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Ozualdo Candeias capa.indd 1 20/10/2010 18:46:53 Ozualdo Candeias Pedras e Sonhos no Cineboca Ozualdo Candeias miolo.indd 1 15/10/2010 15:34:57 Ozualdo Candeias miolo.indd 2 15/10/2010 15:34:57 Ozualdo Candeias Pedras e Sonhos no Cineboca Moura Reis São Paulo, 2010 Ozualdo Candeias miolo.indd 3 15/10/2010 15:34:57 GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO Governador Alberto Goldman Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Diretor-presidente Hubert Alquéres Coleção Aplauso Coordenador Geral Rubens Ewald Filho Ozualdo Candeias miolo.indd 4 15/10/2010 15:34:57 No Passado Está a História do Futuro A Imprensa Oficial muito tem contribuído com a sociedade no papel que lhe cabe: a democra- tização de conhecimento por meio da leitura. A Coleção Aplauso, lançada em 2004, é um exemplo bem-sucedido desse intento. Os temas nela abordados, como biografias de atores, di- retores e dramaturgos, são garantia de que um fragmento da memória cultural do país será pre- servado. Por meio de conversas informais com jornalistas, a história dos artistas é transcrita em primeira pessoa, o que confere grande fluidez ao texto, conquistando mais e mais leitores. Assim, muitas dessas figuras que tiveram impor- tância fundamental para as artes cênicas brasilei- ras têm sido resgatadas do esquecimento. Mesmo o nome daqueles que já partiram são frequente- mente evocados pela voz de seus companheiros de palco ou de seus biógrafos. Ou seja, nessas histórias que se cruzam, verdadeiros mitos são redescobertos e imortalizados. E não só o público tem reconhecido a impor- tância e a qualidade da Aplauso. Em 2008, a Coleção foi laureada com o mais importante prêmio da área editorial do Brasil: o Jabuti. Concedido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), a edição especial sobre Raul Cortez ganhou na categoria biografia. Ozualdo Candeias miolo.indd 5 15/10/2010 15:34:57 Mas o que começou modestamente tomou vulto e novos temas passaram a integrar a Coleção ao longo desses anos. Hoje, a Aplauso inclui inúmeros outros temas correlatos como a his- tória das pioneiras TVs brasileiras, companhias de dança, roteiros de filmes, peças de teatro e uma parte dedicada à música, com biografias de compositores, cantores, maestros, etc. Para o final deste ano de 2010, está previsto o lançamento de 80 títulos, que se juntarão aos 220 já lançados até aqui. Destes, a maioria foi disponibilizada em acervo digital que pode ser acessado pela internet gratuitamente. Sem dúvida, essa ação constitui grande passo para difusão da nossa cultura entre estudantes, pes- quisadores e leitores simplesmente interessados nas histórias. Com tudo isso, a Coleção Aplauso passa a fazer parte ela própria de uma história na qual perso- nagens ficcionais se misturam à daqueles que os criaram, e que por sua vez compõe algumas pá- ginas de outra muito maior: a história do Brasil. Boa leitura. Alberto Goldman Governador do Estado de São Paulo Ozualdo Candeias miolo.indd 6 15/10/2010 15:34:57 Coleção Aplauso O que lembro, tenho. Guimarães Rosa A Coleção Aplauso, concebida pela Imprensa Ofi cial, visa resgatar a memória da cultura nacio nal, biografando atores, atrizes e diretores que compõem a cena brasileira nas áreas de cine ma, teatro e televisão. Foram selecionados escritores com largo currículo em jornalismo cultural para esse trabalho em que a história cênica e audiovisual brasileiras vem sendo reconstituída de ma nei ra singular. Em entrevistas e encontros sucessivos estreita-se o contato en tre biógrafos e bio gra fados. Arquivos de documentos e imagens são pesquisados, e o universo que se recons- titui a partir do cotidiano e do fazer dessas personalidades permite reconstruir sua trajetória. A decisão sobre o depoimento de cada um na pri- meira pessoa mantém o aspecto de tradição oral dos relatos, tornando o texto coloquial, como se o biografado falasse diretamente ao leitor . Um aspecto importante da Coleção é que os resul- ta dos obtidos ultrapassam simples registros bio- grá ficos, revelando ao leitor facetas que também caracterizam o artista e seu ofício. Bió grafo e bio- gra fado se colocaram em reflexões que se esten- de ram sobre a formação intelectual e ideo ló gica do artista, contex tua li zada na história brasileira. Ozualdo Candeias miolo.indd 7 15/10/2010 15:34:57 São inúmeros os artistas a apontar o importante papel que tiveram os livros e a leitura em sua vida, deixando transparecer a firmeza do pen- samento crítico ou denunciando preconceitos seculares que atrasaram e continuam atrasando nosso país. Muitos mostraram a importância para a sua formação terem atua do tanto no teatro quanto no cinema e na televisão, adquirindo, linguagens diferenciadas – analisando-as com suas particularidades. Muitos títulos exploram o universo íntimo e psicológico do artista, revelando as circunstâncias que o conduziram à arte, como se abrigasse em si mesmo