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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

TV TRANSMÍDIA: O FUTURO DA TELEVISÃO NO BRASIL

Sabrina dos Santos Monteiro

ORIENTADOR:

Prof. Nelsom Magalhães

Rio de Janeiro 2017

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

TV TRANSMÍDIA: O FUTURO DA TELEVISÃO NO BRASIL

Apresentação de monografia à AVM como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Transmídia - Gestão de Mídias Digitais Por: Sabrina dos Santos Monteiro

Rio de Janeiro 2017

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por me iluminar todos os dias. Aos meus pais e irmão, pelo apoio, carinho e compreensão. Aos professores do curso, por dividirem o seu conhecimento conosco. À professora Cristina Barbosa, pela inspiração para esta Monografia e pelas melhores aulas que assisti durante o curso. Aos meus colegas, pela troca de vivências e por tornarem esta jornada mais divertida. Ao professor Nelsom, pela orientação.

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DEDICATÓRIA

A Deus. Aos meus amados pais e irmão, pela força, a presença e o incentivo. Aos amigos que fiz durante o curso e que levarei para toda a vida. A todos os que ajudaram a escrever cada capítulo da história da televisão brasileira. A todos os que contribuirão com os próximos capítulos da história dessa poderosa mídia massiva.

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RESUMO

Este trabalho aborda a história da televisão do seu surgimento até os dias atuais, com foco nas transformações ocorridas com a convergência midiática e no modo como essas mudanças geraram um amplo debate sobre as novas formas de produzir comunicação televisiva.

Alguns teóricos imaginaram que a televisão deixaria de existir na era digital, o que na prática, não se comprovou. Este projeto evidencia que a televisão não será extinta e sim, cada vez mais interativa, mostrando que a televisão transmídia é o presente e o futuro do principal meio de comunicação brasileiro.

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METODOLOGIA

Este estudo visa analisar as mudanças ocorridas na mídia televisiva a partir da sua convergência com outras mídias na era digital e abordar as discussões teóricas que marcaram o tema. O assunto foi abordado com base nas maiores referências bibliográficas acerca do tema, como a produção dos autores: Henry Jenkins (2009), Toby Miller (2009), Newton Guimarães Cannito (2010), Ana Paula Goulart Ribeiro (2010), Mario Carlón (2014) e Yvana Fechine (2014), além de muitas notícias sobre o assunto divulgadas em sites da web.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

O surgimento e a evolução da televisão no Brasil 10

CAPÍTULO II

A convergência entre mídias 39

CAPÍTULO III

A TV transmídia 50

CONCLUSÃO 63

REFERÊNCIAS 65

BIBLIOGRAFIA 69

WEBGRAFIA 70

ÍNDICE 77

ÍNDICE DE FIGURAS 79

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INTRODUÇÃO

A televisão surgiu como uma caixa de criar e transmitir ilusão aos então apelidados, telespectadores, mexendo com o imaginário da população décadas antes de efetivamente ser criada. Geralmente, o termo televisão é empregado tanto ao meio de comunicação (assunto desta monografia) quanto ao aparelho transmissor de imagens.

A palavra televisão surgiu bem antes do invento do aparelho transmissor, em 1900, durante um congresso em Paris, quando um pesquisador descreveu um equipamento à base de selênio que conseguia transmitir imagens. O título da sua tese era o resultado da mistura da palavra grega tele, que significa longe e da palavra videre, de origem latina, que significa ver. A partir de 1947, a palavra televisão foi abreviada para TV.

Ao longo dos seus 66 anos de existência, a televisão, que inicialmente era uma incógnita, se tornou o maior e mais poderoso meio de comunicação de massa do país e do mundo. Foram várias transformações e um grande desenvolvimento ao longo de décadas.

Com a chegada de novas mídias e principalmente com a popularização da internet, a audiência televisiva e seu domínio se viram ameaçados, surgindo vários questionamentos sobre o fim da televisão. Como uma mídia tão poderosa pode chegar ao fim? Seria mesmo o fim ou uma reinvenção?

Para responder a estes questionamentos, este trabalho foi dividido em três capítulos. No primeiro, serão abordados o surgimento e a evolução da televisão como forma de entretenimento no Brasil, as diversas transformações pelas quais esta importante mídia passou, bem como a discussão de alguns pesquisadores do tema sobre o fim da televisão.

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Em um segundo momento deste trabalho, será estudado o fenômeno da convergência da televisão com outras mídias e como esta ocorrência afetou o modelo de televisão existente, modificando a relação entre o telespectador e o meio de comunicação massivo e consequentemente, o modo de se produzir programação.

No terceiro capítulo desta monografia serão analisados o surgimento e a importância dos movimentos e produtos transmidiáticos para a TV brasileira e como as emissoras televisivas reagiram a essa novidade em tempos de pouca atenção e disponibilidade do telespectador com relação à programação oferecida.

Em um momento no qual os meios massivos de comunicação parecem caminhar para o seu fim, esse trabalho é relevante para fomentar o debate, a pesquisa e contribuir como produção acadêmica sobre as novas formas de pensar e fazer comunicação televisiva na era digital.

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CAPÍTULO I O SURGIMENTO E A EVOLUÇÃO DA TELEVISÃO NO BRASIL

A televisão surgiu para completar um sistema, o dos meios de comunicação de massa, que começou com o surgimento do livro, posteriormente, da imprensa no século XIX, o aparecimento do fonógrafo, seguido da chegada da fotografia, o advento do cinema e do rádio. Nesse sentido, o último grande meio massivo que surgiu no século passado foi a televisão.

A partir da cronologia da Televisão no mundo, notamos o quanto a TV demorou a chegar no Brasil (1950), mesmo já fazendo parte do cotidiano da população da Inglaterra (1936), Estados Unidos (1939) e França (1947). Na Europa, a televisão nasceu como um meio unidirecional ligado ao Estado e seguiu assim por anos. Já nos Estados Unidos da América, a televisão, desde a sua criação, sempre foi pensada de modo comercial. E foi esse tipo de pensamento mercantil que trouxe o invento para o Brasil, como uma fábrica de criar ilusões e de vender audiências para os anunciantes.

Antes mesmo de iniciar suas atividades no país, a televisão, assim como o cinema, já mexia com o imaginário das pessoas, como nos mostra o anúncio de 1944 da empresa General Electric, com destaque para o título, “A eletrônica trará a televisão ao nosso lar”. Um trecho do texto do anúncio publicado na Revista Seleções do Reader’s Digest, em janeiro de 1944: Faz anos que a General Electric vem construindo aparelhos transmissores de televisão para uso experimental. Da sua estação WRGB, em Schenectady, uma das maiores do mundo, são irradiados anualmente programas educativos e culturais. Depois da vitória, graças a experiência adquirida durante os anos de guerra, os receptores GE permitirão V.S. convidar à sua casa seus amigos e parentes para assistir uma ópera ou um filme cinematográfico transmitido por televisão.

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Fig. 1 – Anúncio da General Electric, de 1944

Fonte: História da Televisão no Brasil (RIBEIRO et al., 2010, p.22)

1.1. A história da televisão no Brasil

A televisão surgiu no Brasil no dia 18 de setembro de 1950, com uma cerimônia inaugural e o discurso do seu principal empreendedor, o jornalista Assis Chateaubriand1, que fez questão de agradecer aos anunciantes

1 Francisco de Bandeira de Melo foi um dos homens mais influentes do Brasil nas décadas de 40 e 50. Nasceu na Paraíba em 1892, cursou a faculdade de Direito, mas acabou se rendendo a sua paixão pelo jornalismo. Em 1915, se mudou para o Rio de Janeiro e em 1924, investiu em “O Jornal”, que foi o primeiro passo para se tornar o proprietário de outras empresas de mídia impressa, rádio e televisão, formando o conglomerado brasileiro “Diários Associados”. Foi o visionário da televisão no Brasil, trazendo equipamentos, aparelhos televisores e inaugurando a primeira emissora de televisão brasileira em 1950. Na década de 60, “Chatô”, como era conhecido, estava muito endividado junto com o seu conglomerado das comunicações, sofrendo uma trombose que o deixou paralisado e comunicando-se somente através de uma máquina de escrever adaptada. Faleceu em 1968, sendo velado no hall dos “Diários Associados”.

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que tornaram possível a realização do sonho de fazer televisão em solo nacional, graças a um ano de venda de espaço publicitário:

Este transmissor foi erguido, pois, com a prata da casa; isto é, com os recursos de publicidade que levantamos sobre a prata Wolff e outras não menos macias pratas da casa: a Sul América, que é o que pode haver de bem brasileiro; as lãs Sams, do Moinho Santista, arrancadas ao coro das ovelhas do Rio Grande e, mais que tudo isso, ao Guaraná Champagne da Antarctica, que é a bebida dos nossos selvagens, o cauim dos bugres do Pantanal mato-grossense e de trechos do vale amazônico. Atentai bem e vereis como é mais fácil do que se pensa alcançar uma televisão com prata Wolff, lãs Sams, bem quentinhas, Guaraná Champagne, borbulhante de bugre e tudo isto bem amarrado e seguro na Sul América, faz-se um bouquet de aço e pendura-se no alto da torre do Banco do Estado um sinal da mais subversiva máquina de influir na opinião pública – uma máquina que dá asas à fantasia mais caprichosa e poderá juntar os grupos humanos mais afastados. (RIBEIRO et al., 2010, p.18-19)

O discurso nos mostra que a televisão era vista, já nos primórdios, como uma “máquina” para influenciar a opinião pública e ao mesmo tempo, diminuir as distâncias, além de dar asas às fantasias do público.

1.1.1. Anos 50: o improviso da experiência televisiva

A primeira emissora de TV brasileira foi inaugurada junto com a experiência de se fazer televisão no país, em 18 de setembro de 1950: a TV Tupi Difusora de São Paulo – prefixo PRF-3. O primeiro programa a ser transmitido foi ao ar, ao vivo, com algumas horas de atraso do horário previsto. A transmissão do programa de variedades “TV na Taba” durou mais de duas horas, apresentado por Homero Silva, com a participação dos atores Mazzaropi e Lima Duarte e dos cantores Ivon Curi, e Lolita Rodrigues, entre outros.

Inicialmente, como não haviam aparelhos televisores domésticos, o empreendedor Assis Chateaubriand instalou televisores na Praça da

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República, nos Diários Associados2, no Jockey Club e em outros pontos estratégicos da cidade de São Paulo para realizar a primeira transmissão televisiva oficial. Todos os aparelhos e os técnicos responsáveis pelas suas instalações foram importados dos Estados Unidos em caráter emergencial pelo jornalista. O famoso registro fotográfico feito no hall dos Diários Associados na data do lançamento da televisão no país nos mostra como a televisão atiçava a curiosidade do público.

Fig. 2 – Primeira transmissão televisiva – Diários Associados

Fonte: http://radarwhere.blogspot.com.br/2010/07/diarios-associados-impressoes.html

Em 20 de janeiro de 1951, surgiu a primeira emissora carioca de televisão: a TV Tupi do Rio de Janeiro. O transmissor do Canal 6 foi pessoalmente ligado pelo então Presidente da República, Eurico Gaspar Dutra, visto que o Rio de Janeiro era a capital da República. A emissora tinha

2 Conglomerado de comunicações fundado e dirigido por Assis Chateaubriand, composto por: 36 jornais, 39 emissoras de rádio, 13 emissoras de televisão - operando em todos as capitais do país, 1 agência de notícias, 1 revista semanal - “O Cruzeiro”, 1 revista mensal - “A Cigarra”, revistas infantis e 1 editora (total de 18 revistas).

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somente duas câmeras e funcionava em um pequeno estúdio, que era dividido também com duas rádios do grupo Diários Associados: rádios Tupi e Tamoio.

A experiência televisiva na década de 50 era totalmente experimental, pois não haviam profissionais capacitados para as tarefas da TV e muito menos aparelhagem e estúdios de qualidade para atender à demanda dos primeiros programas de televisão. As transmissões não ocorriam o dia todo, somente uma parte do dia e com grandes intervalos entre os programas, visto que a exibição era ao vivo e tudo precisava ser preparado na hora para o próximo evento.

Em 1951, com a fabricação dos primeiros aparelhos receptores nacionais, Chateaubriand lançou uma campanha publicitária para estimular a compra dos aparelhos e assim aumentar a audiência e o número de anunciantes. Em 1952, apesar dos altos preços dos aparelhos, existiam em todo o país cerca de 11 mil televisores.

Fig. 3 – Anúncio do aparelho de TV Invictus

Fonte: Almanaque da TV (BRAUNE e RIXA, 2007, p.15)

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Devido aos altos preços dos aparelhos receptores, o modo de ver televisão, num primeiro momento era partilhado entre familiares e vizinhos, todos em torno de um só aparelho de TV, como descreve Marialva Carlos Barbosa (apud RIBEIRO et al., 2010,p.32):

Os chamados “televizinhos” compareciam em grande número nos horários dos programas mais esperados, Às crianças debruçadas nas janelas pedia-se invariavelmente por silêncio. Os adultos se espremiam nas poltronas da sala em assentos que se multiplicavam de maneira improvisada diante daquele móvel de onde saíam imagens meio mágicas, repletas de sons, de um alhures que existia como potencialidade imaginativa.

