PROJETOS DE LEITURA FOCO NO VESTIBULAR

LUCÍOLA Editora: Ática Autor: José de Alencar

Aula 1: Biografia. Contexto histórico tema capitalista já estava consolidado, apontando para as implicações de se trazer as influências do romance fran- Objetivos cês, sobretudo, de Balzac. • Apresentar a biografia de José de Alencar e contextuali- • Analisar a obra sob a ótica nacional de um país dividido zá-la com sua obra. entre o escravismo e o capitalismo que surgia. • Identificar os principais elementos históricos do romantismo. • Entender que o livro é uma obra romântica com uma Estratégia descrição crítica da sociedade carioca da época próxima Nesta aula o professor deve caracterizar historicamente ao realismo. o Rio de Janeiro imperial por meio das próprias descri- ções de Alencar; em seguida, contextualizar o Brasil dessa Estratégia época, indicando a vida urbana da burguesia carioca em Para alcançar os objetivos pretendidos, é importante que ascensão e as relações de favor e escravistas arraigadas o professor introduza primeiramente a biografia do autor no ambiente nacional arcaico. Acrescentar a relação entre José de Alencar. Em seguida, as características principais a obra e o momento histórico-literário nacional, em que a do romantismo podem ser ilustradas por algumas passa- literatura buscava sua identidade. gens do próprio livro que o professor pode selecionar. É • Para sala: 1 interessante também traçar um paralelo com a outra obra • Tarefa mínima: 7 de Alencar, , para que fique ainda mais clara a • Tarefa opcional: 10 crítica que o autor faz à sociedade da época. Assim como Aula 3: Características das personagens comparar os dois perfis de mulher. • Para sala: 2 Objetivos • Tarefa mínima: 3 e 4 • Caracterizar os personagens da obra e entender o seu • Tarefa opcional: 5 processo de criação. • Destacar a importância de alguns personagens, como Aula 2: Principais características da escola literá- Lúcia e Maria da Graça. ria do autor. Análise da obra Estratégia Objetivos O professor deve destacar as características de formação • Apresentar ao aluno o contexto literário em que a obra das personagens, ou seja, o momento histórico no qual foi escrita. esses personagens foram criados e que tem forte influên- • Situar o romantismo na Europa, continente onde o sis- cia na obra alencariana em geral.

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• Para sala: 11 só em sua temática nacionalista, mas também nas inova- • Tarefa mínima: 12 ções no uso da língua portuguesa. Nesse sentido, e para • Tarefa opcional: 14 satisfazer critérios meramente didáticos, seus romances foram esquematicamente divididos em quatro temáticas Aula 4: A narrativa. Enredo principais: • romances indianistas: apropriam-se da tradição indí- Objetivos gena na ficção, como é o caso de O guarani, e • Entender os aspectos fundamentais da obra. . • Analisar a obra criticamente. • romances históricos: contam episódios marcantes da • Situar a temática da obra, seu enredo e a relação tem- história brasileira de forma literária, como foi o caso de As po/espaço. minas de prata, e Alfarrábios, os • Entender os jogos narrativos. quais se compõem de três narrativas menores, O garatuja, • Relacionar autor, narrador e foco narrativo em 1ª pessoa. O ermitão da glória e Alma de Lázaro. Estratégia • romances regionalistas: mostram as peculiaridades O professor deve fazer a leitura do primeiro capítulo para culturais da sociedade rural brasileira, que se comportava explicar a relação entre o narrador Paulo e o pseudônimo de modo diverso da Corte. Os exemplos são: O gaúcho, de José de Alencar, G. M., que organiza o livro, ou as car- que representa os pampas do Rio Grande do Sul; O serta- tas de Paulo. É necessário que o professor explique que o nejo, que fala sobre o Nordeste; , sobre a zona rural do autor usava o pseudônimo G. M. e mantinha sempre uma interior paulista; e O tronco do ipê, que se desenvolve na relação direta com os protagonistas da ação, de modo zona da mata fluminense. a conferir veracidade àquilo que narrava. Em seguida, é • romances urbanos: descrevem a sociedade urbana da importante ler trechos da obra que apontem a descrição época, como é o caso de e Pata da gazela, além do tempo/espaço da ação e as descrições minuciosas de daqueles que constituem os chamados “Perfis de Mulher”, Alencar. como Diva, Lucíola e Senhora. Há ainda Encarnação, publi- A partir do conflito central da obra entre amor e socieda- cação póstuma, e Sonhos d’ouro. de, ou melhor, o amor moral, ideal e os preconceitos da José de Alencar era um grande estudioso de teoria literária sociedade capitalista em ascensão, o professor deve sele- e possuía uma concepção do que deveria ser a literatura cionar alguns trechos do livro em que essa contradição es- brasileira. Nesse contexto, ficou muito conhecida a polêmi- teja explicitada e lê-los com os alunos procedendo a uma ca das Cartas da Confederação de Tamoios, em 1856, em análise crítica da obra literária. Para tanto, será importante que Alencar criticava com veemência o poema épico de ressaltar de que forma é tratado o amor (idealizado) e Domingos Gonçalves de Magalhães, escritor considerado como o preconceito expresso por Paulo em relação à con- ícone da literatura nacional e o preferido do imperador Dom dição de Lucíola deixa clara essa contradição entre o amor Pedro II. O problema, para Alencar, estava no gênero épico. que ele sente por ela e o que ele e a sociedade pensam Segundo o escritor cearense, esse gênero não condizia com da condição dela. a expressão dos sentimentos e a forma de uma literatura • Para sala: 6 nascente. Assim, sua opção é pela narrativa de ficção, o • Tarefa mínima: 8 e 15 romance, sobretudo, que é um gênero moderno e livre. • Tarefa opcional: 9 e 13 Em 1856, estreia na ficção com o romanceCinco minutos, seu primeiro livro conhecido e, um ano depois, publica O BIBLIOGRAFIA guarani em folhetim, depois em livro, o que lhe conferiu José de Alencar é um dos maiores escritores do romantis- grande notoriedade. Iracema é elogiado calorosamente mo brasileiro. O autor empenhou-se num projeto literário num artigo de jornal, em 1866, por Machado de Assis, nacional em que se constituiria a literatura brasileira não o que leva o autor a escrever uma autobiografia crítica,

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Como e por que sou romancista, confessando a alegria desentendimentos estéticos e políticos com D. Pedro II. com a crítica machadiana. Porém, por não conseguir se eleger senador, retirou-se Nesse texto, Alencar relembra os anos de sua formação e da vida política. No entanto, pôde contribuir de maneira fala dos serões da infância, em que lia em voz alta para a fundamental para a literatura brasileira. Morreu de tuber- mãe e para as parentas, até ficar a sala toda em prantos. culose aos 48 anos, em 1877, ano em que escrevera seu Os livros eram Amanda e Oscar, Saint-Clair das ilhas, Ce- último romance, Encarnação, que só foi publicado postu- lestina e outros. mamente. Menciona também os gabinetes de leitura, a biblioteca romântica de seus colegas, nas repúblicas estudantis em CONTEXTO HISTÓRICO São Paulo – Balzac, Dumas, Vigny, Chateaubriand, Hugo, Para compreender o contexto histórico do romantismo de Byron, Lamartine, Sue, mais tarde Scott e Cooper – e a im- um modo geral, é essencial levarmos em conta dois acon- pressão que então lhe causara o sucesso de A moreninha, tecimentos que determinam sua origem, o surgimento do o primeiro romance de Joaquim Manuel de Macedo. capitalismo como sistema que modifica as relações eco- Dessa forma, é possível vislumbrar que Alencar tinha in- nômicas e cria na Europa uma nova organização política clinações modernas e o desejo de nutrir o país com uma e social e os ideais liberais, levados a cabo na Revolu- literatura também moderna que contribuísse para a for- ção Francesa: de liberdade, que se traduzirá em liberda- mação da nação brasileira. E, assim, a obra alencariana de para se trabalhar; igualdade, que equivalerá apenas representa um grande significado para as letras brasileiras a uma igualdade formal, perante a lei, e a fraternidade, não só pela abundância de descrições, versatilidade e lim- que promulga a Declaração dos Direitos do Homem como pidez nos discursos idealizadores das relações humanas, universais. No entanto, nesse documento universal estava tanto no campo/selva como na cidade, mas também por defendida a propriedade privada como direito sagrado e ter facilitado a tarefa de nacionalização da literatura brasi- inviolável, o que acarreta uma divisão de classes. leira e por consolidar o gênero romance no Brasil, sendo, na verdade, seu grande criador. Adentrando ainda mais na sua vida pessoal, é importante Os ideais de revolução, representa- complementar que José Martiniano de Alencar nasceu em dos no quadro A Liberdade guiando Messejana, hoje bairro da cidade de Fortaleza, Ceará, em o povo, de Eugène Delacroix, 1829, final do Primeiro Reinado. Era filho de um senador concorreram para o crescimento e do Período Regencial que exerceu influência no jogo po- a consolidação do romantismo na Europa, principalmente na França e lítico que levou D. Pedro II à maioridade. Ainda menino, na Inglaterra. com apenas 10 anos, mudara-se para o Rio de Janeiro, onde estreia como escritor em 1854, escrevendo crônicas no Correio Mercantil. Essa sua produção será mais tarde Nesses termos, é importante lembrar que a Revolução agrupada no volume chamado Ao correr da pena. Ao con- Francesa é uma revolução burguesa, em que a burgue- cluir os estudos secundários na Corte, transfere-se para sia ascende como classe dominante. O sistema capitalis- São Paulo em 1845 para cursar a Faculdade de Direito. ta, por sua vez, prevê uma sociedade de classes, já que Essa permanência na cidade paulistana fornece ao autor pressupõe os exploradores, ou seja, aqueles que detêm os o contato com a moda da poesia byroniana, liderada por meios de produção, e os explorados, aqueles que detêm Álvares de Azevedo. unicamente a sua força de trabalho. Alencar dedicou-se muito à advocacia e à vida política, Nessa sociedade de burgueses e proletariados, a explora- tendo sido eleito diversas vezes deputado. Durante a ção do trabalho alienado e as relações mediadas pelo di- Guerra do Paraguai, foi ministro da Justiça, apesar dos nheiro são as normas. Essas profundas transformações na

