Do Retrato De Vargas À Carta De Brasília
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Paulo Amador Do retrato de Vargas à Carta de Brasília: 50 anos de Fenaseg Grupiara Comunicação 1 Apresentação Dentre as comemorações previstas para marcar o Cinqüentenário da Fenaseg, a edição deste livro - “Do retrato de Vargas à Carta de Brasília” - reveste-se de significado especial. Além de historiar a evolução da entidade, que temos tido a honra de Presidir desde 1992, enseja uma reflexão muito positiva sobre a laboriosa dedicação de dirigentes, conselheiros, técnicos e servidores da Fenaseg, e seu empenho no esforço corporativo no sentido do aprimoramento regulamentar e institucional do mercado de seguros, capita- lização e previdência privada. Para escrevê-lo, convocamos o jornalista Paulo Amador, credenciado para a tarefa por um currículo que inclui mais de uma dezena de obras pu- blicadas e vários prêmios literários, mas particularmente, pela demonstração de um indisfarçável entusiasmo por tudo quanto diga respeito à cultura da atividade seguradora em nosso País. Nesta oportunidade, em que se presta uma homenagem tão justa ao passado da Fenaseg, e quando nos voltamos tão esperançosamente para o futuro de nossa atividade, eu me permitiria lembrar um nome. Conforme declarado pelo próprio autor deste livro, a nitidez do registro da história de nossa Federação, coligida em milhares de páginas e documentos consulta- dos, deve muito a pessoas tão excepcionalmente dedicadas como foi Luiz Mendonça. João Elisio Ferraz de Campos Presidente da Fenaseg 2 Antelóquio e Agradecimento Para realizar este livro, premido pelo tempo (três meses desde o iní- cio da pesquisa até sua entrega à gráfica) e pela perspectiva do desafio de não cansar a paciência do leitor, fui obrigado a fazer algumas escolhas. Em primeiro lugar, a estruturação do texto, a que dei o tônus próprio de uma narrativa, evitando a sensaboria da dissertação puramente histórica, o amon- toado cronologicamente disposto de números, nomes e fatos administrati- vos. Para costurá-lo, usei as linhas da história contemporânea do Brasil, e procurei acrescentar à insuficiência da frase o colorido emocionado, a viva- cidade da movimentação de nosso povo e de nossa cultura. Nessa condição, o texto pediu uma segunda escolha. Pediu o ponto- de-vista que mais me aproximasse dos protagonistas da história, os Presi- dentes da Fenaseg, a cujo campo de conhecimento, ação e palavra, procurei me ater com o máximo de fidelidade que me foi possível. Adotada essa perspectiva, entende-se que este livro deverá ser lido como história de uma instituição, a Fenaseg, e sua atuação no contexto mais amplo da história geral do seguro no Brasil nos últimos 50 anos. As estatísticas são citadas textualmente, tais como se encontram nas fontes históricas pesquisadas, sem a preocupação de ajustamento a moeda ou novos modos de apresentação de matrizes de dados. As citações, coloca- das entre aspas, também reproduzem, literalmente, as passagens dos discur- sos, entrevistas e relatórios pesquisados, o que pode resultar em algumas especificidades de ortografia, pela qual tentei manter e reproduzir com fide- dignidade o pensamento e modo em que seus autores se expressavam. 3 Devo consignar que a realização deste livro em tempo tão curto só se tornou possível graças à boa vontade de algumas pessoas, a quem sou pro- fundamente grato. Em primeiro lugar, Suzana Munhoz da Rocha, autora e estimuladora da idéia do livro, que o acompanhou com sugestões em todas as fases de sua elaboração. Devo também muito a Nilton Ribeiro e José Ar- naldo Rossi, pela atenção de sua leitura e pela qualidade de suas observa- ções. Ronaldo Mendonça Vilela, do Sindicato das Seguradoras do Rio de Janeiro; Austérnio Bolorini, da Fenaseg; e Veigan Marsal Sant’Ana, da I- mobiliária Seguradoras Reunidas, que me subsidiaram com o devotamento de seu trabalho, na coleta de documentos e material de ilustração. Finalmente, um agradecimento especial às funcionárias da Biblioteca da Fenaseg, Juscenira de Freitas Leite Oliveira, coordenadora, e Rosana Regina Figueiredo de Sousa; e Lilia Maria de Oliveira Gouvêa, Gerente de Documentação e Informação do IRB - Brasil Resseguros, que muito me auxiliaram na localização e reprodução de documentos de época. Não se faz livro algum de história se não se pode contar com a paciente colaboração das bibliotecárias. Rio de Janeiro, março-maio de 2001 4 Capítulo um Um retrato na parede e vários sindicatos: a fundação. Naquela tarde - quarta feira, 25 de junho de 1951 - delegados de sin- dicatos de empresas de seguros e de capitalização achavam-se reunidos em assembléia, no décimo terceiro andar do Edifício das Seguradoras, situado na esquina da Rua Senador Dantas com Evaristo da Veiga, no Centro do Rio de Janeiro, Capital Federal da República dos Estados Unidos do Brasil. Pode-se imaginar o instante e a cena. São quinze horas e trinta minutos. A tarde, que entra em sua segunda metade, deve ter sido uma dessas tardes luminosas e de temperatura amena, tão características do inverno ca- rioca, nessa hora em que atmosfera começa a se impregnar