Alguns Aspectos Da MPB

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Alguns Aspectos Da MPB Orelhas Euclides Amaral Alguns aspectos da MPB 1ª edição: Edição do Autor, 2008 2ª edição: revista e ampliada Rio de Janeiro – 2010 Capa e projeto gráfico Euclides Amaral e Eduardo Ribeiro Imagens da capa Fotos: Carmen Miranda e O Bando da Lua/Os Batutas (Arquivo Funarte) Fotos das estátuas de Otto Dumovich: Pixinguinha, Noel Rosa, Manuel Bandeira e Cartola (por Rubens Cardoso) Foto da 4ª capa Karla Koaracy Ficha catalográfica Amaral, Euclides. 1958 – Alguns Aspectos da MPB: música: Rio de Janeiro: Esteio Editora, 2010. Biblioteca Nacional/Registro: 433.708 livro: 812 folha: 368 - Contém dados biobibliográficos. Composto em Times New Roman, corpo 11, papel miolo off-set 75 g/m, capa papel supremo 230 g/m, formato 14x21. Agradecimentos especiais aos poetas Sergio Natureza e Paulo César Pinheiro pela gentileza dos poemas; ao Júlio Diniz pela orientação em “O Hip-hop” e “O Funk”; ao Victor Biglione pela sugestão de “A contribuição estrangeira na MPB”; ao Fred Góes, cozinheiro da amizade, que preparou uma orelha no capricho e ao Eduardo Ribeiro pela cumplicidade na tramoia. Apoio www.baixadafacil.com.br Contato com o autor: [email protected] Livraria virtual www.plurarte.com.br (receba em domicílio) SUMÁRIO Abertura poética (Compasso Brasileiro: Euclides Amaral) 7 Apresentação (Júlio Diniz) 9 Introdução poética (O Choro: Paulo César Pinheiro) 11 O Choro 13 Introdução poética (Só o samba: Euclides Amaral) 43 O Samba 45 O Hip-Hop 97 O Funk 135 Introcitações (Karl-Heinz Schäfer, David W. Griffith, Antônio Carlos Jobim e Remo Usai) 175 A MPB no Cinema Nacional 177 Introdução poética (Profissão: poeta: Sergio Natureza)229 Os Letristas e a Herança do Provençal 231 Introcitação poética (Paratodos – trecho: Chico Buarque) 259 A Nova Geração da MPB no Século XXI 261 A Contribuição Estrangeira na MPB do Século XVI ao XXI 285 Glossário 315 Bibliografia315 O autor 322 6 - Alguns aspectos da MPB Cartola e Paulinho da Viola Ismael Silva Arquivo Arquivo Abril Press Revista Manchete Dorival Caymmi Arquivo Museu da Imagem e do Som Guilherme de Brito e Nelson Cavaquinho Foto Paulo Henrique Arquivo ABI Elza Soares Foto Greg Vanderlans Arquivo Maianga Discos Jovelina Pérola Negra Acervo ICCA Martinho da Vila Abertura poética Compasso brasileiro No compasso brasileiro estão presentes a sanfona e o pandeiro a modinha, o chorinho, a música de barbeiro. Pro compasso brasileiro o índio trouxe o flautim, o português o cavaquinho, o negro trouxe o agogô, tudo música que cura feito boticário ou doutor. Tem na flauta de bambu, no tambor de caxambu. até na caixa-de-fósforos tem compasso brasileiro. Tirado com muita manha tem o corte do bumbo tocado na lata de banha. Falando de tambor temos tudo quanto é tamanho: o candongueiro e o batá-cotô vindos de Angola e do Congo com os ancestrais do meu avô. O cavaco de cinco cordas e a viola de arame, o violão de sete cordas em andamento bem certeiro ponteia novo compasso alinhavado no pandeiro, esse é o compasso brasileiro. Euclides Amaral 8 - Alguns aspectos da MPB Sinval Silva Arquivo Projeto Brahma Extra O som do meio-dia Capa do CD de Vinicius de Moraes, de Elifas Andreato Rildo Hora - Foto Lívio Campos Dorina Capa Felício Torres - Foto Ierê Ferreira Mauro Duarte Arquivo Projeto Brahma Extra O som do meio-dia Capa do CD Clara Nunes com vida. Foto de Wilton Montenegro Algumas palavras sobre o livro Euclides Amaral é um ser inquieto por definição. Poeta, letrista, pesquisador na área da música popular, agitador cultural, produtor, estas são algumas faces desse irrequieto e criativo carioca que nos apresenta agora o seu mais recente trabalho, o livro de ensaios Alguns Aspectos da MPB. A leitura dos textos revela-nos o estilo original que caracteriza a es- crita do autor. A linguagem empregada oscila entre o tom jornalístico e o historiográfico, às vezes até poético, possibilitando ao leitor entrar em contato com as centenas de informações levantadas, as análises propostas e as conclusões de inúmeras pesquisas que Euclides Ama- ral realizou nos últimos anos. O livro é dividido em oito blocos dedicados a temas importantes que têm a música popular brasileira como eixo de articulação. A relação entre a poética da palavra cantada e a da palavra escrita predomi- na nos capítulos Os Letristas e A Herança do Provençal e A Nova Gera ção da MPB no Séc. XXI. A leitura crítica dessa relação é muito bem realizada, potencializando a figura do letrista da poética popular 10 - Alguns aspectos da MPB como um poeta tão sofisticado e histórica e esteticamente importante quanto os artistas do campo erudito. Outro ensaio de peso é o que discute criticamente a presença da MPB no cinema nacional. O levantamento de dados elaborado por Amaral é surpreendente, mostrando como essas duas formas