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estrutura da sociedade como um todo são o terreno fértil da Corte ou da sociedade fluminense na segunda metade em que o romantismo europeu irá florescer. No Brasil, no do século XIX, ou seja, o texto focaliza a época em que o entanto, o romantismo cresce em outro cenário. próprio escritor viveu.) O país era agrário e recém-tornado independente, dividi- No entanto, Alencar não aprofunda sua crítica social e, por do em latifúndios, cuja produção dependia por um lado do isso, seu romance não poderia ser realista, pois a solução trabalho escravo e por outro do mercado externo, já que que oferece às ambiguidades locais, e mesmo às de todo nossa economia sempre esteve voltada para a exportação o romance, é uma saída moralista, romântica e idealizada. de matérias-primas. Para ir ainda mais fundo nas contra- A idealização do amor como salvação para as relações dições, vale lembrar que os latifúndios escravistas haviam mercantis que a sociedade impõe, além da pompa e dos sido em sua origem um empreendimento do capital co- ornamentos românticos para se descrever as personagens mercial e, portanto, o lucro fora sempre o seu pivô. Aliás, é e seus caracteres, remetem Senhora para aquilo que se importante destacar que o lucro sempre fora a prioridade convencionou chamar de romance urbano de Alencar, ob- comum tanto nas formas mais antiquadas do capital como viamente que dentro da escola literária do romantismo, já nas mais modernas. que sua temática, apesar dos elementos de crítica realis- A situação de D. Pedro II, por exemplo, representava a ta, é fundamentalmente romântica. própria contradição em questão: o imperador se via pres- Por conseguinte, as implicações que a importação do ro- sionado pela burguesia e pelo mercado inglês, com o qual mantismo, que já existira na Europa antes de nascer no tinha relações capitalistas já estabelecidas, bem como Brasil, traz para essas terras são expressas na obra de pela pequena elite escravocrata brasileira que o levou ao Alencar ao adotar o modelo balzaquiano de composição poder. Assim, escravismo e capitalismo conviviam juntos romanesca e observação social, conservando um certo na mesma terra. ranço moralista inexistente na visão de mundo de Balzac. A urbanização da cidade do Rio de Janeiro, por conta da • Para sala: 2 transferência da Corte, criava uma sociedade consumidora • Tarefa mínima: 3 e 4 • Tarefa opcional: 5 representada pela aristocracia rural, pelos profissionais li- berais e por jovens estudantes, todos em busca de “entre- tenimento”; o espírito nacionalista a exigir uma “cor local” PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS para os romances, e não a mera importação ou tradução DA ESCOLA LITERÁRIA DO AUTOR de obras estrangeiras; o jornalismo vivendo seu primeiro O romantismo surge no fim do século XVIII. A publicação grande impulso e a divulgação em massa de folhetins; o na Alemanha de Werther, por Goethe, lança as bases de- avanço do teatro nacional. Esses são alguns dos fatos que finitivas do sentimentalismo romântico e do escapismo explicam o aparecimento e o desenvolvimento do roman- pelo suicídio. Em 1781, Schiller lança Os salteadores, inau- tismo no Brasil. gurando a volta ao passado histórico; mais tarde, escreve Alencar critica a sociedade que lhe é contemporânea não o drama Guilherme Tell, em que transforma o persona- a partir da perspectiva de uma transformação futura, mas gem em herói da luta pela independência nacional. Na na da nostalgia de um passado que só na ficção pode Inglaterra, o romantismo se manifesta nos primeiros anos reviver plenamente. De qualquer modo, é em Senhora e do século XIX com Lord Byron e sua poesia ultrarromân- Lucíola que atinge o ponto alto em termos de crítica social tica, além do romance histórico Ivanhoé, de Walter Scott. e procura se aprofundar na psicologia das personagens fe- De qualquer forma, coube à França o papel de divulgar o mininas, traçando o que se convencionou chamar de seus romantismo, principalmente no Brasil (DE NICOLA, 1998). “perfis de mulher”. Senhora( , enquanto romance urbano, A escola romântica precisa ser entendida como um es- anterior ao advento do realismo em nossa literatura, é tilo de época delimitado no tempo, um período que se fundamentalmente uma crônica de costumes, um retrato inicia nos últimos anos do século XVIII e se estende até

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meados do século XIX. Nos seus primórdios, romântico se tornou uma aparência, um objeto para si mesmo; era tudo aquilo que se opunha ao clássico. Os modelos da uma vez que sua essencialidade mais própria e in- Antiguidade Clássica eram substituídos pelos últimos anos trínseca lhe é contraposta apenas como exigência da Idade Média em que surgia a burguesia. Por isso, o infinita num céu imaginário do dever-ser; uma vez surgimento dessa escola está completamente atrelado ao que ela tem de emergir de um abismo inescrutável nascimento da burguesia como classe social dominante. que reside no próprio sujeito, uma vez que a essên- As raízes históricas desse movimento podem ser encon- cia é somente aquilo que se eleva desse fundo mais tradas já na metade do século XVIII, quando o processo profundo e ninguém jamais foi capaz de pisar-lhe ou de industrialização havia modificado as antigas relações visualizar-se a base. econômicas, criando na Europa uma nova forma de orga- No Brasil, o momento histórico em que o romantismo nização política e social que muito influenciaria os tem- surge se relaciona com a chegada da Corte, no Rio de pos modernos, o sistema capitalista. Outro grande marco Janeiro, em 1808. Nesse período, a cidade passa por um dessas mudanças é a Revolução Francesa. Assim, na Eu- processo intenso de urbanização e, com a vida urbana da ropa, em consequência do processo de industrialização e nova burguesia, a divulgação das influências europeias da ascensão da burguesia ao poder político, o plano social encontrava um campo propício. delineia-se em duas classes distintas e antagônicas, em- Após 1822, cresce no Brasil independente o sentimento bora atuassem juntas durante a Revolução: a classe domi- de nacionalismo, a busca pelo passado histórico, a exalta- nante, representada pela burguesia capitalista industrial, e ção da natureza pátria; na realidade, eram tendências já a classe dominada, representada pelo proletariado. cultivadas na Europa que se encaixavam perfeitamente à Nesse sentido, não se pode analisar características como necessidade brasileira de ofuscar profundas crises sociais, o nacionalismo, o sentimentalismo, o subjetivismo, o ir- financeiras e econômicas e, principalmente, se fundar racionalismo, tão marcantes do romantismo inicial, sem como nação. mencionar seu caráter ideológico, ou seja, suas relações Houve uma nítida evolução no comportamento dos auto- com a burguesia e seu contexto histórico. res românticos: há semelhanças entre os autores de uma A Revolução Francesa e o movimento romântico marcam mesma fase, mas a comparação entre os primeiros e os o fim de uma época cultural em que o artista se dirigia a últimos representantes do período revela profundas dife- uma sociedade, a um grupo mais ou menos homogêneo, renças. No caso brasileiro, por exemplo, há uma distância a um público cuja autoridade reconhecia absolutamente. considerável entre a poesia de Gonçalves Dias e a de Cas- No romantismo, a arte deixa de ser uma atividade social tro Alves. Daí surge uma necessidade didática de se dividir orientada por critérios objetivos e convencionais e trans- a poesia do romantismo em fases ou gerações. forma-se numa forma de autoexpressão que cria os seus próprios padrões; numa palavra: torna-se o meio empre- Primeira geração: nacionalista ou indianista gado pelo indivíduo singular para se comunicar com indi- Marcada pela exaltação da natureza, à volta ao passado víduos singulares. histórico, ao medievalismo e à criação do herói nacional, fi- gura do índio. Outras características são o sentimentalismo Georg Lukács, em A teoria do romance, descreve inicial- e a religiosidade. Podemos destacar como principais auto- mente como eram as chamadas culturas fechadas, a cul- res dessa fase: Gonçalves Dias e Gonçalves de Magalhães. tura antiga, e analisa as formas da grande época. Numa passagem, o filósofo fala que o significado de ser homem Segunda geração: mal do século no Novo Mundo é ser solitário e complementa: Fortemente influenciada pela poesia de Lord Byron e de E quem poderá saber se a adequação do ato à essên- Musset, é também chamada de geração byroniana. Im- cia do sujeito, o único ponto de referência que restou, pregnada de egocentrismo, negativismo, pessimismo, dú- atinge realmente a substância, uma vez que o sujeito vida, desilusão adolescente e tédio constante – caracterís-

