Florística Das Praias Da Ilha De São Luís, Estado Do Maranhão (Brasil): Diversidade De Espécies E Suas Ocorrências No Litoral Brasileiro

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Florística Das Praias Da Ilha De São Luís, Estado Do Maranhão (Brasil): Diversidade De Espécies E Suas Ocorrências No Litoral Brasileiro FLORÍSTICA DAS PRAIAS DA ILHA DE SÃO LUÍS, ESTADO DO MARANHÃO (BRASIL): DIVERSIDADE DE ESPÉCIES E SUAS OCORRÊNCIAS NO LITORAL BRASILEIRO. Maria Cristina C. CABRAL FREIRE, Reinaldo MONTEIRO 1 RESUMO — A Ilha de São Luís, situada ao norte do Estado do Maranhão, constitui-se numa região de transição entre duas floras distintas: flora amazônica e flora nordestina. Considerando esta peculiar situação fitogeográfica, o objetivo deste trabalho foi realizar o levantamento florístico nas prais arenosas da Ilha de São Luis e compaará-lo com os de outras áreas amostradas no litoral brasileiro. Foram totalizadas 260 espécies, compreendidas em 76 famílias, sendo Fabaceae com o maior número de espécies (24). A comparação floristica constatou que o estado da Bahia apresentou o maior número de espécies em comum com São Luís (63) e, em seguida, o estado do Pará (59). Dentre as espécies amostradas em São Luís, 125 foram exclusivas da região. Palavras-chave: florística, praia, diversidade. Floristics of the Beaches of São Luis Island, State of Maranhão (Brazil): Species Diversity and Occurrence in the Brazilian Coast. ABSTRACT — São Luís Island, located in the north of the State of Maranhão is itself a tran­ sitional region between the Amazonian and the northeastern floras. With such phytogeographi- cal background, the aim of this paper was to realize a floristic survey on the sandy beaches of the São Luís Island and to compare this 'survey with other areas sampled along the Brazilian coast. A total of 260 species was found, distributed in 76 families, and among these the Fabaceae presenting the highest number of species (24). The floristic comparison showed that the State of Bahia has the highest number of species in common with São Luis (63), followed by the State of Pará (59). Among the species found in São Luís, 125 were exclusive of this area. Key-words: floristics, beach, diversity. INTRODUÇÃO A palavra restinga tem sido utilizada para designar as formações A vegetação litorânea ou vegetais litorâneas, englobando diver­ justamarítima depende intimamente da sas comunidades como as da praia, natureza do substrato e da físiografia. antedunas, cordões arenosos, depres­ A diversidade morfològica mostrada sões entre cordões, margens de lagoas nesta região, influenciada pela ação da e até manguezais (LACERDA et al., água do mar e dos ventos constantes, 1982; ARAÚJO & HENRIQUES, propicia a formação de muitos habitats 1984). No sentido morfològico, as e, consequentemente, o aparecimento restingas têm sido consideradas como de uma flora rica e variada (RIZZINI, ilhas alongadas, faixas ou línguas de 1979; ARAÚJO, 1984). areias depositadas paralelamente ao 1 Departamento de Botânica, Instituto de Biociências, UNESP, Caixa Postal 199, 13506 Rio Claro, SP. ACTA AMAZÔNICA 23(2-3): 125-140. 1993. litoral, graças ao dinamismo constru­ litorânea da Ilha de São Luís (MA) e, tivo ou destrutivo das águas oceânicas pela ausência de trabalhos no que diz (SUGUIU & TESSLER, 1984). respeito à vegetação das praias arenosas RIZZINI (1979) mencionou três nesta região, é importante execução de interpretações botânicas para as restin­ trabalhos que diminuam a lacuna. gas brasileiras: formações vegetais que Por esta razào, FREIRE (1933) cobrem as areias holoceânicas desde o desenvolveu um trabalho sistemático de oceano, podendo alcançar as primeiras levantamento floristico na região elevações da Serra do Mar; paisagem litorânea da Ilha de São Luís, tendo formada pelo areai justamarítimo com abordado também aspectos de fenologia sua vegetação global e, finalmente, a e distribuição dos hábitos das espécies mais comum, para indicar a vegetação nas diferentes regiões de coleta, segundo lenhosa da parte interna, plana. a topografia encontrada. Aqui são apresentados os resultados de compo­ A heterogeneidade da região sição floristica das áreas de restinga litorânea brasileira que se extende por amostradas, seguidos de comparação aproximadamente 9000 km, é eviden­ com outros levantamentos efetuados na ciada por todos os autores que se costa brasileira. propuseram em subdividí-la. Uma das subdivisões mais recentes é apresentada por SUGUIU & TESSLER (1984), MATERIAL E MÉTODOS sendo baseada em elementos climáticos, oceanográfícos e continentais. Nesta, o Caracterização da área de litoral está subdividido em: litoral estudo amazônico ou equatorial (da foz do rio A Ilha de São Luís (2°30'S; Oiapoque ao Maranhão oriental); litoral 44°16'W) é politicamente dividida em nordestino ou das barreiras (do Mara­ três municípios: São José de Ribamar, nhão oriental ao recôncavo baiano); Paço do Lumiar e, São Luís. É litoral oriental (do recôncavo