A Reconstrução Da Memória De Uma Emissora Pioneira, a Televisão Excelsior, Com O Apoio Da Metodologia Da História Oral
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A Reconstrução da Memória de uma emissora pioneira, A Televisão Excelsior, com o apoio da Metodologia da História Oral . Uma Contribuição aos 50 anos da Televisão no Brasil Marcelo Pires de Oliveira Mestrando em MultiMeios do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP Professor de TeleJornalismo na Faculdade de Comunicação da Universidade do Vale do Paraíba - UNIVAP Professor Auxiliar na área de Rádio e Televisão da Faculdade de Comunicação Social da Universidade de Taubaté. Resumo A arte maior de todo jornalista é a entrevista, é através dela que conseguimos perceber as experiências de nosso entrevistado, e é com esta ferramenta que melhor podemos abordar a história de um veículo de comunicação que ao completar 50 anos nos oferece seus pioneiros ainda ativos e lúcidos, sendo fontes de informação de inestimável valor. Mas como realizar uma pesquisa de teor científico utilizando a entrevista ? A resposta está na metodologia da História Oral, que pode nos emprestar anos de experiência de campo realizadas por inúmeros cientistas que além de realizarem suas pesquisas nos legaram suas reflexões metodológicas. É com o apoio desta metodologia que vamos caminhar pela reconstrução da memória de uma emissora de televisão pioneira e inovadora. A Metodologia da História Oral na Pesquisa Histórica da Televisão " ...O seu grande fracasso foi a 'revolução' de 64 e a chegada da ditadura. Ela não foi vencida, foi destruída. Ela tinha o perigoso sentimento da Liberdade."(Fernando Barbosa Lima)1 " Naquela época eu era muito jovem e meu pai estava querendo me situar, me colocar em alguma coisa em que eu pudesse produzir e então eu fui ser diretor da Excelsior."(Wallace Cochrane Simonsen Neto)2 Os depoimentos podem ser muito importantes para que possamos perceber como os fatos do passado foram percebidos pelos diversos protagonistas da História. No campo da construção da memória nós trabalhamos com versões e não com a verdade. Talvez para os jornalistas esta seja uma discussão velha e acabada, mas antes é preciso abordar este tema. Pois ao buscarmos os depoimentos que possam nos auxiliar na elaboração de um trabalho de reconstrução da memória, devemos estar atentos para o fato que o ser humano percebe os acontecimentos através dos seus próprios filtros, isto é, são suas visões de mundo, sonhos e fantasias que são externadas na entrevista3, e ao partirmos dessa percepção, devemos evitar a ilusão de que iremos partir em uma jornada na busca da verdade. O fato é que estaremos iniciando um passeio pelo que foi e viveu nosso depoente, e por isso a noção de que não procuramos a verdade é fator preponderante e imprescindível para o pesquisador que deseja realmente construir a memória, seja de uma pessoa, de uma cidade ou de uma empresa. O depoente precisa estar a vontade e confiante de que sua versão será compreendida, e o pesquisador precisa dar as garantias necessárias, de anonimato e perspectivas de publicação e guarda e acessibilidade do documento gerado, para obter o melhor depoimento possível, dentro de todas as limitações impostas por este trabalho4. Entre elas estão as subjetivas, tanto do depoente quanto do pesquisador, tais como: a idade do depoente, se ele estiver em uma idade que ainda julgue ter muitos anos de atuação em seu campo de trabalho, e o fato de seu relato poder de alguma forma comprometer sua carreira, com certeza ele irá selecionar as informações, ou ainda falar em "off"; Ele ainda pode possuir uma imagem pública que deseje manter para esta e próximas gerações, e por isso vai manter um certo equilíbrio no depoimento; há ainda a possibilidade de por motivos éticos ou morais preferir calar ou não pronunciar um nome, fato ou data com medo de prejudicar alguém. O pesquisador, da sua parte, pode ter preconceitos com relação a informação fornecida e preferir não registrá-la, ou ainda desconhecer por completo o assunto e não poder perceber a importância e as implicações do que está sendo falado ou ser envolvido e manipulado pelo depoente. Para evitar isso é preciso que o pesquisador se transforme em um "interlocutor válido"5. E para chegar a este ponto apesar de parecer óbvio, é exigido do pesquisador uma profunda pesquisa sobre o assunto a ser abordado, seja através de fontes documentais, visuais ou através de entrevistas exploratórias. A metodologia da História Oral, ao ser utilizada no processo de construção da memória oferece possibilidades únicas que outras metodologias deixam de lado. Seu caráter dialético, ao obrigar o diálogo entre fontes de informação, sejam documentos escritos, fotos, livros, jornais e depoimentos, estes ainda mais dialéticos, pois são um diálogo aberto e imprevisível entre entrevistado e