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ticas do ultrarromantismo, o verdadeiro mal do século –, seu mente o amor sempre vence. Em Senhora, o conflito se tema preferido é a fuga da realidade, que se manifesta na dará na relação amor e dinheiro, e mais uma vez o amor idealização da infância, nas virgens sonhadas e na exal- vence. O conflito principal presente em Lucíola está entre tação da morte. Os principais poetas dessa geração foram o amor e a sociedade, já que a protagonista é uma jovem Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu. prostituta que se julga indigna de um verdadeiro amor. Em todos os romances podemos depreender os conflitos du- Terceira geração: condoreira ais típicos do romantismo e as saídas românticas de Alencar, Caracterizada pela poesia social e libertária, reflete as lu- apontando sempre para o amor como salvação para os ma- tas internas da segunda metade do reinado de D. Pedro les do progresso, do capitalismo e da burguesia em ascensão. II. Essa geração sofreu intensamente a influência de Victor Hugo e de sua poesia político-social, daí ser também co- Dessa forma, podemos compreender a concepção alenca- nhecida como geração hugoana. O termo condoreirismo riana moral em relação ao amor e às mulheres. é consequência do símbolo de liberdade adotado pelos As mulheres dos romances de Alencar encantam pela sua jovens românticos: o condor, ave que habita o alto da cor- personalidade forte e, num primeiro momento, anticon- dilheira dos Andes. Seu principal representante foi Castro vencional, pois fogem aos padrões de comportamento Alves, seguido por Tobias Barreto e Sousândrade. esperados pela sociedade da época. Construídas a partir da ótica masculina, vão sendo conhecidas por meio de Na prosa, José de Alencar não destoa do romantismo em seus “defeitos”, qualidades e valores impostos por essa voga. A sua visão de mundo é baseada na emoção, e o sociedade burguesa. Essas mulheres serão protagonistas mundo urbano, com seus problemas políticos e econô- de romances que mostram os vícios de uma sociedade micos, o aborrece, por isso foge para o passado; escapa contraditória, que prega (timidamente) a superioridade para os lugares selvagens. Suas obras procuram retratar moral da mulher em relação ao homem, mas que a trata um Brasil e personagens mais ideais do que reais, mais como um objeto sexual de luxo. como ele gostaria que moralmente fossem (românticos É necessário entender os perfis das mulheres nas obras e moralistas) do que objetivamente eram (realistas). O de Alencar, observando como elas atuam dentro da so- romance Senhora é de características definidas de forma ciedade fluminense no século XIX e tentando desvendar romântica, mas que já traduz uma temática realista: a crí- o modo como o autor cearense concebe a alma feminina tica ao casamento burguês. Já Lucíola, publicado em 1862, em conflito na sociedade capitalista, cujos valores vão se é o primeiro livro da trilogia “Perfis de Mulher”. O livro traz modificando com o progresso e com o novo conceito de características inequivocamente românticas, abordando a moralidade. O capitalismo traz a dialética da vida pública situação social e familiar da mulher, em face do casamen- e da vida privada, determinando o espaço e o papel da to e do amor. mulher socialmente. Lúcia e Aurélia, protagonistas de Lucíola e Senhora, por ANÁLISE DA OBRA exemplo, revelam e reforçam os ideais românticos ao Lucíola é o primeiro dos romances urbanos de José de mesmo tempo em que refletem, por meio do discurso Alencar. Além da vida da sociedade carioca descrita em alencariano, as mazelas de uma sociedade que vive a seu romance, o livro inaugura também a temática “Perfis mercantilização da existência humana. Deve-se analisar de Mulher”, como o próprio autor chamara. a posição de Alencar em relação aos sentimentos femini- Nesse sentido, podemos entender o tema central de Lu- nos, na forma como é apresentado o amor. Este é capaz cíola como um romance que aborda a situação social e de se submeter à vilania e à corrupção econômica, mas familiar da mulher diante do casamento e do amor. As se faz forte o bastante para superar toda e qualquer difi- outras duas obras cujas mulheres são as protagonistas, culdade. Assim, o valor mais alto, que é o amor, permite Diva e Senhora, também tratam desse assunto. tanto a Lúcia quanto a Aurélia conhecerem a si mesmas Em Diva, o conflito está entre o amor e o ódio, mas obvia- por meio do outro – Paulo e Fernando – estabelecendo a

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ordem da sociedade patriarcal. sem vestir o manto da santidade ou desrespeitar o lu- A mulher romântica, dotada de beleza sem igual, cumpre gar sagrado, reservado ao “amor conjugal” – o lar. Por ser sua tarefa de receber e fazer visitas, frequentar óperas, uma cortesã, não tem as mesmas responsabilidades que teatros e festas, onde revela toda sua sensualidade por a mulher casada, e seu espaço é o da rua, já que ganha meio das roupas e joias que usa, ostentando a riqueza seu sustento com a venda do seu corpo. Segundo Regi- sem ferir, porém, a moral dominante. na Pontieri (1988, p. 39), Lúcia abdica também de sua individualidade, pois satisfaz os desejos daqueles que a Lúcia e Aurélia representam a consciência das relações procuram, despertando o prazer do pecado, da concupis- arbitrárias impostas à mulher na sociedade oitocentista, cência da carne manifestada tanto no olhar que desnuda embora acabem reforçando a ideologia vigente. Podiam a corporeidade, como no corpo que se exibe ao olhar. se impor, desligar-se de tudo e se tornar independentes dessa sociedade, pois tinham seu próprio dinheiro, eram Ao criar Lúcia e Aurélia, José de Alencar provoca a socie- inteligentes e bonitas. Só se realizavam, porém, na sub- dade da época, que vive em função do dinheiro em detri- missão ao ser amado, resgatando, no romance romântico, mento do amor. A estratégia de colocar mulheres porta- os valores da sociedade patriarcal. O sentimento amoro- doras de um discurso moralizante reforça a ideia vigente so, que contraditoriamente essa sociedade relega a um de que a mulher é moralmente superior ao homem. Lúcia, segundo plano, faz com que essas figuras femininas, tão apesar de se entregar aos prazeres da carne, traz a dor, dominadoras, se ajustem a uma posição moral e social o peso do desprezo da família que salvou vendendo seu que delas se espera. corpo; acaba se “regenerando” e tem seu próprio código de honra: não se entregar nunca mais ao seu algoz, o É nesse sentido que podemos entender Lúcia, protago- Couto. Aurélia, por sua vez, condena o casamento por di- nista de Lucíola. Como uma prostituta, possuía liberdade nheiro e a sociedade que se utiliza deste para corromper e dinheiro, porém seu comportamento e a função que as pessoas. Contudo, essas mulheres refletirão as contra- ocupava na sociedade eram contrários à moral vigente, dições dessa sociedade que exige delas a manutenção da sofrendo, portanto, preconceito, inclusive de Paulo, que a moral, mas que as expõe como objetos de luxúria, des- amava. pidas de pureza e castidade, simbolizando o desejo de Para essa personagem alcançar o ideal romântico de mu- serem possuídas. lher, Lúcia se movimenta na ação do romance ascenden- A sociedade, indiferente ao sofrimento de Lúcia e à sua do para um processo de purificação. A pureza de sua alma luta para salvar a família, joga-a ao mundo dos negócios só será alcançada por meio do amor (nos termos român- escusos, à venda de seu corpo. A partir desse momento, a ticos) de Paulo. O que deixa implícita que uma mulher na menina, pura que era, assume uma nova personalidade, sociedade dessa época só poderia realizar-se plenamente enterrando a doce e meiga Maria da Glória. Com nova no amor puro e no relacionamento conjugal. Nesse movi- identidade, Lúcia tenta se adaptar ao novo mundo e usa mento, ela vai aos poucos abdicando de sua liberdade de sua beleza altiva e a avareza para sobreviver. Mas as suas cortesã e reduzindo seus luxos de moça rica para entre- lembranças e o seu coração bom e puro não são tocados gar-se a Paulo. por nenhum homem, que pode até possuir o seu corpo, Porém, para ser ainda mais condizente com os ideais ro- mas nunca sua alma. Paulo aparece em sua vida como um mânticos, Alencar aponta a morte como caminho natural salvador, só ele consegue enxergar a pureza da sua alma, de Lúcia, pois a regeneração de seu corpo não pôde ser al- só ele a vê de forma diferente da dos outros homens. O cançada, visto que seu passado de prostituta a condenava. seu salvador, porém, não a assume nunca publicamen- O romancista parece querer demonstrar que só o caminho te, nem no momento em que ela resgata sua verdadeira do amor é que salva, no entanto, alguns valores morais identidade, ao final do romance. Ele a ama, mas não ver- precisam ser preservados acima de tudo. baliza esse amor, e quando o faz já é muito tarde. Lúcia O que Lúcia tem a oferecer é mais prazer do que amor, também não exige nada desse homem que ama, porque