baiano ao percorrida pelos rios Bacanga e Anil, sul do Espírito Santo); litoral sudeste ou que representam verdadeiros braços de das escarpas cristalinas e litoral meridio­ mar devido à grande influência da água nal ou subtropical (da região de Laguna salgada recebida pelos mesmos. Além à desembocadura do Arroio Chuí). Toda destes, pequenos cursos de água esta diversidade ambiental (e climática) percorrem a Ilha, estando também é refletida diretamente sobre a vegetação sujeitos à ação periódica das marés. que se adapta às condições de cada área, Ao longo dos rios encontram-se havendo dificuldades naturais de se extensos manguezais. encontrar uma definição ampla e uma terminologia que se adequem a este A fisionomia do litoral da Ilha de ambiente costeiro. São Luís pode ser descrita por duas faces distintas: a região norte que compreende Pela velocidade que vem se um trecho de praias arenosas com dunas desenvolvendo a devastação na zona e pequenos cursos de água doce que apresentam manchas de mangue e, a campus de Rio Claro (HRCB). região sul, caracterizada por inúmeros O sistema tie classificação utili­ canais onde se desenvolvem exuberantes zado foi o de CRONQUIST (1988). manguezais. Formações de falésias As espécies encontradas foram também estào presentes no trecho de listadas e comparadas com listagens for­ praias arenosas. necidas pela literatura para os Estados A área escolhida para este estudo do Pará (SANTOS & ROSÁRIO, 1988; (FREIRE, 1993, Fig. 1) compreende o BASTOS, 1988 eLISBOS et ai, 1993), trecho entre as praias de Ponta D'Areia Alagoas (SILVA, 1972 e ESTEVES, (2°30,27'S; 44°19,08'W) e Araçagi 1978), Pernambuco (LIMA, 1951), Rio (2°27,55'S; 44°10,13'W), correspon­ Grande do Norte (TAVARES, 1960 e dendo a aproximadamente 15 km de TRINDADE, 1982), Bahia (SEABRA, extensão, onde predominam as praias 1949 e PINTO et ai, 1984), Rio de arenosas, com formações de dunas que Janeiro (HAY et ai, 1984 e ARAÚJO podem alcançar alturas superiores a & HENRIQUES, 1984), São Paulo 30m. Esta área está inserida nos (ANDRADE & LAMBERTI, 1965 e municípios de São Luís e Paço Lumiar DE GRANDE & LOPES, 1981), Rio (Praia de Araçagi) e está, em sua maior Grande do Sul (RAMBO, 1954; extensão próxima ao perímetro urbano PFANDENHAUER, 1978 e e, por esta razão é bem freqüentada e CORDAZZO & SEELIGER, 1989) e relativamente povoada. Santa Catarina (BRESSOLIN, 1979 e Coleta do material botânico CORDAZZO & COSTA, 1989). Nos trechos delimitados para Outras fontes bibliográficas fo­ estudo, foram escolhidos oito áreas ram consultadas para melhor abran­ para amostragem da flora, que compre­ gência das distribuições geográficas enderam retângulos de aproximada­ das espécies encontradas na Ilha de mente 50-150m de largura, paralelos à São Luís (FLORA ILUSTRADA DE linha de maré alta e com comprimento SANTA CATARINA - REITZ, 1965- variando até 480m, dependendo da 1989, e diversos números da FLORA extensão das dunas. NEOTROPICA). No entanto, para efeitos de comparação e elaboração da As coletas foram mensais, du­ Figura 3, somente foram consideradas rante 18 meses (de julho de 1988 a as obras acima relacionadas4 pois citam dezembro de 1989), abrangendo especificamente a ocorrência das somente a flora fanerorgânica. O ma­ espécies no mesmo ambiente de coleta terial coletado foi identificado com deste trabalho. auxílio de bibliografia especializada e de taxonomistas de instituições nacio­ nais, e está depositado nos herbários do RESULTADOS E DISCUSSÃO Departamento de Biologia da Universidade Federal do Maranhão e Material botânico do Instituto de Biociências da UNESP, Foram totalizadas 260 espécies nas áreas de amostragem, compreen­ nas dunas, além de pequenas clareiras didas em 78 famílias (Tab. 1). As em áreas de vegetação densa, próximas Dicotiledôneas (Magnoliopsida) foram às praias (FREIRE, 1993). as mais representativas, com 220 O total de espécies demonstra a espécies (84,62%), distribuídas em 62 flora diversificada desta região que se famílias. As Monocotiledôneas distribui ao longo das dunas, em zonas (Liliopsida) apresentaram 40 espécies de fisionomias bastante distintas. A (15,38%), distribuídas em 14 famílias. riqueza desta flora reflete, sem dúvida, A família Fabaceae apresentou o a localização intermediária da Ilha de maior número de espécies (24) dentre São Luís, entre os litorais amazônico as Dicotiledôneas (Fig. 2), seguida de e nordestino, que apresentam clima, Mimosaceae (12), Caesalpiniaceae (11) geologia e flora tão distintos. Desta e Myrtaceae (10). Entre as forma, as espécies que ocorrem na Ilha, Monocotiledôneas (Fig. 2), Poaceae foi além daquelas encontradas exclusiva­ a mais numerosa, com 12 espécies, mente ali, incluem muitas comuns ao seguida por Cyperaceae (8). litoral amazônico e/ou nordestino. Além das Poaceae e Cyperaceae, A proximidade com a área espécies consideradas neste levanta­ urbana e a freqüência de banhistas nas mento são freqüentes
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