, disse que não era mais possível achar que só o cognitivo era sabedoria, era inteligência. Precisamos ter inteligência emocional, aquela que nos congrega uns com os outros. A inteligência emocional é muito importante para que possamos desenvolver a cognitiva. É como disse Manoel de Barros: "No Pantanal ninguém pode passar régua. Sobremuito quando chove. A régua é existidura de limite. E o Pantanal não tem limites". Então, temos que ver essa ciência da régua e do compasso juntamente com essa força da física quântica, que é o todo que nos congrega e que está nos levando a esse momento crucial de necessidade de voltarmos ao encantamento, ao respeito ao outro... A SRA. VERA BAGGETTI - Ao afeto. A SRA. ZULEICA ARRUDA - Ao afeto. Essa é a nossa contribuição. É o trabalho que temos desenvolvido aqui no Estado. A SRA. VERA BAGGETTI - Conte conosco sempre, Deputada. Salve o Pantanal! A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Muito obrigada, Vera e Zuleica, duas grandes artistas do nosso Estado e que sempre emprestaram suas vozes pelas causas do nosso povo. Eu vou fazer uma chamada geral, convidando artistas que estão presentes para falar. Agradeço ao jornalista Luis Nassif, que está aqui conosco. Aquele que não quiser falar não tem problema. Quem quiser é só abrir o microfone. Dira Paes está presente. Você gostaria de falar? A SRA. DIRA PAES - Boa noite a todos, a todas e a todes. Boa noite, Deputada Professora Rosa Neide. Em primeiro lugar, quero parabenizá-la por esta audiência tão urgente e necessária. Ressalto aqui a importância desta combinação: nós artistas com os Parlamentares que são envolvidos profundamente com as causas humanistas e as causas ligadas ao meio ambiente há tanto tempo. Nós somos, sem dúvida, uma equação de força e de resistência para que consigamos fazer valer as nossas expectativas de sobrevivência. Estamos tendo que aprender muito rapidamente como lidar com os novos tempos. Eu vejo que, dando visibilidade a essas causas, nossa responsabilidade aumenta porque somos pessoas que trabalhamos com a nossa imagem.

Eu vejo também que agora é o momento limítrofe que estamos vivendo. Eu sinto que as fronteiras, como falamos aqui, não são mais... Esses nossos problemas não dizem respeito a uma fronteira só brasileira. Precisamos entender o planeta imediatamente. 12/21 Reunião de: 29/10/2020 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

Eu teria o maior orgulho se conseguíssemos avançar com essa causa além das fronteiras, para que mais artistas se engajem, para que tenhamos soluções imediatas. Não é possível que existam tantos avanços, como foi falado aqui, e tantos retrocessos em prol de maneiras tão retrógradas de fazer com que o capitalismo proporcione um pouco mais de igualdade entre os povos. As questões não podem ser dissociadas. As questões são políticas, as questões são de origem... Por isso estou muito feliz em poder dialogar diretamente com a Câmara dos Deputados. Acho que é assim que conseguimos grandes avanços. A minha experiência tem mostrado isso. Então, eu agradeço o convite e quero parabenizar todos os artistas aqui presentes, que sempre estão presentes. Eu gostaria muito de ver novos colegas. Isso não tem a ver com partido político, isso tem a ver com sobrevivência. Muito obrigada! Parabéns a todos os envolvidos! Estou disponível, assinando nossa carta manifesto. Obrigada! A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Muito obrigada, Dira! Nós vamos fazer mais reuniões e — quem sabe? — uma visita in loco ao Pantanal, para que todos possam acompanhar de perto o que aconteceu. Juntos e juntas, poderemos avaliar a tragédia e trabalhar forte para que ela não volte a acontecer. Muito obrigada por emprestar seu tempo e se dedicar a essas causas comuns, causas sociais, nas quais temos que sempre estar envolvidas! Para nós é um grande orgulho. Contamos com vocês para continuar fazendo o debate com os outros artistas. Letícia Sabatella também está presente. Eu gostaria de saber, Letícia, se você quer fazer uso da palavra. A SRA. LETÍCIA SABATELLA - Boa noite! Boa noite a todos, colegas, amigos, com todas as suas funções. Na verdade, estamos juntos há muito tempo! A explanação de todos vocês... Acho que toda a visceralidade que a Edmara também trouxe é impressionante. Ela é uma pessoa que eu tenho visto também buscando alternativas, como o Marquinhos, como tanta gente. Eu queria alertar e lembrar a todos a questão do marco temporal. Isso é muito sério. A partir do momento em que tiramos aqueles que são os mestres, que têm reconhecimento... Falamos tanto dos povos indígenas, que têm reconhecimento do que significa lidar com tempo de seca e tempo de chuva, com esse... Vou repetir uma coisa que estou sempre falando, que aquinhoei, que é esse tempo de princípios de opostos, que têm que se unir. Como foi bem lembrado pelo Krenak, pelo Rainer, nós somos a natureza. É muito fato isso. Nesse momento, há essa ameaça ainda mais... Por todos os lados vem a ameaça. É claro que há o perigo do tempo, da morosidade, de não termos uma ação urgente e do que vai ser plantado no lugar do que foi destruído. Isso vai virar pasto? Isso vai virar deserto? Isso vai virar monocultura de um transgênico qualquer? Isso vai destruir o equilíbrio que gera água, que gera vida? Que tipo de vida o capitalismo vai gerar? Até onde podemos nos libertar desse excesso, desse abuso do capital, e vamos poder ter outra forma de pensar para sobreviver ao vírus, para sobreviver à ganância, para sobreviver a esse niilismo em que a humanidade entrou? E parece que não encontra a saída. É caminhar para o fim. Será que é esse o fim? Ou conseguiremos reconstruir, trazer o protagonismo dos nossos povos ligados à floresta, dos nossos povos indígenas, para que eles nos ensinem de novo esses princípios de equilíbrio com a natureza, de estar junto com ela, de chorar e a natureza chover junto com o bioma? É o caso de pedir, de saber o que é preciso para que isso aconteça, para que não haja excesso de chuva, para que não haja excesso de seca.