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sabe que a vida de uma mulher (de seu tempo) é a sua festações desse subjetivismo romântico. honra, e se não a tem mais não precisa viver. A primeira grande manifestação de subjetivismo está na Curioso, ainda, é que depois de abandonar a prostituição, própria estrutura narrativa do romance. Trata-se de um ro- Lúcia faz questão de não ter mais nenhuma intimidade mance de “primeira pessoa”, em que a história é narrada com Paulo. Ao se castigar dessa forma, sublima a relação do ponto de vista de uma só pessoa. No caso, Paulo. Tudo amorosa dos dois. Para se punir mais ainda, afasta-se de gira em torno do que ele viu, pensou, sentiu junto e em tudo e de todos, não seria mais possível viver nos lugares relação a Lúcia. Tudo, portanto, muito individual. Já no ca- ricos do Rio de Janeiro, que representavam sua degrada- pítulo I, Paulo esclarece que escreveu essas páginas para ção. Então, sai da cidade, indo morar numa casa humilde, se justificar perante uma senhora que estranhou a“ minha em Santa Teresa. (dele) excessiva indulgência pelas criaturas infelizes, que Lúcia, embora forte e corajosa, desce ao inferno. É um ca- escandalizam a sociedade com a ostentação do seu luxo minho sem volta, acredita que para ela não existe perdão. e extravagância”. Para isso, “escrevi as páginas que lhe Foi uma devassa, ordinária, que não tinha amor próprio e envio, as quais a senhora dará um título e o destino que se expunha de tal maneira que assustava até mesmo as merecerem. É um ‘perfil de mulher’ apenas esboçado”. outras cortesãs. Encontra, no seu amor por Paulo, forças A segunda considerável manifestação de subjetivismo para recuperar a dignidade da alma intocada, a virgindade está na oposição indivíduo x sociedade. No romance, Pau- do coração, como diz Lúcia, se desprendendo do dinheiro lo e Lúcia ora se insurgem contra as convenções sociais: e da vida mundana. Não tem, porém, forças para começar “Que me importa o que pensam a meu respeito?”, ora uma vida nova ao lado de Paulo. As cortesãs não podiam, satisfazem essas mesmas convenções, embora sempre segundo “as normas sociais vigentes”, ser felizes, abenço- reafirmando o próprio “eu” e fazendo a sua personalidade. adas com o matrimônio e a maternidade. – ... Há certas vidas que não se pertencem, mas à As atitudes de Lúcia se explicam porque o escritor – Alen- sociedade onde existem. Tu és uma celebridade pela car – dará vida a sua personagem segundo suas vivências beleza. O público, em troca do favor e admiração de e a da sociedade em que vive, sem ferir os padrões da que cerca os seus ídolos, pede-lhes conta de todas época, apesar de “denunciar a falsa moral vigente”. as suas ações. Quer saber por que agora andas tão A cortesã avarenta, promíscua, sedutora e lasciva, que retirada. também usa os homens como quer, é inadmissível para – Ah! Esquecia que uma mulher como eu não se per- a sua época, porque depõe contra a “função natural” da tence; é uma coisa pública, um carro de praça que mulher. Para as mulheres do século XIX, Lúcia represen- não pode recusar quem chega... taria a coerção que uma mulher deve sofrer por entregar A temática central está exatamente na exaltação do amor o corpo como uma mercadoria, por isso seu destino é a como força purificadora, capaz de transformar uma prosti- morte, já que se afastou dos padrões aceitos de morali- tuta em uma amante sincera e fiel. dade. Nesse sentido, a mulher oitocentista deve perceber – O amor purifica e dá sempre um novo encanto ao que, sendo ela guardiã da moral, não pode se esquecer prazer. Há mulheres que amam toda a vida; e o seu do seu papel na sociedade: a de mantenedora da ordem coração, em vez de gastar-se e envelhecer, remoça familiar. como natureza quando volta a primavera. Analisando os aspectos românticos do livro, podemos di- Tive força para sacrificar-lhes outrora o meu corpo zer que o mundo do romântico gira em torno do seu “eu”: virgem; hoje depois de cinco anos de infâmia, sinto do que ele sente, do que ele pensa, do que ele quer. Por que não teria a coragem de profanar a castidade de isso, o poeta e a personagem na ficção romântica estão minha alma. Não sei o que sou, sei que começo a em contínua desarmonia com os valores e as imposições viver, que ressuscitei agora, disse Lúcia após sentir a da sociedade e/ou da família. afeição de Paulo. Em Lucíola encontram-se pelo menos duas grandes mani- E o romance termina com esta exaltação ao amor, bal-

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buciada por uma prostituta regenerada por esse mesmo ce, tais como imaginação e fantasia, culto à natureza, amor, momentos antes de sua morte: “Eu te amei desde senso do mistério, exagero. Mas são de importância se- o momento em que te vi! Eu te amei por séculos nes- cundária. tes poucos dias que passamos juntos na terra. Agora que Em Lucíola, a natureza aparece para o leitor como um a minha vida se conta por instantes, amo-te em cada alívio das tensões dos dramas humanos. momento por uma existência inteira. Amo-te ao mesmo Quanto à descrição dos personagens, Alencar parece se tempo com todas as afeições que se pode ter neste mun- preocupar antes com o aspecto externo para depois che- do. Vou te amar enfim por toda a eternidade”. gar ao temperamento. Antes mesmo de o leitor saber O romance é impregnado da ideia de morte, pois Lúcia quem era ela, já Alencar lhe mostrou o retrato de Lúcia está continuamente a se queixar de uma doença miste- no capítulo II: “Admirei-lhe do primeiro olhar um talhe es- riosa que Paulo não compreende nem aceita, supondo belto e de suprema elegância. O vestido que o moldava tratar-se de refinada desculpa para não se entregar a ele era cinzento com orlas de veludo castanho e dava esqui- sexualmente. Lúcia não acredita nem admite que uma sito realce a um desses rostos suaves, puros e diáfanos, mulher como ela possa usufruir das alegrias e dos gozos que parecem vão desfazer-se ao menor sopro, como os do amor conjugal, dando ao esposo “o mesmo corpo que tênues vapores da alvorada. Ressumbrava na sua muda tantos outros tiveram”. Seria uma profanação do verda- contemplação doce melancolia e não sei que laivos de deiro amor. “O amor!... o amor para uma mulher como eu tão ingênua castidade, que o meu olhar repousou calmo seria a mais terrível punição que Deus poderia infligir-lhe! e sereno na mimosa aparição”. Mas o verdadeiro amor d’alma.” Na passagem seguinte, Alencar nos conduz do exterior Diante, portanto, da impossibilidade de realização de um ao interior de Lúcia: “O rosto suave e harmonioso, o colo amor puro, só resta a Lúcia, como personagem de um e as espáduas nuas, nadavam como cisnes naquele mar romance genuinamente romântico, uma saída: a morte. de leite, que ondeava sobre formas divinas. A expressão Nem mesmo um filho ela merece, pois seria o fruto de angélica de sua fisionomia naquele instante, a atitude um amor vilipendiado. “Um filho, se Deus mo desse, seria modesta e quase íntima, e a singeleza das vestes níve- o perdão da minha culpa! Mas sinto que ele não poderia as e transparentes, davam-lhe frescor e viço de infância, viver no meu seio!” E, numa atitude típica de heroína ro- que devia influir pensamentos calmos, senão puros”. mântica, Lúcia anseia morrer nos braços do homem ama- No que concerne ao vestuário feminino, é inegável a in- do: “Ainda quando soubesse que morreria nos seus bra- fluência que Balzac exerceu em Alencar: Lúcia“ fitou-se ços... Que morte mais doce podia eu desejar!” “... desejava por muito tempo, e chegou-se ao espelho para dar os que fosse possível morrermos assim um no outro... uma só últimos toques ao seu traje, que se compunha de um ves- vida extinguindo-se num só corpo!”. E assim se fez. Morreu tido escarlate com largos folhos de renda preta, bastante ao lado do ser amado, dizendo-lhe: “vou te amar enfim por decotado para deixar ver suas belas espáduas, de um filó toda a eternidade. (...) Recebe-me... Paulo!”. alvo e transparente que flutuava-lhe pelo seio cingindo o O romance todo, do início ao fim, está impregnado de colo, e de uma profusão de brilhantes magníficos capaz uma atmosfera melancólico-sentimental. Os paradoxos, de tentar Eva, se ela tivesse resistido ao fruto proibido. o comportamento ora excêntrico, ora dúbio de Lúcia, ora Uma grinalda de espigas de trigo, cingia-lhe a fronte e virtuoso, ora pecaminoso, que vai lançando Paulo numa caía sobre os ombros com a vasta madeixa de cabelos, dúvida angustiante: a própria duplicidade comportamen- misturando os louros cachos aos negros anéis que brin- tal de Paulo, generoso e mesquinho, compreensivo e in- cavam”. transigente, correto e pilantra; tudo isso dá à intriga do As comparações de Alencar, geralmente, referem-se aos romance um atrativo todo especial que, por sua vez, atrai personagens, ora em seus detalhes físicos, ora em seus e aborrece o leitor. estados de alma, ora em seus atributos morais. O segundo Há ainda outras manifestações de romantismo no roman- termo da comparação é composto, na esmagadora maio-

