Bulhões & Advogados Associados
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Bulhões & Advogados Associados S/S EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUÍZ FEDERAL DA 13ª VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO PARANÁ Ref.: Ação Penal nº 5036528-23.2015.4.04.7000/PR MARCELO BAHIA ODEBRECHT, com dados de qualificação nos autos, por seus advogados signatários, vem à presença de Vossa Excelência oferecer, a teor do art. 403, § 3º, CPP, ALEGAÇÕES FINAIS, em forma de memorial, nos autos da ação penal em referência, que o Ministério Público Federal contra ele move perante essa douta Vara Federal –- o que faz na forma e para os fins a seguir expostos. Destaca, desde logo, a tempestividade das presentes alegações finais: o prazo para o seu oferecimento se enceraria na data de ontem, 29/02/2016, consoante havia reconhecido Vossa Excelência no despacho consubstanciado no Evento 1.431 dos autos. Ocorre que, em razão de fato relevante superveniente, esse prazo foi prorrogado para a data de hoje, 01/03/2016, como também reconheceu e proclamou Vossa Excelência no despacho relacionado ao Evento 1.464. Patente, pois, a sua tempestividade. I – INTRODUÇÃO NECESSÁRIA: A CONDENAÇÃO DO DEFENDENTE MARCELO ODEBRECHT DESAFIARIA A REINVENÇÃO DO DIREITO PENAL Depois de uma espetaculosa investigação preliminar envolvendo as mais extraordinárias medidas restritivas de direito (v.g., sucessivas e abusivas prisões preventivas que já duram mais de 08 meses, quebra de sigilos bancário, fiscal e de dados 1 telefônicos, interceptações telefônicas e telemáticas, buscas e apreensões, indisponibilidade de bens etc) e de um processo penal absolutamente opressivo, desigual e obsequioso aos interesses da acusação, onde foram juntados milhares de documentos pelo MPF e ouvidas 97 testemunhas arroladas pela defesa e pela acusação, sendo interrogados 12 réus, entre eles corréus delatores, não se identificou uma única prova (documental ou testemunhal) do envolvimento do defendente MARCELO ODEBRECHT nos supostos crimes narrados na denúncia. Nesse contexto, as enxundiosas e levianas alegações finais do MPF repetem uma versão inteiramente superada e mistificadora dos fatos e das provas, na linha da ampla e sistemática publicidade opressiva desenvolvida pelos investigadores e procuradores em todas as etapas da investigação e do processo, acompanhada de vazamentos seletivos de informações sigilosas, envolvendo contratos da PETROBRAS com a Construtora Norberto Odebrecht, uma das várias empresas integrantes do grupo Odebrecht, da qual o defendente MARCELO ODEBRECHT foi integrante no passado, bem como envolvendo contratos de venda de nafta celebrados entre aquela empresa estatal e a Braskem S/A, de cujo Conselho Administrativo o defendente foi presidente. Em adição, o MPF, extrapolando o âmbito temático da denúncia, explora de forma desleal e distorcida fatos relacionados ao defendente com a finalidade de criar um ambiente a ele desfavorável na mídia e perante a opinião pública, na tentativa de legitimar uma futura condenação sem provas. Em assim procedendo, o Parquet deliberadamente omite que, a par de inexistir qualquer base probatória idônea incriminadora do defendente MARCELO ODEBRECHT, nenhum delator de qualquer dos quatro núcleos da Operação Lava Jato o relacionou a infrações penais objeto das investigações, sendo certo, ao revés, que os mais importantes deles o isentaram expressamente. Não há dúvida possível: após uma verdadeira devassa e exposição pública não só da vida pessoal e profissional do 2 defendente MARCELO ODEBRECHT, mas também de sua vida familiar, envolvendo divulgação criminosa (e até hoje impune!) de fatos relacionados à sua esposa e às suas filhas menores, a Força Tarefa da Operação Lava Jato não logrou encontrar qualquer ligação do defendente com as supostas infrações penais cogitadas na denúncia. Daí porque, por absoluta falta de base probatória para tanto, procura agora encher com nada o oco da acusação, fazendo uma utilização de todo equivocada da teoria do domínio do fato, quando não se baseia em inaceitáveis conjecturas e presunções para tentar sustentar uma denúncia absurda e insubsistente. A rigor, o que se tem no caso concreto, mais do que completa ausência de base empírica incriminadora, é a prova de que o defendente não cometeu nem contribuiu para o cometimento dos crimes imputados. Apesar dos sucessivos e graves episódios de cerceamento da defesa, que impediram a produção de provas capazes por si sós de alterar os rumos da investigação e de evidenciar a linha mistificadora desde o início adotada pelos investigadores e pelo MPF, o defendente MARCELO ODEBRECHT vem reafirmar a sua inocência, mantendo-se confiante em que a Justiça lhe garanta um julgamento justo e imparcial, absolvendo-o das injustas imputações