Afro-Ásia ISSN: 0002-0591
[email protected] Universidade Federal da Bahia Brasil Pereira Cunha, Maria Clementina "NÃO ME PONHA NO XADREZ COM ESSE MALANDRÃO". CONFLITOS E IDENTIDADES ENTRE SAMBISTAS NO RIO DE JANEIRO DO INÍCIO DO SÉCULO XX Afro-Ásia, núm. 38, 2008, pp. 179-210 Universidade Federal da Bahia Bahía, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=77015013004 Como citar este artigo Número completo Sistema de Informação Científica Mais artigos Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Home da revista no Redalyc Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto “NÃO ME PONHA NO XADREZ COM ESSE MALANDRÃO”. CONFLITOS E IDENTIDADES ENTRE SAMBISTAS NO RIO DE JANEIRO DO INÍCIO DO SÉCULO XX* ** Maria Clementina Pereira Cunha Não moro em casa de cômodo, Não é por ter medo não. Na cozinha muita gente Sempre dá em alteração. om estes versos, o estivador João Machado Guedes, mais co- nhecido como João da Bahiana, da primeira geração dos des- C cendentes de emigrados da terra do Senhor do Bonfim para o Rio de Janeiro, introduziu um samba antológico e bastante conhecido ainda hoje. Entre outras qualidades, o velho samba nos dá acesso a debates que se arrastam por muito tempo sobre a música brasileira e seus agentes e, por isto, vale a pena prestar atenção em seus enunciados e na sua sonoridade. Anunciado o tema na introdução (a casa de cômo- dos e a convivência entre seus habitantes), ouvimos um refrão tradicio- nal de samba de roda, que remete ao século XIX e se relaciona à expe- riência de escravos domésticos que enfrentam a proibição da “sinhá” sobre “batucar na cozinha”.1 A este refrão seguem-se passagens típicas do partido-alto, em que uma estrofe sobre o ciúme de homens brancos e mulatos em relação a suas mulheres é sucedida pela fórmula tradicio- * Uma versão preliminar deste artigo foi apresentada ao IX Congresso da Brazilian Studies Association, realizado na Tulane University, New Orleans, em março de 2008.