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ria das vezes, de elementos da natureza: reino vegetal, anos, pura e cândida. Também Paulo é contraditório: vil animal ou mineral. Uma confirmação do que se disse está e magnânimo, entre o amor puro e o preconceito moral. neste pequeno trecho: “Como as aves de arribação, que Das muitas oposições enfocadas no livro, esta é a mais im- tornando ao ninho abandonado trazem ainda nas asas portante, agindo como base do enredo e do foco narrativo. o aroma das árvores exóticas em que pousaram nas re- Trata-se de uma tendência própria do romantismo que se motas regiões, Lúcia conservava do mundo a elegância traduz na “desarmonia” de situações e sentimentos. e a distinção que se tinham por assim dizer impresso e Há uma dualidade no caráter de Lúcia: de um lado a mu- gravado na sua pessoa”. lher, meretriz, depravada, desprezada pela sociedade, en- As desarmonias também são marcantes no romance. A carnação do mal; de outro, a menina inocente que ainda luxúria do velho Couto, por exemplo, e mais tarde a prá- teima em subsistir nela, por mais terríveis que tenham sido tica do vício torcem a personalidade de Lúcia. A forma os imperativos do vício naquela alma. É a permanência do refinada desse sentimento da discordância é certa preo- bem. “Havia no meu coração certos germes de virtude cupação com o desvio do equilíbrio fisiológico ou psíquico. que eu não podia arrancar, e que ainda nos excessos do Relembre-se a depravação com que Lúcia se estimula e se vício não me deixavam cometer uma ação vil.” E, durante castiga ao mesmo tempo, e cujo momento culminante é todo o tempo, pretende o autor convencer o leitor da “cria- a orgia promovida por Sá – orgia espetacular, com tapetes tura angélica” que habita o corpo da pecadora, da “mulher de pelúcia escarlate, quadros vivos obscenos, flores e tudo que no abismo da perdição conserva a pureza d’alma”. E à meia-luz –, ultrapassando o realismo de qualquer outra é essa Lúcia de “coração virgem”, purificada, que renasce cena em nossa literatura. nos últimos capítulos graças ao amor de Paulo. Dentre muitos exemplos que se poderiam dar de “desar- E chega-se, afinal, à temática básica de Lucíola. A intriga monia” de situações, está o contraste entre Maria da Gló- é calcada em assunto romântico: a situação social da mu- ria e Lúcia: aquela, pobre, simples, escondida; esta, rica, lher em face do amor. Do “amor” como o concebe o ro- caprichosa, pública. Mas isso já é um conflito entre o pas- mantismo: sublimado, capaz de renúncias, de sacrifícios, sado e o presente. Porém, os contrastes mais importantes de heroísmos, que está acima dos fatores socioeconômi- na técnica narrativa do livro são aqueles relacionados às cos, e triunfa apesar das convenções sociais. pessoas e aos sentimentos. De Paulo e Lúcia, naturalmente. Em Lucíola, o triunfo do amor não foi “na linha do finalfe - A mesma Lúcia que compôs recatadamente o roupão ante liz”. Lúcia passará por um processo de transformação (ou os olhos ávidos e voluptuosos de Paulo, que vislumbrava renascimento) que fará desabrochar a adolescente pura e o simples contorno de um seio, foi capaz de desfilar nua ingênua que fora um dia, ao mesmo tempo em que irá na ceia em casa do Sá. Ela é assim: contraditória. Ama e eliminando a cortesã impudica. E a protagonista alcança, odeia. Atira-se ao vício e tende para a virtude, segundo portanto, a purificação por meio do amor espiritual, que suas próprias palavras: “Eis a minha vida... deixara-me ar- não pode ser contaminado e profanado pela mais leve rastar ao mais profundo abismo da depravação; contudo, sombra de desejo físico. É a vitória do amor, numa ou- quando entrava em mim, na solidão de minha vida ínti- tra perspectiva. É a temática central do romance: o amor ma, sentia que eu não era uma cortesã como aquelas que como força regeneradora. me cercavam. Ficaram gravados no meu coração certos O romance, na sua intriga e temática, bem como no po- germes de virtudes...”. sicionamento das personagens, pode ser visualizado gra- Também Paulo apresenta um comportamento paradoxal. ficamente assim: na busca mútua de Lúcia e Paulo, há Ora ele deseja violentamente Lúcia, ora promete respeitá- personagens que se posicionam como obstáculos, como -la. Ofende-a e pede-lhe perdão; dá-lhe liberdade e a quer “antagonistas do amor”, no sentido de impedir o surgi- só para si; despreza-a e sente por ela pungente ciúme; mento do amor dos dois, tais como Couto, Sá, Cunha, Ro- vê nela uma prostituta refinada e uma menina de quinze chinha. Outros são basicamente neutros: Jesuína, Jacinto,

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Laura e Nina. E há uma, Ana, que se coloca no sentido de simples beijo. Depois que ela o conhecera, não se entre- aproximar o par romântico, a tal ponto de, conforme o gou a nenhum outro homem. desejo de Lúcia, ser um símbolo de perpetuação, na terra, E Lúcia recupera aos 19 anos a Maria da Glória que per- do amor do casal. dera aos 14. “Nada perturbava a serenidade de Lúcia. • Para sala: 1 Parecia realmente que sua alma cândida, muito tempo • Tarefa mínima: 7 adormecida na crisálida, acordara por fim, e continuara a • Tarefa opcional: 10 mocidade interrompida por um longo e profundo letargo. (...) Ninguém diria que essa moça vivera algum tempo CARACTERÍSTICAS DAS PERSONAGENS numa sociedade livre.” Em Lucíola as personagens apresentam grande complexi- Mas essa transformação completa custou-lhe penosos dade psicológica, não destoando do idealismo romântico sacrifícios e, sobretudo, muita incompreensão inicial por em que foram concebidas. parte de Paulo. Lúcia “Incompreensível mulher! (...) Compreendo hoje as rápi- Ela e Paulo assumem o “papel principal” do romance. Um das transições que se operavam nessa mulher; mas na- casal é “o personagem principal”. Sua característica mais quela ocasião, como podia adivinhar a causa ignota que essencial é a contradição. Como cortesã era a mais de- transfigurava de repente a cortesã depravada na menina pravada. Basta que se lembre da orgia romana em casa ingênua, ou na amante apaixonada!” de Sá. No entanto, a prostituição era-lhe um tormento Seus traços físicos: cabelos e olhos pretos, a pele pálida. constante, já que não se entregava totalmente a essa ati- Sua expressão, contudo, lembra ao leitor sua dualidade de vidade profana. Os atos libidinosos constituíam para ela caráter: o olhar ora é “eloquente, raio voluptuoso”, ora verdadeira autopunição aliada ao angustiante sentimento é “límpido, raio de luz de sua alma”. É bem o ideal de de culpa. Coexistem nela duas pessoas: Maria da Glória, beleza romântica, “com sua virgindade de alma tão pura a menina inocente e simples, e Lúcia, a cortesã sedutora e tão absoluta, que a não tisnaram os pecados do corpo. e caprichosa. No livro, sobressai-se a Lúcia, Lúcifer, onde Por isso, mesmo nas horas em que mais lhe esplende a aparece 348 vezes contra 10 vezes como Maria da Glória, glória de cortesã, o romancista a veste simbolicamente anjo. Tal disparidade realça o motivo do romance: à pro- de branco”. porção que Lúcia vai amando e sendo amada por Paulo, Se algum leitor não entender bem a complexidade da ela vai assumindo a Maria da Glória, sua verdadeira perso- personagem Lúcia, como o fez Paulo no início do roman- nalidade. E reencontra assim, por meio dele, a dignidade ce, não é de se estranhar, pois afinal ela mesma se auto- e inocência perdidas. Pode-se expressar essa duplicidade definiu: “É difícil conhecer-me; mais difícil do que pensa. da seguinte maneira: depravação, luxúria, culpabilidade, Eu mesma sei o que às vezes se passa em mim? Não prostituição, capricho, excentricidade, rejeição. repare nestas esquisitices!”. Paulo Maria da Graça É um provinciano de Pernambuco, com 25 anos, que veio Menina, pureza, ingenuidade, dignidade, inocência, sim- tentar se estabelecer no Rio de Janeiro. O romance não plicidade, meiguice, tende para o amor, para o angelical. esclarece se ele é ou não formado. Sugere apenas. É o Perde a virgindade, mas por meio da compreensão e do personagem central e narrador da história e como tal faz amor de Paulo, tende para a virgindade do espírito. desviar a atenção do leitor para Lúcia e outros aspectos, “Elas não sabem, como tu, que eu tenho outra virgin- não revelando certas informações suas. Os detalhes físi- dade, a virgindade do coração!” cos, por exemplo. Aliás, coisa rara em José de Alencar. Para isso, renuncia a qualquer amor sensual. Mesmo o de Traçando o perfil de Lúcia, ele acaba por revelar também Paulo, de quem fora amante e a quem passou a negar um o seu: espírito observador e sensível. Fora o único a com-

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preender o estranho caráter de Lúcia. Seu temperamento clarar pobre e até se vexar por isso, vive byronicamente, é reservado sem ser tímido: “... é hábito meu, desde que de sonhos e amor. entrei no mundo, não admitir os estranhos à intimidade Os demais personagens são secundários diante dos dois de minha vida, ainda mesmo quando se trata de objetos protagonistas. sem consequência. Só dispo a minha alma entre amigos”. Dr. Sá e Cunha - Amigos de Paulo, sendo aquele desde E como ele não possui reais amigos no Rio, as nuances de a infância. Encarnam a moral burguesa e suas máscaras: sua personalidade só são conhecidas por deduções. austeros com os outros, benignos consigo. Não possuem Suas reações psicológicas são expressas em suas refle- personalidades bem delineadas no livro. Ambos veem em xões: “Que miserável animalidade havia em mim naque- Lúcia apenas a prostituta. la noite! Quando essa pobre mulher atingia o sublime do heroísmo e da abnegação, eu descia até a estupidez e à Couto e Rochinha - O primeiro é um velho dado a jovem brutalidade!”. Ou nesta: “Não conheço mais estúpido ani- galante. Encarna a obsessão sexual e a velhice. Represen- mal do que seja o bípede implume e social, que chamam ta a sociedade que explora e corrompe. Foi quem apro- homem civilizado”. veitou a necessidade e a inocência de Lúcia. O segundo é A sua caminhada em direção ao amor da heroína foi len- um jovem de 17 anos, tez amarrotada, profundas olheiras, ta. No início o que o impelia para ela era atração sexual. velho prematuro. Libertino precoce. Eles aparecem assim Paulo, então, não a entende e transmite ao leitor suas no romance: “O contraste do vício que apresentavam incertezas e desconfianças. “Se eu amasse essa mulher... aqueles dois indivíduos: o velho galanteador, fazendo- mas tinha apenas sede de prazer; fazia dessa moça uma -se criança com receio de que o supusessem caduco; e o ideia talvez falsa...” Tais desconfianças, por vezes, eram- moço devasso, esforçando-se por parecer decrépito, para -lhe inoculadas pela sociedade por meio de alguns repre- que não o tratassem de menino; essa antítese viva devia sentantes – Dr. Sá, Sr. Couto, Cunha. “Cunha tinha razão, oferece ao espectador cenas grotescas”. pensei eu; a cupidez e a avareza são as molas ocultas Laura e Nina - São meretrizes, como Lúcia, mas sem sua que movem este belo autômato de carne.” E chega duplicidade de caráter. Não são capazes de “descer tão mesmo a ser violento e sádico com ela. Isso se deduz baixo”, porém não possuem a “nobreza e altivez” da pro- de várias passagens, como: “Esta noite a senhora não se tagonista. pertence: é um objeto, um bem do homem que a vestiu, Jesuína e Jacinto - Jesuína é mulher de 50 anos, seca e que a enfeitou e cobriu de joias, para mostrar ao público já encarquilhada. Foi quem recolheu Lúcia quando seu pai a sua riqueza e generosidade”. Outras vezes, sentiu foi a expulsou de casa e a iniciou na prostituição. Jacinto é um dó: “Sentia profunda compaixão por essa mulher. O seu homem de 45 anos e “vive da prostituição das mulheres pranto me enterneceu; chorei com ela”. Houve um perí- pobres e da devassidão dos homens ricos”. Por seu inter- odo em que a afeição de ambos se arrefeceu. Paulo já a médio, Lúcia vendia as joias ricas que ganhava e enviava admira e dedica-lhe grande respeito e amizade: “Entra- o dinheiro à família pobre. É quem mantém a ligação mis- mos então numa nova fase de nossa mútua existência, teriosa no livro, entre Lúcia e Ana. Enfim, é quem cuida fase original e curiosa que me faria rir quinze dias antes. dos negócios dela. Jacinto era uma espécie de contador de Com efeito, quem poderia julgar possível uma amizade Lúcia, um negociante. fraternal e pura entre duas criaturas que meses antes trocavam as mais ardentes expansões da sensualidade?”. Ana - É a irmã de Lúcia, que a fez educar num colégio até Para no final devotar-lhe sincero amor a ponto de vibrar os doze anos como se fosse sua filha. Era“ o retrato de com um possível filho de ambos: –“ Um filho! Mas é um Lúcia, com a única diferença de ter uns longos e de louro novo laço e mais forte que nos prende um ao outro. Serás cinzento nos cabelos anelados. Ana já conhecia a irmã mãe, minha querida Maria?”. e a amava ignorando os laços de sangue que existiam É um ingênuo personagem romântico. Apesar de se de- entre ambas.” Lúcia tenta casá-la com Paulo para ser uma