Eu reitero também que não dá para abrir mão de uma ação de conscientização. Como a Preta disse, que seja uma educação e ao mesmo tempo passe por uma educação cidadã. É preciso que haja um exercício cidadão em que vamos combater fake news e trazendo a verdade, trazendo o enfrentamento dessa dificuldade, de fato, e não a negação das dificuldades, como a negação de uma pandemia, como a negação de um modo de vida que pode ser sustentável e que pode sustentar muito melhor a nossa subsistência, que é uma alimentação que não dependa de agrotóxicos em excesso, de tanto envenenamento, de tanta monocultura, e que destrói totalmente toda a diversidade, toda a fala, toda a língua, toda a arte. E que cultura estamos trazendo? Acho significativa demais essa ação da família Ruy Barbosa, da Edmara, de trazer Pantanal e de trazer como estamos vivendo neste momento, como vamos poder estar combatendo isso e educando o País, que está recebendo muito má educação neste momento. É extremamente comovente o que está acontecendo, é gratificante poder ter esse acolhimento de mais pessoas, de mais artistas, de mais cidadãos que olhem atentamente para isso. E há essa preocupação do que o Supremo vai estar fazendo ao trazer esse novo Ministro, e esperando para que o marco temporal seja votado, seja julgado neste momento, com essa pessoa. Então, que ameaça grande é essa, que vai 13/21 Reunião de: 29/10/2020 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS simplesmente reivindicar posse de terras antigas de indígenas, fazer reintegração de posse para mais monocultura, para mais deserto verde ou deserto de fato, enfim, a destruição dessa biodiversidade? Isso é algo extremamente urgente e importante, principalmente a defesa do protagonismo desses povos. Temos visto essa luta da Lucélia, do Marquinhos e de outras pessoas, do xavante junto ao povo kraô, a tantos outros povos que estão se unindo, temos também a presença do Raoni, enfim. Todos eles são protagonistas para lidarmos com esse mundo que está em destruição e renascimento. Espero que consigamos , porque estamos extremamente tomados por um pensamento de negação, de niilismo, de "não tem jeito", de chutar o pau da barraca, de "vamos lucrar, vamos lucrar porque o fim é iminente", pouco se lixando. Daqui a pouco vamos para Marte, sabe? Que horas vamos botar o pé na Terra e nos tornar novamente seres terrenos, terráqueos deste planeta, brotando junto com os povos originários desta terra, reconhecendo-nos, junto com as plantas e as árvores, como irmãos? Fico muito doída, muito comovida e muito abraçada por todas as falas que ouvi aqui, que me contemplam muito.

Faço parte desse documento e de qualquer medida que possa estar trabalhando nesse sentido, que é o único sentido que dá sentido para a minha vida também. Muito obrigada. A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Obrigada, Letícia. É muito importante a sua fala, contempla muito o que esta Comissão está discutindo. Precisamos ouvi-los mais vezes. Seria bom se se cada artista puder gravar um pequeno vídeo para que cápsulas de educação ambiental cheguem às nossas crianças, aos nossos adolescentes, aos nossos jovens. A fala de vocês, o exemplo de vocês, as atitudes de vocês educam. Ouvimos muito que, às vezes, alguém quer ajudar e não sabe como, e o que vocês dão fazendo isso ajuda muito, enternece. As pessoas os admiram muito e, com certeza, vocês farão um grande trabalho nos ajudando. A Thaila Ayala estava conosco até agora. Ela agradeceu e justificou sua saída porque tem um compromisso profissional, mas se colocou à disposição. Será muito importante, juntamente com este grupo que está aqui. Com a palavra o Thiago Lacerda, que nos trará sua contribuição. O SR. THIAGO LACERDA - Olá! Boa noite a todos. Quero agradecer o convite para estar reunido com vocês todos nesta sessão que considero importantíssima. O Deputado Marcelo Freixo me fez o convite — obrigado, Marcelo! É um prazer e um privilégio estar aqui. Eu ouvi bastante tudo o que foi dito. Tenho colegas que têm um imenso histórico de luta, que têm prestado sua contribuição e que estão no caminho certo. Acho que está todo mundo impactado com o que está acontecendo. Parece-me que existe algo realmente muito terrível operando no Brasil, tal como essa negligência com os ecossistemas, com os biomas — não só o Pantanal, mas estamos aqui para falar do Pantanal. Parece-me que o impacto disso todos nós sofreremos por muitos anos, por muito tempo. Eu acho que precisamos nos mobilizar. Por isso, estou muito feliz de estar aqui hoje com vocês hoje, somando forças. Quero me disponibilizar para assinar a carta — não só para isso, mas também para participar de qualquer ideia, qualquer ação presencial, qualquer movimento coletivo em que consigamos reunir pessoas empenhadas em contribuir pessoalmente. Quem sabe, como foi dito aqui pela Deputada Rosa, possamos fazer uma visita. Estou me disponibilizando para contribuir da maneira que for mais eficiente, mais poderosa, porque precisamos estar juntos para conseguir resistir a esse horror que nos cerca. Realmente é muito aterrador tudo isso. Estamos todos comovidos e sensibilizados.

