O CINEMA POLICIAL BRASILEIRO 2 3 Ministério Da Cultura Apresenta Banco Do Brasil Apresenta E Patrocina
Total Page:16
File Type:pdf, Size:1020Kb
1 O CINEMA POLICIAL BRASILEIRO 2 3 Ministério da Cultura apresenta Banco do Brasil apresenta e patrocina 4 5 Produção O CINEMA Dilúvio Produções Curadoria POLICIAL Pedro Henrique Ferreira BRASILEIRO O Ministério da Cultura e o Banco do Brasil apresentam a mostra No rastro do crime: o cinema policial brasileiro, retrospectiva que traça um panorama sobre o gênero do cinema policial na história do cinema nacional. Gênero de maior repercussão e sintonia com a realidade brasileira, o filme policial é um traço característica da nossa tradição cinematográfica e alguns dos nossos principais 6 realizadores flertaram com ele. 7 A programação conta com uma seleção de 25 longas-metragens que procuram esboçar a trajetória do gênero, da década de 1940 aos anos 2000, trazendo desde obras canônicas como O assalto ao trem pagador (1962), Lúcio Flávio, Passageiro da Agonia (1977), República dos assassinos (1979) ou Tropa de Elite (2007), até filmes menos conhecidos como Perpétuo contra o esquadrão da morte (1973), Massacre no supermercado (1968) ou A próxima vítima (1983). Com a realização deste projeto, o Banco do Brasil reafirma o seu compromisso com a divulgação de elementos que compõem a cultura e a arte cinematográfica brasileira, ao mesmo tempo em que oferece ao público a oportunidade de conhecer mais de perto iniciativas inovadoras que apresentam os gêneros mais originais da história do nosso cinema. Centro Cultural Banco do Brasil SUMÁRIO 10 APRESENTAÇÃO 75 CRÍTICAS DA ÉPOCA GARRANCHOS SOBRE UM GÊNERO TUPINIQUIM 76 TOCAIA NO ASFALTO 95 O LIXO OCIDENTAL Pedro Henrique Ferreira David E. Neves A Próxima Vítima José Carlos Avellar APONTAMENTOS PARA 77 UMA COISA ESCABROSA 16 UMA HISTÓRIA DO República dos Assassinos 99 O PRAZER DO CINEMA THRILLER TROPICAL José Carlos Avellar O Marginal Sérgio Augusto Ely Azeredo UM FILME DE FORÇA 80 SOBRE AS RAÍZES DA CONTRATO DE SUBÚRBIOS REAIS, VIOLÊNCIA POLICIAL 102 26 ANÔNIMOS E PERIGOSOS: TRABALHO República dos Assassinos Lúcio Flávio o O RIO DE JANEIRO EM Ney Gastal passageiro da agonia TRÊS FILMES POLICIAIS DA DÉCADA DE 1950 José Carlos Avellar O ESQUADRÃO DA MORTE 83 CONTRA O CINEMA NOVO Rafael de Luna Freire A NOVA MORTE DE Perpétuo contra o 105 esquadrão da morte LÚCIO FLÁVIO BREVE MAPEAMENTO DAS Eu Matei Lúcio Flávio 34 RELAÇÕES ENTRE VIOLÊNCIA Armindo Blanco Ely Azeredo 8 E CULTURA NO BRASIL 9 CONTEMPORÂNEO O ASSALTO AO SANGUE E 86 TREM PAGADOR Karl Erik Schollhammer 107 LANTEJOULAS Pedro Lima A Rainha Diaba INTRODUÇÃO AO CINEMA Salvyiuio Cavalcanti 52 POLICIAL BRASILEIRO 87 PARAÍBA de Paiva Andrea Ormond Paraíba, vida e morte de um bandido RADIOGRAFIA DE Ely Azeredo 109 VIOLÊNCIA URBANA UM SUCESSO 54 NA DITADURA MILITAR: CLÁUDIA Barra Pesada REGISTROS E HISTORICIDADE 89 O Caso Cláudia Miguel Pereira NOS FILMES POLICIAIS José Carlos Avellar Patrícia Machado 114 O VOTO A ROTINA DO VINCULADO A MÁSCARA VAZIA: 92 SUCESSO O Sequestro 58 SONHOS COSMOPOLITAS DE Missão: Matar! José Carlos Avellar UMA INDÚSTRIA MARGINAL Alberto Shatovsky Filipe Furtado 93 VIOLÊNCIA E 118 FICHAS TÉCNICAS A LUZ DO CRIME À LUZ DO CRIME ELEIÇÃO EM FILME DE JOÃO BATISTA DE 63 Francis Vogner dos Reis ANDRADE. 