NOVEMBRO de 2011 Centro de Documentação e Informação

O Extracto de notícias é um serviço do Centro de Documentação da DW (CEDOC) situado nas instala- Redação ções da DW em Luanda. O Centro foi criado em Janeiro Helga Silveira de 2001 com o objectivo de facilitar a recolha, arma- zenamento, acesso e disseminação de informação sobre Conselho de Ediçao desenvol-vimento socio-economico do País. Allan Cain, Jose Tiago e Massomba Dominique Através da monitoria dos projectos da DW, estudos, pes- quisas e outras formas de recolha de informação, o Centro armazena uma quantidade considerável de documentos Editado por entre relatórios, artigos, mapas e livros. A informação é Development Workshop – Angola arquivada física e eletronicamente, e está disponível para consulta para as entidades interessadas. Além da recolha Endereço e armazenamento de informação, o Centro tem a missão Rua Rei Katyavala 113, da disseminação de informação por vários meios. Um dos C.P. 3360, Luanda – Angola produtos principais do Centro é o Extracto de notícias. Este Jornal monitora a imprensa nacional e extrai artigos Telefone de interesse para os leitores com actividades de interesse no +(244 2) 448371 / 77 / 66 âmbito do desenvolvimento do País. O jornal traz artigos categorizados nos seguintes grupos principais: Email [email protected] 1. Redução da Pobreza e Economia 2. Microfinanças Com apoio de 3. Mercado Informal 4. OGE investimens públicos e transparência Development Workshop 5. Governação descentralização e cidadania OXFAM Novib 6. Urbanismo e habitação Fundação Bil1&Melinda Gates 7. Terra 8. Serviços básicos 9. Género e Violência 10. Ambiente

As fontes monitoradas são: – Jornais: Jornal de Angola, Agora, Semanário Angolense, Folha 8, Terra Angolana, Actual, A Capital, Chela Press, O Independente, Angolense, e o Semanário Africa. – Websites: Angonoticias, Radio Nacional de Angola, Ibinda. – Publicações Comunitárias como ONDAKA, Ecos da Henda, InfoSambila, Voz de Cacuaco e Jornal Vida Kilamba.

O Corpo das notícias não é alterado. Esperamos que o jornal seja informativo e útil para o seu trabalho. No âmbito de sempre melhorar os nossos servi-ços agradece- mos comentários e sugestões.

Grato pela atenção.

A Redação INDÍCE

1 REDUÇÃO DA POBREZA E ECONOMIA

1.1 “A queda de Angola não significa que o pais piorou, mas sim que os outros se esforçaram mais” 1 1.2 Angola desce um lugar no ranking do doing business 2012 2 1.3 Impacto do investimento chinês 2 1.4 Projecções económicas `atrapalhadas ´ 3 1.5 Responsabilidade social das empresas: para uma parceria para o desenvolvimento (primeira parte) 4 1.6 Promessa longe do cumprimento 5 1.7 Jornalistas recebem uma formação sobre “objectivos do milenio” 6 1.8 Porque descaracterizar os bairros requalificados? 7 1.9 Executivo espera gerar 10 mil postos de trabalho em 2012 8

2 MICROFINANÇAS

2.1 BCI apresenta verba para micro credito 9 2.2 Credito malparado aumentou em 2010 9 2.3 “A operação do microcrédito é uma aliança extremamente vantajosa para Angola” 10 2.4 Credito agricola a empresarios 11 2.5 Cuidado com o credito malparado 11 2.6 Sector bancário cresce acima da economia em 2010 12 2.7 Camponeses associados recebem microcredito no negage 13 2.8 Mercado do Mota 14 2.9 Sem atrapalhar lucro dos bancos 14 2.10 Crédito malparado duplicou 15 2.11 Fiscais gatunos 16 2.12 Programa do Executivo impulsiona comércio rural 16 2.13 Milhares de camponeses na Lunda-Norte beneficiam em breve de crédito agrícola 18 2.14 Credito concedido é inferior ao disponivel 19 2.15 Bancarização em Angola é “gota de água no oceano” 19 2.16 Apenas 11% dos angolanos têm conta bancaria 20 2.17 Crédito agrícola «sem» camponeses 20 2.18 Poupança pode ser um bom negócio 21 2.19 Milhares de camponeses na Lunda-Norte beneficiam em breve de crédito agrícola 22 2.20 «Kilapi» para mobilar a casa 23

3 MERCADO INFORMAL

3.1 Novo mercado a berma da estrada 25 3.2 Fantasmas do Roque Santeiro 25 3.3 Candidatas a doentes de úlcera gastrica e tuberculose 26 3.4 Casas da candonga dificultam comerciantes 28 3.5 Autoridades preocupadas com a venda inlegal 28 3.6 Governante anuncia plano para melhoria dos mercados 30 3.7 Vendedores do mercado do Cassualala têm sombras 30 3.8 Administradores dos mercados culpam executivo pelas praças de rua 31 3.9 Uma profissão a considerar 32 3.10 Descartáveis, mas retornaveis 33 3.11 A luta pela sobrevivencia nas ruas do kuito 34 3.12 Os desafios das zungueiras 35 3.13 Mercado informal domina Luanda… 36 3.14 Aposta no meio rural «presa» no papel 37 3.15 A persistencia de um empreendedor que garante a subsistencia da familia 38 3.16 Embarcações a preço elevado 39 3.17 Conselho regional traça estratégias para disciplinar venda informal 39 3.18 Venda na praia só com higiene 40 3.19 Venda ambulante de frutas atrapalha lojistas 40 3.20 Sambizanga com ambiente nauseabundo 41 3.21 Inaugurado mercado na cela 41

4 OGE INVESTIMENS PÚBLICOS E TRANSPARÊNCIA

4. 1 OGE E a linguagem dos números 43 4.2 Jovens exigem esclarecimentos sobre alegadas contas de jes 44 4.3 Trinta e três porcento do oge destinam-se ao sector social 45 4.4 Arrecadação do GPL cai bruscamente 46 4.5 Orçamento do estado aprovado na generalidade 46 4.6 O OGE de 2010 provocou défice de 15 milhões de dólares` 48 4.7 Oposição defende mais verbas para o sector social 49 4.8 Proposta de lei do oge debatida na especialidade 50 4.9 É preciso mais transparências na gestão do executivo angolano 50 4.10 Análise técnica á proposta de orçamento geral de estado do governo de Angola para o ano de 2012: comentarios gerais (1) 51 4.11 É Preciso mais transparências na gestão do executivo angolano 55 4.12 Despesas para as eleições inscritas á parte 56 4.13 OGE Destnado ao huambo será revisto 58 4.14 Análise técnica á proposta de orçamento geral de estado para o ano 2012: comentários sobre a composição do oge 2012 (2) 58 4.15 Assembleia nacional aprova oge na generalidade 61

5 GOVERNAÇÃO DESCENTRALIZAÇÃO E CIDADANIA

5.1 Decretos do Presidente dão projecção a Luanda 62 5.2 Sociedade civil exige mais transparência do governo 62 5.3 “Nos últimos 15 anos, há indicicios de que a fecundidade começa a cair 63 5.4 Provincia de Luanda delonga por governador competente 64 5.5 Aqui é a cpaital do sobúrdio de Luanda” 65 5.6 «Queremos deixar de servir apenas para as estatísticas eleitorais» 66 5.7 Batata quente» para o novo gpl 69 5.8 A voz de bento bento no «corredor da morte» 70 5.9 Vigora nova estrutura orgânica com a nomeação do governador 71 5.10 Novos administradores nomeados em Luanda 72 5.11 GPL Transfere-se para cidade do kilamba 72 5.12 Eleições autárquicas ou legislativas? 74 5.13 Bento bento tem a politica na veia falta-lhe conciliar o tacto da gestão de uma cidade turbulenta 75 5.14 Bento bento arruma a casa 75 5.15 Bento bento nomeia` compadre` para presidente da comissão administrativa de Luanda 76 5.16 Cacuaco entre a expansão e a desigualdade 76 5.17 Deixou problemas para enfrentar outros 78 5.18 Contestada nomeação de tavares 79 5.19 Parlamento altera funcionamento dos órgãos da administração local 79

6 URBANISMO E HABITAÇÃO

6.1 Casas sócias são construídas para funcionários 80 6.2 Lucro garantido 80 6.3 Habitações distribuídas na urbanização do Camama 81 6.4 Casacon online 82 6.5 Jovens querem apoio da banca para construção de habitações 82 6.6 Abertas inscrições para sorteio de casas 83 6.7 Militares podem beneficiar de habitações sociais em todo o pais 83 6.8 Jovens inscreveram-se para sorteio de casas sociais 84 6.9 Militares podem beneficiar de habitações sociais no pais 84 6.10 Estado-maior do exercito junta-se ao projecto habitacional do executivo 85 6.11 Ovas casas para antigos combatentes 86 6.12 Retrato colorido da moderna cidade do kilamba 86 6.13 Construidas casas para desfavorecidos 88 6.14 Fundo dá garantias para empréstimos 89 6.15 Novas casas para o interior da provincia 89 6.16 Ministro defende controlo dos preços das casas 89 6.17 Fundo habitacional e operadores da banca assinam acordo 91 6.18 Construidas milhares de moradias 92

7 TERRA

7.1 Maianga tem novo sistema informático para a emissão de atestado de residência 93 7.2 Administração descarta responsabilidade na ocupação da praia 93 7.3 Soba queixa-se de não receber dinheiro 94 7.4 Administrador do sambizanga 94 7.5 Administração não confirma inscrição 95 7.6 Martelo demolidor volta á tchavola no lubango 95 7.7 Administração do Kwanzas desanca contra privada 96 7.8 Bebé morre após demolição de casa 97 7.9 Moradores dizem-se injustiçados na sua própria terra 98 7.10 Quando os “diabos” de isaac vêm ao de cima 99 7.11 Tchavola é habitada há mais de um século 100 7.12 Pescadores do cabo ledo insatisfeitos com a transferencia do bairro 100 7.13 Administração comunal em silêncio 101 7.14 Administradora comunal deixa familia ao relento 101 7.15 Garimpeiros invadem terrenos de deputados 102 7.16 Governo cria condições para ocupação legal de terrenos 103 7.17 Madrasta desaloja enteados no maculusso 103 7.18 A Lei da Terra de Angola e a discussão da sua aplicação 104 7.19 Edificio de dois andares desaba no bairro nelito soares 105 7.20 Conclusões da conferencia do huambo 106 7.21 Fazendas continuam á espera do divórcio com a letargia 106 7.22 Lei de terras constitui mais-valia para o pais 107 7.23 Problemática da terra passada á lupa 109 7.24 Evitemos que a posse da terra seja próxima ameaça á paz 110 7.25 Mais um terreno em conflito 111 7.26 Requalificação da cidade melhora a habitalidade 111 7.27 Trabalhos de requalificação da baia ficam concluidos já no proximo ano 112 7.28 Membros de associação de camponeses são suspeitos da venda ilegal de terrenos 112 7.29 Luta por terra 113 7.30 Demolições e promessas do governo de Luanda 11 7.31 Reservas fundiarias foram ocupadas ilegalmente 115

8 SERVIÇOS BÁSICOS

8.1 Pobres pagam pela água dos ricos 117 8.2 Abastecimento de água chega ás aldeias 118 8.3 Água dificil para todos 119 8.4 Bairros de Luanda sem energia há 30 anos 120 8.5 Uma”dor de cabeça” sempiterna 122 8.6 Um chafariz ao deus dará no kilamba kiaxi 123 8.7 Solicitada reabilitação do Olímpio Macuéria 124 8.8 Água chega a calonda 124 8.9 Governador pede apoio dos cidadãos para resolver os problemas de Luanda 125 8.10 Elisal com dificuldades de pagar operadoras 125 8.11 Politicas de saneamento em discussão 126 8.12 GPL Gasta 18 milhões de dólares/mês 127 8.13 Lixo obriga GPL a dívida de de usd 90 milhões 128 8.14 BB «Herda» pesada dívida 129 8.15 Baldas da epal 129 8.16 Pango-aluquém sem agua potavel 129 8.17 300 Mil localidades do pais serão alcançadas até 2012 130 8.18 Munípes do prenda clamam por agua há um ano 130 8.19 Falhas constantes de água ofuscam greve da epal 130 8.20 Abastecimento de água potável preocupa o secretário de estado 131 8.21 Água e energia são carências notáveis 132 8.22 PCA Da epal terá desviado através de `pombos correios` 1 milhão de dólares 132 8.23 Sejam bem-vindos ao deserto, meus senhores! 133 8.24 Há falta de consciência na deposição do lixo 133 8.25 Quando o abuso passa dos limites 135 8.26 Edel á luz de velas… 135 8.27 Redes de água e energia são reforçadas no 137 9 GÉNERO e VIOLENCIA

9.1 Empoderamento economico da mulher é importante no contexto da sadc 138 9.2 É cultura do angolano bater na mulher? 138 9.3 Os moradores admitem sono tranquilo 139 9.4 A criminalidade está demais 140 9.5 Kaulele, a capital da delinquência 141 9.6 Assaltos á luz do sol 142 9.7 Desgraça com sabor oeste-africano 143 9.8 A “Faixa de gaza” de Luanda 143

10 AMBIENTE

10.1 Legislação minimiza impacto sobre o meio ambiente no país 145 10.2 Fiscalização florestal reclama por técnicos 145 10.3 Uso de materiais naturais evita danos ao ambiente 147 10.4 Ambientalistas buscam formas para a csptção de novos fundos 147 10.5 Plano de saneamento contrubui para o desenvolvimento 148 Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 1

1 REDUÇÃO DA POBREZA Tendo em conta isto, que ou­tras reformas devem ser ope­ radas para que se tenha um ambiente de negócio mais E ECONOMIA favorável? É preciso melhorar naqueles indicadores para se chegar a esse índice de classificação. O primeiro deles é as facilida­des para se estabelecer um novo negócio. Aqui 1.1 “A queda de Angola não significa entra o número de procedimentos necessários para se que o pais piorou, mas sim que os criar um tipo de empre­sa, o tempo para criar a empre­sa, outros se esforçaram mais” o percentual das receitas por capita do ano em curso. Jornal expansão Por exemplo, a renda por capita do País. Portanto, cada 04 de Novembro de 2011 uma destas áreas. Quanto à questão dos al­varás, Angola tem uma classifi­cação de 115, que é bastante me­lhor. O Que considerações tem a fa­zer sobre o posicionamento mesmo acontece com o acesso a electricidade, onde o de Angola no relatório Doing Business 2012? índice é de 120, num universo de 183 países; registo de pro­priedade, 129; a questão do acesso ao crédito, 126; Antes de dizer o que me parece, eu gostaria de tecer alguns protec­ção aos investidores, 105; paga­mento de impos- co­mentários que são importantes para contextualizar essa tos, 149; comér­cio exterior, importação e ex­portação, classi­ficação que tem Angola. Pri­meiro, é importante per- 163; cumprimento dos contratos, 181; e depois as reso- ceber o que é o estudo sobre o ambiente de negócio. É um luções para o caso de insol­vência das empresas têm uma estudo com­parativo de regulamentações que se aplica às classificação de 160. empresas dos países, que é feito em 183 países ou econo- mias. Bem, o que te­mos de ter em consideração na clas- Portanto, estes dados são ponderados com os de outros sificação de Angola é que essa classificação, que é feita países, e a classificação de Angola é de 17l. E preciso a cada ano quando se faz o estudo comparativo, é uma analisar isso em deta­lhe e ver as áreas onde Angola podia escala mó­vel, porque, na medida em que Angola avança, trabalhar, e penso que se­riam naquelas em que ainda outros Estados têm avançado mais ou menos. No âmbito está em desvantagem em rela­ção a outros países. Sei que geral, isto depende muito. Não é que Angola não te­nha tam­bém tem a questão da contratação da mão-de-obra, feito esforços no sentido de melhorar o ambiente de negó­ que tipo de u contrato é permitido e não permitido, o cios para as empresas, mas o que pode ter acontecido é tempo, e isso vai d criando rigidez e dificuldades li para que outros países tenham feito mais. as empresas, acabando por p interferir com os índices globais que Angola teve. Este facto, por si só, justifica a queda de Angola da posição 171 para a 172? O Guiché Único de Empresas prepara-se para abrir mais Mesmo com algumas reformas, e foi o caso deste ano, duas agências em Luanda, e o País tem também uma em que Angola fez duas reformas im­portantes: uma delas nova Lei de Investimento Privado com vários incentivos. foi a questão dos direitos de propriedade, ficou mais fácil Até que ponto estas medidas po­dem ser importantes para transferir pro­priedade, e foi, também, reduzido o valor melhorar a posição de Ango­la? de imposto cobrado sobre transferência de proprie­dade. Eu acho que é importante por­que um dos indicadores Isto, obviamente, vai re­duzir os custos das empresas a que nós vimos aqui é o tempo, o número e dias que se transaccionar. A segunda reforma tem que ver com o leva para tramitar m determinado processo. estabele­cimento das agências de crédito, ou seja, o acesso ao crédito está mais facilitado, na medida em que as É óbvio que a abertura de mais uma agência do Guiché agências de crédito agora são obrigadas a ser mais trans- Único vai diminuir a quantidade de dias que são neces- parentes. Quer dizer, um indivíduo ou empresa que tem sários e faci­litar também o acesso do em­presário a infor- uma facilitação destas agências I terá direito a conhecer mação. Porém, o que se nota, e isso faz parte do relató- a sua posição e a verificar se os dados estão correctos. rio que foi divulgado, é que os países precisam de fazer Isto ajuda, porque são informações muito importantes um esforço muito grande em colocar todos os dados em para as empresas poderem levantar créditos para inves- meios magnéticos, seja, elec­trónico, e o Guiché Único timento de trabalho. Portanto, Angola fez esse trabalho, ainda é uma coisa presencial, requer a presença da pessoa mas, ainda assim, caiu um ponto da classificação, saindo e só existe em Luanda. Devia fazer-se um esforço para- do lugar 171 para a posi­ção 172. Não significa isto lelo para que esse pedido de processos de alvarás pudesse que Angola piorou. Isto significa que os outros países ser feito através de meios electrónicos. fizeram mais esforço. Isso significa que estamos numa dinâmica e não adianta avançarmos sozinhos. E preciso saber também como é que os outros estão a avançar. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 2

Pelo que se percebe do rela­tório em causa, a execução 1.3 Impacto do investimento chinês de contratos é o pior indicador do país. Na sua opinião, Jornal Agora o que deve ser feito de concreto para se melhorar este item? 05 de Novembro de 2011 Olhe, eu não sou um especialista na área e fica difícil tecer uma opinião, até porque não partici­pei na pes- Não se sabe ao certo quanto o país recebeu nos últimos quisa. Mas ao olhar aqui os Índices e comparar qual é a anos, de empréstimo da China, mas dados de várias maior situação aqui, é que, quando há uma disputa de publi­cações de pesquisa, como o European Journal of con­trato, a solução vai durar três anos. Então este é um European Research, revelam que cerca de 15 biliões de ponto cru­cial, é o tempo que se demora para se dirimir dólares é a provável dí­vida contraída pelo Estado ao ‘ uma questão con­tratual. Então, é óbvio que aqui deve gi­gante asiático. ser feita alguma coisa para que o tempo seja mais curto. Recentemente o Fundo Monetá­rio Internacional (FMI) Se comparar Angola com Argélia, por exemplo, nota-se avançou num estudo que o investimento chinês em uma dife­rença muito grande entre estes países. Angola está subestimado, embora Pequim mantenha forte presença na construção civil, agricultura, teleco- O que dizer sobre o posicio­namento da África subsaariana municações, construção automóvel e logística. no relatório? As pesquisas apontam que como prova suficiente dos Este é outro aspecto que gosta­ria de salientar. O rela- progra­mas de ajustamento estrutural em África, desen- tório, no seu exercício sumário, refere justamente a volvidos pela China, os novos empréstimos são obriga­ região da África subsaariana, que teve um dos maiores dos a pagar de volta os velhos, com as taxas de juro Índices de avanço em todo o mundo: 78% dos países da continuamen­te ultrapassando o crescimento económico. África subsaariana consegui­ram fazer alguma coisa para Segundo os analistas do Fundo, as grandes dívidas têm melhorar o seu ambiente de ne­gócios, ou seja, 36 dos 46 efeitos ne­gativos para a economia de desen­volvimento, países desta região do continente afri­cano conseguiram os encargos dos débitos são os impostos fiscais, que fazer isso. É louvável porque é um indicador bastante fazem os empréstimos resultar em redução da despesa positivo. É um sinal de que a região acordou para esta pública. questão e está empenhada em melhorar o ambiente de Foi no âmbito da consolidação do seu império financeiro negó­cios para que, realmente, o po­tencial do continente que o Governo chinês desenvolveu o fa­moso ‘método possa desabrochar, e é preciso simples­mente criar con- Angola’ que con­siste em disponibilizar dinheiro para dições adequa­das para que este crescimento de África projectos específicos obriga­toriamente desenvolvidos possa acontecer. pelas empresas chinesas, tornando-se assim, uma ajuda para o financia­mento que cria dependência mais do que os outros tipos de auxílio, como o apoio orçamental. 1.2 Angola desce um lugar no ranking A China tenta, a todo o vapor, fazer de Angola a produ- do doing business 2012 ção barata e fonte dos recursos naturais para satisfação Jornal expansão da demanda interna e, em seguida, usar o país como um 4 de Novembro de 2011 mercado dos seus produtos manu­facturados. O FMI revelou, ainda, que ou­tros estudos apontam O mais recente relatório do IFC – International Finance que o país já é o maior fornecedor de petróleo africano Corporation conclui que, em 2010, um número conside- à China e o maior recep­tor de investimento chinês, rável de economias da África Sub-Sahariana melhorou o embo­ra nas estatísticas não apareça. seu ambiente regulador para as empresas locais. Apesar Além dos sectores tradicionais, gás e petróleo, está disto, e devido as alterações metodológicas, aliadas ao amplamente espalhada na construção civil e automóvel, facto de que muitos países africanos estarem a reformar- telecomunicações, agricultura e logística. -se num ritmos mais rápido, a classificação de Angola A presença não se confina ape­nas às grandes empresas, baixou ligeiramente, saindo da posição 171, ocupada em mas também em todo o tecido empre­sarial angolano, 2011, para a 172 na classificação de 2012. retirando muitas vezes o protagonismo dos nacio­nais, permitindo a criação de uma ‘subeconomia’ que retira a credibi­lidade das parcerias estabelecidas nos acordos firmados, fundamen­talmente na construção civil e indústria.­ A diversificação dos investimen­tos, não reflecte o inte- resse do ‘ gi­gante asiático’ em incentivar a diversificação da economia, indus­trialização de valor acrescentado, ou redistribuição de rendas econó­micas. A estratégia de exportação chi­nesa é um dos factores Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 3 importan­tes para a ‘ desindustrialização’ de vários países Desenvol­vimento (Bad) fixa o crescimento deste ano em africanos de renda média, como por exemplo, a Nigé­ria 7,5%, passando em 2012 para 11,2%, graças sobretu­do e Angola, visto que Pequim não está a transferir o ‘know à recuperação dos preços do petróleo, embora reconheça how’ para estes Estados que carecem de mão-de-obra “um menor impacto” na redução da pobreza. especializada. Os analistas do Bad afirmam que apesar do investi- Nos últimos seis anos, Angola terá recebido da China mento pú­blico em Angola estar em alta, é marcado pelo cerca de 15 biliões de dólares em linha de cré­dito. Estes “clientelismo polí­tico e pela corrupção”, aconse­lhando, fundos são canalizados para o processo de reconstrução por isso, um crescimento robusto com impacto sobre o nacional assistido pelas empresas chinesas, mas a falta de­semprego e as gritantes desigual­dades sociais. de fiscaliza­ção dos projectos num contexto institucional Comparando os dados de 2010, o Fmi constata melho- disfuncional e de cor­rupção, leva a incertezas quanto à rias muito sensíveis da posição ango­lana, já que as previ- qualidade e lisura do processo. sões aponta­vam para um saldo da balança corrente, em o país é actualmente o maior fornecedor de petróleo, percentagem do Produto Interno Bruto (Pib), de 1,33% superando tanto a Arábia Saudita como o Irão, e as em 2011 e de 3,292% no próximo ano. exportações atingiram cerca de 800 mil barris por dia. Quanto à inflação, de acordo com o Fundo, continua O estudo exploratório do Fundo presume, também, a consti­tuir um dos maiores quebra-ca­beças da política que as estatísti­cas oficiais do investimento chinês estão económica, passando em termos médios de 14,5% em subvalorizadas devido ao ‘método Angola’, uma vez que 2010 para 14, 6% ente ano e descendo para 12,4% em toma quase impossível separar o que é investimento 2012. direito estran­geiro e a ajuda bilateral ou contra­tos de De acordo com os dados dis­poníveis, o país deverá financiamento com os privados. crescer duma aa media da economia mundial (4,5% em O Investimento chinês nos Paí­ses de Língua Oficial 2012) e mesmo da taxa de crescimento prevista para os Portuguesa (PALOP) subiu 27%, nos primei­ros sete mercados emergentes (6,5%). Crescerá também muito meses, deste ano, para 62,9 biliões de dólares, face ao além da média da África subsaariana (5,5% em 2011 e pe­ríodo homólogo de 2010. 5,9% em 2012) e dos países africanos ex­portadores de petróleo (6,9% em 2011 e 7% em 2012). “Este ano, o crescimento ape­nas será superado pelo 1.4 Projecções económicas Ghana (13,7%)”, refere o estudo, subli­nhando que “a `atrapalhadas ´ posição externa do país é positiva, pois é visto como um Jornal AGORA credor líquido e a va­riação do preço das com modities 05 de Novembro de 2011 terá um impacto globalmente muito positivo na balança co­mercial”. As análises eufóricas das autoridades contras­tam com Prognósticos do Bm. O eco­nomista do Banco Mundial as previsões das principais instituições finan­ceiras mun- para Angola e Moçambique, estimou, por seu lado, que diais, não deixando de ser uma confusão de narizes por o investimento público e a valorização do petró­leo per- não haver um rácio razoável. mitirão a país crescer es­cassos 8% no próximo ano. O Executivo reporta um cres­cimento de 12% em 2012, Ricardo Gazel, citado recente­mente pela agência de um rit­mo quase quatro vezes superior ao estimado para informa­ção financeira Bloomberg, fixou o crescimento este ano (3,7%). deste ano em 5%, re­vendo por baixo as estimativas do Estas previsões inscritas no Orçamento Geral do Estado Fmi. (Oge) para o próximo ano são mais optimistas do que as A brusca queda dos preços do ‘ouro negro’, em 2009, análi­ses do Fundo Monetário Interna­cional (Fmi). Este provocou uma baixa nas reservas de moeda estrangeira, prevê uma expansão de 10,8% em 2012 con­tra 3,7% provocando o abran­damento do Programa de Investi­ em 2011. mentos Públicos e de construção de infra-estruturas. A crer nos indicadores, Ango­la será o terceiro país com o o executivo do Bm observou que as perspectivas econó- maior crescimento em toda a África subsahariana, atrás micas sã sólidas, pois, “0 país está numa posição com- da Ni­géria (12,4%) e Serra Leoa (15%). pletamente diferente, prevendo-se o reinício dos inves- As autoridades pretendem atingir um défice nulo em timentos no sector não petrolífero, estimulando ainda 2012, com as receitas e despesas a atin­girem mais de 35 mais o crescimento”. mil milhões de dólares e um controlo da inflação abaixo A redução da produção petro­lífera, resultante de inter- de 12%. rupções para a manutenção, deverá ser “mais do que com- Por sua vez, o Oge2012 estima um crescimento de 13,4% pensada”, pelo aumento dos preços do cru­de, segundo do sec­tor petrolífero e o não-petrelífero de 12,5%. Já o o especialista, que prevê igualmente um aumento do Fmi prevê uma su­bida de apenas 10,4% neste últi­mo. investimento público antes do pleito eleitoral marcado Por sua vez, o último relatório do Banco Africano de para o próximo ano. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 4

Gazel antecipa um excedente de 8% do Pib em 2011 e que é o capitalismo – o único sistema económico até um au­mento das reservas de divisas para mais de 20 mil hoje implantado e que tem mostrado uma extraordiná- milhões e dó­lares, tomando assim mais fácil o Executivo ria capacidade de transformação e regeneração interna e financiar os investi­mentos sem ter de emitir dívida. de ajustamento às crise e turbulências várias, políticas e O Banco Português de Investi­mentos (Bpi) num estudo sociais – e a economia de mercado. publi­cado em Agosto último, previa uma aceleração da Na perspectiva de Dunlap, os empregados, os forne- economia de 2,5% em 2011 e 9,8% em 2012. cedores, os clientes, o Governo e os representantes da À sua conta, o economista Al­ves da Rocha referiu que comunidade – esta, provavelmente, um dos vectores a nossa economia poderá tornar-se na quinta maior de destrinça entre responsabilidade económica e res- do continente afri­cano em 2014. “Caso esse deside- ponsabilidade social das empresas: a sua capacidade de rato seja atingido, a economia angolana ficará à frente inserção nas comunidades e de interagir com elas e com de Mar­rocos e atrás da África do Sul, Nigéria, Egipto os seus elementos – não devem interferir nas decisões e Argélia”, no­tou o especialista, por altura do F6rum tomadas pelos verdadeiros decisores, isto é, os que inves- sobre Estratégia e Compe­titividade. tem na empresa. Os verdadeiros decisores, que são os De acordo com este professor universitário, a análise investidores, têm, não só, o direito de encerrar a empresa é feita com base na evolução satisfat6ria da taxa de e despedir os seus trabalhadores, como declarar inváli- Rendimento Nacional Bruto, na dinâmica da economia dos e irrelevantes quaisquer postulados que tais pessoas e no poder de compra dos cida­dãos. possam fazer sobre o modo como gerem a mesma. “Não há nenhuma fórmula mágica. O que acontece é Como disse, trata-se duma visão restritiva do que deve apenas uma benesse do mercado inter­nacional”, notou ser hoje a empresa, em contextos modernos, democra- o economista, Fernando Heitor, para quem “a econo- ticamente envolventes e participados e competitivos. mia poderá apresentar ele­vadas taxas de crescimento por Seguramente que existem outras formas de governar as duas razões: o aumento da pro­dução petrolífera mesmo empresas a que Peter Drucker tão abundantemente se com as limitações impostas pela Orga­nização dos Países refere. Dentre as mesmas avultam as relacionadas com a Produtores de Petróleo e o preço do barril no mercado”. responsabilidade social das empresas e os seus defensores contestam a viabilidade de avaliação económica isolada duma empresa e a curto prazo. Em vez disso, uma ava- 1.5 Responsabilidade social das liação mais ampla, de longo prazo, englobando todas as empresas: para uma parceria para operações da empresa. o desenvolvimento (primeira parte) Jornal Expansão 2 – Definição de responsabilidade social empresarial 11 de Novembro de 2011 (RSE) Para os evangelistas do mercado, a primeira prioridade Em homenagem aos 36 anos de independência nacio- da empresa é produzir bens e serviços que a sociedade nal, durante os quais as necessidades dos angolanos não quer e precisa, num quadro estratégico de maximização foram satisfeitas na medida das expectativas que este do lucro individual. Onde meter a responsabilidade social? facto político criou, tendo-se hoje um dos países mais Na interdependência entre negócios e sociedade na busca desiguais do mundo e de África, entendi escrever uma duma envolvente estável entre necessidades individuais e série de três artigos dedicados necessidades colectivas? à responsabilidade social das empresas e que tem como Entendi curial reflectir sobre duas dimensões da respon- desafio máximo as propostas formuladas por Sua sabilidade social das empresas e tentar fazer a ponte entre Santidade Bento XIX na sua encíclica Caritas in Veritate. elas. o ponto de vista moral. Aparentemente, este ponto Esta responsabilidade empresarial deve ser encarada na de vista pode coincidir com a ética dos negócios, com a perspectiva de uma parceria público-privada para o lealdade de intenções face a parceiros e a terceiros, o for- desenvolvimento. necimento de bens e serviços dentro de normas de qua- lidade e de respeito dás preferências dos consumidores, 1 – Introdução a publicidade não enganosa. Deste ângulo de análise, a Poderia começar com uma afirmação lapidar de Albert responsabilidade social empresarial é a dedicação contí- J. Dunlap sobre a essência da empresa num regime capi- nua da empresa a comportamentos éticos, contribuindo talista de economia de mercado ­evidentemente diferente para o desenvolvimento económico e melhorando as dum outro de capitalismo de Estado, em vigor na China condições de vida dos trabalhadores e das suas famílias, e que quase passou despercebido na ex-União Soviética: assim como das comunidades em que estão inseridas. “a empresa pertence às pessoas que nela investem – e A componente moral da responsabilidade social exige não aos empregados, aos fornecedores, nem à comuni- que os negócios se façam com honestidade, seriedade dade onde está instalada”. Declaração forte e radical do e sinceridade e no respeito dos compromissos assumi- Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 5 dos. Igualmente determina que não se tenham salários Então a questão passa a ser: criar bons empregos em que em atraso e se paguem as remunerações do trabalho de o empregado se sinta útil a si, à sua família e à sociedade acordo com os contratos assinados. em geral. Para isso faz-se mister que a força de traba- Um ponto particular: porque se pede que as empresas lho seja bem dotada de educação e de conhecimentos se comportem com responsabilidade social e a mesma técnicos. postura não é exigida às pessoas ricas? Estas classes pos- sidentes afectam somas consideráveis a gastos de extrava- gância e sumptuosidade privadas. Estes cidadãos e classes 1.6 Promessa longe do cumprimento sociais distanciam-se da imensa maioria da população, Jornal semanario factual em vez de a ajudarem na caminhada para uma prosperi- 12 a 19 de Novembro de 2011 dade comum. Uma sociedade harmoniosa caracteriza­-se pela democracia, pelo imperativo da lei, pela equidade, Os automobilistas e moradores ma­nifestam o seu des- pela justiça, pela sinceridade, pela amizade e pela vitali- contentamento pela progressiva degradação da avenida, dade o ponto de vista económico dado que o sofri­mento não é prematuro. Os empresários e as empresas são quem deve operar a melhor combinação produtiva dos factores de produção, Eles concordam que poderá ser pior, caso Luanda, nos com diferentes finalidades: maximizarem os retornos próximos dias, seja fustigada por forte chuva, o que dos investimentos, poupar recursos escassos (e, por isso e impos­sibilitará o tráfego auto­móvel e pedestre, face ao em alguns casos, caros) e acautelar uma repartição justa mau estado da via. do rendimento gerado no decurso do exercício da acti- vidade produtiva. Percebem-se elementos sociais nesta As demonstrações de desagrado por parte dos utentes da função económica do empresário. via surge pela promessa efectuada pela administradora Assim como se adivinham zonas de contradição e conflito do município do Rangel, Maria Cle­mentina Silva, no entre a função económica das empresas e o que deseja- passado dia 22 de Setembro, quan­do prometeu que os velmente deveria ser a sua função social. E uma delas é tra­balhos de reabilitação da via arrancaram em seguida, quando, por razões de eficiência (poupança de recursos) mas, até ao momen­to, não se vê nada de novo no local e de maximizacão de lucros, as combinacões factoriais favorecem o capital (e as suas diversas componentes) em Na avenida Hoji-Ya-Henda, o estado crítico do piso desfavor do trabalho, optando­-se, portanto, por processos no sentido triângulo dos Congoleses linha-férrea do de produção intensivos em tecnologia e capital. Cazenga, bem como o troço até ao hos­pital América Observada do ponto de vista da empresa, a RSE pode ser Boavida, está a cada dia a deteriorar via degradada causa entendida como parte da gestão de risco, isto é, tomando insegurança. diferentes medidas estratégicas para assegurar a sobrevi- vência da empresa no futuro previsto. Isto faz parte da Para muitos automo­bilistas, a degradação excessiva da responsabilidade dos gestores para com os accionistas, avenida Hoji-Ya-Henda e a fraca ilumi­nação pública e a mellior maneira de o fazer é lutar por um modelo contribuem, em muito, para a insegu­rança na via, sobre- operacional que crie valor para todos os stakeholders, tudo no período nocturno. que, de outra maneira, poderiam, no longo prazo, tornar a empresa vulnerável. O semanário Factual voltou a efectuar uma ronda na A criação de emprego pode ser, provavelmente, a mais avenida Hoji-Ya-Henda, três meses depois da promessa importante responsabilidade social das empresas e dos da adminis­tradora municipal, Maria Clementina Silva, empresários, embora seja a consequência económica onde pôde constatar a progres­siva deterioração da via natural da constituição de actividades produtivas. Não quase na sua plenitude. se pode iniciar uma qualquer acção produtiva sem que a combinação dos factores entre o trabalho. Marx dizia Automobilistas ouvi­dos pelo semanário dizem que a que o capital mais não é do que trabalho cristalizado, situação que se vive na zona do pica-pau já leva mais significando que a origem essencial do processo de pro- de seis ou oito meses. Na opinião destes, o tra­balho de dução – capitalista e não capitalista – é o trabalho. colocação de um novo tapete asfáltico na via levada a Mas que tipo de emprego? Claro que as empresas não cabo pela BECOM não surtiu os efeitos desejados, pois são centros empregadores tout court. Não o podem ser, foi apenas um trabalho palia­tivo. porque também têm a responsabilidade social de acau- telar uma racional a locação de outros recursos e factores O automobilista Carlos António, que tem a aveni­da escassos. Empregando por empregar, as empresas des- Hoji-ya-Henda como a principal via para chegar ao perdiçam capital, escasso sobretudo em economias em local de trabalho, reve­lou ao Factual que “é muito triste desenvolvimento ou subdesenvolvidas. verificar que uma das principais avenidas do município Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 6 do Rangel se encontra degradada desta maneira, mas as 1.7 Jornalistas recebem uma formação autoridades munic­ipais nada fazem, no senti­do de con- sobre “objectivos do milenio” trapor a gradual deterioração da mesma. Jornal de Angola 22 de Novembro de 2011 Para o morador Paulo Gonga, a situação pode vir a piorar caso, nos próxi­mos dias, caia forte chuva sobre O director nacional da Comu­nicação Social reiterou Luanda, o que po­derá causar inúmeros transtornos à cir- ontem, em Luanda, o compromisso do Ministério de culação automóvel, principalmen­te. “Neste momento, prosseguir na defe­sa de parcerias para a superação técnica Luanda ainda não foi fusti­gada por uma forte chuva, e profissional dos seus quadros, para melhor desempe­ mas os transtornos já são visíveis. nhar o seu papel de informar e educar a população. Quanto ao tráfego, muitos são os que têm tido inúmeros problemas nos seus automóveis, devido ao mau estado da José Luís de Matos reafirmou o compromisso na aber- via. Por isso, é preciso que a Admi­nistração do Rangel tura do semi­nário de capacitação de jornalistas sobre os faça alguma coisa, a fim de evi­tar as consequências que Objectivos do Desenvol­vimento do Milénio (ODM), hão de advir”, salientou o morador. pro­postos pelas Nações Unidas. o Factual constatou, igualmente, graves proble­mas a nível da drenagem das águas pluviais, o que tem causado “Dividido em metas mensurá­veis e indicadores, os o seu acumu­lo ao longo da avenida Hoji-ya-Henda, Objectivos do Milénio permitem acompanhar o pro- tendo co­mo resultado a deterio­ração do tapete asfáltico. gresso e exige dos países rela­tórios sobre as suas politi- Por seu turno, o auto­mobilista João Gaspar salientou cas e pro­gramas para os atingir”, disse Luís de Matos, ao semanário que a avenida Hoji-Ya-Henda necessita de para quem, com a realização deste seminário, os jor- um trabalho de reabilitação profundo, uma vez as obras nalistas estão mais convictos das suas o responsabi- levadas a cabo não terem surtido o efeito de­sejado, tendo lidades na divulgação e promoção dos Objectivos de em conta a sua durabilidade efémera. Desenvolvimento do Milénio.

“Este facto demonstra a fraca qualidade das es­tradas “Os ODM são também importantes para o futuro da a nível da província de Luanda e não só”, asseverou o humanidade, pois ao mesmo tempo visam tu promover automobilista. os direitos humanos, a m paz e a segurança”, salientou.

Moradores querem que administradora dê a cara A coordenadora das Nações Unidas em Angola, Maria Cansados por esperar, os automobilistas e os mo­radores do Valle Ribeiro, referiu que o seminário se enquadra adjacentes à via pedem à administradora do município no conjunto de programas VII que a ONU desenvolve do Rangel que venha a público expli­car os motivos do em parce­ria com o Executivo, destacando os programas atraso do inicio das obras de rea­bilitação da avenida como o acesso à água potável, saneamento, nutrição e Hoji-Ya-Henda, principalmente nos seus pontos mais se­gurança social. críti­cos. “Realizamos esta acção formati­va porque achamos que a Marta Fernandes, mo­radora do município e usuária questão do desenvolvimento não só consti­tui uma preo- da via, fez saber ao Factual que “é muito difícil acredi- cupação do Executivo, mas também das Nações Unidas tar que esta avenida ainda continua no estado em que e de cada cidadão”, disse. está, visto que os próprios membros da administração Maria do Valle Ribeiro referiu os progressos que Angola a utilizam. regista em relação aos Objectivos de Desenvol­vimento do Milénio, em particular, na educação, no acesso à água “Penso que a adminis­tradora (com todo o res­peito) quer potável e a participação das mulheres na vida pública e que chova pa­ra, depois, aparecer com a televisão e tentar nos órgãos de decisão. passar a imagem de que está a tra­balhar. Esta não é uma ati­tude de alguém que se pre­ocupa com o povo”, O seminário, uma iniciativa do Programa das Nações de­sabafou Marta Fernandes. Unidas para a População (PNUD), vai abordar as­suntos ligados aos “Progressos de Angola concernentes aos ODM” e os “Desafios a que estão relaciona­dos”, e conta com a participação de jornalistas de nove províncias do país-Cabinda, Uíge, Huambo, Ben­guela, Malange, Bengo, Kwanza­ Norte, Kwanza-Sul e Luanda. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 7

Os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) Como foi no bairro anterior, os construtores fecharam surgem da Declaração do Milénio das Nações Unidas, todas as saídas e entradas que condic­ionam a vida dos adoptada pelos 191 Esta­dos-membros no dia 8 de beneficiários e dos simples passageiros, das áreas afec- Setembro de 2000. tadas pelas obras, o que como se imagina, condi­ciona sobremaneira a fluidez do tráfego rodoviário, situação Criada num esforço para sinteti­zar acordos internacio- aproveitada pelos taxistas para sobre facturar na corrida. nais alcança­dos em várias cimeiras mundiais ao longo dos anos 90, a Declaração traz uma série de compro- Seja como for, como o lema é “ os constrangimentos missos con­cretos que, se cumpridos nos pra­zos fixados, passam e a obra fica”, as pessoas aturam a situação, na segundo os indicado­res quantitativos que os acompa­ perspectiva dos sacrifícios consentidos serem o mais nham, devem melhorar o destino da humanidade neste breve e que a obra per­dure no tempo. século. Os Objectivos de Desenvolvi­mento do Milénio estão No Mártires e no Bairro Popu­lar foi notável que ao a ser discu­tidos, elaborados e expandidos glo­balmente reabili­tarem as vias, alteraram sig­nificativamente as e dentro de muitos países. Entidades governamentais, mesmas. É o caso da rua Machado Sal­danha. Em que empre­sariais e da sociedade civil estão a procurar formas foram encurta­das as faixas de rodagem, pois onde com- de inserir a busca por esses Objectivos nas suas pró­prias portavam mais de uma faixa de rodagem, depois da estratégias. reabilitação, dois carros em sentido contrário, já não Erradicar a pobreza extrema e a fome, atingir o ensino po­dem cruzar mesmo em faixas contrárias e em con- básico uni­versal, promover a igualdade entre os sexos e trapartida aumentam-se as passadeiras. O problema se a autonomia das mulhe­res, reduzir a mortalidade infan- agudizou nas Bs e Cs, pois nestes bairros, tendo sido til, melhorar a saúde materna, comba­ter o VIH-Sida, construí dos para acudir situações do superpovoamento a malária e outras doenças, garantir a sustentabilida­de da cidade, as residências não possuem garagens e como ambiental e estabelecer uma parceria mundial para o é obvio, os moradores estacio­nam as suas viaturas nas desenvolvimento são os oito objectivos da ONU apre- ruas como sempre foi. Com as ob­ras, estes queixam-se sentados na Declaração do Milénio e que se pretende de terem a vida às avessas, porque não conseguem esta- alcan­çar até 2015. cionar mais as suas viaturas nos locais habitu­ais, porque ao reabilitarem-nas estreitaram-nas de tal forma que se estiver um carro es­tacionado, outro já não pode passar. 1.8 Porque descaracterizar os bairros requalificados? Com a indisciplina aos mo­toristas, se alguém atrever-se Jornal o continente em deixar a viatura na via no período nocturno, pela 25 de Novembro de 2011 manhã tem grandes prejuízos decor­rente das embatidas neste período, o que leva os mora­dores a contestar. Este No âmbito do seu programa, o Executivo tem estado a trabalho das vias teriam que ser como eram e nunca reali­zar obras para requalificação dos bairros de Luanda” inventar fórmu­las que não se encaixam. para melhorar o nível de vida dos seus habitantes de As comissões de moradores, procuraram tirar satisfação forma a não estarem a margem do desen­volvimento que à administração local, que não consegue dar quase nada, a cidade está a receber. porque as obras estão a cargo de um órgão de subordi- nação central, que quer no acto do le­vantamento topo- Foi assim com Mártires de Kifangondo, mesmo sendo gráfico como na realização da obra, não dá e “cavako” um bairro urbano e nas prox­imidades do portão de aos órgãos da ad­ministração local e muito me­l nos aos entrada da Capital, que durante muito tempo quando moradores. chovia era uma miséria, pois não permitia mo­bilidade até mesmo dos mo­radores, o que ao concluir as obras Esta forma de estar é estranha, não acham? Porque o que o público manifestou a sua alegria e se predispôs a pre- se propala por aí, é que toda obra tem que ser antecedida servá-la para durar. do es­tudo de impacto ambiental, o que se subentende, as forças vivas da comunidade, logo se teria visto que era Agora é a vez do Nelito Soares, por ser uma área bas- contrapro­ducente reduzir as faixas de rodagem. E agora tante fre­quentada, já que comporta o mercado dos a obra já está feita e apesar de não estar con­cluída, com se Congoleses, centro Recreativo Kilamba, um ponto de vai solucionar o problema? Vão se partir outra vez as Vias referência ob­rigatória quando está em causa a cultura, e o passeio ou o povo vai sofrer assim mesmo? para citar simples­mente alguns lugares de refer­ência e até serve de trampolim da cidade para os bairros cir­cunvizinhos. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 8

1.9 Executivo espera gerar 10 mil postos de trabalho em 2012 Destaca-se que o sec­tor da Indústria transfor­madora Jornal semanario factual registou um cres­cimento médio anual, en­tre 2008 e 26 de Novembro a 03 de Dezembro de 2011, na ordem dos oito porcento e foram criadas e 2011 entraram em fun­cionamento 750 empresas privadas, em quase todos os subsectores, com desta­que para a indús- Segundo o titular da pasta, António Pitra Neto, o pro- tria ali­mentar e de bebidas. grama do Executivo para 2012 preconiza que a geração de emprego deve ocorrer, essencialmente, nos sec­ O número de postos de trabalho directos ci­frou-se em tores primário, secundário e terciário da economia, na mais de 25 mil e 120, e o valor dos inves­timentos pri- sequência dos programas gizados desde 2008. vados atingiu cerca de quatro mil mi­lhões de dólares”.

De acordo com o go­vernante, citado pela ANGOP, que O sector dos têxteis, vestuário e calçado, come­ça respondia terça-feira (22) às pergun­tas dos deputados agora a dar os primeiros passos, com o relança­mento à Comissão de Economia e Finanças, a estabilidade da cultura e da fi­leira do algodão e a reabi­litação e o macroeconómica, a adopção de incentivos facilitadores desenvolvimen­to da produção têxtil, de modo a gerar nalgumas áreas, a formação dos arti­gos laborais espe- emprego e a substituir as importações. cializados e, sobretudo, a disponibili­dade de recursos finan­ceiros internos e externos, para que os projectos Para o próximo ano, deverão entrar em fun­cionamento de investimento sejam a ala­vanca fundamental para a três fábricas de tecidos, nomeadamente Textang II, em geração de emprego e possam ser um dos pro­blemas. Luanda, a Africa Têxtil, em Ben­guela, e a SATEC, na cida­de do Dondo, na provín­cia do Cuanza Norte). “Felizmente, hoje o quadro é melhor e é assim que o Executivo tem inci­dido, desde 2008, os seus esforços, a fim de que a geração de emprego se fizesse no sector primário, secundário e terciário da economia”, referiu.

Relativamente a 2012, adiantou, esta política vai conti- nuar, devendo as atenções estarem viradas para os secto- res da agricul­tura, da pecuária, da pesca e das indústrias transformadoras.­

“Quero aqui referir que, neste sentido, um papel muito importante vai continuar a ser dado ao investimento público e ao privado. Os esforços fi­nanceiros do Estado, atra­vés do Orçamento Geral do Estado, são uma via e não podemos subestimar a via imprescindível da co­laboração do investimento público e privado nacional e estrangeiro neste objecti­vo central para qualquer socie- dade, qualquer eco­nomia que é a geração de emprego”, afirmou.

Salienta-se que, de acordo com dados do Executivo, as perspectivas sectoriais do Executivo prevêem que o sector da indústria transformadora deverá registar um cresci­mento médio anual na ordem dos 10 porcento entre 2012 e 2017 e cuja expectativa de geração de empregos deverá situar numa média anual entre 7, 4 mil empregos directos e 7,5 mil indirectos, estima­do em 8, 5 mil milhões de dólares.

Já o sector da energia prevê investir oito mil mi­lhões de dólares para a produção e cerca de nove mil milhões para o sistema de transporte e dis­tribuição de energia. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 9

2 MICROFINAÇAS No seu conjunto, a generali­dade dos indicadores reco- lhidos pela consultora numa amostra que “caracteriza de forma fiel o sector bancário em Angola, na medida em que traduz cerca de 92”/” do total de activos conso- 2.1 BCI apresenta verba para micro lidados da banca em Angola, conforme publicação do credito BNA de 5 de Outubro de 2011”, evidenciam um cresci- Jornal o pais mento do sector, tanto em dimensão como em rentabi- 04 de Novembro de 2011 lidade. Assim os activos aumentaram em cerca de 21 %, o número de colaboradores em 18°h, (situavam-se, em O BCI disponibilizou, no princípio do mes de Outubro, 2010, em 11.000 pessoas) e o número de balcões abertos 25,3 milhões de kwanzas para concessão do micro-cré- em 22%. No que respeita aos indicadores de rentabili- dito de campanha a 98 camponeses do Municipio da dade, há a registar o crescimento de 24% ao nível do Ganda, Benguela, no âmbito do Programa de Com­bate produto bancário e de 24 % do resultado líquido. à fome e redução da pobreza no país. A KPMG constata que persiste ainda uma significativa Segundo o responsável do sector dá Agricultura e concen­tração do sector, estando 80% do mercado con- Desenvolvimento Rural na Ganda, Manuel Tchitum­ba, centrado em cerca de 20% dos bancos, mas assinala que consta do pacote da concessão de microcrédito a recep- esta situação tende a modificar-se, observando-se “alte- ção de imputes e alfaias agrícolas, além de juntas de bois rações de quo­ta de mercado, nomeadamente nas rubri- para tracção animal, com vista ao fomento dá produção cas de activo, crédito e depósi­tos, estando estas cinco agrícola na região, Instituições (que consubstanciam 20% do con­junto do sistema bancário) a perder quota relativa face aos res- Manuel Tchitumba disse à Angop, o processo rea­ tantes, representando uma intensificação do ambiente lizou-se em três fases distintas, tendo a última benefi- concorrencial. ciado apenas camponeses organizados da comuna da Babaera. Mau grado se ter verificado em 2010 um crescimento na No entanto, 800 processos remetidos hão mais de dois captação de depósitos e recursos de clientes bem como anos ao Banco Sol para obtenção de micro-crédito de na concessão de crédito, o ritmo de evolução des­tas campanha esperam pela disponibilização de verbas, com rubricas denotou um ligeiro abrandamento em relação vista a incentivar os camponeses locais, o que condiciona a 2009. A captação de recursos manteve uma tendên- o desenvolvimento do processo pro­dutivo. cia de crescimento de 13,9%, sendo de realçar que se observou urna alteração qualitati­va na composição dos Manuel Tchitumba acrescentou que no quadro depósitos, com “uma redução do peso dos Depósitos à desse pacote, existe também o Crédito Agrícola de Ordem, por contra­partida dos Depósitos a Prazo, que Investimento para pequenos, médios e grandes agri­ reforçaram o seu peso no total de Depósitos de Clientes cultores, para o qual os requisitos exigidos impõem que face ao ano anterior”. Já o crédito concedi­do cresceu na os interessados possuam capacidade em capitais, para ordem dos 17,8%. A consultora observa que “a ex­pressão poderem prestar garantias aos bancos, que o sector bancário tem na economia (crédito conce- dido/ PIE) é de 19,8%, valor semelhante a outras eco- nomias ‘baseadas’ no petróleo, mas ainda aquém dos 2.2 Credito malparado aumentou valores observados noutros paí­ses”. A transformação em 2010 de recursos de clientes em crédito continuou a evoluir, Jornal o pais fixando-se nos 53,6%, o que significa que, situando-se 04 de Novembro de 2011 ainda abaixo dos 100%, se verifi­ca um maior aproveita- mento dos recursos captados, dirigindo-os para soluções O crédito malparado aumentou na ban­ca nacional em de financiamento. Também a evolução do produto ban- 2010, verificando-se um crescimento do crédito vencido cário foi positiva, registando um crescimento de 24,2%, em percentagem do crédi­to total em 79,6%, revela o expli­cado sobretudo pelo forte incre­mento da margem estudo anual da KPMG dedicado à Análise ao Sector financeira que cresceu 53,2%. Bancário Angolano. Num ano que foi de viragem na crise económica mundial, após a forte desaceleração Rentabilidade aumenta decorrente da crise económica internacional, o rácio de A rentabilidade da banca nacional continua fortemente crédito vencido sobre crédito total situou-se nos 5,1%. atracti­va: a Rentabilidade dos Capitais Próprios (ROE), situou -se em 30,3°/0, “embora decorrente do aumento Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 10 dos custos de estrutura tenha apresentado uma ligeira redução em 2010”. Já evolução do cost­to-income, de 2.3 “A operação do microcrédito uma forma global, foi negativa, fixando-se em 49,7”10 é uma aliança extremamente (era de 39,6”/0 em 2009). “Este fac­to deveu-se sobre- vantajosa para Angola” tudo à pressão dos custos operacionais, nomeadamen­te, Jornal expansão custos com pessoal e aberturas de balcões, decorrentes da 04 de Novembro de 2011 política de investimento do sector”, refere o documento. Portugal é um parceiro privile­giado nas relações econó- A taxa de bancarização e o siste­ma de pagamentos pros- micas com Angola. Até que ponto é ne­cessária a manuten­ seguiram o seu crescimento, embora a primei­ra abrange ção desta posição? apenas 11% da população total e mau grado os esfor- Julgo que é preciso trabalhar cada dia com uma pers- ços de ex­pansão das diferentes instituições presentes no pectiva de futu­ro. Quanto ao nosso relaciona­mento mercado, que abriram, em média, 12,5 balcões por mês, especial, eu não diria que Portugal deva ter quaisquer num total de 150 novos balcões abertos ao longo do pre­tensões hegemónicas. Temos, so­bretudo, de defender ano. A forte concentração de balcões em Luanda (51%) posições úteis para os dois povos, e a posi­ção de Portugal faz an­tever que “o potencial de abertura de agências aqui deve ter con­trapartida na posição de Angola em ocorra, sobretudo, nas res­tantes províncias, primeiro Portugal. Isto é muito impor­tante. Não é só Portugal no litoral e depois no interior”. Foi efectua­do ainda um que é um parceiro económico privilegiado para Angola, forte investimento em novas máquinas automáticas, Angola também o é para Portugal graças a9s investi­ quer Multicaixa (AIM), quer de pagamen­to automático mentos que tem feito. E necessá­rio manter esta capaci- (IPA), o qual se tradu­ziu num crescimento de 26% e dade de ca­minharmos juntos. 60% respectivamente. Que contributo se pode esperar da banca portuguesa para o De referir que se manteve a ten­dência de crescimento desenvolvimento e crescimen­to da banca angolana? continuado no volume médio mensal de transacções na Ainda tenho memória do que era a banca angolana há Rede Multicaixa, passando de 3,6 milhões em 2009. uns anos. O nível de bancarização era muito baixo. A O relatório confere um particular destaque ao papel do banca portuguesa contri­buiu para mudar essa situação Banco Nacional de Angola (BNA) no plano da regu­ com a sua capacidade tecnológica e de inovação, porque lação e supervisão, pugnando por “um cada vez maior ela tem, nestes campos, posições de lide­rança reconhe- alinhamento das Instituições Financeiras com os ‘stan- cidas internacio­nalmente. Não é assim um parcei­ro dards’ internacionais e as boas práticas de mercado”. menor para Angola. A operação de microcrédito que o Millennium Angola e o Banco Atlântico lançaram con- A KPMG confere especial relevo à supervisão pruden- juntamente em An­gola é prova de uma aliança estrei­ta, cial e comporta­mental, prevenção de branqueamen­to que permite a concretização de operações extremamente de capitais e combate ao financia­mento do terrorismo, vanta­josas para Angola, e que, do ponto de vista técnico, normalização do Plano Contabilístico das se equiparam com o que de melhor se faz nou­tras partes Instituições Financeiras (Contil), integração da Central do mundo. de Informação de Risco de Crédito (CIRC), ‘com- pliance’ e ‘assurance’ e implementa­ção da gestão de risco O microcrédito é mais um trun­fo para tornar o banco e capital. inovador?­ Penso que sim. E esta aliança en­tre o Millennium Angola Para além do reforço da regulação e supervisão, a KPMG e o Banco Privado Atlântico pode de facto correspon- considera que a captura do potencial e crescimento do der a um compromisso real para com o povo angolano. mercado, o lançamento de novos canais de distribui- Trata-se de um processo que dá primazia a pessoas com ção e inovação fi­nanceira, a gestão de risco de cré­dito, capacida­des empreendedoras. É bom ouvir essas pessoas o surgimento da banca de in­vestimento e do mercado dizerem que conse­guiram realizar os seus sonhos ace- de capitais, o acompanhamento do impacto das altera- dendo ao microcrédito. Hon­rando os seus compromis- ções fiscais que se avizinham sobre o sector financeiro, sos pe­rante o banco, dão sustentabilida­de ao negócio e a formação e retenção de recursos humanos e a segu- contribuem para o desenvolvimento do meio em que rança da informação e gestão da continuidade de negó- se integram. Impressiona-me particularmente o papel cios configu­ram os principais desafios que se co­locam da mu­lher neste domínio pela capacida­de de gestão ao sistema bancário angolano, o qual, sublinha a con- e pela estabilidade de que dá mostras. Lembro-me de sultora, conti­nua a apresentar “inúmeras oportu­nidades uma parte do recente discurso do Senhor Presidente da de crescimento”. República de Angola sobre o Estado da Na­ção, em que chama a atenção para a prioridade às micro, pequenas e Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 11 médias empresas na economia como factor de erradica- ção da po­breza e de apoio às camadas mais desfavoreci- 2.4 Credito agricola a empresarios das. Penso que o Millennium e o Atlântico trabalham Jornal o pais nessa perspectiva, permitindo a um maior número da 04 de Novembro de 2011 população o acesso a financiamentos que po­dem mudar as suas vidas. Benguela Cerca de vinte empre­sários da província de Benguela começaram a beneficiar desde 27 de Outubro Que metas se pretende atingir premiando empreendedores de um micro-crédito de campanha agrícola, financiado que aderem ao microcrédito, quando é comum estes encara­ pelo Banco de Comércio e Indústria (BCI), visando rem o banco como uma espécie de “cobrador” da dívida que a auto-suficiência alimentar e o desenvolvimento da contraem? região. Penso que há um aspecto impor­tante na relação entre o banco e o seu cliente, que é a relação de con­tinuidade. O Segundo o presidente do Con­selho de Administração, interesse do banco não é apenas o de dar o dinheiro e o Filomeno Seitas, que falava num encontro com empre- de receber os reembolsos devidos nos prazos acordados, sários da província de Benguela, este crédito de campa­ mas é o de acompanhar os projectos que fi­nancia Por ser nha vai até 500 mil dólares, com juros a partir de 15 uma relação contí­nua, o banco deve estar atento e prepa- porcento, em 12 meses, avançou o jornal Sol. rado para ajudar a superar eventuais dificuldades que o Referiu que este produto é um investimento do em­preendedor possa enfrentar. Se lhe falharem algumas Executivo angolano através do Banco de Desenvolvi­ competên­cias, o banco tem interesse em dis­ponibilizar mento de Angola. alguém que possa tec­nicamente dar conselhos para o negócio prosperar. Portanto, não é uma relação fria E Filomeno Seitas avançou que o projecto já beneficia 70 verdade que, se o banco precisa legitimamente de porcento de clientes no país, com créditos no valor de ganhar dinheiro, deve igualmente salvaguardar os aspec- seis milhões de dólares, sendo dois mil e quinhentos tos que apontei, visando sempre permitir ao empreende- cam­poneses, agrupados em 143 peque­nas associações dor realizar o seu sonho. agrícolas.

Que resultados de médio e lon­go prazo do programa Deu a conhecer que o Banco de Comércio e Indústria de 00­crocrédito do Millennium se podem augurar para pretende, até Dezembro do próximo ano, au­mentar o Angola? Para além de possibilitar que as pessoas desen- valor do crédito de seis­centos milhões para mil milhões volvam os seus ta­lentos, Angola já demonstrou ter uma de dólares. enorme capacidade em­preendedora. Basta ver como se desenvolve nas ruas a actividade comercial. Há uma Filomeno Seitas frisou ainda que BCI pretende aumen- capacidade muito forte neste País que deve ser bem apro- tar mais quatro agências na província de Benguela, veitada e canalizada, por isso penso que o microcrédito para proporcionar mais oportunidade de negócios aos pode fazer muito melhor do que aquilo que já alcançou. cidadãos.­ As regiões interiores do País não têm, muitas vezes, as Fundado em 1991, o Banco de Co­mércio e Indústria vantagens da capital e da zona costeira, porque o acesso possui 48 agências 15 postos de atendimento e está pre- à inovação e às novas tecnologias é mais lento. Ora, é sente em 15 províncias do país. Pretende abrir agências muito impor­tante que os bancos façam a dife­rença pro- nas provín­cias do Kuando Kubango e do Uíge. movendo micro, peque­nas e médias empresas. Desta for­ma, cresce a economia no interior, e esta puxa ainda mais o cresci­mento da economia do País. Aliás, parte 2.5 Cuidado com o credito malparado do contributo deste cresci­mento provém já do interior, Novo jornal e es­tou curioso em visitar essas zonas. São avanços que 04 de Novembro de 2011 tornarão Angola mais ágil, mais moderna e muito mais forte, consolidando-se como potência regional. O sector bancário angolano re­gistou um crescimento significati­vo do crédito malparado, cifrando-se actu- almente em 5% do total da car­teira de crédito, o que merece por parte das principais instituições fi­nanceiras algum nível de preocupa­ção alertou, em Luanda, o presiden­te da KPMG/ Angola.

“O crédito vencido ou o crédito mal­parado, ou ainda as situações de in­cumprimento perante o banco têm Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 12 um crescimento bastante significati­vo, atingindo já rácios que começam a ter algum nível de preocupação Este crescimento de balcões foi tam­bém acompanhado re­presentando 5% do total da carteira de crédito – o pelo aumento do número de colaboradores, cerca de que já é um nível bas­tante significativo, que merece 18% do crescimento do pessoal ban­cário, o que corres- se­guramente por parte das principais instituições finan- ponde a uma cria­ção de empregos muito significativa ceiras um nível de preocupação, suportado no cresci­ de 1700 novos postos de trabalho no sector financeiro mento de 111% face a 2009”, salien­tou o homem forte em 2010, que no fi­nal desse ano empregou 11.300 da KPMG/ Ango­la, José Luís Silva. pessoas.­

O responsável da KPMG falava nesta terça-feira, 01, Relativamente à evolução do siste­ma de pagamentos, durante uma confe­rência que serviu para apresentar o manteve-se a tendência de crescimento continua­do estudo sobre o desempenho do sec­tor financeiro em do volume médio mensal de transacções na rede Angola entre 2009 e 2010, que abrangeu 14 das 23 ins­ Multicaixa, passan­do de 3,6 milhões de 2009 para 5,5 tituições financeiras e bancárias existentes no país. milhões (média mensal) durante 2010, indica o estudo.