Parabéns a todos! Estou junto nessa corrente. Ninguém solta a mão de ninguém. Obrigado. Boa noite a todos. A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Muito obrigada, Thiago. Vamos continuar na luta. Convido o jornalista Luis Nassif, que dos convidados é o último inscrito. Depois, vamos ouvir a contribuição dos nossos Deputados. O SR. LUIS NASSIF - Este é um tema dos mais relevantes. Sobre a importância dos artistas e da música, eu queria só lembrar umas coisinhas pessoais. Para mim, o Brasil, desde criança, ele ia entrando na minha vida de acordo com as músicas. Eu conheci o Nordeste através da música, o Sul através da música. Nos anos 90, eu conheci o Pantanal, através de uma música fantástica: Sonhos Guaranis, do Almir Sater e do Paulo Simões. Eu só não gostava da frase que dizia: “(...)se não fosse isso, seríamos um grande país.” Não, vocês são país nosso, não vem não, não sai não. 14/21 Reunião de: 29/10/2020 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

Um dos grandes pontos que temos para criar uma bandeira é ver a utopia. A utopia é um ponto central mesmo que não se realize. Estamos vivendo hoje com essa crise de descrédito no modelo do capitalismo e tudo um movimento similar para muita rapaziada ao que ocorreu ao movimento hippie, nos anos 60 e 70. Eu vou chamar a atenção para um grande pensador polonês, Ignacy Sachs — meio brasileiro, meio polonês —, que fez parte daquela geração de ouro do Banco Mundial, no pós-guerra, que queria criar uma nova utopia. Quando começou esse negócio do etanol e tudo, eu participei de um evento com ele em que ele montava sua utopia. Ele dizia que com o etanol você pode ter produção em pequenas propriedades, uma produção de energia que garantia aquela pequena propriedade e criava um mundo — a Internet não estava tão ampla — mostrando como você poderia deixar a cidade e voltar para o campo. Eu tenho sobrinhos que se tornaram naturebas no melhor sentido da palavra, a palavra carinhosa, que estão vivendo no interior de Minas, interior da Bahia, fazendo música. Essa utopia da volta ao campo obviamente é utopia, porque nem todo mundo consegue, mas acho que cantada pelos cantadores ajudaria a fortalecer a ideia desse reencontro com a natureza, esse reencontro com os valores fundamentais da criação humana, esse reencontro com a família, com o conceito de amizade e tudo mais. Parabéns pelo evento, pessoal! Estamos aí! A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Muito obrigada. Contamos muito com você também, porque é uma pessoa comprometida e tem condições de levar a causa do Pantanal para mais gente. Agradeço a todos os nossos convidados. Vamos ouvir rapidamente — porque sabemos que tem um horário fixo para nós concluirmos — alguns Deputados inscritos. Muitos estão presentes. Daqui a pouco irei apresentar todos, mas há um grupo que trabalhou muito para que todos os artistas estivessem aqui. Estão inscritos os Deputados Marcelo Freixo, Professor Israel Batista, Alessandro Molon, Ivan Valente, Nilto Tatto e dois Deputados Estaduais de Mato Grosso, Deputados Valdir Barranco e Wilson Santos, cujas presenças são muito importantes. Eu vou intercalar os Deputados Federais e Estaduais, concedendo 3 minutos para cada um, para que façamos a nossa conclusão. Tem a palavra o Deputado Marcelo Freixo.

O SR. MARCELO FREIXO (PSOL - RJ) - Boa noite a todas e a todos. Eu vou ser muito breve. Acho que nós podemos ter 2 minutos de tempo para cada um, porque o mais importante para o Parlamentar hoje é ouvir. Quero agradecer aos convidados e todos a participação. Essa fusão da arte com essa militância política é muito importante. Inicialmente, vou resgatar a fala do Marquinho Palmeira, dizendo que é na política que vamos resolver as coisas. A irresponsabilidade ambiental é um projeto político. Então, nós temos que transformar a nossa responsabilidade, a nossa consciência, a nossa capacidade de fazer política com amor, com afeto e com direitos, num instrumento da política. A política precisa ser uma coisa boa. A política tem que ser algo que nos una. E a arte é fundamental para isso. Esse projeto, não é da Direita, não é da Esquerda, não é da Oposição; esse é um projeto fundamental, republicano, democrático. É claro que sabemos o significado deste Governo para a questão ambiental e para outras questões. Costumo sempre dizer que os nossos sonhos não cabem nas urnas. É verdade. Mas o pesadelo cabe. E nós sabemos disso. Então, precisamos ter responsabilidade sobre isso e tirarmos o pesadelo da urna, e fazermos com que a urna possa ser não só o espaço da divergência, do debate, da democracia, mas também do direito à vida. Nós perdemos, e estamos perdendo com a erosão democrática, o direito à vida. A vida no sentido mais amplo, não só a vida humana, até porque ela sozinha não existe. Quero elogiar a Deputada Professora Rosa Neide na condução dos trabalhos, muito habilidosa. Esta Comissão ouviu desde a Polícia Federal, as investigações, que apontam para uma ação criminosa do incêndio, até à economia pantaneira, aos profissionais, à cultura. Foi uma Comissão que fez um trabalho muito cuidadoso de escuta. Agora é a hora de juntar toda essa escuta com as vozes, com as vozes de quem conseguem falar para além do meio mais imediato da política. Por isso esta audiência feita especificamente para os artistas tem uma importância pedagógica muito grande, de sabermos levar um recado tão importante a respeito de um tema tão central para a vida brasileira para mais gente. Parabéns, Deputada Professora Rosa Neide! Parabéns a todas e todos desta audiência! Que consigamos fazer com que esse relatório, assinado por muita gente, se transforme numa grande defesa da vida e do futuro deste País. Obrigado a todas e a todos.