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espécie de perpetuação e concretização de seu amor por terrompe a narrativa fazendo reflexões ou dirigindo-se à ele: “Ana te daria os castos prazeres que não posso dar- destinatária de suas cartas. -te; e recebendo-os dela, ainda os receberias de mim. O enredo abrange um período de aproximadamente seis Que podia eu mais desejar neste mundo?”. meses. Foi o que durou o namoro do par romântico. Às • Para sala: 11 vezes, o autor avança a narrativa com soluções bem sim- • Tarefa mínima: 12 ples: “Essa vida calma e tranquila, remanso de uma exis- • Tarefa opcional: 14 tência tão agitada, durava cerca de um mês”. Em outras, retarda-a: dedicou três capítulos para a ceia em casa de Sá (capítulos VI, VII e VIII). A NARRATIVA Tempo e espaço da narrativa Foco narrativo O tempo revelado no romance é o Rio de Janeiro de 1855. Lucíola é um romance narrado em primeira pessoa, pelo O cenário é a cidade de D. Pedro II, com seus salões, bur- personagem-narrador Paulo, que, em cartas dirigidas a guesia, vitrines chiques na Rua do Ouvidor com merca- uma senhora G. M. (por quem o autor, Alencar, se faz dorias elegantes vindas de Paris ou Londres, seus tílburis, passar), conta uma história de amor acontecida há seis seu vestuário, etc. anos entre ele e Lúcia. A senhora reuniu as cartas e delas fez o livro. Como tempo narrativo, temos um tempo eminentemen- te “cronológico”. Ou seja, em Lucíola os acontecimentos “Eis o destino que lhes dou; quanto ao título, não me foi se sucedem numa ordem quase convencional, com uma difícil achar. O nome da moça, cujo perfil o senhor me sequência natural de horas, dias, meses, anos. Só há um desenhou com tanto esmero, lembrou-me o nome de um momento em que o fluxo narrativo retroage: quando Lú- inseto. ‘Lucíola’ é o lampiro noturno que brilha de uma luz cia narra a Paulo seu passado (capítulos XVIII e XIX). E em tão viva no seio da treva e à beira dos charcos. Não será a dois momentos ele avança: o capítulo I e o finalzinho do imagem verdadeira da mulher que no abismo da perdição último revelam o estado de alma de Paulo seis anos após conserva a pureza d’alma?” a morte de sua querida Lúcia. No capítulo I, o narrador explica a razão das cartas: “Terminei ontem este manuscrito, que lhe envio ain- “A senhora estranhou, na última vez que estivemos da úmido de minhas lágrimas. (...) Hás seis anos que juntos, a minha excessiva indulgência pelas criaturas ela me deixou; mas eu recebi a sua alma, que me infelizes, que escandalizam a sociedade com a osten- acompanhará eternamente.” tação do seu luxo e extravagâncias”. Na estrutura narrativa de Lucíola, portanto, pode-se ob- Lugar - O cenário onde se desenrola a ação é o Rio de servar que: Janeiro. Há referências de seus bairros (Santa Teresa), ruas 1. Há um autor real, José de Alencar; (das Mangueiras), população, festas (a da Glória), teatros, 2. Um autor fictício, a senhora G. M., destinatária das car- lojas elegantes, etc. tas de Paulo; É curiosa a relação entre os locais e o comportamento 3. Um narrador, Paulo, com a incumbência e o privilégio amoroso-sexual de Paulo e Lúcia, agindo no sentido de de ordenar os fatos, comentá-los e tirar-lhes conclusões. aproximação ou afastamento, de maior ou menor reali- À medida que transmite os fatos, o narrador vai forne- zação do casal. O quarto de Lúcia é um local de luxúria: cendo ao leitor elementos para a análise de Lúcia e dele “... e fazendo correr com um movimento brusco a cortina mesmo. No romance, os fatos são apresentados sob dois de seda, desvendou de repente uma alcova elegante e pontos de vista, dois ângulos diferentes: o de Paulo/ primorosamente ornada”. personagem, que transmite ao leitor as sensações vivi- Das várias vezes que eles se uniram sexualmente nesse das com Lúcia, e o de Paulo/narrador, que, por vezes, in- luxuoso aposento, nenhuma, parece, satisfez de fato o ca-

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sal. A primeira delas terminou assim: Descobrindo sua casa, Paulo foi visitá-la, e sob circunstân- “Ao delírio sucedera prostração absoluta, orgasmo cias favoráveis, ela entregou-se a ele como no mais belo da constituição violentamente abalada. Vendo então ato. Depois disso, Lúcia passou a ser vulgar e mesquinha, este corpo inerte e pasmo com os olhos vítreos e as desprezando o amor de Paulo, bem como havia dito Couto mãos crispadas, tive dó”. a respeito dos modos da moça. O segundo encontro já foi totalmente diferente, em local Paulo então viu Lúcia com outros homens, como Jacinto, e e desfecho. Foi nos jardins da casa do Dr. Sá, onde Lúcia sentiu ciúmes, mas Lúcia justificou alegando que ele era desfilara nua perante os convidados. O cenário é bem ao apenas um negociante. gosto do romantismo: a natureza. O leito é bucólico: Em uma festa em que ambos estavam presentes, todos os “Fomos através das árvores até um berço de relva co- convidados beberam e jogaram à vontade. Nas paredes berto por espesso dossel de jasmineiros em flor. Lúcia havia quadros de mulheres nuas, e como Lúcia era uma está vibrando: “– Sim! Esqueça tudo, e nem se lembre prostituta, a pedido e pagamento dos cavalheiros, ela fi- que já me visse! Seja agora a primeira vez!... Os beijos cou nua diante dos presentes. que lhe guardei, ninguém os teve nunca! Esses, acre- Para Paulo aquela não era a imagem que ele havia visto dite, são puros!”. na casa e na cama de Lúcia, esta era repugnante e vul- E o clímax foi aquele que só um par enamorado consegue gar, aquela bela e fantástica, não era Lúcia que ali estava, haurir do sexo: “Não fui eu que possuí essa mulher; e sim aquela jovem meiga que conhecera, e sim Lucíola, a pros- ela que me possuiu todo, e tanto, que não me resta da- tituta mais cobiçada do Rio de Janeiro. Então, Paulo reti- quela noite mais do que uma longa sensação de imenso rou-se alegando que já havia visto paisagens melhores. deleite, na qual me sentia afogar num mar de volúpia”. Lúcia arrependeu-se do que fez e eles se reconciliaram. Quando Lúcia passou a morar numa casa pequena e po- Paulo a amava desesperadamente, de forma bela e pura. bre, em Santa Teresa, em companhia de sua irmã Ana, Lúcia, em seus conturbados sentimentos, decidiu então menina inocente, não mais houve união carnal entre eles. dedicar-se inteiramente a esse amor para que sua alma É que os dois já estavam unidos por um amor espiritual. fosse purificada por ele. Uma afeição muito pura unia aquelas duas almas. E tan- Então, vendeu sua luxuosa casa e foi morar em uma me- to a simplicidade do local que “lembra o espaço feliz de nor e mais modesta. E contou a Paulo sua história: seu sua infância em São Domingos” quanto a inocência da nome verdadeiro era Maria da Glória e, quando em 1850 menina não comportavam mais a depravação do sexo. houve um surto de febre amarela, toda sua família caiu “O seu beijo, quase de irmã, apenas de longe em longe doente, desde o pai até a irmã. bafejava-me a fronte.” Para poder pagar os medicamentos necessários para sal- vá-los, Lúcia se deixou levar por Couto, mas, a partir disso, passou a desprezá-lo profundamente. Nessa época, ela ENREDO tinha 14 anos, e seu pai, ao descobrir, a expulsou de casa. O romance conta a história de Lucíola e Paulo. Ela é uma Ela fingiu então sua própria morte quando sua amiga Lúcia cortesã de luxo do Rio de Janeiro em 1855. E Paulo um morreu, e assumiu esse nome. rapaz do interior que veio para a cidade conhecer a Corte. Agora, com o dinheiro que conseguia, pagava os estudos Na primeira vez que Paulo viu Lúcia, julgou-a meiga e an- de Ana, sua irmã mais nova. Paulo ficou muito comovido gélica. Mesmo sob fortes acusações de seu amigo Couto, com a história de Lúcia. Ele sempre a visitava e, numa que revelou barbaridades sobre ela e também sobre a noite de amor, ela engravidou, mas adoeceu. Lúcia acre- verdadeira profissão da moça, Paulo manteve essa ima- ditava que a doença era devido ao fato de seu corpo não gem doce e inocente em seu coração. ser puro.