desde sempre, a complexidade dos personagens. São livros que, além de atrair o grande público, inte ressarão igualmente aos estudiosos das artes cênicas, pois na Coleção Aplauso foi discutido o processo de criação que concerne ao teatro, ao cinema e à televisão. Foram abordadas a construção dos personagens, a análise, a história, a importância e a atua lidade de alguns deles. Também foram exami nados o relacionamento dos artistas com seus pares e diretores, os processos e as possibilidades de correção de erros no exercício do teatro e do cinema, a diferença entre esses veículos e a expressão de suas linguagens. Se algum fator específico conduziu ao sucesso da Coleção Aplauso – e merece ser destacado –, Ozualdo Candeias miolo.indd 8 15/10/2010 15:34:57 é o interesse do leitor brasileiro em conhecer o percurso cultural de seu país. À Imprensa Oficial e sua equipe coube reunir um bom time de jornalistas, organizar com eficácia a pesquisa documental e iconográfica e contar com a disposição e o empenho dos artistas, diretores, dramaturgos e roteiristas. Com a Coleção em curso, configurada e com identida- de consolidada, constatamos que os sorti légios que envolvem palco, cenas, coxias, sets de filma- gem, textos, imagens e palavras conjugados, e todos esses seres especiais – que neste universo transi tam, transmutam e vivem – também nos tomaram e sensibilizaram. É esse material cultural e de reflexão que pode ser agora compartilhado com os leitores de to do o Brasil. Hubert Alquéres Diretor-presidente Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Ozualdo Candeias miolo.indd 9 15/10/2010 15:34:57 Ozualdo Candeias miolo.indd 10 15/10/2010 15:34:57 Introdução Filmes verdadeiros como pedras, livres como sonhos compõem, na opinião do crítico francês André Bazin (1918-1958), a obra do austríaco Eric von Stroheim (1885-1957), diretor e roteiris- ta que Hollywood aprendeu a odiar ainda nos tempos do cinema mudo e amaldiçoou no início dos anos 1930. Banido como diretor, Stroheim sobreviveu como ator e habita a memória dos cinéfilos, sobretudo, como o mordomo-moto- rista apaixonado que reassume sua postura de cineasta e ordena luz, câmera, ação à enlou- quecida Norma Desmond de Gloria Swanson na seqüência final do clássico Crepúsculo dos Deuses 11 (Sunset Boulevard, 1950), de Billy Wilder. Em comentários publicados no final dos anos 1940, Bazin observou que a obra de Stroheim é daquelas que pertencem legitimamente aos críticos e cineastas, pois é muito mal conhecida por todos os que não viveram com atenção o tempo muito breve em que circulou nas salas de cinema. Seus filmes são dos mais difíceis de rever; essa obra relativamente curta e fulgurante quase que só existe na memória dos que ela deslumbra e provoca respeitosa admiração, assinalou Bazin nos comentários, reunidos por François Truffaut no livro Le Cinéma de la Cruauté. Editado na Ozualdo Candeias miolo.indd 11 15/10/2010 15:34:57 França em 1975, o livro foi lançado no Brasil em 1989 com a tradução literal de O Cinema da Crueldade. Nas asas da universalidade do cinema e da qua- lidade dos escritos que superam as barreiras do tempo, as diferenças culturais e econômicas e as distâncias entre países e povos, esses conceitos do crítico francês – para muitos, o mais impor- tante de seu tempo – sobre o austríaco autor de nove filmes realizados em Hollywood de 1918 a 1933, entre os quais o mítico Ouro e Maldição (Greed, 1923), definem, com extraordinária precisão, a obra do brasileiro Ozualdo Candeias. 12 Autor, coincidentemente, de nove filmes de longa-metragem realizados na Boca do Lixo, em São Paulo, de 1967 a 1992, tem como principal referência o igualmente mítico A Margem, forte, fantástica e pungente crônica de vida e morte na Marginal do Tietê. O extraordinário da precisão com que os concei- tos de Bazin sobre a obra de Stroheim se aplicam à de Candeias – que inclui três médias-metra- gens, um episódio e dezenas de documentários – decorre também do fato de que, personalidades muito diferentes, os filmes de cada um foram feitos, mais do que em tempos e continentes distintos, em condições diametralmente opostas. Ozualdo Candeias miolo.indd 12 15/10/2010 15:34:57 Considerado gênio por muita gente boa, como Vinicius de Moraes, Stroheim era visto por ou- tros tantos como impostor, pois se apresentava como oficial prussiano descendente de nobres da corte de Viena quando, na verdade, era filho de judeus pobres. Foi odiado pelos grandes estúdios americanos por suas extravagâncias caríssimas. Memórias do cinema que se tornaram quase lendas de Hollywood registram que ele chegou a torrar mais de 1 milhão de dólares, no início dos anos 1920, na construção de cenário que reproduzia a fachada de um palácio europeu. Truffaut o definiu no prefácio aos comentários de Bazin como o cineasta menos elíptico do mundo pois fazia durar 50 minutos as duas ou 13 três tradicionais cenas de introdução que seus colegas liquidavam em menos de 10.