15/21 Reunião de: 29/10/2020 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Muito obrigada, Deputado Marcelo Freixo, que é um grande parceiro nesta luta. Estamos fazendo esse relatório com as mãos de todos. Passo a palavra ao Deputado Professor Israel Batista, que também foi um dos mentores e articuladores da nossa audiência de hoje. O SR. PROFESSOR ISRAEL BATISTA (PV - DF) - Boa noite a todos e a todas. Eu quero agradecer à Presidente, Deputada Professora Rosa Neide, pela condução dos trabalhos da Comissão sobre queimadas, e quero agradecer aos meus colegas Deputados, que têm sido extremamente solidários uns com os outros, e têm produzido muito trabalho de qualidade no Congresso Nacional, especialmente sobre esse tema. Quero agradecer imensamente a cada um dos artistas que se dispuseram a estar aqui conosco, para que o Congresso Nacional pudesse se dirigir a vocês por meio desta Comissão sobre as queimadas. Estivemos presentes na comitiva da missão oficial da Câmara ao Pantanal, e ali algo que me tocou muito foi o trabalho das equipes de resgate dos animais, dos voluntários que ali estavam socorrendo os animais silvestres. O Pantanal está vivendo um processo que em parte é natural, mas em parte é criminoso. Desde 2019, o Governo Federal promove constante desvalorização e perseguição às instituições responsáveis pela fiscalização do meio ambiente. Nós ouvimos nesta Comissão, de um delegado federal, que o IBAMA hoje só existe no papel, que o ICMBio está sendo destruído, que a FUNAI só existe no papel. Isso é proposital. Este é um projeto de poder, este é um projeto de ignorância no poder no Brasil. Então, o Deputado Freixo está certíssimo ao dizer que temos que retirar a morte e a desgraça das eleições.

No Pantanal, de 2018 para 2020, houve um aumento de queimadas de 493%. É essa a conclusão desta Comissão. Então, há sim, responsabilização a ser feita, e esse é o papel do Congresso Nacional. No mais, queria pedir o apoio de vocês para um projeto dos Deputados Alessandro Molon e Célio Studart, do qual também participei, que é o Projeto AMAR. É o Projeto de Lei nº 4.670, de 2020, que cria a política de acolhimento e manejo de animais resgatados. O que nós vimos ali foi terrível, primeiro morrem os animais pequenos e baixinhos, que não veem o fogo; depois, os animais inteligentes, que sobem nas árvores, e morrem queimados; depois, os animais grandes, que conseguiram fugir, começam a morrer de fome. E se você acha que a mortandade acabou, não acabou, porque agora, com o início das chuvas, inicia-se a última fase da mortandade animal, que é a chamada dequada, quando toda a matéria orgânica, as cinzas vão para dentro dos rios, e exterminam a vida em água doce. Por isso, peço apoio para o Projeto AMAR, e até a Rainha dos Baixinhos, Xuxa Meneghel, já foi para as redes sociais pedir apoio para o nosso projeto. Ficamos muito felizes. Eu, o Deputado Célio, o Deputado Molon ficamos muito orgulhosos, porque ela prestou atenção a esse projeto. E pedimos ainda — os Deputados da Comissão já assinaram comigo — apoio ao Projeto de Lei nº 4.933, de 2020, que corta o ciclo econômico do fogo. Regiões queimadas criminosamente não poderão receber produção agrícola, até que estejam recuperadas. Por quê? Porque muitos fazendeiros e grandes produtores queimam a região para plantar logo depois. E se proibirmos esse tipo de plantação, eles não terão mais motivos para queimar. Por isso, nós apresentamos aqui, com a Comissão, o nosso PL 4.933/20. Agradeço aos colegas que já assinaram o projeto comigo. As equipes são super-rápidas. Graças a Deus, nós temos ótimas equipes. Gente, obrigado. Vocês não sabem o quanto nós estamos satisfeitos com a presença de vocês, e, é claro, meio tietes também, como não poderia deixar de ser. Um grande abraço a todos. Deputada Professora Rosa Neide, parabéns mais uma vez! A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Parabéns à nossa Comissão! O Deputado Professor Israel veio ao Pantanal, fizemos visita in loco, juntamente com outros Deputados e, a partir daí, a Comissão começou a trabalhar de forma muito forte. Aqui temos o projeto do Deputado Alessandro Molon, chamado Projeto do Pantanal, que será apresentado por esta Comissão diretamente ao Presidente da Casa, para que tramite com rapidez, assim como o Projeto AMAR. Estamos juntos para que realmente esta Casa possa aprová-lo. No Estado de Mato Grosso, no âmbito do Pantanal, não há um espaço de acolhimento de animais. Tudo foi improvisado agora, em barracões, para que os animais pudessem ser atendidos. Então, um contingente de animais que vivia tranquilamente num paraíso, em pouco tempo, foi todo queimado, e não pode ser atendido.

