O-Funk-E-O-Hip-Hop-Invadem-A-Cena
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O FUNK E O HIP-HOP INVADEM A CENA UFRJ Reitor Aloisio Teixeira Vice-Reitora Sylvia Vargas Coordenador do Forum de Ciência e Cultura Carlos Antonio Kalil Tannus Editora UFRJ Diretor Carlos Nelson Coutinho Editora Executiva Cecília Moreira Coordenadora de Produção Janise Duarte Conselho Editorial Carlos Nelson Coutinho (presidente) Charles Pessanha Diana Maul de Carvalho José Luis Fiori José Paulo Netto Leandro Konder Virgínia Fontes O FUNK E O HIP-HOP INVADEM A CENA Micael Herschmann 2ª edição Editora UFRJ 2005 Copyright 2000 by © Micael Herschmann. Ficha Catalográfca elaborada pela Divisão de Processamento Técnico – SIBI/UFRJ H571f Herschmann, Micael. O funk e o hip-hop invadem a cena / Micael Herschmann. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2005. 304p.; 13 x 19 cm. 1. Antropologia - Cultura de massa 2. Juventude - comportamento. I. Título. CDD 306.42 ISBN 85-7108-226-X 1. edição 2000 Edição de Texto Cecília Moreira Revisão Ana Paula Mathias de Paiva Cecília Moreira Josette Babo Maria Teresa Kopschitz de Barros Capa Adriana Moreno Projeto Gráfco e Editoração Eletrônica Alice Brito Universidade Federal do Rio de Janeiro Forum de Ciência e Cultura Editora UFRJ Av. Pasteur, 250/sala 107 - Rio de Janeiro CEP: 22295-900 Tel.: (21) 2295 1595 r. 124 a 127 Fax: (21) 542 7646 e 2295 0346 http://www.editora.ufrj.br Apoio Para Elianne, que, tantas vezes, com seu sorriso e carinho, resgatou-me para a vida. Em homenagem a Sofa Gegner, que alicerçou esta e outras jornadas. Sumário Agradecimentos 9 Apresentação 13 Os arrastões 15 O outro no Brasil contemporâneo 35 Demonização e glamourização na mídia 89 No ritmo do funk 127 Atitude consciente 185 A política dos estilos de vida na cultura urbana 213 Circuitos marginais e alternativos de produção/consumo 247 Abalando os anos 90 281 Glossário 287 Referências bibliográfcas 291 Agradecimentos Este livro não poderia ter sido feito sem a colaboração dos pesquisadores que participaram do projeto integrado Violência, Comunicação e Cultura, bem como dos professores, amigos da Escola de Comunicação da UFRJ e dos meus colegas de pós-graduação que, muitas vezes sem o saber, subsidiaram indireta e diretamente este trabalho, sinalizando questões. A todos o meu agradecimento. Sou especialmente grato a Karl Erik Schøllhammer, Elizabeth Rondelli, Ana Paula G. Ribeiro, Kátia Lerner, Beatriz Jaguaribe, Nízia Villaça e Janice Caiafa, companheiros com quem, em vários momentos, discuti muitas das idéias que aqui desenvolvo. Devo muito, também, aos pesquisadores que se debru- çaram sobre o tema, com os quais pude dialogar sobre algumas de suas problemáticas fundamentais. Em especial, o meu muito obrigado a George Yúdice, Olívia G. da Cunha, Tricia Rose, José M. Valenzuela Arce, Hermano Vianna e Livio Sansone. Agradeço ainda aos meus alunos de Cultura Brasileira com os quais, em diferentes períodos, discuti muitos dos tópicos que pontuam este trabalho. Suas inquietações foram decisivas para o amadurecimento das hipóteses que são aqui apresentadas. O funk e o hip-hop invadem a cena Provavelmente eu não teria conseguido organizar o material de pesquisa sem a preciosa colaboração das minhas auxiliares de pesquisa envolvidas diretamente com esta inves- tigação, Jaqueline de Lavôr e Adriana Ribeiro, que enfrenta- ram as situações mais inusitadas e levantaram um enorme número de informações. Sei que talvez nunca possa retribuir pelo que fzeram. Deixo também registrada minha gratidão aos inúmeros amigos e colegas que fz durante essa investigação, os quais ajudaram, de diversas maneiras, a enfrentar as várias etapas deste estudo e me permitiram concretizá-lo. Em especial, a Fátima Ceccheto, Tânia Melo, Manoel Ribeiro e DJ Marlboro. Aos DJs, MCs, rappers, funkeiros, dançari nos, donos de equipe de som e de bailes, ao pessoal da Atcon, Voz Ativa Ofcina Cultural e Associação Funkeiros Unidos do Rio, grafteiros, managers, simpatizantes e, em particular, a DJ TR, Bill, Ed Whiller e Lord Sá, muito obrigado pela forma generosa com que subsidiaram a pesquisa de modo geral. Fico em dívida com minha família e meus amigos, a quem sei que não poderei recompensar pelos momentos de “ausên cia” e pelo stress que signifcou a difícil convivência com alguém que está realizando este tipo de trabalho. As sugestões e críticas de Carlos Alberto Messeder Perei- ra, sempre precisas, e, principalmente, seu companheirismo amenizaram a difícil gestação deste livro. Não há palavras que expressem o meu reconhecimento. Foi essencial o apoio das agências fnanciadoras – CNPq, Capes e Faperj –, de diferentes formas e em diversos momen- tos, para que este projeto se realizasse. 