Gazeta Do Povo
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Sexta-feira, 25 de abril de 2014 Gazeta do Povo Editorial / O acerto de Rosa Weber Ao determinar que a CPI da Petrobras se concentre nas denúncias sobre a estatal, a ministra respeita a Constituição e a jurisprudência sobre o tema. “Ainda há juízes em Berlim!”, proclamou – diz a lenda – o agricultor alemão que, vendo-se ameaçado pelos agentes do rei para que doasse ao monarca parte de sua propriedade, depositou sua esperança na Justiça, que seria mais forte para garantir seus direitos e se sobrepor à tirania. Ainda há juízes também em Brasília: a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber enfrentou as pressões do Planalto e sentenciou: se a minoria do Senado conseguiu votos suficientes para instaurar uma CPI exclusiva para investigar desmandos na Petrobras, não pode a maioria enxertá-la de adendos que desfigurem o objeto principal. A derrota dos governistas já era tida como certa – tão certa que, mesmo antes de se conhecer a liminar de Rosa Weber, já se davam os primeiros passos para não obedecê-la, ou melhor, para não dar-lhe sentido prático. Com a ajuda do sempre solícito senador Renan Calheiros, presidente do Senado, a situação agora manobra para retardar ao máximo a instalação da CPI. Uma das manobras previstas, que pode resultar em debates intermináveis e inclusivos durante semanas, é aquela em que a base aliada não indica membros para compor a comissão; ou, quando indicá-los, passar para outra fase do processo deliberadamente procrastinatório de discutir a que partidos e a que nomes caberão a presidência e a relatoria. Queria o governo que prevalecesse a tática de, na mesma CPI da Petrobras, se investigar também denúncias que pesam sobre o cartel de trens do metrô de São Paulo e do Porto de Suape (Pernambuco), com dois objetivos claramente diversionistas: tirar o foco da Petrobras e esparramar suspeitas contra os adversários que concorrerão com a presidente Dilma Rousseff na eleição de outubro próximo. De um lado, seriam atingidos os tucanos que apoiam o pré-candidato Aécio Neves; de outro, o ex-governador pernambucano Eduardo Campos, do PSB. Ao fim e ao cabo, sendo tantos os assuntos e sendo tão curto o tempo de duração de uma CPI (120 dias), nada seria de fato investigado. Bem analisada, a decisão de Rosa Weber apenas explicita o preceito constitucional de que uma CPI deve circunscrever suas investigações a um só e determinado tema. O que, evidentemente, não impede que outras CPIs se instaurem para apurar os supostos malfeitos, indicados pelo PT e seus colaboradores, que teriam ocorrido no metrô paulistano e no terminal portuário de Pernambuco. Mas a inclusão desses assuntos na mesma CPI da Petrobras mais serviria à confusão do que à explicação – explicação essa que é justamente o que mais interessa à opinião pública brasileira, que não consegue entender as razões da escandalosa compra da refinaria de Pasadena, nem o que levou a Petrobras a perder 60% de seu valor de mercado em apenas dez anos. A estratégia diversionista intentada pelo governo poderá, no entanto, ser-lhe mais fatal do que se, desde logo, tivesse optado pela transparência e pela obediência aos princípios constitucionais e à jurisprudência que regem o processo de criação de CPIs. Se a intenção era a de sonegar à sociedade o conhecimento de fatos que possam embaraçar as ambições eleitorais do PT e seus aliados, a continuidade indefinida das discussões pode lhes causar prejuízos ainda maiores – o velho tiro que sai pela culatra. Não importam, todavia, os ganhos e perdas a serem contabilizados pelas facções políticas, de um lado ou outro. O que mais importa ao Brasil – e a CPI exclusiva pode contribuir muito para isso – é resgatar o mínimo de moralidade e responsabilidade no trato da coisa pública. Artigo / Avestruz suicida Cristovam Buarque Vem desde os gregos a ideia de que o homem é um animal político. Os outros animais se movem por instinto; os homens, pela conversa. Cada vez que três pessoas tentam decidir algo fazem política. Mas, olhando para os brasileiros de hoje, pode-se dizer que o político é um animal parecido ao avestruz. A exemplo desta ave, há uma preferência por esconder a cabeça para não ver os problemas ao redor. Neste momento, o animal político brasileiro debate sobre fazer ou não uma CPI para apurar os desmandos na Petrobras. Os que não querem a CPI escondem as cabeças para não descobrir o que está acontecendo; os que desejam descobrir o que está ocorrendo na Petrobras não percebem o problema maior da crise energética que enfrentamos. Diante da grave crise energética que se abaterá sobre o mundo inteiro nas próximas décadas, os políticos se comportam como avestruz. Não despertam para os limites da disponibilidade de petróleo que se esgotará, esgotando também a Petrobras, qualquer que seja a competência e