Vou passar a palavra, neste momento, seguindo a ordem de inscrição, ao Deputado Estadual Valdir Barranco, de Mato Grosso, e, na sequência, ao Deputado Federal Alessandro Molon, ao Deputado Estadual Wilson Santos e aos Deputados Federais Ivan Valente e Nilto Tatto. 16/21 Reunião de: 29/10/2020 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

Tem a palavra o Deputado Valdir Barranco, por 3 minutos. O SR. VALDIR BARRANCO - Quero saudar cada um e cada uma e parabenizar a Deputada Professora Rosa Neide e a todos os Deputados e Deputadas Federais que compõem esta Comissão importantíssima, uma comissão que está fazendo um trabalho sério, que não é de oba-oba. Quero agradecer aos artistas que estão presentes, que já contribuíram muito conosco este ano, quando derrotamos aqui na Assembleia Legislativa o Projeto de Lei Complementar nº 17, de 2020, de autoria do Poder Executivo, que pretendia regularizar a grilagem de terras indígenas em Mato Grosso. Nós éramos apenas dois, mas, com o envolvimento dos artistas, conseguimos mobilizar também a Igreja Católica e segmentos da sociedade civil organizada e conseguimos derrotar esse projeto de lei complementar. É muito importante o apoio de vocês, porque, assim, não nos sentimos sozinhos. Mato Grosso é um Estado que não tem essa imagem que se vende, de terra de desenvolvimento e de prosperidade. Mato Grosso é uma pequena ilha de xeiques do agronegócio, envolta por um grande oceano de pessoas que todos os dias lutam para sobreviver. Nós temos a grandiosidade e as mãos de Deus por termos três dos seis biomas brasileiros em nosso território: o Pantanal, o Cerrado e a Amazônia. Os três estão correndo sérios riscos. Lembro que o Pantanal não é nosso. O Pantanal já é patrimônio da humanidade, pela UNESCO, desde 2000, e é patrimônio brasileiro desde a promulgação da Constituição Federal de 1988. O que nós vemos aqui em Mato Grosso é aterrador. A ambição daqueles que querem usufruir das terras, dos nossos minérios, das nossas matas e das nossas terras é muito grande, é insana, é voraz, é insaciável. O que eu ouço aqui no dia a dia é que querem soterrar os rios para plantar soja, que querem plantar soja em terras indígenas, que querem acabar com o Pantanal começando pela sua nascente, que é no Rio Paraguai, para plantar soja. No Rio Araguaia, um dos mais belos rios que já conheci, a drenagem do solo para plantar soja está a todo vapor. Então, agradeço. Nós vamos vencer isso com a união de todos e de todas e com as redes sociais de vocês, que são muito fortes e podem nos ajudar. Ninguém solta a mão de ninguém. Salve o Pantanal! Salve a Amazônia! Salve o Cerrado Mato-grossense! A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Muito obrigada, Deputado Valdir Barranco, que tem uma luta na Assembleia Legislativa, que é biólogo de formação, que está sempre pronto para os embates necessários, para salvarmos o meio ambiente.

Passo agora a palavra ao Deputado Federal Alessandro Molon, que também nos ajudou muito na organização desta audiência, que esteve conosco o tempo todo, que está conosco fortemente nesta Comissão. O SR. ALESSANDRO MOLON (PSB - RJ) - Muito obrigado, Deputada Professora Rosa Neide. Antes de mais nada, quero cumprimentá-la pelo trabalho dedicado, pela seriedade, e cumprimentar todos os meus colegas também, que tanto têm trabalhado pela Comissão. Muito obrigado. Parabéns a todos pelo trabalho! Eu queria agradecer também a presença desses grandes artistas que admiramos tanto, não apenas pela sua enorme capacidade, pelo seu talento, porque são pessoas muito talentosas, grandes artistas mesmo, cheios de arte para encantar o Brasil com seus talentos, mas também porque são grandes cidadãos e cidadãs, são pessoas que admiramos, pelos brasileiros e pelas brasileiras que são. A vocês o nosso muito obrigado, pelo tempo e por mais este apoio ao longo da vida, desta luta, que é a vida de vocês também. Nós só temos a agradecer. Infelizmente, não pude estar na diligência, na visita ao Pantanal, por conta da minha saúde. Pretendo ir na próxima, se conseguirmos marcar, Deputada Rosa Neide. Tive COVID justamente na época em que a Comissão estava no Pantanal. Então, não pude estar presente. Graças a Deus, eu me recuperei bem, estou bem para a luta e bem para ir com V.Exas., se for o caso. Nós vivemos um grande desafio, que foi colocado aqui — não lembro se foi pela Dira, pela Lucélia ou pela Letícia, mas uma das artistas falou —, o desafio da reconstrução, que é muito mais lenta do que a destruição. Esse é o problema que estamos enfrentando. Porque destruir é muito mais rápido do que construir. Replantar, recompor é muito mais demorado do que tacar fogo em tudo. Este é o grande problema que estamos enfrentando: vivemos um governo de destruição, de um Presidente da República que acha que, para desenvolver, é preciso desmatar, com um Ministro do Meio Ambiente que, como disse o Marcos Palmeira, odeia o meio ambiente. Então, é um momento muito difícil. Como disse bem o Deputado Freixo, nós temos o desafio de tirar o mal pelas urnas, mas, até que cheguemos às urnas, até que cheguem as eleições de 2020, que são as eleições municipais, ou as de 2022, temos luta pela frente. O que podemos fazer até lá? Podemos apoiar a aprovação de projetos de lei que podem evitar que essa tragédia se repita. Um deles foi citado, o Projeto de Lei nº 9.950. É um projeto de lei sobre proteger o Pantanal. Da mesma forma como temos uma lei da Mata Atlântica, podemos e devemos ter uma lei do Pantanal, para proteger o Pantanal. 17/21 Reunião de: 29/10/2020 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

