Universidade De São Paulo
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LITERATURA BRASILEIRA STEPHANIE DA SILVA BORGES O teatro político brasileiro e as diferentes faces do seu engajamento Versão Corrigida São Paulo 2019 STEPHANIE DA SILVA BORGES O teatro político brasileiro e as diferentes faces do seu engajamento Versão Corrigida Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Literatura Brasileira do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da Universidade de São Paulo, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Letras (Literatura Brasileira). Orientador: Prof. Dr. João Roberto Faria. São Paulo 2019 Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. Este trabalho é dedicado às memórias de Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri. AGRADECIMENTOS Chegando ao destino final deste mestrado, vejo o quanto agradecer será insuficiente, tendo em vista toda a rede de suporte que tive. Escrever uma dissertação pode ser difícil e desgastante, ao menos para mim, há alguns anos afastada da vida acadêmica. De fato, este texto só existe graças à força de vontade que me obriguei a ter e à confiança e carinho das pessoas que me rodeiam. Primeiramente, agradeço aos meus pais, Jubimara e Eduardo, pelo apoio em todos os momentos, mas principalmente por me ensinarem o gosto dos livros e por sempre terem me proporcionado as condições e o incentivo aos estudos – da graduação à França, da segunda graduação até São Paulo. À FFLCH e à USP, pela afetuosa receptividade e enorme contribuição para minha formação acadêmica, em termos de estruturação das minhas descobertas. Ao Prof. Dr. João Roberto Faria, com quem o meu encontro foi de fundamental importância, pela orientação acolhedora e disponível (sem deixar de ser rigorosa e organizada), pelos estímulos intelectuais e críticos ininterruptos e pelos conhecimentos, convicções e confiança compartilhados durante os anos de pesquisa. Ao CNPq, pela bolsa concedida, sem a qual a minha mudança para São Paulo teria sido impossibilitada. Aos professores da banca – Maria Sílvia Betti, Luiz Fernando Ramos e Homero Vizeu Araújo –, que me honram por acompanharem o meu trabalho desde o exame de qualificação e/ou desde a Iniciação Científica, ainda na UFRGS, sempre com leituras generosas, avaliações críticas consistentes e considerações decisivas para o decorrer dos estudos. Ao meu companheiro na viagem e no enfrentamento da vida, Octávio, um alicerce na jornada da pós-graduação e um grande parceiro de reflexão, que me inspira a dar valor às vitórias e ter força para levantar de eventuais derrotas. Aos amigos (de São Paulo, de Porto Alegre e o de patas), por me oferecerem suas amizades reconfortantes, conselhos, trocas, ajudas solidárias, parcerias de pensamento e momentos de fôlego ao longo da trajetória do mestrado. Aos alunos que tive o prazer de encontrar nesses poucos anos como professora, por me mostrarem a aprendizagem na prática de ensinar e abrirem meus horizontes. Aos teatros Arena e Oficina, por suas obras e feitos tão necessários – a razão de tudo isso. A gente vai contra a corrente Até não poder resistir Chico Buarque. RESUMO BORGES, Stephanie da Silva. O teatro político brasileiro e as diferentes faces do seu engajamento. 2019. 172 f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019. A presente pesquisa de mestrado tem como objeto de estudo o teatro político brasileiro do pós-64 (ocasião do golpe civil-militar) e suas consequentes ramificações no campo da esquerda, visto que, embora apresentassem finalidades aparentemente comuns dentro desta mesma tendência de oposição e, ainda, resistissem às arbitrariedades da censura ditatorial, alguns dos principais dramaturgos e grupos teatrais do período mencionado acabaram envolvidos em um interessante embate ideológico, pois a noção de engajamento ampliava-se na época – o conceito teve origem na esquerda; no entanto, apresenta muitas nuances. Portanto, sem esgotar noções teóricas de engajamento político ou literário em teatro, julga-se importante clarificar o termo com propriedade e não adotar integralmente as concepções dos autores da literatura engajada do pós-guerra, embora estes sejam considerados em suas perspectivas políticas, filosóficas e estéticas. Assim, tendo em vista o conceito como chave de leitura, pretende-se mapear o engajamento de duas companhias teatrais brasileiras politicamente atuantes na década de 1960, Teatro de Arena e Teatro Oficina, examinando detidamente as realizações de Arena Conta Zumbi (1965) e de Roda Viva (1967-1968). Palavras-chave: Teatro político. Engajamento. Teatro de Arena. Teatro Oficina. Ditadura. ABSTRACT BORGES, Stephanie da Silva. Brazilian political drama and the different perspectives of its engagement. 