honestidade de sua direção depois de uma CPI séria. Nem despertam para o enorme potencial que temos para gerar energia a partir de novas fontes, como a energia solar, e ainda a relegada e criativa experiência do etanol. O animal político brasileiro se comporta como um avestruz para não ver a gravidade da violência espalhada, profunda e destruidora sobre todo o tecido social brasileiro. Não percebe que vivemos um tempo de guerra, com mais de 50 mil mortos por ano, vítimas de assassinatos. Com a cabeça escondida, deixamos de ver a violência e o medo generalizado nas ruas de nossas cidades. Escondemos a cabeça para não identificar e entender as causas da guerrilha de grupos organizados por meio de celulares e de computadores para queimar ônibus, impedir o trânsito, paralisar serviços. E, tal como avestruz, decidimos enfrentar parte dessa guerra espalhada envolvendo localmente as Forças Armadas; e não ver os riscos de soldados serem mortos por traficantes dentro do território nacional ou de soldados matarem acidentalmente crianças no meio de tiroteio. Dentro do território nacional, o que em guerra se chama de efeito colateral será chamado de assassinato. Não vemos os riscos de nossas cidades degradadas, da economia baseada em produtos primários, enquanto os outros países investem em produtos de alta tecnologia. O avestruz prefere não ver o triste futuro de um país que não cuida de suas crianças, abandonando-as e jogando-as em escolas sem aulas, sem equipamentos, sem professores e sem avaliação, onde não conseguem concluir o ensino fundamental. Só um avestruz não vê o triste futuro do Brasil retratado na cara de suas escolas de hoje. Também é comportamento de avestruz não perceber a falta de credibilidade nos políticos, vistos como um tipo especial de avestruz que, além de esconder a cabeça, enfia as mãos no chão para trocar favores com recursos públicos. Continuar agindo dessa forma é o comportamento de um avestruz suicida. Cristovam Buarque, professor da UnB, é senador pelo PDT-DF. Artigo / Um partido que subjuga um país Judas Tadeu Grassi Mendes Aos poucos os brasileiros estão acordando para os males que o PT está nos fazendo, ao colocar os órgãos públicos e as estatais a seu serviço. O esquema vem sendo construído desde 2003 e o mensalão era apenas uma das facetas mais evidentes. Nada pior do que um partido colocar órgãos públicos e estatais a seu serviço, espalhando seus tentáculos para atingir benefícios econômico-financeiros e obcecado pelo poder. Vejamos apenas alguns poucos exemplos, pois este pequeno espaço não permite enumerar tudo. As estatais estão a serviço do PT, formando uma verdadeira privataria petista. A Petrobras, na gestão petista, teve o seu valor reduzido pela metade, e transformou-se na empresa com o maior endividamento no mundo; agora, saem as estarrecedoras informações de que Dilma aprovou a compra de uma refinaria sucateada nos EUA, que valia pouco mais de US$ 40 milhões, por mais de US$ 1 bilhão, numa das transações mais intrigantes já vistas. Não custa lembrar que o dinheiro que movimentou parte do esquema de pagamento de deputados do mensalão saiu do Banco do Brasil (Pizzolato, que fugiu para a Itália, foi diretor do BB). O Banco do Nordeste teve ligações com o famoso caso do “dinheiro na cueca”, cujas operações fraudulentas ultrapassaram R$ 1 bilhão. E Erenice Guerra, à época braço direito da presidente Dilma, transformou-se em influente lobista, em especial para liberar recursos do BNDES – um empresário disse que teve de pagar R$ 5 milhões em propina. Outra face da privataria petista vem dos sindicatos e organizações não governamentais. Hoje em dia as ONGs se sustentam basicamente dos milhões de reais que recebem da mesada estatal. Somente de 2003 a 2007 o governo Lula repassou R$ 12,6 bilhões para 7,7 mil ONGs. Trata-se de um caso típico de esquema de “compra” de ONGs. Somente em 2011 as centrais sindicais receberam R$ 124 milhões. A simbiose entre os sindicatos e o governo é total. Mas o mais prejudicial são as oligarquias sindicais que pressionam o governo e estão mandando nos fundos de pensão ligados a empresas estatais. E até a UNE está cooptada, pois tem recebido milhões de reais dos governos petistas. Pode-se dizer que a UNE foi estatizada e deixou de criticar o governo, como fazia no passado. Mas, além das estatais, das ONGs, da UNE e dos sindicatos, outro instrumento da privataria petista é a ocupação de órgãos do Estado como se fossem braços partidários. É a tal da privatização do Estado. As agências reguladoras viraram prêmio de consolação para petistas derrotados em eleições, sem nenhum preparo técnico. Até mesmo o STF está sob o contágio petista, ao ter como ministro um sujeito sem “notório saber jurídico”, pois já havia sido reprovado duas vezes em concursos para juiz. É por isso que Joaquim Barbosa sentenciou: “Isso é apenas o começo”.