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Confessou seu amor e pertencimento a Paulo, queria que 6. Sobre o autor e o foco narrativo do romance Lucíola, ele casasse com Ana, que tinha vindo morar com eles. podemos afirmar que: Paulo não aceitou e Lúcia não abortou, mas acabou mor- I. O autor é José de Alencar, que narra a história em pri- rendo. meira pessoa. Após cinco anos, Ana passou a ser como uma filha para II. O narrador é Paulo e quem organizou suas cartas e deu Paulo, que a amparava. E seis anos depois da morte de título ao livro foi a senhora G. M., pseudônimo de Alencar. Lúcia, Ana casou-se com um homem de bem e Paulo con- III. O narrador da história é Paulo, pseudônimo de Alencar. tinuou triste com a morte do único amor de sua vida. Quais afirmativas estão CORRETAS? • Para sala: 6 a) I e II. • Tarefa mínima: 8 e 15 b) II e III. • Tarefa opcional: 9 e 13 c) Apenas I. d) Apenas II. e) Apenas III. ATIVIDADES 7. Qual é o tempo e o espaço da obra Lucíola? 1. O livro Lucíola, de José de Alencar, é uma expressão do 8. Em relação a Lucíola, de José de Alencar, assinale a romantismo brasileiro, e é considerado também um ro- alternativa INCORRETA. mance urbano. Aponte quais os elementos fundamentais a) A obra apresenta muito adequadamente o tema da da obra que a enquadram na escola literária romântica. prostituta regenerada, bem ao gosto do romantismo. 2. Sobre a obra de José de Alencar, é CORRETO afirmar que: b) O narrador tem, além dos leitores da obra, explicita- a) É romântica em seu início com obras indianistas como mente uma interlocutora como personagem-leitora. O guarani e Iracema e realista no final, como Senhora e c) A narrativa se constrói em dois tempos muito bem mar- Sonhos d’Ouro. cados: o da vivência e o da narração da vivência. b) Constitui um projeto nacionalista para a literatura brasi- d) A aparição de Maria da Glória resolve todos os pro- leira, passando por várias fases como as lendas e os mitos blemas da personagem Lúcia, porque aponta o caminho da terra selvagem, os períodos históricos marcantes, as da expiação da culpa, construindo um final feliz para a regiões do país e seus nativos até os romances urbanos. narrativa. c) É puramente romântica, nacionalista, e sua força está e) É possível perceber nesse romance a presença de mui- na apropriação da tradição indígena e transformá-la em tos paradoxos românticos (virtude x vício, alma x corpo, ficção. amor x prazer, ingenuidade x devassidão, família x pros- d) É inspirada no romance balzaquiano, porém critica com tituição). mais veemência a burguesia carioca em ascensão. 9. Assinale a alternativa INCORRETA a respeito de Lucíola, e) A obra alencariana, poesia e prosa, funda o romantis- de José de Alencar. mo no Brasil. a) É Paulo – como protagonista – simultaneamente agente 3. A que contexto histórico se relaciona o surgimento do ro- da narração e objeto da narrativa. mantismo no mundo se consolidando como escola literária? b) É um romance que apresenta uma pluralidade de olha- res narrativos, principalmente na caracterização da perso- 4. Qual era o contexto histórico do Brasil e como é descrita nagem Lúcia. por Alencar a sociedade carioca da época? c) É um romance que traz uma visão alienada da socie- 5. Alencar fora acusado por alguns críticos de justapor o dade urbana do Rio de Janeiro, por focalizar unicamente o romance europeu às circunstâncias locais, causando assim drama individual da protagonista. contradições internas em sua obra. Qual era o contexto d) É pelo distanciamento temporal que a narrativa se tor- histórico em que estava inserido o romance europeu, cujo na possível, pois a narração é ativada pela memória. realismo de Balzac é o principal expoente? e) É a protagonista construída em dualidade, uma vez que,

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dissociando corpo e alma, ela também tem dois nomes, pelos bons costumes. duas casas, dois estilos de vida. 13. Como podemos definir resumidamente a temática 10. De acordo com a leitura da obra Lucíola, de José de principal de Lucíola? Alencar, julgue as afirmativas e, a seguir, marque a alter- 14. O romance Lucíola demonstra o papel que a mulher nativa CORRETA. deveria ocupar na sociedade da época. Lúcia, no entanto, I. Há, em Lucíola, um clima de sensualidade constante, é uma cortesã e está fadada à morte. Comente sobre a combinado com ardor e sofrimento, bem no clima da li- moral vigente e o final da protagonista. teratura romântica que predominava na segunda metade do século XIX. 15. Lucíola, apesar de ser uma história de amor tipica- II. O romance entre os protagonistas, Lúcia e Paulo, “saco- mente romântica, não termina com um final feliz. Portan- de” a Corte e provoca um excitado burburinho na socieda- to, de que forma podemos dizer que o amor é tratado no de. De um lado, a mulher que, sendo de todos, jurava não romance? se prender a nenhum homem; de outro, o homem em dúvida entre o amor e o preconceito. GABARITO III. O foco narrativo é em 3ª pessoa; o narrador-observador 1. José de Alencar, autor de Lucíola, integra o time das não participa da história; com isso, há um forte apelo à maiores expressões do romantismo brasileiro. O próprio imaginação do leitor. estilo da obra pode-se enquadrar numa espécie de lin- IV. Em Lucíola, o amor não resiste às barreiras sociais e guagem romântica, representando um estilo vigoroso, morais. Assim é o romance da bela Lúcia, a mais rica e elegante e pomposo. Um ingrediente romântico eviden- cobiçada cortesã do Rio de Janeiro, e Paulo, um jovem ciado no livro é, sem dúvida, o tema do amor, o amor modesto e frágil. idealizado, capaz de renúncias e sacrifícios. O amor como a) Apenas a afirmativa I é correta. salvação. No romance de amor alencariano, o amor é a b) Apenas as afirmativas I, II e IV são corretas. salvação para as relações corrompidas pelo dinheiro e c) Apenas as afirmativas I e IV são corretas. pela moral conveniente. d) Apenas as afirmativas I e II são corretas. e) Apenas as afirmativas I, II e III são corretas. 2. b Todas as demais alternativas contêm meias verdades, po- 11. Quais as contradições destacáveis entre Lúcia e Maria rém só a alternativa b consegue abarcar as características da Graça? e os tipos de romances alencarianos de forma mais geral. 12. Leia o texto para responder à questão. A questão toca tanto em seu projeto nacionalista literário “Uma mulher como eu não se pertence; é uma coi- como dá conta dos tipos de romance que o autor escre- sa pública, um carro de praça, que não pode recusar veu: indígena, histórico, regionalista e urbano. quem chega.” (Fragmento da obra Lucíola, de José de Alencar) 3. Para se compreender o contexto histórico do roman- Pelas palavras da protagonista, percebe-se um forte desa- tismo de um modo geral é essencial levarmos em con- bafo. Esse sentimento é consequência: ta dois acontecimentos históricos que determinam sua a) de submissão, que é característica da própria personagem. origem: o surgimento do capitalismo como sistema que b) da contradição em que vive, já que para salvar sua modifica as relações econômicas e cria na Europa uma família teve de vender seu próprio corpo. nova organização política e social e os ideais liberais leva- c) da impossibilidade de se manter como centro do poder dos a cabo na Revolução Francesa (de liberdade, que se e do domínio. traduzirá em liberdade para se trabalhar; igualdade, que d) de resignação, recusando-se a abandonar sua vida para equivalerá apenas a uma igualdade formal, perante a lei, viver com Paulo. e a fraternidade, que promulga a Declaração dos Direitos e) de velhos preconceitos, já que a sociedade primava do Homem como universais).