O apoio de vocês — da Tetê, da Edmara e de vários outros que se manifestaram — é muito importante também para isso, para que o Congresso faça, na área ambiental, aquilo que está fazendo em outras áreas. Nós vimos que o Governo não correu atrás do auxílio emergencial, mas o Congresso aprovou o auxílio emergencial, mesmo com o Governo contra. O Congresso tem que fazer a mesma coisa na área ambiental: assumir o protagonismo e aprovar o que puder aprovar, para que possamos proteger os nossos biomas. Então, para projetos de lei como o 9.950, o PL do Pantanal, do qual o Deputado Israel e a Deputada Rosa falaram, que são coautores comigo e com outros colegas aqui, precisamos do apoio de vocês, assim como para o Projeto AMAR. Disse o Renato, citando Tom Jobim: "Deixa a índia criar seu curumim, vai embora daqui coisa ruim". A Lucélia disse bem, no começo: que essas coisas têm nome e sobrenome. Então, vamos à luta! Sabemos o nome e o sobrenome, sabemos o que fazer, sabemos como fazer. Até a hora de fazer isso, vamos aprovar leis que protejam os nossos biomas, para evitar que, até as próximas eleições, já esteja tudo destruído.

Uma salva de palmas a vocês, não apenas pela presença aqui, mas também pelo conjunto da obra e pela vida de vocês, que é um exemplo também para nós. Obrigado. A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Muito obrigada, Deputado Alessandro Molon. Quero dizer que as Comissões das Assembleias Legislativas de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul já estão discutindo — e vamos discutir com elas e com os que estão de fato aqui nos dois Estados também — o projeto de apoio ao Pantanal, para alinharmos a discussão e a legislação. Convido agora o Deputado Estadual Wilson Santos, de Mato Grosso, a falar por 3 minutos. Ele é também um grande guerreiro e lutador em defesa do Pantanal. (Pausa.) (Não Identificado) - Ele já saiu, Deputada Rosa. A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Ah, não está? Vou dar continuidade à chamada dos Deputados Federais. Tem a palavra o Deputado Ivan Valente, por 3 minutos. O SR. IVAN VALENTE (PSOL - SP) - Boa noite a todas e a todos. Quero cumprimentar os nossos artistas, agradecer muito a eles por nos emprestarem o canto, a voz e o rosto nesta campanha em defesa do Pantanal, dos biomas brasileiros, na denúncia do crime que se está praticando no Brasil. Quero cumprimentar, particularmente, a Lucélia Santos. Matei a saudade aqui da nossa prisão, na Frei Caneca, em 1977, 1978, quando ela visitava o Nelson Rodrigues. Nós conhecemos ela lá. Ela sempre está do lado certo da história. Parabéns, Lucélia! Parabéns a todos os outros! Quero também saudar aqueles que se referiram ao Raoni, ao Krenak, ao Kopenawa — esses são os verdadeiros heróis do Brasil, esses é que preservam florestas, rios e o patrimônio genético brasileiro — e todos aqueles que falaram do modelo nosso, agroexportador, que é a causa principal. Há interligação entre os biomas. Quando você destrói a Amazônia, também destrói os rios aéreos que passam pelo Pantanal e pelo Sudeste. Quando você destrói o Cerrado, as nascentes que formam o Pantanal... Tudo isso está sendo destruído. Quem participou de todas as audiências sabe que ouvimos a ciência, os pantaneiros, os ribeirinhos, o Ministério Público e a Polícia Federal, que nos informou que 90% dos incêndios são criminosos. Quem não confiar no INPE ou na NASA é negacionista. Então, infelizmente, a questão aqui não é partidária, mas é política. Ela só pode ter uma resposta política. Nós não podemos ter um Ministro do Meio Ambiente que representa grileiros, garimpeiros, pistoleiros e madeireiros ilegais em todos os biomas. Ele não pode ser Ministro. Mas ele sabe que tem costas quentes, o Presidente da República, que não valoriza, que não sabe o que significa isso. Um retrocesso civilizacional mesmo é o que estamos vivendo.

Eu queria dizer que é muito importante participar deste momento com vocês e vocês emprestarem legitimidade, representatividade à nossa Comissão, ao relatório final e ao manifesto. Quero fazer um agradecimento especial a vocês. Deixo um grande abraço a todas e a todos os artistas e cumprimento todos os Parlamentares, que têm sido ativos companheiros de batalha nesta defesa do meio ambiente, da liberdade e da democracia no nosso País. A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Muito obrigada, Deputado Ivan, guerreiro e parceiro, que todos os dias está aqui comigo. 18/21 Reunião de: 29/10/2020 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

