O Idílio Degradado: Um Estudo Do Romance Til, De José De Alencar

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O Idílio Degradado: Um Estudo Do Romance Til, De José De Alencar UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LITERATURA BRASILEIRA Paula Maciel Barbosa O idílio degradado: um estudo do romance Til, de José de Alencar São Paulo 2012 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LITERATURA BRASILEIRA O idílio degradado: um estudo do romance Til, de José de Alencar Paula Maciel Barbosa Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Literatura Brasileira do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para a obtenção do título de Doutor em Letras Orientador: Prof. Dr. José Antonio Pasta Jr. São Paulo 2012 Resumo Este trabalho analisa o romance Til, de José de Alencar, examinando-o em seus aspectos formais, que revelam a matéria histórica que o embasa. Ao trazer a ação para uma fazenda de café escravista do Segundo Reinado, e propondo-se a figurar todas as camadas sociais envolvidas no mundo da fazenda, Alencar aponta para o núcleo de todo o sistema, o café e o trabalho escravo. Com isso, o romance figura dois polos, centro e periferia – ou a casa-grande e seus arredores –, que são postos em confronto, o que projeta sobre o romance ambiguidades de todos os tipos, além de responder pela instabilidade da própria estrutura do romance. Em uma primeira parte, levanta-se o contexto histórico em que o romance foi escrito, assim como se descreve o Til em suas diferenças e continuidades em relação à obra de Alencar. A segunda parte do trabalho volta-se para as características formais do livro, tratando de caracterizar suas personagens e de analisar o ponto de vista narrativo. A terceira parte trata da atmosfera lúgubre do romance, vinculando-a à escravidão e a seus desdobramentos nas relações sociais, que se mostra, então, como dado essencial da obra, ainda que a simples leitura de seu enredo não aponte diretamente para isso. Abstract The present work analysis José de Alencar’s novel Til, examining it in its formal aspects, which reveal the historic substance that lay its foundation. In bringing the action to a slave-holding coffee farm in the Brazilian Segundo Reinado (Second Reign), and intending to encompass all social classes involved in the farm’s world, Alencar points to the core of the whole system, the coffee production and the slave labour. In this way, the novel shapes two opposed realities – center and periphery – or the casa-grande (Big House) and its surroundings –, which are confronted, projecting over the novel all kinds of ambiguities, besides being the cause of the instability of the novel structure itself. In a first part, the historic context in which the novel was written is raised, and Til is described in its differences and continuities in relation to Alencar’s general work. The second part of the work turns to the formal features of the book, dealing with the depiction of its characters, and analyzing the narrative point of view. The third part deals with the novel's lugubrious atmosphere, linking it to the slavery and its unfoldments in the social relations, which is shown, in this way, as an essential element of the novel, even if the mere reading of the plot does not directly point to that. Agradecimentos Agradeço a José Antonio Pasta Júnior pela Confiança e pela Orientação, generosa e segura. A Thaís Toshimitsu, Cecília Bergamin, Hélio de Mello Filho, Pedro Fragelli, Fábio Alves, Íside Mesquita, Jefferson Donizeti e Ana Paula Pacheco, agradeço as discussões, as leituras, os livros emprestados ou sugeridos – o Coleguismo –, ao longo dos anos. Aos professores Valéria de Marco, Vagner Camilo e Ivone Daré Rabello, sou grata pela leitura cuidadosa e pelas contribuições, nos exames de qualificação. A Matias Lisboa e Marcelo Maneo, agradeço a ajuda na preparação final do texto. A minha família e a outros amigos não citados, agradeço a todos, e a cada um, por tudo. Dedico este trabalho a Murilo de Andrade Lima Lisboa, a sua Memória. Este trabalho contou, em seus 18 meses finais de preparação, com o apoio de uma bolsa de estudos da CAPES. Índice Parte I – Alencar e a crise do Segundo Reinado: contextualizações.................................... 1 1. Considerações iniciais.............................................................................................................2 2. As duas fases de Alencar.........................................................................................................9 2.1 O político José de Alencar............................................................................... 10 2.2 A produção na década de 1870 …....................................................................36 2.3 O regionalismo de Alencar como retomada do indianismo.....................…....46 3. O tema do trabalho na obra de Alencar …............................................................................61 4. Os dois Alencares ou a forma fraturada................................................................................69 Parte II - O Til..........................................................................................................................76 1. Confronto e dissimulação......................................................................................................77 2. O estudo dos dependentes ….................................................................................................93 2.1 Jão Fera.............................................................................................................93 2.2 Berta................................................................................................................110 2.3 Miguel …....................................................................................................... 134 3. A elite distraída....................................................................................................................141 4. A educação de Brás.............................................................................................................147 Parte III - Violência e fantasmagoria: a escravidão nas formas......................................155 1. A paisagem assombrada......................................................................................................156 2. Na casa de Zana...................................................................................................................166 3. A Noite de São João............................................................................................................182 4. Os romances da fazenda......................................................................................................189 Bibliografia............................................................................................................................203 Anexo I...................................................................................................................................217 Anexo II.................................................................................................................................224 Parte I – Alencar e a crise do Segundo Reinado: contextualizações Que ideia faz esse senhor de literatura, e sobretudo de literatura nacional? Acaso está ele convencido de que a arte e a poesia podem existir em um estado de completa abstração da sociedade em cujo seio se formam? José de Alencar 1 1. Considerações iniciais Pouco conhecido pelo público e pouco valorizado pela crítica, o romance Til, de José de Alencar, intriga desde seu título impreciso e estranho até seu final melancólico. Desequilibrado e violento, muitas vezes cru e esquematizado, possui, porém, uma mistura interessante de formalizações literárias diferentes e de temas alencarinos que faz com que, a meu ver, funcione como um romance exemplar para o estudo da obra de José de Alencar. Escrito em um momento político crucial para o Segundo Reinado (e para o deputado José de Alencar) – durante as férias parlamentares no ano da aprovação da Lei do Ventre Livre –, o Til funciona, também, como libelo político para propagação das ideias de Alencar e, ao mesmo tempo, como emblema de sua posição política excêntrica: antes da publicação em volume, pela Garnier, o romance saiu em folhetins, entre 21 de novembro de 1871 e 20 de março de 1872, no jornal A República, jornal vinculado ao recém criado Partido Republicano, uma dissidência do Partido Liberal. Em carta1 à redação, o monarquista Alencar descreve seu livro como “ligeiro esboço de costumes, cujo título bem indica a folga da fantasia, não apurada pelo estudo”. Dois anos depois, na nota que acompanha a primeira parte de Guerra dos Mascates, refere-se ao livro novamente chamando a atenção para sua despretensão: “É o Til desses livros que se compõem com material próprio, fornecido pela imaginação e pela 1 Quintino Bocaiúva, amigo de Alencar, pede ao autor seu mais recente trabalho, já nas mãos de seu editor, para a publicação em folhetins no novo jornal. Baptiste Louis Garnier, que acabara de firmar contrato com Alencar para a publicação de toda a sua obra, consente na publicação em folhetins. Alencar escreve a seguinte carta à redação de A República: “Meus ilustres colegas, por minha parte, de boa vontade, convenho na cessão que lhes fez o meu editor, o Sr. B. L. Garnier, de algumas folhas de lavra tosca, pois são da minha, para que v.v. as publiquem em folhetim do seu
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