128 CRÉDITOS A Próxima Vítima TRÊS FILMES POLICIAIS Susana Schild 69 Luis Alberto Rocha Melo Sérgio Augusto escreveu no Correio da Manhã que “o mal do novo cinema brasileiro, preocupa- ~ do na análise crítica ao ambiente burguês, é sua tendência perniciosa à caricatura, ao grotesco, APRESENTACAO à falsidade”. Santos Pereira arguiu que o erro é “o roteiro, a enfabulação, o desenvolvimento dramático, a validade humana, a credibilidade”, dizendo que os personagens do filme “são GARRANCHOS SOBRE menos transfigurações ou recriações das criaturas humanas com as quais cruzamos todos os UM GÊNERO TUPINIQUIM dias nas ruas do que caricaturas de estereótipos pintados pela imaginação dos contadores de Pedro Henrique Ferreira anedotas ou ficcionistas”. Reclama-se tanto da postura política do filme quanto da sua falta de autenticidade. Estas duas linhas de argumentação serviram para diversas das críticas tecidas a vários Quando Tocaia no asfalto foi lançado, em 1962, a recepção critica foi em boa parte de rejei- longas-metragens elencados aqui, nesta retrospectiva. Em 1979, mais de quinze anos depois, ção, tanto do lado dos cinemanovistas, quanto por parte dos que se opunham ao movimento. O caso Cláudia, por exemplo, era atacado por Nelson Motta por possuir “personagens sem No canônico Revisão crítica do cinema brasileiro, publicado pela primeira vez em 1963, Glauber estrutura, implausíveis, improváveis e despidos de qualquer solidez, como um traficante tipo Rocha afirmou que o filme “ressentia-se de profundidade ideológica”, assim comoAssalto o ao comercial-de-cigarros e uma jovem incompreendida-e-sonhadora”. Em 1983, A próxima vítima trem pagador, de Roberto Farias, realizado naquele mesmo ano. Cyro Siqueira, no Jornal da fora julgado por Geraldo Mayrink como um filme “movimentado, mas inconvincente”, ao qual Tarde, era ainda mais categórico: “Nem o mais condescendente esforço de compreensão da faltava “força para escapar do confronto constrangedor com a realidade”. Eu matei Lúcio Flávio realidade social da Bahia seria capaz de explicar a ruindade deste filme”, e conclui dizendo que e Ódio seriam acusados por retratar, sem julgamentos, personagens de crenças violentas, um era o pior filme do cinema baiano e do cinema novo. Na via oposta da disputa ideológica, San- “pistoleiro desalmado” de natureza fascista. tos Pereira utilizou-se dele para traçar uma crítica direta ao movimento, afirmando que “sua O curioso é que este conjunto de filmes foi poucas vezes visto como produto de gênero, cuja deficiência vai se tornando comum à maioria de seus companheiros de ‘escola baiana’, ou do operação cinematográfica dissesse menos respeito a filtros da realidade e mais a estereótipos chamado ‘cinema novo’: aquela da falta de maturidade intelectual, de domínio da construção e caricaturas – a redução do traço individual ao tipo coletivo. E mesmo quando o foram, as ba- especificamente narrativa, de posse dos segredos do arcabouço dramático de toda obra cine- lizas que determinaram a valoração do gênero seriam mais baseada nos clássicos policiais ou 10 matográfica”. Na mesma linha, um outro autor destila preconceito ao dizer que “a crítica social gangsters norte-americanos – a narrativa impecavelmente organizada em três atos, encadeada 11 e política que insinua (o filme) é do nível de orador de comício suburbano”. E conclui assertiva- para uma finalidade (o que nem no cinema clássico americano era uma verdade) – do no es- mente com o pedido para que “não façam ‘cinema novo’, rapazes, façam cinema bom”. A exce- forço por se delinear um típico