Quando o Deputado Ivan chega, eu já me sinto mais tranquila. O próximo Deputado a falar, que eu chamo de "mestre das orientações" na nossa Comissão, é o Deputado Nilto Tatto. O SR. NILTO TATTO (PT - SP) - Boa noite. Eu quero, em primeiro lugar, cumprimentar V.Exa., Deputada Rosa Neide, pelo trabalho que vem fazendo na coordenação desta Comissão. Quero cumprimentar os colegas Parlamentares e, com carinho muito especial, quero cumprimentar e agradecer aos artistas aqui presentes, que estão cedendo, na verdade, a sua imagem e trazendo música e poesia à dureza dos enfrentamentos que fazemos na política. Rapidamente, quero dizer que esta Comissão tem feito um trabalho fantástico, o de ouvir todos: a academia, a Polícia Federal, quilombolas, indígenas, ribeirinhos, pantaneiros tradicionais, enfim, todo mundo. Todo mundo está sendo ouvido nesta Comissão. Eu acho que todos nós aqui também temos clareza em relação ao que vou dizer agora. Tenho 40 anos de militância nesta agenda socioambiental e nunca vi um momento como este, de ação política coordenada, proposital, para destruição, antiambiental. Precisamos ter clareza disso. Como foi dito aqui por vocês, isso tem nome e sobrenome. É na política que vamos resolver isso. Vamos ter enfrentamentos. Quando olhamos a composição do Congresso Nacional — e todos vocês acompanham isso —, vemos que somos 120, 130, 140 dentre os quinhentos e tantos. Essa é a situação. Lembro aqui — e muitos de vocês inclusive estiveram com a gente — a tentativa de aprovação da Medida Provisória nº 910, sobre a grilagem de terras, que não conseguiram votar, mesmo tendo maioria, porque foi feito um trabalho articulado entre esses poucos Parlamentares, vocês, a sociedade civil organizada e os movimentos populares. Enfim, houve uma ação coordenada. Esta Comissão vai precisar disso. Esta Comissão não vai tratar só do Pantanal, mas, especificamente sobre o Pantanal, ela vai ter que enfrentar a forma como está sendo utilizado o solo nas nascentes dos rios que abastecem o Pantanal, a monocultura, o agrotóxico que está indo com a areia e com a terra para dentro do Pantanal. Esta ação criminosa de boa parte dos incêndios dentro do Pantanal tem um propósito: o de mudar a forma de produção do gado dentro do Pantanal. Há empreendimentos previstos para o Pantanal, como as Pequenas Centrais Hidrelétricas e a Hidrovia do Paraguai. Então, qual é o projeto que se quer para o Pantanal? É isso o que vai estar em jogo.

Vocês podem ter certeza de que os Parlamentares que estão nesta Comissão vão enfrentar essas questões de fundo. Agora, só vamos ter sucesso na defesa da vida se tivermos a capacidade — e não estou falando só de nós Parlamentares, mas também de vocês, que estão emprestando a poesia, a música e o nome de vocês — de, juntos, fazer o enfrentamento desse grande desafio. Eu acho que foi o Marcos Palmeira que disse isto logo no início: "Como podemos mobilizar a população e fazer com que um conjunto maior da sociedade brasileira possa expressar o sentimento em defesa da vida que está em jogo neste momento?" Obrigado pela participação de vocês e pelo compromisso em muitas outras lutas, por estarem juntos novamente nesta luta, que é muito importante. A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Obrigada, Deputado Nilto, que também veio para Mato Grosso, que também esteve no Pantanal — já veio outras vezes — e está aqui como guardião desta Comissão. Não nos falta nada. Os Deputados Nilto e Molon já discutiram, na Comissão, o Projeto de Lei do Pantanal, já fizeram as tratativas. Agora, na Comissão Externa, voltarão a protagonizar a discussão, para que continuemos caminhando. O último inscrito é o Deputado Paulo Teixeira, que também contribuiu muito. Junto com o Deputado Israel, sugeriu o seguinte: "Vamos chamar os artistas, para que as vozes ganhem o País inteiro". Eu chamo agora o companheiro Paulo Teixeira, para encerrar a fala dos Deputados. O SR. PAULO TEIXEIRA (PT - SP) - Boa noite a todos e a todas. Boa noite, Deputada Rosa. Muito do sucesso desta Comissão, da permanência, da insistência se deve a V.Exa. V.Exa. parou tudo e nos coordena, manda em nós, faz, puxa a orelha. Ela é bastante austera, e não nos deixa parar. Parabéns, Deputada Rosa, meus colegas que estão aqui, os que vejo ainda: Nilto Tatto, Ivan Valente, Molon, Israel, Freixo! Quero agradecer a vocês, artistas, que vieram. O resultado do trabalho desta Comissão precisa de duas coisas: de precisão e de comunicação. A precisão vai ser obtida com um bom diagnóstico. Nós estamos ouvindo todo mundo e vamos fazer boas propostas, para depois colocá-las em prova. Não podemos, do Congresso, fazer uma proposta para o Pantanal, sem depois ouvir os pantaneiros, os segmentos que estão lá atuando, vivendo e defendendo o Pantanal. Então, precisamos ter muita precisão no que vamos propor, mas devemos colocar em prova o que propusermos. Não dá para aprovarmos algo sem ouvir todo mundo. 19/21 Reunião de: 29/10/2020 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

Outro dia, conversando com Almir Sater, ouvi ele fazer uma sugestão: de que esta Comissão fosse lá, que ele nos receberia. Ele vai chamar os pantaneiros, para nos ouvirem. Eu acho que poderia ser realizada uma audiência no Pantanal, tanto em Mato Grosso, em Poconé, onde nós estivemos, quanto em Mato Grosso do Sul. Poderíamos ir juntos e levar as propostas que forem aprovadas, para que sejam analisadas in loco por todos os segmentos. Vamos discutir como podemos pôr de pé algo que resulte na sobrevivência desse bioma pantaneiro.