Depois da criação da TV Tupi, surgiram duas outras emissoras, a TV Record em 1953 e a TV Rio em 1955. Posteriormente, as duas se aliam para proporcionar suas transmissões entre cidades brasileiras, como Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo. Em 1959, surge uma outra emissora, a TV Continental, canal 9, do Rio de Janeiro.

De 1950 a 1960, o destaque da programação ficava por conta dos teleteatros, que eram os clássicos da literatura e dramaturgia mundiais, levados às telas de TV, com a atuação de renomados artistas de teatro. Assistir à chamada “alta cultura” na televisão serviu como padrão televisivo por longos anos.

1.1.2. Anos 60: o início da popularização da TV

A década de 60 foi marcada pelo surgimento de novas emissoras de televisão, dentre elas, a TV Excelsior, do Grupo Simonsen, que implementou uma nova maneira de se fazer televisão no Brasil, seguindo regras empresariais: grade de horários para a programação (a chamada “grade de programação”, com diferentes programas em um mesmo dia e um mesmo programa exibido no mesmo horário diariamente), slogan e logotipo da

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emissora, salários mais elevados para compor o casting artístico e técnico, organização em departamentos, investimento na produção de e principalmente, a criação de uma programação vespertina.

Foi a partir da organização da “grade de programação” que as emissoras começaram a ter uma pequena noção do seu público-alvo, fazendo com que pudessem remodelar o que era exibido ao público. Notaram também que a televisão começava a se popularizar e que não se restringia somente ao lazer noturno familiar, mas também aos horários de trabalho e lazer de uma casa.

O depoimento de Homero Icaza Sanchéz, analista de dados de audiência para a TV Globo ilustra bem o funcionamento da grade de programação, que inclusive, é utilizada ainda em hoje, em pleno 2017, pelas emissoras de TV:

O Daniel (Filho) tem uma gradação muito inteligente no nível das novelas. Às seis horas é o campo dos meninos. Às sete da noite começa o que chamamos de horário cor de rosa. Aí temos o fenômeno da catarse (alívio das tensões pela identificação com o personagem) da telespectadora com a novela. Depois vem o jornal. Às oito aumenta um pouquinho a intensidade da ação da novela. Às dez você tem mais liberdade para fazer uma novela de costumes, de crítica social, de realismo etc. A catarse é típica de cada horário e tem etapas de intensidade. [...] Há um problema simples e sociológico que é o problema do lazer, do tempo disponível para distrações. Há um horário de meio-dia às duas da tarde que é a faixa de quem vai almoçar em casa. Você pode tentar alcançá-los, mas depois das duas horas não vai pegar mais ninguém. (RIBEIRO et al., 2010, p.64 - 65)

Com a chegada do videotape à televisão em 1962, muitos programas deixaram de ser ao vivo, passando a ser gravados e possibilitando, o início de uma memória televisiva. Também neste período, o produto cultural televisivo mais importante até então começou a perder a força junto ao público: o teleteatro, cedendo espaço para as produções feitas para a TV, como as telenovelas.

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Em 1963, a TV Excelsior leva ao ar a primeira diária do país: “2-5499 Ocupado”, com atuações de Tarcísio Meira e Glória Menezes e texto do argentino Albero Migré. A partir desta década, a telenovela caiu no gosto popular e passou a fazer parte da rotina do brasileiro. De 1963 a 1969, as emissoras produziram 176 novelas: 60 na TV Tupi, 55 na TV Excelsior, e 22 na TV Globo.

Fig. 4 – Anúncio da novela “2-5499 Ocupado”, patrocinado

Fonte: http://telinhacronica.blogspot.com.br/2014/12/2-5499- ocupado-primeira-novela-diaria.html

As novelas foram responsáveis pela elevação dos índices de audiência e consequentemente, de anunciantes na TV, superando a audiência de outros programas das emissoras, como os shows de variedades, programas de auditório e os telejornais. As primeiras telenovelas produzidas no país geralmente eram escritas por roteiristas estrangeiros. Os primeiros roteiristas

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brasileiros a se destacarem eram oriundos das radionovelas, como Raimundo Lopes, Ivani Ribeiro, Gilda de Abreu, Amaral Gurgel e Oduvaldo Viana.

Em abril de 1965, surge outra emissora de TV, a TV Globo - canal 4 do Rio de Janeiro, uma das empresas do grupo Globo de comunicação. A TV Globo foi o início do que hoje é a chamada Rede Globo de Televisão, uma emissora que nos seus primórdios tinha a intenção de estimular a produção de conteúdo nacional, principalmente nas áreas de entretenimento e jornalismo, com foco principal nas novelas.

Com o sucesso das telenovelas, um novo produto relacionado a elas foi criado em 1965: as trilhas sonoras de novelas. A novela “A Deusa Vencida” da TV Excelsior foi a primeira a ter um vinil compacto com duas faixas compostas para a novela. A primeira telenovela a ter uma trilha sonora lançada em LP (long-play) foi “Véu de Noiva”, da TV Globo, em 1969. O disco foi lançado pela Philips, com tanto sucesso que vendeu 70 mil cópias. Posteriormente, as novelas “Verão Vermelho” (1969), “Pigmalião 70” (1970), “Assim na terra como no Céu” (1970) também tiveram trilhas sonoras.

Fig. 5 – Capa do primeiro LP com trilha sonora de novela

Fonte: http://memoriaglobo.globo.com/programas/entretenimento/nove las/veu-de-noiva/trilha-sonora.htm

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Como as trilhas sonoras caíram no gosto popular, Roberto Marinho, do Grupo Globo, fundou a gravadora Som Livre para comercializar as trilhas sonoras das novelas da TV Globo. Em 1971, a Som Livre o primeiro produto produzido pela gravadora: a trilha da novela “”. A Som Livre, até os dias atuais, é a responsável pela criação e comercialização das trilhas sonoras das novelas apresentadas na TV Globo.

A partir da metade da década de 60, notou-se um crescimento do número de aparelhos televisivos em todos os estados brasileiros. Somente em 1966 foram vendidos 408 mil televisores, totalizando cerca de 2,4 milhões de aparelhos ao fim daquele ano. Tais fatores também contribuíram para tornar a televisão um meio de comunicação massivo.

Com a expansão das telecomunicações facilitada pela Ditadura militar, que pretendia promover a integração nacional através da comunicação, foi criada a Embratel (Empresa Brasileira de Telecomunicações), que permitiu que as emissoras propagassem por micro-ondas a sua programação. O da TV Globo foi o primeiro programa televisivo transmitido em rede no final de 1969, criado para competir com o Repórter Esso, telejornal da TV Tupi.

1.1.3. Anos 70: a modernização da experiência televisiva e a criação do Padrão Globo de qualidade

É especialmente nesta década que a televisão se afirma como meio de comunicação de massa e passa a conviver com os debates acerca do papel social desse meio. A TV Excelsior, apesar da estrutura empresarial, é extinta em 1970, em meio à consolidação da Ditadura Militar. Sua concessão foi cassada após a emissora apoiar a manutenção do então Presidente João Goulart no poder e se negar a apoiar os militares.

Já a TV Globo, surgida em 1965, tornou-se hegemônica a partir da década de 70, com o seu modelo tradicional de produção, investiu em

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dramaturgia e em programas de auditório, buscando um apelo popular junto ao público, visto que nesta época muitas pessoas já tinham condições financeiras de adquirir um aparelho televisor. No final dos anos 60, a TV Globo iniciou o seu processo interno de estruturação, seguindo os padrões da TV Excelsior e criando uma grade de programação que seguia os padrões de horizontalidade (reserva de horário para determinados programas ao longo da semana) e verticalidade (organização diária da programação em diferentes faixas de horário).

O nível de profissionalização da TV Globo seguiu altos padrões, aonde criaram departamentos exclusivos voltados às questões de mercado, como os de Pesquisa e Marketing. Criaram também um núcleo de novelas e uma mentalidade de planejamento dos programas de TV a longo prazo.

Fig. 6 – Anúncio do Programa Silvio Santos na TV Globo

Fonte: http://extra.globo.com/tv-e-lazer/silvio-santos-neste- 121212-confira-12-fotos-da-vida-do-apresentador-silvio-santos-que- comemora-82-anos-7033121.html

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O Jornal Nacional, telejornal da TV Globo, além de ser exibido em rede, utilizava uma linguagem coloquial e direta para falar com o telespectador, pois foi concebido para ser visto pela família brasileira, reunida em ambiente doméstico. Suas manchetes eram curtas e o texto era lido por dois apresentadores, que intercalavam-se ao noticiar os fatos. Outra novidade do Jornal Nacional eram as matérias testemunhais, com o depoimento e a voz dos entrevistados.

Com o sistema de exibição da programação em redes, houve uma ampliação do mercado consumidor e consequentemente, um aumento nas verbas publicitárias, possibilitando um maior cuidado com as produções e com a programação. Seguindo a orientação do Estado, os programas transmitidos em rede nacional não poderiam ser grotescos e nem considerados de baixo nível, surgindo assim os debates acerca do papel da televisão junto ao seu público consumidor. Segundo a doutrina de Segurança Nacional, a intenção da televisão deveria ser a de criar uma programação que formasse o cidadão e seguisse valores conservadores, principalmente ligados à família, à pátria, ao trabalho, ao catolicismo e principalmente, à moral e aos bons costumes.

Em 1971, uma série de acontecimentos polêmicos vieram a reforçar a retaliação do Estado às produções grotescas exibidas pela televisão. O mais famoso deles, ocorrido ao vivo primeiro no programa “Buzina do ” da TV Globo e em seguida, no “Programa Flávio Cavalcanti”, da TV Tupi. Os dois apresentadores, em um domingo, traziam como atração uma mãe de santo, dona Cacilda de Assis, que dizia receber o espírito de Seu Sete da Lira, uma entidade umbandista. Dona Cacilda, vestida de paletó e com uma capa preta, fumou charutos, bebeu cachaça e distribuiu “passes” diante das câmeras, gerando uma “histeria coletiva” no público que compunha o auditório dos dois programas de TV. As reações do Estado foram imediatas, com os videoteipes das gravações dos programas apreendidos pela Polícia Federal e o pronunciamento do ministro das Comunicações contra as emissoras por se utilizarem de sensacionalismo como estratégia de mercado, gerando a notícia de que ambas as concessões poderiam ser cassadas devido a este episódio.

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Com medo das possíveis medidas governamentais, as duas emissoras (TV Globo e TV Tupi), assinaram um protocolo de conduta, se comprometendo a excluir das suas programações os gêneros de shows grotescos e sensacionalistas. Apesar do protocolo de conduta, o Estado intensificou a censura aos programas televisivos.

O programa de Flávio Cavalcanti, além deste episódio, se envolveu dois anos depois, em outro acontecimento polêmico e acabou suspenso por dois meses pela censura. Ao fim do seu contrato, o apresentador foi demitido.

Fig. 7 – Capa da revista Amiga – década de 70

Fonte: http://umbandadejesus.blogspot.com.br/2011/08/exu-sete-liras.html

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Em 1973, a TV Globo, iniciou o chamado “Padrão Globo de qualidade”, um modelo de televisão moderno, aumentando o uso de videoteipe para as suas produções, utilizando o melhor equipamento de edição da época (o Editec), focando e cuidando do padrão estético dos seus programas e reduzindo o número de programas ao vivo, sujeitos a incidentes desagradáveis. A intenção principal era ter mais profissionalismo e menos improviso no desenvolvimento das suas produções. Com o surgimento deste novo padrão, muitos apresentadores popularescos perderam espaço na programação, menos o apresentador Silvio Santos, que era concessionário de horário, ou seja, produzia o seu próprio programa.

O padrão de qualidade criado pela TV Globo também se refletiu na teledramaturgia produzida pela emissora com a contratação de novos profissionais, artistas e intelectuais com os quais o público mais elitizado tinha maior identificação, como estratégia para “elevar o nível” da programação. Os folhetins, antes escritos por autores estrangeiros, foram entregues a autores nacionais que tinham como tarefa, aproximar as histórias ao cotidiano do público, utilizando-se de linguagem mais acessível, temas urbanos e tramas mais realistas. Neste período, o número de capítulos de uma telenovela diária aumentou consideravelmente e se estabilizou em cerca de 150. Foi nesta década que a TV Globo emplacou grandes produções originais e parou o país com o último capítulo de algumas das suas telenovelas, como Irmãos Coragem, por exemplo.