Segundo José Silva, os efeitos da conjuntura menos inte- Este crescimento foi suportado por um forte investi- ressante (cri­se económica e financeira) vivida em 2008 e mento no parque de ATM e TPA, com um crescimento 2009, provocaram algu­ma desaceleração do crescimento de 26% e 60%, respectivamente, sen­do que esta evolu- do sector financeiro, trazendo outra re­alidade para o ção implicou uma média mensal de disponibilização de sector bancário ango­lano que incidiu num forte cresci­ ATM de 21jmês e de TPA de 379/ mês. mento do crédito vencido. “Tudo isto são sinais de rápida dis­seminação dos ser- “Obviamente que este rácio varia de banco para banco, viços financeiros em Angola, actuando como supor­te mas em média al­guém que apresenta já um indica­dor de fundamental do desenvolvimento económico”, referiu. crédito vencido sobre o total de cinco por cento, começa a ser de alguma preocupação e seguramente merecerão O crescimento de activos represen­tou 21% em 2010. do sector financeiro um particular cuidado”, frisou. O responsável da KPMG considera que são “números notáveis para a economia nacional”, especialmente para O estudo, que cobriu 92% do to­tal dos activos do o sector finan­ceiro, juntamente com o crescimen­to do sector financeiro em Angola, tem como base informa­ crédito – que rondou os 18%. Em 2009 essa meta sofreu ções fornecidas pelo BNA e bancos operadores, a certa de­saceleração, mas aquilo que os ban­cos investi- Empresa Interbancá­ria de Serviços (Emis), Ministério ram dos fundos que cap­taram, especificamente o crédito da Economia, Banco Mundial, FMI e a Associação de denotou um crescimento de 18%, num ritmo de cedên- Bancos de Ango­la (Abane). cia que atingiu 1,5 triliões de kwanzas. Relativamente à taxa de bancarização cresceu, em 2010, cerca de 11% “A performance do sector financei­ro foi, em 2010, mas continua, na visão da KPMG, a ser ainda bastante enquadrada por uma retoma do crescimento econó- baixa. mico”, sublinhou José Luís Silva, para quem esse cres- cimento teve como suporte “uma evolução favorável do “Esse crescimento tem sido notá­vel, mas comparado preço do petróleo, permitindo que a econo­mia crescesse com vários paí­ses da África Austral e outros países em ligeiramente mais ace­lerada comparativamente a 2009”. vias de desenvolvimento resulta numa taxa bastante No entender da KPMG, a economia angolana conti- baixa”, afirmou José Silva. nua a depender do petróleo, mas esse peso relativo tem vindo ano após ano a reduzir a sua predominância, com a diversifica­ção. 2.6 Sector bancário cresce acima da No entanto, assinalou que esta di­versificação não afasta economia em 2010 o cresci­mento do sector bancário, que pesa alguma coisa Jornal expansão na estrutura do PIB an­golano. 04 de Novembro de 2011

“O Sector bancário voltou, em 2010, a ser um sector Apesar da permeabilidade da di­nâmica dos agregados bastante dinâmico, com crescimento forte, suportado macroe­conómicos, em 2010, o sector bancário angolano no investimento significativo da re­de de balcões que continuou a apresentar um acentuado cresci­mento da cresceu para 830 unidades, correspondente a abertura sua actividade, inclusi­ve, acima da própria economia. média de 12,5 novas agências por mês”, referiu. Revela o estudo “Análise ao Sec­tor Bancário Angolano” da con­sultora KPMG, publicado terça­-feira última. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 13

mas ainda aquém dos valores observados noutros paí­ses. De acordo com a KPMG, o sec­tor cresceu tanto em Conforme avança o relatório, o crédito vencido, em termos de dimensão, através de um aumen­to de cerca percenta­gem total, cresceu em 79,6%, si­tuando-se o seu de 21 % dos activos, 18% em número de colaborado­res rácio sobre o cré­dito total nos 5,1%. No entanto, a trans- e 22% em número de balcões abertos, tanto em rentabi- formação de recursos de clientes em crédito continuou lidade, com o crescimento de 24% ao ní­vel do produto a evoluir, fixando-se nos 53,6%. Embora ainda abaixo bancário e de 24% do resultado líquido. dos 100%, esta evolução traduz-se num 5,5 milhões Transacções médias mensais registadas na rede multi- Devido à indisponibilidade das demonstrações finan- caixa, em 2010 maior aproveitamento dos re­cursos cap- ceiras de algumas das instituições, alegam os autores tados, dirigindo-os para soluções de financiamento. do estudo, apenas foi considerada uma amostra de 14 instituições bancárias, das 23 que operam no País. Não Quanto à evolução do produto bancário, registou-se um obstan­te isto, a consultora considera a amostra represen- cresci­mento de 24,2%, explicado so­bretudo pelo forte tativa, na me­dida em que caracteriza, “de for­ma fiel”, incremento da margem financeira, que cres­ceu53,2%. o sector bancário em Angola, sendo que se traduz em cerca de 92% do total de activos consolidados da banca Desafios do sector bancário em Angola nacional. Segundo a KPMG, o contínuo desenvolvimento do sistema fi­nanceiro angolano, traduzido no aparecimento Apesar de cerca de 80% do mercado estar concentrado de novas institui­ções (nacionais e estrangeiras) a operar em cerca de 20% dos bancos, avança o estudo, tem no mercado, a contínua tendência de “bancarização” da vindo a observar­-se alterações de quota de merca­do, população, bem como a diversifi­cação e o alargamento nomeadamente nas rubricas de activo, crédito e depó- da oferta de produtos e serviços bancários, traduzem-se sitos, es­tando os considerados cinco maiores bancos a em novos e cres­centes desafios para o sector bancário. perder quota relativa face aos restantes, repre­sentando uma intensificação do ambiente concorrencial. Para tal, sugere, torna-se fun­damental a existência de uma es­tratégia concertada e adequada que permita a No que à evolução do sistema de pagamentos diz respeito, endereçar os impor­tantes desafios que se avizinham, se­gundo a análise do sector bancá­rio nacional feita pela tanto numa perspectiva estratégica de negócio quanto KPMG, manteve-se a tendência de cres­cimento conti- de regulamentação e introdução de boas práticas nuado no volume médio mensal de transacções na rede internacionais. multicaixa, passando de 3,6 milhões, em 2009, para 5,5 mi­lhões de transacções (média mensal), durante 2010. 2.7 Camponeses associados recebem Este crescimento das transac­ções, sustenta, foi supor- microcredito no negage tado por um forte investimento no cresci­mento do Jornal o pais parque de ATM e TPA, com um crescimento de 26% 04 de Novembro de 2011 e 60%, respectivamente, sendo que esta evolução impli- cou uma média mensal de colocação ou a disponibiliza- Uíge – Cento e 19 camponeses de oito associações do ção de ATM de 1/mês e de TPA de 379/mês. mu­nicípio de Negage beneficiaram na Sexta-feira, 28 Já a captação de recursos, manteve uma tendência de de Outubro, na referida localidade, de micro crédito do crescimento de 13,9%, ritmo inferior ao registado no Banco Sol, no qua­dro do programa nacional de crédito ano anterior. de campanha agrícola 2011/2012, noticiou a Angop.

Quanto à composição dos de­pósitos, o estudo indica Na cerimónia de entrega de ma­teriais agrícolas e outros uma re­dução do peso dos depósitos à or­dem, em contra- bens aos associados, o responsável local do Instituto de posição aos depósitos­ a prazo, que reforçaram o seu peso Desenvolvimento Agrário, Pedro Alberto Pinto, disse no total de depósitos de clientes, face ao ano anterior. que o valor global do micro crédi­to é de oito milhões 895 mil e 850 kwanzas. O valor em referência, disse, Concessão de crédito foi empregue já na aquisição de fertilizantes, sementes Em 2010, o crédito concedido no universo dos bancos diversas, moto serras, moto bombas, pulverizadores, em análise cresceu na ordem dos 17,8%, re­gistando regadores, machados, limas, amendoim, feijão, botas de também uma taxa de crescimento inferior à registada borracha, capas de chuva, bem como um vasto campo no ano anterior. A expressão que o sector bancário tem mecanizado de seis hectares de terra. na econo­mia (crédito concedido/PIE) é de 19,8%, valor semelhante a ou­tras economias “baseadas” no petróleo, O responsável informou que ou­tras famílias de quatro Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 14 associações da aldeia Cabala beneficiaram de instru- muitas ruas em sentidos diferentes – na perpen­dicular, mentos de trabalho no valor de dois milhões 30 mil e na diagonal e até na oblíqua, dependendo apenas dos 250 Kwanzas e quatro outras da povoação de Cangundo olhares – en­gordando o que no passado era um re­sidual receberam materiais agrícolas e outros bens avalia­dos ponto de venda com bancadas de gente que detestava, se em seis milhões 805 mil e 400 kwanzas. calhar, a imensidão turbulenta do Roque. É assim que um tal de “Mercado do Mota” hoje se apre- Pedro Alberto Pinto informou ainda que no ano tran- senta quase comoo sucessor ilegítimo do Roque Santeiro, sacto, 34 camponeses associados das aldeias de Cangulo não tendo, contudo, nem pu­jança nem glória para rivali- e Quisseque, município de Negage, beneficiaram de zar com o mítico lugar que por décadas (qua­se) ditou o micro crédito do Banco de Comércio e Indústria, ava- ritmo do melhor e pior da economia doméstica. liado em oito milhões na aquisição de materiais agríco­ Rostos conhecidos e novatos de úl­tima hora juntam -se las e outros bens, assim como uma área de mais de na balbúrdia do espaço alternativo, na busca inces­sante cinco hectares de terra preparada para desenvolve­rem a da fortuna como se fazia no ve­lho mercado desmante- agricultura. lado, gaban­do se da sua condição de herdeiros felizes de uma experiência mercantil que historiadores e sociólo- Ernesto Jorge, responsável das associações de campone- gos leva­rão tempo a fixar nos cânones, de tão singular. ses da al­deia Cabala e também beneficiá­rio do micro- Nós, com esta “viagem”, tentámos fazer o que se calhar -crédito de campanha agrícola, mostrou-se satisfeito nos competia, repisando aqueles destro­ços sentimen- com o processo e salientou que o micro crédito vai ajudar tais, mais do que uma antiga mina produtora de riqueza na melhoria das condições de vida dos camponeses. avulsa.

O administrador municipal ad­junto do Negage, Jonas João, agra­deceu, no acto da entrega simbóli­ca, a boa 2.9 Sem atrapalhar lucro dos bancos vontade do Banco Sol por viabilizar o processo de Jornal a capital desenvol­vimento agrícola e pediu aos bene­ficiários que 05 de Novembro de 2011 cumpram com o prazo estabelecido para o reembolso. Estes dados foram divulga­dos esta semana em Luanda num estudo apresentado pela consultora internacio­nal 2.8 Mercado do Mota KPMG, que faz constar que o número de bancos no país Jornal O PAÍS praticamente duplicou nos últimos cinco anos, tendo 04 de Novembro de 2011 surgido desde 2005 uma dúzia de novas instituições. Em 2005, existiam apenas 11 bancos em Ango­la, hoje O Roque Santeiro saiu do lugar onde sempre esteve pelas existem 23, três deles tendo emergido apenas em 2010. razões que a seu tempo foram explicadas pela edilida­de de Luanda, transferido a contra ­gosto para o distante A consultora KPMG adianta que a penetração do sistema Panguila. Hoje, depois de avaliados serenamente ga­nhos bancário ainda é muito limitada, atingindo em 2010 e perdas, há o assumir de que não terá sido, aquela, apenas 11% de uma população pre­sentemente avaliada uma solução por ai além em termos de performance de em 18 milhões de pessoas. Percentagem ligeiramen­te gestão. Não é isso, porém, o que aqui nos traz. inferior a adiantada pelo governa­dor do BNA, José de Lima Massano, que fixar a taxa de penetração em 13%. Perscrutar o Roque Santeiro como célebre defunto espa- cial (à diferença do enredo que lhe dá o nome a par­tir do E isto apesar de meio mundo reco­nhecer os esforços Brasil), significa seguir o rasto da massa vendedora, des- desen­volvidos pelas instituições financeiras angolanas, cobrir-lhes os caminhos das novas batalhas pela sobrevi- ti­dos ainda assim como insu­ficientes. Até porque a taxa vência, ou seja, procurar des­vendar o dayafter. média de penetração nos países africanos, segundo a KPMG, ronda os 20%. O poiso privilegiado dos anti­gos vendedores da gigan- tesca praça é – para lá da rota oficial que leva ao Mercado A boa notícia é que existe muito espaço para ban­ca do Panguila, uns 20 km dali, e do hiper atabalhoado crescer, sobretudo no interior do país, segundo reconhe- “Arreiou Arreiou” em plena intersecção da Cónego ceu o presiden­te da KPMG/Angola, José Luís Silva. Um Manuel das Neves com a Senado da Câmara -, um amon- potencial de crescimento que justifi­ca, segundo J. Luís toado de vias no interior do próprio Sambizanga, muito Silva, o “elevado ritmo de cresci­mento do investimento perto do centro católico Dom Bosco. Diga-se quase que em infra-estruturas, sistemas e recursos humanos, de o mercado precisou apenas de cruzar o asfalto e evitar a que é exemplo o reforço do sis­tema de pagamentos em 9ª esquadra da Polícia Nacio­nal, tomando o espaço de ATM (Terminal Multicaíxa) e de TPA (Terminal de Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 15

Pagamento­ Automático)”. Para enfrentar este problema, a auditora sustenta que Em 2010, o crescimento de ATM em Angola atingiu se “deverá refinar a concessão de crédito, acompanhar 26% (1.250 terminais), sen­do que o TPA alcançou os e monitorizar estas operações e executar processos de 60% (12.140 terminais), com a entra­da em funciona- recuperação de crédito em in­cumprimento eficazes. A mento de 150 bancos comerciais, o que acrescidos dos retoma do crescimento fará diminuir o rácio alcançado 680 balcões de 2009, totaliza 830 no ano passado. no ano transato”.

O presidente da KPMG/Angola adian­tou que continua A banca, sector infra-estruturante da economia, apre- a registar-se uma ten­dência de crescimento continuado senta condições para consolidar o cres­cimento em “pra- no volume médio mensal de transacções na rede multi- ticamente todas as rubricas de análise, activos, crédito, caixa, que passaram de 3,6 milhões em 2009, para uma depósitos e resultados”. média mensal de 5,5 milhões de transacções em 2010. Para atestar os resultados líquidos da banca angolana no O relatório partiu das informa­ções disponibilizadas por último ano, basta referir os 24% acrescidos, segundo os 14 dos 23 bancos a operar no país, cinco dos quais repre- números da KPMG. sentam cerca de 80% do mercado. Em termos de activos totais, os maiores são o Banco Africano de Investimentos Também como noutros sectores, constata-se que mais (Bai), o Banco Espírito Santo An­gola (Besa), o Banco de metade dos balcões está concentrado na capital do de Poupança e Crédito (Bpc), o Banco Bic e o Privado país, abrindo muitas oportunidades de expansão nas Atlântico (Bpa). províncias. A progressiva ‘bancarização’ das instituições analisadas, Mas é preciso dizer que relativa ­mente à eficiência, a com a expansão da sua actividade mer­cê da abertura de KPMG faz uma avaliação global do cost-to­-income novos balcões, distribuídos pelas 18 províncias, e o facto negativa, com um aumento de 10% entre 2009 e 2010, de apenas 11% da popu­lação estar ‘bancarizada’, repre­ totalizando os 49,7%­Trocando em miúdos, a ban­ca senta, para os auditores, um sinal de que o “potencial de continua a lucrar bem, mas proporcionalmente aos anos cresci­mento do sector é brutal”, po­dendo mesmo vir a anteriormente considerados,­ menos, devido ao aumento duplicar a curto prazo. dos custos opera­cionais com a abertura de novos balcões Os desafios que se colocam ao sector bancário assentam e recrutamen­to de maior número de em­pregados – mais na ne­cessidade de uma “estratégia concertada e ade- de onze mil, segundo a consultora. quada”, tendo em vista dois pontos: a perspecti­va estra- Para gáudio da banca an­golana em Angola, apesar de tégica de negócio e a re­gulamentação e introdução de tudo e contra as marés de outras latitudes, a chamada boas práticas internacionais. Rentabilidade dos Capitais Próprios, ainda alcançou os A economia permanece ainda bastante vulnerável à crise 30,3% em 2010. e à de­saceleração económica externa, na medida em que o Produto Interno Bruto permanece muito depen­ Agora, do outro lado da mo­eda, isto é, para as famí- dente das receitas petrolíferas, não obstante o esforço de lias, os particulares, as empresas – talvez não exista uma diversi­ficação sectorial que tem sido le­vado a cabo pelo ima­gem tão “luminosa” sobre o custo do dinheiro e a Executivo. (in) efi­ciência e acesso aos serviços bancários. O crescimento que, em 2012, se prevê que seja de 12%, contra os 3,7% previstos pelo Fundo Monetário 2.10 Crédito malparado duplicou Internacional para 2011,oferece as condições para o Jornal AGORA consequente crescimento e de­senvolvimento da banca 05 de Novembro de 2011 comercial.­

Os dados estão contidos num estudo da consulto­ra Kpmg, apresentado em Luanda, destacando ainda a re­toma do crescimento económico. Na análise, salienta-se que o rácio do empréstimo por pagar sobre o crédito total aumentou em 2010 para 5,1%, comparativa­mente aos 2,83% registados em 2009. “O crédito vencido (fora do prazo de pagamento) atingiu, em 2010, níveis de alguma preocupa­ção e que exigem especial cuida­do do sector bancário”, defendeu José Luís Silva, representante da Kpmg em Angola. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 16

2.11 Fiscais gatunos 2.12 Programa do Executivo impulsiona Semanário AGORA comércio rural 05 de Novembro de 2011 Jornal de Angola 06 de Novembro de 2011 Este triste e folclórico es­pectáculo público de os fi­cais do governo de Luanda abocanharem -se dos produtos dos O escoamento dos produtos agrícolas do campo para vendedores de rua já ganhou calos nas mãos e não há os mer­cados vai, brevemente, ser pro­cessado com mais forma de se lhe pôr um ponto final. rapidez e em quantidade com a execução do Programa de Promoção de Co­mercio Rural (PPCR) que visa conce- Quando se fala em fiscais ou fiscalização é no pressu- der crédito aos comercian­tes, disse ao Jornal de Angola, posto de que eles, além de fiscalizarem, aplicariam as o vice-governador da. Huíla para área Económica. respectivas mul­tas com os respectivos compro­vativos para se pagar. Sérgio da Cunha Velho acredita no êxito do programa criado pelo Executivo­ e nos resultados positi­vos a serem Com os vendedores ambulan­tes ou chamados de rua alcançados pelos pe­quenos e grandes agricultores as­sim sucede, apenas, que lhes são açambarcadas tudo o que como pelos antigos e novos co­merciantes. Os produto- vendem, fi­cando simplesmente a verem navios. Os res das vá­rias zonas agro-pecuárias da pro­víncia passam produtos atiram-se para os jipes da fiscalização, origi- com a execução des­te programa “a se ocupar exclusi­ nando, sobretudo da parte das senhoras, uma correria vamente da lavoura”. de­senfreada para alcançar as via­turas, na esperança de saberem para onde são levadas as ‘imbulas. Até ao momento, afirma o vice-­governador, os agriculto- Na ordem das prioridades os fiscais, na verdade, deviam res exercem as tarefas ligadas a produção e a de comercian- in­vertê-las. Vender umas ‘bunjingangas na via pública, tes dos alimen­tos, facto que tem criado cons­trangimentos como pastas, cuecas ou vernizes em nada periga a saúde a vida dos homens do campo. “A vida de comercian­te das pes­soas. Isto já desperta o ‘ apetite’ dos fiscais que implica procurar bons merca­dos, dominá-lo, fazer boas fecham os olhos à venda de ‘santes’ de vários ti­pos parce­rias e empenhar-se à venda dos alimentos. Há gente (galinha, mortandela ou até a atum) em bacias plásti- que não tem muita paciência para isso”. cas misturadas com as areias espa­lhadas pelas viaturas circulantes.­ Garantiu que o cultivo de ali­mentos e o seu escoamento, Isso, sim, é um verdadeiro atentado à saúde pública! vão ser impulsionados, com o Programa de Promoção de Nos últimos tempos, menos actuantes já vão sendo os Comercio Rural por conceder financiamentos aos anti­ fiscais em relação às ‘ kinguilas’, se­nhoras de pernas ao gos e novos comerciantes para ad­quirir a produção do léu que li­teralmente inundam Luanda do negócios das campo e colo­cá-los nos mercados de vários pon­tos da notas verdes. Nes­te caso particular já nos vimos fartando província, quiçá do país. de sugerir ao governo de Luanda a introdução de uma taxa para os vendedores de dó­lares nem que fosse para Sérgio da Cunha Velho que se reuniu com os repre- criar neles o sentido daquele mínimo de ligação com a sentantes dos bancos comerciais operadores do fundo, legalidade dos mais insignificantes negócios de rua. nomeadamente BPC, Ban­co Sol, BAI e BCI, explicou É populismo e demagogia mais argumentar-se que as que o propósito do programa é de extrair o excedente ‘Kinguilas’ são umas pobrezinhas que nem sequer uma agro-pecuário dos camponeses, agricultores, criado­res taxa de 10 mil kwanzas anuais podem su­portar, devendo de animais e outros. pagar um valor muito inferior os ardinas e ou­tros ven- Segundo o governante, os estu­dos preliminares sobre dedores, igualmente devidamente identificados com os operado­res feitos em vários pontos da pro­víncia da próprio passe. Huíla determinaram 230 comerciantes na área grossista e re­talhista, respectivamente, a serem envolvidos neste processo.

Alguns comerciantes com acti­vidade interrompida por falência, vão reanimar os seus negócios e re­cuperar as infra-estruturas. O novo programa do Executivo, subli- nha, implica dos produtores e comer­ciantes maior dina- mismo e em­penho. Urge aumentar, diversifi­car as cultu- ras e apostar na quali­dade do remanescente destinados a venda. Os grossistas e retalhis­tas devem ter em conta as exigên­cias dos mercados. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 17

Argumentou que a reactivação dos centros de consumo anima os agriculto­res com parcelas de terras lavradas e agro-in­dustriais capacitados para absor­ver e transfor- em vários pontos da província da Huíla, por solucionar mar os produtos horto-frutícolas, são prementes para a o dilema do escoamento dos produtos regista­do prin- capitalização dos camponeses e agricultores, fomento cipalmente na época das safras. Francisco Domingues do cultivo em quantidade e qualidade e repo­voamento ex­plora as terras férteis ao longo do perímetro irrigado animal. da Matala, on­de cultiva enormes quantidades de batata rena e hortaliças. O vice-governador para área Eco­nómica, fez saber que os municípios do norte constituem o celeiro da pro- Explicou que os produtores já es­tão preocupados com o víncia, por estar em reactiva­ção as zonas antigamente escoamen­to da batata, tomate e repolho que está neste conside­radas como triângulo do milho, no­tadamente momento a ser colhida nas zonas produtivas do município. em Caluquembe, Chicomba e Caconda e, haver tam­bém O agricultor considerado como um dos maiores produ- produção considerável di­versificada na Humpata, tores do tu­bérculo da localidade em referên­cia, revelou Quipungo; Cuvango e Matala. que está prevista a co­lheita de sete mil toneladas de bata­ta rena produzidas em 456 hectares irrigados regularmente Bancos já têm recursos pelo canal de irrigação da barragem da Matala. Estas Os bancos comerciais operado­res do Programa de quantidades, disse Do­mingues, leva a cada produtor a Promoção de Comercio Rural, já têm disponí­veis os procurar mercado para escoar os alimentos do campo, recursos financeiros para o inicio da actividade com os facto que as vezes se toma difícil devido a con­corrência gros­sistas e retalhistas da província da Huíla, estando o com o produto importa­do. A dificuldade de escoamento valor para o crédito quantificado em dois milhões e 400 faz com que a batata e outros se de­teriore, significando mil dólares. perdas avulta­das aos agricultores. A coordenadora provincial de Micro-Finanças do BPC na Huíla, Prudência Agustina disse, terça-feira, que já Defende que a salvação está no Programa de Promoção estão disponíveis para cobrir as despesas, nesta primeira do Comer­cio Rural concebido para financiar os comer- fase, um milhão de dólares.. ciantes que vão adquirir o excedente e encaminhar aos Os comerciantes com o expedien­te organizado podem mer­cados de vários pontos do país com o fim de comer- recorrer ao banco para inicio da avaliação das propostas. cializar. A iniciativa do Executivo vem em boa altura pela A medida que aumentar a aderência e os comerciantes razão -da produção agro-pe­cuária aumentar a cada ano. exerce­rem a actividade com responsabili­dade para o Feliciano Miguel, um produtor com enormes espaços sucesso do programa, o Banco de Poupança e Crédito com planta­ções de tomate nas proximidades do rio vai disponibilizar mais recursos, Pru­dência Agustina Giraúl, na província do Namibe, considera oportuno a garantiu que as ta­xas a serem aplicadas por cada aquisi­ção de veículos com sistemas de frio para trans- fi­nanciamento são bonificadas e os prazos negociados. portar em condições adequadas a batata e hortaliças. “E O Banco Sol e o Banco Africano de Investimentos têm preciso financiar a compra de ca­miões com câmaras fri- disponível um milhão de dólares e 400 mil dó­lares, res- gorificas pa­ra evitar que sejam expostos ao sol ou calor pectivamente. Os especia­listas destas instituições estão os produtos do campo com pouca resistência”, afirmou mo­bilizados para prestar assistência técnica aos empresá- Feli­ciano Miguel, tendo exortado aos comerciantes rios organiza­dos para o recurso ao crédito im­pulsionador maior dinamismo, empenho e necessidade de traba­lhar do comércio rural. Por sua vez, o director provincial do com gosto e destreza. Comércio na Huíla, Fernando Calolas, informou que já se averiguou o estado actual das infra-estruturas dos Miguel, esperançado com o de­senvolvimento agro-pecu- estabelecimentos comerciais das zonas rurais da provín- ário, afirmou que materialização do progra­ma, desafoga cia e, apurou que apesar das melhorias necessárias em um pouco as activi­dades dos agricultores e separa as alguns imóveis, há condições de funcionamento. tarefas de lavoura e de comercian­te. Vamos agora prestar De acordo com o director, três equipas técnicas foram mais aten­ção ao processo produtivo e diver­sificação das constituí­das para prestar acessória aos co­merciantes dos culturas. municípios. Os técnicos vão estar disponíveis para a cor- recção de certas práticas pre­judiciais a actividade comer- Q produtor apelou as unidades hospitalares, instituições cial, identificar problemas e superá-los, entre outras com re­feitórios como clubes desporti­vos, lares de estu- questões. dantes, centros infantis, forças da defesa e segu­rança, fabricas e outros, a aliar-se ao programa para dar maior Agricultores mais animados dinâ­mica a a8sorção da produção na­cional destinada ao O crédito a ser disponibilizado aos comerciantes através consumo. do Pro­grama de Promoção do Comercio Rural (PPCR), Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 18

O Executivo, sublinhou Felicia­no Miguel, criou um o processo de concessão de crédito está a ser condu- projecto que vai valorizar cada vez mais os pro­dutos zido em quatro balcões, lo­calizados nos municípios de nacionais, encoraja a todos os produtores a prosseguir, Xá-Muteba, Lucapa, Cambulo e o bal­cão do Chitato, motiva o aumento das áreas de cultivo, um facto que que tem a missão de gerir todo o sistema. exige a participação e en­trega de todos os cidadãos com Mas, além das referidas agên­cias, o gestor disse que o vi­são de fortalecimento e desenvol­vimento produtivo. banco criou uma outra, na localidade do Cacolo, na província da Lunda-Sul, para atender os camponeses dos municípios do Lubalo, Cuílo e Caungula, tendo em 2.13 Milhares de camponeses na Lunda- conta o fac­tor proximidade. Norte beneficiam em breve de crédito agrícola Vitorio Lopes Ngugi afirmou que todos os documentos Jornal de Angola remeti­dos ao banco foram viabilizados e, neste momento, 09 de Novembro de 2011-12-16 estão a ser notifi­cados os requerentes para que ini­ciem o processo de criação de con­tas bancárias, aguardando-se, O governador provincial da Lunda-Norte, Ernesto tam­bém, pela assinatura de contratos com os potenciais Muangala, revelou, no Dundo, que cerca de 14.000 fornecedores de inputs agrícolas. camponeses da província vão beneficiar, brevemente, de Destacou os municípios do Xá-Muteba, Cuango e crédito agrícola de campanha, com vista a aumentarem Capenda Camulemba como sendo os que estão mais os ní­veis de produtividade e melhorar a qualidade de avançados em termos de regularização dos processos dos vida nas comuni­dades rurais. camponeses associados, junto do Banco.

O governador Ernesto Muangala referiu que o Falta de documentação Programa Munici­pal Integrado de Desenvolvimento Sobre os motivos do atraso na concessão de crédito, o Rural e Combate à Pobreza neste momento encontra-se responsá­vel esclareceu que a morosidade deveu-se a na secreta­ria do Banco de Poupança e Crédi­to (BPC), uma série de lacunas re­gistadas nalguns documentos aguardando-se pela ho­mologação de um total de 96 pro­ re­metidos ao BPC, com particular realce para o plano jectos de camponeses locais. de necessidades dos associados, que é acompanha­do da factura assinada pelo empre­sário que garante o forneci- O responsável mostrou-se preo­cupado com a fraca mento de materiais agrícolas. adesão dos cam­poneses locais ao Crédito Agrícola de O Crédito Agrícola de Campanha, esclareceu Vitorio Campanha, tendo defendido a necessidade dos mesmos Lopes, consiste em dois pacotes. O primeiro visa aprovei­tarem a iniciativa do Executivo, que tem como fi­nanciar acções de exploração du­rante uma época finalidade ajudar os cidadãos a participar no processo de agrícola, enquanto o outro tem a ver com os custos da desenvolvimento económico e social da região. aquisição de instrumentos agríco­las e sementes para as Ernesto Muangal salientou que o referido crédito vai culturas prio­ritárias, de acordo com a realidade de cada permitir o de­senvolvimento das comunidades rurais, região. assim como o relançamento da produção agrícola, no âmbito do Programa de Combate à Fome e Redução da O gerente do BPC revelou que o valor máximo a conce- Pobreza. der equiva­le a 5.000 dólares, convertidos em kwanzas, por beneficiário, com uma taxa de juro estimada em “Agora mais do que nunca, os nossos camponeses têm a cin­co por cento. O empréstimo, afir­mou, deve ser reem- oportuni­dade de poderem incrementar os seus níveis de bolsado num período de dez meses. produção e, por isso, devem aderir a este pacote finan­ ceiro”, apelou o governador Ernes­to Muangala, que O responsável bancário disse que objectivo do emprés- anunciou que o lançamento oficial da entrega do crédito timo, con­substanciado na aquisição de equi­pamentos acontece, no município de Xá-Muteba, nesta semana. fixos, como máquinas; motobombas, catanas, enxadas O governador Ernesto Muangala pediu também aos e outros equipamentos destinados ao apoio dos campo- administradores municipais para Imprimirem maior neses organi­zados eI11 cooperativas e associa­ções, visa dinamismo a nível dos comités de pilotagem, com incentivar o aumento do rendimento familiar. vista a permitir que mais camponeses beneficiem de fi­nanciamento, a partir da próxima campanha agrícola. Vitorio Lopes afirmou que o cré­dito tem ainda a missão O gerente do BPC no Dundo as­segurou que a instituição de melho­rar a qualidade de vida das comuni­dades tem todas as condições criadas para que os camponeses rurais, no quadro dos progra­mas locais de combate à beneficiem do finan­ciamento, a partir desta semana. fome e re­dução da pobreza. Vitorio Lopes Ngugi disse que a nível da Lunda-Norte, Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 19

Celeridade na atribuição O crédito Amigo do Sol foi esta­belecido no quadro de O presidente da União Nacional dos Camponeses de uma parce­ria estratégica entre o banco e o Mi­nistério Angola (UNA­CA), na Lunda-Norte, solicitou maior da Administração Pública, Emprego e Segurança Social. celeridade na atribuição do. Crédito Agrícola de Campanha, com vista a facilitar a actividade dos cam- O presidente da Comissão Executiva do Banco Sol poneses locais. informou que a instituição está apostado no re­forço Daniel Mutambuleno disse que, em função da moro- da concessão crédito interno ao consumo, para o ramo sidade que se regista na disponibilização do finan­ automó­vel, de investimento e apoio à mi­cro, pequena e ciamento, os camponeses locais continuam a clamar por média empresa. apoios, mormente para a aquisição de ins­trumentos de produção, sementes e fertilizantes. O presidente da UNACA alertou que a morosidade na 2.15 Bancarização em Angola é “gota de atribuição do crédito tem concorrido negativa­mente no água no oceano” incremento da produção agrícola a nível de toda a pro- Jornal semanario o continente víncia da Lunda-Norte e pode comprome­ter, sobretudo, 11 de Novembro de 2011 a presente campanha, naquela parcela do país, onde são cultivados essencialmente a man­dioca, milho, feijão, O processo de bancarização no país abrangeu, em 2010, horto-frutícolas, batata-doce e amendoim. apenas 11 porcen­to da população total (estimada em 18 milhões), não obstante os investimen­tos das instituições Neste momento, estão a ser pro­movidos encontros entre financeiras na ex­pansão da actividade, com a abertura as admi­nistrações municipais, os técnicos da direcção constante de novas agências pelas 18 províncias. provincial da Agricul­tura e Desenvolvimento Rural e responsáveis de associações e cooperativas agrícolas, Essa realidade foi constatada pela KPMG, na sequência com a fi­nalidade de se acelerar o processo de apresenta- do estudo real­izado sobre o desempenho do sector ban- ção da documentação necessária e o “acompanhamento cário em 2010, divulgado recente­mente, em Luanda, subsequente a ser dado para a nor­malização dos crédi- concluindo que a cifra se encontra abaixo de outros tos junto dos bancos, segundo o presidente da União países africanos ou economias emer­gentes, o que deixa Nacional dos Camponeses de Angola, na Lunda-Norte. antever o poten­cial de crescimento desse seguimento da economia.

2.14 Credito concedido é inferior ao Ao apresentar os resultados da refer­ida “Análise ao disponivel Sector Bancário em Angola”, o presidente dessa empresa Jornal de Angola de auditoria no país, José Luís Silva, sublinhou que o 11 de Novembro de 2011 sector continua a apresentar inúmeras oportunidades de crescimento e desenvolvimento, tendo como referência a O Banco Sol disponibilizou, este ano, crédito avaliado baixa taxa de penet­ração de serviços bancários. em 500 mi­lhões de dólares norte-americanos, para apoiar iniciativas de investi­mento público e privado “Para incentivar este potencial de crescimento têm-se em todo o país, informou o presidente da Co­missão mantido um el­evado ritmo de crescimento do inves­ Executiva da instituição, Coutinho Nobre Miguel. timento em infra-estruturas, sistemas e recursos humanos, de que é exemplo o reforço do sistema de Em declarações à imprensa, na quarta-feira, em pagamentos em ATM (Terminal Multicaixa) e de TPA Ndalatando, Cou­tinho Nobre Miguel anunciou que, (Terminal de Pagamento Au­tomático)”, avançou. Neste para além do crédito já concedido, o Banco Sol dispõe particu­lar, o presidente da KPMG informou que o cres- ainda de 330 milhões de dólares até ao final do mês de cimento de ATMs em 2010 rondou 26 porcento (mil Dezembro. e 250 termi­nais), enquanto o de TPA fixou-se em 60 porcento (12 mil e 140 terminais. Por seu turno, o valor dos depó­sitos obtidos até esta altura do ano nas 89 agências que possui situa-se em um milhão e 350 mil dólares, de acordo com a agência Angop. Aliado a isso, 150 novos balcões de distintos bancos Coutinho Nobre Miguel disse que, a nível dos serviços, comerciais entraram em funcionamento, resultando no o Banco Sol dispõe de vários pacotes de fi­nanciamento, au­mento de 680, em 2009, para 830 em 2010. Na mesma com realce para o Crédito Agrícola de Campanha e senda, disse que se manteve a tendência de crescimento de Investimento, para o Comércio Rural, à Mulher e continuado no volume médio mensal de transacções na Amigo do Sol. rede multicaixa, passando de 3,6 milhões em 2009 para Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 20 uma média mensal de 5,5 milhões de transacções no ano que em 2009. A banca angolana emprega hoje mais 11 seguinte. Esta evolução implicou uma média men­sal de mil funcionários, refere o estudo da KPMG. Mas não colocação/disponibilização de 21 ATMs e 379 TPAs. é só em re­cursos humanos e dimensão que a banca em Salienta-se que (actualmente a taxa de bancarização a Angola está a cres­cer. No ano passado, os lucros do I nível do país atingiu já 13 porcento ~ da população, sector subiram 24%, os acti­vos 21% e o produto bancá- segundo o governador c do Banco Nacional de Angola rio 24% face ao ano anterior. (BNA), s José de Lima Massano. Apesar das grandes oportuni­dades de crescimento e Taxas de juros para financiamento da economia são da maior concorrência, o mercado bancário angolano altas continua muito concentrado. Cinco insti­tuições contro- Quatro mil contas bancárias foram abertas nos bancos lam 80% de um mercado com mais de duas dezenas comerciais, desde que foi lançado há mais três meses de players. Em termo de activos, o Banco Africano de o “Deposito Bankita”, com valor mínimo de 100 In­vestimento, o Banco Espírito Santos de Angola, o kwanzas, no âmbito e do programa de educação finan- Banco de Poupança e Crédito, o Banco de Fomento ceira, a lançado pelo Banco Nacional de An­gola (BNA), Angola e Banco BIC são os cincos maiores. anunciou o governador r do Banco Central, José de Lima Massano. O gestor reconheceu ser difícil ter um O sector tem ainda fraca ex­pressão na economia: o sistema financeiro forte quando 87 porcento da popula- crédito concedido representa cerca de 19% do PIB, ção se encontra ainda fora do sistema bancário. Por esta um valor normal para países fortemente depen­dentes razão, disse que vão continuar a promover campanhas do petróleo, mas longe de outros estados, adianta o de sensibili­zação para que mais pessoas possam aceder do­cumento. O rácio de transforma­ção (peso de crédito aos serviços bancários. Disse estar a trabalhar com os sobre os depósitos) é apenas de 53%,6 que compara com bancos comer­ciais, no âmbito da expansão bancária em 140% existen­te em Portugal, por exemplo. Os respon- todo o país, para o surgimento da figura do correspon- sáveis da KPMG salien­tam que o Banco Nacional de dente bancário ali onde ainda não há a possibilidade de Angola (BNA) será um elemento chave para suportar o implantar um balcão, com toda Infra-estrutura neces- desen­volvimento futuro do sector as­segurando a super- sária. Reconheceu que as taxas de juros, para financia- visão do sistema e aproximando-a, cada vez mais, dos mento da economia, ainda são altas, tendo informado padrões interna­cionais. que as taxas de juros têm estado a cair, embora não com a celeri­dade requerida. José Massano escla­receu, por outro lado, que os juros para empréstimos de investi- 2.17 Crédito agrícola «sem» mentos rondam a volta de 17 porcento, enquanto para o camponeses crédito ao consumo são ainda mais altos. Semanário Angolense 12 de Novembro de 2011

2.16 Apenas 11% dos angolanos têm A fraca adesão dos camponeses da Lunda-Norte ao conta bancaria crédito agrícola de campanha levou o governador a pro- Jornal agora víncia, Ernesto Muangala, a manifestar preocupação. 12 de Novembro de 2011 Em declarações ao Jornal de Angola, recentemente, o mandatário provincial disse que o Programa Municipal Em Angola, apenas 11 % da população tem conta ban- Integrado de Desenvolvimento Rural e Combate à cária um dado que prova que a penetração dos serviços Pobreza neste momento encontra-se na secretaria do finan­ceiros no país é ain­da muito baixa mas que sina- Banco de Poupança e Crédito (BPC), aguardando-se liza gran­des oportunidades de crescimento para o sector pela homologação de um total de 96 projectos de cam- da banca, diz um estudo da KPMG apresenta­do, em poneses locais. Luanda e Lisboa O chefe do executivo local deixou expresso que os admi- nistradores municipais devem imprimir também os seus A expansão da banca em Angola não abordou, po­rém, esforços a nível dos comités de pilotagem, com vista a em 2010: a rede de ATM (multicaixa) subiu 26% para permitir que mais camponeses beneficiem de financia- 1.250 terminais, a de TPA (terminais, portáteis de paga­ mento, a partir da próxima campanha agrícola. mento) aumentou 60% para 12,1 mil terminais. Por seu lado, o gerente do BPC no Dundo assegurou que a instituição tem todas as condições cria­das para que, No ano passado, abriam ainda 150 novos balcões, ele- em breve, os camponeses beneficiem do financiamento. vando para 830 o total de dependência bancárias sendo Muangala indicou que, cerca de 14.000 camponeses da criados 1.747 novos postos de trabalho, mais 18% do província vão beneficiar desse crédito agrí­cola de campa- Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 21 nha, com vista a aumentarem os níveis de produtividade que têm menos posses, porque a sua aplicação é a partir e melhorar a qualidade de vida nas comunidades rurais. de 50.000 Kwanzas ou o mesmo valor em dólar, com ta­xas de rentabilidade entre 3 e 5% em Kwanzas e 3 a 4% em dólares. 2.18 Poupança pode ser um bom negócio O Banco BAI, de acordo com a sondagem, parece ofere- Semanário Angolense cer algu­mas vantagens em relação às ou­tras instituições 12 de Novembro de 2011 bancárias cons­tatadas. Como tal, esse banco permite rentabilizar a poupança em até um ano, enquanto os Há três anos que Marcos Paulino é cliente de um dos seus concorrentes o fazem em até 180 dias. Também se maiores bancos do mercado nacional e se diz satisfeito verifica o facto de o cliente poder interromper a progres- com as tarifas prati­cadas por aquele estabelecimento. são da poupança antes do prazo pré-estabelecido. Segundo ele, é como investir e ga­nhar. «Este banco tem-me ajudado muito, eu no hesito em investir o meu Segundo o que constatámos, Banco Internacional e dinheiro para poupar, porque sei que só saio a ganhar. Credito O meu di­nheiro multiplica, por isso aconse­lho os outros (BIC) não é «muito ligado» ao rendimento na poupança, a seguirem o mesmo exemplo, porque não se vão arre­ uma vez que tem um único modelo desse serviço para pender» afirmou o usuário. a sua cliente­la. O valor mínimo a depositar não foge à regra da maioria dos bancos. São 100 mil Kwanzas ou Em Angola. um país em fran­co crescimento cidadãos o equivalente em dólares, en­quanto as cifras de rendi- como Marcos Paulino estão a ganhar a partir de uma mento das contas, num tempo entre 30 e 180 dias, são certa competiti­vidade, particularmente entre os bancos, de 2 a 3%, em Kwanzas, e 4 a 5%, em dólares, caso que cada dia que passa. as instituições bancárias vão crian­do, mostra uma mais-valia das poupanças na moeda estran­ entre outros serviços, algu­mas facilidades de créditos de geira em questão. poupanças. É sobre o rendimento das pou­panças que este fez uma peque­na sondagem por alguns bancos da nossa Ainda no BIC, apurámos que a «conta banquita», do praça, onde verificou a concorrência que existe entre eles, programa de inclusão bancária do Banco Nacional de trazendo ao leitor um esbo­ço geral desse quadro. Angola, que já está em vigor há alguns meses, con­forme a política interna desse estabelecimento, é aceite apenas O Banco de Fomento Angola (BFA), um dos líderes nos balcões das outras provín­cias, uma vez que se julga do merca­do angolano, tem dois modelos de poupança, atingir com maior proporção as zonas rurais. sendo a primeira designada «auto rendimento», diri- gida aos depositantes de um valor mínimo de 80 mil Na capital do país, a abertura de qualquer conta con- Kwanzas, ou o equivalente em dólar, tendo como taxas tinua a de­pender do montante estipulado pelo próprio de crescimento 1.25%, em 90 dias, e 4.5%, em 180 dias. banco e não dos 100 Kwanzas, valor mínimo estabele- Sendo a poupança em dóla­res, as taxas são de 1.50%, em cido pelo BNA para abrir uma «conta banquita». 30 dias, e 3.5%, em 90 dias. Sendo o Banco de Poupança e Credito (BPC) um dos O segundo modelo de pou­pança do referido banco é desig­ líderes do mercado financeiro angolano, não gostaría- nado «super poupança», em que o valor mínimo a depo- mos de o deixar de fora dessa sondagem. Tal como no sitar é de 10 mil dólares ou o equivalente em Kwanzas. ElC, esse estabelecimento tem apenas um único modelo Em 30 dias, a taxa de rendimento é de 1.25%, já em um de poupança, mas com uma das melhores taxas de ren- ano, está estimada em 2.25%. Caso o cliente prefira abrir dimento do mercado, que é uma única, tanto para o a con­ta em Kwanzas, as tarifas de ren­tabilidade são de 5% tempo da poupança, quanto para as contas feitas em em 180 dias, e de 5.5%, em 360 dias. Kwanzas ou em dólares. A renda dos depósitos de pou- pança, em aplicações mínimas de 100 mil Kwanzas (ou No Banco Africano de Inves­timentos (BAI), a oferta que se o corresponden­te em dólar), está na ordem dos 11.5%, apresenta é quase a mesma. Existem também dois modelos num tempo que varia de 30 a 90 dias. para aplicações a prazo, sendo um o «rendimento crescente», com vo­lume de crescimento de 5 a 7%, em Kwanzas, e de O rendimento em poupança é um modelo de vanta- 4 a 5%, em dó­lar, para uma aplicação mínima de 100.000 gem que os bancos oferecem, em que o cliente aplica Kwanzas ou o corres­pondente em dólar. o dinheiro e este vai cres­cendo consoante as tarifas es­tabelecidas por cada instituição bancária. Quanto O segundo modelo de aplica­ção do mesmo banco é mais dinheiro é aplicado, mais tempo o dinheiro fica no «conta depósito a prazo», que vem faci­litar os cidadãos banco e maior será o ren­dimento que terá. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 22

2.19 Milhares de camponeses na Lunda- Mas, além das referidas agên­cias, o gestor disse que o Norte beneficiam em breve de banco criou uma outra, na localidade do Cacolo, na crédito agrícola província da Lunda-Sul, para atender os camponeses Jornal de Angola dos municípios do Lubalo, Cuílo e Caungula, tendo em 09 de Novembro de 2011-12-16 conta o fac­tor proximidade.

O governador provincial da Lunda-Norte, Ernesto Vitorio Lopes Ngugi afirmou que todos os documentos Muangala, revelou, no Dundo, que cerca de 14.000 remeti­dos ao banco foram viabilizados e, neste momento, camponeses da província vão beneficiar, brevemente, de estão a ser notifi­cados os requerentes para que ini­ciem o crédito agrícola de campanha, com vista a aumentarem processo de criação de con­tas bancárias, aguardando-se, os ní­veis de produtividade e melhorar a qualidade de tam­bém, pela assinatura de contratos com os potenciais vida nas comuni­dades rurais. fornecedores de inputs agrícolas.

O governador Ernesto Muangala referiu que o Destacou os municípios do Xá-Muteba, Cuango e Programa Munici­pal Integrado de Desenvolvimento Capenda Camulemba como sendo os que estão mais Rural e Combate à Pobreza neste momento encontra-se avançados em termos de regularização dos processos dos na secreta­ria do Banco de Poupança e Crédi­to (BPC), camponeses associados, junto do Banco. aguardando-se pela ho­mologação de um total de 96 pro­ jectos de camponeses locais. Falta de documentação Sobre os motivos do atraso na concessão de crédito, o O responsável mostrou-se preo­cupado com a fraca responsá­vel esclareceu que a morosidade deveu-se a adesão dos cam­poneses locais ao Crédito Agrícola de uma série de lacunas re­gistadas nalguns documentos Campanha, tendo defendido a necessidade dos mesmos re­metidos ao BPC, com particular realce para o plano aprovei­tarem a iniciativa do Executivo, que tem como de necessidades dos associados, que é acompanha­do da finalidade ajudar os cidadãos a participar no processo de factura assinada pelo empre­sário que garante o forneci- desenvolvimento económico e social da região. mento de materiais agrícolas.

Ernesto Muangal salientou que o referido crédito vai O Crédito Agrícola de Campanha, esclareceu Vitorio permitir o de­senvolvimento das comunidades rurais, Lopes, consiste em dois pacotes. O primeiro visa fi­nanciar assim como o relançamento da produção agrícola, no acções de exploração du­rante uma época agrícola, âmbito do Programa de Combate à Fome e Redução da enquanto o outro tem a ver com os custos da aquisição de Pobreza. instrumentos agríco­las e sementes para as culturas prio­ ritárias, de acordo com a realidade de cada região. “Agora mais do que nunca, os nossos camponeses têm a oportuni­dade de poderem incrementar os seus níveis de O gerente do BPC revelou que o valor máximo a conce- produção e, por isso, devem aderir a este pacote finan­ der equiva­le a 5.000 dólares, convertidos em kwanzas, ceiro”, apelou o governador Ernes­to Muangala, que por beneficiário, com uma taxa de juro estimada em anunciou que o lançamento oficial da entrega do crédito cin­co por cento. O empréstimo, afir­mou, deve ser reem- acontece, no município de Xá-Muteba, nesta semana. bolsado num período de dez meses.

O governador Ernesto Muangala pediu também aos O responsável bancário disse que objectivo do emprés- administradores municipais para Imprimirem maior timo, con­substanciado na aquisição de equi­pamentos dinamismo a nível dos comités de pilotagem, com fixos, como máquinas; motobombas, catanas, enxadas vista a permitir que mais camponeses beneficiem de e outros equipamentos destinados ao apoio dos campo- fi­nanciamento, a partir da próxima campanha agrícola. neses organi­zados eI11 cooperativas e associa­ções, visa O gerente do BPC no Dundo as­segurou que a instituição incentivar o aumento do rendimento familiar. tem todas as condições criadas para que os camponeses beneficiem do finan­ciamento, a partir desta semana. Vitorio Lopes afirmou que o cré­dito tem ainda a missão de melho­rar a qualidade de vida das comuni­dades Vitorio Lopes Ngugi disse que a nível da Lunda-Norte, rurais, no quadro dos progra­mas locais de combate à o processo de concessão de crédito está a ser condu- fome e re­dução da pobreza. zido em quatro balcões, lo­calizados nos municípios de Xá-Muteba, Lucapa, Cambulo e o bal­cão do Chitato, Celeridade na atribuição que tem a missão de gerir todo o sistema. O presidente da União Nacional dos Camponeses de Angola (UNA­CA), na Lunda-Norte, solicitou maior Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 23 celeridade na atribuição do. Crédito Agrícola de cio informal, pelo que também observamos, e de Campanha, com vista a facilitar a actividade dos cam- acordo com o responsável da loja referenciada, permite poneses locais. aumentar o volume de vendas mesmo nos estabeleci- Daniel Mutambuleno disse que, em função da moro- mentos legalmente formalizados quando praticada sob sidade que se regista na disponibilização do finan­ uma boa gestão. ciamento, os camponeses locais continuam a clamar por apoios, mormente para a aquisição de ins­trumentos de Mas enquanto a loja do Golf II, ainda não trabalha com produção, sementes e fertilizantes. a parce­ria dos bancos, no que concerne aos financiamen- tos, em outras – como o Barateiro do Prenda e o Reis O presidente da UNACA alertou que a morosidade na dos Móveis, em Viana vende-se­ sob esse conceito, com o atribuição do crédito tem concorrido negativa­mente no credito sujeito a aprovação do banco associado. incremento da produção agrícola a nível de toda a pro- víncia da Lunda-Norte e pode comprome­ter, sobretudo, Entre os kits mais vendidos do estabelecimento da a presente campanha, naquela parcela do país, onde são Viana, por exemplo, está o mobiliário com­pleto de salas cultivados essencialmente a man­dioca, milho, feijão, e de quartos que cus­tam a partir de 199 mil kwanzas horto-frutícolas, batata-doce e amendoim. – valor que pode ser liquidado em 12 pagamentos de 19.900 Kwanzas. Clientes daquele mesmo mu­nicípio, Neste momento, estão a ser pro­movidos encontros entre das regiões do Camama e do Zango e ate clientes de as admi­nistrações municipais, os técnicos da direcção outras províncias, como Uíge e Malanje, recorrem ao provincial da Agricul­tura e Desenvolvimento Rural e financiamento bancário para concretizar a aquisição e responsáveis de associações e cooperativas agrícolas, recebem as compras em casa. com a fi­nalidade de se acelerar o processo de apresenta- ção da documentação necessária e o “acompanhamento Essa possibilidade de obter o produto e abater a dívida subsequente a ser dado para a nor­malização dos crédi- da aqui­sição pouco a pouco, por mês, com a «ajuda» de tos junto dos bancos, segundo o presidente da União uma institui­ção bancária financiadora, está a conquistar Nacional dos Camponeses de Angola, na Lunda-Norte. compradores e, pelas declarações de José da Silva, do sector de vendas da «Rei dos Mó­veis», está também a satisfazer as expectativas dos lojistas. 2.20 «Kilapi» para mobilar a casa Jornal semanario angolense Nesse estabelecimento, com ar­tigos importados de 19 de Novembro de 2011 Portugal e da Itália, segundo o atendente, a con­corrência é boa e o sistema de ven­da parcelado tem permitido O apelo da propaganda de uma loja de mo­biliário, no maior «escoamento» dos produtos, se bem que os seus Golf II, em Luanda, faz saber: «melhor qualidade com serviços que compõe entrega, montagem e pós-ven­da menor preço. Mas este chamamento atinge menos a também façam muita diferença. atenção dos pos­síveis compradores do que o fac­to das compras serem pagas em duas partes iguais de 50%, Para obter o micro-crédito como nos deu a entender o responsável pelas vendas do Para promover uma maior efi­ciência da politica comer- estabelecimento. cial que se assenta no fraccionamento do pagamento em compras dessa na­tureza – que de um modo geral, Com móveis 100% importa­dos, de países como Portugal pode incluir uma gama diversifi­cada de produtos que e Malásia, a loja permite que o com­prador reconhecido vai de mo­veis à matérias de construção, de ferramentas por determi­nado critério, possa pagar metade do valor à maquinários – al­guns bancos possuem um serviço de do produto no acto da compra e o restante da dívida ser micro-crédito «dirigido». quitado posteriormente, num período de tempo concor- dado entre o estabelecimento e o cliente. O banco Millennium Angola é um exemplo dessas insti- tuições. Entre os requisitos necessários para auferir-se de Nas compras feitas com o pagamento parcelado há um crédito, tal como os demais bancos, figura a condi- também fia opção do comprador pagar no acto da aqui- ção de ter uma conta domiciliada nesse estabelecimento, sição uma determinada percentagem do total do custo a comprovação sa­larial e o concurso de um avalista. sem no entanto levar o produto, que depois é entregue, ao domicílio, feito o pagamento da percentagem em débito. Entretanto, em conformida­de com o seu próprio nome, é no Banco Bai Micro Financiamento (BMF) em que Essa modalidade de crédito do praticada pela Merico encontramos um serviço mais especializado nessa ver- Mobiliário, o chamado «kilapi», tão comum no comér- tente. Qualquer interessado munido com a papelada Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 24 exigida – que integra entre os principais itens o com- provante salarial, um extracto bancário dos últimos seis meses da conta onde é domiciliado o salário e a factura pró-­forma does) produto (s) desejado – tem um crédito ao seu alcance.

Soubemos que depois da apro­vação da proposta de financiamento os interessados precisam desembolsar um mínimo de 200 dólares americanos, ou o valor corres- pondente em kwanzas, para abrir a conta no BMF – que é ne­cessária para que os valores sejam disponibilizados.

Para o pagamento, que ao mesmo tempo é o reem- bolso do dinheiro emprestado através do micro-crédito, há um plano a honrar, com datas predefinidas para o efeito. Conforme infor­mações do balcão desse banco credor, nos dias estabelecidos en­tre vender e comprador, o cliente levanta o seu dinheiro na conta do salário e deposita a parcela do pagamento do crédito na conta aberta ne estabelecimento bancá­rio. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 25

3 MERCADO INFORMAL venda nesse lo­cal, uma vez que as pessoas estão subme- tidas a muitos riscos e não têm licença para ali praticar co­mercio, mas apenas proibiram, não fizeram cumprir a interdi­ção, ajudando as pessoas que lá se encontram. 3.1 Novo mercado a berma da estrada Jornal semanari o angolense Os munícipes têm opiniões diferentes sobre a situação, 03 de Novembro de 2011 pois muitos pensam que os ven­dedores devem ser retira- dos do local, procurando o seu próprio rumo, tal como Passar pela avenida Ngola Kiluange, pró­ximo à fábrica nos fala Domin­gos Bernardo. «Estas pessoas correm da Cuca, tornou-se muito difícil, devido aos vendedores risco de vida, têm que sair daí o quanto antes, ninguém ambulantes que decidiram for­mar um novo mercado na é culpado se ficaram sem espaço, porque o lixo que pro- zona. duzem e os gatunos que já vêm fazer das suas consti- tuem perigo para nós também», afirmou Segundo o professor Adão Manuel, o mercado começou a formar-se há já algum tempo, mas na altura, nada Já Paula Francisco é de opi­nião que o governo deveria foi feito, porque não se pensou que se iria tornar per- ar­ranjar um local para essa popu­lação. «Penso que é mal manente, uma vez que, no princípio, era constituído vender na rua, por causa dos perigos a que estão expos- por zungueiras que só ocupavam o local no período tos, mas, para este pessoal, é um mal necessário, por isso nocturno. o governo deveria construir mais feiras ou fazer alguma Desde a retirada do antigo «Roque Santeiro» as coisas coisa para não os deixar à deriva.» mu­daram, por isso, os professore se mostram preocupa- dos com a saúde dos alunos, porque a situ­ação tende a O mercado não só dificulta os peões, mas também os se agravar. alu­nos da escola primária nº 7012, porque os produ- tos são vendidos defronte ao por tão desta insti­tuição Depois que a localidade tor­nou-se num espaço comer- de ensino, e a poluição, tanto sonora como orgânica, cia, com a abertura de mais lojas, dependências­ bancá- prejudica. rias, e até três edifícios residenciais, passou a ser também Segundo alguns polícias, quando recebem ordens, eles mais frequentada. A situação está uma autêntica luta expulsam os vendedores jun­tamente com os fiscais e a pela sobrevivência, onde comer­ciantes, taxistas e popu- zona volta ao normal. Mas quando saem, os ambulantes lação em geral se debatem todos dias. regressam novamente e fazem das suas. Carlos Capita, morador do bairro, mostrou-se muito agas­tado com o problema. «Since­ramente, é muito triste Os comerciantes dos merca­dos legalizados mais próxi- ver isto aqui, temos de fazer um grande exercício para mos dizem que os principais preju­dicados nesta história podermos passar. O que tem de lixo tem de pessoas e são eles, que pagam impostos, sendo-lhes ainda rouba- produtos, alguém tem de fazer alguma coisa», desaba- dos os clientes numa concorrência desleal. Dizem ainda fou A desorganização e o lixo causados pelos vendedo- que os fiscais deveriam ter soluções palpáveis, se não as res cons­tituem os principais motivos de reclamação dos coi­sas vão continuar na mesma. populares. Sen­do paragem obrigatória para os taxistas, as coisas complicam-se muito mais ainda. Entre o caótico trânsito, a poluição e os perigos de vida, persiste o braço de ferro entre os polícias e os vendedo- Maioritariamente constituída por mulheres, a praça da res, numa autêntica luta pela so­brevivência. Cuca, como se diz usualmente, tem sido o único meio de sustento para muitas famílias. Os ven­dedores reco- nhecem que estão expostos ao perigo, mas, ainda assim, 3.2 Fantasmas do Roque Santeiro dizem que nada mais podem fazer porque os mercados Jornal O PAÍS estão todos cheios. 04 de Novembro de 2011

«As coisas estão complicadas em casa, por isso, se eu não Corno nas horas seguintes às grandes devastações resul- vier aqui para vender, os miúdos não comem, as pessoas tantes da incrível força da Natureza – ter­ramotos, vulcões que passam por aqui compram alguma coisa que já dá ou tsu­namis -, o silêncio e a sensação do tempo que pára para fazer jantar para os filhos, com perigo ou não, vou deixando atordoados lugares e pessoas, é o que há como mesmo ficar aqui», frisou Delfi­na Andrade. novidade central quando se volta à grande parcela de terreno que duran­te anos foi o mercado Roque Santeiro, Segundo algumas fontes da administração municipal no coração do Sambizanga, em Lu­anda. do Cazenga, há muito que o adminis­trador proibiu a Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 26

Atracção fundamental do bairro que tem também ícones constru­ção – madeiras, tintas, colas, pregos, martelos, como o está­dio Mário Santiago e o grupo carna­valesco blocos – alvo de um incên­dio muito perto do momento União Operário Kabocomeu, mas igualmente muitos em que a gigantesca praça se preparava para levantar emblemas imateriais como a fama da sua mar­ginalidade, ferro e acomodar-se longe dali, na zona do Panguila. custa a crer que o Roque Santeiro teve um fim e, com ele, o eclipsar de todo o seu buliçoso quo­tidiano de Bem no centro do mercado, a lembrança real de que nem vendas, revendas, favores, traições, conflitos e demais tudo são fan­tasmas no velho Roque: uma tenda verde, catálogo de pequenos e grandes actos da so­ciologia de sobrada provavelmente das muitas campanhas militares massas tornados desafios díceis de descodificar. havidas, assume o lugar de honra que nunca teria nos tempos O lugar está hoje transformado num gigantesco des- áureos do grande mercado, porque seria então apenas mais campado que mostra o que nunca deixou ver: os contor- um ponto minúsculo, verde por um tempo, mas acasta- nos de uma geografia apetecível para os sonhos e utopias nhado poei­rento pouco depois, pela força que o manto de de qual­quer urbanista, com a sua sobracentra vista sobre sujidade tinha de moldar a paisagem à sua vontade. o Atlântico, vendo entrar e sair navios na baía capita- lina. Largos hectares que a multidão com­pacta transfor- De dentro da tenda olha-se para fora. Não parecem mava em insuficiente espaço de comércio, numa ilusão olhares de des­confiança num lugar que se tornou calmo, de óptica que dissimulava melhor ainda as suas virtudes inofensivo, bendito, como se sobre ele impendessem os e misérias. Ali cabiam os bons e a escória, os justos e os ares bons de um acordo de paz firmado para ser real- malvados, ajudando a montar, ano a ano, o cúmulo de mente cumprido. lendas que inspi­raram escritores, poetas, cineastas e os próprios homens da política e da Academia. Até os homens armados que prote­gem o local estão imbuí- dos do novo espírito do Roque, um mercado que deixou de Seriam assim com certeza as granades feiras da Idade o ser, um sítio onde a vida acabou e restaram apenas os seus Média, que atraí­am para espaços enormes de cidades em pequenos mistérios. São generosos, acenam sem esperarem consolidação mercadores de im­périos próximos e afas- pela sauda­ção do visitante intruso e não caem na tentação tados, na pro­cura incessante do lucro, a alavanca que das perguntas que ini­bem uma peregrinação que sabem move a base de uma das actividades mais antigas e mais inabitual. Ver uma viatura por ali é também para os guar- activas da civilização humana, o comércio. diães um alí­vio para as suas próprias angústias, perpassadas por silêncios de dia e de noite, como nos tempos em que a Urna tenda solitária guerra tinha pausas à espera do ata­que seguinte. Quase se podem ouvir os ruídos en­vergonhados dos fan- tasmas que agora povoam o Roque, depois que as: almas, muitos milhares delas, se dispersaram pela geografia 3.3 Candidatas a doentes de úlcera que nun­ca se conseguirá estabelecer a rota, na perfei- gastrica e tuberculose ção. Parece um lugar ensom­brado, meio localizado -na Jornal folha 8 imagi­nação – entre o cemitério de corpos em repouso e 05 de Novembro de 2011 os vales de cadáveres e pultos que se multiplicaram pelo pais, na viciosa voragem das guerras passadas. Trabalhadores de rua por força da circunstância têm uma ali­mentação que deixa a desejar e os coloca entre Há um desassossego e um silên­cio incómodo no passeio potenciais doentes das efermidades que têm como causa que se faz por um lugar onde o barulho no ar, pregão o défice alimentar. Tito Marcolino simultâneo de milhares destes, as buzinas dos veículos mo­torizados que por ali se aventuravam nas estreitas Enquanto uns mata-bicham, almoçam, lancham e passagens, constituíam a senhorial presença que não se jantam, além de ter prova­rem qualquer coisinha antes foi afastando aos poucos mas acabou sob a forma de um de dormir para consolidarem o que puderam ingerir em rude corte. defesa dos seus ricos e pre­ciosos estômagos, os demais não ma­ta-bicham, não almoçam e só jantam quando Com o curso à memoria ainda é possível situar onde calha não por serem inimigos das três 3 refeições regula- funcionava a secção do mobiliário, com as suas camas, res de cada dia, mas sim, porque têm de madrugar para colchões, cadeirões, so­fás, chegados de longe, enviados chegarem a tempo e horas aos locais em que compram por gente que lá fora viveu das bonanças do Roque, mas mercadoria de negócio e não só mas também por terem boa parte deles saí­dos de ateliers domésticos ali mes­mo de passar à acção logo após a aquisição. montados, para testar a perícia e o engenho dos nossos; um pouco mais para lá, já quase a finalizar o períme- Tal é o caso das peixeiras que por volta das 4 da madru- tro na direcção de Cacuaco, o recanto dos materiais de gada têm de ir à praia “pegar” o peixe e em seguida Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 27 iniciar a venda da mercadoria na tentativa de vendê-lo o -se com de muitas outras pessoas que falaram à repor- mais fresco possível. O mesmo acontece com os demais tagem que, no entanto, tam­bém recolheu história de vend­edores que a par da peixeira partem de casa cerca pessoas que já padeceram de tuberculose. ‘Temos duas das 4 horas para regres­sarem somente entre às 18 e 19 colegas que faleceram desta doença, no sanatório”, expli­ horas, período em que, como é obvio, não co­zinham, cou a zungueira Joana Nguimbi. limitando-se a mentir a fome, comendo coisa fria e, como se não bas­tasse, de pé e em andamento. O referido cenário motiva alertar e aconselhar a quem de direito a de­senvolver acções práticas destina­das à criação Se os outros comem de maneiras a ga­rantir saúde e com de empregos para os milhares de Angolanos feitos vend­ ela prolongarem as suas vidas, os que não comem candi­ edores ambulantes em virtude de outro recurso de datam-se, involuntariamente a cria­rem feridas nos estô- sobrevivência não terem. magos. Ou seja, a doentes de ulcera gástrica, tubercu­ Dispensa por outro lado ser adivinho para se poder lose e as demais que segundo os médi­cos são causadas chamar atenção ao fac­to que a não ser acautelado, pela má nutrição. Não há quem não saiba que mal ali­ arrisca-se ter em conta o défice de especialistas para o mentados tarde ou cedo adoecem e morrem. combate de muitas destas doenças na rede, já destas doenças na rede de saúde. Ainda têm de enfrentar as Não é preciso ser-se enfermeiro ou médico para se atingir corridas dos agentes. o entendimento básico de que os Angolanos e as Angola nas que desenrascam manjar a zungar não são saudá- Por ser gratuito e, além disso, divertir os de mau senso veis, em virtude de não poderem diariamente confec­ sempre entusiasmados a estarem lá onde há “bilo” há por cionar e dizer sim, às três refeições universalmente esta- aí gente que aplaude. Que acha graça de presenciar poli- belecidas como garantes da manutenção dos organ­ismos ciais a correrem de um lado para outro com as coitadas humanos. Uma dessas pessoas é Cata ri na Coelho, pei- e os desgra­çados dos negociadores de rua. xeira que, como todas as outras, deixa a casa antes das Não tem piada nenhuma e ainda POI cima reveste-se 5 horas e apenas regressa por vol­ta das 19 horas. “Tem de um mal que ir­rita os cidadãos de bom senso para os que ser assim porque senão o negócio vai à baixo”, jus- quais é feio ver homens farda dos, de barba rija, num tificou o sacrifício, completado pela péssimas condições exercício para o qual não foram treinados. Não há quem alimenta­res. “As vezes conseguiu comer, não também acredite que haveria candidatos a agente da Policia se como se estivemos em casa, mas dá para matar a fome”. de antemão soubessem que ser policial inclui brincar ao gato e ao rato com as esposas dos outros. É ponto assente que cedo ou tarde, os cidadãos como Catarina Coelho estão condenados a contraírem doenças Com programa governa­mental devidamente concebido tendentes a acelerarem-lhes. “Não temos outra escolha, para a erradicação da presença de vendedores e mendi- mas todos va­mos morrer”, consolou-se. gos de rua fazer-lhes-ia desaparecer para a tranquilidade Quem também, em função do es­forço da labuta, tem dos agentes e não só, mas também dos am­bulantes e da tido refeições que muito deixam a desejar, é Paulo sociedade em geral envergonhada por pertencer a um Morais, engraxador, que resume a sua refeição diária País rico, mas desorganizado, ao ponto de ser incapaz de em “uma e meia”. Ou seja, almoça, sendo que a comida distribuir a riqueza excessiva que tem aos seus. compra por duzentos kwanzas (200 Kz) nos seguranças. Com os empregos que se podem criar em abundância “É boa comida, eles (seguranças) re­cebem à mais e fruto das em­presas instaladas e por instalar a partir nos vendem a duzen­tos kwanzas”, conta para depois da corrida desenfreada do interesse de muitos por ex­plicar a meia refeição. “A noite, se as coisas correm investir em Angola ocupar-se-iam os desem­pregados, bem, compro um pão com salsicha ou um pincho para o esvaziar-se-iam as ruas e consequentemente Angola jantar”, explica Paulo de 16 anos de idade que é órfão de deix­aria de correr o risco que corre de preparar para o pai e vive apenas coma mãe. futuro uma so­ciedade de doentes que ninguém duvida Fazendo fé as palavras de Paulo, a história dele asseme- hão-de emergir do longo tempo de trabalharem como lha-se de grande parte dos seus colegas, assim como dos am­bulantes e concomitantemente de candidatos à lavadores de carro e “outros tra­balhadores da ruas”, argu- doenças que não é proibido adivinhar serão um bico de mentou para depois responder que “às vezes enquanto” obra para o futuro próximo. tem tido problemas do estômago.

