Das Rodas De Samba Às Redes Do Samba Mediações E Parcerias Que Promoveram O Gênero Musical À Sociedade De Consumo

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Das Rodas De Samba Às Redes Do Samba Mediações E Parcerias Que Promoveram O Gênero Musical À Sociedade De Consumo 1 Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro UNIRIO Programa de Pós-Graduação em Memória Social LENA BENZECRY Das Rodas de Samba às Redes do Samba Mediações e parcerias que promoveram o gênero musical à sociedade de consumo Rio de Janeiro 2008 2 LENA BENZECRY Das Rodas de Samba às Redes do Samba Mediações e parcerias que promoveram o gênero musical à sociedade de consumo Dissertação apresentada como requisito final para obtenção de grau de Mestre em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro Orientadora: Profa. Dra. Lucia Maria Alves Ferreira Co-orientadora: Profa. Dra. Diana de Souza Pinto Rio de Janeiro 2008 3 LENA BENZECRY Das Rodas de Samba às Redes do Samba Mediações e parcerias que promoveram o gênero musical à sociedade de consumo Dissertação apresentada como requisito final para obtenção de grau de Mestre em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro Aprovada em 4 de abril de 2008 Banca Examinadora: ____________________________________ Profa. Dra. Lucia Maria Alves Ferreira – Orientadora ____________________________________ Profa. Dra. Diana de Souza Pinto – Co-orientatora _____________________________________ Profa. Dra. Elizabeth Travassos Lins – UNIRIO ______________________________________ Prof. Dr. Fred Góes – UFRJ Rio de Janeiro 2008 4 À minha família, porque nosso lema é “um por todos e todos por um”. 5 AGRADECIMENTOS Embora o processo dissertativo seja bastante solitário, ele não tem nada de individual. Este trabalho contou com o apoio, a crença e os “palpites felizes” de: meus pais, José e Esther Benzecry; minha irmã Rachel; meus tios Jô e Ruth Dweck que, em conjunto com minha prima Estherzinha, comandaram a torcida organizada da família; minha orientadora, Lucia Maria Alves Ferreira, que teve a iluminação de convidar Diana Pinto a cair no samba conosco. Ambas, desde o início, respeitaram minhas escolhas e contornaram com muita delicadeza meus ímpetos passionais, decorrentes da adoração que tenho pelo tema pesquisado; os professores das bancas de qualificação e defesa, Elizabeth Travassos e Fred Góes, que tiveram sensibilidade para me conhecer desde a leitura do texto de qualificação; meus queridos e ilustres entrevistados, Sérgio Cabral, Carlos Didier, Maria Thereza Mello Soares e Luís Antônio Giron, com quem pude dividir e multiplicar minha paixão pelos universos sambístico e biográfico; João Carino, que me fez acreditar não ser tão difícil me aproximar deles; os alunos da turma de 2006, com quem partilhei momentos pra lá de memoráveis que muito me inspiraram, em especial, as amigas verdadeiras que fiz aqui: Cintia, Marilane, Inês e Cristie; minha querida amiga Andrea Moraes, professora e antropóloga, ouvinte paciente de muitas dúvidas; Claudia Braga, Alberto Cadena e Simone Mello, amigos fiéis e entusiastas dos meus sonhos; Manu e Bia, minhas afilhadas de consagração e de consideração, que alegraram raros momentos de folga; Flávio Valente, amigo boêmio e compositor intuitivo, que me causou algumas perturbações intelectuais e ainda me emprestou o livro sagrado, Noel Rosa, uma biografia; Claudinho Dias, caprichoso nas remasterizações do cd em anexo; e, especialmente, ao meu companheiro Renato Girão, que conheci numa roda de samba dias antes de iniciar o mestrado. Desde então, ele se mostrou o parceiro ideal para estar ao meu lado nessa empreitada, incrementando, dia após dia, meus acervos literário, musical e, acima de tudo, afetivo. Além de todas as pessoas aqui mencionadas, fazem parte deste projeto amigos da vida inteira, de samba, de chopp e de carnaval. Com uma palavra, um olhar, um sorriso, uma crítica, um questionamento, uma canção ou uma vibração, todos habitaram meus pensamentos por algum instante e compareceram nas entrelinhas. 6 RESUMO Este trabalho enfoca a importância das parcerias entre músicos de universos socioculturais distintos no processo de passagem do samba da marginalidade à sociedade de consumo, decorrido entre as décadas de 1920 e 1930. A fim de representar o intercâmbio sociocultural vivdo pelos os músicos do período, um grupo de personagens significativos do mundo do samba foi selecionado: Sinhô, Mario Reis, Francisco Alves, Ismael Silva e Noel Rosa. As análises foram baseadas num corpus de narrativas biográficas que permitiu: a) recompor a rede de sociabilidade vinculada aos personagens supracitados; b) identificar os processos de mediação que precederam as parcerias vividas; c) apontar aspectos relevantes da história do samba derivados das trocas socioculturais ocorridas no período; e d) verificar a relevância do legado desses personagens para a história e as memórias do samba. Além disso, ao longo desta pesquisa, reflexões acerca do uso de narrativas biográficas enquanto objeto de investigação acadêmica confirmaram a afinidade entre a história da música popular brasileira e o gênero biográfico. Palavras-chave: samba, parcerias, mediação cultural, narrativa biográfica, memória. 