gênero tupiniquim. O que move esta retrospectiva, em vários ção talvez tenha sido David Neves: “Tocaia no asfalto resulta num filme muito interessante, a sentidos, é o esforço por lançar um olhar à produção do gênero policial brasileiro – pegando que se assiste sem a necessidade de recorrer, para admirá-lo, a uma dose extra de patriotismo exemplares que vão do final da década de 1940 até a década de 2000 –, e por deitar frente ao condescendente”. espectador o conjunto de suas obras. Assim, abrem-se as possibilidades de se extrair conclu- Esta quase unânime rejeição é algo significativa. Os argumentos gerais para a condenação sões sobre as suas propriedades, sobre como eles dialogam entre si e constituem um gênero ou do filme giram em torno de duas noções básicas. Em primeiro lugar, que o filme não consegue uma classe de filmes com aspectos próprios, cuja evolução, naturalmente, transformou estes organizar um discurso ideológico mais acabado ou evocar a luta de classes. Neste sentido, o aspectos ao longo do tempo, e de acordo com o cenário social adequado. Vendo-os em conjun- golpe de Glauber é retilíneo: “em Tocaia no asfalto, o personagem consciente é um típico de- to, neste esforço aproximativo, faz-se possível perceber qualidades e recorrências, as ações e putado reformista dos partidos de direita do Brasil”, descreveu o autor, e prossegue: “usando personagens comuns e tocantes, de tal forma que este novo genérico a surgir possa confrontar o termo ‘acabar com a chaga da corrupção política’, Schindler e Pires reduziram o problema as habituais expectativas. Nesse sentido, tanto a narrativa frouxa, errática ou divagante, quan- brasileiro (particularizando o Nordeste do latifúndio) a uma questão de ‘corrupção política’, to a falta de autenticidade, encenação irrealista e rocambolesca, e mesmo a dubiedade ou o quando, na verdade, é um problema de classes contra classes”. Cyro Siqueira complementa niilismo ideológico, poderiam ser vistos mais como características de estilo do que como erros que Roberto Pires foi “um diretor sem imaginação, que não foi nem mesmo capaz de explorar o grotescos no modo de se fazer. que existe de mais socialmente agressivo no seu Estado e em sua capital – o espantoso abismo Não obstante, estas críticas recorrentes a muitos dos filmes aqui presentes parecem salien- entre a massa da população de uma cidade sem classe média e a ostentatória riqueza de um tar alguns desses traços que saltam aos olhos de imediato, se os pensarmos por oposição. Des- grupo de famílias”. de os primórdios, houve uma aproximação entre o policial e o jornalismo criminal, reproduzin- O segundo argumento que impera é estético, girando em torno de críticas vagas à organiza- do ou antecipando os fait divers comuns às narrativas literárias e cinematográficas francesas. ção da narrativa, ao uso de estereótipos e clichês e ao tratamento pouco fidedigno à realidade. No que é frequentemente mencionado como primeiro exemplar, Os estranguladores (1908), Para Cláudio Melo e Souza, no Jornal do Brasil, “esse pedido de socorro à caricatura desfigura sucesso de público da Photo-cinematographia brasileira, produtora de Antônio Leal e Giuseppe o drama, e dilui a seriedade com que se pretende fazer uma denúncia”. Em tônica semelhante, Labanca, ou na série de filmes sobre “o crime da mala”, o cinema policial brasileiro já tomava o sensacionalismo jornalístico como fonte de inspiração avant la lettre.