Habeas Corpus Que Se Apresente O Corpo a Busca Dos Desaparecidos Políticos No Brasil
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capaHABEAS03 12/15/10 11:14 AM Page 1 ão permitir que as famílias enterrem seus “Nmortos é mais um ato impiedoso de tortura emocional. A não abertura dos arquivos é uma dívida do estado brasileiro com toda a sociedade. Os anos de repressão fazem parte da nossa história e não podem ser esquecidos – ninguém oje, o direito à verdade e à justiça dos tem o direito de virar esta página.” “Hfamiliares de mortos e desaparecidos Clarice Herzog por atos de responsabilidade do Estado – como foi reconhecido pela Lei 9.140 de 1995 – ssim como nós devemos defender o está plenamente consolidado na jurisprudência “Adireito de um ser humano em vida para do direito internacional.” poder opinar, também devemos defender ter o Paulo Sergio Pinheiro. mesmo direito de enterrar um ser humano e a história política do Brasil os militares nunca tinham dar para ele o direito de descansar.” assumido o poder, mesmo quando atuaram na exemplo do que vem ocorrendo na Henry Sobel “Nderrubada de governos, ou quando um militar exercia “AArgentina, sobretudo nos governos de a presidência. Entre outras coisas altamente negativas, a ditadura Néstor e Cristina Kirchner, a ferida aberta pela Comissão Nacional da Verdade é de 1964-1985 foi uma ruptura dessa tradição e alargou o caminho ditadura brasileira só se fechará quando nossos “Aum instrumento válido para levantar para toda a sorte de violações dos Direitos Humanos. mortos forem localizados e receberem sepultura documentos e informações e tem que ser aprovada digna. E quando os responsáveis por suas Enterrar os seus mortos foi sempre, entre todos os povos, POLÍTICOS A BUSCA DOS DESAPARECIDOS pelo novo Congresso. O problema da história mortes forem submetidos à Justiça.” reconhecido como direito de cunho sagrado. Um exemplo I que se passou é importante, é obrigação dos paradigmático disso é a “Antígona”, de Sófocles, viva até hoje Fernando Morais historiadores saber como a história foi vivida. ” depois de dois milênios e meio como texto e como modelo de José Gregori outros textos da dramaturgia. cho que as famílias têm todo o direito “Ade pesquisar sobre os desaparecidos ão guerrilheiros, são resistentes, e não É incompreensível que a abertura dos arquivos ainda encontre e de enterrá-los.” resistência. Enquanto não for consagrada, não poderemos falar “Sterroristas. Na Itália eles são chamados de Lygia Fagundes Telles partigiani, na França são chamados de maquis. em superação definitiva da herança ditatorial no Brasil”. Foi gente que resistiu! Os maquis contra os Antonio Candido barbárie, amedrontada, sim, tirou de tantos alemães, os italianos contra o Mussolini... “Abrasileiros, homens e mulheres, o direito São ações legítimas, mais que compreensíveis, sagrado da vida. Mataram e esconderam os resistindo a situações nas quais estão sendo corpos. É preciso, clama a decência humana – espezinhados, humilhados e vilipendiados é um direito ancestral –, que as famílias possam diariamente.” enterrar os seus seres queridos, assassinados Mino Carta pelos inimigos da infância.” QUE SE APRESENTE O CORPO Thiago de Mello unca me recusei a estar presente quando as “Nsituações se revelavam mais perigosas ou direito à verdade traduz o anseio civilizatório difíceis. A dificuldade residia, sobretudo, na “Odo conhecimento de graves fatos históricos incapacidade de descobrir os meios atentatórios aos Direitos Humanos, a servir a um jurídicos e outras possibilidades práticas para duplo propósito: assegurar o direito à memória CORPUS socorrer as vítimas, tanto nas prisões quanto em das vítimas e confiar às gerações futuras a situações ainda mais penosas de desaparecimento responsabilidade de prevenir a ocorrência ou aplicações de tortura.” de tais práticas. ” Secretaria de Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns da Presidência da República Flávia Piovesan HABEAS HabeasCAP1rev 12/20/10 7:23 PM Page 1 HABEAS CORPUS QUE SE APRESENTE O CORPO A BUSCA DOS DESAPARECIDOS POLÍTICOS NO BRASIL 1ª edição 2010 Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República HabeasCAP1rev 12/20/10 7:23 PM Page 2 PRESIDENTE DA REPÚBLICA Luiz Inácio Lula da Silva MINISTRO DE ESTADO CHEFE DA SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA Paulo Vannuchi SECRETÁRIO EXECUTIVO Rogério Sottili CHEFE-DE-GABINETE Maria Victoria Hernandez COMISSÃO ESPECIAL SOBRE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS – CEMDP PRESIDENTE Marco Antônio Rodrigues Barbosa FAMILIAR Diva Soares Santana MINISTÉRIO DA DEFESA Ten. Cel. João Batista Fagundes MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Maria Eliane de Menezes Faria CÂMARA DOS DEPUTADOS Dep. Pedro Wilson SOCIEDADE CIVIL Augustino Pedro Veit Belisário dos Santos Júnior SECRETARIA EXECUTIVA DA CEMDP SECRETÁRIO EXECUTIVO Pedro Pontual CONSULTOR Ivan