7 ABSTRACT This work focuses on the importance of the co-authorships approaching musicians from distinct socio-cultural universes in the process of passage that has led samba from marginality up to the consumption society. In order to represent the socio-cultural interchange among the musicians, which occurred along this period, a group of meaningful characters related to the samba world was selected: Sinhô, Mario Reis, Francisco Alves, Ismael Silva and Noel Rosa. Analyses were based upon a corpus made up by biographical narratives that has enabled: a) to reestablish the web of sociability connecting the above-mentioned characters; b) to identify processes of mediation that preceded the experienced partnerships; c) to point out relevant aspects of samba history derived from the socio-cultural exchanges that occurred in the period; and d) to check the relevance of the legacy these characters have left for history and memories of samba. Moreover, along with this research, reflections on the use of biographical narratives as an object of academic investigation have confirmed the links between Brazilian popular music history and biographical genre. Key-words: samba, co-authorships, cultural mediation, biographical narrative, memory. 8 LISTA DE FIGURAS Título página Representação gráfica do método de pesquisa adotado por Fig. 1 35 MÁXIMO e DIDIER em Noel Rosa, uma biografia (1990). Contrato de Cessão de Direitos de Reprodução entre Francisco Fig. 2 76 Alves e a Casa Edison Contrato de Cessão de Direitos de Reprodução entre Francisco Fig. 3 77 Alves, Ismael Silva, Nilton Bastos e a Casa Edison Contrato de Cessão de Direitos de Reprodução entre Mario Reis e Fig. 4 82 a Casa Edison Fig. 5 Capa da partitura do samba Se você jurar 83 Fig. 6 Rede de Sociabilidade da Pesquisa: de Sinhô a Noel Rosa 109 9 LISTA DE QUADROS Título página Quadro 1 Parcial das Negociações Musicais lideradas por Francisco Alves 90 Quadro 2 Produção musical de Noel Rosa, Ismael Silva e adendos 96 Quadro 3 Parceiros de Noel Rosa 97 10 SUMÁRIO página Introdução A defesa do enredo: parcerias que deram samba 11 Capítulo 1 19 Por que usar narrativas biográficas em pesquisa acadêmica? 1.1 Sociabilidade, representatividade e mediações em narrativas biográficas 21 1.2 Histórias e memórias do samba no gênero biográfico 25 1.3 Seria o biógrafo um mediador? 31 1.4 Escrita biográfica e perenidade 36 1.5 Samba de várias notas (biográficas) 38 Capítulo 2 Com Sinhô e Mario Reis o samba passeia da “Pequena África” até os salões 40 da sociedade carioca 2.1 O samba na “Era Marginal” 40 2.2 A representatividade de Sinhô 44 2.2.1 Vaidade e outras idiossincrasias 48 2.2.2 Intercâmbio e mediação cultural aproximam Sinhô e Mario Reis 50 2.3 O legado da parceria entre Sinhô e Mario Reis 54 2.4 Muito além do monumento 61 Capítulo 3 63 Das parcerias à rede. Chico Alves fazendo o elo 3.1 Francisco Alves entre as rodas e as redes do samba 67 3.2 Francisco Alves e Ismael Silva, uma ligação sócio-musical 74 3.2.1 Enfrentando o mercado 78 3.3 Ismael, dos meios às mediações 85 Capítulo 4 91 Noel biografado: boemia, deboche e parcerias, suas marcas registradas 4.1 Quando o apito da fábrica de sambas... 97 4.2 Samba e showbiz 99 4.2.1 Café Nice: um meio repleto de mediações 103 4.2.2 Cai o pano 104 4.2.3 O show tem que continuar 105 5 Considerações finais 108 6 Referências Bibliográficas 114 ANEXO I – Transcrição das entrevistas realizadas 119 ANEXO II – Canções Selecionadas - um panorama de memórias e parcerias 141 ANEXO III – Relação das reportagens pesquisadas (por ordem alfabética) 147 11 A defesa do enredo: parcerias que deram samba Se hoje o samba permeia a memória coletiva brasileira como um dos principais símbolos de nossa identidade cultural, o que se pode dizer é que não foi sempre assim. O gênero musical conseguiu atingir tal status após percorrer uma longa trajetória de repressão e discriminação, mas, como bem compôs Nelson Sargento, o samba agonizou mas não morreu. Atualmente, a despeito da discussão acerca de sua origem, seja ela baiana ou carioca, a bibliografia especializada nos permite afirmar, sem qualquer “bairrismo”, que este samba que representa o Brasil é o samba carioca (VIANNA, 1995). Originado no início do séc. XX, na região que ficou conhecida como “A Pequena África do Rio de Janeiro”1, a partir das influências musicais trazidas pelas imigrações européia e africana2, o samba carioca era repudiado pelas chamadas classes dominantes, que se esmeravam em copiar os modelos culturais puramente europeus. Uma música de negros naquele período pós-abolição não tinha grandes chances de sobrevivência, devido ao preconceito racial encravado na sociedade (CABRAL, 1996). Contudo, a cidade do Rio de Janeiro era palco de mudanças sociais, culturais e políticas desde que deixara de ser capital do Reino de Portugal para se tornar a capital da República do Brasil, em 1822. Diante da nova conjuntura, a sociedade brasileira já não se dividia apenas entre a nobreza que se divertia e os escravos que trabalhavam.
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