Com o advento da Televisão em cores, em 1973, os programas passaram a ser gravados inteiramente em cores, que apesar das dificuldades para a equipe técnica, resultaram em ótimos produtos. A primeira telenovela a ser produzida em cores pela TV Globo foi “O Bem-Amado”, de Dias Gomes e a primeira reportagem em telejornal foi exibida no “Jornal Nacional”, mostrando os funerais de célebres cidadãos brasileiros, vitimados pelo mesmo acidente aéreo, no ano de 1973. A partir desta reportagem, todas as outras matérias exibidas pelo Jornal Nacional passaram a ser coloridas.

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Em 1975, Silvio Santos obteve a sua primeira concessão de um canal televisivo, a TVS (TV Studio Silvio Santos de Cinema e Televisão), do Rio de Janeiro. Ao sair da TV Globo em 1976, passou a transmitir o seu programa pela TVS no Rio de Janeiro e em São Paulo, pela TV Record. Nesta época o apresentador já era dono das “lojas Tamakavy’, da “concessionária Vimave” e do “Baú da Felicidade” (presente em todo o Brasil), necessitando de uma emissora de televisão para fazer os anúncios das suas empresas.

1.1.4. Anos 80: a extinção de uma emissora tradicional e o surgimento de novas emissoras de TV

Por sua tradição de produção para a televisão e segundo as especulações da época, por ser considerado confiável a ponto de não fazer oposição política à Ditadura Militar, Silvio Santos pleiteou e recebeu uma nova concessão de emissoras de TV em 1980. Surgia então o SBT, a única emissora da história da TV brasileira a transmitir em rede nacional a cerimônia do Governo Federal, com a outorga da sua concessão.

Em 1981, o SBT para compor a sua programação utilizou-se de muitos programas de auditório, todos gravados e promoveu o retorno de muitos programas que haviam sido sucesso no início dos anos 60 em outras emissoras e acabaram banidos da televisão no final daquela década: “Clube dos Artistas”, “Almoço com as Estrelas”, “Programa Raul Gil”, “Programa Flávio Cavalcanti”, “O Povo na TV”, entre outros. A exibição de “O Povo na TV” era o principal motivo pelo SBT ser conhecido como uma emissora “popularesca”, além é das suas telenovelas serem consideradas melodramáticas demais, o que num primeiro momento, afugentou os anunciantes.

Apesar do surgimento do SBT, o início da década de 80 também ficou marcado pela extinção da pioneira TV Tupi em 18 de julho de 1980. Sofrendo uma grave crise econômica, com pedido de concordata feito pela

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Tupi de São Paulo e funcionários em greve (devido ao longo atraso no pagamento dos salários dos seus funcionários), a emissora teve todos os seus transmissores lacrados e sua concessão cassada.

No mesmo dia em que Silvio Santos conseguiu a concessão do SBT, o empresário Adolpho Bloch, dono da Bloch Editores (responsável pela renomada Revista Manchete), também conseguiu uma concessão de emissora de Televisão. Em 05 de junho de 1983, entrou no ar a de Televisão, uma emissora que possuía equipamentos importados de última geração e sede própria, construída para esta finalidade pelo arquiteto Oscar Niemeyer.

Fig. 8 – Logomarcas das emissoras de TV: SBT e Rede Manchete

Fonte: http://www.tvsdorj.com/2010/11/canal-6-vhf.html

Com o aumento do número de emissoras, a briga por audiência se intensificou. A partir daí, todas resolveram criar uma grade de programação que atendesse à demanda de todas as faixas de público, com destaque para os programas infantis e juvenis. A grade de programação de segunda à sexta- feira em horário matutino ou vespertino, estava repleta deles. No início da década, o SBT fazia sucesso com “Bozo” (1980 – 1991), a TV Globo despontou

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com “Turma do Balão Mágico” (1983-1986) e a Rede Manchete exibia “Clube da Criança”, apresentado por Xuxa Meneghel (1983-1986). Além desses, programas os mais antigos ainda mantinham a sua ótima audiência: “Os Trapalhões” (1966 – 1993) e “Sítio do Picapau amarelo” (1977-1986).

Com o final da Ditadura Militar em 1985, o contexto cultural brasileiro acompanhou a reorganização da sociedade civil e a transição vivida pela sociedade. Neste período, a ascensão dos grandes mercados capitais possibilitou uma cultura do consumo via imagens. As imagens e narrativas ágeis passaram a chamar a atenção da juventude brasileira, o mesmo efeito que a MTV Estados Unidos causava nos jovens americanos desde 1981.

Pensando em ganhar a audiência do público jovem, as emissoras criaram programas para o horário noturno: “Armação Ilimitada” (1985-1988) e posteriormente, o humorístico “TV Pirata” (1988-1990). Além da novela “Top Model” (1989), sucesso no horário das dezenove horas, todas da TV Globo. A TV Manchete levou ao ar o programa “Milk Shake” (1988 -1992), uma atração musical que trazia ao palco vários cantores e bandas de sucesso da época, nos moldes do programa “Globo de Ouro” que a TV Globo já apresentava desde 1972.

Durante a década de 80 surgiram os primeiros controles remotos, sem fio e com sensor infravermelho, além dos primeiros aparelhos de videocassete, o que gerou além da comodidade, uma sensação de que o espectador era o controlador da programação que assistia, o que ocorria devido à interação com a grade de programação televisiva, interrompendo, selecionando e armazenando programas.

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1.1.5. Anos 90: a segmentação e a TV fechada

Em 1990, surgiu no Brasil o primeiro canal de TV administrado por um grande grupo internacional de mídia, a Viacom Inc., inicialmente licenciada para o Editores, que trouxe a MTV para o Brasil. Assim surgiu a MTV Brasil, trazendo para o país a famosa “linguagem MTV”: acessível, jovial, utilizando sempre do jogo rápido de imagens, entrelaçada à música para atrair o público. A MTV Brasil serviu de porta de entrada para várias marcas estrangeiras no país, estimulando não só o consumo da indústria cultural, como também o consumo de outros produtos, o que para a televisão era sinal de aumento da arrecadação com anúncios publicitários.

A MTV Brasil surgiu com 75% de programação da matriz americana e 25% de conteúdo nacional próprio. Exibia em torno de 150 videoclipes musicais diários, a maioria estrangeiros, devido à escassez de material nacional. Surgiu como uma TV independente e livre, principalmente graças à experimentação dos programas produzidos no país, servindo como porta-voz da juventude recém-saída da Ditadura Militar.

Fig. 9 – Vinheta da MTV Brasil – década de 90

Fonte: https://blogtelevisando.wordpress.com/2013/09/02/mtv- brasil-a-gringa-brasileira-parte-2/

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No início da década de 90, o inesperado ocorre no mundo da teledramaturgia: a TV Globo, apesar da alta qualidade das suas telenovelas, perde audiência para outra emissora pela primeira vez em muitos anos.

A Rede Manchete, com a exibição da novela “Pantanal”, do autor Benedito Ruy Barbosa, chega ao primeiro lugar de audiência no horário das vinte e uma horas e trinta minutos. A trama recheada de belas paisagens do Pantanal matogrossense e muitas cenas de erotismo, conseguiu encantar o público. A história foi primeiramente apresentada à Rede Globo que a recusou. A TV Globo mudou a trama da sua novela “”, exibida no mesmo horário, esticou os capítulos da novela como estratégia para atrair o espectador, mas não conseguiu voltar ao topo na audiência do horário, durante este período.

Fig. 10 – Novela Pantanal - 1990

Fonte: http://teleseriesbrasileras.blogspot.com.br/2016/08/pantanal-1990.html

Com o advento do videocassete e das videolocadoras e o surgimento de uma TV fechada totalmente segmentada e paga, as emissoras de televisão da chamada TV aberta modificaram totalmente a sua estratégia de programação: a TV Manchete passou a investir em teledramaturgia de qualidade, o SBT importou programas mexicanos para reforçar a sua estratégia de popularização e a TV Globo investiu em programas populares como o “Você Decide”, um marco da interação entre público e televisão no Brasil.

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O programa “Você Decide” da TV Globo estreou em abril de 1992, com a proposta de permitir uma interação entre o público e a atração através da escolha do espectador, ao vivo, de um dos dois finais possíveis para a trama de trinta e cinco minutos, apresentada semanalmente. Cada episódio retrava um dilema moral e ético, que deveria ser votado por telefone (eram duas opções de números com ligação gratuita), no qual o público escolhia entre o “sim” e o “não” e assistia ao desfecho mais votado. Pela primeira vez na história, o telespectador interferia em uma obra televisiva, antes, totalmente fechada. O programa fez muito sucesso nos seus oito anos de existência.

Durante os anos 90, muitas emissoras de TV aberta, frente à concorrência de grupos empresariais internacionais que aqui se instalaram e criaram canais de televisão. Assim surgiu a TV paga, com canais segmentados para cada tipo de público: os amantes de cinema, os apaixonados por programas de variedades, os fanáticos por esportes, os aficionados por documentários.

1.1.6. Anos 2000: a era da convergência digital

Em meados dos anos 90, as grandes emissoras brasileiras de televisão começaram a adquirir seus primeiros equipamentos digitais: ilhas de edição e câmeras, além de criar páginas de internet para cada um de seus programas e possibilitar via internet a exibição em tempo real da sua programação, como aconteceu com o “Fantástico”, da TV Globo, que foi exibido em tempo real pela internet durante a Copa do Mundo de 1998.

No final de 1999, a TV Globo iniciou a produção dos primeiros programas de teledramaturgia em HDTV (High Definition Television, ou seja, televisão de alta definição). No início de 2000, já existiam planos de articular a produção televisiva com a produção cinematográfica a partir do sistema digital de transmissão de dados televisivos em alta resolução, bem como a transformação dessa produção em entretenimento caseiro, através da venda de DVDs e posteriormente, Blu-Rays.

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Nesta época, houve uma grande aproximação entre a experiência televisiva e a experiência cinematográfica no Brasil. A TV Globo, expandiu a sua produtora de cinema, a Globo Filmes e aproveitando o apoio do Governo Federal, que lançava o Programa de Fomento à Produção e Teledifusão do Documentário Brasileiro (DOC TV) através do Ministério da Cultura, promoveu a retomada do cinema nacional, com produções com a qualidade do HDTV, artistas de televisão, roteiros de alta qualidade e uma narrativa a qual o público nacional já está acostumado, como a das telenovelas. Assim, o conceituado Padrão Globo de qualidade estava a serviço não só da programação da emissora, como também do cinema.

Com a formação de um núcleo de profissionais de cinema, liderados pelo renomado diretor Guel Arraes, a TV Globo passou a produzir um produto que atendesse, ao mesmo tempo, à TV e ao cinema. A minissérie “O Auto da Compadecida”, de 1999, foi um marco desse tipo de produção: originalmente uma série de quatro capítulos, foi reeditada posteriormente e distribuída como filme, evidenciando o papel da televisão como meio criador de produtos que circulam entre meios de comunicação distintos.

Na década de 2000, as emissoras de TV começaram a apostar na convergência entre televisão e internet lançando portais para integrar a sua programação com conteúdos exclusivos para a internet. O portal Globo.com, lançado em março de 2000 é um exemplo dessa convergência entre mídias, assim como o portal R7.com, lançado em setembro de 2009 pela TV Record.

Com o surgimento dos primeiros Reality shows, o consumo de imagens aumentou, assim como a interação entre público e produtor de conteúdo. “Casa dos Artistas”, do SBT e “”, da Globo demonstraram que a aposta das emissoras televisivas em formatos globais de programas, adaptáveis a qualquer cultura foi totalmente acertada e impulsionaram a criação de outros programas no mesmo formato. Inicialmente, a interatividade entre o público e o programa de TV era feita por ligações telefônicas, evoluindo para mensagens SMS através do aparelho de telefonia celular e finalmente, por aplicativos de internet.

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Em 2006, a Rede Globo começou a apostar em novas estratégias comerciais. Com a série “Antônia”, exibida em duas temporadas (2006 e 2007), criou um produto crossmedia, em que as narrativas entre o seriado e o filme conversavam entre si. Foram lançados também as trilhas sonoras do filme e do seriado, DVDs com as temporadas do seriado, clipes com a música do quarteto e uma brincadeira interativa. Assim a TV globo dava os seus primeiros passos em direção a um movimento transmidiático.

Com a digitalização da imagem e a convergência dos meios de comunicação o futuro da indústria do entretenimento está sendo reescrito e está ligado diretamente à transmediação, principalmente nos dias atuais em que o telespectador é capaz de produzir o seu próprio conteúdo, interagindo com o meio de comunicação e exercendo um trabalho colaborativo.

1.2. Mudanças à vista: o surgimento da TV digital, o fim da TV analógica e a interatividade entre o telespectador e a televisão

Em meados da década de 90, havia uma preocupação aqui no Brasil com o desenvolvimento tecnológico já pensando na televisão digital. Conforme mencionado anteriormente, as emissoras de TV começaram a se equipar com ilhas de edição e câmeras para operar em modo digital. Apesar do avanço tecnológico faltou um investimento em recursos para viabilizar a interação entre o conteúdo televisivo e o espectador.