do cheiro salitro- so da maresia, carregada no vento que sopra do oceano, da Ponta do Cala- bouço e Avenida Beira-Mar. O sol, um tímido sol de junho, mais luz que calor, suspenso em cima dos morros de Santa Teresa e sem qualquer obstá- culo em sua trajetória, devia bater de chapa na face ocidental do prédio. E- xatamente onde se localiza o salão em que se reúnem aqueles dez homens, trajados com ternos provavelmente escuros, de casimira inglesa, tal como pedia a relevância da ocasião e a estação mais fria do ano. Chico Alves, o Rei da Voz, numa surdina muito distante, canta no rádio a marchinha que saudava o retorno de Getúlio Vargas ao Governo, “Bota o retrato do Velho”, de autoria de Marino Pionto e Haroldo Lobo, o grande sucesso do carnaval daquele ano. Mas a música que vem da rua qua- se não é ouvida quarenta metros acima do nível do asfalto. Ali dentro, no salão emprestado pelo Sindicato, a voz que se ouve é a de Odilon de Beau- 5 clair, um dos delegados do Rio. Ele pede a palavra para sugerir que se esco- lha um presidente para os trabalhos da assembléia e tem como resposta sua própria aclamação para o cargo, proposta pelos delegados paulistas. Cinco sindicatos estão presentes através de seus delegados. De Mi- nas vieram Carlos Coimbra da Luz e Lafayette de Miranda Valverde. São Paulo é representado por Issa Abrão e Otávio Pedreschi, em substituição a Antônio Alves Braga e Ricardo Xavier da Silveira, que não compareceram por impossibilidade ou renúncia. Pelo Rio Grande do Sul estão presentes Sebastian Lafuente e Arthur Autran Franco de Sá, no lugar de Raul Mário Toschi, que renunciou ao mandato. Arnaldo Gross e Franco Cecchini Bruni representam a Bahia. E o Rio de Janeiro tem como outro representante, além de Odilon de Beauclair, Durval Lopes Reis. Depois de duas assembléias preparatórias, ia ter início a sessão histó- rica em que seria aprovado o estatuto de uma entidade sindical de nível su- perior, a Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capi- talização, que a partir dali, e até o registro da marca emblemática - Fenaseg - , vinte e três anos depois, atenderia pela sigla de pronúncia quase impossível por escassez de vogais: FNESPC. Instalada pontualmente às quinze horas e trinta, tal como previa o e- dital de convocação publicado no Diário Oficial, essa assembléia daria pros- seguimento a trabalhos iniciados em uma outra, realizada dez dias antes, e interrompida “em razão do adiantado da hora”, conforme meticulosamente anotado na ata de fundação. Na preparação desse dia histórico, algumas providências tinham si- do previamente tomadas pelo Sindicato do Rio, que patrocinava o surgimen- to da nova entidade. No dia 9 de abril, em obediência ao Artigo 16 da Porta- ria 39, de 2 de agosto de 1944, encaminhara oficialmente ao Diretor Geral do Departamento Nacional do Trabalho, Lauro Sodré Viveiros de Castro, o pedido para a constituição da Federação. Despachado favoravelmente por ele, e acompanhado de parecer, constante do Processo MTIC 943-341, rece- beria a aprovação de Danton Coelho, Ministro do Trabalho, Indústria e Co- 6 mércio, e sairia estampada na página 62090 do Diário Oficial da União, de segunda-feira, 23 de abril de 1951. Beauclair, então, já aclamado para a presidência dos trabalhos, sabia que pisava em terreno burocraticamente seguro ao pedir a palavra para de- clarar que estavam “definitivamente” aprovados os Estatutos da Federação, discutidos e votados naquela reunião interrompida no dia 15. Parecia ter pressa em dar início aos trabalhos. - Portanto, cabe-me a honra de declarar, como efetivamente declaro, definitivamente constituída e fundada a Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização - ele afirma, com uma ênfase formal e entusiasmada. E prosseguindo, diz que a Federação que acabava de ser fundada “era uma antiga aspiração de todos aqueles que participam das ca- tegorias econômicas do seguro privado e da capitalização”. Em seguida, em cumprimento ao artigo 55 das disposições transitó- rias do estatuto aprovado segundos antes, conclama os companheiros a pro- cederem logo às eleições do Conselho de Representantes, Conselho Fiscal e Diretoria. Aos eleitos, caberia o encargo de administrar provisoriamente a entidade e acompanhar, por mais de dois anos seguintes, a lenta e paciente tramitação burocrática do processo de reconhecimento da entidade no Mi- nistério da Indústria e Comércio. Por escrutínio secreto, em “cabine indevassável existente no recin- to”, uma urna fechada e lacrada na presença de todos recebeu os votos, um por delegação. Os escrutinadores, Lafayette de Miranda Valverde e Sebasti- an Lafuente, declararam que haviam sido colocadas cinco cédulas na urna. E o resultado da eleição foi imediatamente declarado. Os dez homens ali presentes pareciam dispostos a não perder tempo. Queriam arregaçar as mangas, para realizar o mais rapidamente possível o sonho de uma categoria de empresas e profissionais, que andava às voltas com um osso antigo, que lhes fora atravessado na garganta desde a década de 30, no primeiro Governo de Vargas: a ameaça e o risco da estatização da atividade seguradora.