Uma Aldeia Na Cidade − Telheiras, O Que É Hoje E Como Se Produz Um Bairro?
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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DO TRABALHO E DA EMPRESA [Departamento de Sociologia] UMA ALDEIA NA CIDADE − TELHEIRAS, O QUE É HOJE E COMO SE PRODUZ UM BAIRRO? Mário Contumélias Tese submetida como requesito parcial para obtenção do grau de Doutor em Sociologia Especialidade em Comunicação Orientador: Prof. Doutor José Manuel Paquete de Oliveira ISCTE Novembro, 2007/Julho, 2008 Agradecimentos Uma investigação continuada recolhe, via de regra, muitos contributos. Foi o caso. Desde as instituições do bairro, aos moradores anónimos de Telheiras muitos foram os que se dispuseram a gastar algum do seu tempo em prol deste trabalho; para não se correr o risco de esquecer alguém, não se individualiza. No entanto, não se pode deixar de sublinhar a colaboração da Associação de Residentes de Telheiras e, em particular, de alguns dos seus ex-dirigentes históricos, com especial pertinência para os vários presidentes que, ao longo dos anos, assumiram a direcção da Associação. Contudo, há alguém no universo de Telheiras, a quem se deve um agradecimento firme e claro. Ana Contumélias deu a esta investigação – feita sem qualquer tipo de financiamento e portanto sem a possibilidade de dedicação exclusiva do investigador, o que ajuda a explicar também a sua longa duração – um contributo inexcedível. Sem a sua ajuda, apoio e solidariedade, este trabalho não estaria, provavelmente, ainda concluído. Como socióloga, acompanhou passo a passo o desenvolvimento da investigação, com comentários e leituras críticas, que muito ajudaram o investigador. Como dirigente histórica da ART e cidadã profundamente implicada e conhecedora da vida local em Telheiras, como dos seus principais actores e acontecimentos, Ana Contumélias foi uma informante crucial, ajudando ainda, e muito, no acesso a toda a memória escrita disponível no bairro e sobre o bairro. Finalmente, como companheira de vida do investigador, libertou-o de todas as responsabilidades e compromissos ligados ao quotidiano da vida do grupo doméstico, tomando-as a seu exclusivo cargo, quando foi preciso fazer um forcing na redacção desta dissertação. Por tudo isto, este trabalho é-lhe aqui dedicado. Finalmente, ainda uma palavra de gratidão para o Prof. Doutor Paquete de Oliveira, pela confiança que depositou no doutorando que sempre o acompanhou e lhe deu força para vencer as dificuldades; e para o Prof. Doutor Luís Silva Pereira, pela paciência com que ouviu o autor falar dos problemas apresentados pelo terreno e pelos comentários e sábios conselhos que não regateou. Uma Aldeia na Cidade... Índíce Índice de Figuras e quadros ……………………………………………... III INTRODUÇÃO …………………………………………………………. P. 2 Da condição de autóctone ao comprometimento do olhar…………… P. 5 Sobre a relação Sujeito/Objecto ……………………………………... P. 4 Território retórico. Objecto sociológico e objecto empírico ………… P. 8 Período em análise …………………………………………………... P. 11 Um estudo de caso…………………………………………………… P. 14 Sobre as teorias………………………………………………………. P. 16 Literatura sobre os bairros de Lisboa………………………………… P. 19 Parte 1 – CARACTERIZAÇÃO DO «BAIRRO» E DOS PRINCIPAIS