artísticas dia- logam, dialogaram e serão parceiras para sempre. Alguns filmes que permanecem em nossa memória afetiva têm, na sua trilha sonora, um suporte estético e afetivo de imprescindível importância. Há um bloco de textos que possui como centro dois aspectos impor- tantes: a questão histórica ligada à constituição de movimentos cul- turais e a discussão sobre gêneros e formas na MPB. Os dois primei- ros ensaios tematizam o choro e o samba. O Hip-Hop e o Funk são reflexões mais recentes, ainda em estado de constituição. O ensaio A Nova Geração da MPB no Século XXI, com as novíssimas promes- sas da nossa cultura musical, nos aponta para um futuro de qualidade. Por fim, A Contribuição Estrangeira na MPB do Século XVI ao XXI enumera, através de micro verbetes, os principais músicos, letristas, intérpretes e editores musicais que de alguma forma influenciaram e influenciam a MPB. Estas são algumas palavras de um leitor sobre alguns aspectos do livro de um pesquisador apaixonado pelo que faz. Assim foi, é e sem- pre será Euclides Amaral: provocador de conversas, produtor de sur- presas, parceiro harmônico de nossa cultura. Rio de Janeiro, outubro de 2008 Júlio Diniz Diretor do Departamento de Letras da PUC-Rio. Ensaísta, crítico e pesquisador do CNPq. Introdução poética Roda de choro O choro é como um vestido de roda que não segue a moda, que moda não dura. O seu tecido é de fino novelo, parece um modelo de alta costura. O cavaquinho pesponta por dentro, alinhava no centro o bordado da flauta, e o sete cordas, exímio na linha, remata a bainha da barra da pauta. Os violões vão tecendo a fazenda com tramas de renda feito um trancelim, enquanto o molde do choro é cortado pelo dedilhado de um bandolim. O alto-relevo suave do pano quem faz é o piano com a ponta do fio, e o acordeom recorta a silhueta quando a clarineta desenha o feitio. Trombone chega trazendo os enfeites, botões e colchetes e uma pala nova, depois o sax ajeita o bordado e ajusta do lado pra última prova. É o pandeiro que dá o caimento, faz o acabamento com fecho de ouro. E não tem moda que faça um vestido de fino tecido mais lindo que o choro. Paulo César Pinheiro 12 - Alguns aspectos da MPB A Cor do Som Água de Moringa Joel Nascimento Anacleto de Medeiros LP Entra na Rosa, Arquivo Funarte de Elza Maria Foto Edson Meirelles Nó em Pingo D’água BeatChoro Galo Preto Ernesto Nazareth Arquivo Instituto Cultural Cravo Albin CD Caminhos do Choro Arquivo ICCA Joaquim Callado Arquivo Instituto Cultural Cravo Albin Época de Ouro Arquivo ICCA O Choro A história do choro começa remotamente em 1808, com a chegada da Família Real ao Brasil. O Rio de Janeiro foi elevado à categoria de sede do Reino Unido Brasil, Portugal e Algarves, formalizado em Carta Régia tempos depois, em dezembro de 1815. Logo em seguida, a cidade passaria por uma grande reforma urbana e cultural. Foram criados cargos públicos, o que possibilitou a formação de uma nova classe social, a classe média. Com a corte portuguesa vieram também alguns gêneros e hábitos mu- sicais, instrumentos como o piano e danças européias como minueto, quadrilha e a valsa, além de gêneros musicais como a polca da Boêmia, o shottischs escocês, a valsa austríaca, a mazurca polonesa e o tango espanhol, que, juntos ao lundu, de origem africana, e a modinha, já sedimentado à nossa cultura naquela altura, foram sendo abrasileirados na forma de tocar. Esses gêneros musicais eram executados por músicos de formação erudita vindos com corte, porém, os músicos locais, a maioria sem formação acadêmica, foram adaptando a forma de tocar tais gêneros. Esse recurso para executar a música importada passou a ser conhecido como “choro”. D. João VI tinha na música uma de suas principais paixões, tanto que em sua corte, de 15.000 súditos, que chegou em 36 navios, vieram vários artistas atraídos pela efervescência que se tornaria o Rio de Janeiro. Além dos que vieram com a corte, também chegaram vários outros artistas da Europa que introduziram no país o gosto pela ópera e pelo balé. No campo da música sacra, o então regente D. João revelou o Padre José Maurício Nunes Garcia (1767/1830), mulato, que ficou responsá- vel pela direção dos músicos da Capela Real como Mestre de Capela, organista e professor. Em 12 de outubro de 1813 foi inaugurado o Real Teatro de São João, em comemoração ao aniversário de D. Pedro. Na ocasião da inauguração, ainda que o teatro estivesse inacabado, foi apresentada a peça teatral “O juramento dos Nunes”, drama lírico de Gastão Fausto da Câmara 14 - Alguns aspectos da MPB Coutinho, musicado por Bernardo José de Souza Queirós. O teatro seria o templo da ópera e do balé da corte carioca até ser destruído por um incêndio em 25 de março de 1824 e após a reconstrução mudou de nome para Imperial Teatro de São Pedro de Alcântara.
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