pesquisador, ampliam as possibilidades da pesquisa com informações há muito ocultas ou omitidas, as vezes talvez por um banal "ninguém perguntou isso !". O método biográfico possibilita um aprofundamento de muitas questões, além de garantir a oportunidade única de dar voz aos excluídos no processo de construção da história.6 No nosso caso, elegemos por vários motivos, mas entre eles o mais importante, a afinidade, trabalhar com a memória da Televisão. Especificamente a construção da memória da Televisão Excelsior, que segundo muitos depoimentos conseguidos por outros pesquisadores7 foi um marco na transformação da televisão brasileira. "A Excelsior estabeleceu principalmente uma idéia de empresa industrial de Televisão"(Edson Leite)8 Serão estes depoimentos e outros novos a serem colhidos que comporão a parte da memória oral, enquanto outros documentos também serão utilizados, dialogando entre si. Mas é a possibilidade de explorar a relação pesquisador - entrevistado e toda sua gama de variáveis além das informações novas que este intercâmbio pode possibilitar que tornam a utilização da metodologia da História Oral tão instigante. Suas vantagens ainda podem ser maiores quando entramos em um Universo que apesar de gráfico não possui uma forma organizada e sistemática de manter arquivos para as futuras gerações, e no caso de um país pobre onde as possibilidades materiais de manutenção da memória em suportes adequados são restritas a possibilidade de encontrar registros fiéis de certos fatos são muito remotas. No caso específico da televisão, devemos lembrar de diversos fatores, sejam eles técnicos, tais como alto valor das fitas de gravação, que acarretou em muitas empresas o apagamento de diversos programas, que hoje só sobrevivem na memória de poucos personagens; incêndios que destruíram acervos, equipamentos e prédios; e ainda mais grave, um período político de exceção do qual muitos fazem questão de esquecer. Todos estes fatores já seriam, por si próprios, motivos para considerarmos a abordagem da História Oral como uma possibilidade interessante, mas some-se a estes fatores o conhecimento de que ainda existem vivos, talvez não por muito tempo, pois quando a televisão completa 50 anos, seus pioneiros também envelhecem, e são eles os protagonistas dos acontecimentos que o pesquisador busca conhecer, e é através de seus depoimentos que a reconstrução da memória será realizada de maneira adequada, e para isso, não basta apenas boa vontade e um gravador para colher um registro válido e consistente, é preciso um método científico de coleta de informações e depois sua organização e interpretação. Mais uma vez a História Oral com todo o seu processo e evolução9 ao longo dos últimos 25 anos10, nos aparece como metodologia de trabalho adequada, pois possui as bases científicas necessárias para auxiliar a nossa busca. Como jornalistas sabemos muito bem utilizar e valorizar o momento da entrevista e para isso além das aulas que tivemos no nosso processo da aprendizado nas faculdades, contamos ainda com a prática diária, que nos auxiliou a desenvolver métodos pessoais de aproximação com informantes e formas de organizar as informações obtidas, mas quando chegamos ao campo acadêmico e decidimos utilizar estes métodos, digamos, empíricos, nos desgastamos tentando fundamentá-los de alguma forma, pois nossos procedimentos e métodos não constam de muitos manuais e livros, e nos são transmitidos e apreendidos ao longo do tempo além de poucos estudiosos da área terem tido a preocupação de organizar estes métodos de entrevista. Por isso a metodologia da História Oral com sua abrangência e possibilidades deve ser exposta àqueles que desejem reconstruir processos de memória sociocultural à partir da habilidade maior do jornalista : a entrevista. A Pesquisa com a TV Excelsior Ao elaborar como tema de pesquisa a reconstrução da memória da Televisão Excelsior, foi iniciado o processo de pesquisa e catalogação do material escrito a este respeito, e qual foi o espanto ao constatar que havia pouco registro documental acerca desta importante emissora. O aprofundamento da pesquisa só nos conduziu, cada vez mais, para a percepção de um imenso vazio, um silêncio. As hipóteses para este silêncio são muitas e abordaremos algumas mais adiante. Por enquanto cabe deixar patente a falta de documentos que pudessem possibilitar uma pesquisa mais aprofundada. Só depois de algum tempo é que foi possível, através de diversos contatos com possíveis informantes, estabelecer uma rede de informações que conduziram à descoberta de uma série de entrevistas realizadas, no passado, por outros pesquisadores também interessados neste problema. É no Centro Cultural São Paulo que está um grande acervo de depoimentos e uma pesquisa elaborada e escrita pelo Jornalista e pesquisador do IDART Edgard Ribeiro de Amorim, que mantém inédito seu trabalho,