O interesse inicial das emissoras era o de oferecer imagens em alta definição, o que para filmes, novelas e seriados é ótimo, mas é dispensável para o restante da programação televisiva.

Num mundo globalizado, como o atual, dominado pela internet, que é uma mídia interativa, o conteúdo oferecido ao espectador pelas emissoras de TV tem que ir além da interação básica, já experimentada anteriormente, como o envio de cartas aos programas, envio de mensagens SMS ou pela internet, participação do público através de votação por telefone ou internet. O

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espectador quer mais e as emissoras dependem exclusivamente do desejo do espectador em interagir com a programação, pois sem essa vontade, qualquer ação que busque a interatividade pode falhar. Para atrair o espectador nesse sentido, o conteúdo deve ser atrativo e de interesse do consumidor e o aplicativo deve ser de fácil mecânica e acesso. Sobre essa experiência interativa, segundo Newton Cannito (2010, p.150):

A usabilidade e suas interfaces devem simplificar, otimizar, facilitar, melhorar e acelerar o acesso à informação. Para tanto é preciso considerar o espectador/usuário e o ambiente em que ele está inserido. A praticidade e o poder atrativo deverão aliar- se a uma linguagem simples, muitas vezes autoexplicativa (ou seja, que torne o óbvio ainda mais óbvio) e planejada para aqueles que não têm acesso à internet. Caso contrário, a TV digital e suas possibilidades interativas só irão contribuir para a exclusão digital no país.

Em 2006, o então Presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou um Decreto que estabelecia as diretrizes para a digitalização da televisão brasileira de transmissão terrestre. O Decreto 5.820 definiu como base do Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre o padrão japonês (ISDB-T), estipulou o prazo de sete anos para a digitalização, dando a cada emissora o direito a um novo canal e dez anos para a transição do sistema analógico para o digital, podendo transmitir os dois sinas ao mesmo tempo. O mesmo Decreto deu quatro canais de televisão (Poder Executivo, Educação, Cultura e Cidadania) ao Governo Federal.

A primeira cidade brasileira a experimentar a transmissão por sinal digital na televisão aberta, em dezembro de 2007, foi São Paulo. Em abril de 2008, a nova tecnologia chegou ao Rio de Janeiro e .

Atualmente, as emissoras de TV fazem campanhas para conscientizar o espectador do desligamento do sinal analógico, em cada cidade do Brasil e aproveitam para informar como deve ser feita a troca da antena para a recepção do sinal digital. O grande problema que esqueceram de prever ao pensar na troca do sinal analógico para o digital foi que nem toda a população tem um aparelho receptor de ponta em casa. Segundo o IBGE, treze

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milhões de domicílios no Brasil só tem acesso ao sinal analógico aberto, correndo o risco de ficar sem acesso à programação televisiva com a anunciada migração do sistema analógico para o digital, problema que prejudicaria principalmente as regiões Norte e Nordeste do país. O desligamento do sinal analógico no país já está agendado e deverá ser finalizado até o final de 2018.

Até o presente, o único Estado brasileiro que teve o seu sinal analógico de televisão totalmente desligado e transmite agora um sinal cem por cento digital é Brasília - DF. A Capital Federal desligou a transmissão do antigo sinal em 17 de novembro de 2016, após a pesquisa do IBOPE aferir que 92% dos lares do DF e das cidades próximas tinham condições de receber o sinal digital.

1.3. O consumo de televisão no Brasil ao longo dos tempos

A televisão nos seus 66 anos de existência viu o seu consumo aumentar a cada década e ainda hoje é o principal meio de comunicação brasileiro. Segundo o censo realizado pelo IBGE ao longo dos anos, os números de receptores de TV no país evoluíram da seguinte forma: 1950 = 1.000 aparelhos de TV; 1960 = 621.919 aparelhos de TV; 1970 = 4.250.404 aparelhos de TV; 1980 = 14.142.924 aparelhos de TV; 1991 = 27.650.179 aparelhos de TV; 2000 = 39.060.188 aparelhos de TV.

Segundo pesquisa da Kantar IBOPE Media, de 2010 a 2015, houve um aumento de 77% de consumo de TV paga no país. Os programas de televisão favoritos do público brasileiro são noticiários, filmes e novelas. A TV aberta é consumida por 53% de mulheres, sendo 47% do público da classe C. Já a TV paga é consumida por 51% de mulheres e 57% de pessoas das classes A e B.

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Já a pesquisa brasileira de mídia realizada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República e divulgada em 2015, traz dados mais detalhados sobre o consumo televisivo:

Os brasileiros assistem à televisão, em média, 4h31 por dia, de 2ª a 6ª-feira, e 4h14 nos finais de semana, sendo que a maior parte deles o faz todos os dias da semana (73%). O hábito de estar ligado à TV varia muito pouco de 2ª-feira a domingo. O período de maior exposição é das 18h às 23h, embora nos dias de semana haja um pequeno pico de exposição na hora do almoço e, nos finais de semana, um componente vespertino. As pessoas assistem à televisão, principalmente, para se informar (79%), como diversão e entretenimento (67%), para passar o tempo livre (32%) e por causa de um programa específico (19%). Mas não é baixo o percentual de entrevistados que declaram ter esse meio de comunicação como uma companhia (11%). Os dados sobre estrutura de acesso à televisão também trazem novidades em relação à pesquisa de 2014. Na rodada de 2015, os entrevistados puderam responder, em uma pergunta de resposta múltipla, sobre a posse de TV aberta, TV por antena parabólica ou TV paga. É possível afirmar que 26% dos lares brasileiros são atendidos por um serviço pago de televisão, 23% por antena parabólica e 72% possuem acesso à TV aberta. A posse de antena parabólica, presente nos lares dos entrevistados, apresenta características inversas às da TV paga. Enquanto a TV paga está presente nos grandes centros urbanos e é acessível aos estratos mais ricos e escolarizados da população, a antena parabólica é mais comum no interior do país: sua posse é declarada por 49% dos entrevistados residentes em municípios com até 20 mil habitantes, contra 4% nos municípios com mais de 500 mil habitantes. (Brasília: Secom, 2014, p. 15)

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1.4. As discussões sobre o possível fim da televisão

Com as grandes transformações sofridas pela mídia televisiva a partir da convergência com outros meios, da passagem de um sistema analógico para um sistema digital e das transformações das práticas sociais, surgiu um intenso debate dos pesquisadores e profissionais do meio em torno da expressão “fim da televisão”.

O tema é complexo, polêmico e requer amplos debates, principalmente para definir o rumo que a televisão tomará, visto que o futuro do principal meio massivo de comunicação é incerto e as reflexões sobre o tema variam a partir das realidades econômicas e socioculturais de cada país. Infelizmente as pesquisas em comunicação que falam sobre o tema ainda são poucas e não há um consenso entre os especialistas, que continuam divididos em suas opiniões.

Ainda há muito o que estudar, debater e criar mecanismos novos para atrair os telespectadores, visto que o modelo de broadcasting se encontra em crise. Embora, muitas emissoras de TV, principalmente as de sinal aberto, ainda utilizem o modelo antigo de grade de programação padrão, a televisão não regula mais a vida social das pessoas, cada espectador pode assistir a programação que quiser, na hora, local e meio da sua vontade, seja pela tela do aparelho de TV, tablet ou smartphone, ou vários tipos de programação, em várias telas ao mesmo tempo, mesmo que a atenção seja limitada em cada uma delas. O fenômeno multitelas cresce cada vez mais, pois uma tela só não é mais suficiente na interação entre espectador e programação televisiva, principalmente por conta dos produtos transmidiáticos resultantes de um único programa de TV, além da interação, em tempo real, possibilitada pelas redes sociais, com outros espectadores que estão assistindo ao mesmo programa.

A televisão atual é reticular, colaborativa e sofre de uma fragmentação de audiência. Neste panorama, a convergência com novas mídias tem lugar privilegiado e é notado nas seguintes características da nova programação televisiva:

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 A multiplicação de programas narrativos, como séries, que não só privilegiam o personagem central, mas também personagens secundários e a interação entre todos eles.

 Como as histórias são muitas, é necessário contá-las mais rápido e ir direto ao ponto, para prender a atenção do espectador.

 A fragmentação da tela, como é feito nas páginas de internet, modularizando as informações em diferentes áreas da tela.

 Narrativas “em tempo real”, como notamos em algumas séries, que simulam a transmissão ao vivo e não contam com muitos efeitos de pós-produção.

 Histórias não sequenciais.

 A expansão da história para outros meios e produtos, constituindo uma “narrativa transmídia”.

Essa é a televisão que foi obrigada a se diferenciar do modelo padrão para atrair os novos espectadores, dividindo a opinião dos estudiosos em duas correntes teóricas sobre esse movimento de transição. A primeira, que sustenta que a televisão não está morta e nem morrendo é proposta por estudiosos como Toby Miller e John Ellis, mais conhecida como a corrente anglo-saxã. A segunda, a corrente latino-americana, sustenta a ideia de que uma certa televisão está morrendo e é proposta por estudiosos como Mario Carlón, Eliseo Verón, Elihu Katz, Carlos A. Scolari, Guilhermo Orozco e os brasileiros Yvana Fechine e Arlindo Machado.

John Ellis, representante do debate anglo-saxão, explica sobre as fases da mídia televisiva:

Na primeira fase (50/80), os telespectadores conheciam uma televisão de “escassez” na qual as opções de escolha estavam limitadas a alguns canais que transmitiam às famílias sentadas ao redor de uma lareira como uma nação em torno de uma fogueira. Na segunda, houve uma televisão de abundância em

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que reinou a competição entre o satélite e o cabo, a oferta foi ampliada e cada moradia tinha sua televisão. E, agora, estamos numa situação, finalmente, de infinitas opções em que podemos ver o que desejamos, quando desejamos (em tempo real ou com atraso), onde desejamos (numa variedade de telas, telefones, websites). (CARLÓN e FECHINE, 2014, p.14-15)

Segundo Elihu Katz, representante do debate latino-americano, a televisão que conhecemos nos anos 60 e 70 está morrendo:

Essa televisão que naquele momento, interpelava tanto a nação quanto a família já não é a atual. Está deixando espaço para outras com centenas de canais, que transmitem para “nichos”; uma televisão portátil, que faz parte de um sistema integrado com a internet e outros novos meios; uma televisão em que, exagerando, não há duas pessoas assistindo ao mesmo programa simultaneamente. É uma televisão que se vê afetada por mudanças tecnológicas e no contato. E essas mudanças foram acompanhadas pelo colapso da regulação pública em meio a uma vertiginosa (e confusa) mudança tecnológica, que também foi, ao mesmo tempo, uma mudança da opinião pública, que se manifestou contra os profissionais que afirmam saber, melhor que nós, o que é bom para nós. (CARLÓN e FECHINE, 2014, p.14)

Toby Miller, em seu artigo intitulado “A Televisão Acabou, a Televisão Virou Coisa do Passado, a Televisão Já Era”, deixa claro, neste trecho, que a televisão não está morrendo:

Como vimos antes, muita gente diz que a TV já está acabada, que ela não faz mais diferença. A retórica das mídias audiovisuais mais novas repercute o espanto fenomenológico de uma criança precoce preparada para curar as feridas da vida moderna, reconciliando, como que por mágica, o público e o privado, o trabalho e o lazer, o comércio e a cultura, a cidadania e o consumo. O suposto desfecho? A internet é o futuro. O grande organizador da vida diária por mais de meio século perderá o lugar de honra tanto na disposição física do lar quanto na ordem cotidiana do drama e da informação. Todos devemos dar boas-vindas ao mundo pós-televisão, onde os duplos monopólios foram rompidos – o objeto físico não domina mais, nem o seu modelo de produção unidirecional, a TV perdeu a sua identidade. No entanto, a evidência para tais alegações é esparsa e inconsistente. Historicamente, é verdade que a maioria das novas mídias suplantou as anteriores como órgãos centrais de autoridade e lazer. Pense na literatura versus a retórica, o cinema versus o teatro, o rádio versus a música de orquestra. Mas a televisão é uma mistura de todas elas, um armazém cultural. E que continua crescendo. (MILLER, 2014, p.18)

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Apesar do crescimento da utilização da internet e da convergência entre TV e internet, uma mídia não suplantará a outra, segundo Toby Miller (2014, p. 22):

Imaginar a internet em oposição à televisão é bobagem; ao contrário, ela é apenas mais uma forma de enviar e receber a televisão. E a TV está se tornando mais popular, não menos. Suspeito que estamos testemunhando uma transformação da TV, ao invés do eu falecimento. O que começou, na maioria dos países, como um meio de comunicação de transmissão nacional dominado pelo Estado, está sendo transformado em um meio de comunicação internacional a cabo, via satélite e internet, dominado pelo comércio.

