Forma Mercadoria, Forma Pensamento E Direito Na Obra De Alfred Sohn-Rethel
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1 UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE THIAGO FERREIRA LION FORMA MERCADORIA, FORMA PENSAMENTO E DIREITO NA OBRA DE ALFRED SOHN-RETHEL São Paulo – SP 2012 2 Thiago Ferreira Lion FORMA MERCADORIA, FORMA PENSAMENTO E DIREITO NA OBRA DE ALFRED SOHN-RETHEL Dissertação apresentada ao programa de Pós- Graduação em Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial a obtenção do titulo de Mestre em Direito Político e Econômico. Orientador: Prof. Dr. Alysson Leandro Barbate Mascaro São Paulo – SP 2012 3 L763f Lion, Thiago Ferreira Forma mercadoria, forma pensamento e direito na obra de Alfred Sohn-Rethel / Thiago Ferreira Lion. São Paulo, 2012. 215 f. ; 30 cm Referências: p. 214-215. Dissertação (Mestrado em Direito Político e Econômico)- Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2012. 1.Direito. 2. Abstração Real. 3. Forma Mercadoria. 4. Forma Valor. I. Título. CDD 342.2633 4 THIAGO FERREIRA LION FORMA MERCADORIA, FORMA PENSAMENTO E DIREITO NA OBRA DE ALFRED SOHN-RETHEL Dissertação apresentada ao programa de Pós- Graduação em Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial a obtenção do titulo de Mestre em Direito Político e Econômico. Aprovado em: BANCA EXAMINADORA _______________________________________________________________ Prof. Dr. Alysson Leandro Barbate Mascaro - Orientador _______________________________________________________________ Prof. Dr. Gilberto Bercovici _______________________________________________________________ Prof. Dr. Márcio Bilharinho Naves 5 Dedico este trabalho a minha amada mãe, Angélica Baganha Ferreira, que, neste momento, resiste bravamente! 6 RESUMO Esta pesquisa é dedicada à obra do filósofo, historiador e economista alemão Alfred Sohn-Rethel e às contribuições que sua teoria tem a oferecer para a análise do direito. A análise da forma mercadoria efetuada por Marx é o ponto de partida para a crítica da teoria do conhecimento feita pelo autor, que revela como é possível os humanos terem um conhecimento “puro”, desvinculado do nível empírico, ao qual se refere Kant quando afirma a existência de categorias a priori do conhecimento. O surgimento do pensamento conceitual, da lógica formal, é o debate principal de sua obra e base a partir da qual se retira elementos para a análise daquele fenômeno social ao qual chamamos de direito. Palavras-chave: Alfred Sohn-Rethel, forma mercadoria, forma valor, economia, abstração real, dialética, materialismo histórico, teoria do conhecimento, direito, sujeito de direito. 7 ABSTRACT This research is dedicated to the work of the philosopher, historian and German economist Alfred Sohn-Rethel and the contributions that his theory has to offer for the analyses of law. The analysis of the commodity form made by Marx is the starting point for criticism of the theory of knowledge by the author which shows how humans can have a “pure” knowledge, separated from the empirical level, which Kant refers to when he says of the existence of a priori categories of knowledge. The emergence of conceptual thinking, of formal logic, is the main discussion of his work and base from which to take elements to the analysis of that social phenomenon which we call law. Keywords: Alfred Sohn-Rethel, commodity form, value form, economy, real abstraction, dialectics, historical materialism, theory of knowledge, law, subject of law. 8 SUMÁRIO Introdução ............................................................................................................................... 10 1 - Marxismo e bases do pensamento de Sohn-Rethel .................................................. 16 1.1- Dialética e questão da verdade ............................................................................... 16 1.2- Materialismo histórico e crítica genética. ............................................................... 33 2 - Síntese social e lei do valor ............................................................................................ 44 2.1 – O conceito de síntese social .................................................................................. 44 2.2 – Sociedades de produção (comunismo primitivo) ................................................ 50 2.3 – Sociedades de apropriação unilateral (modo de produção asiático) ............... 54 2.4 - Sociedades de apropriação recíproca (lei do valor) ............................................ 67 2.4.1 – Da apropriação unilateral à apropriação recíproca ..................................... 67 2.4.2 – Forma valor como eixo do materialismo histórico ....................................... 72 2.4.3 – Os limites da análise do valor em Sohn-Rethel ........................................... 