Akselrud Seixas EQUIPE Bárbara Brenda Saraiva Barbosa Maria Ângela Barbosa Campelo de Melo Rafael Meireles Bezerra PROGRAMA DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADE DIRETOR Maurice Politi EQUIPE Jacqueline da Silva Luiz Carlos Vidal COLABORAÇÃO Ana Paula Diniz de Mello Moreira Cristina Timponi Cambiaghi Daniel Josef Lerner Darlan Aragão Mesquita Fermino Fechio Juliana Gomes Miranda Márcia Maria Adorno Cavalcanti Ramos Thaís Herdy Guedes Vanice Pigatto Cioccari Wellington Pantaleão da Silva HabeasCAP1rev 12/20/10 7:23 PM Page 3 APRESENTAÇÃO E DEDICATÓRIA A metáfora que dá título a este livro leva de volta à origem semântica um dos mais importantes marcos históricos da construção dos Direitos Humanos. Em 1215, o habeas corpus nasceu na Inglaterra para conter o poder ilimitado dos reis e como exigência de justo processo legal. Ter o corpo levado à presença de um juiz queria dizer, simplesmente, apresente a pessoa com vida. No Brasil de 2010, ao lado dos grandes avanços democráticos acumulados desde 1988, com maior nitidez nos últimos 16 anos e, sobretudo, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o tema da metáfora segue ainda cercado de dor, dúvidas, hesitações, mistérios, ocultações e impunidade. Ter o corpo, neste livro, significa literalmente devolver às famílias, companheiros e amigos os restos mortais de um número expressivo de brasileiros e brasileiras que foram mortos – quase todos sob torturas – por resistir a um regime ditatorial que violou as regras da vida constitucional republicana durante 21 anos. Acima de qualquer controvérsia ideológica a respeito daquele regime, desponta como certeza a persistência de uma dívida inegável do Estado brasileiro, ainda não resgatada. O reconhecimento da responsabilidade do Estado pelas violações de Direitos Humanos praticadas durante a ditadura já está consolidado. Mas ainda faltam alguns passos indispensáveis para que se considere plenamente concluída a longa transição para uma democracia irreversível. Faltava também um livro-relatório como este, com o foco concentrado exclusivamente nos desaparecidos políticos em seu sentido mais amplo: quem não teve o corpo entregue à família conforme determinam as leis, mesmo as leis ilegítimas de um regime autoritário. Na Constituição que Ulysses Guimarães proclamou cidadã em 5 de outubro de 1988, o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias já incorporou os primeiros marcos que balizam a necessidade de reparação. Durante o governo Fernando Henrique Cardoso, as leis 9.140 e 10.559 representaram um salto histórico nesse sentido, versando sobre a questão dos mortos e desaparecidos políticos, a primeira, e sobre direitos amplos de indenização material e simbólica, a segunda. Durante o governo Lula, o lançamento do livro-relatório Direito à Memória e à Verdade, em agosto de 2007, abriu novamente o debate sobre a questão não resolvida de nossa reconstrução democrática. E esse debate vem crescendo e atravessa os Poderes da República, a imprensa, a universidade, a sociedade civil como um todo. As caravanas promovidas pela Comissão de Anistia, Brasil afora, o lançamento do projeto Memórias • 3 HabeasCAP1rev 12/20/10 7:23 PM Page 4 COORDENADOR Vladimir Sacchetta REDAÇÃO EDITOR-CHEFE Carlos Azevedo REDATORES Carmen Nascimento Inês Godinho Renato Modernell REPÓRTERES Natalia Viana Priscila Lobregatte PESQUISADORAS Natalia Rayol Paula Sacchetta REVISÃO E ARTE PREPARAÇÃO E REVISÃO OK Linguistica PROJETO GRÁFICO, EDITORAÇÃO E CAPA Ary Almeida Normanha Jun Ilyt Takata Normanha CRÉDITO DAS IMAGENS Apesar de todos os esforços, nem sempre foi possível identificar a autoria de algumas imagens. Localizados os fotógrafos, a Secretaria de Direitos Humanos compromete-se a creditá-los na próxima edição deste livro. As letras ao lado dos números das páginas indicam a posição das fotografias, de cima para baixo e da esquerda para a direita. Acervo Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos: 57, 58, 65, 66, 85, 98, 100, 121, 143, 147, 149, 150, 169, 170, 173, 178-339 I Acervo CPI Vala de Perus: 87, 90, 91, 127 I Acervo Família Eduardo Collen Leite: 110 I Acervo Família Petit da Silva: 99 I Acervo Família Rubens Paiva: 68, 70, 73, 74a, 78 I Acervo Família Virgilio Gomes da Silva: 106a I Acervo Iconographia: 9, 11, 13, 15, 34bc, 56, 59, 60, 62, 69b, 75b, 82, 84, 117c, 125, 135, 137 I Agência Brasil: 18, 22 I Archivo Nacional de la Memoria: 25, 37b, 38 I Arquivo Público do Estado de São Paulo: 8, 10, 13, 17, 19, 69a, 76, 89, 106b (Fundo Deops), 107 I Arquivo particular: 112, 113, 117ab, 119 I Daniel Muzio / Democracia Vigilada / reprodução: 40 I Egberto Nogueira / reprodução: 69 I Folhapress: 63 / Paulo Whitaker: 79 / Eduardo Knapp I Frederico Rozario: 139 I Imagem Latina / Jesus Carlos: 153, 154, 157, 158, 165, 166 I Memoria Dictaduras: 20, 30, 31, 32, 33, 34a, 35, 36, 37a, 40a, 41, 42, 48, 49, 50, 52, 53, 55 I Orlando Brito /