AGENTES………………………………… P. 24 O «bairro» de Telheiras…………………………………………... P. 25 A Empresa Pública de Urbanização de Lisboa – EPUL………...... P. 33 A Associação de Residentes de Telheiras – ART………………... P. 37 O Jornal de Telheiras·…………………………………………… P. 46 As Escolas de Telheiras …………………………………………. P. 54 O Núcleo antigo de Telheiras – memórias da aldeia…………….. P. 56 - O príncipe e a Senhora…………………………………. P. 62 Centro Cultural de Telheiras…………………………………….. P. 68 Parte 2 – OS AGENTES SOCIAIS E A CONSTRUÇÃO SIMBÓLICA DO «BAIRRO»………………………………….. P. 71 O Relatório do NEUT – Telheiras, um “valor-signo”…………... P. 72 Criar cidade, «inventar Telheiras» − A Comunicação institucional da EPUL………………………………………….... P. 79 - Criar cidade para a vida das pessoas…………………... P. 84 A Intervenção da Associação de Residentes –ART…………….. P. 91 I Uma Aldeia na Cidade... - Consenso, participação e ecologia……………………… P. 97 - Insegurança, estatuto e valores…………………………. P. 100 - Apropriação do Espaço público………………………… P. 103 - A Aldeia que Aprende…………………………………... P. 109 - NOW, a poesia e o ambiente……………………………. P. 111 - Discurso e acção………………………………………... P. 117 - Os presidentes da ART…………………………………. P. 123 - Tensão ART – EPUL………………………………….... P. 139 Um jornal no «bairro»……………………………………………. P. 146 - Para que serve um jornal de bairro……………………... P. 149 - Natureza dos conteúdos do Jornal de Telheiras... P. 152 - O «bairro» no Jornal de Telheiras……………… P. 164 Discursos de fora………………………………………………… P. 170 - Comércio e Telhados de Vidro…………………. P. 182 - Labirinto com cheiro a campo…………………. P. 187 Discursos urbanos………………………………………………... P. 192 - Telheiras, templo sagrado do Parkour…………. P. 193 - Zona T………………………………………….. P. 196 Apropriação simbólica – alargando o «bairro»………………….. P. 199 Representações endógenas………………………………………. P. 203 Telheiras virtual…………………………………………………. P. 211 Parte 3 – O «BAIRRO» E OS SEUS MAPAS.………………………… P. 221 Os mapas de Telheiras………………………………………….. P. 222 O que é «bairro»? ……………………………………………… P. 230 - O bairro de “Telheiras”……………………….. P. 238 - O que é hoje um «bairro» ……………………. P. 240 Como se produz um bairro?......................................................... P. 241 - O caso de “Telheiras”………………………… P. 244 II Uma Aldeia na Cidade... CONCLUSÃO ……………………………………………………….. P. 251 O que é e como se produz um bairro? ………….…………………. P. 252 Recolocando a questão…………………………………………….. P. 254 Considerações finais ………………………………………………. P. 254 Bibliografia …………………………………………………… …... P. 253 III Uma Aldeia na Cidade... INDICE DE FIGURAS E QUADROS Figuras Fig.1- «Triângulo» de Telheiras 7 Fig.2- Agricultores em Telheiras 12 Fig.3- Mapa de Telheiras em 1844 25 Fig.4- Telheiras, mapa actual 26 Fig.5- Mapa de “Telheiras-Sul 27 Fig.6- Folheto da habitolu 31 Fig.7- Desenho do Alto da Faia I 35 Fig.8- Logotipo da ART. 42 Fig.9- Sede da ART. 45 Fig.10 - Capas do Jornal de Telheiras, de Agosto de 1999 a Abril de 2000. 50 Fig.11 - Capa da última edição do Jornal de Telheiras 51 Fig.12 - A aldeia de Telheiras, NAT. 57 Fig.13 – Imagem de Nossa Senhora da Porta do Céu 63 Fig.14 - Logótipo do Centro Cultural de Telheiras. 69 Fig.15 - Anúncio da EPUL para venda da aldeia de Telheiras 82 Fig.16 – Logótipo e mapa da Praça Central de Telheiras 87 Fig.17 –Esquema analítico do imaginário da ART. 102 Fig.18 – Capa do boletim Informativo da ART, Junho de 1994. 