Rápido Aspecto Geognóstico Do Arquipélago De Cabo Verde Autor(Es)
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Rápido aspecto geognóstico do Arquipélago de Cabo Verde Autor(es): Miranda, Raúl de Publicado por: Museu Mineralógico e Geológico URL persistente: http://hdl.handle.net/10316.2/37941 Accessed : 30-Sep-2021 08:53:31 A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos. Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença. Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s) título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do respetivo autor ou editor da obra. 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Do grupo setentrional ou de Barlavento, as ilhas de Santo Antão e do Sal, formam os extremos do primeiro arco, enquanto ao sul, no grupo de Sótavento, Brava e Maio limi tam o agrupamento meridional. E, embora Boavista constitua elemento insular da parte de Barlavento, pela sua posição, ela forma no quadro geo gráfico do Arquipélago, mancha emersa que parece aproximar os dois grupos, em justo destaque de situação consentida. Tem sido esta colónia alvo de estudos geológicos de pro funda actuação, desde Doelter, Friedlander, Bergt e mais recentemente o Engenheiro Bacelar Bebiano, que publicou um esgotante e notável estudo sobre a «Geologia do Arqui pélago de Cabo Verde», que fica como sendo o mais valioso repositório da importância petrográfica dessa nossa colónia africana. Outros autores, como os Professores Amilcar Mário de Jesus e Cotela Neiva, contribuíram também para o conhe cimento da constituição mineralógica das rochas do arqui pélago. 4 Tem despertado interesse o solo caboverdeano, cuja natureza vulcânica acentuada dá à paisagem aquele tom de domínio mineral apenas, agreste, pessoal e inconfundível, e onde o trabalho humano, náo conseguiu impor outra feição e suavisar à custa dos elementos biológicos, a agressividade com que a natureza se apresenta, em plena floração das suas forças próprias e pujança imponente, da sua, aqui, vontade vitoriosa. A par dessa importância vulcânica, Cabo Verde mani festa também actuação sísmica que é necessário pôr em destaque. E não admira que regiões de notável actividade endógena, outrora com fracturas marcadas e falhas diversas, sejam sacudidas por sismos e mesmo possam vir a ser forte mente impulsionadas por uma actividade despertadora de energias latentes. O conhecimento da sismicidade de Cabo Verde é neces sário para ajudar à interpretação dos problemas de tectó nica da colónia, e o aproveitamento das fontes de informação sísmica constituirá ajuda de mérito que é desnecessário encarecer. A génese do arquipélago, deve ligar-se ao movimento dos soclos continentais, como para os Açores e Canárias opina também Wegener. Quer as ilhas de Cabo Verde sejam os fragmentos dis persos de um continente em marcha, ou hajam resultado de violentas manifestações extrusivas provocadas por um des colamento superficial que diminuiu a resistência dos fundos marinhos e permitiu a ascenção de matérias vulcânicas, o certo é que estes fenómenos se operaram num período de tempo não muito distanciado, o que dá a Cabo Verde um carácter ainda jovem no quadro geológico a que pertence. E no fim da era Terciária, já no Plioceno, e na era Qua ternária, que se tornam mais vivas as fracturas do ocidente africano, as quais abrangem as ilhas de Cabo Verde, S. Tomé, Ano Bom e Santa Helena, além da parte continental dos Camarões. As ilhas de mar profundo já se encontram cons tituídas nos meados do Terciário, quando a separação dos 5 continentes americanos era já absoluta em relação aobiná rio euro-africano. O esforço que representava a marcha para oeste do bloco americano, devia originar nas regiões submarinas, como suce deu no Atlântico, a formação decristãs de fundo, que eram acompanhadas de vulcanicidade acentuada, a qual se mos trava fortemente activa e ia originando o aparecimento das ilhas dispersas, por intrusões de magmas a que se associa vam talvez os vestígios da fragmentação continental, resul tante da marcha das Américas para ocidente. A génese do arquipélago só pode ser compreendida, a partir do momento em que a separação dos continentes se efectua, e o Atlântico passa a constituir longa estrada mari nha, cujas margens se distanciam, em lento, mas progressivo