80 2.4.4 – Lei do valor e escravagismo ............................................................................ 91 2.4.4 – Lei do valor e feudalismo ................................................................................. 98 2.4.5 – Lei do valor e capitalismo .............................................................................. 103 3 - Abstração real e crítica da epistemologia .................................................................. 111 3.1 - Materialismo histórico e teoria do conhecimento ............................................... 111 3.2 - A “abstração real” .................................................................................................... 121 3.3 - Limites da compreensão da abstração real por Sohn-Rethel.......................... 137 3.4 - A análise da abstração da troca ........................................................................... 145 3.4.1 – Solipsismo Prático ........................................................................................... 146 9 3.4.2 - Quantidade abstrata e postulado da equação da troca ............................ 148 3.4.3 - Tempo e espaço abstratos ............................................................................. 150 3.4.4 - Substância e acidentes ................................................................................... 151 3.4.5 - Atomicidade ...................................................................................................... 153 3.4.6 - Movimento abstrato ......................................................................................... 154 3.4.7 - Causalidade estrita .......................................................................................... 155 4 - Sohn-Rethel e o direito ................................................................................................. 158 4.1 – O direito diretamente tratado por Sohn-Rethel ................................................. 158 4.2 – Intelecto independente, subjetividade, luta de classes e direito ................... 164 4.3 - Política e direito como decorrência do valor como “forma social total” .......... 179 4.4 - Abstração real e direito: implicações da teoria de Sohn-Rethel na análise da forma jurídica por Pachukanis ........................................................................................ 188 Conclusão ............................................................................................................................. 210 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 214 10 Introdução Este trabalho tem por tema o direito na obra de Alfred Sohn-Rethel, importante pensador marxista alemão. Apesar de ainda pouco conhecida, a teoria desenvolvida por ele tem máxima relevância para a explicação de uma grande gama de fenômenos sociais e mesmo sua integração com nossa compreensão dos fenômenos naturais. Sua obra mostra-nos como a análise da forma mercadoria efetuada por Marx não “apenas” serve como base para a crítica da economia política, mas como em seu desenvolvimento está contido o fundamento para a crítica da própria teoria do conhecimento, o ponto nodal da filosofia e da explicação de toda a forma de conhecimento científico. A mercadoria não é meramente uma coisa, um objeto puro e simples, como a princípio possa parecer, mas uma relação social projetada na coisa. Esta relação é abstrata, mas seu caráter de abstração está na própria prática mercantil do homem e não primeiramente em sua consciência. A mercadoria é, assim, uma “abstração real”, abstração que se passa fora das mentes, mas que possibilita o pensamento conceitual provendo a consciência de sua forma, que constitui a base da lógica formal e da ciência. O direito não é ponto de partida para esta análise da forma mercadoria, antes é sua compreensão que depende da análise desta. Sohn-Rethel, por este motivo, não se debruça longamente sobre o especificamente jurídico. Seu caminho teórico é da forma mercadoria para a forma de conhecimento. Nesta última, no entanto, encontra-se toda a base pela qual o direito articula-se, pela qual ele se torna objeto do conhecimento e é operacionalizado. A prática jurídica não é somente prática, mesmo em seu nível menos complexo ela mostra-se como uma relação social que envolve teoria na utilização de determinada racionalidade para desencadear seus 11 efeitos práticos. O direito não é uma coisa material, mas algo abstrato e, no entanto, não deixa de ser portador de uma objetividade. O direito articula-se como idéia, ele não é algo empírico que exista por si, longe da consciência humana, mas ao mesmo tempo não se trata de uma idéia subjetiva, concernente a um único indivíduo. Nele está vivo um paradoxo insolúvel pela forma tradicional de pensamento, que vê o mundo a partir da oposição sujeito/objeto. Tal