O que aconteceu agora com o Pantanal traumatizou a sociedade brasileira, traumatizou todos no Brasil e ergueu um sentimento que nos leva a agir. O que nos assustou nesse processo não foi a dimensão do fogo, mas sim a duração do fogo. Ele durou muito tempo, sem que houvesse uma resposta contundente para extingui-lo. Isso foi muito triste. Este movimento aqui não terá bons resultados se tivermos apenas boas propostas; ele terá bons resultados se tivermos boas propostas e se conseguirmos, em torno delas, mobilizar a sociedade brasileira para recuperar esse bioma e impedir que o que aconteceu volte a acontecer. Por isso, acho que hoje não deveríamos encerrar esta reunião apenas neste ato, deve haver um desdobramento desta reunião. Eu tenho comigo que os acontecimentos de hoje foram muito importantes. O primeiro deles foi a suspensão daquela resolução (falha na transmissão) do meio ambiente no Brasil. A Ministra Rosa Weber suspendeu aquela resolução do CONAMA. Isso foi muito importante. O segundo fato muito importante está sendo esta reunião. Assim sendo, minha proposta de continuidade é, tão logo as propostas estejam amarradas, irmos juntos ao Pantanal para comunicá-las, aferi-las, precisá-las e mobilizar o Brasil em torno da recuperação desse bioma e de um novo modelo de desenvolvimento. Esse nosso modelo de desenvolvimento é destrutivo, ele não tem sobrevida. Eu vi ontem que estão descobrindo água em Marte e que pode haver vida naquele planeta. Eu quase cantei aquela música da Rita Lee: "Alô, alô, marciano, aqui quem fala é da Terra". Cuidado! Cuidado com a ocupação de Marte. Portanto, nós temos que aqui rever o nosso modelo de desenvolvimento para que possamos preservar o que o Papa Francisco chama de nossa casa comum, que é a Terra. Quero agradecer de coração a vocês. Para terminar, quero dizer o que um amigo costuma dizer para as pessoas queridas: um abraço de quebrar os ossos. A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Muito obrigada, Deputado Paulo Teixeira. V.Exa. esteve aqui conosco no Pantanal. Com certeza, aceitaremos o convite para ir a Mato Grosso do Sul, ouvir os pantaneiros, com o músico Almir Sater, e discutir também outra imersão no Pantanal. Nossos artistas certamente estarão conosco.

Ao finalizar esta audiência, quero citar os que estiveram presentes e nos ajudaram: o Deputado Pedro Cunha Lima, que é um defensor do meio ambiente; o Deputado Alessandro Molon; o Deputado Ivan Valente; o Deputado Vander Loubet, que não usou da palavra, mas é um Deputado de Mato Grosso do Sul imbuído na luta pelo Pantanal e vem ajudando muito esta Comissão; o Deputado Paulo Teixeira; o Deputado Professor Israel Batista; o Deputado Marcelo Freixo; o Deputado Nilto Tatto; e os Deputados Estaduais Valdir Barranco e Wilson Santos, de Mato Grosso. Muita gente, pelo e-Democracia, mandou mensagens, pedindo aos artistas que continuem na campanha e que as novelas reforcem esse tom sobre a questão ambiental. Há um pedido muito interessante para que músicas e novelas ajudem a educar o Brasil quanto à questão ambiental, porque aí as pessoas todas se envolvem. Até houve um comentário no sentido de que, se os artistas valorizassem mais a Amazônia e o Pantanal, com mais músicas, mais apresentações nas novelas, nas artes, nos seus movimentos, o Brasil seria muito melhor. Por isso, convido os artistas a continuarem conosco. Eu gostaria de dizer ao músico Almir Sater, às atrizes Dira Paes, Letícia Sabatella e Lucélia Santos, ao jornalista Luis Nassif, ao Marcos Palmeira, ao Rainer Cadete, ao Renato Braz, à Tetê Espíndola, à Thaila Ayala, ao Thiago Lacerda, à Vera e à Zuleica, do Estado de Mato Grosso, e a todos os outros e as outras que se colocaram à nossa disposição que recebam de todos nós, com certeza, um abraço de quebrar os ossos, a que o Deputado Paulo Teixeira se referiu. Para nós, é uma emoção muito grande. Tietamos vocês, como o Deputado Professor Israel Batista disse, mas ficamos muito felizes quando se somam conosco nessa luta que é do Parlamento e da sociedade brasileira. As vozes dos nossos artistas, de todos juntos podem fazer a diferença. O País e a vida não precisam ser destruídos para continuarmos aqui, e os que virão terão direito de habitar o planeta Terra. Espero que a nossa geração não seja destruidora do meio ambiente. Não se pode sonhar em chegar a Marte e o destruirmos também, porque parece que essa é a junção das coisas. Nesta noite de muita alegria, sentimos, nas vozes emocionadas de cada um de cada uma, que tem jeito, que temos chances, que podemos tocar em frente.

20/21 Reunião de: 29/10/2020 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

Antes de encerrar esta reunião, comunico que a próxima reunião técnica da Comissão será posteriormente marcada. Agradeço muito a todos e todas, aos que nos acompanharam pela TV Câmara e pela Internet a presença. Nós temos um vídeo de finalização. Aqueles que puderem assistir a ele até o fim, com certeza, verão uma imagem muito linda do Pantanal. Quero dizer que vivo em Mato Grosso e vivi, por muito tempo, nas cidades onde nasce o Rio Paraguai, em Diamantino e Alto Paraguai. Trata-se do Planalto Pantaneiro, da parte alta do Cerrado. É o principal rio que banha o Pantanal, além do Rio Cuiabá e dos demais rios. As nascentes estão acabadas! Nós precisamos começar a ter o olhar das nascentes para o Pantanal. Esse pulmão que ajuda o clima do Brasil e do mundo não pode ser destruído, e nós, juntos e juntas, assim não permitiremos. Muito obrigada. Tenhamos todos uma boa noite! O vídeo, no final, é para que possamos sonhar com um Pantanal belo, como ele sempre foi. (Exibição de vídeo.)

(Exibição de vídeo.)

(Exibição de vídeo.)

A SRA. PRESIDENTE (Professora Rosa Neide. PT - MT) - Boa noite a todos. Vamos continuar em defesa do Pantanal e da vida! Muito obrigada a todos! Está encerrada a presente reunião.

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