movimento, ritmado e perturbante. Então o avanço siálico originava à retaguarda dos blocos continentais enrugamentos de fundo, que diminuíam a resistência da crusta e se torna vam assim pontos fracos de investidas magmáticas, que iam constituindo os alicerces sobre que viriam assentar em posi ção emersa, as ilhas do futuro arquipélago caboverdeano. Para Doelter, os terrenos mais antigos de Cabo Verde, faziam- -lhe supor, que na área hoje ocupada, se estendia o território de um antigo continente, facto que os modernos geólogos não confirmam e que, como diz superiormente o Engenheiro Bacelar Bebiano, a própria análise de relevo submarino contraria. Friedlander, pela observação das rochas antigas crista linas, liga o arquipélago ao continente africano, e o estudo dos fósseis, encontrados por este investigador na ilha de Maio, «prova as relações entre as ilhas e a cadeia de mon tanhas do Atlas». Que Cabo Verde tenha tido o seu apa recimento em período simultâneo ao enrugamento do norte de África, ainda se poderá admitir ; do que porém discorda mos, é de uma identidade de origem, pois enquanto o Atlas ficou devendo a sua formação aos esforços orogénicos alpi nos, o arquipélago revelou a sua presença somente a partir do desdobramento continental, e não podia existir, quando a 6 coalescência das Américas com a Europa e a África, era ainda um facto do domínio geológico. Dois fenómenos diversos são os responsáveis pela génese dessas formações : um, o enrugamento gigantesco que deter minou a elevação das cadeias montanhosas do sul da Europa, da Ásia e norte da África ; outro, de feição translacional, originado pelo próprio movimento de que estava animado, a fricção originando de fundos submarinos, donde resultou a intumescência dos mesmos fundos, a subida de massas igneas e a franca expansibilidade de elementos vulcânicos. A esta segunda causa, pertence, certamente, a origem das ilhas de Cabo Verde. Este arquipélago, eleva-se, como diz Bacelar Bebiano, baseado nas cartas do almirantado inglês, «de um soco submarino, em forma de ferradura, situado aproxima damente a 3 .ooo metros de profundidade. Deste soco con vergem três pedestais, perfeitamente distintos, a saber: norte, compreendendo as ilhas de Santo Antão, S. Vicente, ilhéus e S. Nicolau; leste e sul compreendendo as ilhas do Sal, Boa Vista, Maio, baixo João Leitão, e S. Tiago; oeste, as ilhas do Fogo, Brava e ilhéus. Entre as ilhas de S. Nicolau e Sal, existe um pedestal secundário, que chega quase a atingir a superfície do Oceano, com 80 metros de profundidade (1). A análise da carta batimétrica, publicada por Bacelar Bebiano, na sua valiosissima obra sobre esta colónia portu guesa, mostra como é desigual a distribuição das isóbatas e indica o sentido em que a queda dos fundos se efectua em concordância com as linhas de fractura e de falhas propostas. Duma maneira geral, podemos afirmar que o declive se torna mais rápido para o ocidente, do que para leste do grupo insular. Sobretudo, isto torna-se notório, para as ilhas do Sal, Boa Vista, baixo João Leitão, Maio, S. Tiago, Fogo e Brava, (1) Bacelar Bebiano: A geologia do arquipélago de Cabo Verde 1932 pág. 12. 7 onde as isóbatas de 2.5oo e 3 .ooo metros se encontram dis tanciadas da terra, o que já não sucede para a parte ociden tal do arquipélago, onde a sua situação entre as restantes, permite tornar mais denso o seu conjunto e avaliar a natureza do declive mais forte em queda brusca sobre o mar profundo. A 40 quilómetros para oeste de Santo Antão, passa a isóbata de 3 .5oo metros, a qual se afasta tanto na região oriental, que deixa a ilha da Boa Vista a uma distância de perto de 180 quilómetros. Há, por consequência, uma assimetria nítida no relêvo submarino, com abrandamento a leste e forte acção incisiva a ocidente. A sul de algumas ilhas, como em S. Nicolau, S. Tiago, Fogo e Brava, as isóbatas acompanham de perto a dimi nuição do declive a oeste. Na já obra citada, Bacelar Bebiano traça um esboço tec tónico com algumas linhas de fractura e de falhas profundas ; das primeiras, temos a considerar a que liga Santa Antão à Boa Vista, passando por S. Vicente, Santa Luzia e S. Nico lau, em direcção noroeste-sueste ; a paralela à costa ocidental de Santo Antão; e a que, em sentido meridiano, passa pelo Sal e Maio.