“Tuberculose nunca tive, mas dor do estômago tenho às vezes enquanto, mas compro os comprimidos e pas­sa”, explicou. Neste aspecto, a re­alidade de Paulo assemelha- Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 28

3.4 Casas da candonga dificultam Os servidores cobram um valor entre 200 e 2000 comerciantes Kwanzas por dia, depen­dentemente do produto. Jornal folha 8 Os mesmos levam em conta a quan­tidade, volume e o 05 de Novembro de 2011 valor da merca­doria, de forma a determinar o valor da mercadoria. Mais de mil Kwanzas é quanto os proprietários dos quin­tais e casas de processos cobram diariamente aos Interrogado pela brusca subida de preço, Celestino vendedores que dependem daquele serviço. Gama justificou que através da procura teve que contra­ tar segurança e pagar a limpeza do recinto. Mais com o Os moradores, residentes nos arredores do mercado que ganha con­segue sustentar a família. estão á arrendar os espa­ços, porque é rentável, apesar de não oferecer condições de conservação da mercado- Com excepção da segunda-feira, os restantes dias tem ria. Os quintais e casas de pro­cessos dos mercados de sido produ­tiva para aqueles que seguiram este negócio, Kicolo, Panga Panga, Asa Branca, Kwanzas, Arreio ­a e Apesar disso, os vendedores propõem como solução um Catin Tom especulam os preços do arrendamento do paga­mento mensal, tendo em conta que muitas vezes o estabelecimento. Para os comerciantes a prática dos pro­ negócio não rende: prietários está a complicar na arrecada­ção de lucros, motivo pelo qual estão a acrescer as tarifas dos produ- “E torna-se difícil atender ao mesmo tempo as quotas da tos, o que tem encarecido o bolso do consumidor. Maria administração do mercado e dos chamados processos”, Helena, vendedora do ex-mer­cado do Roque Santeiro, especificou. actualmente no Panga Panga, lamenta a condição em que se encontra. Sente também, a diferença de preço após extinção do mercado sito no município do Sambizanga 3.5 Autoridades preocupadas com a “RS”. Para a comerciante de bolinhos, bombom frito venda inlegal com jinguba e kissangua, Doroteia Ndango, do mer­ Jornal de Angola cado de Asa branca, declara ter pago a uns meses atrás 07 de Novembro de 2011 200 Kwanzas por dia para o armazenamento dos utens- l1io de trabalho, com a subida da tarifa, diz ser obrigada Boaventura Moura, director Nacional de Medicamentos, a atravessar mais de dois quilómetros e meio a pé, com o está preocupado com a venda ao pú­blico de fármacos mate­rial de serviço à cabeça para poder ter algum lucro. sem controlo de qualidade. Os consumidores encon- tram produtos farmacêuti­cos sem comprovação cientí- Esta prática já se verifica a alguns anos atrás, com a fica, sem registo e que ainda não fo­ram homologados em invasão dos estrangeiros, no arrendamento das residên- Angola. Para ultrapassar os problemas do sector, anun- cias próx­imo das estradas principais e terciárias, para ser- ciou que está a ser criada uma lei mais abran­gente e que ventia de lojas e armazéns. Muitos destes proprietários vai completar a le­gislação existente. foram le­vados pela precária condição de vida. Segundo apurámos, as “casas de pro­cesso” surgiram em finais Jornal de Angola – Os medica­mentos importados da década de 80, mas, segundo os seus proprietári­os, o entram e forma livre ou estão sujeitos à au­torização de negócio tende aumentar desde o encerramento do Roque alguma instituição do Estado? Santeiro e a venda ambulante. Esta actividade ficou ape- Boaventura Moura (BM) – To­dos os produtos farma- lidada por «Processo», devido ad­esão dos comerciantes. cêuticos care­cem de uma autorização da Autori­dade Para além de guardarem os produtos dos vendedores, Reguladora do Sector Farma­cêutico, além do controlo também prestam serviços aos comerciantes em trânsito aduanei­ro, da Inspecção Geral da Saúde e de outras para outros pontos do país. Entidades fiscalizadoras.

Através da procura, os guardiões melhoraram os servi- JA – A legislação necessita de actualização? ços, oferecendo condições de conservação de frescos e BM – A legislação actual é recen­te, está adequada ao hortaliças. nosso contexto e regula a importação e comerciali­ zação dos produtos farmacêuticos e o exercício da acti- Celestino Gama assume que o negó­cio é rentável, “estou vidade farma­cêutica. Estamos já trabalhar numa Lei a oferecer aos vendedores as melhores condições possí- Farmacêutica de Angola, que vai ser mais abrangente. veis. De forma a não dificultá-­los na comercialização dos produtos, porque não conseguiriam levar os haveres em JA – Qual é a sua maior preocu­pação em relação o processo casa, através da distânciaa da praça”, declarou. de entrada, distribuição e comer­cialização de medicamen­ tos em Angola? Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 29

BM – Como Autoridade Regula­dora do Sector pretendemos que em Angola somente os fabrican- Farmacêutico An­golano, além do défice de profis­sionais tes nacionais, os importadores ou distribuidores por farmacêuticos, estamos preocupados com o controlo grosso, possam vender medicamentos directa­mente às da qualidade e da introdução no mer­cado de produtos farmácias. farmacêuticos que ainda carecem de comprova­ção, de registo e homologação. JÁ- Os grossistas de medica­mentos têm regras a cumprir? BM – Eles devem cumprir as boas. práticas de armaze- JA – A comercialização de me­dicamentos obedece aos namento e distri­buição, devem dispor permanente­mente requisi­tos legais? de medicamentos em quanti­dade e variedade suficiente BM – A comercialização de me­diamentos obedece para ga­rantir o fornecimento adequado e contínuo do aos requisitos legais previstos na Lei das Activida­des mercado. Têm de pôr à disposição da autoridade regula- Comerciais para a distribuição por grosso e um Decreto dora e demais autoridades públicas com­petentes, os con- Presiden­cial que determina que só podem ser comercia- tratos escritos, cele­brados com a pessoa responsável pe­la lizados no território nacio­nal medicamentos que benefi- direcção técnica e, quando aplicá­vel, com as empresas ciem de uma autorização ou de um regis­to, válido e em que procedem ao transporte dos medicamentos. vigor, concedidos pela Autoridade Reguladora. JA – Quem está habilitado pa­ra importar medicamentos J A – Quais são as regras funda­mentais no fornecimento de em Angola? me­dicamentos ao público? BM – Estão habilitados a impor­tar medicamentos e BM – A legislação angolana proí­be fornecer ao público outros produtos farmacêuticos, apenas entidades farma- medicamen­tos e outros produtos farmacêuti­cos fora das cêuticas autorizadas para o exercício desta actividade, farmácias e em acondi­cionamentos que não estejam com li­cenciamento comercial específico. rotu­lados ou que não contenham folhe­tos em língua portuguesa contendo todas as informações exigidas e JA – Existe uma rede ilegal de importação de medicamentos? salvaguardar a boa qualidade dos produtos, tanto na BM – Não temos conhecimento. origem como na rede de distribuição. A legislação em vigor e os esforços conjugados dos Ministérios da JA’- Os medicamentos que en­tram em Angola são fabrica­ Saúde, do Comércio, do Interior e das Finanças, através dos por laboratórios farmacêuticos de reconhecida idonei­ dos Serviços Aduaneiros, estão a trabalhar para que isto dade técnico-científica? não aconteça. BM A tendência actual é a proveniência seja de empre- sas farmacêuticas de idoneidade técnico-científica existir JA – Há venda livre de medi­camentos que só podem ser produtos de fábricas menos cotadas. E existem marcas vendidos­ com receita médica? contrafeitas, porque a contrafacção é um problema global BM – Há um esforço de organi­zação e de trabalho que atinge todos os países do mundo. Reconhecemos em todas as entidades que actuam na área dos medi- os esforços do Executivo regulação e controlo total da camentos. Tudo estão a fazer para uma fiscalização entra­da de medicamentos no mercado nacional. farmacêuti­ca mais eficaz. Por isso, não acre­ditamos que o Estado Angolano esteja a ignorar a existência de qual- JA- Os seus serviços têm con­trolo sobre todos os medicamen­ quer problema que seja preo­cupante para a saúde. tos importados? BM – Sim, há a obrigatoriedade de submissão de todo JA – Algumas mortes súbitas podem ser atribuídas à e qualquer medicamento que ‘se pretenda co­mercializar ingestão de medicamentos de forma abu­siva e sem receita em Angola ao S is tema de Registo de Medicamentos, médica? com o objectivo de garantir idêntico grau de qualidade, BM – Não temos como confir­mar a existência ou não segurança e efi­cácia para todos os medicamentos, inde- dessas mortes. Mas para detectar e tratar as reacções pendentemente da sua prove­niência ou local de pro- adversas a medica­mentos, no Ministério da Saúde dução, con­tribuindo assim para aumento do grau de estamos a organizar um serviço e uma rede de farma- confiança da população. Apenas alguns medicamentos -covigilância, que pretendemos seja eficaz. con­siderados imprescindíveis podem ser” importados sem autorização prévia. Mas são casos pontuais. JA- Entre os medicamentos tomados de forma abusiva estão os estimulantes sexuais, tem co­nhecimento de casos mortais? JA – Como é que as regras de venda de medicamentos BM – Desconheço, mas reco­mendo a todos que evitem devem funcionar? essas práticas que são prejudiciais a saúde. Vamos tra- BM – Achamos que devem fun­cionar conforme esti- balhar mais para reforçar a regulação e o controlo far- pula a legis­lação em vigor. Com as regras es­tabelecidas, macêutico desses estimulan­tes. Temos de trabalhar Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 30 também na sensibilização, na informação, na educação. alternativa aos cuidados de saúde convencio­nais e favo- Os órgãos de comu­nicação social públicos e priva­dos, recer a compra de medi­camentos de produção local no e o Jornal de Angola, em par­ticular, também podem âm­bito dos processos de aquisição dos medicamentos ajudar. essenciais.

JA – O medicamento Victosa foi produzido para o tratamen­to da diabetes e está a ser usad6 por quem deseja 3.6 Governante anuncia plano para emagrecer. Em Angola existe esse fármaco? melhoria dos mercados BM – Não temos conhecimento da entrada desse Jornal de Angola produto no nosso mercado. Mas, vamos avaliar. 10 de Novembro de 2011

JA – há controlo de qualidade dos medicamentos? A vice-governadora do Bié para a esfera económica, Ana BM – Para comprovar a quali­dade dos medicamen- Maria Mvuay, revelou ontem, no Cuito, que o sector tos vendidos em Angola, nós queremos instalar um definiu políticas desti­nadas à organização de sistemas de Laboratório Nacional de Con­trolo de Qualidade, redes de produtos locais nos mer­cados municipais. físico-químico e microbiológico de medica­mentos em A acção, segundo explicou, visa dimensionar a activi- Luanda. dade comer­cial e possibilitar o aumento da ca­pacidade económica dos vendedo­res e fornecedores. JA – E quais são os principais ensaios nesse laboratório? BM – Os principais ensaios são a identificação de subs- Falando após uma visita aos mercados municipais do tâncias ac­tivas, volume médio, peso médio, dose dispen- Bié, que serviu para avaliar o estado das es­truturas e as sada, uniformidade de doses e muitos outros. condições de comer­cialização dos produtos, conside­rou os mercados como o centro da estabilidade económica JA – Neste momento que tra­balhos a Direcção Nacional de do país. Tendo em conta a sua importância no sector, Medicamentos está a fazer? defendeu a necessidade da melhoria da actividade BM – Estamos a desenvolver um plano estratégico de comercial a nível destes estabelecimentos. A es­tratégia, reforço do sector farmacêutico e com ele esperamos referiu a governante, conta com a pareceria de agricul- aumentar a disponibi­lidade dos medicamentos essen­ tores e au­tomobilistas que exerçam as suas ac­tividades ciais nas unidades sanitárias. Es­tamos a criar condições no interior da província. Os mesmos têm a missão de para que toda a população tenha acesso aos medicamen- escoar os produtos do campo para os mer­cados, onde tos essenciais, quali­dade garantida dos medicamentos vão ser vendidos. em uso nas unidades sanitárias, maior grau de utilização Para que o programa seja desen­volvido sem grandes pro- racional dos medicamentos e gestão mais eficiente do blemas, Ana Mvuay pediu aos comercian­tes para regu- sector farmacêutico. larizarem as suas acti­vidades comerciais, adquirindo a documentação que os identifique e que garante, igual- JA – O que está a ser feito para melhorar a disponibilidade mente, uma me­lhor segurança. dos medicamentos essenciais nas unidades sanitárias? BM – Estamos a estabelecer um sistema de aprovisiona- mento inte­grado que contempla os três níveis de assis- 3.7 Vendedores do mercado do tência sanitária. Vamos criar uma central de compras Cassualala têm sombras e aprovisionamento de medicamen­tos, com a incum- Jornal de Angola bência de adqui­rir e distribuir os medicamentos, gra- 10 de Novembro de 2011 tuitamente ou não, às institui­ções públicas e aos nossos parcei­ros. Também estamos a reforçar as capacidades Os vendedores do mercado de Cassualala, situado na dos recursos huma­nos na gestão dos medicamentos, rea- comuna de , município de lizar supervisões regulares aos gestores de medicamentos (Kwanza-Norte), registam há três meses uma que­da nas unidades sanitárias e aumentar o Orçamento Geral considerável do volume de vendas devido à redução do do Estado para os medicamentos essenciais. trá­fego automóvel no troço da estrada nacional 230 entre e Dondo. JA – O que é necessário para assegurar que os medicamen­ Segundo noticiou a Angop, os vendedores queixam-se tos essenciais sejam financeira­mente mais acessíveis a todos? da falta de interesse por parte dos utentes da via Luanda! BM – É necessário suprimir as ta­xas e direitos alfande- Malan­ge. O trânsito diminuiu na refe­rida via depois da gários que oneram os preços dos medicamen­tos, reforçar reabilitação da Estrada da Trombeta, que li­ga Luanda as capacidades dos ór­gãos de controlo dos preços dos a Ndalatando, pas­sando pelo município do Golungo medicamentos, promover a medi­cina tradicional como Alto, um percurso de cer­ca de 60 quilómetros. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 31

O novo troço encurta a distân­cia entre a localidade do O histórico dos dois mercados permite, no entanto, Zenza do Itombe e Ndalatando, e cons­titui uma alter- maior compreensão da situ­ação do mercado do Panguila nativa à passagem pelo Morro do Binda, onde se regista que foi ar­quitectado para acolher os vendedores do antigo um elevado índice de si­nistralidade rodoviária. mercado Roque Santeiro que, desde início, mostraram- -se resistentes à mudança. Grande parte dos mesmos Uma vendedora que há mais de 20 anos comercializa nem nunca experimentaram vender no mercado que fruta e peixe de água doce no mercado disse que as tem uma capacidade para albergar 5200 vendedores. vendas conheceram uma redução de 50 por cento. A distância que separa o mercado do centro da cidade, assim como a dificuldade de acesso (bem melhor nos 3.8 Administradores dos mercados dias que correm) destacavam-se entre os argumentos culpam executivo pelas das vendedeiras que, desta feita, calculavam que o novo praças de rua mercado nunca teria a concorrência do mercado de Jornal folha 8 origem: Roque Santeiro onde, calcu­la-se, movimentava- 12 de Novembro de 2011 -se mais de 1 milhão de dólares por dia.

Os mercados informais nos arredores dos formais e a A transferência daquele que foi um dos maiores merca- consequente fuga dos vend­edores do segundo para o dos de céu aberto do continente, segundo explicação do primeiro destacam-se entre os problemas do sector em Executivo, deveu-se à necessidade de oferecer melhores Luanda. A inversão do referido quadro é uma das pre- condições aos então utilizadores que, entretanto, rejeita- ocupações do ministério do Comér­cio no quadro da ram as óptimas condições que encontraram no Panguila. implementação do novo modelo de gestão dos mercados que visa maior rentabilidade do inves­timento feito pelo Por seu turno, o mercado do Asa Branca, antes da sua Executivo na con­strução e reabilitação dos mesmos. reabilitação, era bastante concorrido, contrariamente Aquando da reabilitação de alguns dos principais mer- aos dias que correm. Grande parte das bancadas, cados da capital do País, a sociedade civil manifestou-se daquele que foi um dos mercados de referência de venda preocupada pelo facto da dimensão dos mesmos serem de roupa usada, está inutilizável enquanto as ruas adja­ inferiores que as das anteriores estruturas. A referida centes transformadas em mercados informais. preo­cupação, no entanto, foi ignorada pelas autorida- Entre as razões apresentadas pe­las vendedoras destaca-se des, como, de resto, acontece na maioria das vezes. O a que dá conta da exiguidade do mercado para albergar tempo, no en­tanto, responsabiliza-se de mostrar que os todas ou a maioria das pes­soas que vendiam no espaço responsáveis pela projecção dos novos “congoleses”, “São onde foi construído o novo mercado. Paulo” e “asa branca” falharam. Desta feita, explicam, as pessoas que ficaram sem lugares No âmbito das actividades de divulga­ção da nova Lei formaram mer­cados informais nos arredores dos formais, das actividades comer­ciais, o ministério do Comércio fazendo concorrência desl­eal aos vendedores formais e reuniu, recentemente, com os responsáveis dos merca- estes, sequencialmente, decidiram engros­saram os mer- dos da capital para falar do futuro modelo de gestão dos cados informais dos arredores. Actualmente, estima-se mesmos, comprando-a com a actual. em mais de 50% o nível de abandono dos vendedores do referido mercado que foi projectado para albergar cer­ca No referido encontro existiu unanimi­dade em relação de 1400 vendedores, menos cerca de 600 do mercado ao défice que a fuga dos vendedores representa na anterior. colecta das receitas e ainda que se trata de um as­sunto que carece de um diagnóstico em virtude de acontecer A realidade deste mercado, asse­melha-se com a dos con- em grande parte dos mercados com destaque para os que goleses que, depois de reabilitado e inaugurado há cerca foram recentemente reabilitados. Tais são os casos do de três anos; passou a ter capacidade para cerca de mil mercado do Panguila, in­augurado há menos de um ano e 600 vendedores mas apenas cerca de tr­ezentas (300) e do Asa Branca, reabilitado há cerca de quatro anos. têm estado a ocupar os respectivos lugares, actualmente. As motivações destes abandonos assemelham-se com as As imponentes estruturas e a qualidade dos dois merca- do mercado do Cazenga. Os vendedores queixam-­se da dos, motivam interroga­ções sobre as razões que levam concorrência desleal do mercado informal (os vendedo- os vend­edores a trocar as condições das novas infra- res do mercado formal pagam uma quota diária de 100 -estruturas e formar mercados informais, na maioria dos kz), constituído nos arredores pelas dezenas de pessoas casos, nos arre­dores dos formais. que ficaram sem lugar. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 32

Para inverter o referido quadro, o administrador do A maioria dos jovens roboteiros é proveniente das mercado é de opinião que o espaço adjacente ao mesmo regiões da Huíla, do Huambo, do Kwanza-Sul e do seja utilizado como parte integrante do mercado de Bié, que vieram a Benguela, à procura de condições de forma a acolher as pessoas que vendem nos mercados vida, devido à falta de grandes oportu­nidades, como o informais. emprego e o estudo nas suas terras de origem.

Dos mercados reabilitados, o São Paulo é o que ainda Durante o périplo pe­los bairros da cidade de Benguela, tem as suas bancadas totalmente ocupadas, mas a admi- o Factual en­controu-se com os roboteiros António nistração do mesmo também manifesta-se preocupada Marcelino, Eugénio Tchissinde, Tiago Tchiamba, com a possibilidade do mercado informal defronte do Domingos Muhanha, António José, João Jorge, Costa mesmo (que é um dos maiores de Luanda) motivar o Casimi­ro e Francisco Vicente. esvaziamento das bancadas. Como medida de preven- Convidados a falar das suas experiências, os roboteiros ção, a ad­ministração defende a ampliação do mercado quiseram em troca valor monetário, mas de­pois acede- para absorver os vende­dores dos mercados informais. ram à conversa. Por­tanto, grande parte dos adminis­tradores concluíram que a razão do vazio dos mercados e, consequent­emente, António Marcelino, de 16 anos, explicou que proveio a pouca rentabilidade dos mesmos está no facto de terem da região do Ka­luquembe, no município de Caconda sido construídas estruturas inferiores e, consequente- (Buíla), e está em Benguela há seis me­ses. Ele contou mente, pequenas apara albergar todos os vendedores. que veio a Benguela a convite do seu irmão mais velho, à procu­ra de melhores condições de sobrevivência. “Na altura da decisão da reabilita­ção destes mercados já existiam nos arredores dos mesmos, alguns vend­edores Dinheiro obtido chega para sustentar família e esperava-se que se espaços que pudessem acolher “Para conseguir alguma coisa para o meu sustento, também estes mas o que aconteceu foi totalmente o acordo às 05 horas e deixo o trabalho às 16. Normal­ contrário, algumas pessoas que tinham lugares ficaram mente, carrego caixas de peixe, caixas de óleo, peças sem os mes­mos”, comenta um vendedor do mercado dos de motas e geradores”, fez saber ao Factual António congoleses. Marcelino, acrescentando que os preços da transpor­ tação dessas cargas variam de 150 a 200 Kwanzas, de E como dizer que ao reabilitar como reabilitou os mer- acordo com o peso, o ta­manho das mercadorias e a dis- cados o Executivo investiu no aumento de mercados tância a percorrer. informais e vendedores ambulantes que, entretanto, são Antómo Marcelino contou que, apesar de muitos combatidos de maneira desumana. esforços, o dinhei­ro arrecadado no seu dia-a-dia “não chega para sus­tentar toda a família que se encontra em Kaluquembe, mas dá para remediar, pelo que vale a 3.9 Uma profissão a considerar pena o trabalho. Jornal semanario factual 12 de Novembro de 2011 O roboteiro deu a co­nhecer que “por dia, às vezes, factura mil e mil e 600 kwanzas”, tendo con­seguido enviar para Na sua maioria, os roboteiros têm idades entre os 16 e a sua família alguns bens, como um televisor, um apare- os 38 anos, pouco cui­dados, com camisolas en­cardidas lho de som e um DVD. “E, na semana passada, comprei e carcomidas pelo tempo, com cabelos em­poeirados e uma cabeça de gado e mandei 20 mil Kwanzas para a unhas sujas e compridas, transportando, diariamente, minha mãe que vive em Kaluquembe”, referiu no seu carro de mão tudo quanto po­dem: sacos de arroz, António Marcelino. caixas de óleo vegetal e pequenos electrodomésticos, a troco de 100 ou 200 Kwanzas. Eugénio Tchissinde é natural da província do Huambo e é o mais novo na profissão, com apenas três semanas A profissão de roboteiro já foi muito respeita­da e procu- de intensa actividade laboral. O jovem, de 22 anos e rada, tendo sido considerada grande fonte de sustento casado, afirma gostar do que faz, afiançando que a falta de muitas fa­mílias angolanas, particu­larmente as de de grandes oportu­nidades de emprego na sua terra natal Benguela. foi o motivo que o levaram a Benguela.

Mas, hoje, a profissão não é valorizada pela so­ciedade “Viemos os cinco do Huambo, à procura de melho- civil, o que faz de­sistir os menos persisten­tes que optam res condições de sobrevivência, e todos par­tilhamos o por melho­res condições de vida. mesmo quarto, garantiu. Na praça do bairro dos nave- gantes, zona BO, o Factual encontrou Antó­nio José, de Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 33

26 anos, e que veio do Bié há nove meses, para trabalhar acti­vidade. Começou ouvindo conversas, a propósito, como roboteiro. Descontraído e a fu­mar um cigarro, com vizinhos do bairro, muitos deles já dedicados à afirmou que gosta do trabalho que faz. “Eu gosto muito recolha de garrafas. Diziam que, a actividade era ren- desse trabalho e, enquanto não encontrar um outro para tável, embora, reconhecidamente, todos concordassem o substituir, prefiro trabalhar assim do que roubar”, que não garan­tia um bom futuro. Mesmo assim, e as­severou António José, com um certo à vontade. depois de convencer a sua mãe, Simão Ambrósio aderiu.

Como nem sempre consegue obter entre mil e dois mil Depois de apanhar a sua primeira garrafa, não parou e 500 kwanzas por dia, o roboteiro fez sa­ber que é obri- mais. Simão levan­ta-se cedo, todos os dias, e parte em gado a fazer outros trabalhos extras. busca de garrafas, caminhando pelos distintos bairros da cidade, tendo, até, faro para descobrir mais e mais “Kota, às vezes, sou obrigado a varrer o pó de algumas locais de convívio. barracas da praça e a escalar peixe na praia”, indicou, sorrindo. Num bom dia de trabalho, pessoas dedicadas como Simão conseguem recolher até três sacos, aqueles com Tiago Tchiamba tem 18 anos e é roboteiro há seis meses, capacidade para cinquenta quilo­gramas, bem cheios de afirmou que a profissão não é “nada fácil”, pois se passa garrafas. Um saco pode levar até 72 duas garrafas, cor- o resto do tempo na rua debaixo do sol, apanhando respondendo a três grades (de 24 unidades) para cada poeira todos os dias e levando grandes quantidades de saco. É esse o resultado de um dia nor­mal de trabalho, cargas pesadas. para quem recolhe garrafas e que, depois, se conver­te em dinheiro. Terceiras pessoas aparecem, depois da No mercado da Kaponte, a maior praça a céu aberto na recolha feita, a requisitar as garrafas em troca de algum cidade de Benguela, o Factual en­controu o carpinteiro dinheiro. “Não é muito”, ad­verte Simão, mas sempre Au­gusto Tomás, que fabrica os carros de mãos feitos de ajuda “por alguma comida em casa”. E, no caso particu- madeiras e com pneu­máticos de viaturas aban­donadas. lar de Simão, que frequenta uma escola privada, a ajuda Augusto Tomás reve­lou que, por dia, atende a dois clien- se esten­de ao pagamento das propinas. tes que levam os carros de mão (Kangulo) ao preço de 12 a 15 Kwanzas, em função do seu tamanho. “As necessidades em casa aumen­tam”, salientou o jovem desempre­gado. “Não podemos é ficar para­dos, enquanto A fonte avançou que o material que usa vem de Bengue1a. haver qualquer coisa que se possa fazer”.

Ele identifica, até, algumas vanta­gens no trabalho que 3.10 Descartáveis, mas retornaveis faz. “Não temos patrão”, contou, ao reforçar que basta Jornal a capital que alguém deite para o lixo, uma gar­rafa de cerveja, 17 de Novembro de 2011 para que o nosso “salá­rio esteja garantido”.

Movido pela influência de amigos, Simão Ambró­sio, de Com os três sacos que enche todos os dias, Simão ganha 22 anos, decidiu abraçar uma actividade que, embora dois mil e 700 kwanzas, isso porque ele cobra, pelo saco longe da atenção da maioria dos luandenses, vai ganhando cheio, novecentos Kwanzas. Quanto mais horas de tra- muitos adeptos entre a população com rendimentos mais balho tiver, maior será rendimento de Simão. Segundo baixos. Há três anos, ele tomou-se um entre os muitos refere, a estratégia é evitar faltar, uma opção difícil, cidadãos no lixo, sobretudo em locais de preferências para sobretudo para quem está na escola a preparar­-se para convivi os, em busca de garrafas de vidro. um futuro melhor. Quando há provas, disse, “não há como não faltar”, e os rendimentos, por conse­guinte, Sejam nas praias, nas traseiras de discotecas ou em baixam. palcos de marato­nas, o dia seguinte, para o descanso dos protagonistas da noite, é de traba­lho para Ambrósio A história de Simão se repete por en­tre os populares e para quem, como ele, ganha a vida a recolher garrafas. que por Luanda ga­nham a vida, a recolher garrafas nas São milhares de garrafas recolhi­das, amontoadas, em li­xeiras. Não importa a idade, se velhos, jovens ou crian- seguidas, em sacos, também reciclados, cheios até à ças, ou o sexo, se mu­lheres ou homens, o facto é que exaustão para que possam levar a maior quantidade pos- todos fazem-no ao som de uma mesma pa­lavra: sobrevi- sível de garrafas de vidro, todavia descartáveis. vência. São as agruras do desemprego que os empurram para essa actividade, apesar do preconcei­to instalado ao Para onde vai tanta garrafa? Já lá che­garemos. Vamos redor dela. conhecer, primeiro, a como foi que Simão abraçou a Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 34

“Somos mal vistos na rua”, lamenta Simão, ele que frutas e frescos, peixe, carne, frangos são os negócios confessa ter sentido, no início da sua actividade, uma preferenciais das zungueiras. cer­ta “vergonha”. Afinal, “as pessoas são vistas como se fossem excluídos da so­ciedade e as outras, normalmente, Zungar, que na língua quimbundu significa andar ou se afastam de nós”. passear, tornou-se um negócio de sobrevivência para to­das as faixa etária da sociedade. Para além das senho- Preconceitos à parte, está-se perante uma actividade, em ras, os jovens e crian­ças aderem a esta prática de comér- que intervêm vá­rias pessoas com funções diferentes. Se cio informal. Alias, até expatriados enve­redaram por Simão, por exemplo, tem a tarefa de recolher as garrafas este tipo de negócio. directamente das lixeiras, há ainda pessoas como Emília Silva que as compra para, depois, revendê-las a uma A senhora Engrácia Cardoso é uma referência de mulher empresa com a qual fixou contrato nesse sentido. Mas talhada no co­mércio informal. Com 40 anos de ida­de até lá, há ainda os motociclistas, aqueles que se fazem e mãe de cinco filhos tem uma fisionomia juvenil. É transportar sobre moto­rizadas de três rodas, que levam zungueira há cerca de 20 anos, e explica porquê: “Se as gar­rafas em fardo para o comprador final. eu tivesse uma formação especializada já não poderia continuar a fazer ne­gócio, porque me sinto cansada. No passado, Emília também já re­colheu garrafas da Sei que aparentemente mostro uma outra característica lixeira. Agora não. Ela, hoje, tem o privilégio de deter mas eu sou comerciante há mais de 20 anos. Todo isto um contrato com o comprador final, re­vendendo, porque não tive oportunidade de ir à escola. Por isso, a a valores mais altos, claro, as garrafas que compra de única alternativa é fazer ne­gócio para sustentar os meus quem a re­colhe na rua. filhos”, lamentou. Assim como Simão foi influencia­do por conhecidos, Emília também se iniciou nesta actividade, através de Viúva, a mãe de cinco filhos, Engrácia Cardoso, comer- vizinhas que recolhiam as garrafas. Curiosa, questio- cializa desde cosméticos a electrodomésticos. Mesmo nou-lhes sobre o des­tino dos resíduos. Soube, então, que que já vendeu peixe e carne pelas ruas da cidade do as garrafas eram vendidas para várias empresas e que, Kuito. Mais iniciou com a actividade vendendo frutas melhor ainda, o re­sultado da venda aumentava o rendi­ e verduras. mento daquelas famílias. Se olharmos para os preços das fru­tas, verduras e Desempregada, decidiu abraçar a experiência e mantém legumes, que variam entre 50 a 100 Kwanzas, as zun- a actividade ao longo destes anos. Regra geral, depo­sita gueiras ganham regularmente cerca de mil Kwanzas de os sacos cheios de garrafas, duas a três vezes por semana. lucro do negócio. “Depende da quantia que trouxerem”, explicou, por­que “Mano, nós zungamos para não deixarmos os filhos a isso, também, vai ditar o negócio com a empresa. fome. O meu bebé, desde que nasceu, nunca provou leito Nido ou yougurt importado. Simão e Emília não são os únicos que vivem de “garrafa”. Clemente dos Santos é o motociclista, responsável pelo Vontade de c0mprar não falta mas, não tenho dinheiro carregamento de muitos sacos de garrafas. Ao ver o cres- para dar o melhor para ele”, lamentou. A experiência cimento do negócio das senhoras, viu, também, a neces- na rua leva-a a afir­mar que na vida é importante ter sidade de transportar a mercado­ria para o comprador. “Já pa­ciência e ser humilde para conseguir alcançar um tinha a moto, então, procurei clientes”. Por saco, ele cobra determinado objectivo. ‘’As vezes não vendo quase nada. cem kwanzas. Explica que, num dia, pode levar mais de Há negócios que não dão lucro e só tira­mos o dinheiro 50 sacos. “Não é muito, mas ajuda em casa”, referiu. investido”.

Debaixo de Sol ardente ou da chuva encontramos em 3.11 A luta pela sobrevivencia nas ruas varias esquinas da cidade do Kuito os vendedores ambu- do kuito lantes. Ao contrário dos ambulantes da cidade capital, Jornal o pais Luanda, no Kuito as zungueiras não são importunadas 18 de Novembro de 2011 pela polícia, nem pelos fiscais. Exer­cem a actividade desde as primeiras horas do dia até ao anoitecer. O dia-a-dia das nego­ciantes ambulantes, zungueiras, inicia às seis da manhã. O objectivo é “comprar negócio” As ofertas no negócio de rua são – várias, dependen- nos comerciantes grossistas ou retalhis­tas no centro da tes somente da necessidade do comprador. Para quem cidade. O género de negocio varia da capacidade finan- pretende comprar banana, tomate, a batata-rena e ceira da zungueira. Cosméticos, rou­pa usada, legumes, doce, abacate, manga e cebola, é só ficar à porta de Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 35 casa e esperar pelas zungueiras. Os produtos do campo Outro exemplo é o adolescente de 4 anos,..Aurélio vêm preferencialmente dos municípios do Chinguar, Bunga, que com um carro de mão vende desde pilhas Kunhinga, Katabola, Andulo, Kamacupa, Chitembo, a bisnagas de perfumes e todo o tipo de cosméticos Nharea e Kuemba. baratos. Aurélio não es­tuda e diz que com o negócio consegue suprir as suas necessidades e as da família. A cada dia que passa a sede capital é invadida por mais vendedoras e ven­dedores ambulantes, vindos do inte­ “Vivo com a minha mãe e duas ir­mãs. A minha mãe rior da província do Bié e das províncias do Huambo, desde que fiz 12 anos que não me sustenta. Tive de Benguela e Kuando Kubango. abandonar a escola para começar a vender na rua”, disse. Disse ainda que perdeu o pai na guerra do Kuito, Às doze horas, depois de passarem pelas ruas da cidade, é segundo lhe conta a mãe. As minhas irmãs de seis e sete notória a pre­sença em massa das zungueiras pelos largos anos não vão a escola, porque a mãe não as registou e diz do Jardim da pouca-vergonha, largo da Shell e diante dos não ter dinheiro para pagar os estudos das filhas. bancos co­merciais. Para essas mulheres a refeição de­cente é o jantar, que normalmente é um funje com lombi (ervas “A minha mãe não trabalha. De tempo em tempo faz ou folha de tubérculos). serviço de car­tar água ou deitar o lixo de certas casa para conseguir SO ou 100 kwanzas. Eu consigo ganhar, por “Quando saímos de casa de manhã cedo mal nos ali- vezes, mil Kwanzas por dia, e dá para comprar comida mentamos. De tarde compramos um pão e comemos para casa”, desabafa. as­sim, sem nada. Ao cair de noite com­pramos lombi e tuba para o jantar. Quando temos lucro compramos As dificuldades e os motivos que le­vam crianças a um pouco de peixe”, lamentou envergo­nhada a senhora comercializar nas ruas da cidade do Kuito são varios. Jamba, vendedora de fruta Crianças alimentam famílias Mas a falta de emprego para pais e jovens é a que mais zungando. faz crescer o número de crianças a zungar pela cidade.

A exploração do trabalho infantil é muitas vezes incen- tivada pelos pais, que no desemprego incentivam os 3.12 Os desafios das zungueiras fi­lhos a exercer alguma actividade que dê algum benefí- Jornal o pais cio financeiro para a família. As crianças fazem de tudo 18 de Novembro de 2011 um pouco, até imploraram aos clientes para que lhes comprem algo e poderem regressar à casa com algum As mulheres vendedoras de rua na província do Bié não dinheiro que é o pão da família. diferem mui­to, na sua forma de comercializar os produ- tos, em relação às das restantes províncias do País. Talvez Este é o caso do pequeno Artur Cas­sapa, que todas as a sua ca­racterística humildade e paciência na decisão manhãs saem de casa com roupa usada para comercia- do cliente para comprar um determinado produto lhes lizar nos bairros da cidade do Kuito. En­contramos o especifique na actividade do comércio ambulante. menino junto ao largo do Governo da província, onde nos con­tou que os pais e a mãe são desem­pregados. A vendedora ambulante na cidade do Kuito comercia- ‘’A mãe é que mandou vir vender. liza, como tantas outras, vários artigos, que vão desde os vestuários aos materiais de cozi­nha, passando pelos Ela ficou em casa a lavar a roupa, mais sempre me frutos, legumes e outros alimentos frescos como carnes manda vender. Hoje ainda não vendi nada, porque as e peixe. pessoas não estão a gostar da roupa. Dizem estar muito usada e suja”, disse. A zungueira faz a venda de produtos a retalho nos mer- cados municipais e paralelos. Expõe as mercadorias ao Artur conta que os pais são desem­pregados. A mãe faz ar livre, no chão ou em bancadas impro­visadas para biscates, carta água e lava roupa alheia em casa. “O meu atrair os compradores. pai, desde que saiu das FAPLA não tem emprego. Bebe muito e não faz nada”, lamentou. Ao amanhecer de cada dia, é visí­vel desde o interior da cidade até às zonas urbanas de cada município, Assim como o pequeno Artur, ou­tras crianças são vistas in­cluindo a capital provincial, a marcha das mulheres no a zungar pelas ruas da cidade do Kuito e acusam os pais Bié. Na região cen­tro do País, as mulheres ambulantes de serem os mandatários dessa actividade. Uns estudam levantam -se às 5 horas da manhã para começar a pre- e outros não. parar a casa para depois partirem à compra do negócio que elas pretendem. Começando pelas mulheres vende- Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 36 doras da zona rural, que expõem as suas mercadorias Acrescentemos agora ao panegírico relato descritivo o nas beiras das estradas, esperando pelos viajantes que que vale a pena dizer agora, como o facto de o am­plo des- circulam em carros pró­prios ou em táxis, para a compra campado ter recebido, não faz muito, o Chefe de Estado dos seus produtos. Com os filhos às costas colocam os para assinalar o lançamento de todo o vasto plano de seus produtos nas bacias, tigelas e baldes para melhor requalificação do município onde o Roque Santeiro se acomodação. Entretanto, nas zonas urbanas as comer- instalou, como brincadeira séria, nos idos de 80. Vai ciantes ambulantes, começam a sua actividade a partir nascer uma nova terra, um novo mundo, com sonhos das 6 horas da manhã, com as bacias de legumes e caixas melhora­dos e de conquista, diametralmente opostos à de frescos á cabeça, entram de quintal em quintal com estreiteza daqueles pensa­res que mostravam o caótico um andar e falar humildes que as caracterizam, pergun- lugar de trocas mercantis como um valor em si mesmo. tando, muitas vezes na língua Umbundu, aos respecti- O país suplantou-se, avançou futuro adentro e esta- vos moradores o que pretendem comprar. beleceu patamares, mais altos e mais ambi­ciosos, para que dele se orgulhem os ‘ seus filhos. Nascerá assim, no Ao contrário de outras regiões, onde as zungueiras velho terreno hoje povoado de vazios re­petidos, fogos cantam gritando os seus produtos para o conhecimento habitacionais de qua­lidade soberba. Para que a memória de quem até esteja distraído, as mu­lheres ambulantes do Roque se afunde com tudo o que produziu de des- nesta região tem a sua metodologia especial de chamar a prezível nos longos anos que por ali andou. Mas que, atenção dos seus clientes. De rua em rua, em cada olhar ao mesmo tempo, os vitoriosos do lugar – sobretudo uma pergunta ou um esclarecimento sobre o produto aqueles filhos de nin­guém que se fizeram homens com que leva à cabeça para qualquer ci­dadão. os proventos do Santo milagreiro – se lembrem um dia, quiçá morando nos novos arranha-céus, que começou Quem vive na cidade do Kuito aper­cebe-se da presença ali a sua saga. de mulheres que vendem de tudo um pouco, encon­trando nesta actividade a sua forma ideal de sobreviver ao invés de entrar para outros vícios que destroem a vida e ferem a moral. 3.13 Mercado informal domina Luanda… As vendedoras ambulantes resi­dentes na periferia da Jornal semanario factual capital do Kuito, que é uma cidade pequena com- 19 a 26 de Novembro de 2011 posta pelas comunas do Cunje, Trumba, Cambândua e Chicala, levantam-se às 5 horas da manhã e com filho Sempre se soube que a actividade comer­cial obedece a às costas começam a sua jornada laboral. fizeram ao re­gras, ou seja, tem de se pautar pela legalidade. espaço, mostra hoje como a vida nem sempre precisa de No entanto, devido a vários factores, a maioria dos quais ser estáti­ca ou agarrada a velhas rotinas. tem a ver com a carência de emprego e com a avidez em obter dinheiro diariamente. Contrariamente a outros Pertencerá pois a um passado sem volta tudo o que expe- empregados da Função Pública, o mercado infor­mal vai rimentámos como sensação, bom de recordar na última tomando o lugar do mercado legal, sem que se apliquem oportunidade que a ela nos referiremos. Escrevemos, mecanismos de dissuasão. então, na visita nostálgica: “Como nas horas seguintes às grandes devastações re­sultantes da incrível força da Até então, tudo parece claro, porque vender bens ali- Natureza -terramotos, vulcões ou tsunamis -, o silêncio mentares ou domésticos é normal, mas, dentro da lega- e a sensação do tempo que pára deixando atordoados lidade, seria ainda me­lhor, pois, desse modo, o Estado lugares e pessoas, é o que há como novidade central poderia arrecadar milhões de Kwanzas para investimen- quando se volta à grande par­cela de terreno que durante tos no sector social, essencialmente. anos foi o mercado Roque Santeiro, no coração do Sambizanga, em Luanda. De facto, em qualquer país, há o mercado oficial (o que paga impostos) e o informal, ou seja, fora da lei (que não “Atracção fundamental do bairro que tem também paga impos­to). ícones como o es­tádio Mário Santiago e o grupo carna­ valesco União Operário Kabocomeu, mas igualmente Neste caso, os merca­dos informais acontecem sempre onde muitos emblemas _ imateriais como a fama da sua margi­ a anarquia é reinante, em que as forças da ordem não inter- nalidade, custa crer que o Roque Santeiro teve um fim vêm e a venda de qualquer coisa é a principal actividade. e, com ele, o eclipsar de todo o seu buliçoso quotidiano de vendas, revendas, favores, traições, conflitos e demais Ao falar-se, principal­mente, de Luanda, pode dizer-se catálogo de peque­nos e grandes actos da sociologia de que a cidade é do­minada pelo mercado informal que massas tornados desafios difíceis de descodificar”… abarca quase metade da sua população, num universo Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 37 de seis mi­lhões de habitantes. sentes em tudo quanto é canto. Só para citar alguns lo­cais, Luanda dorme e acorda ao Para ordenar o merca­do informal, a solução seria a ritmo dos mer­cados informais, com a aglomeração de criação de fábricas e de outros investimentos em aldeias vendedo­res, muito cedo ou até de madrugada, nas ruas, ou povoações do país, quer dizer em comunas, onde os nos passeios e mesmo ao lon­go das estradas, dificultan­do serviços para os moradores inexis­tem. o trânsito automóvel e perigando a vida de vende­dores distraídos com o dinheiro à mão. Sendo assim, o opor­tuno seria a criação de mais mer- Quem segue para vila de Viana, a primeira sen­sação cados longe da cidade de Luanda, como em Catete, na que sente é o movi­mento de centenas de vendedores em Funda, em Cabolombo, nos Zangos, em Viana, e no ambos os lados da via, onde tudo comercializam: cerveja, Benfica, no município da Samba. re­frigerantes, utensílios do­mésticos, água engarrafa­da, latas com diversos pro­dutos, enfim, um mar de gente Porque a permanecer assim, o aspecto urbano de Luanda vai que pulula à coca de clientes. piorar de dia para dia, nada valendo a requalificação que vem sendo feita em diversos dos seus municípios, e ma­tando a Perguntar-se-ia por que esses vendedores não fa­zem a sua cançoneta que um dia foi feita para elogiar a capital como “ actividade nos locais determinados, co­mo praças, mercados linda e de bem-querer, hei-de amá-la ate morrer... le­gais e afins, e porque pre­ferem a rua para a venda de mercadorias? Um dos factores tem a ver com a exiguidade dos merca- 3.14 Aposta no meio rural «presa» no dos oficiais exis­tentes que não conseguem abarcar mais papel de mil vende­dores, como os do Panguila e do Kikolo Jornal angolense (em Cacuaco), dos Kwanzas e do Asa Branca, no muni- 19 de Novembro de 2011 cípio do Cazenga, o dos Congoleses, no Rangel, e o da Praça Nova e o da Sanzala, no município de Viana. O ordenamento rural de que tanto fala o empresário Manuel Monteiro, muito em voga nos dias de hoje, Esses mercados ofi­ciais, embora de dimen­são razoável, visa, grosso modo, assegurar a requalificação da vi­da estão longe de satisfazer a demanda, e a sua localização no campo. Um dos pressu­postos do Plano de Desenvol­ também não é agradável por mo­tivos como a falta de vimento Económico e Social de Benguela (2009/13), ma­nutenção e o lixo acumu­lado sem recolha cons­tante, traçado na era Dumilde Rangel, a requalifi­cação da fazendo chiqueiro principalmente quando chove. vida no meio rural ins­creve a construção das chama­das «Aldeias Rurais», um mo­delo importado do Brasil. Basta Um das melhores me­didas tomadas pelo Go­verno recordar que a iniciativa terá como suporte o já conhe- Provincial de Luan­da foi a transferência do mercado do cido Programa de Requalificação do Gado Tradicional Roque Santeiro, no município do Sambizanga, para o e Empresarial, que prevê o relançamento do sector novo mercado do Panguila, em Cacuaco, em 2010. agro-pecuário. É, está visto, uma clara demonstração Mas, este não pôde, igualmente, absorver o grosso do papel que as «fazendas da desilusão» podem jogar dos vendedores saídos do Roque Santeiro, que era um quando darem o ar da sua graça, até pelas perspecti- mercado com o “cancro” de montanhas de lixo e de vas que apontam para a recuperação do parque Pecuário porcaria. dilacerado pela guerra.

Porém, é preciso atri­buir o comércio informal ao êxodo Com uma população animal não superior a duzentos causado pelo conflito armado que “em­purrou” para mil bovinos, na sua maioria pertencentes a criadores Luanda mi­lhares de migrantes, a maioria de aldeias e tradicionais, a província de Benguela perdeu, indicam de povoações onde as carên­cias são várias, com falta de dados oficiais, 1 milhão e quinhentas mil cabeças, a cifra energia e de água po­tável e onde a aquisição de dinheiro que se quer resgatar. Por ora, o dado a reter é que o gado é difícil. im­portado teve uma adaptação bastante satisfatória. É verdade que houve uma ou outra morte, mas o balanço Daí verificar-se o esta­do caótico do centro e da perife- das cinco fases de importação deixa antever um futuro ria da capital, onde em cada esquina e ruas vendedores promissor. Conhecedor do projecto de repovoamento, permanecem horas e horas a vender produtos de toda a Alegria Agostinho, chefe da área técnica dos Serviços espécie. Veteri­nários, declarou que as caracte­rísticas das duas regiões – An­gola/Brasil – são semelhantes, embora se E o pior é que ninguém põe mão nisso, tornando a reconheça que a adaptação não é igual. De acor­do com cidade de Luanda suja, cheia de sacos de plástico vazios o veterinário, a criação desta raça, forte em termos de a esvoaçar, mistu­rando-se ao pó e à água podre já pre- massa corpulenta, exige rigor na aplicação de métodos Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 38 cientí­ficos e mecanizados. «Estes animais dão uma diver- lhos, escovas, materiais eléctricos, tapetes e mui­tos sidade de produtos pecuários, com realce para a carne, outros artigos constam da lista dos produtos dos quais mas nem tanto o leite. Portanto, o mais importan­te é se faz acom­panhar o jovem Kafukila, sempre atento a que estão adaptados, com pasto e água à disposição», uma chamada. re­sumiu. Já o Engenheiro Fernan­do Pacheco, especia- lista em desenvolvimento rural, adverte que, mais do Ele diz que gasta mais de mil dó­lares na compra dos que as estratégias a seguir para o relançamento da pecu- vários artigos que transporta. Sempre que é possí­vel, o ária, que incluem a impor­tação, a generalização e o mel­ jovem recorre aos armazéns nos bairros Hoji ya Henda e horamento do gado tradicional, todas elas carregadas de São Paulo para compra de novos produ­tos, com o objec- vanta­gens e desvantagens, a classe empresarial deve ter tivo de evitar a ro­tura. Kafukila diz que os morado­res em aten­ção aspectos como a comida, a água e as técnicas de condomínios em Viana, Quinhentas Casas e Luanda de pasta­gem. Sul são os potenciais clientes.

O antigo presidente da ADRA fez este pronunciamento Para Kafukila, a confiança nesta actividade é fundamen- tendo como paradigma a cres­cente necessidade de pro- tal, por isso não rejeita os kilapes (dívida). “Com o kilape, dutos pecuários num país com um «pobre» rebanho, procuro obter mais lucros. A solução é ter dinheiro pa­ra constituído por pouco mais de 4 milhões e quinhentos dar continuidade ao negócio, enquanto aguardo que mil bovinos. Sob olhar atento de centenas de criadores paguem a dívi­da”, afirma Kafukila. Norberto Kafukila e governantes, o agró­nomo alertou que a prioridade relata que começou a ven­der nas ruas de Viana com um deve passar por estes factores, regra geral ofuscados por carro de mão. Cinco anos depois, com­prou uma moto ho­mens do sector empresarial, e só depois surge a escolha de três rodas. O sol era o pior inimigo de Kafukila, mas da ra­ça do boi. «Qualquer uma das opções, incluindo o sempre foi persistente e volvidos seis meses, comprou melhora­mento do gado tradicional, tam­bém chamado outra com ca­bine, o que lhe permitiu trabalhar com indígena, deve passar pelo conhecimento da história mais comodidade. da veterinária no país», vincou. Segundo Fernando Pa­checo, não há desenvolvimento da actividade pecu- A nova moto, de marca Bandex, custou-lhe 2200 ária sem o domínio das técnicas de pasta­gem, mesmo dólares. Norberto arrecada diariamente com as ven­das com a carteira de 350 milhões de dólares americanos 15 a 20 mil kwanzas. que o Governo, por via do Banco de Desenvolvi­mento Angolano (BOA), ten­ciona financiar projectos agro-­ O exercício desta actividade permite-lhe sustentar a pecuários. Sugeriu, por outro la­do, o reforço da parce- família, composta por esposa e dois filhos e garantir ria público-privado, investimentos na or­ganização de os seus estudos e da companheira. Diz que o segredo empresas e, a fa­zer valer a velha máxima de que «a união do seu sucesso consiste na paciên­cia, persistência, espe- faz a força», a criação de associações. rança e capacidade­ empreendedora, quali­dades, no seu entender, que devem nortear os jovens, muitos dos quais com grandes potenciais. Para Kafukila, os jovens devem 3.15 A persistencia de um abra­çar os bons exemplos e, em caso de necessidade, empreendedor que garante a solicitarem ajuda aos amigos, à família ou a uma outra subsistencia da familia pessoa que, às vezes, estão pron­tos a apoiar o necessi- Jornal de Angola tado. Reco­nhece que inicialmente tudo pare­cia difícil e 24 de Novembro de 2011 todas as tentativas são válidas desde que não se atrope­ lem as normas de um comporta­mento digno e irrepre- Norberto Kafukila, de 24 anos, afirma que os jovens ensível. Ka­fukila recorda-se que para arran­car o negócio devem ser empreendedores e desenvolver actividades que recorreu a um em­préstimo de 30 mil kwanzas a um tio, garantam a sua subsistência. importância que foi devolvida quatro meses depois.

Ele faz venda ambulante e recor­re a uma moto com três Um estabelecimento comercial para vender os seus pro- rodas como seu ganha-pão. dutos, al­ternativa para pôr fim às longas caminhadas em busca de clientes, e uma formação superior no domí­nio Estudante nocturno da sétima classe, Norberto Kafukila da electricidade industrial são os dois maiores sonhos circula em vários pontos e artérias do município de Viana que perse­gue 00 jovem empreendedor. à procura de possí­veis compradores dos seus múlti­plos produtos que enchem a sua carroçana.

Vassouras, baldes, correntes para cães, fita-cola, espe- Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 39

3.16 Embarcações a preço elevado 3.17 Conselho regional traça estratégias Jornal o pais para disciplinar venda informal 25 de Novembro de 2011 Jornal de Angola 24 de Novembro de 2011 Apesar de os integrantes da coopera­tiva e outros pes- cadores, que se dispo­nibilizaram a abraçar a causa do O Conselho Regional Sul de Me­dicina Natural e cen­tro estarem empenhados na defesa dos ideais da Tradicional (CON­MENTA), na Huíla, está a definir organização, ao ponto de aconselharem os demais a estratégias para disciplinar a acti­vidade dos vendedores aderirem as novas políticas de venda, o desejo de verem ambulantes de medicamentos naturais e tradi­cionais. actividades facilitadas, prin­cipalmente no que respeita à A informação foi avançada ontem, no Lubango, pelo aquisição de meios de trabalho, já foi posto «à prova de coorde­nador regional do Conselho de Me­dicina Natural bala» com a chegada de no­vos meios de trabalho. e Tradicional, Ma­teus Vicente.

Trata-se de seis novas embarcações e sete motores de Mateus Vicente esclareceu que, neste momento, estão a marca Yamaha com referências 25 e 40. Mas o que pre­ sensibilizar os praticantes do sector a aderirem à associa- ocupa os filiados é o preço canoas de cor de laranja e ção de ervanários, de par­teiras tradicionais e vendedores vermelha orçadas em três mil e 500 dólares, segundo de medicamentos naturais. dis­se uma fonte, que demonstrou a sua indisposição para comprar uma delas. “Em condições normais nós O conselho está preocupado com elevado número de compra­mos embarcações média mil e 500 e ~ grandes pessoas que vendem medicamentos de origem natural entre dois ou 2.500 dólares. em locais impróprios. Mui­tos deles comercializam pro- dutos nas ruas e mercado informal e, em alguns casos, Valendo-se da experiência que tem na aquisição dos passam receitas mé­dicas, sem estarem devidamente referidos meios, o pescador não teve receio de dar a sua credenciados. proposta monetária para as barcas aí colocadas. Para ele, custam entre USD 1.500 a 1.800, já que nenhuma delas “Os vendedores de medicamen­tos na rua não são espe- possui mais de seis de metros de com­primento. cialistas em medicina natural. E aproveitam o desconhe- cimento das pessoas para passar receitas aos pacientes À semelhança de Cataya Charruage, um outro entrevis- sem a – dosagem ideal para o tratamento das doenças”, tado de O PAIS espe­rava que o centro facilita os pesca­ frisou. dores a comprarem o combustível no bairro com a cons- As receitas passadas pelos ven­dedores ambulantes estão trução de um posto de abastecimento. na base do aumento dos casos de intoxi­cação por medi- camentos naturais ou tradicionais, que aparecem nos Tal expectativa o havia obrigado a perguntar sobre o hospitais espalhados pela provín­cia da Huíla. assunto ao pesso­al da Direcção Nacional das Pescas, de quem assegurou ter recebido a pro­messa da instalação de Mateus Vicente disse que o con­selho de medicina natural um posto den­tro das infra-estruturas do centro. está a reforçar a parceria com os órgãos de c fiscaliza- “Mas pelo que vemos isso não vai ser agora”atirou, ção da actividade económica e com a direcção provin- lamentando o facto de ainda terem de percorrer distân- cial r da Saúde, para o reconhecimento c da actividade cias para conseguir gasolina ou gasóleo. médica naturista. Como parceiro da direcção provincial da Saúde, o conselho regional quer ajudar as autoridades A fonte calculou os gastos do pescador que comprar os a controlar a importação e exportação de medicamentos novos meios em mais de 10 mil dólares., repartidos em tradicionais. Prevê também emitir pareceres n sobre a três mil e 500 da barca e os mais de quatro mil do motor, qualidade dos fármacos importados e exportados. Huíla que já obri­gou alguns pescadores a pagarem uma pri- é considerada, a nível do país e de Africa, como um dos meira comparticipação de 60.589 Kwanzas, para além berços da medicina na natural, pelas potencialidades da do combustível de cada empreitada de pesca. sua flora, rica em plantas curativas. Por isso, assegurou, os membros do ri conselho estão preocupados com a n exploração das ervas vendidas, dentro e fora do país, por cidadãos nacionais e estrangeiros, sem benefícios para a província. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 40

do estado operam preços aces­síveis ao bolso do consumi- 3.18 Venda na praia só com higiene dor, de modo a ter a fruta todos os dias a mesa. A maior Jornal o pais parte dos produtos é vendida a 100 Kwanzas como valor 25 de Novembro de 2011 mais baixo e 500 Kz o valor mais alto, deixando as cadeias alimentícias sem oportunidade de concorrência. Aos pescadores que não aderirem às políticas do centro, os responsáveis reservam -lhes responsabilidades acresci- Este cenário tem se registado em to­das as lojas de refe- das no que toca à disposição das condições de higiene do rência na baixa da cidade. O aglomerado de senhoras produto e do lugar para venda. a expor produto na entrada ou arredores das mesmas “Quem não quiser vender o seu peixe aí no centro é suscita atenção dos que frequentam o estabelecimento livre de o fazer na praia, mas terá de reunir as con­dições com­ercial, apesar de ser uma concorrência desleal elas de higiene a serem recomen­dadas por especialistas da conseguem sair dai todos os dias dependendo das vendas institui­ção”, avisou um dos dirigentes da cooperativa de com mais de dez mil Kwanzas. pescadores mais a sul do então município da Samba. Para controlar e responsabilizar os indivíduos que não Muitas destas mulheres sofridas, com maridos desem- cumprirem com as recomendações higiénicas, estará pregados, optaram pela venda ambulante de forma a todos os dias à beira-mar uma equi­pa de fiscalização oferecer a família o sustento diário. autorizada para multar os prevaricadores, apreender e repreender os vendedores. Conseguem com o que ganham formar os filhos, prepa- rando-os para o futuro. A maior parte delas, tem idade Questionado se com esta medida não se estaria a obrigar com­preendidas entre os 18 a 40 anos de idade, falaram indirecta­mente que os pescadores depositem o seu a nossa reportagem das dificuldades que atravessam em pescado no centro, o responsá­vel da cooperativa recusou casa e na rua “zunga”. Marcelina de 19 anos de idade, a política de obrigação aos profissionais, mas reconheceu esposa de Francisco de 27 anos deidade, cunanga, está que vai ser muito difícil os seus colegas reunirem con- na zunga a dois anos, para ajudar o marido e apoiá-lo dições de sanidade requeridas pelo estabe­lecimento com na compra de um emprego. “Tal como tem sucedido no equipamentos e pes­soal especializados para tratamento, nosso país”. conservação e venda dos produtos marinhos. Já tia Maria, com muito orgulho diz que, com o que Quanto às políticas do centro, o responsável corrigiu a ganham conseguiu in­gressar o filho na faculdade, “mano tendência dos insatisfeitos em ressaltarem mais a venda jor­nalista apesar de que o nosso país não estar bom, com do peixe, tendo adiantado que a organização surgiu par este trabalho consegui meter o meu filho na faculdade facilitar a conservação dos produtos da pesca e formação embora ser muito difícil” comentou com entu­siasmo. de alguns cursos, como os de electricidade, técnica de frio, me­cânica e outros ligados à área social. Das dificuldades apresentadas, o ar­rendamento é o maior problema delas, embora Josefina Abreu construiu com o dinheiro da zunga e hoje é senhoria, “para conse- 3.19 Venda ambulante de frutas guir o que tenho hoje tive que passar por muitas dificul- atrapalha lojistas dade, até mesmo viver no quintal da minha sogra, hoje Jornal folha 8 tenho casa na renda, mais mesmo assim vou continuar 26 de Novembro de 2011 na zunga até não poder mais” explanou.

A “Inconsistência das políticas para a redução do elevado Notando o entusiasmo das bravas mul­heres, a nossa índice de desemprego conti­nua a ser o principal motivo reportagem perguntou se elas passam o testemunho do que está a levar milhares de jovens à prática de venda ofí­cio aos filhos. Pelo que, nos depara­mos com Augusta, ambulante. O mesmo regista-se com as vendedoras de universitária de 22 anos de idade, vendedora aos 16 frutas que invadem as portas das lo­jas para comercializar. anos e incentivada pela mãe. “ Comecei a vender por influência da minha mãe, vi a necessidade de começar Nas prateleiras de diferentes super mercados encontra- a comprar as minhas coisas e comecei a vencer loengo. mos oscilação de preços das frutas, as mais consumi- Hoje vendo de tudo um pouco e consigo pagar os meus das são a maçã verde, maçã vermelha, pêra pacman, estudos”. pêra rocha, tangerina, laran­ja, limão, melancia, manga, mamão e a banana, que ronda entre 182 a mais acessível Os que praticam a venda ambulante, se­gundo eles (mamão) e 820 Kwanzas como mais caro (banana). Já a afirmam que é possível mel­horar a vida, mas só com concor­rência, que não contribui para a receita do cofre muita força de vontade e responsabilidade. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 41

Caso de Augusta. A jovem, há cinco anos dedica – se a Em quase todos os edifícios do São Paulo, incluindo nos vender nas ruas da cidade de Luanda, consegue projec­ arredores do Cine com o mesmo nome, as zungueiras tar o futuro diferenciado das demais. Deslumbrou – en­contram-se apinhadas, fa­zendo-se transportar com os me o meigo sorriso a referir da vaidade das outras e o seus bens de comércio. re­tardo do futuro. Fez – nos recordar que para isso teve de deixar para trás algumas amizades, incluindo a de O mau estacionamento facilita a imundície de muitos pessoas que cresceu com ela. Com o que ganha, além de vendedores, pois onde houver viaturas esta­cionadas tem- pagar os estudos, ajuda a faml1ia na compra de material porariamente lá haverá zungueiras a fugirem do solou escolar para irmãos e os grifes. “Sou a segunda filha e usarem para o encosto das suas mercadorias. Com muita tenho a responsabili­dade de ajudar os meus irmãos com facilidade, acabam por fa­zer necessidades menores sem a o que ganho, não posso perder o juízo como o outro que mínima preocu­pação com o público, ati­tude semelhante só bebe e rouba por não ter emprego”, disse. à dos taxistas.

