O FEMINIST ART MOVEMENT NORTE-AMERICANO ANALISADO ATRAVÉS DA PRODUÇÃO ARTÍSTICA DE JUDY CHICAGO E BARBARA KRUGER Milena Costa De Souza 1
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YOUR BODY IS A BATTLEGROUND: O FEMINIST ART MOVEMENT NORTE-AMERICANO ANALISADO ATRAVÉS DA PRODUÇÃO ARTÍSTICA DE JUDY CHICAGO E BARBARA KRUGER Milena Costa de Souza 1 Resumo : Este artigo pretende compreender os processos e as estratégias de inserção de novos sujeitos e novos corpos no circuito artístico da década de 1970 a partir do Feminist Art Movement em diálogo com as obras das artistas Barbara Kruger e Judy Chicago. O artigo analisa a partir de entrevistas e escritos das artistas os diálogos que surgiram entre as teorias e movimentos feministas e o mundo das artes visuais estadunidense. Tendo como ponto de partida uma análise sob a perspectiva dos estudos culturais, as teorias feministas e pós-coloniais procuro compreender as rupturas realizadas pelas obras de Chicago e Kruger em relação aos cânones modernista e formalista representados pelo Expressionismo Abstrato e o Minimalismo. Palavras-chave: Teoria feminista. Feminist Art Movement. Arte visuais. Judy Chicago. Barbara Kruger As imagens da arte, em sua pretensa universalidade, revelam a utilização de estereótipos e clichês em relação à representação dos corpos. Ao se analisar a produção modernista europeia (final do século XIX e início do século XX) é possível perceber a existência de uma relação hierarquizada entre o artista, a/o modelo e o público. Nesta relação, corpos não normativos – das mulheres, africanos/as, asiáticos/as, latinos/as, entre outros – são reproduzidos e observados por olhares masculinos, brancos e europeus. Esta relação manteve-se obscurecida durante décadas pela autoridade da tradição artística e seu verniz civilizatório. Durante os anos 1950, após a II Guerra Mundial e a transferência do centro artístico para o continente Americano – de Paris para Nova Iorque, uma tradição modernista se fez notar nos Estados Unidos por meio das obras do Expressionismo Abstrato, reconhecido como o primeiro estilo estadunidense a se internacionalizar. No contexto dos Estados Unidos e a busca desta nação em incentivar a produção artística local, a tradição modernista ganhou espaço ao mesmo tempo em que foi contestada por novos fazeres na arte. A crítica ao Expressionismo Abstrato foi exercida de diferentes maneiras, fosse por seus limites técnicos/estéticos como também por representar um modo de fazer arte que excluía as experiências de diversos sujeitos e grupos sociais. Sendo assim, nas décadas de 60 e 70 os Estados Unidos abrigaram as vanguardas pós-modernas em arte, como a Pop Art, Land Art, Optical Art , Minimalismo, entre outras. Neste mesmo período, no contexto da consolidação do movimento feminista, a discursividade sobre os Outros corpos foi rompida por meio da visibilização de 1 Doutoranda em Sociologia (UFPR), Mestre em Sociologia (UFPR), Especialista em História da Arte do século XX (EMBAP) e Graduada em Artes Plásticas (EMBAP). 1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. ISSN 2179-510X trabalhos feitos por mulheres sobre mulheres. As mulheres artistas estavam divididas em diferentes tendências artísticas e nem todas eram engajadas nas lutas políticas, mas aquelas que buscavam evidenciar as relações de poder neste campo de conhecimento formaram um grupo que na atualidade é conhecido como Feminist art movement. O Feminist art movement dos anos 70 não era um grupo organizado, no sentido de possuir lideranças definidas, nem mesmo um estilo artístico. Esta nomenclatura vem sendo utilizada com o objetivo de englobar os debates difundidos no mundo da arte por meio da relação entre produção artística, movimento e teorias feministas. Dessa maneira, muitas mulheres não se consideravam pertencentes a um grupo em comum, mas ao mesmo tempo compartilhavam de interesses teóricos e artísticos. As mulheres consideradas como pertencentes ao Feminist art movement não eram apenas artistas visuais, mas também historiadoras, museólogas, críticas de arte e professoras. Algumas das envolvidas nesta luta foram: Judy Chicago (artista e professora), Miriam Schapiro (artista e professora), Martha Rosler (crítica e curadora), Arlene Raven (historiadora da arte) e Barbara Kruger (artista). Um importante dilema para as artistas que miravam as teorias feministas era se deveriam seguir adotando os paradigmas modernistas, ou deveriam estabelecer um sistema de investigação alternativo. De acordo com Francis Frascina (1998, p.103), escolher a segunda opção “[...] significava enfrentar o poder esmagador da tradição e suas instituições”. Diversas/os artistas optaram por este caminho e passaram a questionar a autoridade de instituições que, por meio de suas seleções, eram capazes de conferir valor cultural e socioeconômico aos objetos artísticos. Esses questionamentos vieram por meio de denúncias em relação às políticas e interesses institucionais, ao mercado da arte, mas principalmente por meio da escolha de novos suportes artísticos e a transgressão dos discursos sobre obra de arte por meio de discussões poéticas circunscritas até então aos espaços do privado, como as questões de corpo, sexualidade, desejo, discurso midiático e domesticidade. Em 1971, a pesquisadora feminista Linda Nochlin (1931) sintetizou os anseio daquela época no artigo: Why there have not been no great female artists? 