Há um consenso entre todos os estudiosos mencionados no que diz respeito a essa nova fase em que a televisão se insere, enquanto meio massivo de comunicação. Mas apesar dos diagnósticos similares, os posicionamentos são diferentes e infelizmente não há um acordo por parte dos pesquisadores de como esta nova etapa deve ser nomeada. Alguns chamam de “Pós-Televisão”, como Toby Miller, outros de “Hipertelevisão”, como Carlos A. Scolari, ou até mesmo “Metatelevisão”, como propõe Mario Carlón e há aqueles que, utilizando uma frase aplicada às telenovelas, ainda aguardam as cenas dos próximos capítulos.

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CAPÍTULO II A CONVERGÊNCIA ENTRE MÍDIAS

Desde o surgimento da tecnologia digital, acompanhamos várias transformações em todos os meios de comunicação existentes, ou seja, estamos presenciando a maior revolução da história das mídias, ocorrida até os dias atuais. A nova tecnologia tem como principal característica, a convertibilidade: tudo pode ser convertido a um código binário, o que abre a possibilidade da convergência entre mídias.

Muito se especulou sobre a extinção de algumas mídias com o surgimento da internet, mas na verdade isto não ocorreu. O que mudou foi o modo de funcionamento, o tipo de audiência e o local onde essas mídias passaram a atuar. O rádio, por exemplo, não só continuou sendo transmitido pelos aparelhos de som, como ganhou espaço nos aparelhos celulares, em sites de internet das emissoras a partir da tecnologia de streaming, nos aparelhos portáteis de áudio e em tantas outras frentes.

A televisão não ficou atrás e migrou para diversos meios através da sua convergência com a internet. Agora podemos assistir televisão também nos aparelhos de telefonia celular, tablets, computadores e podemos acompanhar a extensão dos programas televisivos pela internet ou assistir a capítulo de uma série de canal aberto pela internet antes mesmo do sua primeira exibição oficial, por exemplo. Assim como temos acesso à internet através de um aparelho de televisão que nos permite navegar e assistir a uma programação personalizada, através de um serviço de streaming.

As possibilidades são muitas e as mídias prometem convergir cada vez mais e de modos cada vez mais complexos, afinal o princípio número um da convergência é fornecer qualquer coisa, a qualquer hora e em qualquer local.

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2.1. A Teoria da Cultura de Convergência de Henry Jenkins

Henry Jenkins, fundador e diretor do Programa de Estudos de Mídia Comparada do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) ao analisar a evolução das mídias a partir do fenômeno da cultura participativa entre fãs de televisão verificou que as transformações pelas quais as mídias passavam, no mundo contemporâneo, era múltiplo e complexo. Jenkins notou que a convergência entre as mídias não se dá por meio de aparelhos, por mais sofisticados que eles sejam, e sim, a partir das relações entre os indivíduos:

Esta relação entre pessoas que não se conhecem, mas dividem as mesmas referências, recriando as mensagens da mídia (e tornando-se, elas mesmas, produtoras) e compartilhando ideias espalhadas entre vários meios de comunicação em várias plataformas é um dos elementos do que Henry Jenkins denomina cultura da convergência. (MARTINO, 2015, p.34)

Ou seja, a convergência é um processo cultural decorrente da interação entre os indivíduos, que tem início em suas mentes, que criam as conexões entre os elementos da cultura da mídia e as mensagens, ideias, valores e pensamentos presentes no cotidiano. Neste processo, cada pessoa é um colaborador, capaz de transformar um pensamento originário e depois devolvê-lo de modo evoluído às redes.

Embora pareça, a convergência não existe só por causa da tecnologia, mas a tecnologia é uma facilitadora para que o processo aconteça. O conceito da convergência dos meios de comunicação engloba a inteligência coletiva e a cultura participativa.

A inteligência coletiva, termo amplamente utilizado pelo teórico francês Pierre Lévy, refere-se ao fato do consumo ter se tornado um processo coletivo, onde cada indivíduo possui uma parte do conhecimento e precisa interagir com os demais para associar seus recursos e criar um todo. A interação é tamanha que hoje, consumimos a partir das opiniões dos

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compradores sobre a experiência de compra e da sua percepção sobre os produtos adquiridos.

A cultura participativa, segundo Henry Jenkins (2009, p.30):

A expressão cultura participativa contrasta com noções mais antigas sobre a passividade dos espectadores dos meios de comunicação. Em vez de falar sobre produtores e consumidores de mídia como ocupantes de papéis separados, podemos agora considerá-los como participantes interagindo de acordo com um novo conjunto de regras, que nenhum de nós entende por completo. Nem todos os participantes são criados iguais. Corporações – e mesmo indivíduos dentro das corporações da mídia – ainda exercem maior poder do que qualquer consumidor individual, ou mesmo um conjunto de consumidores. E alguns consumidores têm mais habilidades para participar dessa cultura emergente que outros.

A velha ideia sobre a convergência previa que todos os aparelhos iriam convergir em um único e central aparelho que ofereceria todas as possibilidades de mídias. A esse pensamento, Jenkins se referiu como a “falácia da caixa preta”, pois reduz a transformação dos meios de comunicação a uma transformação puramente tecnológica, esquecendo os processos culturais e as relações entre os consumidores e as mídias.

Na verdade, a convergência ocorreu ao contrário do previsto: o hardware divergiu e o conteúdo convergiu, fazendo com que os consumidores e sua relação com o conteúdo, os produtos e as marcas se tornassem o centro das atenções. Nesse novo mundo de convergência midiática, o consumidor se tornou tão importante a ponto de ser bajulado pelas marcas em múltiplas plataformas de mídia. Para Jenkins (2009, p. 44):

A convergência está ocorrendo dentro dos mesmos aparelhos, dentro das mesmas franquias, dentro das mesmas empresas, dentro do cérebro do consumidor e dentro dos mesmos grupos de fãs. A convergência envolve um transformação tanto na forma de produzir quanto na forma de consumir os meios de comunicação.

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2.2. A Televisão e a convergência com outras mídias

Conforme já foi dito anteriormente, os meios de comunicação de massa já existentes não serão extintos na era da cultura da convergência. A convergência na verdade faz com que as mídias interajam e se transformem em novos processos e novos meios, criando um ressignificado na experiência dos indivíduos.

A experiência de ver televisão é modificada a partir da interação, segundo Martino (2015, p.36):

Assistir a uma telenovela ou a um jogo de futebol na televisão, por exemplo, é estar diante de uma mídia de massa, vendo algo planejado de acordo com os parâmetros da indústria cultural. No entanto, quando o indivíduo compartilha nas redes digitais seus comentários a respeito do que vê, a experiência de ver televisão é alterada – aliás, deixa de ser, em termos mais estritos, um ato de apenas “ver” televisão, mas trata-se, sobretudo, de discutir e reimaginar a mensagem, que será recriada e compartilhada com outras pessoas.

A convergência das mídias não é somente um fenômeno tecnológico, segundo Jenkins (2009, p.43):

A convergência das mídias é mais do que apenas uma mudança tecnológica. A convergência altera a relação entre tecnologias existentes, indústrias, mercados, gêneros e públicos. A convergência altera a lógica pela qual os consumidores processam a notícia e o entretenimento. Lembrem-se disso: convergência refere-se a um processo, não a um ponto final. Não haverá uma caixa preta que controlará o fluxo midiático para dentro de nossas casas. Graças à proliferação de canais e à portabilidade das novas tecnologias de informática e telecomunicações, estamos entrando numa era em que haverá mídias em todos os lugares. A convergência não é algo que vai acontecer um dia, quando tivermos banda larga suficiente ou quando descobrirmos a configuração correta dos aparelhos. Prontos ou não, já estamos vivendo numa cultura da convergência.

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A convergência tecnológica fez com que os conglomerados de entretenimento repensassem o seu papel a partir das novas formas de consumo das mídias e principalmente, das pessoas como produtoras de conteúdo. Antes, a pretensão era dominar um determinado meio de comunicação somente. Hoje, visando o sucesso comercial, a ideia é controlar uma indústria do entretenimento que produza televisão, filmes, música, games, livros, brinquedos e outras formas de gerar o consumo.

No exterior, temos como exemplo a corporação Warner Bros., uma das mais poderosas no ramo do entretenimento. No Brasil, temos o Grupo Globo, que expandiu seus negócios para além da televisão (TV Globo). Produzem e oferecem cinema (Globo Filmes), música (Gravadora Som Livre), rádio (Rádio Globo e CBN), livros e revistas (Editora Globo), jornais (O Globo, Extra e Expresso), canais de TV por assinatura (Globosat).

De acordo com Jenkins, diante da maior transformação dos meios de comunicação já vista, dependemos do modo como esse momento de transição vai evoluir para determinar o equilíbrio do poder na próxima era das mídias. Conforme Cannito, os conglomerados que terão o maior poder de mídia serão aqueles focados nos conteúdos, antenados com o que o público deseja consumir:

Passado o momento de transformações tecnológicas, o diferencial estará nos conteúdos. Para crescer no mundo digital as empresas e os criadores têm de ter em vista que os tipos variados de tecnologia – e mesmo de aparelhos – não terão significado aos olhos dos consumidores. Para estes, o ideal é que a tecnologia se já invisível, e sua motivação estará no conteúdo e nos serviços (aplicativos) oferecidos. Na era digital, o conteúdo é tão fundamental que abarca muito mais que o próprio mundo digital. (CANNITO, 2010, p.251)

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2.3. A TV por streaming

A tecnologia Streaming surgiu na internet em meados da década de 80. O “Real Audio” da empresa Progressive Networks foi a primeira tecnologia desse tipo a se popularizar, mesmo funcionando somente como streaming de áudio. Inicialmente, o som era mono e de baixa qualidade se comparada ao arquivo original. Com o aprimoramento das versões do Real Player n, a qualidade do som também melhorou.

Em 1996, com a transmissão de um fluxo de áudio ao vivo através de uma rede - o “Live @nd In Concert”, com nomes do Pop/Rock internacional como Joan Jett, Joey Ramone e Deborah Harry, o streaming se destacou mais ainda como tecnologia, fazendo com que vários programas fossem criados para a distribuição de áudio por streaming. No mesmo ano, no Brasil, com a utilização do aplicativo IBM Bamba, ocorreu a primeira transmissão de um lançamento musical através da rede com a música “Pela Internet”, de Gilberto Gil.

Em 1997, a Progressive Networks lançou o “Real Video”, para fazer transmissões de imagens via streaming, fazendo com que a Microsoft se interessasse pela tecnologia e futuramente criasse o seu Windows Media Player. Seguindo o sucesso do Streaming surgiram: MP3, Peer-to-peer, Shoutcast, Flash Vídeo, YouTube, HBO Go, e tantos outros aplicativos e serviços baseados nessa tecnologia.

2.3.1. O YouTube

Com o surgimento do YouTube em 2005 e a sua popularização em 2006, o mercado audiovisual notou mudanças no comportamento do espectador, que há muito tempo não se mostrava mais acomodado e passivo na frente da tela da TV e passou a entender um pouco mais de que tipo de programação esse espectador preferia. Em 2006, o site atingiu a marca de 50 milhões de visitas, sendo alvo de grandes corporações e finalmente, sendo

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comprado pelo Google em um dos maiores negócios das histórias das mídias. Com a compra do YouTube, o Google encerrou as atividades do Google Video.

O sucesso do YouTube está no trabalho com o conceito de web 2.0, no qual o público tem todo o poder de montar a sua programação da maneira que quiser e o melhor, postar o próprio conteúdo. Na época do seu lançamento, a allTV era o seu principal concorrente, que acabou ficando para trás por tentar reproduzir a programação tradicional televisiva na web, com a possibilidade de uma pequena interação com o espectador.

2.3.2. A HBO

A HBO (Home Box Office) foi a primeira emissora de televisão a cabo surgida nos Estados Unidos da América, em 1972. Pioneira também na transmissão via satélite da programação em 1975, na codificação do seu sinal contra a pirataria em 1986 e a fazer transmissões em alta definição no fim dos anos 90.

A rede de TV a cabo que está presente em mais de 150 países pelo mundo, conta com mais de 41 milhões de assinantes e desde 2010 opera também em serviço de exibição de conteúdo por streaming, a HBO Go.

O serviço HBO Go é mundialmente conhecido pela produção de conteúdo exclusivo, contando com séries de TV premiadas e aclamadas como: “Game of Thrones”, “True Detective” e a clássica “Sex and the City”. Em dezembro de 2016, o serviço chegou finalmente ao Brasil, tendo como concorrente principal o canal Netflix.

2.3.3. NETFLIX – O SERVIÇO DE STREAMING “QUERIDINHO” DOS BRASILEIROS

A Netflix surgiu em 1998 como um serviço de aluguel de DVDs pela internet. Em 1999, surgiu o serviço de assinaturas no qual o cliente fazia a sua

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opção de filme no site da empresa, recebendo o título escolhido pelos correios, sem taxa de envio e devolvia o DVD, posteriormente, no mesmo envelope no qual foi enviado, sem nenhum custo.