Os pequenos buracos entre os entrocamentos criam 3.20 Sambizanga com ambiente congestionamento do tráfico automóvel e afunilam- nauseabundo -nos para se tor­narem em charcos quando as águas jornal semanario factual saem dos esgotos, por sinal entupidos, a escorrem às 26 de Novembro a 06 de dezembro de 2011 estradas da rua Ngola Kiluanje, pas­sando pela Rádio Eclésia até à Edel. Por falta de balneá­rios públicos, de organização dos espaços de vendedores ambulantes, a não-determi- A comissão do bairro, contactada pelo Factual, mos- nação fixa de paragens de táxi, ineficiente fisca­lização trou-se indisponível. Este é mais um dos casos de saúde da Polícia, mau estacionamento, edifícios cujos pilares ambiental e re­quer uma resposta das au­toridades, dada apresentam ruídos, a existência de buracos nas estradas, a preocu­pação dos moradores que esperam as mãos dos as­sociada à circulação frenética de pessoas, a zona de novos­ governadores de Luanda. São Paulo tem um estado nauseabundo há mais de três meses. 3.21 Inaugurado mercado na cela Os moradores apon­tam a falta de higiene dos agentes jornal de Angola da protecção físi­ca, zungueiras que prefe­rem as portas 30 de Novembro de 2011 das lojas por debaixo dos edifícios, lava­dores de carros e taxistas que urinam, desavergo­nhadamente, em plena O novo mercado municipal da Cela, na cidade do Waku es­trada sobre os pneus de viaturas, assim como a putre- Kungo, no Kwanza-Sul, com capacidade para 1.600 facção das latrinas e de água dos esgotos que não sofrem vendedores, entrou em funcionamento no sábado. sucções por falta de recursos finan­ceiros. Erguido pela empresa construto­ra angolana Ancon- Marilda Antunes, moradora há 30 anos, fez saber que construções, no prazo de 12 meses, a obra foi inau­ o problema do cheiro nauseabundo no São Paulo não gurada pelo governador da provín­cia, Serafim do Prado. constitui um problema novo, pois, na maioria dos edi- ficios, além da falta de elevador, regularidade de energia Construído no âmbito do Progra­ma de Investimentos eléctrica, a água já não so­be às canalizações domés­ticas. Públicos (PIP), o novo mercado da Cela está im­plantado Deste modo, muitos são os moradores que jo­gam urina numa área “total de 15 mil metros quadrados e custou das escadas a baixo, água suja e dejectos das crianças. aos co­fres do Estado um montante de 1,5 Milhões de dólares. O estabeleci­mento dispõe de diversas lojas, res- “As valas de esgotos estão quase entupidas por falta de taurantes e bares, sete armazéns, quatro câmaras frigorí- uma limpeza regu­lar. Algum trabalho de lim­peza para ficas para a conservação de peixe, carnes, fru­tas e horta- evitar o cheiro é feito de forma isolada e particular, em liças, quiosques, bouti­ques e 302 bancadas. Conta ainda vez de con­gregar diversos moradores de cada edifício. com parque de estacionamento e um grupo gerador para Demons­tra-se, assim, negligência à pureza ambiental garantir a corrente eléctrica aos vários servi­ços ali presta- em qua­se todo o São Paulo. As zungueiras são outras dos. O governador Se­rafim do Prado louvou o empenho “porcas”, vendem e uri­nam por baixo dos edificios, onde demonstrado pela empresa constru­tora que, apesar dos comem e dei­xam o resto. Deste modo, estamos todos constrangi­mentos conjunturais, honrou o con­trat9 cele- condena­dos ao mau cheiro”, as­severou. brado com o governo. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 42

“E, de facto, um momento de ale­gria por ter chegado o dia da inauguração do mercado municipal da Cela, há muito esperado pelas po­pulações locais e não só. As portas estão­ abertas e a responsabilidade cabe a todos os munícipes, para que os vários equipamentos aqui colo­ cados durem por muito tempo”, fri­sou. Cecília João, vendedora de hor­taliças e outros produtos há três anos, manifestou a sua alegria por ter con­seguido um espaço que lhe permite exercer a actividade em óptimas con­ dições de higiene.

“Estou contente porque agora vou vender numa bancada limpa e com abrigo contra o sol e chuva”, disse. Rita Domingos conseguiu uma boutique e afirmou estar alegre. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 43

das reclamações por parte de certos deputados sobre 4 OGE INVESTIMENTOS a decisão do então Ministro das Finanças, Joa­quim David, de aumentar os preços dos combustíveis. Fez-se PUBLICOS E um tal es­carcéu no Parlamento, que só faltou ouvir-se pedir o linchamento públi­co do Ministro... TRANSPARENCIA 6. Os deputados esqueceram-­se que tinham sido eles próprios a analisar, discutir, votar e aprovar o OGE. Implicitamente, tinham aprovado o aumento dos preços 4. 1 OGE E a linguagem dos números dos combustíveis que estavam, então, a questionar. E Jornal semanario angolense não foi justo recorre­rem a desculpas pois, que eu saiba, 03 de Novembro de 2011 em momento algum da nossa histó­ria parlamentar se terá quebrado a disciplina de voto na bancada parla­ 1. Todos os anos, mais ou me­nos por altura do mês de mentar do partido maioritário. Novem­bro, a Assembleia Nacional discute a proposta de Orçamento Geral do Estado que lhe é remetida pelo 7. Ainda a propósito do nosso OGE, vale a pena referir Go­verno. Para muitos, trata-se de um mero ritual, de outro facto que também reputo de interessante. No dis- um simples exercício de retórica, já porque as oposições curso proferido em sessão so­lene do Parlamento, no dia com assento parlamentar não têm condição efectiva para 18 de Ou­tubro, sobre «o estado da Nação», o Presidente influenciar o resultado final – tal é a disparidade dos José Eduardo dos Santos realçou o facto de o OGE 2012 assentos entre os representantes do partido que suporta pre­ver receitas e despesas na ordem dos 3,5 triliões de o Governo e os das oposições. kwanzas. Constatou-­se, porém, agora, que o documento que foi efectivamente apresentado ao Parlamento aponta, 2. Mesmo assim, não é aconse­lhável perder de vista que sim, para re­ceitas de aproximadamente 3,7 bili­ões de o Orça­mento Geral do Estado é um dos principais ins- kwanzas (excluindo os finan­ciamentos dos activos) e trumentos de política, e que é por seu intermédio que os despesas na ordem de 3,4 biliões de kwanzas (excluindo políticos procuram pôr em prática muitas das suas ideias os compromissos com a amortização da dívida e a e materiali­zar os objectivos que perseguem. O OGE constitui­ção de activos), deixando, por isso, uma clara define, pois, uma determinada concepção do Estado, folga orçamental capaz de ser fundamentalmente direc- assim como as prioridades da governação, em cada cionada para a redução da nossa dívida pública. Uma momento. Intrinsecamente é, pois, através da estrutu- dívida pública que diz-se estar situada na redondeza dos ração desse instrumento da política orçamental que se 35 mil milhões norte-americanos, o correspondente a perspectiva o desenvolvimen­to económico e social. 38.2% do nosso Produto Interno Bruto.

3. O OGE é um volumoso ca­lhamaço que vai parar 8. Embora seja demasiado im­portante a ordem de gran- às mãos dos deputados para o analisarem, dis­cutirem deza dos valores orçamentados e, sobretudo, se vistos e, depois, aprovarem em versão final. Trata-se, segura- numa perspectiva relativa 1 ou seja, comparados uns mente, de um exercício maçudo e cansati­vo, pois que com os r outros, e até mesmo com o valor 1 global), o calhamaço vem, por norma, demasiado comprome- chamou ainda assim a minha atenção a terminologia tido com muitos números que expres­sam a afectação usada pelo Presidente da República não sua alocução dos recursos pú­blicos, bem como as suas origens. São no Parlamento. O Presidente falou, por exemplo, em mesmo números de dimensões quase quilométricos – triliões de kwanzas quando, na re­alidade, deveria ter passe, claro, o exagero. dito biliões de kwanzas. Mas, vou explicar-me melhor, por uma questão meto­dológica e também de rigor, para 4. Talvez pelo facto desses nú­meros serem demasiado standatizarmos a nossa linguagem económica, sob pena grandes, e, também, por alguma codificação na lingua- de um dia não nos conseguirmos entender uns com gem utilizada, não poucas vezes, aos deputados menos os outros. Para alguns isto pode até parecer «um não pre­parados em matérias económicas escapam determi- proble­ma», mas, na realidade, não é. nadas mensagens, e até mesmo decisões inseridas no OGE. De tal modo que, no momen­to da sua imple- 9. Na generalidade dos países europeus, para os grandes mentação, já assisti­mos serem os próprios deputados a núme­ros, a sequência numérica é a se­guinte: milha- questionarem-nas. res, milhões, milha­res de milhões, biliões, milhares de biliões, triliões, etc. Porém, no continente americano, 5. Estou agora a recordar-me de uma situação algo cari- e à medida que se acrescentarem três dígitos, passase cata ocorrida há uns anos, quando se ouviram exalta- de milhares para milhões, de milhões para biliões, de Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 44 biliões para triliões, etc. Quer, então, di­zer que um incorrectas. mesmo número pode ler-se «mil milhões» na Europa e, 16. Se lhe dissermos a um euro­peu que a nossa dívida contudo, nos EUA, dizer-se «um bilião»; ou então, «um pública ron­da os 35 mil milhões de dólares, ele colo- bilião» na Europa, dizer-se «um trilião» no continente cará logo 9 zeros depois do 35. Se o nosso interlocu- americano. tor for norte­-americano, teremos de dizer que a nossa dívida pública ronda os 35 bi­liões de dólares, para ele, 10. Os países africanos foram co­lonizados por países então, as­sumir os 9 zeros depois do 35 – pois ele não europeus e nós, de modo algum, somos uma excep­ usa milhar de milhão, como usam os europeus (e nós ção. Por isso, o nosso sistema de en­sino ainda tem também fomos educados a usar). Para um interlocutor bem marcado tal he­rança – mesmo que, no processo brasileiro, diríamos, então, que a nossa dívida pública de reconstrução nacional, estejamos a fazer recurso aos rondará os 35 bilhões de dólares, já porque ele é ameri- mais diversos con­tributos, vindo de todas as partes do cano, tal como os norte-americanos e, além disso, cons- mundo. truiu o seu próprio português.

11. A situação fica mais compli­cada, se ainda juntar- 17. Para terminar, uma referência à actual população mos ao cocktail dos números a terminologia brasi­leira. mundial: para os europeus, somos 7 mil milhões; para Ou seja, se ao português que herdámos da colonização, os norte-americanos, somos 7 biliões; e somos ainda 7 misturar­mos o português que se fala no Bra­sil. É assim bilhões para os brasileiros. De facto, é muita fru­ta... que há entre nós quem já diga (e escreva) «bilhão» (em vez de bilião), «trilhão» (em vez de trilião), «quatrilhão» 18. Mesmo que sejamos já um fruto das várias conflu- (em vez de quatrilião), etc. ências tra­zidas pelo período pós-independência, seria bom fazermos algum esforço para uniformizarmos 12. Olhemos, pois, novamente, para o discurso do a lin­guagem. Muito em especial, quando se trata de Chefe de Estado angolano, José Eduardo dos San­tos. O números. quê que vemos? Vemos, por exemplo, que, no mesmo texto, ele usou indistintamente as duas no­menclaturas: 19. A não ser assim, um dia des­tes, Angola transforma- a europeia e a ameri­cana. E, depois, ainda mesclou tudo -se numa verdadeira Babilónia…E, então, cada um terá isso com algum “brasileirismo”, ou seja, o português do sempre que se fazer acompanhar de um tradutor ou de Brasil. um intérprete... O bom exemplo deve vir de cima, para ser melhor entendido! 13. Em certo momento, o Presi­dente disse: «O baixo custo do en­dividamento externo, combinado com a recu- peração dos preços de ex­portação do petróleo, reflectiu- 4.2 Jovens exigem esclarecimentos -se na melhoria do saldo das Transacções Correntes da sobre alegadas contas de jes Balança de Pagamentos, que evoluiu de um défice de 7 Novo jornal mil e 500 milhões em 2009 para apenas um défice de 11 de Novembro de 2011 350 milhões em 2010». Um grupo de jovens escolheu o dia 11 de Novembro 14. Descontado o facto de o Presidente se ter esquecido para realizar urna manifestação a exigir que o Presidente de mencionar a moeda a que se referia (suponho que da República, José Edu­ardo dos Santos, venha a públi­ seria o dólar norte-americano), á estava ele também a co prestar esclarecimentos sobre as alegadas contas ban- usar a no­menclatura europeia: “7 mil e 500 milhões em cárias que tem no exterior do país. A concentra­ção em 2009”. Se optasse pela nomenclatura norte-americana, Luanda está marcada para às 12hOO, desta sexta-feira, te­ria dito: “7 biliões e 500 milhões em W09”. Se, no dia em que se comemoram os 36 anos de independência. limite, ainda quisesse ‘abrasileirar” um pouco a nomen­ clatura americana, então, teria dito: ‘7 bilhões e 500 Um dos organizadores do protesto, Mário Domingos, milhões em 2009”. fá entendo o porquê de o Presidente,e disse ao Novo Jornal que o objectivo da iniciativa é pres- referir às receitas e despesas orça­mentais, socorrendo-se sionar José Eduardo dos Santos a declarar os eventuais da palavra «trilhão», tal como, afinal, falam e escrevem valores que tem no exterior. “Nós queremos que ele os brasileiros. venha a público, diante do povo angolano, falar das suas contas mi­lionárias, porque o povo precisa saber quanto 15. O assunto pode parecer sem interesse, não relevante, é que ele tem fora do país”, explicou o jovem. mas eu faço questão de lhe dar a devida impor­tância, uma vez que se, por exemplo, estivermos a falar com Mário Domingos disse ainda que se forem impedidos um estran­geiro, poderemos induzi-lo a tirar conclusões pelas forças da se­gurança vão desencadear uma série Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 45 de manifestações nos bairros. “Já estão criadas todas as condi­ções. Se formos impedidos, vamos manifestar-nos 4.3 Trinta e três porcento do oge nos bairros periféri­cos de Luanda. Estas manifestações destinam-se ao sector social vão culminar com uma concentra­ção defronte à Cidade Jornal semanario factual Alta. Estamos cansados de ser enganados, basta”, 12 a 19 de Novembro de 2011 salientou. O preço médio de exportação do barril de petróleo Segundo o jovem, foram feitos con­tactos com organi- avançado pelo Orçamento Geral do Estado (O.G.E.) zações nacionais e internacionais dos direitos huma­nos, para 2012 é de 77 dólares por barril, uma perspectiva partidos políticos e com algu­mas embaixadas acredita- relativamente conservado­ra perante actual conjuntu­ra das em Angola. internacional, cujo pre­ço médio ronda os 100 dólares por barril. Mário Domingos, de 26 anos, dei­xou claro que se trata de um pro­testo pacífico, que não recorrerá a qualquer Em contrapartida, os altos riscos e incertezas nos mer- tipo de violência. “Não queremos intrusos no nosso cados financeiros e quanto à desaceleração da economia meio como tem acontecido nas outras manifestações mundial não deixam muitas alternativas senão a fixação porque a nossa ini­ciativa é pacífica. Iremos manifes­tar de um pre­ço médio fiscal de expor­tação prudência e que sem nenhuma arma”. permita margem de ma­nobra para a gestão orça­mental.

A nossa fonte disse ainda que a realização da manifesta- O presente orçamento sofreu leve decréscimo de 4,3 ção foi co­municada ao Governo da Província de Luanda. triliões em 2011 para 4,2 triliões, mercê em parte da “Já escrevemos ao go­vernador interino de Luanda e tu­do redução do preço mé­dio fiscal de exportação. Salienta-se está preparado para no dia 11 sairmos à rua e dizermos que a perspecti­va de produção petrolífera anual passou que bas­ta de neo-colonialismo e de explo­ração”. de 620,5 mi­lhões de barris em 2011 para 662,7 milhões de bar­ris em 2012, o que reflecte sobre a melhoria da Uma outra fonte avançou que to­dos os jovens condena- per­formance do sector petro­lífero que espera crescer dos pelo tri­bunal municipal da Ingombota e posterior- no próximo ano 13,4 por­cento, enquanto o seg­mento mente absolvidos pelo Tribunal Supremo estarão presen­ não petrolífero deve crescer na ordem de 12,5 porcento tes na manifestação. “Não estamos com medo, também contra 8,1 porcento do ano em curso. não queremos novamente guerra. O nosso objectivo é que este país mude para melhor. Estamos cansados. Até O Orçamento prog­nostica, igualmente, um aumento nas necessida­des básicas temos problemas, não há luz, substancial das receitas do sector não pe­trolífero, que água e estra­das em condições, Já chega. Tudo é pa­ra ele passam de 7,5 porcento em 2011, para 12,5 porcento e a sua famí­lia?”, questionou­-se a fonte. em 2012. Relativamente às normas de execução, o OG.E./2012 reafirma o compromisso do Estado com as O mesmo grupo tem vindo a organi­zar manifestações boas práticas de gestão fiscal, de maneira a assegurar a no país. Uma delas era para pressionar o Governo no estabilidade e o crescimento sustentável da economia. sen­tido de encetar reformas democráticas e acabar com a corrupção. Numa outra manifestação, a do dia 3 O.G.E. para o próxi­mo ano prevê aumento significa- de Setembro, que resultou em vários presos e feridos, tivo da taxa de crescimento real da econo­mia, saindo os jovens reclama­vam contra os 32 anos no poder do dos 3,4 por­cento em 2011, para 12,8 porcento em 2012, Presidente da República, José Edu­ardo dos Santos. en­quanto a meta de inflação é estimada em 10 por­cento, contra 12 porcento do presente ano. . Os organizadores são, na maioria, jovens artistas e “rappers”, cuja música contesta a pobreza, a desi­gualdade As projecções para 0.G.E. 2012 indicam um cresci- social e a corrupção. Segundo um dos organizadores, a mento do Produto Interno Bruto (PIB) real de 12,8 por- manifestação terá lugar na Praça da Independência. cento, sendo 13,4 porcento para o sec­tor petrolífero e 12,5 por­cento para o sector não petrolífero. Prevê-se, ao mesmo tempo, que a pro­dução média diária estimada de petróleo bruto deve­rá situar-se nos 1,8 mi­lhões de barris.

Face ao comportamen­to recente do preço do crude no mercado interna­cional, conforme previ­sões do Fundo Monetário Internacional, o preço mé­dio do Brent, petróleo que serve de referência às nos­sas exportações, Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 46 situa-se nos 100 dólares por barril. sentadas, tanto pelo Instituto de Planeamento e Ges­tão Tendo em atenção os riscos inerentes ao desem­penho Urbana de Luanda (IPGUL), quanto pela conta de da economia mun­dial e à necessidade de se garantir a recolhimen­to do GPL. execução da despesa fixada no O.G.E./2012, tomou- -se como pressuposto de pre­ço médio de exportação do Em Agosto, o IPGUL arreca­dou 130.821.136,10 de petróleo bruto nacional o valor de 77 dólares co­mo base Kwanzas, total que sofreu um estrondo de aproximada- na qual foi pro­jectada a receita petrolífera. mente que 88,06% e fechou Setembro com o peque­no montante de 15.616.515,00 kwanzas. Já o valor anga- Salienta-se, que as esti­mativas apontam que o preço riado pela conta de recolhimento so­freu um baque médio do petróleo angolano deverá situar-se em 2011 menor. Mas longe dos 259.535.729,09 Kwanzas com em 110 dólares por barril. A alta do preço do petróleo os quais contribuiu em Agosto para a CUT, desceu uns nos primeiros meses de 2011 permitiu acumular exce- 58,43% – mais da metade – e parou em 107.882.788,00 dente orça­mental de 458,8 mil mi­lhões de Kwanzas, Kwanzas no mês de Setembro. entre Janeiro e Março, já no se­gundo trimestre o supe­ rávit fiscal ultrapassou os 400 mil milhões de Kwanzas. Ao contrário das receitas co­lhidas pelo próprio GPL, por in­termédio da sua secretaria geral, através das taxas e Acrescenta-se que o efeito combinado entre a alta do licenças, a an­gariação feita pelas administra­ções munici- preço do petróleo, no primeiro semestre, e da melhoria pais em Setembro foi de cerca de 10,08%, maior do que da avaliação dos desembolsos de financia­mentos externos a que foi verificada em Agosto ­subiu dos 48.772.633,00 motivou, no passado mês de Julho, o Executivo a recorrer Kwanzas para 53.691.514,00 Kwanzas. aos Créditos Adicionais para o Q.G.E. para 2011. Nesse aspecto, tendo somado 10.495.476,00 kwanzas de As projecções ajus­tadas para 2011 indicam um cresci- colhei­ta setembrina, o município do Kilamba Kiaxi superou mento do PIB real de 1,7 porcento, sendo de 8,8 porcento o do Cazenga no topo da lista das maio­res contribuições, para o sector petrolífero e de 8,1 porcento para o sector seguido pelo Cacuaco. Cazenga, em Agosto, foi o maior não petrolífero e prevê-se que a produção diária média contribuinte da arre­cadação do GPL, com uma quan­tia estimada de petróleo se situe em 1.723,6 mil barris. de 10.719.269,00 Kwanzas, enquanto, em Setembro, foi o que teve, quantitativamente, a maior queda: 8.359.465,00 Embora se projecte um preço médio de pe­tróleo das Kwanzas. Um declive de, mais ou menos, 22,00%. ramas ango­lanas de 110 dólares, considera-se prudente as­sumir-se um preço conser­vador de 95,37 dólares. Na outra extremidade, o «pulo de gato» das receitas foi Assim, a volatilidade no preço e o consumo do crude no executado pelo município de Viana, com uma esticada de mercado interna­cional poderão afectar positiva ou nega- aproximadamente 81,47%. Saiu de 3.024.375,00 Kwanzas, tivamente a economia angolana. em Agosto, para 5.488.353,00 Kwanzas, em Setembro.

4.4 Arrecadação do GPL cai 4.5 Orçamento do estado aprovado na bruscamente generalidade Semanário Angolense Jornal de Angola 12 de Novembro de 2011 16 de Novembro de 2011

As receitas comunitárias e locais da província de Luanda, A proposta do Orçamento Ge­ral do Estado (OGE) deposita­das na Conta Única do Tesouro (CUT), refe- para’2012, aprovada ontem por maioria de 148 votos, rentes ao mês de Setembro, registaram uma queda vai à discussão nas comissões de especialidade da brusca, em mais da meta­de do valor recolhido no mês Assembleia Nacional, antes de voltar à plenária para dis- de Agosto, mais exactamente, cerca de 59,64%. cussão e votação final, no dia 29 ou 30 de Novembro. As bancadas da opo­sição abstiveram-se. De acordo com o balanço men­sal divulgado pelo gabinete do vice-governador para o sector económico A proposta, com receitas e des­pesas estimadas em 4,4 e produtivo, as recei­tas de Setembro fixaram-se em triliões de kwanzas, tem como metas uma ta­xa de 177.190.817,00 Kwanzas enquanto em Agosto, o reco- inflação anual de 10,0 por cento, um aumento na taxa lhimento foi de 439.129.500,00 Kwanzas. de cres­cimento real da economia de 3,4 por cento em 2011, para 12,8 por cento em 2012. O OGE 2012 prevê O surto estatístico, pelo que se pode conferir no rela- igualmente um aumento substan­cial das receitas do tório, foi provocado em grande parte pelas cifras apre- sector não petrolífero, de 7,5 por cento em 20 11 para Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 47 l2,5porcentoem20l2. Em termos de produção de petró­leo, a previsão cifra-se “Não há ainda uma avaliação exac­ta dos encargos que em 6,6 mi­lhões de barris, com o preço médio de comer- correspondem à divisão administrativa do país e uma cialização estimado em 77 dólares o barril. O valor imputação nacional desses encargos na província”, subli- nominal do Produto Interno Bruto em 9,8 mil milhões nhou, acrescen­tando que esses procedimentos são adop- de kwanzas, uma taxa de crescimento real de 12,8 por tados num futuro muito breve. Referiu que há projec- cento, repartidos em 13,4 por cento para o sector petro- tos e progra­mas concentrados, mas que não sig­nificam lífero e 12,5 por cento para o sector não petrolífero. Luanda, porque são execu­tados pelos sectores mas têm inci­dência nas províncias. O OGE 2012 tem receitas fiscais (excluindo os desem- bolsos de fi­nanciamentos e venda de activos) projectadas Verba para Cabinda em3,7 mil milhões de kwanzas e despesas fiscais (exclui Outra preocupação manifestada pelo deputado da opo- amortização da dívida e constitui­ção de activos) fixadas sição Raul Danda tem a ver com o destino dos dez por em 3.420 mil milhões, resultando um supera­vit fiscal de cento das receitas fiscais da produção de petróleo desti- 340,6 mil milhões (USD 3.533,4 mil milhões), equiva- nadas à província de Cabinda. lente a 3,5 por cento do PIB. O ministro das Finanças esclare­ceu que o artigo 7° da pro- O ministro das Finanças, Carlos Lopes, referiu, na posta de lei do OGE para 20 12 prevê a afec­tação às pro- apresentação do documento, que a proposta de 20 12, víncias de Cabinda e Zaire de 12.929 mil milhões e 4.935 comparativamente ao OGE dos três anos precedentes, mil milhões de kwanzas, res­pectivamente a que ocorreu, assume um ce­nário mais promissor para a econo­mia ex­plicou, foi uma mudança na forma de gerir esses valores nacional, tendo em conta a po­sição sólida das reservas afectos às províncias, passando a ser geridos dentro do externas e das contas fiscais. OGE, cuja lei fixa essa receita consignada às duas provín­ cias e a despesa é executada sem­pre através do Sistema O ministro realçou o bom resulta­do que está a ser alcan- Integrado de Gestão Financeira do Estado (SIGFE). çado no con­trolo da inflação, sem deixar de acautelar os riscos decorrentes da actual incerteza sobre o desfecho O Executivo não tem tido proble­mas em prestar contas da crise da dívida na Europa e do desempenho da eco- à Assem­bleia Nacional, esclareceu ainda o ministro das nomia dos EUA. Finanças, em resposta a uma pergunta colocada por um deputado. Foi apresentada a Conta Geral do Estado de Carlos Lopes acrescentou que a proposta orçamental 2010, o relató­rio de execução do OGE do primei­ro, assenta em projecções realistas para a econo­mia nacional, segundo e terceiro trimestre de 2011 e no devido tempo tendo em conta a evolução recente e as perspectivas da vai ser apresentado o balanço do exercício económico economia mundial e a evolução das finanças do Estado deste ano. nos anos 2009, 2010 e 20 11. Durante os de­bates, os deputados levantaram vá­rias questões relacionadas com O ministro disse que as contas do OGE dos últimos três a distribuição das despesas por sec­tor e por região, a rea- anos tradu­zem-se em melhorias significativas do desem- bilitação de infra-estruturas aeroportuárias, e as verbas penho fiscal e do desem­penho da economia no geral. destinadas à Comissão Nacional Eleitoral. Quan­to às metas a serem a1cançadas com o OGE, o ministro esclareceu que não é regra elas virem expres­ Distribuição das despesas sas no OGE, porque este apresenta apenas o quadro Questionada pelos deputados da oposição foi a dispa- macroeconómico. ridade entre as verbas destinadas aos organismos cen- trais (82 por cento) e as destina­das às províncias (18 por Despesas nas eleições cento). O ministro das Finanças, Carlos Lo­pes, esclare- Bastante questionada pela oposi­ção foi a atribuição de ceu que não se deve fazer uma leitura cingindo-se apenas mais verbas à Comissão Interministerial para o Processo I às actividades permanentes que aparecem na descrição Eleitoral (CIPE) do que à Comissão Nacional Eleitoral. da despesa como concentrando cerca de 73 por cento da despesa total. O ministro da Administração do Território, Bornito de Sousa, escla­receu que o orçamento proposto para a De acordo com o ministro, tudo ocorre no território Comissão Interministerial para o Processo Eleitoral está nacional, ape­sar de reconhecer que deve haver um relacionado com 0llro\:esso de registo e actualização trabalho de aprimoramento pa­ra se ter uma noção do registo eleitoral em 2012. Em relação à Comissão aproximada da distribuição da despesa pelo terri­tório Nacional Eleitoral, o ministro expli­cou que por não ter nacional. sido ainda apro­vado o pacote legislativo eleitoral, e­ não Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 48 estando clarificadas algumas tarefas a serem exercidas lim­peza, incluindo a própria EUSAL, pre­cisa de cerca de por esse órgão, é mais cauteloso aprovar fundamental- 25 milhões de dólares mensais só para este sector. Mas mente as despesas administrativas. Novas aerogares. o OGE aprovado no ano passado contempla­va apenas a O ministro dos Transportes, Au­gusto Tomás, anunciou quantia de nove milhões de dólares, um facto que resul- que o Exe­cutivo aprovou a construção de qua­tro aero- tou num défice de milhões de dólares. gares novas para o Soyo, Dundo, Saurimo e Luena, a serem executados durante o ano de 2012, programa este Durante o mês de Janeiro do ano em curso a direc- que abarca todas as províncias. ção da Empresa de Lim­peza e Saneamento da capital do país reuniu com os representantes das em­presas do Relativamente à reabilitação do aeroporto de Mbanza sector. E a solução encontra­da para se efectuar o paga- Congo, o de­putado do PRS Luís Manjala suge­riu antes mento, se­gundo o porta-voz, foi juntar a dotação de dois a construção de um novo aeroporto. O ministro respon- meses para se pagar um mês de trabalho das firmas que deu que enquanto o novo aeroporto não é projectado, limpam a cidade e arredores. “temos que por a fun­cionar aquilo que existe”. Quando se adoptou o «estratagema dois em um» tinha- Sector da Agricultura -se a esperança de que a revisão do Orçamento Geral Sobre o sector agricultura, focado por alguns deputados do Estado, que aconteceu em Julho des­te ano, fosse eli- da oposição, o ministro Afonso Pedro Canga infor­mou minar a discrepância que se verificava entre o montante que Angola, dentro de poucos anos, vai ser auto-sufi- de nove milhões de dólares atribuído e os 25 que dizem ciente na pro­dução de carne, milho e arroz. necessários. Com os 15 milhões de dólares de diferença atribuídos a empresa que supervisiona as operadoras O ministro enumerou os esforços do Executivo para poderia ajustar o orça­mento para a limpeza, o que não proporcionar condições de trabalho na agricultu­ra aos veio a acontecer. camponeses, médios e gran­des empresários. O ministro indi­cou que a prioridade do Executivo incide na agri- “A ELISAL continuou a juntar dois meses para pagar cultura familiar, con­siderando que há resultados visí­ um único mês. E está questão não pode ser vista fora veis no aumento da produção no in­terior, que reclama a do contexto geral em termo da economia e das finanças sua comercia­lização. Recordou que o Executivo aprovou do pais”, justificou o porta-voz. “A empresa tem todo recentemente um crédito de 350 milhões de dólares que já o in­teresse em resolver esta questão, não está a agir de beneficiou 24 mil camponeses com 47 milhões de dólares. má-fé porque o problema é do orçamento”, acrescentou.

Em relação à participação do sec­tor agrícola no Produto O nosso interlocutor assegurou que neste momento Interno Bru­to, o ministro Afonso Pedro Canga referiu, existem equipas do Ministério das Finanças e do próprio em termos comparativos, que há cinco anos a Agricultura Governo Provincial de Luanda a traba­lharem para resol- re­presentava menos de cinco por cento, enquanto a pers- ver a situação durante o mês de Dezembro. Trata-se de pectiva em 2012 é de 13 por cento. O ministro Pedro um compromisso do próprio Estado, tendo em conta Canga acrescentou que com os investimentos de grande que um atraso desencadearia outros problemas sociais escala em curso no sector, Angola atinge, nos próxi- junto dos tra­balhadores e familiares dos funcioná­rios mos anos, auto-suficiên­cia em alguns produtos como o das empresas de limpeza. mi­lho, o arroz e a carne. “A ELISAL apenas contrata os servi­ços e os fisca- liza. Remete às estruturas visadas para efectuarem os 4.6 O OGE de 2010 provocou défice pagamen­tos”, adicionou Nicolau Frederico. de 15 milhões de dólares` Jornal o pais 18 de Novembro de 2011 4.7 Oposição defende mais verbas para o sector social O porta-voz da Elisal, Nicolau Frede­rico, reconheceu a Jornal angolense existência de uma dívida com as operadoras de limpeza, 19 de Novembro de 2011 mas frisou que ela resulta de um défice que se registou no Orçamento de Esta­do de 2011, aprovado em Setembro A proposta do Orçamento Geral do Estado (OGE) para do ano passado. 2012, que, ainda, vai à discussão nas Co­missões de Especialidade da Assembleia Nacional, antes de voltar Nicolau Frederico realça que a pro­víncia de Luanda, à plenária para discussão e votação final, no dia 29 ou onde actuam neste momento 13 grandes empresas de 30 de Novembro, tem receitas e des­pesas orçadas em Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 49

4,4 triliões de kwanzas e tem como metas uma taxa de 18 por cento causou fortes debates, com os deputados da inflação anual de 10,0 por cento, um aumento na taxa oposição a faz­erem vários questionamentos. O ministro de crescimento real da economia de 3,4 por cento em das Finanças defendeu que não se deve fazer uma leitu­ra 2011, para 12,8 por cento em 2012. cingindo-se apenas às activi­dades permanentes que apa­ recem na descrição da despesa como concentrando cerca Prevê igualmente um aumento das receitas do sector de 73 por cento da despesa total. Aludindo aos pronun- não petro­lífero, de 7,5 por cento em 2011 para 12,5 por ciamentos da oposição que defende mais verbas para as cento em 2012. restantes pro­víncias, já que nesta altura a maior parte fica em Luanda, Car­los Lopes afirmou que tudo ocorre No que diz respeito a produção de petróleo, a previ- no território nacional, ape­sar de reconhecer a falta de são cifra-se em 6,6 milhões de barris dia, com o preço um trabalho de aprimoramento para se ter uma noção médio de comercializa­ção estimado em 77 dólares por aproximada de distribuição da despesa pelo território barril. O valor nominal do Produto Interno Bruto em nacional. 9,8 mil milhões de kwanzas, uma taxa de cresci­mento real de 12,8 por cento, repartidos em 13,4 por cento “Não há ainda uma avaliação exacta dos encargos que para o sector petrolífero e 12,5 por cento para o sector correspondem à divisão administrativa do país e uma não petrolífero. imputação nacio­nal desses encargos na pro­víncia”, admitiu, prometendo que esses procedimentos são adop­ O OGE 2012 tem ainda receitas fiscais (excluindo os tados num futuro muito breve. Aquele responsável escla- desembol­sos de financiamentos e venda de activos) receu ainda que há projectos e progra­mas concentrados, projectadas em 3,7 mil milhões de kwanzas e despe­sas mas que não significam Luanda, porque são executados fiscais (exclui amortização da dívida e constituição de pelos sectores mas têm incidência nas demais pro­víncias. activos) fixadas em 3.420 mil milhões, resultando num super activo fis­cal de 340,6 mil milhões (USD 3.533,4 o Deputado pela UNITA, Raul Danda, mostrou-se pre- mil milhões), o equiva­lente a 3,5 por cento do PIB. ocupado com os dez porcento das receitas fiscais da pro- dução de petróleo destinados à província de Cabin­da, Na apresentação do OGE, docu­mento que prevê as que diz ser insignificante. Em reacção a esta preocupa- despesas e receitas a serem feitas em 2012, o ministro ção, o ministro das Finanças esclareceu que o artigo 7° das Finanças, Carlos Lopes, salientou que a proposta de da proposta de lei do OGE para 2012 prevê a afec­tação 2012, comparativamente ao OGE dos três anos prece- às províncias de Cabinda e Zaire de 12.929 mil milhões dentes, assume um cenário mais promis­sor para a eco- e 4.935 mil milhões de kwanzas, respectivamente. a que nomia nacional, tendo em conta a posição sólida das ocorreu, como explicou o ministro, foi uma mudança reservas externas e das con­tas fiscais. na forma de gerir esses valores afectos às províncias, pas- sando a ser geridos dentro do OGE, cuja lei fixa, essa O ministro referiu-se com satisfa­ção ao resultado que receita consignada às duas províncias e a despesa é exe- está a ser alcançado no controlo da inflação, que diz ser cutada sempre através do Sistema Integrado de Gestão bom, mas alertou para os riscos decor­rentes da actual Financeira do Estado (SIGFE). incerteza sobre o desfecho da crise da dívida na Europa e do desempenho da economia dos EUA. O ministro disse ainda que o exe­cutivo não tem tido problemas em prestar contas à Assembleia Nacional. Foi Carlos Lopes acrescentou que a proposta orçamental apresentada a Conta Geral do Estado de 2010, o relató- assenta em projecções realistas para a economia nacio- rio de execução do OGE do primeiro, segundo e terceiro nal, tendo em conta a evolução recente e as perspecti- trimestre de 2011 e no devido tempo vai ser apresentado vas da economia mun­dial e a evolução das finanças do o bala­nço do exercício económico neste ano. Estado nos anos 2009, 2010 e 2011.

Durante as discussões, os depu­tados mostraram-se preo- O ministro disse que as contas do OGE dos últimos cupados com a distribuição das despesas por sector e por três anos tra­duzem-se em melhorias signi­ficativas do região, a reabili­tação de infra-estruturas aeropor­tuárias, desempenho fiscal e do desempenho da economia no e as verbas destinadas à Comissão Nacional Eleitoral. geral. Quanto às metas a serem alcançadas com o OGE, o mi­nistro esclareceu que não é regra elas virem expres- Oposição defende equilíbrio na distribuição das sas no OGE, porque este apresenta apenas o quadro despesas macroeconómico. A disparidade entre as verbas destinadas a Luanda com 82 por cento e as destinadas às res­tantes províncias com Para Ngola Kabangu, presidente da bancada parlamen- Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 50 tar da FNLA, as razões de fundo da abstenção daquele logia, saúde, assistência e reinserção so­cial, da família partido, aquando da aprovação do OGE, prendem-se e prom0iY.ão da mu­lher, dos antigos combatentes e com as insuficiências do Projecto do Orçamento Geral ve­teranos da pátria, e do ambiente. do Estado, que continua com muitas zonas cinzentas e com muita pobreza em termos de definição: Porque há A proposta de OGE para 20 12 foi aprovada terça-feira, necessidade de se aprofundar melhor o debate. Ngola na generali­dade, com 148 votos a favor, ne­nhum contra Kabangu, que fa­lava ao Angolense, defendeu que trinta e 24 abstenções. A mesma prevê receitas e despesas de por cento para a área social não é nada para um país que 4,42 quatriliões de kwanzas. Ao sector social cabe a tem sérios problemas de saúde, edu­cação, falta de água, maior percen­tagem, com 33,3 por cento. energia entre outros. Quanto à verba pa­ra o sector da segurança, Ngola Kabangu disse não estar contra isso, porém alerta para que se priorize o sector social por ser o 4.9 É preciso mais transparências na que mais afecta o quotidiano dos cidadãos. “Não estou gestão do executivo angolano contra o investimento neste sector, mas já não estamos Jornal semanario angolense em guerra, temos que pensar no homem”, disse acrescen- 19 de Novembro de 2011 tando, que temos bons recursos, mas questiona que tipo de homem tem Angola. Chamado a sugerir, que áreas A pesar dum quinhão de ressalvas que ainda mantém deveriam merecer atenção especial, Ka­bangu respon- em relação à prestação de contas que o governo ango- deu que “temos que cuidar mais da saúde, da educa­ção, lano tem apresen­tado, o Fundo Monetário Inter­nacional segurança alimentar, sanea­mento básico, por estar mais (FMI), ao conceder uma nova injecção de crédito ao país, liga­do ao quotidiano dos cidadãos. “Porque estamos a deu uma mostra da confiança que pretende depositar no governar homens e não rios, nem lagos, desabafou, para Executivo comandado por José Eduardo dos Santos. terminar dizendo que “vamos voltar à especiali­dade e fazer um debate sério”. Há alguns dias a instituição aprovou a administração orça­mental de Angola e vai liberar 134,8 milhões de dólares para o país, com o resguardo segundo o qual 4.8 Proposta de lei do oge debatida na é imperativo haver uma me­lhor gestão das receitas especialidade do petró­leo e uma maior transparência das contas do Jornal de Angola governo. 19 de Novembro de 2011 O representante do FMI, em Luanda, Nicholas Staines, As comissões permanentes da “Assembleia Nacional referiu que Angola ainda tem dificuldades em produzir debatem na especialidade, a partir da próxima segunda- contas claras. E na mesma linha de juízo, o represen­tante feira, “a proposta de Orça­mento Geraldo Estado (OGE) da organização não-governa­mental Global Witness, para 20 12,já incluindo as preocupações da socie- Diarmid O’Sullivan, mostrou-se crente que, embora dade civil, anunciou on­tem, em Luanda, o presidente a Sonangol publique parte das suas contas, a maioria da Comissão de Economia e Finanças da Assembleia perma­nece obscura, assim como muitas perguntas sobre Nacional, Diógenes de Oliveira. as sociedades mis­tas da petrolífera estatal, sobre o que detém realmente e que possui no exterior. O deputado, que coordenou o en­contro entre a comissão que dirige e os parceiros sociais, ouviu as preocupações Entretanto, se bem que para o vice-director do FMI, do Conselho Nacio­nal da Juventude (CNJ), da Asso­ Naoyuki Shinohara, a gestão das finanças públicas e a ciação dos Deficientes, do repre­sentante dos enfermeiros transparência sejam questões prioritárias que requerem e da UN­TA-Confederação Sindical. progressos, «as autoridades ango­lanas merecem os cum- primentos pelo alto desempenho alcançado no quadro do programa de refor­ma e estabilização apoiado pelo Diógenes de Oliveira assegurou que, posteriormente, Fundo». essas preocupações são passadas por escrito, permitindo assim o início dos de­bates na generalidade. Shinohara acredita que o Go­verno tem melhorado o “E com acti­vidades deste género que podemos mostrar controlo das transferências dos «royalties» do petróleo que continuamos a servir Angola”, frisou. para o orçamento do Estado e que esforços estejam em curso para reduzir as somas inex­plicadas das contas Estiveram no encontro represen­tantes da sociedade civil governamen­tais e nas actividades da Sonangol. ligados às áreas das finanças, educação, cultura, juven- tude e desportos, do en­sino superior, ciência e tecno- O relatório da Global Witness, de 2010, observou dife- Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 51 renças mui­to significativas entre as receitas do petróleo Banco Mundial interessam na verdade ao governo ango- fornecido pelos Ministé­rios das Finanças e do Petróleo lano, por causa dos juros baixos praticados por essas e as receitas declaradas pela Sonangol na sua contabi- instituições, mas a obrigatoriedade de uma gestão trans- lidade. O’Sullivan indicou que são «questões funda­ parente afigu­ra-se como uma «cortina de ferro» para as mentais» sem respostas, apesar das melhorias constata- autoridades de Angola, aparentemente «habituadas» à das pelo FMI. má gestão do dinheiro público.

«O Governo produz relatórios trimestrais sobre a execu- No ponto de vista de alguns es­pecialistas da matéria ção orça­mental e as empresas de petróleo do Estado publi- económica, os empréstimos milionários fáceis como cam auditorias fi­nanceiras e o Banco Central me­lhorou o os da China, sem as exigências semelhantes do Fundo seu sistema de controlo interno e terminou a sua auditoria Monetário Internacional, embora possam ter algumas em 2010», observou o responsável da ONG. vantagens, retiram a opor­tunidade do país evoluir no capítulo da boa administração pública Mas essa inexactidão das contas do Governo angolano também foi relevada pelo FMI. Os empréstimos da instituição para Angola, um dos 4.10 Análise técnica á proposta de maiores pro­dutores de petróleo do continente, desde orçamento geral de estado do 2009, ascendem a 1,21 mil milhões de dólares. governo de Angola para o ano de 2012: comentarios gerais (1) Por vezes considerada uma es­trutura paralela do Jornal a capital Governo, a Sonangol detém as concessões petro­líferas, 19 de Novembro de 2011 ocupa-se da distribuição e possui uma importante car- teira de investimentos no estrangeiro e em Angola. Neste capítulo, pretendo analisar de forma directa, Possui igualmente a sua companhia aérea e dirige objectiva, clara e sem recurso a quaisquer métodos com- progra­mas governamentais de habitação e de indústria. plexos de análise macroeconómica, o peso específico Segundo o FMI, um plano de fi­nanças público a médio de cada sector da actividade económica de Angola na prazo vai facilitar o trabalho de proteger o país da flutu- geração do Rendimento Nacional. ação do mercado do petróleo. Estrutura da economia real de Angola Em Novembro de 2009, o FMI aceitou acordar um Se olharmos para os quadros 2 e 3 (pagª 9 e 10), notamos crédito de 1,4 mil milhões de dólares para ajudar que o PIB da economia angolana, continuará a cres­cer Angola a reconstituir as suas reser­vas de divisas, depois em 2012 (12,8% é o que se espera atingir). de uma baixa do mercado do petróleo diante da recessão mundial. Todavia, a dependência da econo­mia a um único produto (o petróleo) continuará grande e perigosa. Repre­sentará Em Junho passado, o gover­no de Angola tinha rejeitado nada mais nada menos do que 39% do PIB. Se ao petró- um empréstimo do Fundo Monetário Internacional no leo adicionar­mos o gás natural, cujo projecto LNG no valor de 400 mi­lhões de dólares, que já havia sido «acor- Soyo irá entrar na fase de produção e comercialização dado», alegando gozar de boa situação financeira. no próximo ano, a cifra indicada aumentará certamente para 41% ou mais! Não é pois de estra­nhar, que apesar Naquela altura, em entrevista ao periódico Expansão, o da muito apregoada necessidade de diversificação da minis­tro angolano das finanças, Carlos Alberto Lopes, eco­nomia, em 2012 o sector petrolífero continuará a encarregou-se de dar o recado do Executo, ao dizer que registar uma taxa de cres­cimento maior do que todos os o governo angolano se sentia confortado com o nível de restan­tes sectores da economia nacional. receitas e reservas internacionais líquidas. Agricultura e indústria No entanto, a especulação à vol­ta da questão indica Um País como Angola com vastos re­cursos naturais e que a rejeição das autoridades angolanas estava ligada e elevadíssimas poten­cialidades económicas geradoras assim continua – com a falta de transparência nas suas de riqueza, é desolador ver sectores estra­tégicos como contas. Diante dos empréstimos que concede, o FMI a Agricultura, Pecuária e Pescas e a indústria transfor- exige clarida­de na gestão, facto que terá afu­gentado os madora (para só citar estes) serem preteridos, a tal ponto governantes angolanos e os teria levado a preterir os 400 que a sua contribuição para o Produto Interno bruto, milhões de dólares então disponi­bilizados. é qua­se irrisória face ao enorme potencial disponível! Apenas (7,3% e 12,2% pre­vistos para 2012). Ambos os Os créditos concedidos tan­to pelo FMI tal como pelo sectores são excelentes geradores e multipli­cadores de Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 52 emprego, pela sua natu­ral característica “labour inten- É um factor de desenvolvimento por excelência, desde sive”, principalmente em economias ainda subdesenvol- as civilizações anti­gas, à revolução industrial (sec.19) vidas como a de Angola! Mesmo tendo esta possibili- até aos nossos dias. Não se faz industria­lização da eco- dade nata de resolverem problemas graves trans­versais nomia, nem se alcança desenvolvimento económico e como o desemprego; a pobre­za; a fome; o subdesenvol- mui­to menos desenvolvimento humano, sem energia! vimento; a dependência externa etc. e evitar ou reduzir Em Angola grande par­te da população ainda usa a lenha, as consequências sociais e politicas dai resultantes, ainda para cozer os alimentos, aquecer-se do frio e iluminar- assim este Governo não consegue (ou não preten­de?) -se, como faziam os seus antepassados de há milhares encontrar uma fórmula que lhes dê a importância que de anos! Fica muito difícil entender, que um país que já merecem! Em 2011, ambos os sectores não chegarão produz há quase 1 década em média mais de 1 milhão sequer aos 11% do PIB e em 2012 pre­vê-se que nem de barris de petróleo por dia e que possui uma das 4 sequer atingirão meta­de do peso específico do sector principais bacias hidrográficas do planeta Terra, esteja a extrac­tivo, na economia nacional. É evidente que isto debater-se tão gritantemente com a falta de energia eléc- deita por terra, qualquer pre­tensa boa intenção deste trica, contrariamente aos países da região! Governo em adoptar uma política de diversificação da economia angolana. Até na Namíbia, um país vizinho ári­do, sem caudais de água (rios) nem petróleo, não há problemas graves no São legítimas questões pertinentes sobre se este Go­verno fornecimento regular de energia eléc­trica, às famílias e saberá exactamente o que é di­versificar a economia às empresas! Con­trariamente, os apagões em Angola, angolana! Quais os caminhos a seguir (Estratégias)? são frequentes e não fosse o combus­tível (gasóleo e gaso- Que prioridades adoptar? (Programas)? Que limites? lina) ainda baratos (porque subsidiados pelo Estado) que (fraquezas, ameaças)? Que agentes económicos envolver abastecem geradores, o sector empre­sarial e familiar, no processo? Enfim... Que eu saiba, nun­ca se organizou estariam de rastos! O irrisório contributo para o PIB, um debate aberto, in­clusivo, nacional sobre esta temática deste sector fundamental para a melhoria da qualidade tão importante para o nosso futuro. Talvez se discuta das nossas vidas, está bem ilustrado nos apenas 0,1% em isto somente nos ga­binetes governamentais ou nos ditos 2011 e 0,2% previstos para 2012. comités de especialidade (partidária), o que a acontecer traduz um complexo autista e uma grave miopia, na Construção aborda­gem de questões estratégicas de âmbi­to nacional! Este sector é primordial, num país que apresenta baixís- simos níveis de capital fixo, agravados pelo elevado grau Neste momento, o Sector agrícola, precisa de quase tudo de depreciação e obsolescência dos meios fixos existen- em termos infra-estruturas (físicas e técnicas) e até de tes, grande parte deles como se sabe, destruídos ao longo políticas de crescimento realistas e ambiciosas. Por mais de 3 décadas de guerra, bem como da falta de manu- que se diga o contrário, a problemática da proprie­dade tenção preven­tiva e do mau uso, a que frequente­mente da terra e a sua distribuição e utilização, ainda não está têm sido submetidos! Diga-se em abono da verdade, que suficiente­mente bem resolvida em Angola! E sem isso, este sector mereceu, logo após ao fim da guerra (2002), não se faz “revolução verde”! Por sua vez, o sector indus- atenção prioritária por parte do Governo, que adoptou trial (indús­tria transformadora) asfixia-se num colete de uma política de reconstrução física bastante agressiva. forças retrógradas, nas quais até a falta de energia eléc- trica, de água canalizada, de saneamento básico (es­gotos Vias de comunicação (estradas, pon­tes, caminhos de e lixos) ainda se fazem presen­te e de que maneira! Este ferro) e edificios pú­blicos (repartições, escolas, hospitais cenário de fraquezas e constrangimentos estru­turais, etc.) foram alvos de um intenso esfor­ço de reconstrução, não fica completo se nele não se incluir, a gritante falta nunca antes visto! O volume da dívida pública externa e de quadros profissionalmente qualificados e a endémica a presença de muitos chineses, brasi­leiros e não só, estão burocracite na Administra­ção pública (repartições, aí para o testemu­nhar! Porém, a retórica de “canteiro de portos, aero­portos e alfandegas etc.) e a corrupção (que obras” em que se transformaria o país, só com os pro- virou institucional) que lhes está associada! Perante um jectos do Governo, não se concretizaria plenamente, se cenário destes, o Governo responde de forma lenta, não houvesse um grande e patriótico dinamismo da tímida, desencorajante e contraprodu­cente quer no que população e do sector privado, no que a construção civil se refere ao volume de investimentos que faz (mostrar- diz respeito. Para um país carente um meios fixos cor- vos­-ei isso mais adiante), como às políticass desconcerta- póreos (em quantidade e qualidade) e pelo facto deste das, gizadas esponta­neamente sem estudos tecnicamente sector ser também um grande empregador (principal- orientados a sustentá-los! mente de trabalhadores de baixa e média qualificação, que abun­dam em Angola), penso que o Gover­no pode Energia eléctrica e deve aumentar o seu esfor­ço, o que a acontecer faria Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 53 aumentar os níveis actuais de contribuição no PIE, outros mercados locais com importân­cia crescente em acima dos actuais 7,9% (2011) e dos 8,9% previstos termos de volume de negócios. Daí que, em minha para 2012. Sendo Angola um pais em reconstrução e opinião, a taxa de inflação ao basear-se apenas no IPC- renovação, que tanto carece de infraestruturas básicas Luanda (índice de preços no consumidor), não traduz e de modernização, por tudo quanto é canto, pode-se com rigor, exactidão e verdade, o nível da inflação em e deve-se fazer mais, mesmo tendo eu consciência que Angola. Ele poderá ser I maior ou menor? Quem sabe? “Roma e Pavia, não se construíram num dia “ Mas isso Por outro lado o Governo, nunca (que eu sai­ba) efectuou aconteceu há muitos séculos atrás! Mais adiante, adicio- ou se já o fez nunca publicou, um Estudo económico das narei mais comentários sobre este aspecto. causas da inflação em Angola. Houve sim, discursos do ­Presidente da Republica I a questionar sobre as I causas Em conclusão, a economia angola­na em 2012 ainda será da inflação! Ouvi e li opiniões expressas em, mideas pri- bastante débil, muito dependente de um único pro­duto vados. Mas dai a existir um estudo do I Governo, cien- de exportação (petróleo) e por isso, bastante vulnerá- tificamente elaborado, sobre as causas reais da inflação vel! Qualquer “safanão” no preço do barril do petró­ em Angola, nada! Acontece que a inflação tem vários leo no mercado internacional que o atire para baixo, f factores causais. O prévio conhecimento destes facto- como aconteceu em 2008/9, lá se vai por água abaixo, res, através de estudos (e não da adivinhação!), F facilita toda a sua aparente solidez financeira e esta­bilidade enormemente a escolha e a aplicação das ~ soluções mais macroeconómica! adequadas para a sua redução ao nível mais desejado! E nem T é preciso inventarem-se soluções. Elas existem A solução passa necessariamente por uma aposta mais ~ e estão plasmadas nos manuais especializados! Basta séria, respon­sável e corajosa, na diversificação da econo- conhecer-se a dimensão real e as caracte­rísticas da infla- mia. Esta via permitirá um apro­veitamento mais racio- ção que o. E país tem e ir ao manual, buscar a receita e nal e rentável das enormes potencialidades econó­micas depois aplicar-se o medicamento mais adequado e nas que o país tem em vários secto­res, muitos deles ainda doses certas para se com­bater este mal ! Porque a infla- em estado de exploração artesanal. Só assim o qua­dro ção, quando atinge níveis altos, como vem acontecendo estrutural da economia angolana se alterará significati- em Angola, é um MAL! vamente dando espaço a uma maior contribuição dos outros sectores, no Produto interno bruto e alargando-se Quer seja uma inflação provocada pelo excesso de desta forma à base económica de geração de rendi­mento procura agregada (inflação da demanda), ou pro­vocada nacional. pelo aumento dos custos (inflação de custos) ou até mesmo inflação inercial (provocada pela expectativa dos agentes económicos). Qualquer uma delas provoca Vou agora analisar e comentar, alguns dos indicadores males às empresas, ás famílias e ao próprio Estado. Em macro-económicos mais importantes, com base nos Angola, há 7 anos sucessi­vos que a Inflação está nos 2 quais se avalia a estabilidade (ou instabilida­de) macro- dígitos. Fez morada ai e pelos vistos vai ainda ficar por económica de um país. ai mais alguns anos. Não sei quantos mais! O que sei Taxa de inflação é que, em WI0 ela atingiu 15,3%. Em finais deste ano andará en­tre os 12 a 13% e em 2012 está previsto no A literatura económica, define infla­ção como sendo o OGE, 10 %. Na região SADC, Angola é dos países aumento contínuo e generalizado dos preços dos bens com maior taxa de inflação. Moçambique Namíbia, A e serviços num determinado mercado. Em Angola, Sul por exem­plo têm muito menos. Para Angola é mau, sabe-se que os preços são bastante altos, comparativa- pois é mais um obstáculo no caminho dos objectivos de mente com de outros países (outros mercados na­cionais). crescimento e de estabili­dade económica e social que se De resto, a cidade de Luanda vem figurando amiúde, pretendem! no ranking in­ternacional, como sendo a mais cara do mundo para os expatriados. Todavia, os preços dos bens Taxa de desemprego e serviços no mercado de Luanda, não são iguais aos O conhecimento deste iniciador é, duma importância pratica­dos noutras cidades e vilas de Angola. Alguns capital para uma boa gestão da economia nacional. são mais altos outros mais ba­ratos! Contudo, as esta- Não é obrigatório que este assunto seja analisado em tísticas oficiais do Governo, baseiam-se somente em profundidade no OGE, já que a sede mais apropria­da dados recolhidos em Luanda para o cálculo da infla- para o efeito é o Plano Nacional. Todavia, algo de­via ser ção em Angola (IPC Lu­anda). Apesar de Luanda ser a mencionado no re­latório de fundamentação em jeito de capital económica, financeira, político-admi­nistrativa e informação para facultar aos destinatá­rios e utilizado- sei lá mais o quê (diz-se que representa entre 55 a 65% res deste im­portante instrumento de gestão publica, um do volume de transacções), o país é vasto e tem vários pacote mais completo de indica­dores macroeconómicos. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 54

Este indicador, calcula o nº de pessoas sem empre­go, além da política monetária restritiva normal, praticando- mas prontas e aptas para trabalhar, do univer­so da força -se uma política monetária fundamentalista, claramente de trabalho (população activa) do Pais. Trata-se de um ultra­-liberal de cariz exploratório e elitista. Onde está o indicador da capacidade de trabalho inactiva q.d dos crédito ao consumo? E a que preços se pratica nos poucos recursos humanos desperdiçados. casos rigorosamente seleccionados, que são autorizados?

Que a taxa de desempre­go é muito alta em Angola Na verdade, a taxa de juro tem uma enorme influência (estima-se que ande à volta dos 30%), acho que nin­guém no nível de poupan­ça de uma economia e também, no tem dúvidas acerca disso. E para aqueles que as têm, basta vo­lume de investimentos, pois poupança e investimen- verem nas cidades de Angola (desta­que para Luanda) as tos andam interligados. Sendo a taxa de juro um ins- deze­nas de milhares de jovens e adultos em idade activa, trumento da politica monetária do Estado, os g0­vernos que deambulam pelas ruas e mercados parale­los, ven- devem saber utilizá-la com in­teligência, pragmatismo dendo aquilo que a pouca sorte diariamente e sentido de justiça social, porquanto, uma excessi­va rentabilização do capital financeiro em detrimento de Quando se analisam as tendências económicas a médio outros factores de produção, aprofunda desigualda- e longo prazo de um país, somos obrigados a nos socor- des económicas e sociais provocando ins­tabilidade no rer de indicado­res do emprego, da produ­tividade e do mercado e não só. investimento. As principais fontes fiáveis de dados para se calcular o emprego (taxa e volume), são os Censos da Reservas internacionais líquidos (ril) popula­ção. Acontece que em An­gola não se fazem Censos A RIL, é um stock em ouro ou moeda internacional desde a década 70 do século passado. Mas o Governo se (divisas) com ampla acei­tabilidade e convertibilidade, quiser, mesmo sem censos, pode utilizar outras técnicas que o Es­tado possui e que os governos dispõem para de recolha de dados como por exemplo os Inquéritos às satisfazer as obrigações internacio­nais (importações de famílias e às empresas. Note-se que existe uma grande bens e serviços) e aplicar a política monetária (oferta e relação entre a taxa de desemprego e a taxa de inflação procura de moeda). No minimo, estas reservas devem (Curva de Phillips). Também pouco se escreve e quase ser suficientes para co­brir 3 meses de importações. nunca se fala sobre o Índice de Infelicidade maior, da população. Este interessante indicador calcula-se pela No Relatório de fundamentação ao OGE, nada consta sorna da taxa de inflação dos preços no consumidor, sobre o total da reser­va disponível. Apenas se informa com a taxa de desemprego. que a RIL aumentou em cerca de Usd.5.912 milhões de 1 Jan. a Agosto 2011. Se considerarmos que o preço Se à taxa de inflação dos preços no consumidor adicio- do barril de petróleo não sofreu grandes oscilações de narmos a taxa de juro anual, teremos o Índice de infeli­ Setembro a esta parte, o aumento da ~ RIL poderá cidade menor. Em cada um dos casos, quanto mais atingir até 31 Dez. 2011, um montante acima de 8 mil alto for o valor, mais infeli­zes se presume que sejam os milhões, o que adicionando ao saldo então existente, consumi­dores que somos todos nós, com desta­que para em minha opinião poderá chegar-se acima dos 28 mil os que não são detentores de meios de produção econo- milhões de dólares americanos, em finais do cor­rente micamente activos (i.e.- capitais vivos). ano.

Taxa de juro Se tivemos em atenção que o volume total das impor- O Relatório de fundamentação ao OGE, dá algumas tações de 2011, rondará os 21.500 milhões de dólares, informações sobre esta matéria, mas apenas em relação pode-se concluir que o nível da RIL de Angola, não ao mercado internacional (euro e Usd). Relativamente sendo espectacular, é francamente positivo! a Angola, nada se diz! As taxas de juro cobradas pelos bancos, neste país não são só altivíssimas mas também surrealistas! Constituem um autêntico gargalo de Dívida pública estrangulamen­to à rentabilidade dos investimentos das OGE é omisso em relação à Dívida pública em 2011, empresas e um enorme obstáculo à melhoria das con- mas apresenta dados em relação a 2010 que cifram o dições de vida das famílias angolanas. Por outro lado, monte da dívida em Usd.30.364 milhões que se diz o crédito bancário em Angola conti­nua aristocrati- serem equivalentes a 38%) PIB projectado para 2011. zado, partidarizado e é concedido com base em crité- A ser verdade, este valor da dívida está sim, entro dos rios arbitrários­ e bastante discriminatórios. Em Angola limites de sustentabilidade aconselhados pelas institui- vive-se uma autêntica e elementar exploração do capital ções financeiras internacionais «45% PIB para econo- finan­ceiro sobre o capital económico e o capital-traba- mias subdesenvolvidas). Outro sinal positivo, é o facto lho. No domínio das polí­ticas do Governo, anda-se para de 30% da Divi­da estar traduzido em dólares america- Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 55 nos. Como a maior parte das receitas fiscais angolanas 4.11 É Preciso mais transparências na petrodólares) estão também traduzidas nesta divisa, isto gestão do executivo angolano ta o agravamento da dívida em resul­tado das diferen- Jornal semanario angolense ças cambiais, apesar de que há o problema da dívida de 19 de Novembro de 2011 Angola contraída nos países da 20na euro, que actual- mente atravessa uma crise em­bora neste momento favo- A pesar dum quinhão de ressalvas que ainda mantém reça o dólar americano. em relação à prestação de contas que o governo ango- lano tem apresen­tado, o Fundo Monetário Inter­nacional Em relação à dívida pública, nunca se deve perder de (FMI), ao conceder uma nova injecção de crédito ao país, vista o facto de que o seu reembolso, em particular o da deu uma mostra da confiança que pretende depositar no divida externa, e o consequente pagamento dos juros, Executivo comandado por José Eduardo dos Santos. normalmente só podem ser financiados com as recei- tas das expor­tações. Angola, como se sabe, está mui­to Há alguns dias a instituição aprovou a administração limitada no que concerne a produtos de exportação. Na orça­mental de Angola e vai liberar 134,8 milhões de prática – e sobre isso já me pronunciei – só o petróleo e dólares para o país, com o resguardo segundo o qual o gás na­tural e um pouco os diamantes, geram receitas é imperativo haver uma me­lhor gestão das receitas em dívidas. do petró­leo e uma maior transparência das contas do governo. Daí que, em matéria de contracção de dívida publica, o Governo deve ser muito prudente e usar de sanidade O representante do FMI, em Luanda, Nicholas Staines, fi­nanceira. O montante destas dívidas deve ser exclusi- referiu que Angola ainda tem dificuldades em produzir vamente aplicado em investimentos de longa duração, contas claras. E na mesma linha de juízo, o represen­tante com um período de “pay back “ superior a 15 ou 20 da organização não-governa­mental Global Witness, anos, com vista a assegurar um retomo económica e Diarmid O’Sullivan, mostrou-se crente que, embora socialmente recompensante. A qualidade das obras a a Sonangol publique parte das suas contas, a maioria construir e do equipamento a adquirir com o montante perma­nece obscura, assim como muitas perguntas sobre destas dívidas, deve ser rigorosamente fiscalizada, para as sociedades mis­tas da petrolífera estatal, sobre o que que se salvaguarde maior tempo de vida útil a estes detém realmente e que possui no exterior. investimentos e benefícios mais duradoiros, quer para o pais, como para as populações. E contraproducente, Entretanto, se bem que para o vice-director do FMI, uti­lizar o dinheiro das dívidas públicas, em obras mega- Naoyuki Shinohara, a gestão das finanças públicas e a lómanas, de fachada vulgo elefantes brancos ou em bens transparência sejam questões prioritárias que requerem e serviços ostentatórios, cujo impacto social é reduzido progressos, «as autoridades ango­lanas merecem os cum- e a valia económica efémera! Na maior parte das vezes, primentos pelo alto desempenho alcançado no quadro este Governo não tem acautelado suficientemente estes do programa de refor­ma e estabilização apoiado pelo aspectos e quando isso não acontece, a factura a pagar Fundo». pelos próximos governos e as futuras gera­ções, toma-se ainda mais pesada. Isto é muito mau! De resto, temos Shinohara acredita que o Go­verno tem melhorado o hoje vá­s) rios exemplos que vêm da Europa com e a controlo das transferências dos «royalties» do petróleo problemática das Dívidas soberanas a Grécia, Portugal, para o orçamento do Estado e que esforços estejam em Irlanda e certamente a Itália, debatem-se hoje com curso para reduzir as somas inex­plicadas das contas uma crise sem precedentes, provocada pelos ex­cessos governamen­tais e nas actividades da Sonangol. de consumo e de investimento público, cometidos por sucessivos vemos durante vários anos. É o que dá 12 O relatório da Global Witness, de 2010, observou dife- cada governo a querer mostrar que é Se melhor gastador renças mui­to significativas entre as receitas do petróleo que o anterior. Sem de se preocuparem com os limites da fornecido pelos Ministé­rios das Finanças e do Petróleo 5es economia em cada momento! e as receitas declaradas pela Sonangol na sua contabi- lidade. O’Sullivan indicou que são «questões funda­ mentais» sem respostas, apesar das melhorias constata- das pelo FMI.