105 Fig.19 – Cartazes do teatroàparte 118 Fig.20 – Desenho da Urbanização do Paço do Lumiar 144 Fig.21 – Ardina apregoou o Número Zero do Jornal de Telheiras 147 Fig.22 – A araucária de Telheiras 167 Fig.23 – Protestos em Telheiras 179 Fig.24 – Prática do Parkour em Telheiras 194 IV Uma Aldeia na Cidade... Fig.25 – Zona T 197 Fig.26 – Empresas fora do «Triângulo» que se afirmam de Telheiras 200 Fig.27 – “Telheiras Residence” 201 Fig.28 – Telheiras no Mapa da cidade de Lisboa 222 Fig.29 –“Telheiras-Sul” no mapa de Lisboa. 223 Fig.30 – Mapa do «Triângulo» completo 225 Fig.31 –Carta de Ocupação do Solo de Telheiras. 227 Fig.32 – Planta de Telheiras, publicada no site da ART. 228 Fig.33 – Urbanização do Vale de Stº António 242 Quadros Quadro 1 – Discurso da EPUL 88 Quadro 2 – Conceitos orientadores da acção da ART 114 Quadro 3 – Discursos sobre Telheiras e a ART 115 Quadro 4 – Intervenção cívica da ART em 1996/97 121 Quadro 5 – Caracterização dos presidentes da ART, à chegada a Telheiras. 136 Quadro 6 – Número Zero do Jornal de Telheiras 153 Quadro 7 – Edição N.1 do Jornal de Telheiras-Conteúdos 154 Quadro 8 – Edição N.2 do Jornal de Telheiras-Conteúdos 155 Quadro 9 – Edição N. 3 do Jornal de Telheiras-Conteúdos 156 Quadro 10 – Edição N.4 do Jornal de Telheiras-Conteúdos 157 Quadro 11 – Edição N.6 do Jornal de Telheiras-Conteúdos 158 Quadro 12 – Edição N.7 do Jornal de Telheiras-Conteúdos 159 Quadro 13 – A objectividade do Jornal de Telheiras - I 160 Quadro 14 – A objectividade do Jornal de Telheiras -II 160 Quadro 15 – «Fabrico» da Actualidade no Jornal de Telheiras 162 Quadro 16 –Profissão dos chefes de família em Telheiras. 172 Quadro 17 –Famílias com automóvel em Telheiras. 172 Quadro 18–Vendas do Expresso em Telheiras 173 Quadro 19– Telheiras vista pelo Expresso (Junho de 1993). 175 V Uma Aldeia na Cidade... Quadro 20 – Características do «bairro» de Telheiras 210 Quadro 21– Telheiras na Web 212 VI Uma Aldeia na Cidade... Resumo Fará ainda sentido falar de “bairro” no universo urbano lisboeta, depois das profundas transformações ocorridas em Portugal e no Mundo nas últimas décadas, a não ser para nos referirmos aos “bairros históricos”, ou “bairros populares”? Se faz, o que é hoje um “bairro”? E de que formas, materiais e simbólicas, é ele produzido? Este trabalho procura encontrar respostas para estas questões, centrando-se na análise do caso de “Telheiras”, um dos “bairros” novos de Lisboa. Conclui-se que a ideia de “bairro” subsiste no imaginário dos actores sociais, como uma imagem idealizada que orienta a acção. Igualmente se sustenta que a existência do “bairro” moderno, embora indissociável de um território físico, se afirma, sobretudo, no plano de um território retórico. Palavras-chave: Bairro, Território, Retórico, Comunidade interpretativa, Media. Abstract Does it still make sense to talk about “neighbourhood” in the Lisbon urban universe, after the profound transformations occurred in Portugal and in the World in the last decades, if not only to refer to “historic neighbourhoods”, or “popular neighbourhoods”? If it does, what is a “neighbourhood” nowadays? And in what ways, with which