2019. 172 f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019. The present research has its object of study in the political drama in Brazil post-1964 (when the civil-military overthrow) and its consequent ramifications in the left-wing field, since, although they had seemingly common left-winged purposes in the same opposition tendency and, yet, resisted to the arbitraries of the dictatorial censorship, some of the main playwrights and theatrical groups in the aforementioned period ended up involved in an interesting ideological clash, for the notion of engagement was expanded at the time – the concept was originated in the left wing; however, it presents many nuances. Therefore, without exhausting theoretical notions of political or literary engagement in drama, it is important to clarify the term properly, instead of fully adopting post-war engaged literature authors’ concepts, even though they are considered in their political, philosophical and aesthetic perspectives. Thus, bearing in mind the concept as the reading key, one intends to map the engagement of two political active Brazilian theatrical companies in the 1960s, Teatro de Arena and Teatro Oficina, examining the performances of Arena Contra Zumbi (1965) and Roda Viva (1967- 1968). Keywords: Political drama. Engagement. Teatro de Arena. Teatro Oficina. Dictatorship. SUMÁRIO UMA INTRODUÇÃO ENGAJADA ................................................................................... 10 1 ONDE ESTÃO OS ENGAJAMENTOS? ......................................................................... 16 1.1 Algumas noções de engajamento no Brasil ...................................................................... 16 1.2 Um engajamento politicamente plural .............................................................................. 22 2 O ZUMBI EM ARENA ...................................................................................................... 29 2.1 Os passos dados até Palmares ........................................................................................... 29 2.2 (En)cantando Zumbi ......................................................................................................... 49 3 E EIS QUE CHEGA A RODA VIVA “OFICINEIRA” ................................................. 100 3.1 As várias rodas ................................................................................................................ 100 3.2 A viva roda do Oficina .................................................................................................... 113 4 CONCLUSÕES PARCIAIS ............................................................................................ 157 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 166 10 UMA INTRODUÇÃO ENGAJADA Esta dissertação se propõe a analisar algumas respostas da arte de contestação à repressão, através de duas companhias teatrais, com o objetivo de aprofundar os estudos sobre o teatro político feito no Brasil à época ditatorial e suas diferentes formas de engajamento, pretendendo contemplar paralelamente distintos pontos de vista levados à cena. Para isso ser posto em prática, determinados elementos foram selecionados e problematizados ao longo da pesquisa: primeiramente, o próprio conceito de engajamento, compreendido como parte de movimentos culturais da época e, depois, dois grupos teatrais que representaram com excelência o espírito do período, se utilizaram de diversas maneiras dos trabalhos de seus autores e exploraram um tipo particular de engajamento intrínseco, concebendo duas atitudes perante o teatro, o que acabou ditando ideológica e esteticamente as suas dramaturgias e montagens de espetáculos, deixando importantes heranças até a contemporaneidade. Portanto, dentre os teatros que priorizavam o protesto contra o regime autoritário e/ou que começaram a tomar posição frente à perplexidade da cultura e da sociedade, o Teatro de Arena e o até então aliado Teatro Oficina se destacam, para além da presença do Grupo Opinião, a partir de 1964 – coligado, em parte, ao Arena e ao já esfacelado Centro Popular de Cultura (CPC), o Opinião foi o primeiro a responder ao golpe civil-militar. De tal modo, houve uma tensão permanente entre tais perspectivas artísticas: o engajamento simpático com o público do Teatro de Arena, ao revisar a história nacional, e a exposição brutal da desagregação burguesa