«O Governo produz relatórios trimestrais sobre a exe- cução orça­mental e as empresas de petróleo do Estado publicam auditorias fi­nanceiras e o Banco Central me­lhorou o seu sistema de controlo interno e termi- Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 56 nou a sua auditoria em 2010», observou o responsável 4.12 Despesas para as eleições inscritas da ONG. Mas essa inexactidão das contas do Governo á parte angolano também foi relevada pelo FMI. Os emprésti- Jornal de Angola mos da instituição para Angola, um dos maiores pro­ 22 de Novembro de 2011 dutores de petróleo do continente, desde 2009, ascen- dem a 1,21 mil milhões de dólares. As despesas para as eleições gerais estão estimadas em 23, 4 mil milhões de kwanzas e estão inscritas numa Por vezes considerada uma es­trutura paralela do “dotação em re­serva” na proposta do Orçamen­to Geral Governo, a Sonangol detém as concessões petro­líferas, do Estado para o próxi­mo ano, que está em discussão ocupa-se da distribuição e possui uma importante car- na Assembleia Nacional, revelou ontem o secretário de teira de investimentos no estrangeiro e em Angola. Estado do Tesouro, Alcides Safeca. Possui igualmente a sua companhia aérea e dirige progra­mas governamentais de habitação e de indústria. Alcides Safeca esclareceu que a inscrição da verba numa Segundo o FMI, um plano de fi­nanças público a médio “dotação em reserva” decorre do facto de es­tar ainda em prazo vai facilitar o trabalho de proteger o país da flutu- discussão, na Assem­bleia Nacional, a proposta de lei elei- ação do mercado do petróleo. toral que vai definir os órgãos intervenientes. Só depois as verbas são distribuídas por todas as entida­des que vão Em Novembro de 2009, o FMI aceitou acordar um organizar as eleições legislativas e presidenciais de 2012. crédito de 1,4 mil milhões de dólares para ajudar Angola a reconstituir as suas reser­vas de divisas, depois de uma O secretário de Estado do Tesou­ro disse aos deputados baixa do mercado do petróleo diante da recessão mundial. que quando for aprovada a lei eleitoral, faz-se a afecta- ção das verbas às instituições que vão realizar a despesa Em Junho passado, o gover­no de Angola tinha rejeitado inscrita no OGE na rubrica “preparação e realização das um empréstimo do Fundo Monetário Internacional no eleições”. valor de 400 mi­lhões de dólares, que já havia sido «acor- dado», alegando gozar de boa situação financeira. Por não estar ainda definido o papel­ que cada um tem no processo eleitoral, o Executivo adoptou o princí- Naquela altura, em entrevista ao periódico Expansão, o pio de inscrever na CNE ape­nas as verbas para o seu minis­tro angolano das finanças, Carlos Alberto Lopes, funciona­mento regular, 14 mil milhões Kwanzas, e encarregou-se de dar o recado do Executo, ao dizer que na CIPE as verbas ligadas ao registo eleitoral, cerca de o governo angolano se sentia confortado com o nível de 16 mil mi­lhões de kwanzas, dos quais 9,3 mil milhões receitas e reservas internacionais líquidas. de kwanzas para o funcio­namento do Ministério da Adminis­tração do Território. No entanto, a especulação à vol­ta da questão indica que a rejeição das autoridades angolanas estava ligada e Criação de empregos assim continua – com a falta de transparência nas suas O ministro da Administração Pública, Emprego e contas. Diante dos empréstimos que concede, o FMI Segurança Social, António Pitra Neto, revelou ontem exige clarida­de na gestão, facto que terá afu­gentado os que a admissão de funcionários pú­blicos vai passar a ser, governantes angolanos e os teria levado a preterir os 400 a partir do próximo ano, da responsabilidade dos titula- milhões de dólares então disponi­bilizados. res dos órgãos, deixando de haver a atribuição de quotas pe­los ministérios das Finança, Em­prego e Segurança Os créditos concedidos tan­to pelo FMI tal como pelo Social e Admi­nistração do Território. A determinação Banco Mundial interessam na verdade ao governo ango- resulta de um Decreto Presi­dencial publicado este ano. lano, por causa dos juros baixos praticados por essas As ad­missões são feitas com base no qua­dro de pessoal instituições, mas a obrigatoriedade de uma gestão trans- aprovado e em vigor, nos limites orçamentais disponibi- parente afigu­ra-se como uma «cortina de ferro» para as lizados para o pessoal e os sectores, e com base nas vagas autoridades de Angola, aparentemente «habituadas» à que existam no quadro orgânico do pessoal. má gestão do dinheiro público. De acordo com o ministro, dei­xou de haver um processo No ponto de vista de alguns es­pecialistas da matéria de centralização do controlo dos efecti­vos da função económica, os empréstimos milionários fáceis como pública, fruto das li­mitações orçamentais, passa esse os da China, sem as exigências semelhantes do Fundo controlo a ser feito pelo titular do próprio órgão. Monetário Internacional, embora possam ter algumas vantagens, retiram a opor­tunidade do país evoluir no O ministro revelou igualmente que o Programa do capítulo da boa administração pública Executivo para 2012 prevê a criação de empregos nos Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 57 sectores agricultura, pecuária, pescas, florestas, pescas e A ministra da Comunicação Social esclareceu, em res- indús­trias transformadoras. posta a uma solicitação o que deputado Raul Danda; que a RTP-Africa “é um instru­mento da política externa O Programa Empreendedorismo na Comunidade, portu­guesa”, mas não repugna ao seu ministério que que faz parte do Programa Cidadania e Emprego, que aquele canal de tele­visão emite programas a partir de abrange vários projectos, vai gerar, no próximo ano, Angola. A ministra sublinhou que a prioridade do sector dez mil postos de trabalho em todo o país, atra­vés do consiste nos serviços externos como a TPA Internacional micro-crédito. e os serviços em lín­guas estrangeiras da Rádio Nacional de Angola. Outro projecto é o da formaliza­ção das actividades eco- nómicas in­formais, a cargo do Ministério da Economia; Sector da Saúde e o programa de inser­ção dos jovens na vida activa, atra­ O ministro da Saúde, José Van Dúnem, afirmou ontem vés do recrutamento, de micro-crédito e equipamentos que ‘o sector que dirige está a investir na formação de profissionais. técnicos médios e su­periores e não mais em técnicos bá­sicos, devido à complexidade do trabalho, que exige Comunicação social que os profis­sionais progridam. A ministra da Comunicação So­cial, Carolina Cerqueira, disse on­tem aos deputados que os diplomas que fazem Interrogado pelos deputados so­bre o encerramento das parte do pacote legislati­vo da comunicação social foram escolas téc­nicas de saúde, o ministro disse que em muitas já submetidos à apreciação do Conse­lho de Ministros unidades sanitárias não há médicos: “por isso temos que para futura apro­vação da Assembleia Nacional. ter enfermeiros que sejam capazes de, com qualidade, garantir a saúde das populações”. O ministério da Comunicação Social, prosseguiu, está a trabalhar com a sexta Comissão da Assembleia Nacional, Em relação aos técnicos básicos existentes, prosseguiu a quem já foi remetido o relatório síntese das discussões. o ministro da Saúde, a estratégia é que se su­perem com Aguarda o agendamento das reuniões para especialistas acesso às escolas para passarem de básicos a técnicos do ministério e deputados analisarem ai questões téc- mé­dios, sendo admitidos apenas esses técnicos, para o nicas. Sobre a parcialidade dos órgãos de comunicação aumento da quali­dade dos serviços. social públicos, levantada pelo de­putado Raul Danda, a ministra re­feriu que cada órgão de comunica­ção tem Sobre o registo dos medicamen­tos, o ministro José Van a sua linha editorial, res­peitando os princípios legais, e Dúnem disse que estão em discussão dois documentos ten­do em conta a diversidade. de base sobre a maté­ria. A intenção é garantir a qualida­de dos medicamentos. Referindo-se ao Jornal de Ango­la, apontado pelo parla- mentar co­mo um órgão que se posiciona sem­pre contra Enquanto não há registo, Angola adopta o registo dos os partidos da oposição, a ministra acrescentou que países com os quais tem relações, por exemplo Portugal, “temos que ter em conta a prerrogativa que a democracia ou aqueles que a Organi­zação Mundial da Saúde (OMS) nos dá para a plurali­dade de ideias”. A ministra disse valida como tendo qualidade. igualmente que dispõe de estatísti­cas sobre matérias que são publica­das pelos órgãos de comunicação social públi- Em relação à mortalidade, que alguns deputados consi- cos, incluindo as que se referem aos partidos políticos. deram ain­da muito alta, o ministro esclare­ceu, citando as estatísticas sanitá­rias mundiais de 2011, da OMS, que “O pluralismo e a isenção fazem parte de uma cultura a esperança de vida em Ango­la era, em 1990, de 18 anos que se vai ad­quirindo, e a formação dos jornalis­tas pode para os homens, em 2000 passou para 44 e em 2009 levar no futuro a terem uma apreciação mais vasta. Esta­ passou para 51 anos. mos a fazer um esforço para melho­rar”, acrescentou. A Nas mulheres, a esperança de vi­da era de 45 em 1990,48 ministra indi­cou que existe uma Estratégia do Executivo em 2000 e 53 em 2009. De acordo com o mi­nistro, para a Comunicação Social, que vai de 2010 a 2012, que a tendência da esperança de vida “é nitidamente tem como principal objectivo a mo­dernização do sector, progressi­va”, o que significa que os factores que condi- a abertura de mais centros de produção de rádio e de cionam a mortalida­de estão a melhorar.” televisão em todo ‘O país, a ex­pansão das publicações da Empresa Edições Novembro, a formação de quadros e a A proposta do Orçamento Geral do Estado para o aprovação do pacote le­gislativo da comunicação social. próximo ano tem receitas estimadas em cerca de 4,4 tri- liões de kwanzas e igual montan­te de despesas. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 58

4.13 OGE Destnado ao huambo será 4.14 Análise técnica á proposta de revisto orçamento geral de estado para Jornal agora o ano 2012: comentários sobre a 26 de Novembro de 2011 composição do oge 2012 (2) Jornal a capital A verba do Orçamen­to Geral do Estado (Oge/2012) 26 de Novembro de 2011 para o Huambo, fixada em 33.451.885.513,00, (cerca de 33 milhões de dólares) correspon­dente a 0,76% do O OGE 2012 prevê Receitas e Despesas no valor de Kz. va­lor total da proposta em discussão nas co­missões de 4-420.483.285.538,00. Este valor, ao câmbio es­timado especiali­dade da Assembleia Nacional, desde o dia 18 de Kz.96,40 (Usd) equivale a USD-45.855 mi­lhões ou deste mês, será re­vista e ajustada, ga­rantiu o ministro se quiserem ler de outra forma 45,85 mil milhões de das Finanças dólares. Haverá alguns que preferirão hiperbolizar e ler este nº em 45,8 biliões de dólares! Carlos Lopes, que respondia às inquietações levanta- Receitas das pelos deputados, lembrou que o orçamento para o próximo ano prossegue as mesmas políti­cas consagradas Se olharmos para o Resumo da Re­ceita (pagª-41), no Oge / 2011, consubstanciadas na redução das taxas de sobressai a suprema­cia das receitas petrolíferas sobre as juros e da inflação, por serem duas variáveis importantes demais. Nada mais, nada menos do que 57,92%. Só o na implementação das políticas macroeconómicas. rendimento das con­cessões de petróleo, assume 40,47% “Vamos assumir o compromis­so de procedermos à de toda a Receita fiscal do Estado an­golano. Está tudo revisão e ao ajustamento do orçamento para o Huambo, dito! A conclusão a que cheguei ao analisar a estrutura na justa medida do limite que foi fixado e que de facto da economia angolana e que está plasma­da no capitulo I não está reflectido no Oge 2012”, prometeu o gover- parágrafo 1.5 (pagª 3), volta à talhe de foice. nante, sublinhado: Angola depende excessivamente de um único produto “O Oge, é o instrumento fi­nanceiro do Estado e é de exportação, o que toma a sua economia bastante vul- suficien­temente abrangente, porquanto as pessoas não nerável aos ditames da economia internacional! Estamos podem olhar para o Orçamento e dizer que vai abranger tramados, diria um cidadão mais pessimista! Angola está apenas uma parte da população, mas sim a todos”. num beco, mas é eviden­te que este beco tem saída. E a O orçamento deve garantir o funcionamento da admi- saída sabe-se qual é: A diversificação tão rápida quanto nistração do Estado e do sector social, com a realiza- possível da economia, para produzir e vender mais pro- ção de despesas, criando condições necessárias para o dutos angolanos, no mercado internacional. desenvolvimento da economia (daí a razão de não haver exclusão), chamando o ministro a atenção para as acções Uma chamada de atenção: Verifica­-se uma tendência consagradas no Programa de Investimentos Públicos. crescente nos últi­mos 3 anos, do aumento da receita pa­trimonial, num ritmo superior ao da receita tributá- A existência do tecido empresa­rial proporciona a criação ria, a tal ponto que em 2012 os montantes destas 2 fontes de em­pregos e a consequente retirada da população da de receita quase igualam ou seja 43% do OGE para a pobreza, por­que, através do emprego, obtém­-se o ren- Receita tributária contra 41% para a Receita patrimo- dimento, que serve para poupança. A proposta do Oge nial. Isto dá a impressão que o país, está à ven­da! Mas é 2012 está fi­xada em 4.420.483.285.532,00 (mais de uma impressão ilusória. 44 mil milhões de dóla­res) e reserva para o Huambo O que verdadeiramente está à venda é o petróleo de 33.451.885.513,00 (0,76. Este valor coloca esta provín- Angola, que é extraído num área territorial que esta cia abaixo de Benguela (1,56%), Bié (0,77%), Huila sim, é concedida (alugada) as empresas por um período (1,14%); Cabinda (1,04), Malanje (0,86%), mas acima determinado. Como este solo ou subsolo de onde se do Bengo (0,61), Kuando Kubango (0,64), Kwanza Sul extrai o pe­tróleo é património do Estado, então o rendi- (0,67%). Luan­da beneficia de uma fatia de 3,95%. mento do aluguer é registado como receita patrimonial. O valor des­te aluguer, chega a ser muito maior do que a soma dos impostos sobre os rendimentos mais os impos- tos sobre a transacção e os impostos sobre a produção do petróleo. É por isso que o total da receita patrimonial se apro­xima tanto do da receita tributária. A procura de concessões de petróleo em Angola tem aumentado nos últimos anos! Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 59

Despesas • Habitação e serviços comunitá­rios (que inclui o abas- Por se tratar da componente política e socialmente mais tecimento de água, a iluminação das vias publicas e o conflituosa do OGE, irei dedicar-lhe mais tempo. desenvolvimento habitacional), o Governo querem dar De natureza económica o Governo tem gasto anual- 4,14% (USD 1,89 mil milhões). E para a PROTECÇÃO mente, mais de metade das receitas do Esta­do em despe- AM­BIENTAL (que inclui gestão de resíduos/lixos sas correntes com desta­que para as Remunerações (salá- gestão de águas residuais/ esgotos) o governo prevê gastar rios e outros rendimentos do trabalho) dos funcionários pouco mais de USD. 604 milhões de dólares. Ora vejam (pessoal civil) e dos mi­litares e paramilitares. As autori- lá! Angola é dos países afri­canos com menor cober- dades tradicionais estão também incluídas milhões), que tura de água potável por habitante, não obstante a sua se pretende atribuir ao Sec­tor Social com uma análise enorme disponibilidade hídrica (rios e lagos). Os países um pouco mais detalhada. fronteiriços sem capacidade hídrica que se compare, A Educação (inclui ensino pré-pri­mário primário; com destaque a Namíbia e Zâmbia superam­-no grande secundário; superior etc.) receberá Usd 3,9 mil milhões, mente neste domínio. Cabo Verde um arquipélago árido qualquer coisa como 8,52% do OGE. Trata-se mesmo está ~ melhor posicionado que Angola, no que o forne- assim, de uma verba pequena, comparada com os enor­ cimento de água potável diz respeito. Em relação ao lixo mes desafios a enfrentar neste sector de capital impor- e ao saneamento, básico, Angola está entre os piores do tância estratégica para o desenvolviment9 sustentado. mundo! As vias publicas raramente estão iluminadas e Comparando-a (em termos de % do PIE) com aquilo a maior parte delas nem postes de distribuição têm e que as instituições da SADC e da UNESCO recomen- em muitas, faltam até lâmpadas. Resulta­do: É dos países dam ainda é baixa. Nenhum país da SADC, gasta tão africanos com as vias públicas (mais escuras e com um pouco do seu PIE com a educação, como Angola! índice de acidentes ro­doviários mais alto! Há (tanto mas tanto por fazer ~ nestes domínios da vida I nacional, Saúde (inclui todos os hospitais, centros e maternida- que não se con­segue entender como é possível destinar des públicas do país, bem como produtos, aparelhos e anual­mente, tão poucas ver­bas! Enquanto rubricas não equipamentos médicos). Tal como a educação, a saúde é especificadas ou ou­tros serviços não identifi­cados, se de importância estratégica fundamental, quer para eco- lhes atribuem verbas colossais! nomia como para a segurança na­cional no seu todo. a desenvolvimen­to humano depende disso! Acontece que • A defesa, segurança e ordem pública, continu­am a Angola tem uma das mais altas taxas de mortalidade ser tratados por este Governo, como o “paren­te mais materno infantil do mundo os angolanos debatem-se querido” e todos anos têm sido bem servi­dos. Em 2012 com problemas sérios de Saúde publi­ca da malária, às receberão a bela quantia de mais de Usd 7 mil milhões doenças diarreicas; passando pela tuberculose e doença (15,3% do OGE). Nada mau! Po­rém, mesmo recebendo de sono a nível de saúde da grande maioria dos angola- anualmente tanto di­nheiro, ainda há muitos milhares nos é precário! A taxa de mortalidade geral é das maio­res de ex-militares (homens e mulheres) por desmobilizar da região a sistema de saúde de Angola, não tem capa- e reformar (pensões). Uma séria e co­rajosa inspecção cidade de respos­ta. Está prenhe de debilidades e insufi­ (sindi­cância p.exe.) neste sector ajudaria certamente a ciências a todos os níveis. Frequentes faltas de medi- ge­rir melhor os fundos que lhes têm sido atribuídos! camentos e material gastável; atendimento hospitalar incom­petente e corrupto (gasosismo) fraca qualificação Sectores económicas do pessoal medico e paramédico; baixa remuneração do Parece que em 2012 esta­rão bem servidos. Mas se nos pes­soal agravada com recorrentes atrasos no pagamento lembrarmos que este ano lhes foi destinado 11,8% do de salários. Enfim... é um Deus que nos acuda! OGE e pouco de realmente significativo se fez nestes sectores pois continuam se debatendo com os mesmos Não obstante tantos problemas nes­te Sector vital, para proble­mas básico de sempre, os Usd 4,63 mil milhões a sobrevivência das populações, o Governo em 2012 (10,11%) que foram des­tinados em 2012 pouco ajuda- só pretende dar 5,2% do OGE ou seja USD 2,39 mil rão a galvanizar sec­tores tão estrategicamen­te impor- milhões! E pasmem-se, este Governo quer entregar mais tantes, como a Agricultura, Silvicultura, Pesca e Caça; dinhei­ro (4.83%) a “ Serviços de Segurança e Ordem Industria transformadora; Indus­tria extractiva (miné- Pública não especificados quer dizer, que não estão devi- rios); ~ Construção, Transportes; Comunicações... damente identificados ou melhor não se sabe bem quais Enfim, um conjunto de sectores produtivos que posicio­ são! Pois é, pretende-se dar mais dinheiro a estes “serviços nados uns à montante e outros à jusante, são estrutu- fantas­mas” do que aos Serviços hospitalares de todo o Pais, rantes e transver­sais de toda a actividade económica e que como se sabe, estão muito bem identificados, localiza­ servem de alavancas para o cresci­mento económico e dos, especificados etc. e a quem só lhes vão atribuir 3,48% o desenvolvimento. A verba que se pretende entregar do OGE. Parece-vos ab­surda ou não, esta opção? em 2012 a todos estes sectores, parece milio­nária mas Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 60 isto é apenas uma ficção numérica, porque se formos a para-se em nº à de Lu­anda ou até supera. E tem mais ana­lisar o que se quer dar a cada um daqueles sec­tores, Zaire é a região que mais produz petróleo em Angola e tudo fica mais cla­ro. Vejamos o Sector da Agricultura, a única que vai passar também a produzir gás natural. que como se sabe provocou o “milagre económico” do Ma­lange e Uíge, têm enormes potencia­lidades em agri- cresci­mento de Angola na dé­cada de 70 e cujas enor­mes cultura e silvicultura e até em turismo. E a guerra des- potenciais idades, são internacionalmente reconhecidas. truiu muito mais estas regiões do que Lu­anda. Então Temos água, luz solar em abun­dância e terras exten- porque razão se lhes faz tanta injustiça na hora de distri- sas e férteis que constituem a base para urna revolução buir o rendimento nacional? a mesmo po­deríamos dizer verde! Neste domínio, Africa do Sul e Zimbabué, não em relação ao Bengo (0,61%); Bié (0,77%); Cabinda nos superam! Tudo o que falta, no domínio infraestru- (1,04%); Huambo (0,76%). A todas estas 4 regi­ões tural; da inves­tigação científica, forma­ção de quadros; juntas pretende-se entregar 3,18% do OGE (USd.l, 4 mecani­zação, electrificação das zonas rurais; comércio mil milhões) contra os Usd 1,8 mil milhões de Luanda, rural etc. depende ape­nas duma forte vontade politica que é uma cidade-provincia quer dizer, é a mais pequena traduzida na afectação pelo Governo, de mais dinheiro província de Abgola, em superfície. Enquanto estas e outros recursos, a este sector fundamental. provín­cias recebem migalhas, a Estrutura central, que funciona em Luanda, irá abocanhar 82,49 % do OGE, Qualquer exercício sério e inteli­gente, de diversificação isto é USD 37 mil milhões! da economia angolana, para ser bem sucedido tem de passar necessariamente por este sector! Todavia, este Será que esta solução distributiva do rendimento nacio- Governo só pretende entregar ao Sector primário da nal, contribui eficaz­mente, para a redução das assime- economia nacional Usd.554 milhões (1,21% do OGE). trias regionais ou para a sua perpetuação? Será que desta E para a Industria transformadora, que se debate com forma, se conseguirá diminuir o excesso de população enormes problemas in­fraestruturais da responsabilidade resi­dente nas cidades, fazendo-os regres­sar às localidades do Estado, querem dar 0,05%; Constru­ção (0,01%); de origem? Tenho muitas dúvidas! Comunicações (0,43%) en­fim, apenas migalhas. Enquanto que os Serviços Públicos Gerais se banque­ Breve comentário sobre o pip tearão com 41,20% ou seja USd.18,8 mil milhões! O PIP, é uma designação abreviada do Programa de Perante este exercício tão surrealista de repartição do Investimento Publico que o Governo pretende imple- bolo nacional, fico estupefacto e sem mais entários a mentar o decurso de um ano. Trata-se na re­alidade das fazer! obras de construção civil, estudos e projectos de enge- nharia e outros, aquisição de máquinas e equipamen- Despesa por local tos e todos os serviços associa­dos. Grande parte do PIP Uma boa maneira de analisar as cau­sas das assimetrias anual é obras de construção e reconstrução civil. regionais de um país e as formas utilizadas de as com­ bater, é verificar como é que um gover­no distribui as Em 2012, este governo pretende gastar com investi- receitas do OGE pelas localidades (regiões) do país. a mentos públicos a quantia de USD 9,147 mil milhões. Resu­mo da Despesa por Local (pag.71) é bem elucida- Considerando que a capacidade de execução de obras e tivo e não deixa margem para dúvidas. projectos em An­gola é geralmente baixa, penso que esta verba é aceitável! Vejamos agora como é que este mon- LUANDA, sempre foi a região mais beneficiada e tante, será dis­tribuído pelo território nacional, para levar mais priorizado. Em par­te entende-se por ser a capital a cada região melhoria das condi­ções de vida. politi­ca, económica e financeira e por con­centrar uma grande parte (fala-se em 7.í) da população do País. Tudo Mais uma vez nota-se a descrimi­nação negativa, a que já bem, mas daí a receber anualmente, mais do que 4 a 5 me referi an­teriormente. Luanda (pagª. 292) irá ficar com províncias juntas, já não é aceitável, tanto mais que a 27,4% do montante total reservado para os investimen- maioria das províncias orça mentalmente inferio­rizadas, tos que o Governo pretende fazer em 2012. Qualquer são exactamente aquelas que apresentam os maiores pro- coisa como Usd.2,5 mil mi­lhões. E não pensem que este blemas infra-estruturas pois foi lá onde a guerra mais se montan­te é grande, porque inclui obras mo­numentais fez sentir. como a do novo aeroporto internacional, por exemplo. Negativo! A construção do novo aeroporto de Lu­anda, •As províncias do Zaire (0,50%), Uíge (0,91%), Namibe na região de Bom Jesus, só vai absorver 0,02% do total (0,47%), Moxico (0,72%), Malange (0,86%) e Lunda do PIP (pgªs 171 e 298). Quer dizer, para uma obra Sul (0,52%), todas juntas irão receber 3,98% do OGE, tão gigantesca e que nem sequer está ainda construída tanto quanto se preten­de dar à Luanda (3,95%). Estou a 60%, só se previ­ram gastar com ela 150 milhão de em crer que a população de todas estas províncias equi- kwanzas, em 2012 ou seja 1 milhão e meio de dólares! Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 61

Mas afinal a obra está paralisada ou está mesmo em da dívida e constituição de activos, estimadas em três cur­so? E se está em curso donde sairá o dinheiro para mil e 420 mil milhões, re­sultando um superávit fis­cal a financiar? Mesmo que este venha da China, através equivalente a 3,5% do PIB. dos bilio­nários empréstimos a que este país oriental habituou o governo de Ango­la, ainda assim, as verbas O ministro das Finan­ças, Carlos Lopes, disse, durante a tinham de estar inscritas no OGE! Mas para mi­nha sur- apresentação do OGE, o actual cenário revelar-se mais presa e certamente vossa, não há mais verbas inscritas promissor para a economia nacional em comparação aos para financiar este Projecto em 2012! Isto só pode signi- últi­mos três anos, tendo em atenção a posição sólida das ficar 2 coisas: Ou o aeroporto está concluído (e não foi reservas externas e das contas fiscais. isso que ouvimos do P. Republica a 18 Outubro, nem o que vimos na TPA, recentemente!). Ou então vão parali- O titular destacou a proposta orçamental as­sentar em sar as obras em 2012? Se for este o caso, mesmo as­sim, 1 projecções realistas para a economia nacional, tendo em milhão de dólares não chegarão para pagar os gastos que conta a evolução recente e as perspectivas da econo­mia a paralisação acarreta! Então aqui há coisa! E é, para o mundial e a evolução das finanças do Estado, nos anos Tribunal de Contas investigar e o Par­lamento fiscalizar, 2009, 2010 e 2011. é claro! Em contrapartida, o ministro da Agricultura, dó Poderia ter dissecado mais este OGE para retirar dele Desenvolvimento Ru­ral e das Pescas, Afonso Pedro outros aspectos ne­gativos e também positivos. Mas para Canga, reafirmou ao plenário da Assem­bleia Nacional isso corria o risco de ser muito mais longo e fastidioso que cerca de 24 mil produtores familiares beneficia- e abusaria certa­mente do vosso precioso tempo. Não ram de um total de 47 mi­lhões de dólares do Cré­dito é o meu propósito e por isso fico por aqui, esperando Agrícola de Cam­panha, desde 2010. que tenha sido sufi­cientemente claro, elucidativo, cons­ trutivamente crítico e pedagógico. Esta foi a minha prin- cipal intenção ao decidir fazer este trabalho analítico. Bem hajam, todos os que tiverem oportunidade de ler este documento.

Principal base de trabalho utilizada: • Orçamento Geral do Estado (Proposta p/ 2012) • OGE proposto em 2011 e Orçamento complementar 2011 • Balanço de Execução Orçamental (1ºSemestre 2011) • Algumas opiniões de cidadãos Gomais e debates rádio-tv) • Observação e vivência no meio objecto de análise

4.15 Assembleia nacional aprova oge na generalidade Jornal semanario factual 19 a 26 de Novembro de 2011

A Assembleia Nacio­nal aprovou, na terça-feira, 15, na generalidade, o Orçamen­to Geral do Estado (OGE) para 2012. O OGE, avaliado em 4,4 tri­liões de Kwanzas, estima uma taxa de inflação de 10%, e a expectativa de crescimento real da econo­mia é de 12,8%, em 2012. A previsão de produção de petróleo ultrapassa os 6,6 milhões de barris, com o preço médio de expor­tação de 77 dólares o bar­ril.

As receitas fiscais, ex­cluindo os desembolsos de financia- mentos e venda de activos, estão projecta­das em 3,7 mil milhões de Kwanzas e despesas fis­cais, sem amortização Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 62

5 GOVERNAÇÃO Cunha Velho revelou aos confe­rencistas que, no quadro desse programa, o governo central dis­ponibiliza, anual- DESCENTRALIZAÇÃO mente, para cada município cerca de 214 mi­lhões e 521 mil kwanzas (mais de dois milhões de dólares), com a E CIDADANIA excepção do Lubango que atinge os 2 milhões e 288 mil kwanzas. Estes dinheiros são geridos total­mente pelas administrações mu­nicipais sem interferência do governo provincial, no que se re­fere aos concursos públicos e a fis- 5.1 Decretos do Presidente dão calização directa. Cunha Velho acrescentou, além desse projecção a Luanda montan­te, as administrações municipais recebem ainda Jornal de Angola mais de dois mi­lhões de dólares destinados aos cuida- 02 de Novembro de 2011 dos primários de saúde, no âmbito do programa da sua mu­nicipalização para sustentar as campanhas, aquisição O Presidente da República, José Eduardo dos Santos, de medica­mentos, entre outras necessida­des correntes. assinou e man­dou publicar ontem, no Diário da O vice, que impediu a impren­sa de captar as suas decla- República, vários diplomas legais, entre os quais rações, salientou ainda que dos 13 muni­cípios que bene- os Decretos Presidenciais que aprovam os estatu- ficiaram destas verbas, oito não as gastaram sem, no tos or­gânicos do Governo da Província de Luanda e entanto, se ter referido às pro­váveis incapacidades téc- dos municípios de Be­las, Viana, Cazenga, Cacuaco, nicas de que padecem a generalidade das administra- Quissama, Icolo e Bengo e Luanda, que agora também ções municipais, no tocante à elaboração de projectos e é município. O Presidente José Eduardo dos Santos a gestão e contabilidade, tendo lamentado o facto de as as­sinou ainda o Despacho Presidencial que determina finanças não devolverem a quem não gas­ta o dinheiro que os titulares dos órgãos da Administração Local do cabimentado, não gasto para um determinado ano Estado na Província de Luanda, assim como os vice- económico. -governadores e administradores adjuntos, continuem a O governante revelou, ainda, que o seu executivo exercer as funções interinamente, enquanto não forem já gastou cer­ca de 2 biliões e 28 milhões de kwanzas nomea­dos os titulares definitivos dos cargos. Outros para os 170 projectos consignados, faltando aplicar Decretos Presidenciais remetidos para publicação no 823 milhões, 651 mil kwanzas, refe­rentes ao terceiro Diário da República são os que cria a ur­banização de trimestre. Sequele, no município do Cacuaco, e o que estabe- A educação foi o sector que be­neficiou da maior fatia do lece o regime específico da sua organização e gestão. ‘bolo’, consumindo 1 bilião, 354 milhões e 422 kwanzas, O Presidente da Repú­blica assinou ainda o Decreto possibilitando a entrega de 32 escolas primárias, com Presidencial que estabelece o regime de taxas e licenças 192 salas de aulas, sendo que a conclusão destes projec- específicas aplicáveis no município de Luanda, infor­ma tos permitirá à inserção de 15 mil e 360 crianças do total uma nota da Secretaria para Assuntos de Comunicação de 33 mil e 181 crianças fora do sistema de ensino. Institucio­nal e Imprensa do Presidente da República. Quanto ao programa merenda escolar, Cunha Velho não escon­deu o insucesso desta iniciativa, avançado apenas que seis muni­cípios beneficiam dele. Isto é dos 5.2 Sociedade civil exige mais 555 mil alunos do ensino primá­rio previstos, apenas 12 transparência do governo mil e 939 são beneficiados. Jornal AGORA 05 de Novembro de 2011 Foram estas e outras revelações que levaram os parti- cipantes a exigirem maior transparência na gestão dos A sociedade civil huilana, que se reuniu recentemen­te fundos públicos e questionarem ao vice questões como a para, analisar a dinâmi­ca das organizações da sociedade problemática do lixo na cidade, valas de drenagem entu­ civil locais, o programa integrado municipal de desen- pidas, carência de medicamentos nos hospitais públicos, volvimento rural, do combate à fome e à po­breza e eleger ao que Cunha Velho prometeu resolver com ajuda da os participantes à conferência nacional, pediu maior sociedade civil a quem pediu maior participação nos rigor na gestão da coisa pública. encontros dos conselhos de auscultação e concertação social (Cacas). Mas esta alega não estar bem represen- O tema sobre o programa de desenvolvimento rural de tada porque os me­canismos de eleição ao fórum são com­bate à fome e à pobreza introdu­zido pelo, vice-gover- bastante viciados. Além disso, al­guns municípios nem nador para a área económica da Huíla, permi­tiu aos pre- sequer têm Cacas constituídos e, entre os que criaram, sentes tirar conclu­sões bastantes sobre a forma como são a maioria furta-se em in­tegrar membros da sociedade gastos os dinheiros pú­blicos ao nível dos municípios. ci­vil locais. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 63

Os membros da sociedade civil denunciaram e conde- Baseando-se em registos da história de países desenvol- naram a ati­tude do administrador da Matala, Miguel vidos, o especialista feriu que à medida que o número Vicente, que impediu a realização da conferência de lhos caiu, melhorou a qualidade de da das pessoas, munici­pal, alegando que exibissem um documento assi- reduzindo a propor­ção de pobres. nado por Isaac dos Anjos a autorizar a sua reali­zação. No final da conferência elege­ram os participantes à “O número de filhos por mulher também tem uma conferên­cia nacional que decorrerá em Malanje, este relação muito próx­ima, negativa, com relação ao mês. Índice e Desenvolvimento Humano (IDH). Quantos mais filhos por mulher, me­lhor o IDH”, ilustrou José Ribeiro, para quem, quanto à taxa de natalidade, pais 5.3 “Nos últimos 15 anos, há indicicios se encontra numa fase muito mais adiantada iniciada de que a fecundidade começa a cair em 1950, atra­vés da generalização do uso de vacinas. Jornal a capital Num outro desenvolvimento, o mesmo especialista que 05 de Novembro de 2011 temos vindo a ci­tar, desta vez, durante uma conferên­cia sobre “População e Povoamento integrado”, realizada Na verdade esta pergunta vai permanecer no ar durante em Luanda no pretérito mês de Agosto, afirmou que mais algum tempo, permanecer no ar durante mais existem no pais estatísticas a apontar que há 97 homens algum tempo, a julgar pela ausência ou mesmo, demora para cada 100 mu­lheres. na realização de 1m censo populacional. Até agora, a hipotética resposta estima que a po­pulação angolana “Existem, de facto, mas não com a in­tensidade que as ronda entre os 14 milhões e os 15 milhões, fazendo fé pessoas falam. Para cada 100 mulheres, existem 97 nas amiudadas referências que se vão fazendo quanto ao ho­mens”, confirmou, elucidando que, é numa propor- assunto. ção de em 100 mulheres existirem menos três homens.

Alguns sectores versados na matéria defendem a possi- “Não são sete mulheres para cada ho­mem como se bilidade de sermos um pouco mais acima dos números procura dizer às vezes. Não! Para cada 100 mulheres avançados, mas já outros, sugerem que somos menos e existem 97 homens”, desdramatizou José Ribei­ro, ao que, pela vastidão territorial de Angola, há necessidade acrescentar que se trata de uma situação que se altera de se incrementar uma política basea­da na teoria bíblica com a idade. “crescei e multipli­cai-vos”. Seja como for, o ideal mesmo é, fazer-se o censo populacional. “”Na altura do nascimento nascem mais meninos do que meninas. Para cada 100 meninas nascem 103 meni­nos Entretanto, um estudo dos Indica­dores Demográficos mas, depois, a própria natureza encarrega-se de repor o do país, realizado pela Universidade Lusíada, refere que equilíbrio”, e como? “Mata mais meninos que me­ninas Angola está a registar um período de transição da taxa para haver um certo equilíbrio”, concluiu. de natalidade, o que revela que tem havido uma menor pre­ocupação das mulheres em ficarem grávidas. População mundial chegou aos sete mil milhões Há cerca de 2000 anos, a população mundial era Numa perspectiva de admitir que nasce-se mais do que de apenas cerca de 300 milhões e foram necessários se morre, no país, os dados da Lusíada revelam ainda mais de mil e 600 anos para que este va­lor duplicasse. que os investimentos no sector da saúde, sobretudo em Actualmente, porém, segundo o relatório da ONU sobre vacinas de prevenção, permitiram a redução de mortes. a Situação da População Mundial em 201, apresentado Acrescenta, ainda assim, que até 2040, a população nesta segunda­-feira, 31 de Outubro, em Lisboa, sete mil angolana não duplicará para 40 milhões de pessoas, milhões de pessoas habitam planeta. tendo em conta que, há 15 anos obser­va-se a uma ten- dência de as mulheres ficarem cada vez menos grávidas. Uma das questões que o rápido crescimento demográ- “Nos últimos 15 anos, há indícios de que a fecundidade fico coloca é: até quando a Terra terá capacidade para começa a cair e nós estaríamos a entrar na primeira fase sustentar tantas pessoas? Algu­mas tendências são notá- de transição da natalidade. Se essa ten­dência se manti- veis, refere o relatório das Nações Unidas. Ac­tualmente, ver, a natalidade vai co­meçar a cair e, estima-se que em existem 893 milhões de pessoas acima de 60 anos em 2050, a fecundidade das mulheres esteja em tomo dos todo o mundo, mas em 2050 os sexagená­rios já serão dois ou três filhos”, disse o demógrafo José Ribeiro, ao 2,4 mil milhões. apresentar os indicadores do estudo, esclarecen­do que os factores enumerados acima fazer reduzir de seis ou sete para dois ou três filhos para cada mulher angolana. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 64

Já as pessoas com menos de 25 anos compõem quase Noutras regiões, ao contrário, a taxa de fecundi’t1ade metade da po­pulação mundial. Há cerca de 1,2 mil declinou drastica­mente desde 1950 até hoje. Na Amé­ milhões nas faixas etárias entre 10 e 19 anos. Esse per- rica Central, era de 6,7 filhos. Sessen­ta e um anos depois, centual já é uma realidade em alguns dos maiores paí­ses essa taxa caiu para 2,6, ou seja, meio ponto percen­tual em desenvolvimento. acima do “nível de reposição de 2,1 filhos, sendo uma dela rapariga. Considerando que os jovens po­dem ser “uma força poderosa para o desenvolvimento económico”, a ONU Já no Leste asiático, a taxa era de 06 filhos por mulher recorda que essa oportunidade de “bónus demográfico” em 1950. Actual­mente, é de 1,6, bem abaixo do nível de é passagei­ra e deve ser aproveitada rapidamen­te, ou reposição. então perderseá. Em África, porém, a queda foi mí­nima: a taxa de fecun- Paralelamente, verifica-se que o seg­mento populacional didade actual é de 05 filhos por mulher. A despeito do entre os 10 e os 24 anos começou a declinar em vários declínio das taxas de fecundida­de globais, cerca de 80 países e não apenas nas nações indus­triais desenvolvidas. milhões de pessoas nascem a cada ano, número equiva- No México, por exemplo, onde a fecundidade decresceu lente ao da população da Ale­manha ou da Etiópia. de modo significativo nas últimas décadas, a pirâmide populacio­nal tem encolhido regularmente na base, com a faixa etária de o a 14 anos a passar de 38,6% do total 5.4 Provincia de Luanda delonga por nacional a 29,3% em 2010. Como consequência, em governador competente duas décadas -a idade média do país subiu de 19 para Jornal semanario continente 26 anos. 11 de Novembro de 2011

A ONU chama a atenção para os reflexos do desenvol- A Capital Angolana está sem chefe de Governo vimento econó­mico e social sobre a juventude na Índia, (Provincial)! Esta situação mesmo transitária, causa onde a taxa de fecundidade de 2,5 filhos por mulher celeuma e aperreia aos Munícipes (Empresári­os, ainda está bem acima do nível de reposição da popula- Empresas, Negócios, Politicas, Estratégias, Definições, ção (2,1), e há mais de 600 mi­lhões de pessoas na faixa Decisões, Soluções, etc., etc.). É importante que haja de 24 anos ou menos. uma desenvoltura da situação, porque uma Comissão de Com 1,2 mil milhões de jovens, fe­nómeno que tem Gestão tem alguma limitação executiva. atraído o interes­se de muitos demógrafos, a Índia está em vias de suplantar a China, considerada a nação mais O futuro chefe de Governo Provincial de Luanda terá populosa do mundo, com 1,3 mil milhões de pessoas, que priorizar políticas e execuções nas actividades das segundo o último recense­amento. Ob­ras Publicas, e na Assistência Social dos Munícipes. Na Província de Lu­anda existem munícipes com bas- 80 Milhões de bebés por ano o rápido crescimento tante carência, pobreza, e é importante que o Governo populacional teve início em 1950, com as reduções de da Província faça inter­venções sociais (ajuda alimen- mortalidade nas regiões menos desenvolvidas, o que tar). Vislumbremos, uma das necessidades prioritárias resultou numa população estimada em 6,1 mil milhões da Província de Luanda é a construção de redes de no ano 2000. Ou seja, quase duas vezes e meia a popu- valas de dre­nagens subterrânea, contrariamente a exis- lação de 1950. tente Cidadela – Calemba. (Não existe nenhum País Civilizado no Mundo com vala de drenagem a céu De um ponto de vista, o facto de termos chegado aos aberto, que eu conheça). 07 mil milhões pode ser encarado como um sucesso. Mas, refere a ONU, “nem todos bene­ficiam dessa con- Existem bairros na Província de Lu­anda, com rede de quista ou da maior qualidade de vida associada a esse saneamento con­struídas, sem ligação à valas de dre­ crescimento. Há grandes disparida­des entre e dentro dos nagem, porque não existem! países”. A prioridade de construção de valas de drenagem deve Muito desse aumento populacional deve-se às altas taxas ser abrangida tam­bém na construção de estações de tra- de fecundidade dos países mais pobres, dos quais 39 se tamento, antes das descargas ao mar. Com esta estra- situam em África, 09 na Ásia, 06 na Oceânia e 04 na tégia prioritária a província de Luanda ganharia um América Latina. consumado significativo, abrangente, transversal, que resolveria e acabaria, com situações que maiores afligem os Munícipes, ex: melhoria na quali­dade de vida, dimi- Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 65 nuição dos charcos, doenças endémicas, boa circulação 5.5 Aqui é a cpaital do sobúrdio de pedonal e automóvel, etc., etc. Luanda” Este tipo de sensibilidade governativa carece de com- jornal angolense petência, erudição, ca­pacidade de trabalho, contraria- 12 de Novembro de 2011 mente de o que tem acontecido, sucessivamente ne: na nossa Província (Capital). O Bairro da Demuca é tido como uma das áreas mais críticas do referido município em termos de crimina- A Província de Luanda necessita ur­gente de um lidade, saneamento bási­co, energia eléctrica e falta de Governador com capa­cidade interventiva, entendido, água potável. Os moradores ad­quirem a água através dos com equidade, pragmatismo, receptivo as ideias, dis- tan­ques a sessenta Kwanzas o re­cipiente de vinte e cinco cuti-las, sem autismos nem “elitismos”! (sistema político litros. O bairro está situado acerca de duzentos metros ou so­cial que favorece a elite, em prejuízo t dos restantes do antigo mer­cado do Roque Santeiro em direcção a membros do grupo ou I da população). rotunda da 80avista chegando até a praça do Calu­singa. Segundo informações obtidas no local, a energia eléc­ As maiores necessidades dos Luandenses, (hospitais, trica foi restabelecida há dois anos, após vinte anos às água, energia, sa­neamento, emprego, trânsito, estra­das escu­ras, mas sabe-se ainda que os cortes de energia tem asfaltadas), devem constar nas prioridades do próximo sido frequentes.­ Governador, definindo estratégias para minimizar estas necessidades. No que tange a criminal idade no referido bairro, os moradores a denominaram de “ rainha dos crimes”, É necessário que o próximo Gov­ernador focalize no seu disseram ainda que são feitas denúncias, mas a polícia mandato as questões sociais. Elaborar uma es­tratégia quase nunca aparece. Um dos munícipes contou que política e socioeducativa para encaminhar vendedores de esta se­mana na rua da vaidade, uma senhora foi assal- rua miúdos e jovens para formação téc­nico profissional tada por volta das dez horas da manhã, os delinquentes com remuneração mínima, com alguma atractividade, “gatunos” levaram os cinco mil kwanza que a mes­ma de maneira a causar de facto uma pro­cura considerável trazia e ninguém interviu com medo se sofrer represá- por parte destes jo­vens vendedores de rua. O Governo lias. “Estes meliantes são jovens do bairro”, informou. da Província de Luanda deve de algu­ma forma tentar estancar esta situação que se está a tomar enfadonha. Os munícipes estão revoltados com esta condição e pro- Sabemos que alguns Jovens vêm de outras Províncias, metem que caso não se faça alguma coisa para estancar o a procura de emprego. r É triste saber que a Província problema, farão justiça por próprias mãos. Actualmente de Luanda só tem um lar para idosos, (Beiral) em pés- a situação que se vive na zona é a guerra entre os grupos. simas condições, é importante C a construção de vários “Já morreram muitos jo­vens aqui nesse mundo do crime Centros de Repouso para Idosos, nos Municípios de e as mortes são a olho nu”, contaram, tendo realçado Luanda. ainda que, os jovens na sua maioria estão desempregados e por essa razão estão a consumir o álcool em excesso Estamos no tempo chuvoso, o Gov­erno Provincial como uma forma de subterfúgio. deve ter os meios (máquinas) para a execução das ob­ras Públicas nos bairros com maior dificuldade Por outro lado, ficamos a saber que no referido bairro de evacuação das aguas pluviais, de maneira a inter- existe um mercado conhecido como “ pra­ça Calusinga” vir quando necessários. O Governo Provincial de está a ser invadi­da por ex-vendedores do antigo mercado Luanda tem que ter DEVERES, OBRIGAÇÕES, e do Roque Santeiro. De acordo com os moradores, esta RESPONSABLIDADES. realidade tem se verificado des­de que o Roque Santeiro fechou, as vendedoras que foram trans­feridas para o Panguila estão a regressar, pois afirmam não te­rem clientes.

Quanto a diversão ao fim-de-se­mana o ambiente é de festa um dos salões mais conhecido chama-se “Família Forever” onde são realizadas as festas. Os jo­vens já não conseguem jogar a bola porque os espaços que ou­trora existiam agora se transfor­maram em armazéns.

Ainda no Sambizanga na rua do Chamavo também conhecida por “rua do Mantorras” assim de­nominada Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 66 por ser a rua onde nas­ceu e cresceu o jogador de fu­tebol, manhã as cinco para varrer o lixo das ruas e colocar nos Pedro José, trivialmente co­nhecido por Mantorras, foi lá sacos nas portas de cada residência e, o transportadora onde a equipa do KaLuanda fez a sua segunda paragem. arma de fogo, dentro do jeso, ti­rou a arma para o inti- Logo a en­trada da rua, é visível as péssi­mas condições midar, mas o seu filho começou a lutar com ele e conse- em termos de sa­neamento básico por toda exten­são da guiu desarma-lo e le­varam-no a polícia. “Assaltos aqui é rua, está enlameada. Se­gundo os munícipes esta situ- o pão-nosso de cada dia”, afirmou. ação se verifica como consequência da chuva que se abateu na última semana. “ Aqui no tempo chuvoso é Pepe, contou por outro lado, que as farras daquela época um caos não se con­segue passar, porque as águas elevam eram muitos populares, eram festas de quintal, mas por o nível das casas”, frisou um dos munícipes. Ma­dalena vezes no decorrer da festa muitos fu­giam “pulavam os Eduardo, moradora, dis­se que estão com corte de ener­ quintais” quando a polícia aparecia, pois tinham que ter gia eléctrica há já algum tempo e esta condição esta a autorização para realizar estes eventos. Conti­nuou, as deixar os munícipes desgastados, tam­bém não há água vezes havia competi­ções entre os DJ para ver quem toca potável, situ­ação que esta a obrigar os moradores a pro- mais e os mais famosos daquele tempo era o DJ Osca­rito curarem o liqui­do precioso noutras zonas. e o Chico. Outro munícipe que também se pronunciou a equipa do KaLuanda foi Constantino Paulo, morador há mais de Sobre os relacionamentos disse que o namoro era a base quarenta anos, disse que todas as sem­anas tem havido de car­tas, não namoravam nos becos tinham que ser desmandos, principalmente as quintas, sex­ta-feira e tudo formal o rapaz ia para casa da rapariga ter com os sábados a partir das dezoito e trinta, aparecem gru­pos pais dela para que estes dessem a permissão e tin­ham que começam as cinco até as sete horas. “Quem viu o de faze-lo dentro de casa. Contou que muitos rapazes Sambizanga e quem vê hoje o município está péssimo”, que não sabiam escrever na época compravam uma carta lamen­tou. Contou que outrora as con­dições de vida já feita que os portugueses vendiam. “A carta já vinha eram favoráveis os problemas a cima citados não haviam, escrita num canto estava escrito não noutro sim e se tendo acrescenta­do que os jovens daquela altura estavam a menina disse-se sim então dobrava o canto do sim”, inclinados na edu­cação. explicou.

Quanto “as farras” disse que antigamente as festas eram feitas salões. Disse ainda que haviam muitos restauran- 5.6 «Queremos deixar de servir tes, um dos conhecido era o “ bate cha­ves” hoje estes apenas para as estatísticas espaços foram transformados em residências. “O muni- eleitorais» cípio do Sambizanga mudou muito”, disse Sebastião jornal semanario angolense Caetano, munícipe desde 1975,num olhar ao passado 19 de Novembro de 2011 contou que as ruas eram todas asfaltadas, havia água potável disponível, os chafarizes funcio­navam, mas José Patrocínio, animador dos «Debates a Quinta» actualmente estão com três fontanários e apenas dois e líder da Organi­zação Não Governamental (ONG) funcionam. Quanto ao cri­me explicou que a rua do São OMUNGA, é um activista tão conhecido no sul de Paulo e do Ngola Kiluange, são as mais afectadas em Angola quanto a «Coca­ Cola», passe algum exagero. Em termos de assaltos, disse ainda que os ar­mazéns têm con- entrevista exclusiva a este jornal, Zé Tó – como também tribuído de cer­ta forma para o aumento da de­linquência é conhecido e tratado pelos mais próximos – afirma, e também do exces­so de lixo que tem se verificado ao por sua conta e risco, que grande responsabilidade dos longo da artéria. avanços no processo demo­crático em Angola se deve à intervenção cidadã e que a Sociedade Civil, formalizada “Aqui está horrível”, frisou, tendo acrescentado que a ou não, tem contribuído, e de que maneira, para que pre­sença da polícia não se faz sen­tir e por vezes quando hoje todos os angolanos se sintam menos povo e mais aparece o retrato do Sambizanga na era colonial. cidadãos. Nado e criado no Lobito, José Patrocínio é de opinião que a intervenção da Sociedade Civil amedronta De acordo com Pepe de Freitas, outro munícipe, na era o poder ins­tituído. Só isto, diz, justifica os discursos colonial o município estava em melhores condições em musculados con­tra algumas associações ou personalida- termos de estru­turas e as pessoas eram mais respeito- des da Sociedade Civil. Fiquem então com o essencial da sas. Na altura chamava bairro “canicio um” denomi­ nossa conversa. navam-no assim porque havia um bar no local que tinha o mesmo nome foi assim que sur­giu. Com relação ao lixo, disse que outrora tinha o habito de acordar muito cedo por volta das quatro e meia da Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 67

Semanário Angolense (SA) ­As manifestações são uma ma­nia o poder instituído. Só isto justifica os dis­cursos mus- que viraram moda ou é uma moda que virou mania? culados contra algumas associações ou personalidades José Patrocínio (JP) – Durante muito tempo foi impossí- da Sociedade Civil. Só isto justifica a luta que se trava vel mani­festarmo-nos, desde que o motivo fosse de con- contra a interven­ção destas pessoas e grupos. Isto é um testação, reivindicação ou ainda de protesto. Era normal bom indicador do nível de ci­dadania que temos. que as manifestações apenas apa­recessem com motivos de apoio ao poder instituído. Claro que isto é uma visão SA – Quer dizer que até então angolano era mais povo que generalista, já que na realidade sempre foi havendo um cidadão­ propriamente? pouco de protestos. Más o que quero dizer é que não era JP – O que acredito é que cada vez mais as pessoas se vão no sen­tido consciente de manifestação. A partir de certa dando conta que são cidadãos. Que têm direitos. altura, as mani­festações passaram a ocupar um espaço Principalmente, que têm responsabilidades para a mais concreto de pressão. garantia destes direitos. Cada vez acredita­mos mais que os direitos que vamos exercendo são produto da nossa As manifestações passaram a ocu­par um maior espaço responsabilidade no processo. Os direitos não caiem do de afirmação da cidadania. A medida que se vai conse- céu. Nem nos são dados como caridade. São resultados guindo impor o exercício des­te Direito mais existe a ini- de luta e de consciencia­lização. Esta é a nossa responsabi­ ciativa de se manifestar. As pessoas come­çam a gerir um lidade: lutarmos pelos nossos direi­tos e termos voz na novo instrumento e vamos todos aprendendo a utilizá-lo construção do país que sonhamos. Isto tem vindo a cada vez melhor. As pessoas vão ­se dando conta que, crescer. Isto é um facto. afinal, pode-se exercer este direito e então o vão utili- zando cada vez mais para ex­pressarem os seus proble- SA – O poder instituído, usando palavras suas, lida mal mas. Acre­dito que também a situação em que vivemos com as manifestações? em Angola, em que nos confrontamos com milhares de JP – o poder instituído «ainda» lida mal com as mani- problemas de injustiça, com falta de espaços de partici- festações. Ou melhor, «ainda» lida mal com todo o pação e de re­conhecimento de cidadania, mais razões tipo de intervenção que pretenda alterar a actual ordem existem para que as pessoas utilizem as manifestações das coisas. Ou seja, qualquer tentativa de mu­dança do para rei­vindicarem. sistema é confrontada com as reacções de impedimento e repressão. A título de exemplo é o que está a acontecer SA – Não respondeu directa­mente à pergunta... aqui em Ben­guela (especialmente no Lobito) em relação JP – Não estávamos habituados a assistir às manifesta- ao OKUPAPALA, 1.” Encontro Internacional de Artes ções e muito menos a participar nelas. Ficamos então e Culturas Urbanas. O tipo de pres­são e repressão de admirados com tantas ini­ciativas do género. Elas vão que estamos a ser alvo demonstra o que expresso atrás. É conti­nuar. preciso insistirmos na luta.

SA – Não acha que a manifestação como instrumento de SA – Que tipo de repressão es­tão ser alvos no Lobito? Porquê luta política, está a ser banalizada? e por quem? JP – Penso que nunca se bana­liza um direito. As pessoas JP – O OKUPAPALA é uma ac­tividade que envolve a vivem a euforia de um novo momento. Começámos a OMUNGA enquanto produtora. O projecto foi conce- perceber que afinal podemos manifestar-nos. Percebe­ bido juntando diversas ideias de várias pessoas e grupos. mos que estamos a conquistar este espaço e por isso O que se pretende com este tipo de festival é juntar as se utiliza bastan­te, principalmente neste momento, a pessoas através da valorização das realidades das comu- manifestação. Mas também acre­dito que é uma fase de nidades periféricas. Por isso este festival foi concebido luta muito concreta. As pessoas vão aprenden­do a utili- para ser realizado em vários bairros pe­riféricos na cidade zar também outros instru­mentos. Estamos agora a nos do Lobito. O projecto foi apresentado quer a nível local, envol­ver cada vez mais na construção da cidadania. como provincial. Ini­cialmente deveria coincidir com os festejos da cidade, mas por várias razões externas à nossa SA – Há pouca consciência de cidadania em Angola? vontade, decidimos adiá-lo para as come­morações da JP – Não digo que temos pouca consciência de cidada- independência. A 09 deste mês (quarta-feira) a menos de nia em An­gola. Acredito que grande respon­sabilidade 24 horas para começar com o fes­tival, o director provin- dos avanços no processo democrático em Angola se cial da cul­tura chamou dois membros ligados à organi- deve à intervenção cidadã. A Sociedade Civil, formali- zação (não da OMUNGA) e informou que o Governo zada ou não, tem contribuído, e de que maneira, para retira­va todo o apoio porque não podia estar metido que hoje todos nos possamos sentir mais cidadãos. De num projecto onde se encontram também os promoto­ tal forma que eu acredito nisto. Tenho a sen­sação de res de manifestações em Luanda. Assim ficámos sem que esta intervenção da Sociedade Civil amedronta sala para a re­alização do «Quintas de Debate» (que era Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 68 uma escola no bairro da Lixeira) e sem a Administração a administração. Tivemos que fazer uma grande ginás- municipal onde prevíamos realizar uma palestra e uma tica de distracção e assim inventámos à última hora um exposição. Per­cebemos a ideia apresentada pelo director outro espaço e arrancámos com a actividade. Mesmo provincial da cultura, só que não imaginávamos que o assim fomos contactados pela polícia para aca­bar com cerco seria ainda maior. o espectáculo. Decidiu-se continuar. No dia 13 fomos infor­mados pela empresa «Rosalina Ex­presso» de que SA – Isto quer dizer que o festi­val já não vai acontecer? nos retirava o apoio. Esta empresa, para além das via­ JP – Não. Isto quer dizer que nos confrontamos com turas que alugávamos, tinha dis­ponibilizado um mini- bastantes obs­táculos e desafios. Temos então que ser -autocarro como patrocínio. Outro patrocina­dor tinha bastante criativos e não desis­tir. Em relação à palestra decidido retirar-nos os contentores habitacionais onde se e exposi­ção prevista para a administração municipal encontram hospedados outros par­ticipantes. conseguimos transferir e realizar no cine Imperium. No entanto isto desmobilizou o pessoal porque desconcen- SA – Agora quanto ao facto de as manifestações serem trou a equipa da organização e também o pessoal que quase sempre liderados por dirigentes de partidos políticos? estava informado. Em relação ao «Quintas de Debate», decidimos realizá-lo na rua junto à referida escola. Isto JP – Não sei se podemos gene­ralizar que as manifes- também trouxe os seus problemas. O pior é que dois tações são lideradas por jovens desocupados. O facto jovens apedrejaram o local enquanto de­corria o debate de serem jovens tem algum argumento. Na realidade e puseram-se ime­diatamente em fuga. Pouco mais de em toda a parte do mundo são os jovens que têm mais cinco minutos depois, o segundo comandante munici- energia e dinâmica. São também, em essência, menos pal da polícia do Lobito já se encontrava no local com con­formistas. Possivelmente o facto de se sentirem exclu- mais três ou quatro indivídu­os, declarando que teria sido ídos lhes leva a te­rem mais coragem para se manifes­tar. con­tactado por telefone sobre o ocorri­do. Muito rápida a Sentem na pele as consequên­cias de um sistema injusto. intervenção do comandante, não parece? E pior é que a Não sei também se estão, todos eles ligados a partidos intervenção do comandante foi para desmobilizar a acti- da oposição. Mas se isso corresponde à verdade, também vidade com a justificação de uma suposta falta de segu- tem explicação. Estar ligado a um partido da oposição rança. Pouco depois apresentaram uma criança como já demonstra não estar a favor do sistema e do regime. se tivesse sido ela a pessoa que ape­drejou. Deste ape- Por outro lado, estar ligado a um partido já demonstra drejamento (duas ou três pedras) ficou partido o vi­dro alguma formação política. Lideranças têm que ter visão da viatura da empresa «Rosa­lina Expresso» que estava política. Seja como for, temos é de olhar para o facto de alugada para prestar apoio. Mas apenas era o início. A serem cidadãos insatisfeitos com a situação que vivemos pressão não ficou por aí. num país rico para alguns e miserável para a maioria.