Em 2007, com mais de 1 bilhão de títulos alugados, a Netflix iniciou o serviço de exibição de filmes e seriados por streaming. Após seis meses, os números eram impressionantes: 10 milhões de filmes e séries assistidos via internet.

A partir de 2008, a empresa começou a sua parceria com grandes conglomerados tecnológicos (fabricantes de consoles para videogames, fabricantes de conversores de televisão e de aparelhos de Blu-Ray, a empresa expandiu o seu serviço para outros países até chegar ao Brasil, em 2011. O sucesso no Brasil se deu principalmente, devido às opções de legendas em português e de conteúdo dublado.

Operando no Brasil há cinco anos, a Netflix possui cerca de 6 milhões de assinantes pagantes no país, ou seja, mais assinantes que a Sky, empresa de TV por assinatura. Outro dado curioso diz respeito ao faturamento anual da plataforma de streaming, em torno de 1.209 bilhão, receita 30% maior que a da emissora de televisão SBT.

A empresa atualmente é uma das maiores produtoras de conteúdo original e exclusivo do mercado de entretenimento e os seus canais de interação com o usuário através das redes sociais são elogiados pelo excelente atendimento e a perspicácia das respostas.

Sempre atenta à concorrência, na semana em que a HBO Go chegou ao Brasil, a Netflix reagiu dando aos seus usuários a opção de baixarem o conteúdo da plataforma e assistirem offline em qualquer dispositivo android ou iOS.

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2.4. O desenvolvimento dos aparelhos televisores e o surgimento das “Smart TVs”

Até o fenômeno dos aparelhos de TV compactos no final dos anos 90, as principais novidades que aqueceram as vendas dos televisores de tubo eram a televisão em cores, o controle remoto e a tela plana. As primeiras TVs de plasma e LCD, tecnologia que era empregada somente em computadores, surgiram no fim da década de 90 e se popularizaram durante a década seguinte.

Com o sucesso dos aparelhos com telas de LCD, no fim da década de 2000, surgiram as TVs com LED, exibindo imagens mais nítidas e atraindo o consumidor com o seu reduzido consumo de energia elétrica. Em 2010, chegaram ao Brasil os primeiros aparelhos com tecnologia 3D, que não foi sucesso de vendas no país devido aos altos preços e a falta de programação em três dimensões para a satisfação do espectador.

Em 2011, a convergência da mídia televisiva com a internet e outros aparelhos multimídia, possibilitou o surgimento dos primeiros “televisores inteligentes”, as chamadas “Smart TVs”. A novidade neste tipo de equipamento estava no fornecimento da conexão direta entre o eletrônico e a internet, permitindo ao usuário: a navegação na rede, nas lojas de aplicativos, a exibição de programas por streaming, acesso a e-mails e a algum dispositivo de entrada de texto. Como as “Smart TVs” foram desenvolvidas para o entretenimento visual, apesar de possuírem um dispositivo de entrada de texto, não podem ser utilizadas como ferramentas de produtividade (planilhas e editores de texto), assim como são os computadores, tablets e smartphones.

Depois do lançamento das “TVs Full HD”, O público ávido por novidades agora pode experimentar as novas tecnologias oferecidas pelo mercado, as “TVs Ultra HD”, mais conhecidas como “4K” e “5K”, que prometem a qualidade em alta definição das telas de cinema ao alcance do espectador.

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2.5. O conceito de Transmídia e seus desdobramentos

Em um mundo cada vez mais conectado, vivendo uma era da convergência entre os meios de comunicação, vários eventos observados ganham nome e definição e deixam em dúvida os consumidores de mídias. Há uma grande confusão entre os termos “transmedia” e “crossmedia”, ambos de origem na língua inglesa, denominados no Brasil como “transmídia” e “crossmídia”.

A palavra Crossmedia significa “cruzar a mídia” ou “atravessar a mídia” e o seu conceito é mais simples, refere-se ao cruzamento de mídias, ou seja, a distribuição do conteúdo é feito a partir de diferentes mídias, sem que esse conteúdo seja alterado de um meio para o outro. Uma ação em crossmídia é aquela que utiliza diversos meios de comunicação para levar o seu conteúdo ao público-alvo ou simplesmente contar uma história. Exemplificando, uma mesma campanha publicitária pode ser vista pela televisão, ouvida pelo rádio, acessada pela internet.

Já a palavra transmedia significa “além da mídia” e refere-se ao fato de diferentes conteúdos, relativos a um mesmo assunto, serem apresentados ao público através de diferentes mídias, mas de forma que todos os meios se complementem. No caso do receptor acessar apenas um dos meios para receber a mensagem, receberá um conteúdo parcial. A união de várias mídias cria um produto final com conteúdo dividido em diversos meios de comunicação. Por exemplo, um filme pode ser lançado no cinema e ter desdobramentos da sua história em jogos, livros, sites e em outras mídias. Segundo Luís Mauro Sá Martino (2015, p. 38):

Cada um desses itens não é apenas uma repetição da história dos filmes, ao contrário, cada um deles acrescenta dados importantes à narrativa cinematográfica, explicando detalhes sobre o que aconteceu antes dos filmes ou entre alguns dos episódios. Essa maneira de contar uma história em várias plataformas, passando por cinema, televisão, internet e games é um dos principais elementos conceituais da cultura da convergência, a ideia de narrativa transmídia.

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Do ponto de vista do consumo, as narrativas transmídia são perfeitas para atrair os consumidores de vários nichos para os produtos vendidos. A narrativa transmídia é descrita por Jenkins (2009, p.49):

A narrativa transmídia refere-se a uma nova estética que surgiu em resposta à convergência das mídias – uma estética que faz novas exigências aos consumidores e depende da participação ativa de comunidades de conhecimento. A narrativa transmídia é a arte da criação de um universo. Para viver uma experiência plena num universo ficcional, os consumidores devem assumir o papel de caçadores e coletores perseguindo pedaços da história pelos diferentes canais, comparando suas observações com as de outros fãs, em grupos de discussão on-line, e colaborando para assegurar que todos os que investiram tempo e energia tenham uma experiência de entretenimento mais rica.

Na verdade, a obra criada a partir da narrativa transmídia é uma obra aberta, que possibilita ao público uma interação e até mesmo a criação de novas narrativas a partir de uma ideia primária.

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CAPÍTULO III A TV TRANSMÍDIA

Não há dúvida de que a televisão do futuro será dinâmica e interativa, fazendo com que os espectadores se sintam parte de uma comunidade, interagindo ao vivo e por qualquer meio de comunicação com outras pessoas que gostem do mesmo tipo de programação que eles.

A programação deverá ser repensada pelos produtores de mídia levando-se em conta as mudanças no comportamento do consumidor:

A convergência exige que as empresas de mídia repensem antigas suposições sobre o que significa consumir mídias, suposições que moldam tanto decisões de programação quanto de marketing. Se os antigos consumidores eram tidos como passivos, os novos consumidores são ativos. Se os antigos consumidores eram previsíveis e ficavam onde mandavam que ficassem, os novos consumidores são migratórios, demonstrando uma declinante lealdade a redes ou a meios de comunicação. Se os antigos consumidores eram indivíduos isolados, os novos consumidores são mais conectados socialmente. Se o trabalho de consumidores de mídia já foi silencioso e invisível, os novos consumidores são agora barulhentos e públicos. Os produtores de mídia estão reagindo a esses recém poderosos consumidores de formas contraditórias, às vezes encorajando a mudança, outras vezes resistindo ao que consideram um comportamento renegado. E os consumidores, por sua vez, estão perplexos com o que interpretam como sinais confusos sobre a quantidade e o tipo de participação que podem desfrutar. (JENKINS, 2010, p.47)

Os programas de televisão deverão ser criados seguindo as premissas da convergência: qualquer coisa, a qualquer hora e em qualquer lugar. Ou seja, a TV transmídia deverá se preocupar em criar entretenimento multiplataformas, que poderá ser assistido pelo espectador a qualquer momento e em qualquer dispositivo, seja no caminho para o trabalho ou no conforto do seu lar, por exemplo.

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O futuro do entretenimento no Brasil e no mundo deve ser focado também na produção de conteúdos que atraiam o espectador em pouco tempo, visto que a concentração na era digital é baixíssima, segundo pesquisas, algo em torno de oito segundos.

A TV Transmídia é o presente e o futuro da mídia televisiva e muitas iniciativas estão sendo criadas pelos produtores de entretenimento para que isto ocorra. O espectador brasileiro se acostumou com a interação com os programas de televisão e principalmente, com a interação com outros fãs através das redes sociais e das conversas diárias, o que faz com que cada telespectador se sinta conhecedor do assunto televisão ou até mesmo, parte integrante dele.

3.1. Os principais programas transmidiáticos da televisão aberta brasileira

Existem alguns tipos de programas de entretenimento transmidiáticos, que desde o seu surgimento têm a sua fórmula repetida e são sinônimos de sucesso de audiência. São assunto nas redes sociais, nos fóruns de discussão online, nas conversas das ruas e contam com um grande número de fãs.

A reality television surgiu como uma tendência de sucesso na era da convergência midiática. Seu êxito é graças aos modos de audiência serem comunitários, permitindo que o espectador interaja com outros fãs e também com o programa. Ou seja, é a típica televisão da era da internet – simples, popular e feita para ser discutida e também criticada. Esta tendência televisiva foi moldada por uma “economia afetiva”, que incentivou as empresas a transformarem as suas marcas em “lovemarks” e assim, confundirem o consumidor quanto ao que é conteúdo de entretenimento e o que é mensagem publicitária. Para o mercado publicitário, somente comprar o produto não é o suficiente, é necessário um reforço da marca junto ao público, que é convidado pelas empresas a participarem da comunidade da marca.

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3.1.1. REALITY SHOWS

Um dos primeiros programas de televisão transmidiáticos surgidos no universo do entretenimento foram os reality shows, inaugurando a tendência da reality television. Para Newton Cannito, o Reality show colapsou fronteiras entre os gêneros televisivos:

A ideia de gravar 24 horas da vida de um grupo de pessoas pôde concretizar-se graças à tecnologia digital de captação, armazenamento e edição. O reality show padrão implodiu as fronteiras entre os diversos gêneros televisivos, na medida em que é, simultaneamente, jogo, documentário e dramaturgia. Um dos prazeres do público de reality, como veremos, é decidir se aquilo a que ele assiste é um “reality” ou é um “show”. Essa implosão das fronteiras entre os gêneros é uma característica do mundo contemporâneo e dialoga com a cultura digital. Além disso, o reality já nasceu como gênero multiplataforma, uma vez que catalisa ações em intermet, celular e outros. (CANNITO, 2010, p.198)

O primeiro reality show brasileiro foi exibido, ao vivo, pela MTV Brasil, em 1998: o “MTV às 4” contava com cinco câmeras que captavam os bastidores da emissora por alguns minutos.

Com o sucesso do programa norte-americano “Survivor”, a TV Globo estreou o programa “No Limite”, em 2000. O programa mostrava duas equipes de pessoas que eram isoladas em algum canto do Brasil, cumprindo desafios estafantes e se alimentando de comidas exóticas como olhos de cabra, fígado cru, ovos de camaleão e outras iguarias estranhas. O programa teve três edições. A primeira edição do programa rendeu à TV Globo o licenciamento de uma linha com 25 produtos com a marca do programa, incluindo bonés, livros, jogos, camisetas, canivetes, entre outros. Na época, o recorde da emissora em número de produtos licenciados para um único programa de televisão.

Em 2001, o SBT lançou o programa “Casa dos Artistas”, enquanto a TV Globo veiculava timidamente as primeiras chamadas para o primeiro Big Brother Brasil. A “Casa dos Artistas” tinha doze participantes do meio artístico, conhecidos do público brasileiro, que eram confinados a viver juntos em uma casa isolada e eram eliminados um a um, semanalmente através do telefone,

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pelo voto do público. O programa foi um grande sucesso comercial e de audiência. Durante a final do programa, que teve quatro horas de exibição, em um domingo, sua audiência superou a do programa Global “Fantástico”. O programa teve quatro edições entre 2001 e 2004.

A TV Globo, detentora dos direitos do programa “Big Brother” da televisão holandesa, lançou o “Big Brother Brasil” (apelidado de BBB) em 2002. O “BBB”, assim como a “Casa dos Artistas”, consiste no confinamento de um número de participantes em uma casa isolada. O convívio entre eles é televisionado 24 horas por dia, todos os dias da semana, durante os três meses de programa. Inicialmente, a interação com o público ocorria através do telefone e mensagens de texto enviadas pelo aparelho celular.