2. Nochlin argumentou que o conceito de genialidade esteve reservado aos artistas homens e que as relações sociais e institucionais não permitiam que as mulheres adquirissem as características encaradas como de excelência profissional. Nochlin revisou momentos da história da arte, como o Neoclassicismo, quando as obras de nus femininos ganhavam os principais prêmios da Academia de arte francesa. Tendo em 2 “Por que não houve grandes artistas mulheres?”. A questão foi colocada por Nochlin em forma de artigo, o qual, na atualidade é considerado leitura fundamental para os estudos da sociologia e da história da arte. 2 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. ISSN 2179-510X vista que as mulheres eram proibidas de frequentar as aulas de modelo nu, não existiam caminhos formais para atingirem os padrões de qualidade artística determinados naquele período. Dessa maneira, Nochlin desconstruiu aquilo que chamamos de tradição artística ao revelar seu caráter seletivo sexista. Rupturas de paradigmas, como proposto por Nochlin, clamavam por novas formas de se pensar as relações sociais da arte no âmbito acadêmico. Uma dessas propostas surgiu, também na década de 1970, com a artista visual Judy Chicago (1939), a qual fundou em Fresno – Califórnia, o primeiro programa feminista em uma faculdade de artes visuais dos Estados Unidos. É importante destacar que a produção artística realizada por mulheres não foi uma novidade dos anos 70 – as mulheres estão ligadas às artes visuais desde a sua concepção ocidental de campo de conhecimento, ainda que não devidamente visibilizadas. A inovação estava na problematização dessa produção por meio da construção de um discurso crítico baseado nas teorias feministas. Ou seja, mulheres sempre produziram arte, mas as suas produções artísticas não alcançavam o grande público e elas não eram reconhecidas como artistas profissionais. É neste contexto que este artigo pretende pensar as obras de duas integrantes do Feminist Art Movement: Judy Chicago (1939) e Barbara Kruger (1945). Ambas construíram suas poéticas artísticas em articulação com as teorias feministas e em meio a uma estrutura curatorial e museológica que, mesmo a passos curtos, se repensava. Proponho, em um primeiro momento, analisarmos dois movimentos artísticos estadunidenses que antecederam a circulação de uma produção feminina e feminista: o Expressionismo Abstrato e o Minimalismo, para que possamos compreender não apenas os modelos contra os quais a produção das artistas mulheres da década de 1970 se contrapunha, mas também em quais valores estético-culturais essas mulheres foram educadas. Em um segundo momento irei explorar as trajetórias de Chicago e Krueger por meio do processo de realização e inserção de alguns dos seus principais trabalhos no mundo das artes. Por meio do reconhecimento e mapeamento das estratégias das artistas pretendo evidenciar suas articulações com o movimento feminista estadunidense assim como as reflexões propostas em relação ao conceito de corpo para que possamos compreender as propostas de ruptura de Chicago e Kruger em relação aos cânones artísticos. Ao afirmar a importância de uma fala sobre si mesmas, construída por meio de suas experiências e suas percepções de mundo, Judy Chicago e Barbara Kruger negam as construções externas sobre elas e sobre a arte. Dessa forma elas se excluem dos cânones modernistas e buscam um espaço alternativo de reflexão, espaço este pós-colonial (Cf. HALL, 2006) e feminista (Cf. 3 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. ISSN 2179-510X FELSKI, 1996). O reconhecimento das artistas de suas inserções nestes espaços promove um exemplo de relação reflexiva com a modernidade tardia (GIDDENS, 2002), tendo em vista que ambas as artistas demonstram relacionar o conhecimento teórico adquirido com a prática artística, ao mesmo tempo em que contribuíram para a construção do mundo da arte. Expressionismo Abstrato e Minimalismo: a autonomia da nova arte norte-americana era masculinista? No contexto do empoderamento de Nova Iorque como metrópole das artes durante as décadas de 1950 e 1960 emergiram os primeiros movimentos artísticos “tipicamente norte- americanos”, dentre os quais irei destacar o Expressionismo Abstrato e o Minimalismo. A construção