SA – Porquê que a maior par­te dos manifestantes são, na SA – Nestas manifestações não tem havido aproveitamento sua maioria, jovens desocupa­dos liderados alegadamente por parte de alguns líderes partidá­rios? por pessoas ligadas aos partidos da Oposição? JP – Não poderíamos esperar outra coisa. É obvio que JP – Antes de responder a esta pergunta, quero ainda os parti­dos políticos tiram e devem tirar o seu proveito. acrescentar os tipos de pressão que estamos a ser alvo Seria estranho se isso não acontecesse. Isso não é um neste momento para que não se realize o OKUPAPALA. crime nem um problema. Iodos os envolvidos na causa No dia 11 de Novembro fomos im­pedidos de realizar o de construção do país ficam atentos aos contextos e vêem espectáculo previsto para a Damba Maria, por alegada neles as oportunidades e/ou os constrangimentos para as falta de autorização. A 12 de Novembro somos infor­ suas intervenções. Não podemos é pensar que, pelo facto mados que todos os participantes que estavam acampa- dos partidos políticos fazerem o seu aproveita­mento em dos no espaço da Cuca, na Restinga, tinham que aban- relação às manifesta­ções, que estas são organizadas a donar imediatamente o recin­to sem qualquer alternativa mando desses partidos políticos. São duas coisas dife- para onde ir. A Cuca era um dos patro­cinadores do rentes. Temos manifestações em que os organizadores evento. Esta situação foi preocupante. Decidiu-se não são claramente partidos políticos e temos manifestações abandonar o local e permaneceu-se aí até ao dia 13. Este em que os organizadores são cidadãos, mesmo que estes incidente traz inclusivamente atritos nas relações pesso- possam ter algu­ma filiação partidária. ais. O director da área co­mercial da Cuca é meu conhe- cido. Acredito que não tenha sido nada fácil para ele ter SA – As manifestações que ocorrem agora no país tiveram que tomar essa decisão. Isto pode levar a outros proble- como base de inspiração a «Pri­mavera Árabe»? mas já que a OMUNGA se sente lesada por este proce- JP – É obvio que vivemos num mundo cada vez mais dimento. No dia 12 de Novembro, tentaram impedir a globalizado e a informação chega-nos a veloci­dades realização do espectácu­lo na Catumbela. Foi a polícia e mais rápidas. É obvio que os contextos se influenciam. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 69

Por esta razão poderemos dizer que talvez haja alguma o que pode significar algum desnorteio político, consi­ influência. Mas ao mesmo tempo penso que há con­ derando os últimos acontecimen­tos criados pela oposi- textos gerais de insatisfação. E isto não acontece apenas ção de um modo geral, entre os quais avul­tam as mani- no mundo árabe, mas também na Europa, em África, festações de protesto. nos Estados Unidos. Cada vez mais procuramos alter- nativas a um sistema capitalista financei­ro cada vez mais A província de Luanda, apesar da sua menor dimensão arrogante e anti­popular. O sistema é o mesmo em qual- (mesmo com os acréscimos buscados à província do quer parte do mundo. É contra este sistema, que envolve Bengo) em relação às demais províncias, acaba por ser a esquemas de corrupção (ver a Grécia) cada vez mais maior de todas pela com­plexidade das suas componen- alarmantes e descarados, que os cidadãos um pouco por tes, pela diversidade estrutural e por ser o território em todo o mundo, têm vindo a mani­festar-se. Afinal em que se situa a maior cidade de Angola, a mais populosa, todo o mundo há pessoas que acreditam que um mundo a mais polémica, sede dos órgãos de decisão e poder. mais justo é possível. A grande metrópole que é Luanda foi-se descaracte- rizando ao longo dos anos sem que se acaute­lasse as 5.7 Batata quente» para o novo gpl medidas necessárias ou se providenciasse os meios cor- jornal semanario angolense rectos para a sua manutenção e correc­ção do seu cresci- 19 de Novembro de 2011 mento desorde­nado e anárquico. Os tempos de guerra contribuíram, igualmente, para a sua degradação e A nomeação, pelo Presi­dente da República, de Bento desorien­tação, embora sempre houvesse quem regesse os Sebastião Fran­cisco Bento, para o cargo de governa- rumos que a ci­dade e, consequentemente, toda a provín- dor da província de Luanda, embora surpreenden­te, cia, deveriam tomar. não causou tanta admiração, como seria de esperar, em alguns círculos políticos e da comunica­ção social, Actualmente, passados os tempos turbulentos da guerra porque depois da exo­neração do então governador José há quase uma década, apesar das novas infra-estruturas Maria dos Santos, já se prognosti­cava tal possibilidade. que vão surgindo r um pouco por todo o lado, apesar e das chamadas «novas centrali­dades», é visível e facil- Ao ser nomeado para dirigir os destinos da cosmopolita mente se apercebe que Luanda não tem um plano direc- e contro­versa província em que se situa a capital do país, tor que norteie os destinos da capital para metas devida- Bento Bento terá herdado, nas circunstâncias actu­ais, mente definidas. mais que uma dura empreita­da, uma autêntica «batata quente», muito difícil de se manter entre as mãos, apesar Muita coisa acontece um tanto à socapa, quiçá na ânsia dos forros com que possa cobri-las. de se fazer mais para mostrar trabalho, porque de con- trário não haveria constantes demolições e desalojamen- Para diversos analistas, a sua nomeação não passa de tos de populares, em alguns casos forçados, que são «ati- uma estratégia política do MPLA que visa utilizar o rados» por tempo indefinido em tendas, assim como sentido de persua­são e mobilização de Bento Bento para a expropriação de terrenos de lavoura de cidadãos que aglutinar os administrado­res municipais e as populações não têm onde ganhar o pão de ti cada dia, sem que lhes dos respectivos municípios para fins eleitorais, já que, à seja garantida qualquer contrapartida por um bem que semelhan­ça dos governadores de outras províncias, vai já lhes vem de várias gerações anteriores. acumular com as funções de 1.0 secretário do par­tido no poder. Apesar dos vários projectos anunciados ou em vias de arran­que, vão surgindo novos bairros de lata da noite Contudo, outros observadores para o «caldeirão» que é o para o dia em outros locais e nos mesmos em que já acon- GPL, Bento Bento terá que ter um jogo de cintura muito teceram demolições e até mesmo nas chamadas «re­servas forte para não acabar escaldado como já acon­teceu com fundiárias do Estado», sem que quem de direito, neste muitos outros que por lá passaram, o que pressupõe que caso as administrações locais, to­mem medidas para algo se terá passado na cúpula do maioritário que cha- evitar que se vá continuando com os mesmos problemas muscou a imagem de Bento Bento e a nome­ação para o sociais e infra-estruturas. Junta-se a isso a construção de cargo de governador de Luanda visa o xeque-mate. arranha-céus e condomínios em locais sem condições de Para outros ainda, a nomeação pelo PR de alguém que sa­neamento, as estradas e ruas que estão em permanente nunca deu mostras de competência adminis­trativa reabilitação e um grande número de situações que não se governamental para uma província como Luanda, é consegue resolver por não haver uma equação coerente e uma demonstração de pouco interesse pelos destinos da responsável da sua importância primária ou secundária. capital e mais preocupação pelos pressupostos eleitorais, Os vários governadores que passaram por Luanda, cada Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 70 um à sua maneira, foram cavando o seu buraco. Houve Em meio a tudo isso, é caso para se dizer que se o desem- quem levantasse um ou outro alicerce e pode-se destacar penho de Bento Bento na governação de Luanda for quem fez alguma coisa para melhorar, embora a maioria como as bocas que mandava nas actividades políticas do nada tenha feito, apenas ajudando a afundar mais a partido no poder, que se cui­dem os prevaricadores. Haja «embarcação» já esburacada. governador.

A «batata» torna-se mais quente para o novo governador, ao somar-se o mau trabalho dos ad­ministradores muni- 5.8 A voz de bento bento no cipais que, apesar de alguma purga efectu­ada por José «corredor da morte» Maria dos Santos, continuam a apostar no desleixo, na Jornal semanario angolense desorganização, apresentando por tudo e nada desculpas 19 de Novembro de 2011 que não colhem neste tempo em que o trabalho sério e responsável deve ser a prioridade, sem justificarem o Desde Kundi Paihama, nin­guém, mas ninguém que fazem com o dinheiro do erário público que lhes mesmo, conseguiu se sair bem depois de ocupar o posto é confiado para melhorar as condições dos respectivos de Governador de Luanda. Nem mesmo Aníbal Ro­cha, municípios, nem para onde levam os meios de trabalho ainda hoje considerado pela «vox populi» como o melhor que são postos à sua disposição, como camiões, tracto- in­quilino que já passou pelo Palácio da Mutamba. Esse res, cister­nas, entre outros meios. É comum dizer-se que até saiu mal. por ser bom, o que, dizem as más ­línguas, esses meios são uti­lizados em proveito próprio, em nego- não caía bem ao «Chefe», que se sentiu ofuscado pela ciatas como a venda de água ou nas suas quintas. popu­laridade do então edil de Luanda. Todos os seus sucessores (Simão Paulo, Job Capapinha, Francisca do Todo um conjunto de situações negativas foi-se acu- Espírito Santo – a única mu­lher a ocupar o cargo – e mulando ao longo dos mandatos dos sucessi­vos gover- por últi­mo o «meteórico» José Maria dos Santos) ainda nadores, tendo o próprio Presidente da República hoje realizam uma travessia no deserto. Razão terá por reconhe­cido quando nomeou para dirigir Luanda uma isso Reginaldo Silva quando chama a este cargo de «o Comissão de Gestão liderada por Higino Carneiro. Na corredor da morte». altura, a esperança dos luanden­ses renasceu, mas, pouco tempo depois, as coisas voltaram à rotina habitual dos Razão terão também, por isso, aqueles que vaticinam anteriores governos. para Bento Francisco Bento, ou Bento-Bento se preferi- rem, o fim da picada para a sua carreira política. Ou pelo Assim sendo, é caso para dizer que o ora nomeado menos o píncaro de onde ir­-se-á estatelar ao comprido, governador de Luanda, homem mais habitua­do às lides mais cedo ou mais tarde. É que, ao ser inesperadamente partidárias, com voca­ção para agitador/mobilizador de nomeado para o posto de Governador de Luanda – massas, recebeu uma árdua tarefa que exigirá peito para cargo do qual à boca pequena se diz que um peso pesado enfrentar os problemas sociais, a falta de energia eléc- como Adelino Peixoto fugiu – adivi­nha-se o fim de uma trica e água potável e corrente, a falta de saneamen­to carreira que, se bem que com algum êxito nas lides par- e limpeza em toda exten­são da província, a maka dos tidárias, pouco tem a ofe­recer em termos de gestão. transportes públicos, da saúde e educação, a delinquên- cia que se vai agravando, a corrupção, a indisciplina e Para além de uma passagem pelo Conselho de o desrespei­to de algumas entidades que são as primei- Administração de uma empresa menor, pouco mais tem ras a prevaricar, o descontentamento popular por estas para oferecer. O seu perfil, populis­ta e pouco ortodoxo, e outras razões cria­das pelas anteriores adminis­trações, dificilmente o deixa talhado para os grandes desa­fios como a expropriação de terrenos e a sua venda por parte que a província mais complexa apresenta à sua edilidade. dos fiscais e funcioná­rios das administrações mu­nicipais, Se onde nem a conhecida di­plomacia de Francisca do além do problema do dinheiro que a população depo- Espí­rito Santo conseguiu resistir às constantes inter- sitou para obtenção de terrenos para a auto-contrução ferências do po­der central – chegou a conseguir ser dirigida e que volvidos cerca de três anos ninguém tuge nomeada Ministra Sem Pasta com direito a assento no nem muge, o que está a ser considerado como uma feno- Conse­lho de Ministros -, não é crível que o «trungungu» menal burla do GPL aos cidadãos. de Bento Ben­to o consiga.

Como se não bastasse, é tempo de S. Pedro começar a Se onde a grande capacidade de gestão de Aníbal Rocha, «abrir as torneiras» e as enxurradas vão aumentar, e de que o inicia­dor das grandes obras em Luanda, não resistiu às maneira, os proble­mas de Luanda, sobretudo das ruas que ondas e contra­ ondas das intrigas palacianas, não será praticamente deixam de existir em tempo chuvoso e dos certamente sob o estilo erráti­co do actual Governador bairros peri­féricos que submergem nas águas. que se irá resolver os grandes problemas de falta de água, Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 71 de energia eléctrica e dos engarrafamentos que asfixiam mais porque até agora a arquitecta Cada Ribeiro não a economia da capital do País. foi ainda substituída como vice go­vernadora para a área técnica. Sem contar que, sendo o Presi­dente da República actu- almente o verdadeiro Governador de Luan­da, se está Fontes contactadas asseguram que é por esse défice de para ver como será a coabitação com um homem que, BB que o PR está a tomar especial cuidado na selec- bom activista político como é, pode não ter a diploma- ção de quem proverá este cargo, com responsabilidades cia e dis­cernimento suficientes para saber quando deve directas na execução das várias obras de Luanda. Porque aparecer e quando deve deixar as luzes da ribalta para o Bento Bento é que não será, sob pena de um fiasco total. «Chefe». Não tem per­fil, nem formação, nem pachorra para isso. Caso para dizer que se isso dependesse de BB, os citadi­ Duas razões principais poderão ter levado o Presidente nos de Luanda estavam paiados. Resta saber quando e Eduardo dos Santos a nomear Bento Bento para um sobre quem recairá a escolha do Presidente Eduardo dos cargo de tamanha res­ponsabilidade numa altura como Santos para resolver os problemas de falta de água, luz, esta. A primeira prende-se com o facto de BB ser indubi- lixo por tudo quanto é canto e en­garrafamentos desgra- tavelmente o melhor 1.0 Secretário Provincial do MPLA çados da capital do «canteiro de obras». da última década, e a segunda tem a ver com uma certa impaciência do PR em relação às makas crónicas entre o governa­dor e o chefe provincial do MPLA nas provín- 5.9 Vigora nova estrutura orgânica cias em que estes dois cargos são exercidos por pessoas com a nomeação do governador diferentes. A Huíla – a única ago­ra com essa divisão – é Jornal de Angola exemplo disso, com a corrente a não passar entre Isaac 22 de Novembro de 2011 dos Anjos de um lado e Marcelino Tyipingue e Virgí­lio Tyiova de outro, ao ponto de a própria base eleitoral do O ministro da Administração do Território disse ontem MPLA estar ameaçada. Na impossibi­lidade de remover que, com a nomeação da nova direcção do Go­verno Bento Bento da chefia do MPLA na província pelo seu Provincial de Luanda (GPL), tem início a aplica- excepcional desempe­nho, a solução encontrada foi a de ção da nova estru­tura orgânica da instituição e das «abonar-lhe» com o cargo de Go­vernador Provincial ad­ministrações municipais, nomeada­mente, do municí- para o qual está ainda menos talhado que o seu «con- pio de Luanda, que vai ter uma comissão adminis­trativa frade de perfil» Job Ca­papinha, esse que até tinha e um presidente. tido um «estágio» como Vice Ministro da Juventude e Desportos. Bornito de Sousa, que presidiu à cerimónia de apre- sentação do gover­nador da província de Luanda, A acumulação dos dois car­gos poderá ter – tem certa- Bento Sebastião Francisco Bento, aos funcionários do mente – uma forte motivação político eleitoral.­ Bento GPL, referiu que já foi dado o acordo do Ministério da Bento é afinal o melhor antídoto que o MPLA até agora Administração do Território às propos­tas de nomeação encontrou para a onda cada vez crescente de manifesta- do presidente da co­missão administrativa do municí­ ções contra si e contra o seu líder, José Eduardo dos Santos, pio de Luanda e dos administrado­res municipais de com as suas gigantescas contra-manifesta­ções. Famoso Cacuaco, Viana, Belas, Icolo e Bengo e Quissama. pela sua irreverên­cia política, o actual Governador Bornito de Sousa solicitou a atenção da direcção do da Província não hesitará em usar essa condição para governo de Luanda na incorporação dos municípios do assacar vanta­gens políticas para o seu partido. No caso, Icolo e Bengo e da. se um partido ou movi­mento da oposição decidir convo­ car uma manifestação, a partir do momento que terá que Quissama. Além de realçar a problemática da energia notificar o Governador Provincial, Bento Bento poderá, eléctrica, água potável e gestão dos resíduos sólidos, se quiser, demorar a reagir ao pedido para dar tempo como desafios de actuação apontados por Bento Ben­to, para organizar uma «contra-ma­nif», quiçá na mesma Bornito de Sousa acresceu a orga­nização da circulação hora e local. Já o fez antes e certamente fá-lo-á sempre rodoviária urbana, a segurança dos cidadãos e seus bens, que possa sem qualquer peso de consciência. Adivinham­ habitação social e a dis­ponibilização de espaços para se pois tempos difíceis para a Oposição e para os «revús», auto­construção, estabelecimento de es­paços para mer- como gostam de chamar-se os jovens protagonistas das cados, organização da administração fiscal e o diálogo «manifs». permanente com os cidadãos.

Do ponto de vista técnico, tam­bém adivinham-se O ministro considera que a acu­mulação das funções de tempos difí­ceis para os munícipes de Luan­da, mais a primeiro secretário provincial do MPLA em Luanda e Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 72 de governador, tal como acontece em várias províncias, Num despacho, Bento Bento determina o fim das é fa­cilitada por uma clara delimitação de competências funções de todo o pessoal de apoio colocado no gabinete entre o governo central, provincial e as administra­ do governador pro­vincial. José Tavares Ferreira, até então ções municipais que remetem agora grande parte das administrador do Sambizanga, foi nomeado para o cargo funções executivas do antigo governo provincial para a de presidente da Comissão Admi­nistrativa Municipal comissão administrativa da cidade de Luanda e para as de Luanda. Os actuais administradores do Cazenga, administrações. Nataniel”Tany”Narci­so, e de Viana, José Moreno, fo­ram reconduzidos nos seus respectivos cargos. “O governo provincial deve resistir a substituir-se aos municípios na realização das tarefas que lhes são acome- Os despachos foram exarados tendo em conta a tidas pelos novos estatutos orgânicos”, disse. Lei n° 17/10, de 29 de Julho, sobre a Organização e Funcionamento dos Órgãos da Ad­ministração Local O governador da província reco­nheceu que na cidade do Estado, con­jugada com o artigo 90 do Decreto de Luanda existem muitos problemas por re­solver e Presidencial n° 276/11, de 31 de Outubro, que aprova o situações que nesta altura deviam estar resolvidas. “Por Estatuto do Governo da Província de Luanda. isso estamos obrigados todos a fazer mais e melhor, a Segundo o novo organigra­ma, a província de Luanda ser mais rigorosos nos nossos processos e a um esfor­ço passa a ter sete municípios contra os anteriores nove. colectivo e solidário.” Os municípios são Luanda, Cazenga, Viana, Belas, Quissama, Cacuaco e Icolo e Bengo. Bento Bento assumiu que-é ne­cessário mais disciplina, rigor e tra­balho árduo e ressaltou que os desa­fios a enfrentar são, sobretudo, de gestão e capacidade de orga- 5.11 GPL Transfere-se para cidade do nização e de trabalho em equipa para gover­nar bem a kilamba província de Luanda. Jornal o pais 25 de Novembro de 2011 “Os nossos problemas são tam­bém de ordem técnica e sabemos que existem soluções técnicas para os actuais A sede do Governo da Província de Luanda vai ser problemas nos domínios da energia eléctrica, água, resí- transferida fu­turamente para a Ci­dade do Kilamba, no duos sólidos, infra-estruturas e gestão urbana”, disse. recém -criado município de Belas, uma mudança ditada em parte pelo novo figurino administrativo que está a ser implementado na cidade capital, re­velaram fontes 5.10 Novos administradores nomeados daquela instituição a O PAÍS. A transferência da sede em Luanda do gover­no de Luanda resulta em parte da ne­cessidade Jornal de Angola de acomodação da Comissão Administrativa Municipal 23 de Novembro de 2011 de Luanda (CAML), cujo presidente é o ex – edil do município do Sambizanga, voltando assim o edifício a O governador de Luanda, Ben­to Bento, procedeu acolher a sede da câ­mara municipal de Luanda. ontem a exo­nerações e nomeações de admi­nistradores municipais, tendo em conta a nova divisão política e A concretização da transferência não será para breve ad­ministrativa da província. tendo em conta que deverá aguardar que a nova sede do GPL esteja edificada. Em face disso, de momento a José Tavares Ferreira, Manuel Cafussa e José Francisco Comissão Administrativa Municipal de Luanda vai ser Correia foram exonerados dos cargos de administra- instalada provisoriamente n no edifício da extin­ta admi- dores municipais do Sambizanga, Cacuaco e Kilamba nistração municipal da Ingombota. Kiaxi, respectivamente. O novo figurino administrativo de Luanda contempla a Bento Bento exonerou ainda os administradores da existência de sete I municípios, contrariamente aos nove Ingombota, Pedro Samuel John Júnior, da Samba, Adão até anteriormente existentes, desig­nadamente, o muni- António Malungo, da Maianga, Manuel José Marta, cípio de Luanda, te Cazenga, Cacuaco, Viana, Belas, do Rangel, Maria Clementina Gomes da Silva, e do Quissama e Icolo Bengo. Kilamba Kiaxi, José Francisco Correia. Quanto ao município de Luanda, consta que será Foram também exonerados o administrador da formado por treze distritos e vai absorver territórios Quiçama, João Martins, e a secretária-geral do go­verno dos Ir extintos municípios do Rangel, Sambizanga, de Luanda, Maria Hilário. Ingombota, Kilamba Kiaxi e Maianga. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 73

‘’Vassauradas’’ No entanto, o inicio da semana, o governador de Sai como o grande vencedor nesta remodelação a figura Luanda, Bento Bento, para dar corpo ao novo figurino do ex-adminis­trador do Sambizanga, José Tavares administrativo da província, nomeou o presidente da Ferreira., que assume a presidência da Comissão Comissão Administrativa Municipal for de Luanda, os admin1strativa de Luanda, que terá sob sua alçada treze administradores muni­cipais e outros responsáveis do seu distritos. ga­binete. Sobreviveram igualmente os admi­nistradores do Na sequência, Bento Bento exonerou José Tavares Cazenga, Viana, respectivamente, Victor Nataniel Ferreira, Manuel Cafussa e José Francisco Correia dos Narciso, d José Manuel Moreno, que permanecem cargos de administradores municipais do Sambizanga, d intactos nos seus lugares, um facto aparentemente Cacuaco, Kilamba Kiaxi, res­pectivamente. De igual devido à sua condição de membros do comité central modo foram exonerados da Ingombota, Samba e do partido. Maianga, respectivamente, Pedro Sa­muel John Júnior, Adão António Malungo e Manuel José Marta. Enquadra-se também na lista dos sobreviventes, o admi- nistrador do Icolo e Bengo, António Calado, arquitecto O acto administrativo de Bento Ben­to, enquanto gover- m de profissão que migra de Caxito para Luanda, nas nador de Luanda, resultou no afastamento dos adminis­ mesmas funções que ocupava anteriormente. tradores nomeados pelo seu anteces­sor, José Maria dos Santos, designada­mente, da Samba, Rangel, Cacuaco, e Este arquitecto de profissão já foi quadro do GPL, Ingombota. onde foi o director da extinta Direcção dos Serviços de Gestão Urbana, percursora do actual Instituto de Na verdade, os ex-administradores dos extintos muni- Gestão Urbana de Luanda – IPGUL. cípios da Samba, Ingombota, Cacuaco, Rangel, res­ Para Cacuaco a opção recaiu para sobre Rosa João pectivamente, Adão Malungo, Pedro Samuel John Janota Dias dos San­tos, que não é desconhecedora deste Júnior, Manuel Cafusa e Maria Clementina da Silva, metier, pois até então desempenhava idêntica função na nem sequer 1, tiveram tempo suficiente para se fami- comuna da Funda. liarizarem com o metier das administrações, tendo em conta que todos foram nomeados a 22 de Junho do ano Ana Maria Rodrigues da Silva e Sil­va passa de adminis- corrente cessaram igualmente as funções os adminis- tradora adjunta do extinto município do Rangel para tradores municipais e adjuntos da Samba, Rangel e da do­ravante ocupar-se do município da Kissama que foi comu­na! da Funda. desanexado da pro­vinda do Bengo.

A até então secretária-geral do go­verno, Maria Umba Enquanto isso, a secretária muni­cipal do MPLA da Hilário, que ocu­pava este cargo desde Fevereiro do ano Ingombota, Joa­na António Quintas, ocupar-se-á da corrente, também não sobreviveu à primeira vassourada administração do novo município de Belas, que herda o de Bento Bento, que no seu lugar renomeou, Judite território da Sam­ba e se estende até à cidade do Kilamba. Ar­mando Pereira. Regresso a casa Num só ápice, o governador da Pro­víncia de Luanda Judite Armando Pereira regressa ao executivo de Luanda, determinou também a cessação de funções de todo o onde ingres­sou na vigência do governador Simão Paulo, pessoal de apoio, colocado no seu gabinete. ocupando-se do gabinete de Estudos, Planeamento e Estatística, posteriormente indicada para secretária- Os sobreviventes -geral, função que exerceu até Fevereiro do ano corrente. Contrariamente aos receios de muitos funcionários do GPL, o governador de Luanda não incluiu nas suas Trajectória semelhante percorreu a directora do gabi- nomea­ções nenhum out -sider, apostando na prata da nete do governador, Ana Cristina Pódia Kay Salvador, casa. que até à sua nomeação foi administra­dora adjunta da Samba. Fontes que acompanharam o pro­cesso, alegam que nos últimos dias, as­sistiu-se um a um grande corrupio No entanto, antes de ser nomeada em Junho deste ano nos corredores do secretariado província de Luanda do exercia o cargo de directora do gabinete do governa- MPLA, local onde tudo terá sido cozinhado, bem como dor de Luanda, uma função que se pro­longou desde o nos corredores da sede do partido gover­nante, na expec- mandato da governa­dora Francisca do Espírito Santo. tativa de serem recon­duzidos nos cargos anteriores. Não menos importante foi a nomeação de Alberto Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 74

Marques Domingos para a função de assessor político, 5.12 Eleições autárquicas ou legislativas? que marca também o regresso àquela ins­tituição, pois já Jornal o continente foi o director de gabi­nete do governador que mais tempo 25 novembro de 2011 esteve em funções desde o tempo de Aníbal Rocha. Autárquicas! Porque servem melhor os interesses das Governar colectivamente populações (Provín­cias, Municípios, Comunas, Bairros, O presidente da Comissão Adminis­trativa Municipal Avenidas, Ruas, Estradas, etc., etc.). O que muda na vida de Luanda, José Ta­vares Ferreira, anunciou, à margem quotidiana de um munícipe com a eleição legislativa de da cerimónia de tomada de posse, o seu compromisso um partido? Absolutamente nada! O impacto é indirecto, com a promoção de uma governação participativa e bastante demoro­so, quase nenhum. Porque as políticas transparen­te para o município de Luanda. do Governo são centralizadas sem es­pecificidade territo- rial, homogéneas, não complementam, não satisfazem a Na referida ocasião disse que de con­creto já existe um necessidade local (Municipal). programa para o mu­nicípio de Luanda, resultante da inte­gração dos programas dos municípios extintos por Existe alguma crise letárgica na socie­dade Angolana força da revisão adminis­trativa da província. (Sociedade Civil, Par­tidos, Oposição, Tecnocratas, Políticos, Comunicação Social (Mídia), Empresas, “Os problemas do município de Lu­anda estão devi- Empresários, Universitários, etc., etc.)? Não se compre- damente identificados. Todos nós conhecemos, resta ende o porquê da não discussão desta temática. Será falta agora, mais do que falar, arregaçar as man­gas”, disse o de Literacia? Porquê que em Angola só se discute poder presidente da Comissão Administrativa Municipal de e não políticas? Fulano, Sicrano e Beltrano! Substituição Luanda. do A, em detrimento do B. Nota-se que algumas forças José Tavares Ferreira anunciou que a primeira emprei- políticas (partidos, oposição, sindicatos, associações, tada desta longa jor­nada que agora inicia, será encontrar movimentos associati­vos, etc.), não estão preocupadas um local para a sua acomodação, bem como a nomeação com as necessidades, carências, ambições das popu- da sua equipa de tra­balho uma questão a ser equacio- lações, pelo contrário querem única e exclusivamente nada brevemente. chegar ao Poder e a sua continuação.

No entanto, augura o apoio dos munícipes de Luanda, Distingamos, as eleições que causariam maior “resolu- lembrando que sem a colaboração e cooperação destes a ção” nos problemas das populações, são as Autárquicas, tarefa de governar Luanda será difícil. I porque é o Poder Local, representativo (Vereadores, Assembleia Municipal), porque o munícipe também “Pensamos fazer uma governação transparente, partici- (teria alguma responsabilidade ou irresponsabilidade na pativa, aonde to­dos os cidadãos de forma disciplinada escolha do candidato, periodizava situações, priorizava e organizada vão e devem contribuir para transformar políticas e políticos, teria escolha TI alargada de candi- Luanda num lugar bom para nascer e viver”, afirmou datos, cobrariam c as promessas ao candidato vencedor, o presidente da Comissão Administrativa Municipal de a eleito. Numa situação de eleição autárquica, os candi- Luanda. datos elaboram um ai programa, põem a disposição dos fé eleitores, é debatido, levado ao escrutínio, opcional. De igual modo, aponta como linhas de força da sua Com a elaboração e execução da Lei de Autárquica cria- governação a resolução dos problemas de energia, água, riam empregos as populações locais. sanea­mento básico, reparação das vias tanto principais como terciárias e o combate à pobreza. O poder seria partilhado, e quando da assim é, a res- ponsabilidade é compartilhada por todos. Só assim se Enquanto se aguarda pela instalação definitiva CAML, pode dizer Estado democrático, com alternância os de aquele responsável assegura o normal funcionamento poder local. das administrações municipais e comu­nais para quem desejar obter qualquer serviço da administração. O poder seria partilhado, e quando assim é, a responsa- bilidade é compar­tida por todos. Só assim se pode dizer Estado democrático, com alternância de poder local.

O Executivo angolano em preterir, projectar, executar a Lei Autárquica, e em prioridade às eleições legislati- vas ir meteu a carroça a frente dos bois. Foi estrategi- camente e politicamente errado, paradoxal, causando Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 75 desgastes político ao próprio Partido, Executivo, O foco central dos problemas em Angola é ou estão (Governo). Portanto, nestas situações – políticas que nas municipalidades, (bairros, aveni­das, ruas, estra- vivemos o Povo culpabiliza os fracassos de governação, das). A resolução de­stas temáticas todas passam pela 1 (Municipal ou Provincial) “estradas mal executadas, im­plementação, aprovação, execução da lei autárquica. falta de água, luz, hospitais com funcionamento defici­ Não tenhamos outras causas, porque não é assertivo. tário, ausência de política habitacio­nal municipal, cen- Sem esta política não iremos lá chegar, no lugar ambicio- tralismo de poder, corrupção, etc.,” ao Poder Central, ao nado por todos nós an­golanos. Melhor vida para todos. Governo, porque sente que não participou, não votou, não elegeu aquele Administrador ou Governador rapi- nador, Incompetente, que não de­fende politicamente o 5.13 Bento bento tem a politica na veia seu Município, Província, que não executa as políti­cas falta-lhe conciliar o tacto da gestão preconizadas pelo Poder Central, que não intervêm poli- de uma cidade turbulenta ticamente a favor do interesse do povo da locali­dade que Jornal folha 8 representa. 26 de Novembro de 2011

Qual é o incentivo que tem um Admi­nistrador ou Água benta nas pias quase se­cas dos partidos da oposição Governador em resolver os problemas do Povo, se não foi a nomeação de Bento Bento, perdão, agora passou foi o Povo que o elegeu? Ele sabe que a sua renomeação a ser Bento Joaquim Se­bastião Francisco Bento, para o não depende dos muníci­pes, pelo contrário ele agrada o alto cargo de governador da Província de Luanda, que, seu Partido, Chefe, única e exclusiva­mente com bajula- mal se acomodou no seu novo cadeirão, deu a conhe- ções, ofertas, opor­tunidades de negócios, defesas públi- cer o seu novo modo de encarar a ex-desgover­nança de cas demagógicas, mentiras, etc., etc. sem preocupação e Luanda, que ele quer à viva força transformar em boa sabedoria, que é a degradação da imagem do Partido e governação. Para começar, Bento Bento, pediu aos novos do Governo que está em causa. administradores municipais uma maior transparência e disciplina no desempenho das suas funções. Fez esta Alguns Governadores e Administra­dores têm estratégias exigência durante o acto de empossamento dos novos pessoais, muito bem delineadas, sabem, querem chegar administradores mu­nicipais e do presidente da comissão ao poder para poder rapinar dinheiro suficiente, bens, administrativa municipal de Luanda, numa cerimónia oportuni­dades de negócios, para posterior­mente fazer realizada no salão no­bre do Governo Provincial. um outro tipo de activi­dade. Antevendo a desculpabi- lização dos actos praticados, sabendo que as culpas não O novo inquilino da Mutamba apontou o município de lhe irão cair em cima, de­spreocupado em saber, pensar Viana como sendo o mais problemático nesta vertente que fu­turamente isso poderá causar ou não \ problemas de boa governação, “por isso gostaria que esta situação ao seu Partido, ou em alguns membros do seu Partido. acabasse”. Inicia agora, disse ele, mais ou menos com Q O Governo angolano ao implementar De executar estas palavras, começou um novo modelo de gestão dos a Lei Autárquica encontraria uma forma de isentar municípios, por isso deve haver mais eficiência, transpa- algumas si imputações administrativas, políticas, p má rência, rigor, empenho e profissionalismo du­rante todas governação, de alguns governadores e administradores as actividades. incompetentes. Também seria uma forma de distribuir riqueza, dando competências, a nível fiscal financeiro, as autarquias, municípios e as empresas e por associa- 5.14 Bento bento arruma a casa ções intermunicipais, etc., etc. Cidadãos independentes Jornal semanario angolense competentes etc. ou de outras forças políticas candi­ 26 de Novembro de 2011 datavam-se, ganhariam eleições e o e administravam e governavam mal ou bem, sem responsabilidades directas O governador provin­cial de Luanda, Ben­to Bento, do executivo. Partilhando o poder que muitos ambicio- começou já arrumar a casa, como se diz na gíria, ao pro- nam, acham-se capazes, com intelecto superior ao ar que ceder, nesta quarta-feira, ao empossamento dos novos ocupam cargos administrativos e governamentais, mas administradores municipais nomeados, que, no quadro que não acon­tece porque têm outra cor partidária ou são da nova divisão admi­nistrativa da província, passam a apartidários. Portanto neste contexto em que vivemos ser apenas sete, contra os nove anteriores. o executivo deve partilhar o poder local. Nomear cida- dãos independentes, de outras forças políticas e sociais, A eles, pediu maior transpa­rência e disciplina no tecnocratas, universitários, etc., etc. É uma estra­tégia desempe­nho das suas funções. apaziguadora. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 76

Disse que os novos responsá­veis das administrações 5.15 Bento bento nomeia` compadre` devem assumir uma atitude forte com compromisso para para presidente da comissão a obtenção de resultados positivos, tendo em vista a ele- administrativa de Luanda vação da quali­dade de vida dos luandenses. «Cada um Jornal agora reflectiu sobre a im­portância e a responsabilidade com 26 de Novembro de 2011 que a partir de agora se apresenta perante os munícipes da cidade capital, na resolução dos seus problemas», frisou. O novo inquilino do palácio provincial não podia se ter es­treado, ao iniciar funções, ao velho e corriqueiro estilo O governador avisou os ad­ministradores para o término dos seus antecessores: exonerou todo pessoal de apoio dos falsos orçamentos, porque com ele haverá transpa- co­locado no gabinete do anterior governa­dor, incluindo rência obrigatória para todos e fiscalização permanente a se­cretária – geral do governo de Luanda, Maria Hilário as contas. «Podem esperar apoio, com­preensão e uma actuação Este cargo é sobretudo de coordenação administra­tiva e dili­gente, mas não seremos coerentes com as insuficiên- não de confiança política, mas isso de ‘varrer’ a equipa cias ou situa­ções injustificadas», alertou o go­vernador. já experimentada herdada do antecessor é um vicio Quando aos administradores reconduzidos, Bento inculca­do na cabeça dos novos estrean­tes nos cargos, Bento disse que devem ter em mente que as suas respon- a começar pelos ministros e prosseguindo a nível dos sabilidades são ain­da maiores, pois o governo da pro- governadores provinciais. víncia e o seu titular não irão pactuar com apropriação anár­quica de terrenos. Agindo assim não é possível manter a coesão e muito menos qualquer dinâmica antes conse­guida. Tem de A propósito, apontou o mu­nicípio de Viana como sendo separar-se o trigo do joio, isto é, as funções de con­ o mais problemático nesta verten­te, “por isso gostaria fiança política do governador, mantendo em funções que esta si­tuação acabasse». os quadros meramente técnicos ou de perfil tecnocrata. «Quem trabalhar bem será re­conhecido, quem não fizer Doutro modo, regres­sa-se sempre ao ciclo vicioso de será devidamente observado e respon­sabilizado, porque começar tudo de novo. vendo Luanda verifica-se que já há desenvolvi­mentos assi- naláveis, mas tam­bém vive ainda graves problemas estru- A taluda das novas nomea­ções ‘bentistas’ coube a turais, nomeadamente a ní­vel das infra-estruturas, energia, José Ta­vares Ferreira, o anterior administrador do água potável e saneamento bási­co», alertou o governador. Sambizanga, nomeado para presidente da Co­missão Municipal Administrati­vas de Luanda. Entretanto, uma fonte próxi­ma de Bento Bento explicou que o governador não procedeu à exoneração de nenhum Prometendo pôr fim aos fal­sos orçamentos e fiscalizar dos an­tigos administradores munici­pais. «Simplesmente, per­manentemente as contas, estas indirectas de Bento corno eles tinham sido nomeados ao abrigo de urna lei Bento apenas podem ter como destinatários an­teriores que foi revogada, tam­bém os seus cargos deixaram de ter governadores, embora as generalizações sejam sempre existência legal», disse. abusivas. De acordo com o novo organi­grama a pro- Caem neste quadro os antigos administradores dos víncia de Luanda passou a ter sete municípios em vez extintos municípios da Samba, Rangel, Maianga, dos anteriores nove. São eles: Luanda, Cazenga, Viana, Sambizanga e Ingombota, que passam à categoria de Belas, Quissama, Cacuaco e Bengo. distritos, todos integrados no novo e mega município de Luan­da, que tem à testa José Tavares. 5.16 Cacuaco entre a expansão e a «É possível que alguns deles venham a chefiar os dis- desigualdade tritos que comandavam corno administra­dores munici- Jornal semanario o factual pais», anotou a nos­sa fonte. de 26 de Novembro a 03 de dezembro

Além de José Tavares, para município de Luanda, foram Cacuaco possui um clima tropical e seco, com regiões empossados os seguintes admi­nistradores municipais: áridas e semi-áridas, in­fluenciadas pela proximi­dade Victor «Tany» Narciso (Cazenga), José Manuel Moreno do mar. A pesca con­tinental, marítima, a agri­cultura e (Viana), Rosa Janota dos Santos (Cacuaco), Ana Maria os recursos do subsolo fazem desse município os seus da Silva e Silva (Kissama), Joana António Quintas princi­pais valores. Na esfera social, o sec­tor da Educação (Belas) e António Calado (!colo e Bengo), notando-se e Cultura controlou 242 escolas, das quais 92 são públi- um claro ascendente de senhoras. cas, 129 comparticipadas e 21 colé­gios. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 77

Das 92 escolas públi­cas, 58 são de ensino primário, O Sarampo teve dois casos, a cólera e a raiva, 27 casos 17 possuem qua­tro Puníveis e um Instituto Médio de registados nos últimos três meses, num intervalo de dois Gestão, assim como um Instituto Po­litécnica. Das 129 dias para cada patologia. escolas comparticipadas, 73 são de ensino primário e do I Ciclo. Dos 21 colégios, nove são de ensino primário. O município de Cacuaco conta somente com 10 médicos e 125 enfermei­ros, a falta de fármacos e a busca pelo tra- O município viu cres­cer o número de crianças no pro- tamento tradicional associado à negligência de muitas cesso de ensino durante o ano em curso, com o controlo famílias são indicados como as principais causadoras de 185 mil e 866 alunos matriculados, dos quais 929 de morte fora dos hospitais. mil e 58 são do sexo feminino nos diferentes níveis de subsis­temas. O número de pro­fessores controlados foi de O Comando Municipal da Policia Nacional regis­tou, quatro mil e 526. em média, por mês, 59 crimes e 11,8 crimes por média quinzenalmen­te. Os mesmos foram praticados com Para o ensino especiali­zado, foram controlados sete mil recursos à arma de fogo; salientam-se o homicídio volun- e 512 estudantes. Para estes, há falta de salas em condi- tário, frustrado, o roubo de via­turas e ofensas corporais. ções, dado que a sua realidade é ainda é uma miragem, A participação das For­ças Armadas e a denúncia dos mas a di­recção municipal, através do seu delegado, moradores fizeram que se evitassem mais ca­sos de vio- Augusto Cabundi, assegura tudo estar a ser feito, para lência e assas­sinatos, mas os habitantes clamam pela que duas salas multi-funcionais estejam prontas, embora posição poli­cial sobre os supostos me­liantes que hora e se recorra às escolas 8014 e 8090. meia são libertados sem o prévio julgamento, quando são tido como perigosos. Segundo Adelina Gon­çalves, estudante univer­sitária e professora em Cacuaco, as dificuldades li­gadas à má Desenvolvimento rural qualificação e requalificação da carreira docente, a De acordo com o pro­grama municipal de desen­ falta de mate­riais de trabalho, atraso sa­larial e a fraude volvimento integrado e combate à pobreza, foi possível durante os exames, têm empecilhado o processo de ao sector da agri­cultura o cultivo de mais de 30 toneladas ensino e aprendizagem, facto que coloca em descrédito de hortí­colas, nomeadamente to­mate, cebola, pimento, mui­tas instituições de ensino e a sua direcção municipal. ce­noura, repolho, couve, alface e beringela, numa área de mil e 168 hectares de terras. O Factual abordou di­rectores de escolas e en­carregados de educação. Estes manifestaram-se opositores à actual Os camponeses deram a conhecer que o êxito se deve reali­dade que o ensino está a ter. à mobilização e à preparação de associações, cooperati- vas agrícolas, resolução de alguns confli­tos de terra nos Segundos eles, “a falta de seriedade na transmis­são do bairros de Muzondo, Ludi e Funda, e à monitoria de saber, a ineficiente adaptação aos novos meios didácti- campanhas agrícolas. Em contraparti­da, a não-transpa- cos por parte dos professores, a má con­cepção de reali- rência do microcrédito constitui handicap para os mais dades académicas feitas pelo gover­no provincial e a sua necessitados. im­plementação equivocada” são apontadas como coro­ lários do fraco rendimento dos estudantes do primei­ro No sector da pecuária, a administração criou para as e segundo ciclo. populações pequenos albergues para aves, capri­nos, suínos, ovinos e equinos. A Fazenda Agro-­Industrial Afonso Bernardo, pro­fessor universitário, fez sa­ber ao Giramunalu tem servido de fábrica de água mineral Factual que tais re­sultados também se de­vem à inefi- e transforma o leite do seu gado em diversos produ- ciente actuação da inspecção escolar sobre a assidui- tos derivados como queijo e iogurte. A mesma fábrica dade dos funcio­nários e sobre a denúncia dos casos que já recrutou mais de dez jovens, que se encontravam no mancham as instituições e a classe do­cente. mundo da delinquência.

Ele recomenda que a inspecção escolar passe a ser uma A pesca, considerado um sector de sobrevivên­cia para unidade indepen­dente do Estado para a melhoria da muitos habitantes de Cacuaco, possui 18 cooperativas educação. artes anais, das quais 11 são marítimas e sete continen- tais, com uma frota de 380 embar­cações. O sector da Saúde contou com cinco centros sani- Desde o princípio do ano até à data presente, mais tárias estatais, 16 postos de saúde, três salas de parto e de 160,6 mil tonela­das de peixe foram capturadas. A uma sala de tratamento de cólera. sardinha, a Cor­vina e a Savelha destacam-­se entre as redes dos pes­cadores. Estes funcioná­rios consideraram Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 78 essa actividade positiva. A falta de chatas de fibras, de Luanda, Belas, Cacuaco, Cazenga, Viana, Icolo e Bengo mo­tores, de combustíveis e de higiene ao longo da costa e Quissama. marítima, e viaturas para a inspecção, são conside­radas como as dificuldades prementes. José Tavares Ferreira vai presi­dir a Comissão de Adminis­ tração dos municípios da capi­tal, ou seja, o “executivo de Água, energia e habitação Bento Bento” fica agora sob a “batuta” de um general, O município de Cacuaco tem, igualmente, registado, na que pouco ou nada, fez no município do Sambizanga. área de geologia e minas, propriamente na exploração No entanto, o município do Sambizanga en­contra-se de inertes, um desenfreado “anarquis­mo”, segundo o mergulhado “num mar” de problemas, com desta­que Gabinete de Comunicação e Ima­gem que se explica pela para o débil saneamento básico, criminalidade e outros. falta de fiscalização e de critérios de exploração por parte de empresas e indiví­duos desconhecidos. Enquanto administrador do Sambizanga, José Tavares Esses fazem de forma abusiva a exploração de inertes é acusado de nada ter feito, pois os morado­res do Ngola no período noctur­no. O município conse­guiu até agora Kiluanje, um dos bairros mais críticos daquela cir­ fazer a ter­raplenagem de mais de trinta ruas. Os habi- cunscrição de Luanda, dizem que enquanto vigorou o tantes das comunas do Kikolo e da Funda dizem ser seu consula­do José Tavares visitou apenas uma única inefi­cientes tais obras, devido à fragilidade do tapete e vez aquela zona, com o objectivo de acompanhar uma ao atraso na sua conclusão. disputa de terra no Farol das La­gostas. A zona do Ngola Kiluanje debate-se com vários problemas sociais, que Os habitantes consi­deraram a falta de água po­tável e vão desde o sa­neamento básico, a falta de ener­gia eléc- de energia eléctrica elementos causadores do índice de trica, um dilema que afec­ta toda a capital do país. O delinquência acrescida, assim como de patologias cujas chamado bairro da Linha Férrea é descrito como pior crianças são as mais afectadas. As três comunas, Kikolo, em casos de segurança pública, tudo porque alguns Funda e Sede, não rece­bem, há mais de três anos, melho- dos meliantes que oper­am nas cercanias do ex-mercado ramento efectivo de energia e de água potável. Roque Santeiro usam aquele tro­ço como esconderijo. A Muitos chafarizes estão soterrados na terra e ou­tros única esquadra que foi implantada na zona não tem tido danificados. As razões não foram avançadas, mas os capacidades para prevenir o crime, uma vez tratar-se de munícipes afirmam tra­tar-se de uma “má gestão e falta um bairro periférico erguido fora dos padrões arqui­ de colaboração direc­ta dos administradores” empossa- tectónicos, motivo pelo qual os efectivos não conseguem dos naquela cir­cunscrição de Luanda. se des­dobrar.

No sector da habitação, Cacuaco conta com a sua nova Ainda sobre o combate à crimina­lidade, os moradores cidade, de 10 mil casas das 60 mil habitações erguidas dizem que o consulado de JT sempre mos­trou-se indife- e inauguradas pelo presidente de Angola, José Eduardo rente a este fenó­meno. “Aqui a polícia tem feito um tra- dos Santos. A mesma cidade está lo­calizada no Musseque balho dentro das possibili­dades, porque existem bairros Se­quele. O projecto tem 419 edificios. que ninguém consegue entrar e o mais agravante não têm esqua­dras policiais”, disse um agente da corporação. Manuel Cafussa, então administrador de Cacuaco durante cinco meses, foi demitido, sem esclareci­mento As principais vias de acesso es­tão esburacadas, a ilumi- aos seus morado­res, por causa de um co­municado nação é a “conta gotas”. Estes são alguns exemplos sobre tornado públi­co, no dia 22 de Novem­bro. a realidade do Sambizanga.

5.17 Deixou problemas para enfrentar 5.18 Contestada nomeação de tavares outros Jornal semanario angolense Jornal angolense 26 de Novembro de 2011 26 de Novembro de 2011 Entre os edis nomeados, o antigo administrador muni- A nova divisão político-adminis­trativa de Luanda teve cipal do ago­ra distrito do Sambizanga, José Tavares como principal novidade a alteração para sete muni- Ferreira, é o que registou como que uma grande subida cípios, contra os nove como vigorou por mais há uns de categoria, ao tornar-se no presidente da comissão anos atrás. Por deliberação da Comissão Permanente do ad­ministrativa do maior município do país, o município Conselho de Ministros, o novo inquilino do palácio da de Luanda. Mutamba, passou a comportar agora os municípios de Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 79

Este mega município engloba os terri­tórios do seus pro­blemas, na qual manifestam, com a devida argu- Sambizanga, Samba, Ingombota, Maianga e Rangel, mentação, o seu protesto contra a no­meação do agora sendo também o maior parque industrial do país. E, se «homem-forte» do mega município de Luanda. Fica por levar em consideração que, no quadro do novo regi­me saber qual será a reacção do Chefe. tributário, cada município ficará com parte das receitas fiscais arrecadadas no seu território, então José Tavares Ferreira terá a seu cargo uma pipa de massa para gerir, 5.19 Parlamento altera funcionamento provavelmente mais do que alguns gover­nadores pro- dos órgãos da administração local vinciais. Portanto, ele ocupa no momento um cargo de Jornal de Angola capital importância. 29 de Novembro de 2011

No entanto, a sua nomeação para a che­fia do mega A Assembleia Nacional reúne-se hoje na sua segunda município de Luanda não está a ser bem digerida por sessão plenária a para a apreciação e votação final, o muitos dos seus an­tigos munícipes do Sambizanga, entre outros diplomas, da proposta até de alteração à que já em­preenderam um movimento de contestação Lei de Organização e Funcionamento dos Órgãos da contra José Tavares Ferreira, como soube o Semanário Administração Local do Estado (Lei e nº17/l0, de 29 Angolense de fonte do MPLA. de Julho).

A fonte diz que os contestatários argu­mentam que se A ordem de trabalho inclui ainda a apreciação e votação o seu desempenho num es­paço muito menor e menos final das propostas de Lei sobre a Organização Territorial complexo que o novo município de Luanda, como era o e de Delimitação dos Mu­nicípios da Província de Sambizanga, deixou muito a desejar, então nem dá para Luanda. imaginar o que dará a sua ges­tão na gigantesca circuns- crição que passa a estar a seu mando. «Só pode ser um Os deputados vão igualmente apreciar e votar as pro- desas­tre», como defendem os seus críticos. postas de lei de Delimitação dos Municípios do Bengo, do Arrendamento Urbano, e de Mediação Imobiliária. Segundo a fonte, entre os contestatários estão inclu- Outros diplomas a serem apreciados e vota­dos são as ídos muitos militantes do partido no poder, pelo que propostas de lei sobre o Regime Cambial do Sector as estruturas locais do MPLA não deixaram de mani- Petrolí­fero, da Designação e Aplicação de I Medidas festar al­guma apreensão, uma vez que o município de Restritivas Impostas por I Actos Internacionais e sobre o Luanda passa a ser a maior praça eleito­ral do país, o que Estatuto das Línguas Nacionais. faz com que tenha de ser muito bem gerido para que não se registe nenhuma surpresa para a «grande família» na A agenda de hoje inclui igualmente a apreciação e votação hora da contagem dos votos. da s proposta de Lei que cria os Parques Nacionais de Luengué-Luiana, de Maiombe. Todas “as propostas A fonte diz ainda que os contestatários do Sambila à foram aprovadas na ge­neralidade em sessões plenárias nomeação de José Tavares amea­çam mesmo empreender an­teriores. Para amanhã, está prevista a terceira reunião uma manifestação de protesto, caso o MPLA não reveja plenária, que vai apreciar e votar, na generalidade, as o caso. Entre os defeitos apontados ao antigo admi­ propostas de Lei de Bases sobre o Regime Jurídico das nistrador do Sambizanga, além da suposta incompetên- Associações Privadas e das Associações Públi­cas. Outros cia que lhe é atribuída, avultam a sua alegada arrogân- diplomas a serem apre­ciados e votados na generalidade cia, vaidade e despre­zo com que tratava os munícipes. são as propostas de lei que apro­vam o Código Geral Tributário, o Código de Processo Tributário e o Código Uma fonte do MPLA em Luanda disse mesmo que se das Execuções Fiscais. A ordem de trabalhos da terceira ele não mudar de comporta­mento é bem capaz de não sessão prevê ainda a apreciação e votação, na generali- se aguentar no cargo o tempo que espera lá estar. «Ele dade, das pro­postas de Lei do Cinema e Au­diovisual e tem de mudar, senão vai cair muito mais rápido do que do Mecenato. pôde imaginar», disse. Os parlamentares vão apreciar e votar o Projecto de Aliás, o Semanário Angolense soube que os contestatá- Resolução que Aprova a Movimentação de Depu­tados. rios do Sambizanga, que con­tinuam assim sob a alçada Para preparar as duas ses­sões, os deputados da bancada de José Tavares, quando o queriam ver pelas costas, já par­lamentar do MPLA analisaram on­tem os diplomas e terão feito chegar uma carta a Bento Kangamba para tiveram contac­tos com os projectos. que a coloque na mesa do Presidente da República, um filho do Sambila e por isso um pouco mais sensível aos Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 80

6 URBANISMO E HABITAÇÃO Gabinete de Reconstrução Nacional. Entretanto e no início de processo de candidatura, a SONIP indicou a empresa Delta Imobiliária (até então praticamente desconhe­cida do mercado) como a responsá­vel para agi- 6.1 Casas sócias são construídas para lização das vendas e da vertente comercial do empreendi­ funcionários mento (publicidade, relação com os bancos e seus clien- Jornal de Angola tes, divulgação do projecto). 02 de Novembro de 2011 Mas vamos às contas. A nova cida­de contempla 710 edi- Governo da Província do Huambo projectou a constru- fícios, 24 cre­ches, nove escolas primárias e oi­to secundá- ção de 13.600 casas sociais, nos muni­cípios, comunas rias e 50 quilómetros de estradas. O projecto tem conclu- e aldeias da pro­víncia para evitar o êxodo de qua­dros são prevista para Outubro de 2012. Até lá, o empreiteiro das suas áreas de origem para a cidade do Huambo ou deve entregar mais 595 edifícios, que correspondem a outros lo­cais do país com melhores condi­ções de vida. 16.822 apartamentos e 198 lojas. O acesso à nova cidade O Governo da Província do Huambo prevê entregar, está facilita­do pela primeira circular de Luanda, via com ainda es­te mês, as primeiras casas sociais, que estão a ser duas faixas de rodagem em cada sentido, cujo número erguidas na comu­na da Chiaca, município do Ukuma, pode ser aumentado, e separador central. soube o Jornal de Angola de fonte oficial. Estão dissolúveis, nesta primeira fase, 3.180 apartamen- A construção das residências in­sere-se no projecto do tos do tipo T3 A, B, C e T5. As casas T3 A e B têm 110 Executivo de construção de casas em todos os municí- metros quadrados, T3 C têm 120 e T5 têm 150 metros pios do país e combater o fe­nómeno da fuga de quadros quadrados. Os preços variam entre 120 mil e os 210 mil e fun­cionários da província, de acordo com o director dólares por apartamento. Só na primeira fase, e se consi- do Gabinete de Es­tudos e Planeamento do Governo da derarmos um preço médio de 150 mil dólares (com uma Província, Victor Chissingui. comissão para a Delta de 5% por imóvel), o lucro com a ven­da dos apartamentos será de cerca de 24 milhões de O director do Gabinete de Estu­dos e Planeamento do dólares. A receita total ronda os 477 milhões de dóla­res Governo da Província do Huambo, Victor Chissingui, norte-americanos. fez saber ao Jornal de An­gola que esta estratégia se enqua­dra no Programa de Investimentos Públicos, que No final, depois de vendidos os 16.822 apartamentos prevê a construção de 200 casas em cada sede munici­pal (a um preço médio de 150 mil dólares), a recei­ta bruta da província. será de 2,5 biliões de dóla­res. A comissão final da Delta Imobi­liária, considerando os tais 5%, será de 126 Ainda em Novembro, o Governo prevê entregar igual milhões de dólares. número de re­sidências a: os quadros e funcioná­rios ligados à administração do município de Tchindjendje, A situação é ainda mais facilitada pela elevada demanda na província do Huambo. que a nova centralidade está a receber. Segun­do foi tomado público, na primei­ra fase actualmente em exe- cução, a procura ultrapassou largamente a oferta de 6.2 Lucro garantido imóveis. Novo jornal 04 de Novembro de 2011 Com uma particularidade: 41 enti­dades e empre- sas – quase todas liga­das ao sector público – solicita- As contas são mais ou menos simples: por cada apar- ram a compra de apartamentos. Destas destacam-se tamento vendida na nova centralidade do Kilamba em os Ministérios do Am­biente, da Comunicação Social, Luanda, a empresa Delta Imobiliária irá arrecadar uma da Justiça, da Energia e Águas, Saúde, Administração comissão como sempre acontece no sector imobiliá- do Território, assim como as empresas Angop, Edições rio. No final do processo, se a comissão for de 5% por Novembro, Alfândegas, TAAG, TPA, Epal, Edel, ENE cada imóvel vendido, estamos a falar de 12t milhões de e Cimangola. Segundo o Novo Jornal apurou a es­colha dólares garantidos no cofre da Delta. da Delta foi feita sem recurso ao mercado e sem a aber- tura de concurso público. Também não são co­nhecidas Como se sabe a responsabilidade da comercialização as capacidades da referida empresa, até porque a sua dos apartamen­tos construídos pelo Estado no Kilamba, activida­de foi até agora quase invisível. Fon­te da Delta, em Luanda, está nas mãos da SONIP – Sonangol em conversa com o No­vo Jornal, rebate tal sensação: Imobiliária, depois da construção ter sido geri­da pelo “Isso pode não ser bem assim. O que con­ta são as pessoas Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 81 que trabalham nas empresas. Há quem tenha vários Muandumba considerou estes jovens um exemplo do anos de trabalho e não apresenta mesmo assim um bom bom com­portamento cívico a ser seguido pe­los demais serviço”. Quanto aos supostos lucros que se antevêem, nos vários desafios que Executivo tem pela frente. O a fonte da Delta Imobiliária não comenta. “Não sei se ministro realçou que a entrega das casas é parte do com- se­rá assim tão bom negócio. Depende. Neste momento promisso assumido pelo Executivo, no âmbi­to da estraté- temos de nos prepa­rar para estudar bem os processos gia de combate ao défi­ce de habitação no país, que aflige de candidatura, saber se as pessoas têm ou não capaci- principalmente a camada juvenil. dade de honrar os compromissos... Há que ter em con­ta também os custos operacionais da empresa”, frisou. Para a entrega simbólica das chaves das respectivas Neste momento trabalham na Delta mais de 30 pes­soas casas, fo­ram seleccionados seis jovens dos 115 contem- e a imobiliária tem quatro lojas abertas, em Luanda. plados nesta primeira fase. Procederam à entrega entida­ des governamentais como o mi­nistro da Juventude e Recorde-se que recentemente o in­vestigador, jornalista Desportos, Gonçalves Muandumba, a secre­tária para e activista cívico, Rafael Marques, publicou um artigo os Assuntos Sociais do Presidente da República, Rosa que acusava Manuel Vicen­te e Hélder Vieira Dias Pacavira, a vice-ministra da Família e Promoção da “Kopelipa” de serem os principais accionistas da Delta Mulher, Ana Paula do Sacramento, o vice-ministro da Imobiliária. O caso teve alguma repercussão fora de Comunicação Social, Manuel Miguel de Carvalho, a Angola, mas no país desconhece-se qualquer re­acção vice-governa­dora de Luanda para área Social e Política, dos visados. Em Diário da República, sabe o Novo Jovelina Imperial e admi­nistradores do Banco de Jornal, na constituição da empresa surge ape­nas o nome Poupança e Crédito (BPC). de Ismenio Pereira Ma­cedo, antigo administrador do Ban­co Privado Atlântico (BPA). Sonho concretizado Teimo Francisco é um dos con­templados do projecto. Esteve acompanhado da esposa e do filho, de quatro 6.3 Habitações distribuídas na anos. Q casal vivia em casa arrendada. A reportagem do urbanização do Camama Jornal de Angola disseram que concorreram ao “Angola Jornal de Angola Jovem” com fé de que tudo ia dar certo. O dia 29 de 04 de Novembro de 2011 Outubro marca no seu calendário o fim de uma vi­vência de vários anos em casa ar­rendada. “Depois do sorteio O Executivo, através do Minis­tério da Juventude e mui­tos não acreditaram que o projecto “Angola Jovem” Desportos, entregou sábado mais de uma centena de fosse uma reali­dade. Mas nós depositámos con­fiança. casas na zona da Camama em Luanda, aos jovens que se Valeu a pena esperar. As casas são boas”, disse Teimo. habilitaram à aquisição de imóveis no âmbito do projec­to “Têm água canalizada e ener­gia, arruamentos e digo “Angola Jovem”, que visa a construção e venda a título de que é pre­ciso que as pessoas confiem nos projectos do crédito bancário de casas de mé­dia e baixa renda. Executivo. Esperá­mos e confiámos e hoje temos o sonho da nossa casa própria reali­zado”, salientou a esposa com As. 115 casas do tipo T-3 entre­gues, fazem parte da pri- um sorriso de alegria. meira fase­ do conjunto de casas dos jovens que concorre- ram no ano passado. O projecto, ainda em curso, visa a Foi um dia de muitas alegrias construção de 500 habitações até Junho de 2012. Esmeralda Rocha foi outra con­templada. Ela saltou ao ouvir o no­me do marido no momento de rece­ber ª chave A cerimónia de entrega oficial foi antecedida de corte de de uma das casas. fita inau­gural pelo ministro da Juventude e Desportos, Gonçalves Muandumba, acompanhado de outras enti­ Osvaldo Rocha, o esposo, é ope­rador de câmara da dades governamentais. Televisão Pú­blica de Angola. Esteve de serviço naquele dia no local da cerimónia. Com a câmara ligada, ele espe- No discurso que se seguiu à inau­guração oficial das casas, rava filmar o próximo beneficiado, quando ouviu o seu Gonçal­ves Muandumba chamou a atenção dos jovens nome a ser anunciado. O jovem, que estava próximo da contemplados no senti­do de criarem comissões de mora­ nossa equipa de repor­tagem, suspirou de alívio e pediu dores, para o melhor controlo das condições de higiene e ao colega assistente para se ocupar do serviço. Momentos de seguran­ça dos prédios. depois, Osvaldo e es­posa festejavam, exibindo as cha­ves às câmaras, gritando “demorou mas conseguimos”. O governante elogiou os jovens que investiram no pro- jecto “Ango­la Jovem” e a perseverança em es­perar até ao No grupo de jovens contempla­dos, na sua maioria momento ideal da en­trega das suas casas. casad9s, na idade dos 18 aos 35 anos, cada um tem uma Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 82 história para contar, acerca dos caminhos que percor­ sair de casa com o recurso aos cartões de crédito (Visa, reram até à meta. Augusto e Juliana são casados e con- Mastercard, American Ex­press, entre outros), aos depó- correram em Abril do ano pas­sado. Têm dois filhos e sitos em conta ou ao Multicaixa (Cartão de débito). A vivem na casa dos pais de Augusto. O casal informou empresa classifica esta inovação como “um marco na que para a compra da casa do tipo T3, rés-do-chão e pri- história da Casacon e também das operações de vendas meiro andar, deu entra­da de um sinal, correspondente em Angola”. a 17 mil dólares americanos, ao BPC. O custo total da O novo site, com o endereço www.casacon.comapre- casa é de 170 mil dólares. senta um menu que lista os diferentes de­partamentos onde se encontram agrupados os produtos comer­ Em função do contrato contraído com o Banco, cializados pela Casacon, os quais apresentam o preço e a devem pagar men­salmente 800 a mil dólares ameri­ disponibilidade bem como um “carrinho de compras” e canos durante 15 a 20 anos.Questionado sobre o preço outras funcionali­dades e informações úteis. do imóvel, Augusto disse que “não considero alto em função do tipo e qualidade da casa. A empresa, fundada em 2003 pelo grupo Urbanova, conhecida pelo seu pioneirismo no domínio do ‘auto- O que está a acontecer à juventu­de e não só, é que muitos -serviço’, refere que, com esta inovação, pretende “criar não têm condições económicas suficientes. Mas Angola facilidades, comodidade, reduzir custos, deixar os pro- é um país que está em processo de desenvolvimento con­ dutos com valores competitivos, agregar vendas e trazer tínuo e muita coisa está a mudar. O exemplo pode ser a Casacon para um patamar mundial em conceito e constatado em todo o país. inovação”.