10 Agradecimentos Há, ainda, outros que esqueci de mencionar e que, através de comentários, conversas e entrevistas informais e formais, permitiram-me compreender melhor o complexo mundo do funk e do hip-hop. De alguma maneira, a sua ajuda está in- corporada a este trabalho. Micael Herschmann 11 Apresentação As representações da violência no Brasil e na cultura contemporânea – freqüentemente associadas às manifestações juvenis – levaram-me a estudar o funk e o hip-hop. Intrigava- me o fato de que as narrativas da violência veiculadas na mídia (a qual identifcava esses jovens como sujeitos dos delitos) e o clima de histeria que tomou conta do País na primeira me-tade dos anos 90 (especialmente nos principais centros urbanos) contradiziam a imagem paradisíaca que ainda se tinha dele. Perguntava-me: que Brasil é esse que vem se afrmando cada vez mais no imaginário social? Ao iniciar meus estudos, logo percebi que a violência vem evidenciando a falência de um modelo, de um “retrato de Brasil” – em geral construído a partir de diferentes recursos simbólicos canonizados na literatura, nas artes plásticas, na música etc. – no qual era possível encobrir o potencial de tensões e confitos presente em nosso cotidiano. A literatura e, de modo geral, o pensamento modernista nota- bilizaram imagens não confituais do País. Repensar hoje o fenômeno da violência, especialmente a urbana, em suas mais variadas formas e expressões, é de fundamental importância para o entendimento da dinâmica sociocultural brasileira. Atesta-se, O funk e o hip-hop invadem a cena de certa maneira, a crise do ideário que tomava as narrativas que exaltavam a malandragem e o jeitinho como evidências claras da índole não violenta do brasileiro. A crescente per- cepção de que os confitos estão presentes no comportamento de diversos segmentos sociais e a sua veiculação constante na mídia quase impossibilitam se pensar o Brasil hoje, ou os processos de comunicação no interior da sociedade brasileira, sem se levar em conta este fato social. Em vista disso, este trabalho pretende focalizar um dos campos da cultura em que se verifca a presença de um referencial signifcativo de violência: o universo da música, no qual especialmente o funk e o hip-hop, nas suas diversas formas de expressão, atualizam um “tom confituoso”, ou pelo menos tenso, pouco visto anteriormente na Música Popular Brasileira (MPB). O funk e o hip-hop (e talvez alguns dos gêne-ros musicais presentes nos principais centros urbanos do País) apresentam-se como estudos de caso que, em função do lugar que ocupam junto às camadas juvenis menos favorecidas da população, permitem repensar a emergência, no imaginário social, de um Brasil fragmentário e plural. Micael Herschmann 14 Os arrastões O Jornal Nacional da Rede Globo do dia 18 de outubro de 1992 dedicava boa parte de seu tempo a relatar e exibir imagens de certos “distúrbios” ocorridos na Praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, naquele dia de sol: Rapidamente as gangues tomam conta da areia... Uma parede humana avança sobre os banhistas... pavor e inse- gurança... Sem que se saiba de onde... começa uma grande confusão... O pânico toma conta da praia... As pessoas correm em todas as direções... São mulheres, crianças, pessoas desesperadas à procura de um lugar seguro... A violência aumenta quando gangues rivais se encontram... Este grupo cerca um rapaz que cai na areia e é espanca- do... A poucos metros dali outro ban-do avança sobre a quadra de vôlei... Os jogadores se afastam da quadra e correm para proteger as barracas, mulheres e crianças... Dois policiais... apenas dois... chegam até à areia... Eles estão armados mas parecem não saber o que fazer com tanta correria... Perto dali, rapazes ignoram a presença dos policiais e aproveitam para roubar... Nos dias posteriores, o tom grave e dramático caracte - rizou a apresentação dos eventos que fcaram conhecidos sob O funk e o hip-hop invadem a cena o rótulo de “arrastões” na mídia nacional e internacional. Ce- nas exibindo correrias desenfreadas, brigas, gritos e confusões envolvendo jovens e a polícia criaram um clima de “histeria” junto à população. O fenômeno dos “arrastões” não era pro- priamente novo ou inusitado, mas aqueles, particularmente, foram fundamentais para a reifcação de uma certa imagem estigmatizada dos jovens dos segmentos populares do Rio. As representações e os sentidos atribuídos ao evento co-nhecido como “arrastão”,1 especialmente aqueles de outubro de 1992, colocavam em debate a seguinte questão: vivemos real- mente em uma “cidade partida”,2 em um regime de apartheid no Rio de Janeiro? A maneira histérica pela qual foram retra tados na mídia sugeria distúrbios do porte daqueles ocorridos em Los Angeles no mesmo ano.3 À medida que avançava este trabalho, perguntava-me se o passado de expressões da cultura popular como, por exemplo, o jazz4 ou o samba não teria algo a nos ensinar sobre o que estaria acontecendo com o funk* nos últimos anos. Mesmo reconhecendo inúmeras diferenças entre o funk e o samba, indagava-me se não se estaria estigmatizando mais uma vez uma importante expressão cultural, que, em um futuro próximo, seria agenciada de forma emblemática pela Cidade ou, quem sabe, pelo País, tal como ocorreu com o samba.5 * As expressões em língua inglesa referentes ao universo funk e hip-hop e outras da cultura pop estão grafadas em tipo normal por serem de uso corrente entre os jovens e na mídia, além de serem a base deste livro.