O “Big Brother Brasil” ainda está no ar e encontra-se na 17ª temporada, contando com a interação do público via internet, sendo exibido diariamente na TV Globo em horários pré-definidos, em pay-per-view pelos sites Globo Play e Globosat Play e em flashes diários no canal fechado . Durante as suas temporadas anteriores, o programa apresentou bons índices de audiência e vendas milionárias de espaço publicitário. Na atual temporada, passa por problemas de venda das suas cotas de patrocínio, já que a sua maior patrocinadora, uma marca de automóveis, abandonou o programa devido à queda nas vendas dos veículos. O programa é recordista em produtos licenciados e a TV Globo possui um site só para a venda dos produtos exibidos durante o programa, como itens de decoração da casa, por exemplo.

Em 2004, surgiu o programa “O Aprendiz” na TV Record, seguindo o formato do programa norte-americano “The Apprentice”, apresentado pelo empresário Donald Trump. O reality show de negócios inicialmente era apresentado pelo empresário Roberto Justus, posteriormente por João Doria Junior. A competição do programa se dá em torno de dezesseis a dezoito candidatos que concorrem a um contrato de trabalho dos sonhos em uma das empresas patrocinadoras ou na empresa da qual o apresentador do programa é dono. O Reality show gerou a venda de dois livros, um jogo de tabuleiro e muitas conversas entre fãs ao vivo e pela internet.

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O Reality Show mais famoso da Rede Record foi lançado anos depois, em 2009: “A Fazenda”. Baseado no programa “The Farm” de uma produtora sueca “Strix”, a atração já teve oito temporadas. A competição consiste em isolar pessoas famosas em uma fazenda, onde os chamados “peões” tem que acordar cedo e cuidar dos animais, seguindo o cotidiano de uma fazenda real. Os telespectadores escolhem o destino dos participantes através de votação na internet, telefone e mensagens de texto enviadas pelo aparelho celular. O programa é transmitido gratuitamente, 24 horas por dia e diariamente, pelo site da emissora de TV para os cadastrados no Portal R7 da emissora.

Uma iniciativa transmídia de sucesso da TV Bandeirantes foi a atração “Mulheres Ricas”, que teve duas temporadas e criou alvoroço nas redes sociais. O reality show mostrava o cotidiano de algumas mulheres brasileiras, que pelo seu alto poder aquisitivo, ostentavam luxo, dinheiro e poder.

Muitos outros Reality shows surgiram desde então, em cada uma das emissoras mencionadas e também em canais de televisão paga. A fórmula destes programas, apesar de um pouco desgastada, ainda é muito utilizada e atualmente, a interação do público com o programa e com outros fãs ocorre, principalmente, via internet.

3.1.2. TALENT SHOWS

Alguns reality shows foram pensados com foco no talento dos participantes e não somente na convivência entre eles, assim foram apelidados de “talent shows”. Nesta categoria, se encontram os reality shows que buscam, com a ajuda do público, encontrar um novo e promissor astro em alguma categoria: música, culinária, dança, etc.

O primeiro programa desta categoria apresentado na TV Brasileira foi o “Fama”, da TV Globo, no ano de 2002. A atração que teve quatro

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temporadas, foi inspirada no espanhol “Operación Triunfo” e inicialmente, consistia no confinamento dos concorrentes no espaço Academia Fama, aonde eram submetidos a uma rotina diária de aulas de música e ensaios. O público assistia a dez minutos diários do programa no canal e aos sábados, conferia um show ao vivo com duração de 80 minutos com os participantes, contando com a decisão do público por telefone ou internet sobre quem deveria continuar ou deixar a atração.

No mesmo ano, o SBT produziu o talent show musical “Popstars”, derivado do neo-zelandês “Popstars”, que consistia em mostrar a trajetória da formação de um grupo musical pop feminino, desde as primeiras audições. Na segunda temporada, o foco do programa era mostrar a montagem de um grupo musical pop masculino. Da atração surgiram dois grupos pop de sucesso: Rouge (feminino) e Br’Oz (masculino).

Em 2006, aproveitando o cancelamento do programa concorrente, o SBT lançou o programa “Ídolos”, inspirado no programa britânico “Pop Idol”, com a intenção de descobrir a nova estrela pop da música brasileira. O programa teve duas temporadas exibidas pelo SBT e em 2008, seu formato foi comprado pela Rede Record, que produziu mais cinco temporadas da atração. O sucesso da atração aconteceu por mostrar todo o processo seletivo dos calouros, incluindo os testes ruins e posteriormente, as apresentações de cada um deles cantando solo.

No ano de 2008, o SBT apresentou o talent show “Astros”, inspirado na mistura de show de calouros com o extinto “Ídolos”. A atração não deu audiência e mudou de nome e formato algumas vezes, sem chamar a atenção do público até a sua extinção.

Em 2012, a Rede Globo lançou o Talent Show “”, versão de um programa holandês, “The Voice of Holland”, exportado para vários países. O “The Voice Brasil” consiste na audição às cegas de cantores, escolhidos pelos jurados do programa somente pela sua voz. Ao longo do programa, o público ajuda os jurados na escolha dos participantes que devem continuar ou deixar a atração. O programa é um grande sucesso junto ao

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público, principalmente pela interação entre os fãs nas redes sociais. Assim como o “Big Brother Brasil”, há uma linha de produtos licenciados com a marca “The Voice Brasil”: incluindo: fones de ouvido, camisetas, canecas, malas de viagem, mochilas, etc.

Em 2014, a TV Globo lançou o Talent Show “Super Star”, uma produção derivada do programa israelense “Rising Star”, na qual várias bandas competem pela preferência do público, por um prêmio em dinheiro e um grande contrato com a gravadora Som Livre. A grande novidade transmídia que o programa trouxe foi a votação do público, em tempo real, por meio de um aplicativo para smartphones. A atração teve três temporadas entre 2014 e 2016.

No mesmo ano, a emissora Bandeirantes se aventurou a produzir um programa transmidiático de culinária: o “MasterChef”. O talent show desde a sua primeira edição é um grande sucesso de público e de “tweets” no Twitter, ficando sempre entre os principais assuntos comentados na rede social. A atração é baseada em um programa da televisão inglesa de mesmo nome que consiste em uma competição culinária, na qual o público acompanha não só a produção de pratos, mas também o convívio e a interação entre outros participantes. A atração vai para a quarta edição em 2017.

Devido ao sucesso da sua programação no Twitter, a TV Bandeirantes apostou, em 2016, no lançamento do Talent Show “X Factor Brasil” com foco nesta rede social, local aonde o público vota nos seus participantes favoritos e interage sobre o episódio que está assistindo.

3.1.3. JORNALÍSTICOS

Não há um número significativo de programas jornalísticos de TV transmidiáticos no Brasil. Ainda há uma grande dificuldade no país de achar um formato adequado para produzir um telejornal transmidiático que atraia o

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público que já se acostumou a ler ou ver notícias na internet, mesmo que sejam superficiais.

No ano de 2011, a Rede Record lançou o jornal “”, com o objetivo de ser o primeiro jornalístico transmídia da TV aberta brasileira. Exibido simultaneamente na televisão e na internet, o telejornal com duração maior na web (30 minutos a mais), possibilitou ações de merchandising na internet, bem como a interação do público com a redação e os âncoras nos seus intervalos.

3.1.4. SÉRIES

Ao abordarmos o fenômeno das séries transmídia é necessário entender alguns termos que se referem principalmente às séries e telenovelas na era digital. Muito se fala em spoiler, que significa o vazamento da informação, que deriva do termo spoil, que significa estragar. O termo já faz parte do cotidiano do público, principalmente entre os fãs de séries quando lêem nas redes sociais alguma informação sobre um episódio que ainda não assistiram e sentem como se alguém tivesse estragado a sua experiência televisiva.

Há outros termos bastante utilizados na era digital que se referem ao consumo de produtos audiovisuais. Webisodes, termo utilizado para séries e telenovelas, que se refere aos episódios de determinado programa que são produzidos especialmente para a internet. Spin-off, utilizado para falar que um produto audiovisual foi originado de outro, ou seja, quando um personagem de um produto audiovisual ganha um outro programa só para contar a sua vida, por exemplo. Já o crossover é quando dois ou mais personagens de diferentes histórias interagem em um terceiro produto audiovisual criado exclusivamente para este fim, geralmente para tornar-se inimigos ou enfrentar alguma ameaça lado-a-lado na trama.

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Algumas emissoras brasileiras se aprimoraram a transformar séries ou novelas em filmes, por meio de edição, como a TV Globo e a TV Record. Também costumam dividir um filme em várias partes e torná-lo uma série, prática utilizada pelo SBT e a TV Globo desde os anos 80. Tais ações não podem ser consideradas Transmidiáticas, pois conservam, mesmo depois dessa transformação, o formato para o qual foram criadas.

No ano de 2015, a Rede Globo ao lançar as primeiras chamadas do seriado “Mister Brau”, criou uma iniciativa transmídia bem interessante: utilizou artistas famosos da música popular brasileira como Lulu Santos, Carlinhos Brown e Ivete Sangalo para anunciar o personagem da atração como se ele fosse um artista da MPB. Como o rosto do ator não era mostrado, o público chegou a cogitar que seria uma campanha para o lançamento de um novo artista, o que gerou muitas interações do público nas redes sociais. Além do rompimento entre ficção e realidade utilizado na publicidade do programa, o ator Lázaro Ramos, que interpreta o personagem título gravou músicas para o programa, videoclipes que estão disponíveis no YouTube e um deles, foi exibido no Fantástico. O ator participou de outras atrações da emissora, caracterizado como Mister Brau. No programa, várias ações de merchandising possuíam uma ligação direta com algum site ou videoclipe disponível na web. A série de humor que já conta com três temporadas mostra a história de um cantor pop famoso, suas excentricidades, seu cotidiano musical e o casamento com a sua bailarina e empresária Michele.

No ano de 2016, a TV Globo deu um novo passo na sua estratégia transmídia com a série de terror “Supermax”. Em setembro, a emissora, em uma ação inédita, ofereceu um “binge watching” aos assinantes do aplicativo da emissora, o “Globo Play”, ou seja, disponibilizou os 11 capítulos iniciais da trama na web para o público pagante. O 12º capítulo (final) da temporada só foi divulgado após a sua exibição na televisão. “Supermax” virou também um game, que alcançou mais de 170 mil downloads no mundo todo e que teve a sua última fase lançada junto com o capítulo final da temporada. O game, que foi desenvolvido por vencedores do desafio proposto pela Globo a trinta estudantes universitários durante a Feira Brasil Game Show, propõe ao usuário

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a resolução de alguns enigmas para que o personagem fuja da cela e vá para a próxima fase. Outra iniciativa que repercutiu bastante foi o convite da TV Globo para que vinte fãs do programa (escolhidos entre os mais engajados nas redes sociais) assistissem ao último episódio na sede da emissora.

3.1.5. TELENOVELAS

A primeira grande ação transmídia desenvolvida para uma telenovela ocorreu em “Cheias de Charme” da TV Globo, em 2012. A atração, exibida na faixa de programação das 19 horas, focava na história da ascensão musical de um trio de empregadas domésticas (as Empreguetes) ousou ao divulgar um suspense na narrativa, divulgando na TV, em um sábado, o endereço web do videoclipe do trio que só seria mostrado na trama na segunda-feira. O clipe atingiu mais de 12 milhões de visualizações durante o fim de semana, gerou muito assunto nas redes sociais, assim como paródias e memes. A partir desta primeira ação transmídia, outras foram criadas: a música das “Empreguetes” começou a tocar também nas rádios de todo o país, foi criado um site em homenagem ao trio, no qual os fãs poderiam deixar mensagens e vídeos em apoio às personagens. E assim criou-se um elo entre o telespectador e a novela a partir da internet. O sucesso foi tão grande que a Rede Globo resolveu criar outras ações transmidiáticas voltadas para as telenovelas.

Aproveitando o êxito de “Cheias de Charme”, a Rede Globo inovou com a novela do horário nobre, “Amor à Vida”, em 2013. Divulgou o seu reality show “Big Brother Brasil” dentro da atração e criou uma oportunidade para os fãs do reality interagirem também com a novela: a personagem Valdirene conseguia uma vaga no “BBB” e a atriz Tatá Werneck foi confinada por algumas horas na casa para gravar as cenas da novela, tudo isso transmitido ao vivo por pay-per-view e algumas das cenas editadas e exibidas na novela e no reality show. Mais uma vez uma ação transmídia se tornava o principal assunto das redes sociais no momento.

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Posteriormente, outra novela exibida no horário das 19 horas apostou em interatividade: “Geração Brasil” foi lançada em 2014 e a sua história falava sobre tecnologia e de como ela é capaz de transformar as relações sociais. A novela possibilitava a interação com o público através do aplicativo “Filma-e” para smartphones e tablets, no qual o público enviava vídeos sobre o conteúdo da atração, a pedido dos personagens. E assim o público enquanto produtor de conteúdo interagia com uma obra que a princípio, seria fechada. Outra curiosidade sobre a novela é que durante a Copa do Mundo de 2014, trechos diários dos seus capítulos foram exibidos pela internet. Com o final da Copa, a história da novela foi retomada na televisão.