que lhe foram feitas pelo MPF. A propósito, em suas alegações finais que seguem em forma de memorial, demonstrará quão injustas e arbitrárias são essas acusações, a envolverem inclusive condutas atípicas como o irrogado crime de organização criminosa, com graves e irreversíveis prejuízos para si, para sua família e para o grupo empresarial de cuja holding o defendente se afastou. Antes, porém, de deduzir de forma circunstanciada e analítica as suas alegações finais, abrangendo diversas questões jurídicas relevantes para o deslinde da ação penal, não apenas no plano formal, mas substancial, o defendente pede vênia para, desde logo, registrar a absoluta insubsistênica das acusações veiculadas na inepta e improcedente denúncia cruelmente articulada pelo Ministério Público Federal sem razão plausível para tanto. Na insubsistente denúncia datada de 24/07/2015, o Ministério Público Federal atribuiu ao ora defendente MARCELO 3 ODEBRECHT, juntamente com outros 12 (doze) codenunciados, a suposta prática dos crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa, num contexto em que à época dos fatos objetos da investigação nem sequer existia esta última figura típica, que só veio a ser introduzida no direito penal material brasileiro através da Lei nº. 12.850/13. Certamente a sua introdução na investigação se deu por duas ordens de injustificáveis razões: a uma, atrair para o caso medidas extraordinárias de investigação só compatíveis com o combate a organizações criminosas, e, a duas, emprestar caráter infamante e estigmatizante às imputações dirigidas aos investigados. A imputação do crime de corrupção ativa, com inegável repercussão sobre a imputação de lavagem de capitais, se deu contrariando a própria versão oferecida pelos delatores que passaram a servir de esteio para a articulação de todo o quadro acusatório concebido e desenvolvido de forma abusiva pelo MPF: independentemente da discussão relevante sobre a absoluta falta de base empírica idônea para vincular-se o defendente MARCELO ODEBRECHT aos supostos crimes imputados na denúncia, o exame atento e isento dos depoimentos dos principais delatores deixa evidente que, se de crime se pudesse cuidar na relação entre as empresas cadastradas junto à PETROBRAS para a realização de obras e aquela empresa estatal, ter-se-ia configurado o delito de concussão definido no art. 316 do Código Penal1. Nesse sentido, convergem para essa conclusão o depoimento do delator RICARDO PESSOA (Evento 654), apontado como suposto chefe do cartel das empreiteiras (núcleo empresarial), e o Termo de Colaboração nº 01 do delator ALBERTO YOUSSEF (PET 5245-STF, Relator Min. TEORI ZAVASCKI, fls. 293/298 – vide anexo), apontado como o chefe do núcleo financeiro do esquema, cuja síntese feita pelo DPF não traduz com fidelidade a completa descrição das condutas descritas por ALBERTO YOUSSEF como configuradoras do crime de concussão -- e não de corrupção ativa: ambos os delatores 1 “Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida. Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa”. 4 ressaltaram, de forma uníssona, que as empresas cadastradas junto à PETROBRAS eram as únicas que reuniam condições de realizar as obras contratadas por aquela empresa estatal. Mas, nada obstante isso, eram obrigadas a pagar comissões sobre o valor dos contratos, sob pena de sofrerem retaliações2, sendo certo, como revelaram também unissonamente diversas testemunhas que compõem o corpo técnico da PETROBRAS, que os valores dos contratos então celebrados não foram superfaturados. Recebida a exordial acusatória em 28/07/2015, Vossa Excelência ordenou a citação/intimação do defendente MARCELO ODEBRECHT para os termos da ação penal e para o oferecimento de resposta à acusação. Com efeito, mesmo sem o acesso à integralidade dos elementos probatórios referidos pelo MPF na denúncia -– já que parte desses elementos não constava dos autos e era mantido sob sigilo -–, o defendente ofereceu tempestiva resposta à acusação, em que demonstrou sua absoluta insubsistência formal e material. Na mesma oportunidade em que apresentou a resposta à acusação, opôs exceções de incompetência do Juízo e de suspeição de Vossa Excelência. 2 Em seu depoimento prestado no evento 654, RICARDO PESSOA, delator, afirma peremptoriamente que constituía regra do jogo a empresa se sujeitar às exigências de altos funcionários da Petrobras envolvidos nas supostas ilicitudes investigadas na Operação Lava Jato, sob pena de retaliação. Afinal, afirma que “tinha que pagar porque senão não teria continuidade dentro da empresa da maneira mais normal possível”, ressaltando que não se tinha “opção”, pois essa “era a regra do jogo como eu já ouvi alguém aqui falar”. No mesmo sentido, e ainda com maior ênfase, ALBERTO YOUSSEF, em seu Termo de Colaboração nº. 01,