Depois da guerra, o desejo das pessoas não será satisfeito com to­que de mágica, mas sim com muito trabalho, 6.5 Jovens querem apoio da banca para com projectos solúveis, confiança e na aceitação dos pro­ construção de habitações jectos do Executivo”. Jornal de Angola 10 de Novembro de 2011 As casas As casas do tipo T3, rés-do-chão e primeiro andar, estão Os jovens que receberam lotes de terrenos para autocon- construídas em blocos de prédios de cinco casas cada e trução diri­gida nas novas urbanizações da pro­víncia da comportam duas salas, cozi­nha, duas casas de banho, Huíla, querem o apoio das instituições bancárias, para três quar­tos e dois quintais, à frente e atrás. O projecto materia­lizarem o sonho da casa própria. conta com redes de água potável, energia eléctrica, es­paços de lazer e arborização. A área vai estar completa- O secretário Executivo do Con­selho da Juventude na mente ur­banizada com ruas principais de duas faixas de Huíla, Joa­quim Tyova, manifestou esta preo­cupação rodagem, sendo uma para cada sentido, e secundá­rias, durante um encontro rea­lizado na cidade do Lubango, bem como áreas de estacio­namento e bermas. A casa comos representantes de distintas asso­ciações juvenis. modelo custa 170 mil dó­lares americanos e a aquisição é Joaquim Tyova frisou que o ano passado, as autoridades li­vre, cabendo aos interessados esta­belecer contrato com governa­mentais distribuíram 2010 lotes a jovens para a a instituição responsável projecto “Angola Jovem”, uma auto-contrução diri­gida. Mas devido à falta de apoios, parceria entre o Mi­nistério da Juventude e Desportos e tudo continua parado. BPC, que prevê a construção de 500 casas até Junho de 2012. Esta situação, disse, preocupa o Conselho da Juventude na provín­cia. Por isso, o encontro serviu para reflectir sobre o apoio que as insti­tuições bancárias podem dar 6.4 Casacon online na so­lução deste problema. Jornal o pais “Reconhecemos as limitações fi­nanceiras que os jovens 04 de Novembro de 2011 atraves­sam, pelo que pedimos aos bancos para criarem créditos destinados à auto-contrução dirigida”, salientou A Casacon lançou um novo site afir­mando assim a sua Joaquim Tyova. O encontro contou com a participação presença no canal comércio electrónico. Trata-se de de líde­res de organizações estudantis, desportivas, polí- um novo conceito de vendas, tanto na própria empresa ticas, religiosas, culturais e empresariais. quanto em Angola, dotando-a com uma ferramenta de O director da Juventude e Des­portos na Huíla, Francisco vendas on-line de características profissionais. Barros, afirmou que as autoridades da pro­víncia já dis- tribuíram 300 lotes, ca­bendo a cada jovem, mil metros O novo site da insígnia permite efectuar compras sem quadrados. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 83

Francisco Barros esclareceu que a primeira fase consiste Dezembro, no Estádio Municipal Edelfrides Palhares na distri­buição de lotes de terrenos, e a se­gunda prevê a da Costa. cedência de créditos bancários, através da apresentação do título de propriedade e outros documentos. Desse sorteio, vão sair os 82 be­neficiários que podem receber as chaves das moradias mobiladas, em Janeiro Francisco Barros informou que estão em curso nego- de 20 12. ciações avan­çadas com as instituições bancá­rias, para ajudarem o Governo Pro­vincial a resolver o problema A Angop apurou que 82, das 92 casas do novo bairro habitacional da juventude. social, cujo preço é 35 mil dólares, reembolsá­veis em 15 anos ao Banco de Pou­pança e Crédito, já estão Além da cidade do Lubango, a distribuição de lotes de concluí­das e apresentam uma estrutura que engloba três terrenos para construção à juventude de­corre nos muni- quartos, cozinha, sala e quarto de banho. cípios da Humpata, Quipungo, Matala, Caluquembe, Gambos e Cacula, informou o director da Juventude e Desporto na Huíla. 6.7 Militares podem beneficiar de habitações sociais em todo o pais Jornal o independente 6.6 Abertas inscrições para sorteio de 12 de Novembro de 2011 casas Jornal de Angola A Cooperativa Pérola Verde prevê construir cerca de 11 de Novembro de 2011 500 mil casas para os efectivos das Forças Armadas Angolanas (FAA), ex-militares, funcionários civis, viúvas As inscrições para o sorteio de 82 casas sociais, cons- e outros familiares destes informou o vice-presidente da truídas no âmbi­to do Programa Angola Jovem, no cooperativa, Paulino Pinheiro Dombele. bairro Nossa Senhora da Graça, ar­redores da cidade de Benguela, co­meçaram na terça-feira, com deze­nas de De acordo com o responsável, que apresentava o pro- candidatos. jecto durante uma conferência de imprensa, a ideia surgiu devido as solicitações feitas pelos militares e tra- Segundo o membro do Comité Provincial de Avaliação balhadores civis das FAA. dos Pro­cessos de Candidaturas, Daniel Ngunde, as ins- crições estão abertas até ao próximo dia 18 e obedecem Para dar resposta a estas solicitações, acrescentou, o ao Regulamento de Acesso e Con­cessão de Habitação comandante do exército ordenou a criação de uma Social à Ju­ventude, aprovado à luz do Decreto Executivo comissão de gestão que trabalhou para o surgimento da n° 29/09 de 17 de Abril. mesma que se enquadra no âmbito do programa do exe- cutivo para a construção de um milhão de casas. Os candidatos devem ser cida­dãos angolanos e ter entre 18 e 35 anos. Para se inscreverem, devem preencher Para si, como a intenção é de dar resposta imediata as uma ficha e apresentar atestado de residência, certidão necessidades habitacional destes cidadãos, a coopera- matrimonial ou de união de facto, fotocópia do Bilhete tiva firmou um acordo com a empresa Tamar Lda., que de Identidade, do cartão de contribuinte, declara­ção do conseguiu um financiamento de três milhões de dólares vínculo laboral e salarial, e a situação militar regulari- para as primeiras 50 mil casas, através da República do zada, no caso dos jovens. Vietname, que vai numa primeira fase suportar as cons- truções das habitações. Das 100 fichas de inscrição dis­ponibilizadas no pri- Por seu turno, a gestora da empresa Tamar, Celeste de meiro dia, ape­nas 26 foram preenchidas pelos candida- Brito, adiantou que o projecto já está a ser implemen- tos, “uma situação normal, por se tratar da abertura do tado em sete das 18 províncias e nesta primeira fase serão proces­so”, referiu Daniel Ngunde. inauguradas, no dia 11 de Novembro, 10 casas modelos Confiante que a adesão dos jo­vens aumente nos próxi- em cada uma delas. mos dias, garantiu que foram montadas seis brigadas De acordo com ela, o projecto com prioridade a todos para o atendimento célere dos candidatos, entre as 8h30 os militares das forças armadas, no activo ou não, viúvas e as 12hOO, na sala de imprensa do pa­vilhão multiusos de guerra, será também extensivo a pessoas singulares, Acácias Rubras. porquanto a ideia não é criar um bairro meramente para os militares, mas com abrangência ao cidadão comum. Durante oito dias, devem dar en­trada pelo menos 1.500 candidatu­ras, estando o sorteio marcado para dia 20 de “Cada um destes projectos comportam 50 porcento de Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 84 casas sociais (T3), 30 para as médias (T5) e para as altas Mostrou-se confiante que a adesão dos jovens aumente 20 porcento (T6), com uma cifra inicial de oito mil e nos próximos dias, garantido estarem montadas seis 100 casas cada província, sendo 5.600 sociais, 1.500 brigadas para o atendimento célere dos candidatos, no de média renda e mil de alta renda, num projecto que período das 8:30 às 12:00, na sala de imprensa do pavi- vai aumentando conforme as solicitações”, explicou. O lhão multiuso Acácias Rubras. preço das mesmas vai de 60 mil kwanzas, 150 e 250 mil Kwanzas, respectivamente. Acrescentou que durante oito dias devem receber pelo menos mil e 500 candidaturas para o sorteio, previsto Segundo a responsável, o acordo firmado com a coope- para o dia 20 de Dezembro, no Estádio Municipal rativa é sem fins lucrativos, porquanto o projecto visa Edelfrides Palhares da Costa. Desse sorteio sairão os 82 proporcionar habitações a esta franja da sociedade sem beneficiários, que poderão receber as chaves das mora- que tenham que pagar algum juro, daí que o pagamento dias mobiladas em Janeiro de 2012. é feito através do salário e quando se faz o primeiro pagamento já se recebe as chaves da casa. A Angop apurou que oitenta e duas, das noventa e duas De acordo ainda com ela, um dos principais critérios de casas do novo bairro social, cujo preço é 35 mil dólares acesso é ser sócio da cooperativa e ter as quotas todas norte ­americanos, reembolsáveis em 15 anos, ao Banco pagas. Tendo acrescentado ainda que se o beneficiário de Poupança e Crédito, já estão concluídas e apresentam tiver outra modalidade de pagamento é livre desde que uma estrutura que engloba três quartos, cozinha, sala e não se submeta a empréstimos que lhe façam perder o quarto de banho. propósito da organização, que é a isenção de juros. Depois da província do Kwanza Sul, onde será feita a entrega das primeiras 10 casas modelo, seguir-se-ão 6.9 Militares podem beneficiar de Kuando Kubango, Huambo, Benguela, Lunda Sul e habitações sociais no pais Luanda com três pólos. Jornal semanario factual 12 a 19 de Novembro de 2011

6.8 Jovens inscreveram-se para sorteio De acordo com o responsável, que apresentava o pro- de casas sociais jecto durante uma con­ferência de imprensa, a ideia Jornal o independente surgiu devido às solicitações feitas pelos militares e pelos 12 de Novembro de 2011 traba­lhadores civis das F AA.

As inscrições para o sorteio de oitenta e duas casas Para dar resposta a estas solicitações, acres­centou, o sociais, construídas no âmbito do Programa Angola comandante do exército ordenou a criação de uma Jovem, no bairro Nossa Senhora da Graça, arredores comissão de gestão que trabalhou para o surgimento da cidade de Benguela, iniciaram-se terça-feira, com da mesma que se enquadra no âmbito do programa do dezenas de candidatos. Segundo o membro do Comité Executivo, para a construção de um mi­lhão de casas. Provincial de Avaliação dos Processos de Candidaturas, Daniel Ngunde, as inscrições para o sorteio vão decorrer Para si, como a inten­ção é de dar resposta ime­diata às até dia 18 deste mês. As mesmas, explicou, obedecerão necessidades habitacional destes cidadãos, a coopera- ao Regulamento de Acesso e Concessão de Habitação tiva firmou um acordo com a empresa Ta­mar IDA, que Social à Juventude, aprovado à luz do Decreto Executivo conseguiu um financiamento de três milhões de dólares no 29/09 de 17 de Abril. para as primeiras 50 mil casas, através da República do Vietname, que vai numa primeira fase suportar as cons- Disse que os candidatos devem ser cidadãos angolanos truções das habitações. e ter idade entre 18 e 35 anos. Esses devem preencher a ficha de inscrição e apresentar atestado de residência, A gestora da empresa Tamar, Celeste de Brito, adiantou o certidão matrimonial ou de união de facto, fotocópia do projecto já estar a ser implementado em sete das 18 pro- bilhete de identidade, do cartão de contribuinte, decla- víncias e, nesta primeira fase, po­derem ser inauguradas, no ração do vínculo laboral e salarial, assim como a situa- dia 11 de Novembro, 10 casas-modelo em cada uma delas. ção militar regularizada, no caso dos jovens. De acordo com ela, o projecto com prioridade a todos os Segundo a fonte, das 100 fichas de inscrição disponibi- militares das FAA, no activo ou não, viúvas de guerra, lizadas no primeiro dia, apenas 26 foram preenchidas será, igualmente, extensivo a pessoas singulares, por­ pelos candidatos, “uma situação normal, por tratar-se da quanto a ideia não é criar um bairro meramente para abertura do processo”. os militares, mas com abrangência ao cidadão comum. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 85

“Cada um destes pro­jectos comporta 50 por­cento de De modo global, a cooperativa de projecta construir casas sociais (f3), 30 para as médias (f5) e para as altas quinhentas mil ca­sas por todo o país, urna fatia que leva 20 porcento (f6), com uma cifra inicial de oito mil e a afirmar -se como «um dos parceiros mais privilegiados 100 casas ca­da província, sendo 5.600 sociais, 1.500 de do Executivo na consecução deste objectivo». média renda e mil de alta renda, num projecto que vai au­mentando conforme as solicitações”, explicou. Para a materialização deste ambi­cioso projecto, os O preço das mesmas vai de 60 mil Kwanzas, 150 e 250 seus responsáveis contam com o Poio institucional do mil Kwanzas, respectivamente. Executivo que se compromete em ce­der espaços em todas as reservas do Estado. Segundo a responsável, o acordo firmado com a coope- Os promotores da iniciativa garan­tem igualmente que o rativa é sem fins lucrativos, porquanto o projecto visa projecto não está aberto somente aos efectivos das FAA, proporcionar habitações a esta franja da sociedade, sem mas a todos os funcionários públicos e privados interes- que te­nham de pagar algum juro. Daí que o pagamento sados no projecto. é feito através do salário e quando se faz o primeiro pagamento já se recebem as chaves da casa. A cooperativa Pérola Verde surge em resposta às várias solicitações dos efectivos das Forças Armadas Ango­ De acordo com ela, um dos principais critérios de acesso lanas, facto que determinou criar-se uma comissão que é ser sócio da co­operativa e ter as quotas todas pagas. trabalhou junto dos vários organismos do Executivo Acrescentou que, se o beneficiário tiver outra modali- e culminou com a constituição da coo­perativa Pérola dade de paga­mento, é livre desde que não se submeta a Verde. emprés­timos que lhe façam perder o propósito da orga- nização, que é a isenção de juros. Metade das casas que a cooperativa propõe construir serão de baixa ren­da, as restantes estão repartidas entre Depois da província do Kwanza-Sul, onde será feita a médias e alta renda, segundo o vice-­presidente da coo- entrega das primeiras 10 casas-mode­lo, seguir-se-ão as perativa, o major Paulino Pinheiro, que falava durante a do Kuando-Kubango, Huambo, Benguela, Lunda-Sul e apresentação pública do projecto. Luanda, com três pólos. A construção de casas de média e alta renda deverá acon- tecer apenas quando as 18 províncias do país es­tiverem 6.10 Estado-maior do exercito junta- consolidadas com as casas económicas, tendo em conta se ao projecto habitacional do que o projecto é eminentemente social, consignado no executivo Programa Nacional de Habitação. Na sequência da Jornal o pais expansão do projecto no Dia do Exército a cele­brar-se a 18 de Novembro de 2011 17 de Dezembro, serão apresentadas mais 70 casas nas províncias G do Huambo, Kuando-Kubango e Luanda, O Estado-maior do Exér­cito associou-se ao de­safio do com três pólos de casas de baixa renda. O major Paulino Executivo, na área da Construção, com a constituição Pinheiro tranquiliza os cinco mil sócios, garantindo que de uma cooperativa de âmbito nacional, denominada em todas as províncias os espaços onde serão erguidos Pérola Verde, cujo pro­jecto predispõe-se edificar por os fogos já foram cedidos pelos respectivos governos todo país quinhentas mil casas até 2017. provinciais. A apresentação das casas no Kwanza-Sul contou com a presença da ex-vice-governadora para a O primeiro passo em direcção a este objectivo aconte- área social Fernanda Cabral, que agradeceu a es­colha ceu na semana passada no Kuanza – Sul, província que da província para o arranque de projecto destinado acolheu a apresentação e a entre­ga das seis primeiras casas aos efectivos das FAA que contribuíram imenso para sociais de 100 metros quadrados, erguidas num espaço de a independência de Angola. “ Acho que é o momento 380 hectares e orçadas no valor de 60 mil dólares. oportu­no para que possam ter dignidade, terem urna residência que possa dig­nificar o esforço efectuado ao Para o Kuanza Sul, a cooperativa consignou a constru- longo destes anos todos para que Angola alcançasse a ção de 5 mil casas económicas, médias e de alta renda, a paz”, disse Fernanda Cabral. serem erguidas em toda a sua exten­são. De acordo com as informações apuradas durante a cerimónia, os só­cios O Presidente do Conselho de Ad­ministração da Tamar, da cooperativa só começam a ser descontados nos salá- Celeste de Brito, a gestora da cooperativa, ex­plicou que rios se já estive­rem na posse da casa num valor a que não a intenção da sua empre­sa vem em resposta ao desafio é incorporado taxa de juro. Mas primeiro terão que se do Executivo em construir um milhão de casas, pro- associar ao pro­jecto pagando a jóia de 150 mil Kzs. curando conferir dig­nidade a todos os soldados que Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 86 tan­to lutaram para a independência e a preservação da de inauguração teve a presença de al­guns elementos do soberania. Executivo e do governo da província e autoridades ecle- siásticas e tradicionais. “A nossa intenção não é construir­mos urna vila para militares, porque hoje já não estamos em guerra, por isso O ministro dos Antigos Comba­tentes e Veteranos da devemos integrar outras franjas da sociedade”, explicou Pátria disse estar satisfeito por o projecto bene­ficiar a respon­sável da Tamar, quando anunciava a extensão antigos combatentes, pois a questão habitacional tem do projecto habitacional a pessoas de todos os extractos sido das mais os preocupam. “Estou muito satisfeito sociais. porque a grande carga que transporto aos ombros fica reduzida”, frisou Kundi Payhama. Emoções As lágrimas de emoção apossaram­-se do primeiro con- O Vice – Presidente da República assistiu, à margem templado com uma casa do projecto, o oficial do Exército, da cerimónia, à apresentação, em slides, do Programa tenente José Castilho Capina,­ que ingressou nas Forças de Intervenção do Hospital Regional de Cabinda, que Ar­madas no ano de 1976, no tempo das extintas Forças prevê a construção, a médio e curto prazo, cri de uma Armadas Populares de Libertação de Angola. nova unidade hospitalar na província, com todos os ser- viços médicos. O projecto foi bem rece­bido pelo Vice- O tenente Capina até à entrega da casa, não sabia que Presidente da Re­pública, que recomendou ao gover­no da seria contemplado iria ser contemplado com uma resi­ província que o prossiga. dência, apesar de ser um dos filiados. Por isso, não resis- tiu a surpresa e não susteve as lágrimas de emoção. Até Projectos na saúde ao momento em que foi contemplado, o tenente Capina O ministro da Saúde afirmou que se o projecto se con- disse que vivia numa casa cujas condições são precárias. cretizar é muito importante para Cabinda face o cresci- Por esta razão, agora atribui elevada importância e cre- mento demográfico que re­gista. José Van-Dúnem referiu dibilidade sobre a viabilidade deste projecto. que o Programa do Executivo para o sector estabelece a municipaliza­ção dos serviços de saúde, com a atribuição “Parece mentira, não esperava. de recursos financeiros às administrações municipais, Recordo que quando o General Lúcio do Amaral passou para os aproximar das populações, e a criação de hospi- pela nossa unida­de, anunciou o projecto, muito de nós tais regionais em Cabinda, Malanje, Huambo, Ben­guela estávamos a ignorar, não pensávamos que seria reali- e Huíla. O Vice-Presidente da República reuniu, ainda dade”, rematou o feliz contemplado. ontem, com os membros do governo da província, de quem recebeu infor­mações sobre as acções sociais desen- volvidas nos últimos dois anos. 6.11 Ovas casas para antigos combatentes Fernando da Piedade Dias dos Santos visitou as obras Jornal de Angola de constru­ção da Faculdade de Ciências Mé­dicas e do 18 de Novembro de 2011 futuro campus universi­tário, o pavilhão multi-uso do Tafe, o Centro Infantil Pioneiro Zeca e a Escola secun- O Vice-Presidente da Repúbli­ca, Fernando da Piedade dária do segundo ci­clo do Buco Ngoio e inaugurou o Dias do Santos, inaugurou, ontem, em Instituto Poli técnico do Chiaze. Cabinda, 150 casas destinados 1 a antigos combatentes Para hoje, último dia da visita, fala à imprensa para fazer e ex.) Guerrilheiros da FLEC reintegrados no âmbito do um ba­lanço desta deslocação a Cabinda. memorando de entendimento.

O complexo residencial, que re­cebeu o nome de Santa 6.12 Retrato colorido da moderna Catarina, nove quilómetros a sul da cidade de Cabinda, cidade do kilamba constituída por casas tipo T3, têm sala de estar, varanda, Jornal de Angola cozi­nha e quarto de banho e já dispõem de mobiliário, 19 de Novembro de 2011 adquirido pelo governo­ da província. Todos os caminhos vão dar ao Kilamba, pois já começa- O empreendimento está orçado em 11 milhões de ram a ser CI vendidos os apartamentos da nova cidade. dólares, oito mi­lhões dos quais investidos nas obras São 9 horas de quinta-feira, 10 de Novembro. A cidade de construção e os restantes em infra-estruturas exte- 11 tem edifícios imponentes: O ar puro circula entre os riores, co­mo vedação, pavimentação, siste­ma de drena- edifícios c separados por espaços verdes te e cuidados gem de águas, ilumina­ção e arborização. A cerimónia tapetes de relva. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 87

No passeio da longa Avenida Im­perial Santana, os pen- Equipamentos modernos samentos perdem-se entre o desabrochar simultâneo de Todos os prédios estão equipa­dos com sistema para a flores em quase todos os s jardins da nova centralidade ligação à Internet, parabólica, TV cabo e ar condicio- do Kilamba, inaugurada em Julho deste e ano pelo nado. Cada morador terá ainda um lugar de estaciona- Presidente da República, t José Eduardo dos Santos. mento em áreas previamente definidas.

A cidade tem todas as caracterís­ticas de qualquer outra Quanto aos moradores que pos­suem mais de duas via- distinta e moderna do mundo: áreas residen­ciais para turas, a ad­ministração do Kilamba pode criar soluções. albergar mais 400 mil ha­bitantes, estabelecimentos A cidade reservou algu­mas áreas para a construção de comer­ciais, zonas de lazer, escolas, hos­pitais, uma rede in­fra-estruturas onde pode ser desen­volvido todo o tipo viária eficaz e um canal ferroviário. de comércio. Parques de estacionamento, res­taurantes, ginásios, A cidade do Kilamba é conside­rada média por possuir até clubes, colé­gios privados são equipamentos da cidade do 500 mil habitantes. Apesar de ainda não es­tar concluída na Kilamba. sua totalidade, já tem todas as infra-estruturas e os espaços verdes estão bem cuida­dos. A cidade está toda arborizada. Cada bloco de edificios da cida­de do Kilamba tem escolas e cre­ches. Os alunos não têm de percor­rer longas Ambiente sadio distâncias para ir à esco­la. Os estabelecimentos de ensino Os habitantes da cidade do Kilamba têm um ambiente podem arrancar no início do próxi­mo -ano lectivo. sadio. Em cada esquina da cidade há conten­tores e Os mercados e hospitais também fazem parte do leque pequenos recipientes de lixo fixos. O saneamento básico de infra-es­truturas da cidade do Kilamba. Os hospitais tem um sistema de esgotos eficiente. O abastecimento estão equipados com meios tecnológicos modernos para de água canalizada foi projectado com a construção de garantir a um tratamento adequado e de qualidade aos centrais de armazenamento para que o morador tenha doentes. água potável permanentemente. Integrada no novo município de Belas e erguida numa superfície de 3,2 milhões de metros quadra­dos, a cidade A estação de tratamento de água abastece em exclu- tem 71 O edificios, 24 creches, nove escolas primárias sivo o que é ga­rantia de um fornecimento perma­nente. e oito secundárias e 50 quilómetros de vias. O projecto Kilamba é _a cidades de An­gola mais bem iluminada. tem conclusão prevista para Outubro de 20 12. Até Para chegar à cidade do Kilamba existe uma rede de Venda dos imóveis transportes públicos eficiente. Cada bloco de aparta­ mentos tem paragens para facilitar a vida dos moradores. A venda dos apartamentos na cidade do Kilamba decorre a bom ritmo, de acordo com o adminis­trador da Delta O trânsito dentro da cidade é re­gulado por um moderno Imobi1iária, Paulo Cascão. Das mais de 70 mil pessoas sistema de sinais verticais, horizontais e electrónicos. inscritas, 30 por cento confirmaram interesse em adqui- Em alguns cruzamen­tos há passagens superiores para rir os imóveis a pronto pagamento. peões, porque os administradores da cidade do Kilamba prevêem um tráfego intenso quando as casas es­tiverem “Até final desde mês os clientes podem ter as suas casas, todas habitadas. quando todo o processo estiver concluído. As restantes vão comprar as casas através do financiamento bancá­ Kilamba tem edificios diferen­ciados em tamanhos, cores rio. Nós vamos aguardar já que es­tão disponíveis 3.180 e de­signação. Um bloco, por exemplo, tem mais de dez apartamen­tos”, referiu o Paulo Cascão. edificios com a mesma cor, mas com tamanhos di­ferentes. Os mais baixos têm cin­co andares e possuem apartamen­ A Sonip – Sonangol Imobiliária ~ Propriedades, tos com três quartos e uma área de 110 metros quadrados. empresa gestora dos imóveis, anunciou igualmente a comercialização de 35.536 no­vos apartamentos, ainda Os edificios mais altos, que vão de nove a 13 andares, em cons­trução, nas centralidades do Kilamba (16.822), têm aparta­mentos de três a cinco quartos e as suas áreas Cacuaco/Dande (10.002), Zango (2.464), Quiló­metro varia, dos 120 aos 150 metros quadrados. Os prédios 44 (2.248) e no Musseque Capari (4.000), habitações. têm elevadores modernos e portas elec­trónicas. Cada morador tem um có­digo de acesso.

Os apartamentos têm boas salas, cozinha com despensa e lavanda­ria, quartos e uma suite. Todos têm roupeiros embutidos. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 88

6.13 Construidas casas para Apoio a doentes de lepra desfavorecidos Angélica Gonçalves disse que 46 pessoas idosas, Jornal de Angola incluindo 42 porta­doras de deficiências causadas pela 19 de Novembro de 2011 lepra, em situação de extrema vul­nerabilidade, estão sob controlo da direcção provincial do Ministério da A directora provincial da As­sistência e Reinserção Social Assistência e Reinserção Social. (MINARS) do Bié, Angélica Gon­çalves, Informou ontem que cer­ca de 50 casas foram construí­das com Quanto à situação médica e medicamentosa, alimen- materiais rudimentares, na comuna de Sande, município tar, vestuário e apoio moral, a responsável disse que os de Catabola, para acolher cida­dãos desfavorecidos que idosos vivem actualmente em condições mínimas, tendo perde­ram as suas residências durante conflito armado. em conta a pequena dimensão da estru­tura actual.

Angélica Gonçalves disse que a instituição está igual- Angélica Gonçalves referiu que a maior parte dos idosos mente a ajudar 40 pessoas da comuna de Malen­gue, existentes no actual lar de Cangalo, no muni­cípio do município de Chitembo. Cuito, foi ali parar em re­sultado de conflitos ocorridos na localidade. Os beneficiários, que abandona­ram as suas casas por suspeita de in­vasão das mesmas por animais fero­zes, As dificuldades financeiras e so­ciais, como a marginali- estão a receber chapas de zinco e outros materiais para zação, ex­clusão, acusações de feitiçaria, agressões físicas, facilitar a construção das referidas residências. homicídios e ex­pulsão do seio familiar e da comu­nidade também levaram os mais velhos aos referidos lares. A directora do MINARS disse que, em colaboração com as admi­nistrações municipais, uma escola primária e A responsável salientou que al­guns idosos estão a praticar um posto de saúde estão a ser construí dos em benefício a acti­vidade agrícola, artesanato, alfaia­taria, sapataria e da população da localidade. olaria para aper­feiçoarem as suas habilidades e ga­rantir o seu sustento, aliás é assim que tem de ser. A província Angélica Gonçalves aclarou que a nível do governo local do Bié possui, pelo menos, 12 residên­cias gémeas que está prevista a construção de um centro infantil e outro albergam os ido­sos desfavorecidos, além de ou­tras 16 comunitário para albergar pessoas deficientes para a que acolhem os doentes de lepra e seus filhos. A falta de formação profissional. A par destes empreen­dimentos, cre­ches, na cidade do Cuito, é o prin­cipal motivo para a quatro centros comuni­tários, sendo dois infantis, um construção de tais infra-estruturas, no sentido de ajudar arte­sanal e de formação profissional, estão em fase final as crianças desampara­das e filhos de trabalhadores. da sua constru­ção, na cidade do Cuito. Angélica Gonçalves salientou que no município de O objectivo, segundo a responsável da Assistência e Catabola es­tá a ser erguido um centro com conclusão Reinserção So­cial, é albergar crianças e adultos em idade prevista para este ano. Este programa, que visa a dimi­ escolar e profissional. nuição de crianças desampara­das, vai continuar.

Área social merece atenção O MINARS presta igualmente apoio aos centros reli- A directora provincial disse que a situação social no Bié giosos das igrejas Católica, Evangélica Con­gregacional não é dramá­tica, mas é necessária uma atenção especial e dos Irmãos em Ango­la, que encontram, às vezes, difi­ do governo e de outras ins­tituições da sociedade. Apenas culdades no funcionamento das instituições de caridade. dois especialistas em educação social estão integrados no MINARS e daí a aposta na formação de quadros para o atendimento dos utentes dessa área.

A directora local do MINARS disse que foram selec- cionadas cinco educadoras, que são vigi­lantes de infân- cia, para o curso de formação para formadores, num processo contínuo, no sentido destas aperfeiçoarem e transmiti­rem os conhecimentos aos restan­tes colegas da província. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 89

6.14 Fundo dá garantias para Anunciado em 2008, o Programa habitacional do empréstimos Executivo prevê, até o próximo ano, a construção de Jornal de Angola um milhão de fogos habitacionais em todo o país, para 25 de Novembro de 2011 reduzir a gran­de procura de casas no país.

Os bancos comerciais assina­ram, ontem, em Luanda, um acor­do com o Fundo de Fomento de Garantia 6.15 Novas casas para o interior da Habitacional, que vai servir de avalista para as pes­soas provincia que pretendam comprar ca­sa através de crédito bancário. Jornal de Angola 25 de Novembro de 2011 O fundo vai assegurar até 80 por cento do valor do imóvel. O docu­mento assinado ontem estabelece que a A comissão provincial da habi­tação do Cunene reuniu, coordenação apresente uma lista de projectos ilegíveis à na cida­de de Ondjiva, com os adminis­tradores munici- candi­datura habitacional. pais, com quem discutiu o modelo de construção, em 2012, de 200 casas em cada circunscrição. O coordenador do fundo, Carlos Panzo, adiantou que o O consultor do governo pro­vincial para o programa modelo para adesão já está estruturado. O cliente deve nacio­nal de construção habitacional, Augusto Sebastião, dirige-se ao seu banco e candi­datar-se. O banco, por sua propôs qua­tro modelos, mas os administra­dores optaram vez, apre­senta a candidatura ao Fundo de F 0­mento de pelo economicamente mais viável. . Garantia Habitacional, que tem a missão de interme- A primeira hipótese apresenta­da prevê a construção das diar a relação entre os bancos comerciais e os credores casas sem reboque, que deve ser fei­to pelo beneficiário, habitacionais. segun­da, com reboque, a terceira, já pintadas, e a última, com todos os acabamentos. . O ministro do Urbanismo e Cons­trução, Fernando da Fonseca, disse esperar que os bancos contribuam para O governador provincial, que participou na reunião, dinamizar o sector imobiliário. “Os bancos devem pro- anunciou que os terrenos para a constru­ção das casas já curar estimu­lar esta dinâmica, criando parcerias e opor- estão disponí­veis nos municípios da Cahama, Cuvelai, tunidades com as cooperati­vas habitacionais, para que Ombadja, Kwanhama, Namacunde e Curoca. possam desempenhar um papel de ajuda ao Executivo “Vamos receber equipamen­tos provenientes da China nesse sentido, para a ha­bitação social”, referiu. para complementar as casas, como mosaicos, chapas, tectos falsos, janelas, portas e louças sanitá­rias”, disse O presidente do Banco de Pou­pança e Crédito (BPC), António Didalelwa, que se mostrou esperançado na Paixão Jú­nior, disse que o acordo dá a possi­bilidade conclusão das obras até Agosto de 2012. de alargar o leque de ope­rações relacionadas com o crédito habitacional. Por seu lado, Couti­nho Nobre O governador António Dida­lelwa lembrou que foram Miguel, do Banco Sol, afirma que qualquer cliente dispo­nibilizados, a cada município da província do pode aderir-ao crédito habitacional, des­de possua os Cunene, 2,6 mi­lhões de dólares para a constru­ção de requisitos exigidos. casas para professores, enfermeiros e outros funcioná­rios públicos. Assinaram o acordo os presiden­tes do BPC, do Banco Sol, BNI, BPA, Banco Keve, BCI, BFA e BAI. O acto foi assistido pelos mi­nistros das Finanças, Carlos Alber­ 6.16 Ministro defende controlo dos to Lopes, do Urbanismo e Constru­ção, Fernando da preços das casas Fonseca, e pelo governador do Banco Nacional de Jornal de Angola Angola. O crédito à habitação para aquisição de casas 29 de Novembro de 2011 no âmbito do Programa habitacional do Executi­vo vai ser feito tendo como referên­cia a taxa LUIBOR, que é a O ministro das Finanças, Car­los Lopes, afirmou que o média resultante das taxas de juro cobra­das pelos bancos valor ideal para uma casa social deve ser, no máximo, comerciais nas operações entre si. O Banco Nacio­nal de 60 mil dólares e que o Executivo deve trabalhar para Angola anunciou, recente­mente a taxa média de juros a controlar os preços das habitações. vigo­rar para os empréstimos a serem concedidos pelos bancos comer­ciais. Executivo lançou um pro­grama para “Temos um mercado onde há disfunções muito sérias no facilitar a aquisição de casas para a população, principal­ domí­nio da formação de preços e ainda especulativo”, mente os mais carenciados. disse ó ministro, no domingo, no programa Espaço Público, da TPA, acrescentando que o Estado deve Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 90 actuar no sentido de proteger os cidadãos com menos fez o anúncio, disse que, relativamente à dívida externa, posses. “Essa é a função social do Estado”, disse. o país deve, entre outros, 5,6 mil milhões de dólares Carlos Lopes explicou, também, as funções do Fundo à Chi­na, 1,8 mil milhões ao Brasil, 1,4 mil milhões a de Fomento Habitacional, mecanismo criado pelo Portugal e 1,2 mil milhões a Espanha. Executivo para garantir aos ci­dadãos 80 por cento do valor do crédito a contrair com um banco comercial Carlos Lopes afirmou que o cres­cimento de 12,8 por para a compra de uma moradia. A primeira função do cento, que a economia angolana vai registar no próximo fun­do, disse o ministro, é promover a habitação social, ano, vai ser sustentado pe­los dois sectores: petrolífero e apoiando a cons­trução de casas sociais para a popu­lação não petrolífero. Na área petrolífera, al­guns campos vão mais carenciada. retomar a produ­ção, fixando o crescimento deste sector em 13,4 por”cento, ao con­trário dos três anos anteriores, Quanto à possibilidade de os ci­dadãos de baixo rendi- em que se registaram quedas de 5,1 por cento (2009), mento ad­quirem habitação numa centralida­de, referiu três por cento (2010) e 8,8 por cento (2011). que o conceito de centralidades não é apenas visto numa óptica de luxo. Como exemplo, re­feriu a centralidade do No sector não petrolífero, o cres­cimento esperado é de Kilamba, onde estão, também, a ser desen­volvidos projec- 12,5 por cento, impulsionado pela expansão o das áreas tos de casas so­ciais, para permitir que não haja segregação dos diamantes (10, I por cento), energia (11,8 por cento), em termos da classe média alta, média e baixa, que de­ve construção (7,5 por cento) e agricultura (13_SoPOT beneficiar de todas as facilida­des que o lugar oferece. cento). A evolu­ção nestas áreas, impulsionada, também, pela execução do Progra­ma de Investimentos Públicos. Esclareceu, ainda, que as casas sociais são aquelas que, Se­gundo explicou, é preciso que o EL Produto Interno providas de condições urbanísticas aceitá­veis, como Bruto (que é a so­ma de toda a riqueza produzida no arruamentos, sistemas de esgotos, água e luz, são cons­ país durante um período) cresça na dimensão esperada truídas utilizando um modelo que permite que o preço para o próximo ano, para que o Executivo possa, através final esteja mais ou menos de acordo com a capacidade­ de políticas concretas, me­lhorar os serviços de saúde, financeira dos cidadãos com rendimentos baixos. O educa­ção e habitação. minis­tro afirmou, igualmente, que determinadas formas “São estes os indicadores que nos permitem qualificar de apresentação do Orçamento Geral do Estado vão ser o nível de desenvolvimento de um país”, dis­se o minis- reavaliadas para que os cida­dãos tenham uma verdadeira tro das Finanças, referin­do que a economia “angolana noção de como as despesas são distribuí­das pelas dife- tem progredido desde 2002 e manteve-­se mais ou menos rentes categorias. estável em 2005 com uma subida de 10,4 por cento.

A reavaliação consiste na desa­gregação de determinadas Em 2006 e 2007, continuou o mi­nistro, Angola registou rubricas orçamentais. “Há, por exemplo, uma rubrica um cresci­mento muito acentuado, de 25,7 por cento, residual que diz servi­ços não especificados, vamos rea­ apesar de depois, em 2008, ter descido para 15 por valiá-la, analisar com profundidade o classificador e ver cento, os indicadores continuaram positi­vos em2009, se efectiva­mente conseguimos desdobrar esta verba, ava- 2010 e 2011. liada em 10 por cento do orçamento, e imputá-la nas diferen­tes categorias de despesas”, disse. Reforma tributária o ministro também falou do pro­cesso de reforma tributária em cur­so no país, dizendo que este O ministro afirma que o objecti­vo é mostrar a forma está a contribuir para aumentar a fiscali­zação, reforçar a como a despe­sa é distribuída. “Não há aqui ne­nhum pro- capacidade inter­na e de resposta da administração. blema de transparência. O que pretendemos é transmitir à população, de uma forma mais de­sagregada, como o Os resultados são “muito palpá­veis no domínio do orçamento se comporta, sobretudo na compo­nente da aumento das re­ceitas tributárias”. despesa”, afirmou o mi­nistro. Esta decisão surgiu depois A reforma está dividida em três fases e vai ser desenvol- de uma chamada de atenção da Assem­bleia Nacional vida até 2015. A primeira fase, iniciada no ano passado, durante a discussão do documento na especialidade. cingiu-se ao levan­tamento de toda a situação ligada “ à administração tributária. A se­gunda na revisão de toda Dívida do país a legisla­ção subjacente à política fiscal e tributária. A A dívida total de Angola está or­çada em 31,4 mil milhões última, que começa no próximo ano e termina em 2015, de dóla­res, 17,8 mil milhões dos quais de dívida externa é a fase de aplicação con­creta das medidas. e o restante de in­terna, que resulta de emissões de obri- gações e Bilhetes de Tesouro, para financiar o Programa Para fazer face ao processo de re­forma, o Ministério das de In­vestimentos Públicos. O ministro da 1iinanças, que Finanças admiti 30 jovens licenciados que, depois de Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 91 submetidos a um curso de especialização, foram enqua- produto financeiro do FFH que ao mesmo tempo servirá drados na Direcção Nacional de Impostos e nas repar- de avalista dos cidadãos que pretendam um financia- tições fiscais. mento bancário. “O fundo vai ga­rantir este financia- mento aos bancos de acordo a formali­zação do contrato e irá cobrir ate 80 por cento de risco de incumprimento 6.17 Fundo habitacional e operadores do crédito”, sustentou o responsável. da banca assinam acordo Jornal de economia e finanças Segundo Carlos Panzo, o modelo está em andamento, 29 de Novembro de 2011 uma vez que o cidadão deve contactar o banco para ter acesso as condições de ade­são, acrescentando não O Ministério da Constru­ção e Urbanismo através do ha­verá qualquer ligação directa entre o cidadão e o FFH, Fundo de Fomento Habita­cional (FFH) assinou na mas sim entre o banco e os mutuá­rios isto depois da últi­ma quinta-feira, em Luanda, com os bancos comer- formaliza­ção do documento. ciais públicos e privados que ope­ram no mercado, um acor­do para a -formalização de contrato de habitação No entanto, o Executi­vo apresentará, brevemen­te, uma social para a população. lista de projectos e com base neste documento os bancos vão escolher os que melhor se enquadram para o seu A cerimónia da assinatura do acordo decorreu no edi- financiamento para posterior aprovação do Governo. fício do Ministério das Finanças e testemunhado pelo titular da pasta Carlos Alberto Lopes, ao governador Interrogado se a Cen­tralidade do Kilamba está contem- do Banco Na­cional de Angola (BNA), José Massano plada neste pacote, Carlos Panzo disse que o programa de Lima e do minis­tro da Construção e Urbanis­mo, que o Executivo está levar a cabo é de âmbito nacional, Fernando Fonseca. não sabendo se a Centralidade do Kilamba está ou não contemplada no referido projecto. O acordo foi assinado pelo coordenador da comissão de gestão do FFH, Carlos Panzo, e pelos presidentes Operadores satisfeitos de Conse­lho de Administração de nove operadoras Por sua vez, Paixão Júnior, presidente do Conselho de bancárias que ac­tuam no mercado nacional, designa- Administração do BPC, asse­gurou que este projecto vai damente, BPC, BCI, BFA, Sol, BAI, Keve, BNI, (BPA permitir aos bancos realiza­rem operações que não eram e BIC. (Fernando Fonseca, ministro do Urbanismo e efectuadas, permitindo-os a fazerem publicidades para Construção, disse na ocasião que o I Executivo está a que as populações adquiram as habituações. contar com a I participação dos bancos para I no futuro trabalharem em t conjunto na construção de habitação “Estamos convencidos de que este projecto terá êxito condigna para as populações e o FFH vai cumprir com e acima de tudo terá um trata­mento especial da nossa o seu papel assim s como os bancos. par­te, isto não quer dizer que os demais projectos serão descri­minados, pois para nós todos os outros serão legí- “Há uma dinâmica no crescimento no sector de veis”, sus­tentou o economista. ha­bitação e isso deve nos esti­mular criando parcerias com os outros organismos para a construção de diversos Segundo o responsável, “dentro em breve vamos re­ceber tipos de habitação para diferentes níveis da população”, uma lista onde constam todos os projectos e a partir dela para quem, as forças armadas, os antigos combatentes saberemos escolher os que foram de encontro com as têm as suas cooperativas e estas es­tão ajudar o fundo nossas exigências. no cumpri­mento do seu papel”, assegu­rou Fernando Fonseca. Para o presidente da Co­missão Executiva do Banco Sol, Coutinho Nobre Miguel, assegura que a instituição que Para o governante, as em­presas de construção civil dirige tem todas as estrutu­ras montadas para receber poderão comparticipar igual­mente neste projecto de e executar o projecto, visto que possuem um fundo de habi­tação para que os objectivos traçados pelo Executivo garan­tias bastante aceitável. ve­nham a surtir os efeitos dese­jados no mais curto espaço de tempo, assegurou o ministro, que igualmente mos- trou-se bastante satisfeito pela dispo­sição dos bancos em apoiar o projecto.

Cobertura do Executivo Para Carlos Panzo, o acor­do ora assinado vai regular o Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 92

6.18 Construidas milhares de moradias O director-geral do Kora-Ango­la, Nirnrod Gerber, Jornal de Angola disse ao Jornal de Angola que este projecto foi con- 30 de Novembro de 2011 cebido para que fosse economi­camente viável, social- mente justo e transparente e ecologicamente correcto, A Kora-Angola vai construir na província do Huambo ao mudar o conceito urba­no para comunidade urbana. 12 mil mo­radias, atravé9’do projecto habitacional Horizonte, que foi apre­sentado ontem ao governo da “E nesta lógica que vamos funcionar, de forma a ofere- província. cer a me­lhor qualidade ao melhor preço.”

O projecto vai ser desenvolvido em quatro localidades, Nirnrod Gerber disse ainda que este novo conceito Bailundo, Caála, Chipipa e Lossambo. de comunidade urbana, por eles desenvolvido, visa o As residências e apartamentos do projecto, de média crescimento de novos pólos de desenvolvimento social renda, são do tipo T3 e construí das numa área bruta e económico, bem como a descentraliza­ção do cresci- de aproximadamente 100 metros quadrados. mento populacional em Angola. O município da Caála tem previstoa a construção de quatro mil re­sidências e o Bailundo três mil. No “Particularmente no Huambo, on­de vão ser edifica- ... Huambo, a localidade do Lossam­bo vai ser contem- das 12 mil habitações, este projecto abre várias jane­ plada com duas mil residências e a comuna da Chipipa las de oportunidade, principalmente se considerarmos com três mil. que estas casas vão ser o lar de mais de 70 mil pessoas e o local de trabalho de outros tantos milhares de O projecto habitacional Hori­zonte, com um período profissionais.” de execu­ção de três anos, contempla igualmente a A Kora-Angola, para esta em­preitada, conta com 60 construção de infra-estru­turas de acesso às habitações, trabalhado­res, 30 por cento dos quais são es­trangeiros. des­de os armamentos, redes e sistemas de drenagem de Além do Huambo, o projecto Horizonte vai chegar’ águas residuais, domésticas e pluviais, redes de abas- às províncias de Luanda, Bié, Huam­bo, Kwanza-Sul, tecimento de energia eléctrica, abastecimento de água Uíge e Moxico. potável e iluminação pública.

A directora comercial da Kora-Angola, Lídia Santos, disse que na primeira fase do projecto, tanto as mora- dias como os apartamentos vão ser vendidos ao equiva- lente va55.600dólares.

Lídia Santos referiu que o processo de aquisição pode iniciar p, com um contrato de reserva do imóvel, com base num pagamento A de cinco por cento do valor. No momento da assinatura do contrato – com essa de compra e venda, o cliente tem que dar outro adianta de dez por cento. O montan­te restante é liquidado aquando da entrega da casa ou faseadamente ao longo da construção. “O pagamento das residências é a pronto, mediante capitais pró­prios ou através de um crédito ha­bitação. A Kora-Angola está em negociação com”vários bancos pri­vados para estabelecer protocolos de parceria, de forma a facilitar o acesso ao crédito habitação por parte dos compradores”, disse.

Lídia Santos referiu que a Kora-Angola vai ter no Huambo um stand de vendas, onde vai poder re­ceber os seus clientes e esclarecer quaisquer dúvidas que tenham acerca do projecto Horizonte. Nestes espaços os clientes celebram os contratos de reserva. O stand do Huambo está localizado no muni­cípio da Caála. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 93

7 TERRA De acordo com” os técnicos do CNTI, O sistema oferece como van­tagens a dinamização no atendi­mento aos munícipes, a disponibi­lização de informações, em tempo real, dos processos recebidos pela administração 7.1 Maianga tem novo sistema e a responsabiliza­ção dos seus funcionários. informático para a emissão de atestado de residência Jornal de Angola 7.2 Administração descarta 02 de Novembro de 2011 responsabilidade na ocupação da praia O Governo Provincial de Luanda apresentou ontem o jornal o pais novo sistema in­formático de emissão de novos mo­delos 04 de Novembro de 2011 de agregado familiar, cartões e atestados de residência, durante uma cerimónia realizada na administra­ção O administrador da Sam­ba, Adão Malungo, des­cartou municipal da Maianga, presidi­da pelo governador inte- ontem qualquer responsabilidade por parte da adminis- rino de Luanda, Graciano Domingos. tração que dirige no que toca à venda da praia do Morro dos Veados, situada no bairro Benfica, em Luanda, isso Durante a sua intervenção, o go­vernador interino mani- em resposta a uma reportagem avan­çada por O PAIS festou à di­recção do município da Maianga a sua satis- na edição anterior a esta sobre a privatização da referida fação pela “modernidade da gestão administrativa e zona costeira. visão de futuro” e considerou que Luanda deve abraçar o que de melhor se utiliza em tecnologia para a gestão “A ocupação da referida área pela Ocean Drive coinci- de territórios. diu apenas com a nossa entrada no comando da admi­ “Para uma melhor governação, os elementos estatísticos nistração, mas nós não temos nada a ver com a cedência são da mentais e isso passa também pe­lo controlo admi- ou venda do terreno”, esclareceu o administra­dor, adian- nistrativo da popu­lação, com vista à planificação do tando que o seu elenco foi apenas comunicado pelo desenvolvimento de infra-estruturas salientou. Graciano Governo da Província de Luanda (GPL), para acom- Domin­gos considerou que o novo sistema facilita a panhar todo processo de nego­ciações e a retirada dos actividade administrativa, economiza tempo, poupa o moradores da zona. cidadão de alguns aborrecimentos e ajuda a combater a extorsão de dinheiro e reconheceu que “a Maianga dá Quando lhes foi incumbida tal res­ponsabilidade, estive- um passo que o governo da província ainda não deu”. ram na base das alegações contidas nas documenta­ções chegadas do GPL o facto de a organização interessada, Apesar disso, garantiu que, no fu­turo, o Governo na altura, ter tido reunidas as condições exigi­das, que se Provincial de Luan­da vai funcionar em rede. “Se não prendiam principalmen­te com as residências de destino houver uma cadeia rigorosa de veri­ficação de dados dos dos moradores, bem como as indemni­zações referen- cidadãos, esta­remos a participar de” forma errada “ num tes à adaptação à nova realidade de vida e aos meios de processo de informações” o governador interino garantiu tra­balho. que, apesar da alteração da divisão político-administra- tiva da provín­cia, que entrou ontem em vigor, se impõe. Das promessas constavam mil dó­lares para a primeira uma modernização, admitin­do a hipótese de conexão do semana nas ca­sas azuis do Zango IV, para além de uma sistema informático de emissão de docu­mentos com os indemnização de cobertura à perda dos barcos de pesca serviços da polícia. e das bar­racas de praia, que até à data desta entrevista não foi cumprida. Protegido contra adulterações o administrador muni- cipal da Maianga, Manuel Marta, garantiu que foram Quanto à Ocean Drive, o dirigente não avançou criadas condições para se evitarem adulterações na nenhuma informação que facilitasse alguma caracteri- emissão de documentos e reafirmou que projecto é zação da empresa ou mesmo o seu objecto social. Disse uma iniciativa da administração. “O projecto está apenas que a exploração e investimento no local tinham inserido, desde 2008, e foi apenas aperfeiçoado com um fim social. a colaboração do Centro Nacional de Tecnologias de Informação. Ago­ra está mais seguro e a sua apli- Interrogado sobre a periodicidade do processo das nego- cação permite o atendimento com maior celeridade à ciações, o res­ponsável não soube dizer ao certo quando comunidade. teria começado o expedien­te, mas foi determinante em afirmar que “o processo da concessão da parcela de terra Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 94 foi arquitectado pelo GPL, num período de tempo que O ancião chega mesmo a colocar a distância que o separa an­tecede consideravelmente ao do nos­so empossamento.” das insti­tuições do Estado como a razão do abandalho Por ser um assunto que continua a desencadear muita que recebe dessas, por­que os seus colegas do Quilómetro polémica, sal­tando à vista a proibição de banhistas nessa 30, Ramiro, Buraco e Barra do Kwanza recebem apoio área do litoral de Luanda, Adão Malungo aconselha os regular­mente. inquietantes a buscarem esclarecimento no Gover­no Provincial de Luanda. Por causa disso, ele prefere con­siderar-se desprezado ou descrimi­nado, desconfiando até que o seu nome nunca O PAIS envidou esforço para ouvir dirigentes afectos ao constou da lista dos sobas no activo. GPL, mas não encontrou resposta. Cada um dos contac- tados remetia o assunto para outrem. Oriundo do município da Caála, província do Huambo, Daniel Fran­cisco chegou a Luanda aos 14 anos de idade, “Nem todos foram contemplados” Um dos indivíduos tendo habitado no bairro do Cazenga durante muito que integrava a comissão de moradores, agora a resi­dir tempo, até que em 1986 recebeu a incumbência de asse- no Zango IV, revelou que algumas pessoas perderam gurar o Museu da Escravatura. suas casas sem te­rem recebido outras em Viana. “Nem todos foram contemplados, porque havia 185 Poder sem autoridade casas de chapa, mas só foram contabilizadas as 17 que­ Na ocasião da entrevista a este jor­nal, o soba manifestou bradas à força das armas e as 58 que a fiscalização da o seu des­contentamento pelo facto de estar a ser ultra- comuna do Benfica havia numerado primeiro”, declarou passado em assuntos res­peitantes à administração terri- uma fonte, tendo informado que ou­tros tiveram de se torial da área que considera de sua juris­dição. sujeitar em receber os três mil e 500 dólares, embora “Todo mundo vem aqui e faz o que quiser sem me dizer te­nha havido mesmo alguns que, por terem estado nada”, desa­bafou, tendo mostrado o cerco que a direc- ausentes, nem sequer receberam nada. ção do Museu da Escravatura colocou em volta das casas dos mo­radores. Alega que local pertence à referida insti- A comissão dos moradores do Morro dos Veados con- tuição do Estado. tinua no acti­vo, porque os integrantes dizem que há muitos problemas pendentes, um dos quais tem a ver Para demonstrar que a sua pre­sença e a dos vizinhos não com a recupe­ração da indemnização. partiu de uma ocupação ilegal, contou que chegaram ao local por intermédio de Boaventura Cardoso. Informou que foi o actual governador de Ma­lange que o mandou 7.3 Soba queixa-se de não receber habitar nessa localidade, numa época em que era difícil dinheiro alguém aparecer por aí para lhe prestar apoio. Jornal o pais 04 de Novembro de 2011 “Essa profissão de guarda que me deram em 1986 me obrigou a mui­tos sacrifícios, um dos quais pode­ria ter Daniel Francisco de 86 anos, soba do bairro denomi- sido a minha vida”, contou o próprio, que até hoje espera nado Museu da Escravatura, localizado próximo da por um sinal do actual governador de Ma­lange. instituição pública com o mesmo nome, na co­muna do Benfica, na Samba, quei­xa-se de nunca ter recebido Daniel Francisco encontra-se re­formado, recebendo nenhu­ma prestação financeira referente ao posto que diz apenas men­salmente uma pensão financeira de ocupar há mais de 10 anos. oito mil Kwanzas. “Estou aqui há muito tempo e nunca recebi nenhum Kwanza de soba que eu sou, mas vou a todas reuni- ões de zona, do município e em algumas actividades 7.4 Administrador do sambizanga do Governo Provincial e cumpro com os meus deveres Jornal semanari o continente na comunidade”, lamentou o soba, contando que o 04 de Novembro de 2011 uniforme que veste lhe foi dado pela Admi­nistração Municipal da Samba, sob orientação do Governo da General José Tavares, admi­nistrador municipal do Província de Luanda (GPL). Sambizanga, recentemente, fez 1 uma demonstração que é possível resolver os problemas pontuais dos muní- Quando se encontra com os altos mandatários do muni- cipes. Tudo sucedeu quando dois cidadãos que disputam cípio ou do GPL, estes pedem-lhe paciência, ao ponto um terreno na sua cir­cunscrição em que ele era acusado de alegarem que o seu dinheiro vai ser entregue tão logo estar a favorecer uma das partes, I ou seja, o militar. Ele, resolvam algumas situações, segundo o quei­xoso. I ciente que nenhuma das partes haviam recebido da sua Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 95 administração o “agremmant” de toma­rem o terreno, 7.6 Martelo demolidor volta á tchavola colocou frente à frente as partes e no local se dirimiu no lubango o problema, pois que como é lógico, o que adquiriu os novo jornal documen­tos a mais tempo, levou vantagem. Assim é 04 de Novembro de 2011 que deve ser, pois outros não se dão este serviço, dei- xando esta nas mãos dos fiscais que acaba­vam por ser A PROVÍNCIA da Huíla voltou a tes­temunhar actos de um elemen­to extra demolição de re­sidências na Tchavola, nos arredores da cidade do Lubango, o bairro que ganhou nome por ter acolhido 3 mil e 81 farm1ias retiradas das cercanias da 7.5 Administração não confirma linha férrea de Moçâmedes inscrição . Jornal o pais Sem nenhuma explicação às vítimas, os tractores da 04 de Novembro de 2011 administração muni­cipal do Lubango entraram em acção. Mandaram abaixo 27 casas de pessoas que ques- De acordo com o secretário dos sobas do município da tionaram a justeza da deci­são, visto tratarem-se de Samba, João Adão, existem apenas três sobas inscritos moradores que, como revelaram ao NJ, eram nativos do na lista das autoridades tradicionais, no perímetro entre bairro e que se viam, por isso, no direito de erguer ali as o Morro dos Veados e o Ramiro. suas residências.

“Nós só temos registado os sobas dos bairros Quilómetro Arlete Isaías, de 21 anos, solteira e mãe de duas crianças, 30, Ramiro e Buraco, que com o soba grande da Samba estava incon­formada depois de ver a sua casa, construída compõem o elenco dos quatro inscritos no quadro em terreno herdado dos avós, deitada abaixo. A jovem, adminis­trativo do Governo da Pronúncia de Luanda que disse que não acreditar no que esta­va a ver, repetia a (GPL) “, explicou o secretá­rio. Considera que outros exclamação: “Não é possível que as pessoas sejam trata- estão em via de enquadramento, em função de necessi- das com tanta insensibilidade” dades causadas pela expansão de alguns bairros. Indo mais longe nas suas criticas, Ar­lete questio- É neste contexto que João Adão coloca a situação do nou mesmo a lei da terra que atribui ao Estado a sua velho Daniel Francisco, ao qual recomenda muita calma proprie­dade originária. “Embora a terra seja proprie- e paciência. Certificou que o velho foi parar naquele dade do Estado, o Estado não é a população? O pre- lugar como funcionário do Museu da Escrava­tura, ins- sidente sozinho não é Estado! O governador sozinho tituição que já o concebeu a condição de reformado, não é Estado! Estado é o povo”, insis­tiu Arlete Isaías, dando-lhe a pensão merecida. O secretário dos sobas queixando-se da fal­ta de mobilização prévia das pessoas. informou ainda que a instituição do ancião à categoria Maria Constantina, frustrada com a acção dos tractores de soba foi uma gentileza de um dos administradores demolidores, dis­se que perdeu as terras de cultivo que cessantes. Não em nome da administração, mas, sim, garantiam a sobrevivência da farm1ia. “O governo não como administrador. pode fazer-nos passar por este sofrimento, tirando-nos o pouco que temos”, desabafou a nossa entrevistada, que A julgar pela dimensão do mu­nicípio da Samba e pelo se mostrou ainda preocupada pelo facto de a acção não número de sobas que se vêem a andar por aí, bem uni- ter sido justificada pelas autoridades administrativas da formizados, muitos deverão estar na condição do soba capital. do Museu da escravatura. Sobre o assunto João Adão preferiu não avançar qualquer informação, prometendo Ninguém entre as autoridades da Huíla se pronunciou fazê-lo em fórum próprio. O secretário reconheceu que sobre os novos acon­tecimentos no bairro da Tchavola, as autoridades tradicionais recebem um subsídio em que deixaram preocupadas as organiza­ções de defesa dinheiro, acrescentado ser apenas um pri­vilégio daque- dos direitos humanos, como a Associação Construindo les que se encontram bem legalizados pelo GPL e pelo Co­munidades. A MC já condenou a ac­ção e exigiu expli- Ministério da Administração Pública Emprego e segu- cações convincentes dos responsáveis pelas demolições. rança Social (MAPESS). Muito por fazer na tchavola O coordenador da comissão de mo­radores do bairro da Tchavola, Tomás Sapoco, disse ao NJ que, apesar do esforço e da aparente vontade do exe­cutivo de Isaac dos Anjos em melhorar o quadro actual, a situação continua a inspirar cuidados redobrados. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 96

Tomás Sapoco alertou para as dificuldades verificadas presta serviço público, não pode fazer essas afirmações!”. no que toca ao acesso à água potável, ausência total de “Eu não vou te mentir, sou agente político do MPLA, luz e fraca prestação nos sectores de saúde e educação, não estas a ver a ban­deira? questionou-se, tendo apon- que, de acordo com o responsável, “não respondem em tado com o dedo indicador da mão direita no local onde pleno” aos anseios das populações que habitam o bairro. estava a bandeira do MPLA, no seu gabinete. Um local “Não é possível que um bairro desta dimensão não conte onde à luz da actual Constituição ango­lana, devia estar a com um médico se que, atirou Sapoco. da Repú­blica, por ser uma instituição pú­blica. “Se fosse o Jornal de An­gola falava, mas vocês (impren­sa privada) Fazendo fé nas declarações do nosso interlocutor, são e os partidos da oposição só fazem confusão, só estão vários os serviços básicos que estão longe do alcance dos para estragar o trabalho dos outros”. moradores da Tchavola, que pre­cisam, por outro lado, de ver resolvido o problema do escoamento das águas das Depois de citar a Rádio Desper­tar continuou com chuvas, que nalguns casos en­tram pelas casas adentro. ataques pessoais, tendo, de seguida, atingi­do o Angolense Realidade que pode ser invertida com um tra­balho mais ao afirmar que “O Angolense, desde que o con­heço, só aturado, asseverou Tomás Sapoco. faz escândalo, só fala mal do partido (MPLA)”. Chama­ do a ser mais concreto e citar uma das edições em que Aos problemas referidos, acresce a fal­ta de transportes se sentiu escandalizado, aquele administrador apontou a públicos para facili­tar as deslocações de e para a cidade. edição 648. “Eu ainda tenho aqui um jornal Angolense As ligações foram suspensas devido à dificuldade de onde vocês falam mal do camarada Bento Bento, aquilo acesso à zona. Si­tuação, que segundo apurou o Novo é um escândalo” atirou. Recordemos aqui a man­ Jornal, poderá ficar resolvida com a construção de uma chete em referência. «Afinal a oposição liderada pela ponte que deverá ligar Tchavola ao resto da capital da UNITA não encomendou manifesta­ções. Bento Bento Huía. desmascara­do pelo chefe». Esta manchete veio a propó- sito das declara­ções feitas pelo Secretário pro­vincial de Luanda, Bento Bento, segundo as quais as manifes­tações 7.7 Administração do Kwanzas desanca realizadas um pouco por todo o pais são encomendadas contra privada pela oposição liderada pela UNITA, tendo ainda citado Jornal ANGOLENSE nomes como Justino Pinto de Andrade, presidente do 05 de Novembro de 2011 Bloco Democrático e David Mendes, presidente do Partido Popular. As afirmações de Bento Bento, entre- O administrador identificado co­mo Panguila, garan- tanto, seriam contrariadas pelo Presidente da República, tiu que os vendedores não vão sair daque­le local, vão no seu mais recente discurso sobre o Estado da Nação, continuar, simples­mente está-se a fazer o alarga­mento quan­do disse que as manifestações resultam da falta de do mercado ao mesmo tempo que será totalmente diálogo com a juventude. re­qualificado. E garantiu, por outro lado, que será um dos melhores mercados de Angola. Aquele responsável De acusação a acusação, o ad­ministrador, de quem se recusou-se, entre­tanto, a adiantar mais por­menores ao diz querer aparecer na imprensa à custa de ataques a ter- nosso jornal em vir­tude de a nossa equipa estar iden- ceiros, para ser mais visto pelo chefe, ainda teve tempo tificada com um credencial devidamente assinado e de acusar o jornalista e advogado Willian Tonet de carim­bado. Importa salientar que é um documento para ser um rebelde. “Mes­mo aquele Willian Tonet conhe­ todo o fun­cionário da instituição (Jornal. Angolense) ci-lhe há muito tempo quando era da JMPLA e hoje é que esteja à espera da renovação do seu passe, sendo por o mais rebelde de todos, é desobedi­ente”, acusou alu- isso um “instrumento” para tratar de assuntos iner­entes dindo aos tra­balhos publicados pelo seu jor­nal, o Folha a sua função junto de organismos estatais e privados. 8. Contactados pelo Angolense, os responsáveis da­quela Porém, aquele administrador não ficou por aí, avançou publicação ignoraram pura e simplesmente as declar­ com ataques à imprensa privada. Para já, começou por ações de Panguila ao considera-las como verborreias de afirmar que toda imprensa privada esta­va ao serviço dos pessoas paranóicas. “São afir­mações sem nexo e des- partidos da oposição em Angola. Prosse­guindo, Panguila cotextualizada”, disse um dos res­ponsáveis. De recor- afirmou que muitas vezes os jornalistas fa­zem gravações e dar ainda que numa das suas declarações à imprensa, distribuem a vários órgãos de comunicação social, tendo Willian Tonet mos­trou-se desiludido pelo “seu” MPLA citado a Rádio Despertar como um dos desti­natários e, referindo-se às práti­cas dos dirigentes do maioritá­rio, dessas gravações. “Toda imprensa privada está li­gada aos afirmou que o MPLA estava a trair os seus ideais, por partidos da oposição em Angola”, afirmou Panguila. E isso afastou-se. Por sua vez, o direc­tor para a informação dirigindo-se ao administrador, a nossa equipa de repor- da Rádio Despertar, Cláudio Emanuel, disse o Panguila tagem exclamou: “Mas o senhor, como um agente que não ter qualifi­cações, nem integridade para falar de Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 97 qualquer órgão que seja. “Não vamos estar a res­ponder a Nesta exuberante tarefa quem mais sofre são as donas de este fomento de confli­to, as pessoas conhecem o tipo de casa. Arlete disse que quando o abastecimento da admi- informação que passamos, em que pautamos pelo rigor nistração falha, a solução passa pela compra de água em e imparcialidade”, esclareceu. tanques, um exercício que pode oscilar entre 100 à 180 Kwanzas o reci­piente de vinte litros.