Na faixa das novelas das 19 horas da TV Globo, muito se ousa a criar ações transmídia. Em “” em 2016, não foi diferente: antes da estreia, foi disponibilizado na plataforma “Globo Play”, um capítulo com a apresentação dos principais personagens. No capítulo final da trama, foi promovido um crossover (ponto em que as tramas interagem) entre uma das principais personagens da novela substituta e uma das protagonistas da novela que se encerrava. Depois do seu último capítulo ir ao ar, a novela ganhou um spin-off na internet com dez episódios de 15 minutos cada, mostrando o “depois do final feliz” de alguns personagens.

No mesmo ano, “Liberdade, Liberdade”, novela do horário de 23 horas da TV Globo, a emissora se lançou em mais uma estratégia interativa: exibiu um spin-off diário com oito episódios da novela na web, mostrando como o personagem Mão de Luva, um dos vilões da trama que acabou caindo no gosto popular, virou um lendário bandido.

Entre os anos de 2015 e 2016, a Rede Record investiu em uma das maiores iniciativas transmidiáticas em telenovela de todos os tempos. A novela “Os Dez Mandamentos”, exibida no horário nobre, baseada em passagens bíblicos teve duas temporadas, que foram sucesso de público, garantindo a liderança na audiência durante o horário e gerando muita interação entre os fãs nas redes sociais. A novela foi disponibilizada em um aplicativo para computadores, smartphones e tablets desenvolvido pela emissora, o “R7 Play”,

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com a cobrança de uma mensalidade de baixo valor. A primeira temporada da novela também foi disponibilizada na plataforma streaming “Netflix”. A atração foi desdobrada em vários produtos durante as suas temporadas: livro, almofadas, camisetas, copos, difusores aromáticos e o maior deles: um filme, que alcançou o segundo lugar no faturamento da bilheteria do cinema nacional de 2016.

3.2. As emissoras de TV na Era Transmidiática

Diante da convergência midiática, do efeito multitelas e de um público pouco concentrado e extremamente exigente, as emissoras de televisão brasileiras (canais abertos e fechados) mudaram a sua tática para atrair a audiência. As produções e outras ações transmidiáticas ganharam espaço e hoje, a programação televisiva é pensada a partir delas.

Nos canais pagos de televisão, desde o final da década de 90 houve uma preocupação em importar reality shows para o Brasil, mas pouco se produziu, ao contrário das grandes emissoras de televisão aberta, que ainda são o principal meio de comunicação do Brasil e cada vez mais produzem atrações transmidiáticas como forma de atrair a audiência, mesmo que o seu formato seja importado.

Em 2010, a TV Globo notando as transformações promovidas pela convergência entre a televisão e a internet, criou uma Diretoria de Comunicação Transmídia, especializada em planejar ações, treinar equipes e gerenciar a execução dos projetos. Lembrando que a emissora já produzia algum conteúdo transmidiático, como os reality shows.

Diante do sucesso da interatividade entre o público e a programação televisiva para alavancar a audiência, no final de 2015, segundo a imprensa, a TV Globo ordenou que todas as produções da emissora, principalmente as telenovelas, interagissem com as plataformas digitais, criando material exclusivo para a web, estratégia cada vez mais popular. A intenção surgiu para

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aproximar o público das produções a qualquer hora do dia e em qualquer lugar e aproveitar o espaço para que os anunciantes criem um relacionamento com o espectador, a chamada “economia afetiva”.

Em Agosto de 2016, o SBT, em parceria com a Universal Pictures promoveu uma ação especial transmídia. O filme “Pets – A Vida Secreta do Bichos”, antes mesmo de ser lançado nos cinemas, teve alguns de seus trechos exibidos no intervalo da novela infantil “Cúmplices de um Resgate”, telenovela de maior audiência da emissora no período. Na ação, os diálogos de um dos principais personagens do filme foram misturados aos diálogos da novela, criando um novo produto e gerando um envolvimento do público. Ações como esta criam novas oportunidades quanto à interação entre os meios de comunicação, as agências de publicidade, marcas anunciantes e o espectador.

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CONCLUSÃO

Ao contrário da experiência imersiva do cinema, que com isso consegue atrair a atenção do público, a experiência de assistir televisão é dispersiva, principalmente por ter sido pensada como uma experiência para se dividir com a família. Num mundo globalizado em que as mídias convergem e o espectador só presta atenção aos primeiros oito segundos de um produto audiovisual, as produções televisivas precisam ser eficazes, diretas, interativas e multiplataformas, focadas na produção de um conteúdo de qualidade em meio a uma era de segmentação de público e personalização da programação.

Com a mudança do sistema analógico de TV para o digital e a convergência midiática, muito se especulou sobre o fim da televisão, gerando alguns estudos de importantes teóricos sobre o tema. Os estudiosos se dividem em suas opiniões: uma corrente acredita que a televisão tradicional está morrendo para se tornar algo novo, o que na verdade, não seria uma extinção e sim uma transformação deste poderoso meio de comunicação. A outra corrente, anglo-saxã, defende de maneira veemente que a televisão não será extinta, será transformada, mas continuará sendo televisão essencialmente.

Este trabalho defende a ideia da corrente anglo-saxã, de que a televisão não está morta e nem morrendo está somente se modificando a partir da convergência midiática. E este fenômeno é necessário para que a televisão se renove e descubra novos meios de atrair a audiência em meio a tantas atratividades que a era digital oferece. Fornecer qualquer conteúdo televisivo a qualquer hora e em qualquer lugar não afasta o público, ao contrário, aproxima.

Ainda é necessário produzir mais estudos sobre o fenômeno da convergência midiática, principalmente com foco na mídia televisiva. É fundamental que os estudiosos busquem um consenso em suas ideias, visto que todos falam em transformação da televisão. Isto facilitaria as futuras produções teóricas acerca do tema.

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A produção televisiva transmídia já é realidade, é o presente e também o futuro da televisão. O que não for transmídia, se tornará no futuro, mesmo que seja pelas mãos do público, assim como afirma Henry Jenkins, mesmo que nem todo o público tenha tempo para consumir esse tipo de narrativa.

A televisão não chegará ao seu fim com a convergência entre as mídias. A televisão, enquanto meio de comunicação de massa, possui a capacidade de se reinventar a cada dia e convergir até com meios de comunicação que venham a surgir. A criatividade não tem limites e é disso que a mídia televisiva é feita.

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REFERÊNCIAS

Binge watching – refere-se à imersão em um programa de modo a assistir vários episódios seguidos.

Blu-Ray – Refere-se ao disco óptico de blu-ray, que possui alta definição para áudio e vídeo e grande capacidade de armazenamento.

Broadcasting – Refere-se à transmissão da comunicação, em larga escala, por meio de vários receptores.

Casting – reunião de profissionais de alguma área específica para um determinado fim.

Crossmedia ou Crossmídia – refere-se ao cruzamento de mídias, ou seja, a distribuição do conteúdo é feito a partir de diferentes mídias, sem que esse conteúdo seja alterado de um meio para o outro.

Crossover – termo referente ao ato de dois ou mais personagens de diferentes histórias interagirem em um terceiro produto audiovisual criado exclusivamente para este fim, geralmente para tornar-se inimigos ou enfrentar alguma ameaça lado-a-lado na trama.

DOC TV – Programa de fomento à produção e teledifusão do documentário brasileiro.

DVD – Digital Versatile Disc. Refere-se ao disco óptico de capacidade de armazenamento superior a do compact disc.

Full HD – O termo refere-se à máxima alta resolução que um aparelho televisor pode atingir.

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HBO – Home Box Office.

HDTV – High Definition Television. Refere-se à televisão em alta resolução. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

ISDB-T – Sistema brasileiro de televisão digital terrestre de padrão japonês.

KANTAR IBOPE MEDIA – Empresa do Grupo Kantar especializada em medição de audiência televisiva.

Lovemarks – refere-se às marcas que se tornam afetivas para o público.

MTV – Refere-se à emissora de TV “Music Television”.

Multiplataformas – refere-se à propagação da comunicação em várias plataformas ao mesmo tempo.

Multitelas – refere-se à utilização de várias telas ao mesmo tempo. Exemplo: a utilização, ao mesmo tempo, do smartphone, do aparelho televisivo e da tela do computador.

Progressive Networks – Empresa que lançou a primeira tecnologia popular de streaming.

Reality show – programas televisivos baseados na vida real. Seus personagens são pessoas reais vivenciando situações reais, porém espionados por câmeras.

Reality television – televisão baseada na vida real, utilizando as câmeras para espionar o comportamento das pessoas.

SBT – Sistema Brasileiro de Televisão

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Secom – Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República Brasileira.

Smartphones – o termo refere-se a um aparelho de telefonia celular com múltiplas funções e características que e assemelham a de um computador pessoal, como agenda eletrônica, máquina fotográfica, editor de textos, acesso à internet, etc.

Smart TVs – refere-se à “televisão inteligente”, aquela que é conectada à internet e permite ao usuário assistir vídeos em streaming e navegar na internet.

SMS – Short Message Service. Em português, serviço de mensagens curtas. É o serviço de envio de mensagens curtas de texto através dos aparelhos de telefonia celular.

Spin-off – termo utilizado para falar que um produto audiovisual foi originado de outro, ou seja, quando um personagem de um produto audiovisual ganha um outro programa só para contar a sua vida, por exemplo.

Spoiler – o ato de vazar a informação, estragando a experiência televisiva de outro espectador.

Streaming – é uma forma de transmissão de áudio e vídeo através de uma rede de computadores sem a necessidade de realizar o download do que está sendo visto ou ouvido. A máquina recebe as informações praticamente ao mesmo tempo em que as disponibiliza para o usuário.

Tablets – dispositivo pessoal portátil que se assemelha a um computador pessoal por ser multifuncional.

Talent Show – reality shows com foco no talento dos participantes.

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Transmedia ou Transmídia – refere-se ao fato de diferentes conteúdos, relativos a um mesmo assunto, serem apresentados ao público através de diferentes mídias, mas de forma que todos os meios se complementem.

Videotape – processo eletrônico de registro de imagens em uma fita de vídeo.

Webisodes – termo utilizado para séries e telenovelas, que se refere aos episódios de determinado programa que são produzidos especialmente para a internet.

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BIBLIOGRAFIA

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTOS 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I O surgimento e a evolução da televisão no Brasil 10 1.1. A história da televisão no Brasil 11 1.1.1. Anos 50: o improviso da experiência televisiva 12 1.1.2. Anos 60: o início da popularização da TV 15 1.1.3. Anos 70: a modernização da experiência televisiva e a criação do Padrão Globo de qualidade 19 1.1.4 Anos 80: a extinção de uma emissora tradicional e o surgimento de novas emissoras de TV 24 1.1.5. Anos 90: a segmentação e a TV fechada 27 1.1.6. Anos 2000: a era da convergência digital 29 1.2. Mudanças à vista: o surgimento da TV digital, o fim da TV analógica e a interatividade entre o telespectador e a televisão 31 1.3. O consumo de televisão no Brasil ao longo dos tempos 33 1.4. As discussões sobre o possível fim da televisão 35

CAPÍTULO II A convergência entre mídias 39 2.1. A Teoria da Cultura de Convergência de Henry Jenkins 40 2.2. A televisão e a convergência com outras mídias 42 2.3. A TV por streaming 44 2.3.1. O YouTube 44 2.3.2. A HBO 45 2.3.3. Netflix – O serviço de streaming “queridinho” dos brasileiro 45 2.4. O desenvolvimento dos aparelhos televisores e o surgimento das “Smart TVs” 47 2.5. O conceito de Transmídia e seus desdobramentos 48

CAPÍTULO III A TV Transmídia 50 3.1. Os principais programas transmidiáticos da televisão aberta

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brasileira 51 3.1.1. Reality Shows 52 3.1.2. Talent Shows 54 3.1.3. Jornalísticos 56 3.1.4. Séries 57 3.1.5. Telenovelas 59 3.2. As emissoras de TV na Era Transmidiática 61

CONCLUSÃO 63 REFERÊNCIAS 65 BIBLIOGRAFIA 69 WEBGRAFIA 70 ÍNDICE 77 ÍNDICE DE FIGURAS 79

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – Anúncio da General Electric, de 1944 11

Figura 2 – Primeira transmissão televisiva – Diários Associados 13

Figura 3 – Anúncio do aparelho de TV Invictus 14

Figura 4 – Anúncio da novela “2-5499 Ocupado”, patrocinado 17

Figura 5 – Capa do primeiro LP com trilha sonora de novela 18

Figura 6 – Anúncio do Programa Silvio Santos na TV Globo 20

Figura 7 – Capa da revista Amiga – década de 70 22

Figura 8 – Logomarcas das emissoras de TV: SBT e Rede Manchete 25

Figura 9 – Vinheta da MTV Brasil – década de 90 27

Figura 10 – Novela Pantanal – 1990 28