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4. O Brasil do Segundo Reinado era agrário e recentemen- de seu amor com Paulo. te independente, dividido em latifúndios, cuja produção 9. c dependia, por um lado, do trabalho escravo e, por outro, A única incorreta é a alternativa c, já que o romance Lu- do mercado externo. O mercado externo era o mundo ca- cíola não traz um olhar alienado da sociedade urbana ca- pitalista, em que o raciocínio vigente era o da burguesia rioca e foca apenas no drama individual. Ao contrário, o que perseguia o lucro. Princípio esse que fazia parte de romance traça um panorama do Rio de Janeiro da época e nossa identidade. No entanto, os ideais liberais defendi- relaciona o drama dos protagonistas à sociedade daquele dos nos países europeus em que a burguesia nacional em tempo. ascensão buscava inspiração defrontavam-se com as prá- ticas do escravismo. 10. b 5. As contradições apontadas, sobretudo por Schwarz, de A única possibilidade de alternativa correta é a b, já que se importar o romance para o Brasil estão na incongruên- a afirmação III não é verdadeira, visto que o narrador do cia que podem causar as inspirações balzaquianas de uma romance está em primeira pessoa. sociedade liberal em que o capitalismo já estava consoli- 11. Coexistem na personagem principal duas pessoas: dado em uma sociedade como a brasileira, escravista, lati- Maria da Glória, a menina inocente e simples, e Lúcia, fundiária, porém dependente do mercado externo. Nesse cortesã, sedutora e caprichosa. À proporção que Lúcia vai sentido, o contexto histórico europeu em que se inseriam amando e sendo amada por Paulo, ela vai assumindo a os romances de Balzac é marcado pela consolidação do Maria da Glória, sua verdadeira personalidade. Pode-se capitalismo e de uma sociedade liberal. expressar essa duplicidade da seguinte maneira, pelas suas características: 6. d A única alternativa correta é a d. Em Lucíola, Paulo é o Lúcia: depravação, luxúria, culpa, prostituição, capricho, narrador-personagem que narra os fatos em primeira excentricidade, rejeição, demoníaca. Maria da Graça: pure- pessoa por meio de cartas endereçadas à senhora G. M., za, ingenuidade, dignidade, inocência, simplicidade, mei- pseudônimo de Alencar, que irá organizar sua história e ga, tende para o amor, anjo. dar um título a ela. 12. b 7. O tempo revelado no romance é o Rio de Janeiro de A alternativa expressa a tensão de Lúcia, que virou prosti- 1855. O cenário é a cidade de D. Pedro II, com seus sa- tuta para conseguir salvar a família. lões, burguesia, vitrines chiques na Rua do Ouvidor, com 13. A sociedade, indiferente ao sofrimento de Lúcia e à mercadorias elegantes vindas de Paris ou Londres, seus sua luta para salvar a família, joga-a ao mundo dos negó- “tílburis”, seu vestuário, etc. cios escusos, à venda de seu próprio corpo. A partir des- Como tempo narrativo, temos um tempo eminentemente se momento, a menina, pura que era, assume uma nova “cronológico”. Ou seja, em Lucíola os acontecimentos se personalidade, enterrando a doce e meiga Maria da Gló- sucedem numa ordem quase normal, com a sequência ria. Com nova identidade, Lúcia tenta se adaptar ao novo natural de horas, dias, meses, anos. mundo e usa sua beleza (com altivez) e a avareza para so- O cenário onde se desenrola a ação é o Rio de Janeiro. breviver. Mas as suas lembranças e o seu coração bom e Há referências de seus bairros (Santa Teresa), ruas (das puro não são tocados por nenhum homem, que pode até Mangueiras), população, festas (a da Glória), teatros, lojas possuir o seu corpo, mas nunca sua alma. Paulo aparece elegantes, etc. em sua vida como um salvador, só ele consegue enxergar 8. d a pureza da sua alma, só ele a vê de forma diferente da O romance Lucíola não possui um final feliz, linear, român- dos outros homens – uma visão romântica do amor. O seu tico, já que Lúcia morre sem conseguir viver a plenitude salvador, porém, não a assume nunca publicamente, nem

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no momento em que ela resgata sua verdadeira identi- nhecimentos seguindo uma estrutura lógica e com econo- dade, ao final do romance. Ele a ama, mas não verbaliza mia de tempo; esse amor e quando o faz já é muito tarde. Lúcia também - para introduzir um novo conteúdo, apresentando e es- não exige nada desse homem que ama, porque sabe que clarecendo os conceitos básicos da unidade e dando uma a vida de uma mulher (naquele momento histórico) é a visão global do assunto; sua honra, e se não a tem mais não precisa viver. - para fazer uma síntese do conteúdo abordado numa uni- dade, dando uma visão globalizada e sintética do assunto. 14. A cortesã avarenta, promíscua, sedutora e lasciva, que também usa os homens como quer, é inadmissível para a A aula expositiva é um procedimento de ensino-apren- época, porque depõe contra a função natural da mulher. dizagem que está presente indistintamente em todos os Para as mulheres do século XIX, Lúcia representaria a co- níveis de ensino e é um dos mais empregados pelo pro- erção que uma mulher deve sofrer por entregar o corpo fessor em seu dia a dia nas salas de aula. como uma mercadoria, por isso seu destino é a morte, já Pela sua manifesta presença no ambiente escolar, decidi- que se afastou dos padrões aceitos de moralidade. Nesse mos por apresentar a você, professor, uma pequena lista sentido, a mulher oitocentista deve perceber que, sendo de sugestões que pode ser útil em sua prática docente. ela guardiã da moral, não pode esquecer-se do seu papel Toda a lista foi retirada do livro citado acima, de Regina na sociedade: a de mantenedora da ordem familiar. Haydt. 15. Em Lucíola, o triunfo do amor não ocorre na “linha do Para que a aula expositiva atinja os objetivos para os quais final feliz”. Lúcia passará por um processo de transforma- foi planejada e se desenrole de forma eficiente, sugere-se ção, ou renascimento, que fará desabrochar a adolescente que o professor: pura e ingênua que fora um dia, ao mesmo tempo em a) Apresente inicialmente aos alunos o assunto que vai que irá eliminando a cortesã impudica. E a protagonista ser abordado no decorrer da exposição e mostre suas liga- alcança, portanto, a purificação por meio do amor espi- ções com os temas já estudados e conhecidos. ritual, que não pode ser contaminado e profanado pela b) Introduza o novo conteúdo partindo dos conhecimentos mais leve sombra de desejo físico. É a vitória do amor, e das experiências anteriores, isto é, do que o aluno já numa outra perspectiva. É a temática central do romance: conhece e experienciou. o amor como força regeneradora. c) Estabeleça um clima adequado entre os participantes e mantenha a atenção dos alunos, relacionando o conte- GUIA DO PROFESSOR údo apresentado aos objetivos, interesses e motivos dos estudantes. Sugestão de procedimento de ensino d) Seja objetivo e preciso na exposição e dê ao tema um Sabemos que existem diversos métodos de ensino-apren- tratamento ordenado e lógico. Há várias formas de se or- dizagem disponíveis em literatura especializada e que es- ganizar o conteúdo de uma exposição: ses métodos só trazem resultado positivo quando combi- d1. apresentar primeiramente as ideias amplas e abran- nam com o estilo, com o contexto e com as necessidades gentes que servem de ponto de apoio ou de ponto de do professor. Ao observar a prática do professor em sala ancoragem para as ideias mais específicas; em seguida, de aula, é fácil perceber que um método bem antigo e expor as informações particulares, mostrando sua relação tradicional resistiu ao tempo e ainda hoje se mostra bas- com as ideias mais genéricas e com os princípios gerais; tante eficiente: o método daaula expositiva. d2. usar uma abordagem indutiva, expondo primeiramen- Segundo Regina Célia Haydt, em seu livro Curso de Didá- te os fatos particulares e as situações concretas, para de- tica Geral (Ática, 2010), a aula expositiva pode ser usada pois apresentar os conceitos e os princípios mais gerais e nas seguintes situações: abrangentes a eles relacionados; - quando há necessidade de transmitir informações e co- d3. propor questões ou problemas, para depois apresentar

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fatos, informações e argumentos para as possíveis soluções. Essas normas práticas poderão ajudar o professor a tor- e) Destaque e fixe as ideias mais importantes, registran- nar sua aula expositiva mais compreensível e interessante do-as no quadro de giz. para os alunos. f) Dê exemplos esclarecedores relacionados à vivência Dentre essas normas, duas em especial devem ser des- dos alunos. tacadas: g) Estimule a participação dos alunos e mantenha-os em 1. uma é a necessidade de se relacionar as ideias mais atitude reflexiva: gerais e abrangentes do conteúdo com as informações g1. fazendo perguntas para que eles respondam; particulares; g2. dialogando com eles; 2. a outra é a necessidade de se estabelecer uma ponte g3. propondo questões para debate; entre o que o estudante já sabe e aquilo que ele precisa g4. deixando que eles exponham suas dúvidas; conhecer. Por isso, é importante mostrar as semelhanças g5. esclarecendo as dúvidas; e as diferenças entre as novas ideias contidas no conteúdo g6. solicitando exemplos; introduzido e os conceitos e princípios previamente apren- g7. pedindo para que os alunos apresentem conjecturas didos e disponíveis na estrutura cognitiva do aluno. sobre a continuação da explicação; g8. ou pedindo para que façam oralmente uma breve sín- tese do que foi até então exposto. h) Use uma linguagem simples e coloquial e vá direto ao assunto, de forma clara e objetiva, sem rodeios e floreios. Quando empregar uma palavra que você presuma que seja desconhecida dos alunos, ou um termo científico, ex- plique o seu significado, para facilitar a compreensão do assunto exposto. i) Fale com desembaraço e entusiasmo, pronunciando as palavras com clareza e variando o tom de voz, os gestos e os movimentos. O professor Nérici, em seu livro Didática geral dinâmica, sugere, inclusive, que o expositor dê “um certo colorido emocional à exposição, mas sem exagero”. j) Use humor quando achar oportuno, pois ajuda a relaxar, prende a atenção e cria um clima descontraído. k) Use, sempre que possível, para ilustrar a explanação, recursos audiovisuais auxiliares, como o quadro de giz, cartazes, gravuras, álbum seriado, quadros murais, gráfi- cos, mapas, retroprojetor, etc. l) “Sinta” a classe, percebendo o grau de atenção dos alunos pelas suas reações, e verificando o seu nível de compreen- são por meio de perguntas sobre o assunto exposto. m) Intercale a exposição com exercícios de aplicação do conteúdo apresentado, quando achar oportuno. n) Ao concluir a explicação, enfatize as ideias básicas e es- senciais, sintetizando-as e sistematizando-as num quadro sinótico, ou pedindo aos alunos para resumirem o conte- údo transmitido.

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