“Monumentos De Tinta E Papel”

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“Monumentos De Tinta E Papel” UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA “Monumentos de Tinta e Papel” Cultura e Política na produção Biográfica da Coleção Brasiliana (1935-1940) Thiago Lenine Tito Tolentino Belo Horizonte 10/2009 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA “Monumentos de Tinta e Papel” Cultura e Política na produção Biográfica da Coleção Brasiliana (1935-1940) Thiago Lenine Tito Tolentino Orientadora: Eliana Regina de Freitas Dutra Dissertação apresentada na conclusão do curso de mestrado em História na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais – Linha de Pesquisa: História e Culturas Políticas. Belo Horizonte 10/2009 2 Aos meus pais, Amigos, Companheiras. 3 Agradecimentos Sou grato aqueles que apoiaram, ajudaram, atrapalharam, fizeram parte da experiência difusa que resultou neste simples trabalho. Agradeço à minha orientadora Eliana, ao grupo de pesquisa Coleção Brasiliana – escritos e leituras da Nação. Agradeço aos meus famliares, em especial minha mãe Laraene Alves Tolentino. Agradeço a meus amigos e colegas. 4 Resumo Este trabalho disserta sobre a produção biográfica brasileira das décadas de 1930- 1940. Através biografias de Frei Caneca, Evaristo da Veiga, Paulo Eiró, Tavares Bastos, Silva Jardim, Farias Brito e Calógeras, todas publicadas pela Coleção Brasiliana, o autor procurou analisar os aspectos teórico-historiográficos que norteavam a escrita biográfica do período, assim como, destacar a contribuição que o fazer biográfico concedia às interpretações político-culturais acerca da realidade brasileira. Palavras-chave Biografia, Historiografia Brasileira, Coleção Brasiliana, Frei Caneca, Evaristo da Veiga, Paulo Eiró, Tavares Bastos, Silva Jardim Farias Brito, Calógeras. 5 Abstract This thesis is about the biographical brazilian production in the decades of 1930-1940. Through the biographies of Frei Caneca, Evaristo da Veiga, Paulo Eiró, Tavares Bastos, Silva Jardim, Farias Brito e Calógeras, they all published in the ‘Coleção Brasiliana’, the author intended to analyze the theoretical and historiographical points that guided the biographical writing at the time, as well as, highlight the contribution that the biographical work could give to the political-cultural interpretation about brazilian reality. Key-words Biography, Brazilian Historiography, Coleção Brasiliana, Frei Caneca, Evaristo da Veiga, Paulo Eiró, Tavares Bastos, Silva Jardim Farias Brito, Calógeras. 6 SUMÁRIO Introdução -------------------------------------------------------------------------------------------------8 Capítulo 1: Projeto/Coleção Brasiliana e os Monumentos de tinta e papel-------------31 A Nação nas Primeiras décadas do séc. XX-----------------------------------------------38 Biografias: Monumentos de Tinta e Papel ------------------------------------------------43 Capítulo 2: O fazer Biográfico ----------------------------------------------------------------------52 História da República nas Biografias------------------------------------------------------55 João Dornas Filho: Silva Jardim e as Tramas da República-----------------------------55 Antônio Gontijo de Carvalho: Perfil de Calógeras---------------------------------------60 Jonathas Serrano: Viagem a Farias Brito---------------------------------------------------65 História do Império nas Biografias---------------------------------------------------------69 Lemos Brito: A Independência nos passos de Frei Caneca-----------------------------74 Otávio T. de Sousa: Evaristo da Veiga, História dos Fundadores do Império do Brasil-----89 Carlos Pontes: Tavares Bastos - Alagoas, Rio de Janeiro e Amazonas---------------104 Afonso Schmidt: Paulo Eiró, descaminhos a Santo Amaro---------------------------118 Capítulo 3 - As Máscaras ---------------------------------------------------------------------------129 Frei Caneca – Argonauta da Liberdade -------------------------------------------------131 Farias Brito e o Mal-Estar na Primeira República --------------------------------------143 Evaristo da Veiga e a Apologia da História --------------------------------------------156 Calógeras: Sábio e Santo -------------------------------------------------------------------165 Silva Jardim, à margem da Proclamação ------------------------------------------------176 Paulo Eiró: Primeiro Poeta ----------------------------------------------------------------189 Tavares Bastos e o Neoliberalismo -------------------------------------------------------199 Conclusão ----------------------------------------------------------------------------------------------211 ANEXO I – ALGUNS DADOS SOBRE OS BIÓGRAFOS ANALISADOS ---------214 FONTES/BIBLIOGRAFIA ------------------------------------------------------------------------226 7 Introdução Biografia, um (esquecido) debate à brasileira Atualmente, as ciências humanas vivenciam uma efervescência intelectual acerca do biográfico1, tanto no campo historiográfico2, como no das ciências sociais3. Na década de 1940, porém, Luiz Viana Filho já considerava um equívoco, quando se ‘adentra no campo biográfico’, acreditar que o ‘favor atualmente dispensado pelo público às biografias’ constitui ‘aspecto peculiar do nosso tempo’. O autor retoma, então, Thomas Carlyle (1795-1881) que, ‘em ensaio escrito há mais de um século’, já salientava, àquele tempo, como fator de comprovação da importância do gênero biográfico, ‘o interesse sem igual que o homem toma pelas biografias’. Olhando para sua época, Luiz Viana Filho via aquele ‘favor’ concedido ao biográfico, antes uma reabilitação do que uma ‘peculiaridade’. Reabilitação ocorrida após uma época, entre o fim do século XIX e início do XX, na qual se poderia notar a existência de ‘pouco apreço pelos trabalhos desse gênero’. Em seu passado recente, portanto, Viana Filho verificava que a biografia voltou a ter ‘sua antiga posição’, de tal forma que, este gênero, constituiu-se por aqui em verdadeira ‘febre’4. É na ‘febre’ do gênero biográfico nos anos 1930 e 1940 que pretendo encontrar um meio para o desenvolvimento e compreensão de aspectos culturais, políticos e sociais que caracterizavam a intelectualidade daquele período. Para tal, mobilizei sete obras biográficas publicadas entre os anos 1935-1940: o Frei Caneca, escrita por Lemos Brito; o Evaristo da Veiga , de Otávio Tarquínio de Sousa; o Tavares Bastos, de Carlos Pontes; o Paulo Eiró, de Afonso Schmidt; o Silva Jardim, de João Dornas Filho; 1 ‘O gênero biográfico está na moda’. SCHMIDT, Benito Bisso. A biografia histórica: O retorno do gênero e a noção de contexto. In: GUAZZELLI, César Augusto Barcellos; PETERSEN, Sílvia Regina Ferraz; SCHMIDT, Benito Bisso; XAVIER, Regina Célia Lima. Questões de Teoria e Metodologia da História. Porto Alegre: Ed Universidade/UFRGS, 2000. 121-131. 2 É notável o número de trabalhos no campo da historiografia que trazem como tema o fazer biográfico; a biografia dentre as diversas disciplinas ou a biografia na história do pensamento e da historiografia. Pode-se enumerar: BRESCIANI, Stella; NAXARA, Márcia (ORGS). Memória e ressentimento. Campinas: Unicamp, 2001. CATELLI, Nora. El Espacio Autobiografico. Barcelona: Lumen, 1991. LEENHARDT, Jacques; PESAVENTO, Sandra Jatahy (ORGS). Discurso histórico e narrativa literária. Campinas: Unicamp, 1998. LE GOFF, Jacques. ‘Comment écrire une biographie aujourd’hui. Le Débat. N 54, mars-avril 1989; SCHMIDT, Benito Bisso (ORG). O Biográfico – Perspectivas interdisciplinares. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2000. BURKE, Peter. A invenção da biografia e o individualismo renascentista. Estudos Históricos. Número 19, vol 10, Rio de Janeiro: 1997. 3 ‘Moda fugaz ou redescoberta de um paradigma, a biografia goza de uma admiração notável desde alguns anos e tornou-se um debate recorrente que agita a comunidade de pesquisadores em ciências sociais’. JOANA, Jean. Les usages de la méthode biographique en sciences sociales. Pôle Sud, Número 1, Vol 1, 1994. 89 4 VIANA FILHO, Luiz. A Verdade na Biografia. Rio de Janeiro: São Paulo: Bahia: Editora Civilização Brasileira, 1945. 9-10. 8 o Farias Brito, de Jonathas Serrano e o Calógeras, de Antônio Gontijo de Carvalho5. São obras que nos permitem visualizar três aspectos que pretendo evidenciar no decorrer deste trabalho: a existência de um debate intelectual/epistemológico acerca das vantagens e desvantagens da biografia como gênero historiográfico/literário, nas décadas de 1930-1940; neste mesmo período, a biografia como instrumento para consolidação das identidades coletivas; e, por último, a biografia como fonte para a compreensão das identidades políticas forjadas naquele período pela intelectualidade brasileira, configurando-se como um topos singular para as investigações da historiografia política atual. Aponta-se, portanto, para uma riqueza de significados que o gênero biográfico pode mobilizar, justamente, por ter se constituído em uma ‘febre’. ‘Febre’ que parece não ter contaminado os historiadores da historiografia brasileira que, em suas reconstituições acerca do fazer historiográfico no país, concedem raro ou nenhum espaço à produção biográfica. Perguntemos, neste sentido, sobre o lugar ocupado pelo gênero biográfico no interior das obras de história da historiografia brasileira. Segundo Astor Diehl, o interesse pelo fazer biográfico remonta à revista do IHGB, ainda no século XIX, quando as biografias poderiam ‘fornecer exemplos às gerações vindouras, contribuindo para a
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