7.8 Bebé morre após Educação demolição de casa Em relação a educação, cerca de 200 alunos das classes Jornal ANGOLENSE do ensino primário da escola da Tchavola, estudam em 05 de Novembro de 211 condi­ções precárias. O cenário é completamente deso- lador, pois além de assistirem às aulas num espaço a Durante as demolições do pas­sado dia 25 de Outubro, céu aberto, sentam-se em cadeirinhas levadas de casa. aconte­ceu uma surpresa – Jorge Au­gusto, um recém- No caso de os alunos cujos, encarregados de edu­cação -nascido que na altura das demolições o pe­queno tinha não possuem capaci­dades financeiras para as adquiri- apenas 3 dias de vida, encontrava a dormir na casa dos rem então optam por pedras ou latas de leite. O outro avós quando a retro-escavadora começou a de­molir problema está relacio­nado com a localização da es­cola, a residência num clima de gritos, no sentido de avisar que se situa próximo de uma estrada sem asfalto e na as autoridades. O seu irmão de apenas 12 anos decidiu qual os automobilistas, ao circu­larem ria zona levantam “arriscar a vida” ao romper o cordão policial e introdu- poeira para as salas de aula. De acor­do com a pequena zir-se para o interior da casa afim de resgatar o seu irmão Maia Caluque nem sempre os professores aparecem, zinho. Nu­ma atitude que surpreendeu tudo e tocfos, atendendo a distân­cia que têm de percorrer para atingir segundo os relatos da mãe, quando o rapaz saiu com o o local de trabalho. Saúde De acordo com os habitan- seu irmão aos braços já quase sem vida, os agentes mos- tes, a assistência médica e medica­mentosa prestada pelos traram-se frios, mas ainda assim, o rapaz foi levado até enfer­meiros está longe de uma quali­dade exigida, a ao posto policial, acusado por crime de desobediência contar pela falta de técnicos de saúde, bem como medi- às autoridades. “O bebé nasceu com sete meses, como camentos para os primeiros socorros. não te­mos possibilidades de pagar uma incubadora no hospital pú­blico, optamos pelo método tra­dicional de De acordo com Catarina Costa, os doentes com malária, colocá-lo numa ca­sa. Depois de retirado do sítio que diar­reia aguda e má nutrição, são evacuados para a era usado como “incubado­ra artesanal”, o pequeno cidade de Lubango por falta de condições. “O posto de Jorge Augusto não resistiu e perdeu a vida no dia 27 de saúde não possui laboratório de análises clínicas, Raios Outubro e o fu­neral aconteceu numa manhã do dia 30 X, bloco operatório e out­ros serviços”, frisou. do mês passado. Em face da situação, a família clama por justiça e Por outro lado, a fonte lamentou a distância que separa o responsabili­zação do executivo por tudo que tem acon- único posto de saúde e a comunidade da Tchavola. tecido naquela locali­dade. “Já perdemos três mem­bros De acordo com Catarina, na ca­lada da noite quando um na família que não resisti­ram as injustiças do governa- pa­ciente é levado ao posto de saú­de, sem a presença dos dor Isaac dos Anjos, perdi a minha irmã Juliana Jamba, agentes da polícia, estes não aceitam abrir as portas para de 18 anos, a mãe Catarina Nguenda, de 62 anos de o atender. idade, tudo isso, num período de 42 dias, ambas mor­ reram vítimas de trombose e en­fartes”, disse. Energia eléctrica Com relação ao abastecimento de energia eléctrica ao Água potável bairro, não existe. Pois, na falta deste meio indispen- Os moradores do bairro da Tchavola e Tchimukwa sável a solução para alguns habitantes foi recor­rer a conso­mem água de riachos e abaste­cidas pelas cister- energia mecânica. O gran­de problema para manutenção nas afecto a administração municipal do Lu­bango, dos geradores é a distância que têm de percorrer para a o método optado por al­guns populares foi colocar os compra do combustível, cerca de três quilómetros para recipientes com maior capacida­de ao longo da estrada e adquirir o mes­mo no centro da cidade de Lu­bango. que também servem de reservató­rios. Entre os objectos “Na falta de combustível nas bombas nós compramos usados como recipientes estão: tambo­res, baldes e até em alguns revendedores do mercado paralelo. O litro mesmo con­tentores de lixo adaptados como recipientes, custa 120 Kwanzas, mesmo nas bom­bas pagamos uma para reservar água que é consumida no dia-dia. Foi pos- caução”, re· velou Catarina. A rede eléctrica pública sível vislumbrar esta rea­lidade nos bairros da Tcimukwa abrange apenas o bairro Mitcha onde fo­ram erguidas as e Mitcha, onde encontra­mos bidões de 5 mil litros colo- casas da juven­tude e arredores. cados nas ruas, aguardando pe­lo abastecimento. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 98

7.9 Moradores dizem-se injustiçados Catarina da Costa e vizinhos partiram em busca de na sua própria terra explicações ao Palácio do Governo, mas foram barrados Jornal ANGOLENSE pela polícia que os aconselhou a dirigirem­-se a adminis- 05 de Novembro de 2011 tração municipal do Lubango, onde se depararam com um “forte dispositivo” poli­cial. Centenas de pessoas dormem ao relento, expostas ao frio “Eles alegam que a área é re­serva do Governo”, disse in­tenso em plena época chuvosa nos bairros “Tchavola” Catari­na da Costa, que exibia, no momento uma lista e “Tchimukwa”, arredores da cidade do Lubango, onde manuscritas, descrevendo os gastos efectua­dos na compra apenas restam escombros de casas. As autori­dades do material de construção “ foram 170mil Kwanzas,” alegam que as casas fo­ram construídas ilegalmente, balançou. Já a mãe de Maria, a anciã Beliana Za­carias, desobedecendo os padrões urbanísticos e a invasão a 55 anos, natural do Kaluquembe, província da Huíla, reser­va do Estado. há quarenta anos que se mu­dou para Tchavola onde se uniu matrimonialmente com António Zacarias, falecido A demolição do dia 25 de Outubro último, deixou por há 6 anos. A viúva teve cinco filhos e actual­mente conta terra casas feitas de adobe, de blo­cos, de chapas de zinco. com doze netos, órfãos e todos vivem em casa da avó. Deste local restam apenas escombros, chapas destruí- Segundo a anciã, os pais que faleceram deixaram casas das, barro, um vasto e descampado terreno, num clima na Tchavola, mas por ordem do executivo de Isaac dos que ilustra um cenário devastador. Anjos encontram-se nessas condições. “As casas existem há mais de 20 anos e quando se construiu aqui, tudo, Marisa Francisca Tunis, 30 anos, doméstica, vive com isso era uma zona agrícola e de pasto. Actividade essa o marido neste bairro há quatro anos. tendo adquirido que era desen­volvida pelos nativos e outros que sempre a parcela de terra onde construiu a sua antiga casa a viveram aqui na Tchavola. camponeses que ali cultivavam a terra, concre­tamente, a mandioca, o massangoi, o milho, o feijão e a cri­ação Passados vários anos, agora não se compreende que a de gado. área é reserva do Estado, lamentou a anciã. A mesma entende que a ocupação da Tchavola é fruto de uma Reunidos no quintal reflectindo sobre o rumo a tomar estratégia do executivo local para usurpar as terras dos e deitada num colchão de espuma por baixo de um nativos e dar lugar aos interess­es de alguns governantes. cajueiro e junto de um pequeno autocarro avaria­do, per- Num ápice de descontentamen­to, António e alupete tencente ao marido, Ma­risa Tunis conta que, “depois de Ngampula, ex-morador da linha-férrea, tam­bém é obtida a autorização de construção”, as obras começa- vítima das intrusas demo­lições que o deixou impávido ram há quatro anos. quando recebeu um telefonema do irmão avisando que a sua ca­sa estava a ser demolida. “Tenho três filhos, dois dos quais nasceram aqui. Para onde vou se nem uma tenda me deram para viver?”, “A minha casa tinha dois quar­tos, uma sala de visita, questiona. Segundo a mesma, as demoli­ções começaram cozinha e WC. Esta é a minha segunda casa que partem. no dia 20 de Outubro, sem que os moradores fossem A primeira foi demolida próximo a linha-férrea, na altura avisados. A máquina da administração municipal do estava em Luanda e toda acção foi feita sem tempo de Lubango, com agentes da polí­cia de Ordem Pública, retirar os bens, nunca pensei que iríamos sofrer deste surgiram no terreno e começaram a de­molir as residên- jeito”, disse. António Calupete. Filomena Capale é uma cias com os bens no interior. Revoltados com a acção, jovem moradora do antigo bairro do Arco-fris, que rea- houve pessoas que não resistiram e tentaram enfrentar lizava o sonho de ter casa própria, mas viu tudo adiado a polícia. Estes por sua vez, responderam com tiro­ quando os agentes deci­diram destruir na totalidade o teios. “Fui ameaçada de morte quando tentava impedir alicerce do quintal, já que a mesma decidiu começar a a de­molição da minha casa. Na­quele momento estava cons­trução pelo quintal. O trabalho já executado cus- pronta para dar a minha vida, porque não compreendo tou-lhe 300. mil Kwanzas, quer na compra de materiais, este governo, quando demoliram as casas ao longo da bem como no paga­mento dos pedreiros. linha-férrea, nós enten­demos e quando indicaram este local, para mim foi o regresso as minhas origens. Pois, A jovem Filomena que é profes­sora, sublinhou que a os meus progenitores nasceram e vivem aqui até hoje, acção do executivo de Isaac dos Anjos, é uma disse acrescen­tando que, esta parcela -é her­ança dos meus pais. Agora o governador orienta a demolição da minha casa alegando ilegali­dade ou constrangimentos ur­banísticos, isso não é verdade”, disse. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 99

7.10 Quando os “diabos” de isaac vêm estão a conservar água em contentores de lixo usados. ao de cima E, essa mesma água, serve para beber, cozinhar e tomar Jornal a capital banho. 05 de Novembro de 2011 Por outro lado, o jovem António Ngangula, 29 anos de idade, teve a mesma sorte depois gastar o equiva­lente a Na já célebre zona da Tchavola, em Luanda, capital da oito mil dólares. Construiu, com esse dinheiro, a sua província da Huíla, a população vive tão desespe­rada, casa no local que lhe foi cedido pelo próprio gover­no. quanto anda confusa. E não é para menos! No princí- Com a casa agora demolida, diz-se tão desesperado que pio do ano, isto é, a seis de Março, último, várias famí- “não tenho mais forças para viver”. lias foram retiradas, força­damente, dos bairros em que “Tive de fazer das tripas coração, para conseguir viviam e largadas num local ermo, vivendo ao relento, dinheiro para comprar o material e conseguir erguer a sem que o Governo da província cumprisse a promessa minha casa e quando pensava dar dignidade aos meus de reunir material, para ajudar na construção de novas filhos vieram me destruir a casa”, resumiu, assim, a sua residências. desespe­rante situação.

Meses depois, o espírito de sacrificio veio ao de cima. “Isso é revoltante, porque foram eles que mandaram Muitas famílias con­seguiram erguer residências, no local construir aqui”, queixou-se, acusando o governador da para o qual foram transferi das meses antes. Mas, para provinda de estar a fomentar essa nova onda de demo- a maioria delas, o pior apenas estava para vir. Quando lições, em nome dos seus interesses particulares. “Ago­ra se pen­sava que os traumas do passado não se repetiriam, como estão a construir o condomí­nio dele, não nos quer eis que, na semana pas­sada, essas casas novas, em que ver aqui”, frisou António, com o rosto carregado de habi­tavam, foram novamente demolidas. Sem qual- re­volta. quer informação prévia, lá veio, outra vez, o Governo Provincial da Huíla, com as suas máquinas e demoliu Filomena Carrele, 30 anos, está na mesma situação. 27 residências. Depois de gastar três mil dólares para fazer uma casa, de uma sala e dois quartos, para viver com os três filhos Como resultado disso, pelo menos duzentas pessoas viu também o seu esforço a ir abaixo, numa fracção de estão, nos últimos dias, a viver ao relento. São pessoas de se­gundos. “Ao ver a minha casa no chão, foi como se várias idades, entre crianças, algumas delas recém-nasci- me estivessem a matar pela segunda vez. Já tenho dívida das e pessoal de cer­ta idade. O ancião José Maria Kapen­ com o banco pela primeira casa, destruí­ram, e agora essa de é um exemplo. Quis o destino que esse cidadão, que segunda que foi um dinheiro que guardava, também nasceu justamente na zona da Tchavola, fosse mais uma par­tiram”, lamentou para, em seguida, destacar: “eles vítima do governo de Isaac dos Anjos. Encontrámo-lo me mataram mesmo”. na rua, em companhia de outros 15 membros da sua família, desesperado e a clamar por uma inter­venção do Até o coordenador da Comissão de Moradores da governo central para travar os abusos do governador pro- Tchavola, Tomas Sa­poka, mostrou-se solidário com os vincial, popularmente chamado de “Isaac dos Diabos”. populares. Disse que, não foi comuni­cado por ninguém sobre essa medida, assim como não existe razões plausí­ Tchavola, no dialecto local, equiva­le à podre, na língua veis para tal atitude, porque desta vez os populares portuguesa. O nome vem a propósito das condições de cumpriram com todas as normas exigidas pelo próprio vida das pessoas que foram para ali despejadas. governo.

As condições de habitabilidade são inexistentes. Não No seu entender, a intenção é “o Governador Isaac jorra água nas torneiras, não há electricidade. Há, dos Anjos alargar o seu condomínio e, portanto, tem porém, um posto médico, mas nele funcionam apenas que demolir as residências que estão próxi­mas dele. dois enfermeiros que não possuem meios adequados Como somos pobres, não po­demos ficar seus vizinhos”, para assistir os pacientes. Na farmácia, por exemplo, não comentou. existe medicamen­tos. Quando a doença assola, têm que percorrer entre um a dois quilómetros a pé. Não há meio de transportes na Zona. A equipa de reportagem deste jornal conversou com três crianças, com baldes na cabeça. Acarretavam água, percorrendo longas distâncias. Interpe­ladas, a respeito, contaram que trans­portavam água de um charco “para a mãe cozinhar”. A falta de água é tanta que, na Tchavola, Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 100

7.11 Tchavola é habitada há mais de um “Têm – nos dito que nos vão tirar daqui e vão colocar século – nos lá ao lado do campo de futebol, mas o lugar fica Jornal ANGOLENSE muito distante do mar e isso vai dificultar muito as 05 de Novembro de 2011 nossas activi­dades de pesca”, disseram alguns pescado- res que consertavam as redes para mais uma empreitada A Tchavola é um bairro ao redor de Lubango. Segundo de captura do pescado. Importa referir que o bairro está fontes contactadas pela nossa equipe de reportagem, a localizado num ponto alto e a menos de 500 metros do zona é habita­da há mais de cem anos. De acordo com os mar, elementos que o pescador considera muito impor- moradores, o mais antigo morador da Tchavola morreu tantes para o controlo e decisão para pesca. há 2 anos, na altura com 113 anos de idade, o mesmo atendia por Cassova Capembe. Entre os autóctones da “Nós daqui em cima podemos controlar o mar e decidir Tchavola está José Mário Capembe, 85 anos, antigo se dá ou não para ir pescar”, informaram, assegurando- revi­sor do caminho-de-ferro de Moçãmedes. -se no clima, coloração das águas marinhas e noutros ele­mentos, que não ousou revelar por constituírem um Outro filho da Tchavola chama­-se Miguel Chambassuco, segredo colectivo dos homens do mar. A ameaça da reti- 75 anos, nasceu e cresceu naquela terra, sentado nos rada dos popu­lares começou em 2010 e os fiscais ale- escombros da sua casa. O mesmo mostrou­-se bastante gavam a segurança dos mora­dores, por se tratar de um fraco e sem ânimos para se expressar a vontade, pois, bairro situado num plano inclinado, soube este jornal de que as consequências das demolições ainda pairam no Raimundo, um dos pescadores, que chegou à comuna seu rosto. do Cabo Ledo em 2001, vindo do Sumbe, província do Kwanza Sul. Juntos e nunca misturados Ao redor do bairro onde foram efectuadas as demoli- O pescador desconfia que a administração local pre- ções está ser erguido um condomínio de 25 casas. Um tende ceder projecto, segundo alguns moradores alegam estar asso- “Nós daqui em cima podemos controlar o mar e decidir ciado a Isaac dos Anjos. Ainda na sua fase de execução, se dá ou não para ir pescar”, asseguraram os pes­cadores apuramos que os apartamentos na sua maioria já foram ou vender o espaço em causa para algumas individuali- ocupa­dos, restando apenas dois. Neste momento os dades com capacidade para construírem na área institui- sócios estão a estudar os preços das mes­mas. Esta infor- ções hoteleiras e turísticas, já que existem na praia dois mação foi avan­çada por um membro da gerên­cia. estabeleci­mentos do género e um terceiro em projecção. Os imóveis são do tipo T3 com duas plantas diferen- O nosso interlocutor, que se mostrou como um conhe- tes e ocu­pam uma área de aproximada­mente 82 metros cedor do dossier que resultou na privatização da praia quadrados, a obra está ser executada por uma emprei- dó Morro dos veados, em Luanda, louvou o facto de as teira chinesa. Segundo ainda apuramos no terreno, os referi das­ instituições não estarem a proibir a frequência apartamentos foram comprados pelo governo local com das pessoas ao mar. vista a acomodar alguns quadros seniores do executivo. Entretanto, a nossa equipa de reportagem tentou con- “Se fosse como em Luanda, onde já não se pode pescar tacto via telefone com o governador Isaac dos Anjos, e banhar nalgumas praias como a do Morro dos veados, como é da praxe dos nossos governantes, todas chama- eu acho que os dirigen­tes daqui iam arranjar um grande das foram igno­radas. Tentamos a comunicação durante problema com o povo, porque essa é a praia mais fre- dois dias, que deram em nada. quentada da comuna do Cabo Ledo.

Quem não se mostrou indiferente à situação foi um grupo 7.12 Pescadores do cabo ledo de senhoras, que se identificaram como peixeiras, encon- insatisfeitos com a transferencia do tradas na praia a escalar o pei­xe. Elas disseram que o lugar bairro onde a administração está a projectar o realojamento das Jornal o pais pessoas é menor em relação ao Cabo Ledo da Praia. 11 de Novembro de 2011 “Se dependesse de nós não iríamos lá, mas como eles OS habitantes do bairro Cabo Ledo da Praia, município é que mandam, temos de aceitar”, con­sentiram logo a da Quissama, província do Bengo, revelaram a O PAIS, seguir. Sempre que se toca no assunto da transferên- Terça-feira, 8, a sua insatis­fação com o plano de trans- cia, elas e outras mulheres do bairro vão pressionar ferência da, administração comunal que visa colocá -los o coordena­dor do bairro a recorrer às entidades da em outra zona da comuna. comuna para evitarem as conse­quências negativas que isso poderá representar na vida da comunidade. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 101

“Infelizmente, ele vai lá e nos diz sempre que lhe Do GPL, uma fonte anónima considerou tratar-se de mandam acalmar”, contaram entristecidas, ao ponto uma fase de transição para os administra­dores da região de questionarem a quem podiam dirigir mais as suas de Quissama, que possuem um período estimado em súplicas. cerca de 90 dias para a di­recção que lhes foi confiada pelo Governo da província do Bengo. Segundo as peixeiras, os homens da administração local deviam conversar com os moradores, para ouvirem a Depois disso, caberá ao Gover­no da Província de Luanda opinião destes no que toca ao plano de transferência. nome­ar ou indicar alguém para dirigir os destinos dessa localidade, que, na pior das hipóteses, passará à jurisdi- “Pode ser que, mesmo com o surgimento de restaurantes e ção do município de Belas. hotéis, não haja necessidade de sairmos daqui”, cogitaram, dizendo que conhecem zonas costeiras de Ango­la onde De acordo com a fonte, a per­manência dos actuais os bairros coexistem com instituições turísticas. Embora administra­dores ou nomeação de elementos oriundos não mostrem resistên­cia em sair do local os moradores das consideradas terras do “Jacaré bangão” não está fora esperam que quando chegar a hora do desalojamento os de possibilidade, já que de forma directa ou indirecta dirigentes procurem repor as condições infra -es­truturais estes perten­cem ao Governo de Angola. reais ou adequadas ao novo habitat como chapas de zinco, para a construção dos primeiros abrigos. “Se lhes reconhecer com­petências para as exigências do novo quadro administrativo da província de Luanda, As senhoras aproveitaram a ocasião da nossa reportagem poderão ser confiados para administrar o Cabo Ledo” para informarem sobre a atitude de alguns conhecidos reforçou, sublinhando que enquanto durar o período de seus no bairro Sangano, que tiveram de se retirar das transição, se vai fazer aquilo que ele prefere considerar proximidades do mar, devido a iguais pressões, tendo como trabalho de casa. sublinhado que muitos foram mesmo saindo por inicia- tivas próprias, para não se arriscarem ao abandono. O Cabo Ledo da Praia constitui o lugar mais pes- 7.14 Administradora comunal deixa queiro da comuna e insere-se num conjunto de mais familia ao relento de 10 bairros, destacando-se a Zona Dez, Área social, Novo jornal Kudissanga e o Catambor, no Cabo Ledo-sede, que tem 11 de Novembro de 2011 a Norte o Sobe e Desce, Sangano e Canfufu, enquanto na região mais. No bairro da lagoa do São Pe­dro da Barra, município do Cazenga, uma fanu1ia foi posta ao relen­to, na tarde desta terça-feira, sem aviso prévio. Graças à solidarieda­de dos 7.13 Administração comunal em silêncio vizinhos, conseguiu passar a noite debaixo de um tecto. Jornal o pais 11 de Novembro de 2011 Com a construção da vala de dre­nagem da zona da Lagoa do São Pedro da Barra, uma obra do G0­verno da Para obter esclarecimento sobre a retirada dos moradores Província de Luanda, al­gumas casas foram demolidas. do Cabo Ledo da Praia, O PAIS rumou ao encontro da Se­gundo os vizinhos, habitação em questão não constava administração co­munal, onde abordou o adminis­trador do plano da vala de escoamento que vai passar naquela adjunto, que se identificou com o nome de Tavares. zona, porque a residência não tinha sido notificada, confor­me o regulamento.”Mesmo assim, a administra- Ele recusou-se a dar qualquer depoimento no concer- dora comunal, Ma­dalena Vicente, mandou derrubar a nente, alegando não ter autorização para o fazer, numa casa, sem dó nem piedade”, denunciaram os vizinhos. altura em que a equipa administrativa de que faz parte tem conhecimento do decreto aprovado, que contempla Quando o NJ chegou ao local, a proprietária da resi- os municípios de Quissama e de Icolo e Bengo para a dência, conhe­cida como Janeth, não conseguia falar, por província de Luanda. isso, os vizinhos decidiram falar por ela e relatar o seu dra­ma. A inquietação do segundo homem da comina de Cabo Ledo obrigou a nossa reportagem a contactar o Governo “Quando a administradora apare­ceu aqui, ontem, não da Provín­cia de Luanda (GPL), a fim de se inteirar quis saber de nada. A única ordem que deu foi para acerca dos responsáveis pelos destinos da vila até então destruírem a casa da senho­ra, não se importando com pertencente à jurisdição do Bengo. as con­dições precárias em que vive esta família”, recor- daram os vizinhos, acrescentando que a dona da ca­sa Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 102

é urna senhora “solteira e batalhadora” que vende boli- começam por tentar subornar os guardas com valores nhos para sustentar os quatro filhos. “Querem partir a que rondam os 5.000 dólares e terminam em pancadaria casa da senhora sem a indemnizar, isso não se faz. E a e ameaças de morte, em caso de os fiéis dos proprietários administradora comunal fui ar­rogante e prepotente. Os não cederem o ouro”. homens que a acompanharam sentiram-se comovidos com as lágrimas da do­na, mas a administradora não se “Eles não têm um horário certo, che­gam a qualquer comoveu, nem um pouco”, reve­laram hora, até de noite vêm. Geralmente vêm cerca de 50 pessoas e trazem armas. Começam por dizer que são os “Nós ainda lhe dissemos que da forma que ela estava a donos dos ter­renos e que herdaram dos seus avôs. Mais maltratar esta farm1ia nós não íamos votar mais nela tarde, tentam corromper-nos com dinheiro na ordem e ela respondeu que não queria saber, porque nós não dos 5.000 dó­lares”, contaram os guardas, que pe­diram vota­mos nela”, recordaram. que não revelássemos os seus nomes.

Os vizinhos sentiram-se solidários com a família, apro- “Mas por não aceitarmos, sofremos represálias. veitaram o ter­reno onde se encontrava a casa e substi- Ameaçam-nos de morte. Já travámos aqui pancadarias tuíram as paredes por chapas­ de zinco. Foi assim que a com eles, eles fazem disparos para rios amedrontar. mulher e os quatros filhos conseguiram dormir debaixo Nós receamos as nossas vidas, porque nunca se sabe de um tecto. quando é que eles disparam mortalmente con­tra nós”, acrescentaram. Em declarações ao Novo Jornal por”telefone, o admi- nistrador do município do Cazenga, Tany Narci­so, Os nomes mais sonantes entre os pro­prietários de terre- considerou o acto da fanu1ia de oportunismo. “São nos em causa são os do deputado Adelino de Almeida, pessoas opor­tunistas que querem lucrar com as casas de Aníbal Rocha e Osvaldo Saturnino de Oliveira, que o governo tem esta­do a distribuir. Nós já fizemos deputado na antiga le­gislatura. Ainda no local, deram- um cadastro e sabemos o número de casas naquela zona -nos conta de que o ex-embaixador de Angola na Índia, e aquela não constava. Mas se a senhora tiver os docu- Tailândia e Malásia, Tony da Costa Fernandes, tem aí mentos que provam que a casa já estava ali que faça um vá­rios hectares. “Aqui é uma área só de governantes”, documento por escrito e nos envie”, afirmou. explicaram os interlo­cutores.

Tany Narciso disse também que a administradora Apesar de estarem na situação de vítimas alguns proprie- comunal foi agre­dida. Os populares atiraram pe­dras à tários prefe­riram não dar qualquer informação, quando administradora”, frisou. indagados pelo Novo Jornal sobre o assunto. Quem não se calou foi o deputado Adelino de Almeida, revelando O Novo Jornal tentou entrar em contacto com a adminis- que a Polícia está a par da situação, mas não põe cobro tradora co­munal, Madalena Vicente, mas não teve êxito. ao pro­blema.

“São indivíduos estranhos, não sa­bemos com quem 7.15 Garimpeiros invadem terrenos de estamos a lidar. Nem posso dizer que estou em litígio deputados com estas pessoas, porque não os co­nheço. Eu sou das Novo jornal pessoas que mais apresenta queixas à Polícia sobre este 11 de Novembro de 2011 problema. A polícia diz que tem de apanhar em flagrante para poder prender os indivíduos, mas como é que vão Indivíduos não identificados estão a invadir terrenos per- apanhar em flagrante se eles não rondam a área”, inter- tencentes a deputados e outras “altas” figuras do v apa- rogou-se o deputado. relho governamental, no Múnicipio de Viana, na zona agrícola de Ki­kuxi, mais concretamente por detrás da Adelino de Almeida, que falou para o Novo Jornal por Universidade Técnica de Angola (UTANGA). via telefónica, fez saber também que já foi alvo de ame­ aças por parte dos garimpeiros, que chegaram intimidar Embora nunca tenha chegado a públi­co, o litígio “silen- à mão armada os seus escoltas. cioso” conta já dois anos e não é coisa simples. Os invaso­ res, que depois vendem os terrenos a terceiros, recorrem a ‘’Veja que aqueles elementos usam armas de fogo para armas de fogo para afugentar os titulares das terras. Mas os nos intimidar. Fui ameaçado com armas de fogo, mesmo que têm a vida em risco são os trabalhadores que os depu- diante dos meus escoltas poli­ciais e estavam fardados. tados con­trataram para servirem de guardas dos terrenos. Na qualida­de de deputado procurei evitar, mas mais Os garimpeiros, disseram os nossos interlocutores, uma vez fiz queixa à polícia, só que não está a resolver a Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 103 situação e continuamos assim. A administração munici- Ainda no quadro da regulação da ocupação e uso do pal de Viana também sabe do assunto”, atirou o político. solo da província de Luanda, o Executivo vai accionar o sistema de requalificação urbana em algumas localida- Segundo Adelino de Almeida, aqueles terrenos foram des devidamente delimitada e identifica da, que consista cedidos aos deputados e outros governantes pelo no cadastramento da população afectada no perímetro, Ministério da Agricultura, com o intuito de estes transferi-la para zonas loteadas, com base em programas fazerem agricultura, tendo em conta que Kikuxi é uma de auto-contrução dirigida. Após a transferência, ainda área agrícola. de acordo com o documento, proceder-se-á a elaboração de um programa de demolição massivas dos artefactos Mas a escassez de água, explicou o interlocutor, está a impos- de chapas, madeira ou betão, com o superior envolvi- sibilitar a actividade agrícola, abrindo espaço para o surgi- mento das Forças Armadas Angolanas, Policia Nacional mento de um bairro no local. É cada vez maior o número de e outras forças. Reforçar as repartições municipais de residências que se vão erguendo na­quelas paragens. fiscalização e ordenamento do território, com meios téc- nicos e humanos apropriados para fazer face às ocupa- O negócio de terrenos na capital é cada vez mais lucra- ções em curso na periferia de Luanda, são entre outros tivo. Recorde-se que o ex-governador de Luanda José planos traçados. Maria dos Santos Ferraz foi exone­rado alegadamente na sequência de negócio ilícito de venda de terreno no De entre o programa de acções, consta ainda a sensibili- município da Samba. zação da população sobre os riscos das construções anár- quicas e em zonas vulneráveis, uma realidade que marca, nos dias, muitas localidades da periferia de Luanda. Os 7.16 Governo cria condições para militares das FAA e efectivos da Polícia Nacional, de ocupação legal de terrenos acordo com o plano do Executivo, serão destacados em Jornal o independente varias localidades para a protecção das áreas decretadas 12 de Novembro de 2011 como reservas fundiárias do Estado, satisfazendo desta feita, a demanda da população interessada em construir O Governo Provincial de Luanda vai produzir a lei de a casa própria. Esta lei que o Governo vai introduzir alteração ao código penal à semelhança do que se faz para criminalizar ocupações e vendas ilegais de terrenos com o código comercial e do registo predial, para cri- em Luanda vai servir de precedentes para que a médio minalizar as ocupações e vendas ilegais de terrenos, e longo prazos os esforços de requalificação não sejam enquanto conduta susceptível de provocar danos ao postos em causa pela onda de construções anárquicas/ património público. que proliferam em muitas partes de Luanda.

Uma medida sem precedentes que consta no programa É um projecto inovador na medida em que, além de do Executivo e que será produzida no quadro da regula- desencorajar o uso fundiário para fins especulativos, vai ção da ocupação e uso do solo na província de Luanda permitir que as famílias angolanas possam proceder a faz parte da lei de alteração ao código penal, que vai ocupação de terrenos tendo em conta padrões relaciona- consagrar a ocupação ilegal de terrenos como um crime dos com o ordenamento do território, dos levantamen- público. De acordo com o programa, serão criadas tos topográficos, planos directores municipais, urbanos nos municípios repartições técnicas municipais, com e outros. Portanto, a perspectiva da ocupação ilegal de a incumbência de ocupar-se dos cadastros, das cartas terrenos passar a ser crime público vai ser um ganho cadastrais de detalhe, dos levantamentos topográficos, para as populações e para o Estado angolano. planos directores municipais, urbanos, bem como de SIC (Sistemas de informação geográfica). O Executivo aprovará planos urbanísticos ou forais, sob propostas 7.17 Madrasta desaloja enteados no das respectivas administrações municipais, ficando sob maculusso gestão destas, com vista a satisfazer a demanda da popu- Jornal Angolense lação, sob forma de auto-construção dirigida, cujas infra- 12 de Novembro de 2011 -estruturas serão feitas a partir do rendimento e venda dos respectivos lotes. Na elaboração e aprovação destes A história conta-se da seguinte forma: Isabel Ricardo planos, prevê-se medidas restritivas às substituições na José da Cruz e Ernesto João Francis­co Gorita, passa- concessão, bem como na transmissão de direitos fundi- ram, a partir de 1975, a coabitar a moradia nº 173, sita ários, com vista a evitar a apetência em adquirir terrenos na rua Che Guevara, bairro Maculusso, município da para logo desfazer-se dele a título oneroso, como simples Ingombota. forma de negócio especulativo. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 104

Desse relacionamento, segun­do se apurou, terão resul- 7.18 A Lei da Terra de Angola tado três filhos, até à separação do casal, que ocorreu e a discussão da sua aplicação alguns anos depois. Em consequência da separação, Jornal de Angola Isabel Ricardo abandonou a resi­dência, tendo ido viver 12 de Novembro de 2011 para uma casa arrendada. Passaram sete anos desde que a Assembleia Nacional João Gorita, um antigo fun­cionário público da empresa aprovou a Lei de Terras (Lei nº 9/04 de 9 de Novembro). Em projectos,­ UEE, permaneceu na residência, tendo Esta Lei surge como o primeiro instrumento legal que mais tarde se juntado a uma outra mulher. trata dos assuntos ligados à terra com pro­fundidade, em comparação com a Lei 2l-C/92, tida por alguns espe­ Deste relacionamento com Rebeca José da Silva resultou o cialistas como uma lei agrária. nascimento de 10 filhos. O nome de Rebeca da Silva consta, aliás, de um documento de agregado familiar, datado de Historicamente, a Lei de Terras é considerada o primeiro 1991, em que aparece como esposa de Ernesto Gorita. diploma em Angola discutido amplamente por vários segmentos da sociedade, a jul­gar pelas contribuições A coberto de uma lei da Co­missão Nacional para Venda fornecidas por várias comunidades rurais consultadas do Património Habitacional do Esta­do, de Janeiro de por altura do debate do seu ante-projecto em dez das 18 1992, o inquili­no da habitação, ou seja, Ernesto Gorita, provín­cias. A Lei de Terras de 2004 e o seu regulamento manifestou interesse em adquirir a vivenda na qual habi- designado por “Regu­lamento Geral de Concessão de tava com a sua nova família. Ter­renos”, com cerca de quatro anos, abre possibilida- des para a criação de regulamentos específicos. A Lei de Em 12 de Março do ano se­guinte, procede ao paga- Terras em si mesma tem o carácter de uma lei funda- mento do referido imóvel, por via de uma guia de paga- mental, ti da no ca­so como a constituição fundiária, já mento emitida pelo BPC, tendo, em 20 de Junho de que dela dependem outros diplomas legais, cujo âmbito 1994, obtido o respectivo Termo de Quitação. de aplicação tem como recurso a Lei de Terras.

Acontece, porém, que Ernesto Gorita viria a falecer, Importa fazer referência ao pro­jecto “Terra da FAO” em 16 de Maio de 2001, uma morte que, pelos vistos, (Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e terá servido para um «ajuste de contas» antigas entre a Alimentação), uma ferramenta de apoio às instituições madrasta e os enteados. governamen­tais angolanas para a melhoria da gestão da posse e administração de terras e dos recursos naturais, Em Fevereiro de 2003, Isabel Ricardo dá sinais, ale- nas províncias do Huambo e Bié. gando direi­tos de propriedade sobre o imó­vel, tendo, nessa altura, intentado uma acção junto da Sala do Cível O projecto tem como objectivo central apoiar o e Administrativo do TPL. Executivo através das suas instituições envolvidas no processo de gestão fundiária, visando a aplicação do Sete anos depois, ou seja, em 20 de Janeiro de 2010, numa pacote le­gal sobre a terra com o fim de ga­rantir os direi- carta dirigida aos herdeiros, a madrasta dava conta que a casa tos fundiários dos cidadãos, sobretudo das comunidades era sua pro­priedade e que estava a preparar ­se para vendê-la. rurais, para se alcançar um desenvolvimento territorial sus­tentável e integrado de todos os actores que intervêm Ainda no decurso desse mesmo ano, Isabel da Cruz no meio ru­ral (camponeses, agricultores, fa­zendeiros, promove uma acção judicial de reivindicação de proprie- Estado, entre outros. Neste sentido, a Lei de Terras e dade, ao que diz, contra alguns herdeiros. o respectivo regulamento consti­tuem elementos funda- Numa petição, ela alega ter comprado a casa em Julho mentais para se atingir os fins referidos. O pro­jecto em de 2009, ou seja, 16 anos depois de ela mesma ter sido referência tem como prin­cipais parceiros o Ministério vendida a Er­nesto Gorita. da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, o Ministério do Urbanismo e Construção, gover­nos das Entre os enteados, há quem a afirme que o tribunal ter- províncias do Huambo e Bié e respectivas instituições e -se-á li­mitado a citar apenas um dos her­deiros, quando foi financiado pela Agência Espanhola de Cooperação deviam ser todos eles, que são um total de 10. Internacional e De­senvolvimento (AECID).

Em sua defesa, dizem que, apesar de ter sido apenas O projecto “Terra da FAO”, em conjunto com seus noti­ficado um dos herdeiros, o juiz terá, mesmo assim, parceiros do Executivo e da sociedade civil, promoveu prossegui­do a acção, que culminou com o despejo de todos quarta-feira, na cidade do Huambo, uma conferência os herdeiros, filhos de Rebeca, a 4 de Setembro de 2011. inter-provincial, para lançar, por ocasião do sétimo ani- Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 105 versário da Lei de Terras, uma reflexão sobre a temática desabamento das infra-estruturas, com maior incidência fundiária nos seus mais variados domínios. para o prédio do bloco 1.

“Da Lei de Terras a uma Proposta de Desenvolvimento As condições em que se encontram os ed­ifícios consti- Territorial” foi. o lema da conferência, que avaliou e tuem eminente perigo para os moradores e transeuntes, identificou os desafios da Lei de Ter­ras, tendo por base sendo já do con­hecimento da administração municipal um fórum de con­certação congregando os actores das do Rangel, instituição onde os habitantes há muito têm instituições envolvidas na aplicação da Lei, nomeada- participado a ocorrência. mente representan­tes das instituições públicas e das As autoridades locais, de acordo com a fonte, promete- or­ganizações da sociedade civil. ram dar solução ao prob­lema mas, até a data tudo não passou de promessa. A conferência contou com a parti­cipação de represen- tantes das pro­víncias do Huambo, Bié, Luanda, Huíla O certo é que aqueles edifícios já não pos­suem condições e Kwanza-Sul, na qualidade de regiões onde o tema tem de habitabilidade e, como se não bastasse, há muito que sido tra­tado e com resultados. deixaram de receber o fornecimento de água e energia eléctrica. A administração e gestão da terra é uma temática mul- tissectorial que envolve diversos actores (Ministé­rios e Este jornal apurou, por outro lado, que os moradores suas instituições a nível cen­tral, provincial, municipal, daquele bairro seriam realo­jados no Zango mas, até a pre- comu­nal, autoridades tradicionais e so­ciedade civil, sente data não foram dados quaisquer passos neste sentido. entre outros). O estado degradante dos prédios, assim como à falta Pretendeu-se ter no final da confe­rência uma percep- de energia eléctrica faz com que os amigos do alheio ção conjunta do estado destas questões, com as expe­ transformem aquela zona como preferencial para as suas riências de províncias e actores que tenham avançado acções marginais. Jovens desconhecidos dos moradores na questão, assim como uma aprendizagem das lições aproveitam-se, igualmente, do abandono em que estão vividas por esses actores. Em sínte­se, foram objectivos votados os prédios para transformarem aquela área em da conferência do Huambo: oficina de reparação de viaturas. -Fazer uma análise conjunta dos pontos fortes, assim como dos desa­fios do pacote legal de terras e co­nhecer Esperança Manuel João, 49 anos e mora­dora do prédio melhor os processos de deli­mitação de terras comunitá- bloco 1 há 20, contou que o Governo havia já entregue rias de cada província. casas aos moradores daquela zona, que se encon­tram -Entender a importância da segu­rança fundiária para a em situação de risco, mas as mes­mas não correspondem agricultura fa­miliar e como esta se insere no pro­cesso de com as que estão instaladas, apesar do desabamento desenvolvimento rural. que se verifica, enquanto outras casas já estão ocupadas por pessoas desconhecidas, ale­gadamente, alojadas pela administração municipal do Rangel. 7.19 Edificio de dois andares desaba no bairro nelito soares Ante a recusa dos moradores as autori­dades viraram-lhes Jornal semanario continente as costas e nunca mais falaram sobre o assunto. 18 de Novembro de 2011 Esperança Manuel lamentou o facto de alguns órgãos Os moradores do bairro Nelito Soares, município do de comunicação social pú­blico terem reportado o que Rangel, estão indignados devido ao estado avançado de se passa no bairro, não tendo, porém, divulgadas as degradação em que se encontram os prédios naquela zona, reportagens. muitos dos quais a beira do desa­bamento, à semelhança do que ocorreu, recentemente, com uma edificação do gé­nero. Adelino Manuel, morador há 30 anos, fez saber, por seu turno, que os cinco blocos de prédios ali existentes De acordo com Juliana Bragança, mo­radora há 23 anos foram inicial­mente erguidos para um projecto experi­ no prédio do bloco 3, os edifícios já não estão em perfei- mental e que seriam demolidos para dar lugar a outros tas condições, uma vez que os mesmos são pré-fabrica- com maior resistência, o que não aconteceu até agora. dos, edificados há mais de 30 anos. Os morador­es dizem que estão a viver num estado de exclusão, uma vez que todos os projectos implementados Segundo apurou este jornal, a maioria dos prédios já não no município, com vista ao melhoramento das condi- têm cozinhas, nem casas de banho, resultante do parcial ções de vida dos munícipes, não os abrangem. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 106

Um dos exemplos é o abastecimento da energia eléc- 3 – Sobre a agricultura fami­liar foi considerada de trica pré-pago, que já benefi­ciam os moradores das Cs, grande importância tendo em conta o número elevado mesmo junto aos blocos, onde os habitantes são obriga­ de pessoas que envolve e a sua produtividade, pelo que, dos a recorrer às famosas puxadas. precisa ser tida em conta, com a devida relevância nas estratégias de desenvolvi­mento. Os dados apresentados No que respeita a água potável, fala-se na existência de uma para fundamentar importância da agricultura familiar nova conduta, da qual os moradores do bairro Nelito Soares mostraram que existe uma grande diferença entre as são os únicos que não beneficiam a nível do município. áre­as cultivadas pelas famílias e a classe agrícola empre- sarial, in­dicando um ponto de partida para a projecção O actual consulado administrativo do Rangel é o quarto, da segurança na posse, numa perspectiva de desenvolvi- desde que os prob­lemas se intensificaram naquela área, mento rural. não tendo merecido uma solução por parte das auto- ridades. O antigo administrador mu­nicipal, Maciel 4 – Foi enaltecida a necessi­dade de se clarificar a relação Neto, “Makavulu”, sem­pre que foi abordado dizia que o que se pode estabelecer entre os direitos fundiários assunto não era da sua competência. consa­grados à luz do costume e da lei de terras, visto que a questão foi bastante discutida na fase de elaboração da Dos contactos feitos com o Ministério da Reinserção lei de terras, po­rém o problema persiste. Social, no sentido de se en­contrar uma solução, os domi- ciliados ob­tiveram a resposta de que já lhes tinham dado Uma questão para reflexão posterior tem que ver com a novas residências e que eles mesmos é que não quiseram, possibilidade ou não de as co­munidades rurais poderem razão pela qual estão entregues à sua sorte. Enquanto evo­luir de forma independente. a situa­ção prevalecer os habitantes continuarão entre- gues ao perigo, que poderá agravar­-se com as chuvas que se aproximam e prováveis ventos fortes. As principais 7.21 Fazendas continuam á espera do vítimas são as crianças que sempre brin­cam nos andares divórcio com a letargia de cima sem quaisquer condições para lazer. Estêvão jornal angolense Macha­do, administrador comunal da Terra Nova, 19 de Novembro de 2011 contactado sobre o assunto, disse que or problema dos “Blocos sul-africanos”, tal o como são também conheci- A estreia de um empresário estrangeiro nas picadas de dos, já tinha ‘- sido resolvido, não tendo havido vontade acesso a grandes fazendas agro-pecuárias, acompanhada e por parte dos moradores para deixarem )S aquelas resi- ao pormenor pelo jornal Angolense, produziu elemen- dências, apesar dos riscos que ta enfrentam diariamente. tos mais do que elucidativos sobre a campanha que pre- tende apre­sentar dados concretos em relação ao número e à situação de empreendimentos para a agricultura e a 7.20 Conclusões da conferencia do pecuária exis­tentes na província de Ben­guela. huambo Jornal semanario angolense O processo de cadastramento das fazendas confis­cadas 19 de Novembro de 2011 pelo Estado depois de 1975, cujos resultados deverão servir de bússola para um amanhã divorciado da sonolên­ 1 – Sobre os limites ao direi­to de propriedade privada cia, é o testemunho de que o se­ctor da Agricultura e no âmbito do direito fundiário, a primeira nota a reter Desenvolvi­mento Rural tenciona colocar as potenciali- é a de que o exercício dos direitos fundiá­rios em regime dades ao serviço do combate à pobreza, da redução das de propriedade privada da terra, está condi­cionado pelo importações e da seguran­ça alimentar. Se analisadas as fim económico e social a que se destina a terra, bem queixas de quem teve sempre na falta de financiamento como, ao exercício do di­reito a terra de uma forma que um de vários entraves, agora que o BCI decidiu abrir os não contrarie a lei. Em suma, o princípio da proprie- cordões à bolsa facilmente se percebe que o empurrão dade origi­nária do estado também limita o exercício do aos empresários locais começa a cobrar o trabal­ho de direito privado no âmbito do direito fundiário. casa. Uma viagem ao complexo do «Utalala» (Cubal), bem longe do asfalto que es­conde milhares de campos 2 – O papel das instituições do poder tradicional no agrí­colas por desbravar, acabou, di­zíamos, por fornecer pro­cesso de gestão das terras das comunidades rurais dados que justificam a iniciativa do MINAD­ER. Antes capitali­zou a atenção dos participan­tes, tendo sido con- da chegada ao «Utalala», um dos poucos exemplos a ter siderado que em caso de conflitos decorren­tes de proce- em conta, mas nem por isso isento de insufi­ciências, dimentos irregulares por parte dos sobas, deverá preva- fomos divisando so­bras de um passado auspicioso ao lecer sempre o interesse colectivo. longo dos quase 150 quiló­metros percorridos. Aparente­ Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 107 mente abandonadas, várias fa­zendas com infra-estrutu- 7.22 Lei de terras constitui mais-valia ras destruídas – moradias e arma­zéns -, todas recheadas para o pais de ves­tígios da produção de sisal, algodão e de outras Jornal semanario factual culturas tradicionais da Benguela de ontem, deixaram 19 a 26 de Novembro de 2011 boquiaberto o empresário vindo da Europa. Guiada pelo presidente da As­sociação dos Agricultores, Ma­nuel “A Lei de Terra vigente serve para o momento actual, Monteiro, a nossa reportagem constatou que áreas ante- embora não seja de domínio de muita gente. Aliás, infe- riormente utilizadas para a agricultura e a pecuária lizmente, Admi­nistrações Municipais e Comunais con- foram transformadas em palcos de queimadas. tinuam com procedimentos e proces­sos que impunham a lei antiga”, afirmou o activista cívico da ONG ango- O semblante do visitante traduzia, seguramente, o lana, na hora do balanço do sé­timo aniversário da apro­ espanto de quem se encontra­va num país em relação ao vação do referido instru­mento legal. qual em conta o que ele próprio observava e o conjunto de infor­mações que recebia de quem conhece a reali- Sublinhar que, a 9 de Novembro de 2004, foi aprovada dade como nin­guém. Basta dizer que Nelito Monteiro, a lei 9/04 que regula o uso e posse da ter­ra em Angola. o anfitrião, tem vindo a alertar para a necessidade de um ordenamento rural que defi­na áreas de actuação para Referindo ao percurso da sua existência, Bernar­do as classes empresarial e campone­sa, ambas de extrema Castro destacou ser sempre bom parar, olhar para trás importân­cia na luta pela segurança ali­mentar. Aliás, um e questionar o que trazemos, um balanço que permite dos propósitos da nossa deslocação foi ouvir representan- percorrer pela distância que medeia entre a produção da tes de uma certa comunidade, protagonistas de um con- lei e a sua aplicação. flito de terra que os opunha a um empresário.«Situações “Estamos a falar de uma lei que foi discutida, ampla- destas ocorrem porque não existe ordenamento, a tal mente, com a parti­cipação da sociedade civil, académi- delimitação de espaços. Nin­guém, óbvio, aceitará inves- cos e não só. Em contrapartida, peca pelo facto de se tir nestas condições», resumiu a fonte, ciente de que a fundar numa perspectiva essencialmen­te jurídico-legal, descapitalização do sector privado – que começa a ser mutilada pela natureza do seu objectivo à dimensão reduzida – consti­tui outro problema. Como que na mul­tidisciplinar, ou ainda, transdisciplinar”, salien­tou. mesma linha de pensamen­to, alguns camponeses disse­ ram que se encontravam na «área da discórdia» há vários Para a fonte, na ver­dade, tal como o seu legis­lador, as leis anos, mas não souberam indi­car, aí está, o ponto que também não são, no seu todo, perfeitas nem eternas. A separa o espaço de cada um. No terre­no, este semaná- Rede Terra participou, activamente, no processo da sua rio pôde obser­var a prática da agricultura fami­liar a um pro­dução com estudos e outras contribuições a vários palmo de dezenas de cabeças de gado bovino, todas per- níveis”. tencentes ao empresário em causa, que terão devorado bens agrícolas produzidos por cam­poneses. Do seu ponto de vista, em resultado disso, os ci­dadãos ganharam mais di­reitos do que tinham na lei anterior. Diante deste quadro, Manuel Monteiro, uma vez mais confrontado pelo Angolense, voltou a bater na mesma “É um ganho, mas é preciso lembrar que, entre a produ- tecla: «tal como venho defendendo, é necessário que ção de uma lei e a sua aplicação, a distância é enorme, chegue o orde­namento rural, tarefa para a qual o Estado particularmente num país com problemas de fiscaliza- é chamado a in­tervir. Certamente a pensar nes­te pro- ção da legalida­de de actos ou omissões, como é Angola”, jecto, o sector da Agricul­tura e Desenvolvimento Rural salientou.­ quer saber o número de fazen­das existentes e o ponto de situação das mesmas, segundo in­formou o seu titular, o Conflitos de terra remontam da antiguidade o activista Engenhei­ro Abrantes Carlos Sequesse­que. O responsá- cívico, mes­tre em Cidadania Ambien­tal e Participação, vel adiantou que as estimativas apontam pa­ra mais de referiu-se, igualmente, à percepção que existe, segundo duas mil, sendo que a maior parte está em situação de a qual, com a entrada em vigor da actual lei d terras, os subaproveitamento. «Apenas vinte fazendas ou pouco conflitos ganha maior expressão. mais estarão a funcionar, mas com muitas dificulda- “E correcta a percepção e há razões par: isso. Temos des, por isso é que vamos retirar aos menos capazes e de convir que os conflitos de terras re­montam desde a conceder o direito de exploração a agricultores que se antigui­dade. Veja que, para c nosso caso, temos relatam mostrem aptos, com vontade de trabalhar em prol das segundo os quais as comu­nidades San e Khoi terão comunida­des» sido as primeiras a habitação este território que, hoje, é Angola”. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 108

Recordou tratar-se de famílias humanas cuja ocupação burlados nos processos de acesso à terra para a constru- tradicional é a recolecção, a caça e o arte­sanato, sendo ção dirigida, há quase três anos, quando se dirigiram detentoras na altura de grandes exten­sões de terras. às Administrações Munici­pais, a fim de se inscreve­rem, “Hoje, estas popula­ções vêem-se forçadas a novas depois de pagamen­tos feitos aos bancos e repartições­ dinâmicas sociais ou marginalizadas pela comu­nidade das finanças para os reconhecimentos e aut­enticação de bantu, tendo perdi­do grande parte do seu património documentos para o efeito necessário”, recordou natural cons­truído. Assim, recomendou ser muito importante compreender “As condições social, económica e cultural da­quelas que a inter­venção do Estado na gestão de terras e a sua comunidades, quer na Huíla como no Kuando- concessão deve ser presi­dida por objectivos que a Lei de Kubango, são muito difíceis, devido a graves proble- Terras estabelece. mas de segurança alimentar e/ou segurança de posse da terra”, rema­tou Bernardo Castro. “Para o caso, queremos relevar o objectivo dispos­to na alínea a) do Artigo 14°, da Lei de Terras, que julgamos Na sua opinião, os con­flitos existiram e existirão sempre. um pilar sem o qual os conflitos prevale­cerão por muito O que queremos é que não ponham em causa as liber- tempo: Adequado ordenamento do território e correcta dades, garan­tias e direitos fundamen­tais das pessoas, formação, ordenação e funcionamento dos aglo­merados bem co­mo os direitos sociais, eco­nómicos, culturais e urbanos. ambientais.­ “É do domínio público que, com a independência nacio- Para a fonte, ainda não há efectivo ordenamento e pla- nal, as famílias que tinham sido expulsas, desumana- neamento territoriais, algo muito grave. mente, regres­saram às terras dos seus ancestrais. Muitas “Grave, porque sem o ordenamento do território não dessas terras foram, duramente, diminuídas e descaracte­ há nem se pressupõe uma atitude de racionaliza­ção dos rizadas na sua identidade histórico-cultural, com a ins- recursos naturais, tão pouco se tem a noção da distri- talação de fazendas e de outro tipo de infra-estruturas buição das classes do uso do solo. Aliás, as bases para nas terras de comu­nidades tradicionais prote­gidas pelo a estratégia de desenvolvimento territo­rial são estabele- domínio útil consuetudinário”, expli­cou. cidas pelo ordenamento, tendo em vista os critérios de povoa­mento e economia de espaço”, sublinhou. Bernardo acredita que, nessa época, os conflitos eram latentes, uma vez que as terras eram do Estado Colonial De igual modo, pros­seguiu, o orçamento para desen- Português e os nossos povos eram tidos como indígenas cadear o processo de reconhecimento das terras rurais e outros forçados ao processo de assimilação para o seu comunitárias não foi aprovado. reconhecimento como ci­dadãos portugueses. “Isso foi muito duro, segundo vivências que nos são “Quer dizer que o Instituto Geográfico e Ca­dastral de reportadas”, assegu­rou. Angola, enquan­to, órgão técnico de gestão de terras em Angola (Art 67° da Lei de Terras), está refém de todos Estado deve identificar razões das ocupações ilegais esses pres­supostos. Precisa não só de aproximar os seus Quanto à ocupação de forma ilegal das terras do Estado serviços às populações, mas também de potenciar os para se erguerem residências, inclusive nas seus equipamentos e re­cursos técnicos para res­ponder áreas de muito risco, Ber­nardo Castro considerou às exigências do processo”, afirmou na hora de balanço que o mais importante no momento é procurar iden­ dos sete o director-executivo acha que as políticas de tificarem-se as razões des­ses comportamentos ou actos ordenamento procuram não só soluções, mas previnem lesivos à Lei de Ter­ras e não só. eventuais con­flitos. Isso, infelizmente, ainda não é um dado cá entre nós. Na sua opinião país, no país, também “Aqui, permita-me di­zer o seguinte: a proprie­dade origi- não existe efectivamente uma política dos solos e os que nária da terra, aqui, é do Estado. O Es­tado é, o proprie- ocupam grandes extensões de ter­ras se furtam das licen- tário e dono. E a ele a quem com­petem as responsabilida­ ças ambientais. des para evitar tais ilegali­dades”. “O preço da terra é es­peculado por não ter sido publi- De acordo com o acti­vista cívico, o que se passa é que a cado o Decreto Exe­cutivo Conjunto dos Mi­nistérios das terra virou, mais do que nunca, para os nossos tempos Finanças, Urbanismo e Ambiente (Art. 102° Reg. Geral um tesouro, en­fim, um negócio que envolve gente com de Concessão de Terrenos) “, assinalou. muito dinheiro. De igual modo, pros­seguiu, o orçamento para desen- “Muitos documentos dão entrada nos órgãos competen- cadear o processo de reconhecimento das terras rurais tes, mas nunca obtêm respostas. Pacatos cidadãos foram comunitárias não foi aprovado. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 109

“Quer dizer que o Instituto Geográfico e Ca­dastral de A necessidade de exploração dos conceitos de terrenos Angola, enquan­to, órgão técnico de gestão de terras em rurais e terrenos rurais comunitários, no âmbito do Angola (Art. 67° da Lei de Terras), está refém de todos trabalho dos acto­res que intervêm na problemáti­ca de esses pres­supostos. Precisa não só de aproximar os seus terras, foram outros as­pectos referidos. A conferência serviços às populações, mas também de potenciar os concluiu ainda, que apesar da aprovação da lei de terras e seus equipamentos e re­cursos técnicos para res­ponder às dos diferentes instrumentos, são ainda necessários vários exigências do processo”, afirmou na hora de balanço dos outros para que a sua implementação seja eficaz. Neste sete anos de existência da Lei de Terras. aspecto par­ticular foi referido que os instru­mentos pre- cisam de estar em conformidade com a lei. De forma mais sucinta, defendeu que, quando não se tem o ordenamento e planeamento territoriais nem mesmo Em relação aos limites ao Direito de Propriedade o Estado sa­be, a priori, onde se situam as suas terras Privada no âmbito do direito Fundiário, ainda no pri- quer do domínio privado, quer do domínio público, o meiro painel, a pri­meira nota a reter é a de que o exer- que permite que conflitue com as terras tradicionais das cício dos direitos fundiários, em regime de propriedade comunidades. “Veja que o Art. 84°, da Lei de Terras e 215° pri­vada da terra, está condiciona­do pelo fim económico do Regulamento Geral ape­lam para que todo aquele que, e social, a que se destina a terra, bem como, ao exercí- por força da guerra ou outras situações, tenha ocupado de cio do direito a terra de uma forma que não contrarie a forma irregu­lar as terras do Estado re­gularizasse dentro lei. Em suma, o princípio da propriedade orig­inária do de três anos a sua condição desde 2007”. estado também limita o exercício do direito privado no âmbito do direito fundiário. Em contrapartida, fe7 saber, as Administrações faltaram com as suas res­ponsabilidades. Em resul­tado, as pessoas O debate à volta dos dois pri­meiros temas mostrou a cons­truíram, até nas periferias do aeroporto, do cami­ neces­sidade de se continuar a refor­çar a capacidade de nho-de-ferro, em sítios de risco, etc., sob o olhar permis- intervenção dos diferentes actores envolvidos na proble- sivo do Executivo, através dos seus órgãos de fiscalização. mática da terra, assim como o aumento da fre­quência de eventos que propor­cionem oportunidades de dis­cussão “ Não circula a infor­mação sobre o direito à terra, faltam dos assuntos inerentes as questões fundiárias. diplomas por publicar tudo isso é muito complicado. E, neste qua­dro, o balanço quanto a nós ainda é negativo”, Ficou ainda patente no debate, a necessidade de se concluiu na sua apreciação. proceder a formulação de uma estratégia coerente de planeamento do território, que permita a definição dos espaços destina­dos a investimentos, mecanis­mos de 7.23 Problemática da terra acesso, reservas ambi­entais e habitação, entre outros. passada á lupa Outro aspecto que capitalizou as atenções dos parti- jornal angolense cipantes é o papel das instituições do po­der tradicio- 19 de Novembro de 2011 nal no processo de gestão das terras das comuni­dades rurais, tendo sido consi­derado, que em caso de confli­tos A conferência teve como objecti­vos, fazer uma análise decorrentes de procedimen­tos irregulares por parte dos conjunta dos pontos fortes, assim como dos desafios do sobas, deverá prevalecer sem­pre o interesse colectivo. Pacote Legal de Terras e conhecer melhor os processos de delimitação de ter­ras comunitárias de cada pro­víncia; O segundo painel que abordou Agricultura familiar, entender a importância de segurança fundiária para a sua impor­tância, teve dois momentos: es­tratégias agricultura familiar, e como esta se insere no processo do Governo para o De­senvolvimento Rural e Da de desen­volvimento rural e apresentar a metodologia de Se­gurança, na Posse a um Desen­volvimento Rural. desenvolvimen­to territorial como uma alternati­va facili- Neste painel, foi destacada a aprovação de dois tadora dos processos de desenvolvimento. grandes instrumentos de intervenção no meio rural pelo governo de Angola, no período que se seguiu ao O primeiro painel abordou a Lei de Terras e as suas fim do conflito armado, designadamente: a Es­tratégia ramifica­ções, onde os principais instru­mentos jurídicos de Combate à Pobreza e a Estratégia Nacional de aprovados de­pois da lei 9/04 e o seu impacto no meio Se­gurança Alimentar e Nutricional, desenvolvidos rural foram o foco da abordagem, tendo-se destacado em dois grandes programas complementares en­tre si: a consagração na lei de terras vigente, da personalidade o Programa de Extensão e Desenvolvimento Rural, e jurídi­ca às comunidades rurais con­trariamente a lei o Programa de Desenvolvimento Rural e Combate à 21-C, que pre­cisa apenas de um título que as confirme Pobreza. como tal. 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A agricultura familiar foi conside­rada de grande impor- 7.24 Evitemos que a posse da terra seja tância ten­do em conta o número elevado de pessoas que próxima ameaça á paz envolve e a sua produtividade, pelo que, precisa ser tida Jornal semanario angolense em conta, com a devida relevância nas estratégias de 19 de Novembro de 2011 desenvolvimento. Os dados apresentados para funda- mentar a importância da agricultura fa­miliar mostraram A Lei de Terras (9/04), que assinala, nes­te mês da que existe uma grande diferença entre as áreas cultivadas dipanda, o 7. ° Aniversário da sua promulgação, foi o pelas famílias e a classe agrícola empresarial, indicando tema de uma Conferência Inter-provincial que reuniu, um ponto de partida para a projecção da segurança na na cidade do Huambo, autoridades e representantes da posse, numa perspectiva de desenvolvimento rural. sociedade civil para uma reflexão sobre a sua implemen- tação, numa iniciativa do «Projecto Terra» da FAO. O encontro concluiu ainda que a segurança de posse tem de au­mentar a propriedade, que seja aceite junto das ins- Desde os tempos remotos da violenta ocupação colo- tituições ex­ternas à comunidade garantir que ela possa nial do ter­ritório, que a gestão/propriedade da terra em permitir a ger­ação de renda para as famílias rurais. Foi Angola nunca foi um tema pacífico, tendo sido, aliás, enaltecida a necessi­dade de se clarificar a relação que se esta relação de usurpação/esbu­lho que esteve na origem pode estabelecer entre os direitos fundiários consagra­dos da luta armada de libertação nacional. à luz do costume e da lei de terras, visto que a questão foi bastante discutida na fase de elaboração da lei de terras, Ultrapassada a grande e gra­ve injustiça do passado, com a po­rém o problema persiste. proclamação da independência nacional, a terra foi consa- grada como sendo propriedade originá­ria do Estado. Uma questão para reflexão pos­terior colocada neste painel tem que ver com a possibilidade ou não de Em nosso modesto entender, é mister considerar-se, as comunidades rurais poderem evoluir de forma antes de mais, que esta entidade política, o Estado, é inde­pendente. integrada pelo conjunto dos cidadãos que habitam o terri­tório, isto é, pelos seus nacionais. A Gestão de Terra e Desenvol­vimento Territorial foi o A ideia de Estado entre nós é normalmente reduzida ao último te­ma a ser abordado, mas nem por isso pode ser poder da grande instituição chamada governo, esque- considerado como secundário, afinal foi apresentada cendo-se que o principal poder de qualquer esta­do uma proposta me­todológica de desenvolvimento terri- democrático reside na sobera­nia do seu povo/cidadãos. torial como alternativa que pode facilitar os processos de desenvolvimento, baseada na participação e na nego- Isto para dizer que a terra é de facto e de jure proprie- ciação, pela FAO. Os participantes fo­ram informados dade dos angolanos, enquanto fonte de le­gitimação dos sobre o ponto de situação da metodologia, es­tando neste restantes poderes/ instituições, mas também en­quanto momento a decor­rer a preparação das condições para indivíduos com direitos particulares, que devem ser sua implementação a partir de Janeiro de 2012, com a tidos e achados nas decisões que se to­mam sobre um reali­zação de um diagnóstico. A pro­posta foi entendida património que é colectivo. como uma oportunidade para a criação de sinergias dos diferentes secto­res do desenvolvimento rural, como Achamos ser importante esta incursão pela terra arável actores protagonistas do desenvolvimento. do di­reito, porque a gestão deste patri­mónio/activo con- tinua a ser feita apenas com base nos interesses (públi- Com uma assistência de qua­dros das instituições públi- cos/privados) de uma parte do Estado, assumida pelo cas, académicas, sociedade civil e de cooperação inter- Gover­no e os seus dignitários/associa­dos, esquecendo-se nacional, vindos, principalmente das pro­víncias do Bié, deliberada­mente que o destacamento mais importante Huambo, Ben­guela, Kuanza Sul e Luanda, que lidam desse mesmo Estado é o constituído por todos nós, os com a problemática de terras no país, a abertura da cidadãos. conferência contou com as in­tervenções do Engenheiro É neste âmbito que gostaría­mos aqui de destacar a Pau­lo Vicente, Assistente do Repre­sentante da FAO e do importân­cia de algumas das conclusões a que chegaram governa­dor do Huambo, Fernando Faustino Muteka e os participantes da Conferência Inter-provincial que contou ainda com um presidium de Filomena Delgado, discutiu no Huambo o tema: «Da Lei de Terras a uma Secretária de Estado para o Desenvolvimento Rural e proposta de desenvolvimento territorial». Ana Maria, Vice-governadora da Província do Bié para o Sector Económico e Produtivo. O primeiro objectivo do encon­tro foi fazer a análise conjunta dos pontos fortes assim como dos de­safios do pacote legal de terras e o melhor conhecimento dos pro­ Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 111 cessos de delimitação de terras comunitárias de cada dizia que o terreno lhe havia sido entregue pelo Ministério província. de Urbanismo e Construção, ora dizia que o terreno havia sido entregue a um grupo de generais pelo mesmo minis­ Os participantes procuraram en­tender a importância de tério. Por varias vezes tentou ainda usar o nome de outros segurança fundiária para a agricultura fami­liar e como inistérios, até que por fim vendeu uma parte do terreno esta se insere no proces­so de desenvolvimento rural. onde foi erguido uma agência do banco BFA.

Foi também discutida a me­todologia de desenvolvi- A administração local pelo sucedido andou durante mento territorial como uma alternativa facilitadora dos muito tempo a sua trás, mas também não conseguiu processos de desenvolvimento. encontrar nenhum docu­mento que comprovasse as suas versões. Por isso, transferiu o caso para o IPGUI. Projecto Terra Enquanto aguardava pela resposta, a Sr. Liseth Pedro O projecto Terra da FAO é uma ferramenta de Apoio às mandou outra vez máquinas ao terreno e destru­iu toda a ins­tituições governamentais para a melhoria da gestão plantação que lá havia. Por tentar reclamar deteram-me da posse e administração de terras e dos re­cursos natu- por cinco dias e graças a intervenção do gabinete jurídico rais, nas províncias do Huambo e Bié, tem como objec­ e do gabinete de inspecção do gabinete do Ministério de tivo central apoiar o Governo de Angola através das suas Urbanismo e Construção fui solto. institui­ções responsáveis no processo de gestão fundi- ária, visando a im­plementação do pacote legal sobre a Passado algum tempo constatou-se que o projecto acima terra com o fim de garantir os direitos fundiários dos citado não se estendia até ao meu terreno e que poderia cidadãos, sobretudo das comunidades ru­rais no intento retomar ao processo de legalização do mesmo. E assim o de se alcançar um desenvolvimento territorial sus­ fiz. Enquanto aguardava pelo documento fui informado tentável e integrado de todos os actores que intervêm pelo IPGUL que o go­verno provincial cedeu o direito à no meio rural (camponeses, agricultores, fazen­deiros, superfície do terreno em causa ao empresário Henriques Estado, etc.). Santos. Mas, o mais estranho foi saber que embora o documento tivesse sido passado pelo empresário já men- O Projecto em referência tem como principais parceiros cionado, que, o requereu foi o Sr. José Joanhes André. o Mi­nistério da Agricultura do Desen­volvimento Rural Tentei obter alguma explicação a partir do IPGUL, e das Pescas, o Ministério do Urbanismo e Cons­trução, tudo o que me foi dito é que o documento foi passado no Governos das províncias do Huambo e Bié e respectivas meio da confusão, isto durante a exoneração da antiga instituições e está financiado pela Agência Espanhola de governadora Sra. Francisca do Espírito Santo. Cooperação­ Internacional e Desenvolvi­mento (AECID) Portanto, gostaria de que se fizesse justiça por tudo quanto comi­go está acontecer, porque inúmeras vezes 7.25 Mais um terreno em conflito pedi a intervenção das instituições competentes, mas há Jornal angolense mais de três anos o caso con­tinua sem solução. 19 de Novembro de 2011 Certo de que o assunto merecerá o melhor acolhimento Carta aberta á Sua Excelência Sr. Engº José Eduardo dos da S. Exa prevaleço-me do ensejo, para apresentar as Santos Presidente da República de Angola. minhas cordiais saudações.

Desde 1983 que ocupo um terreno no município de Cacuaco, altura que ainda me encontrava nas FAPLAS. Francisco Massango Possuía uma declaração de cintura verde que devido ao Cacuaco, bairro Boa Esperança Luanda seu mau estado de conservação entreguei a administra- ção municipal para a sua re­novação. Mas fui informado depois, que a declaração havia sido extraviada e que devia 7.26 Requalificação da cidade melhora a constituir um novo pedido de legalização de terreno. habitalidade Jornal de Angola Em 2002, quando surge o projecto Panguila não tive 22 de Novembro de 2011 qualquer problema, porque havia grande distância entre o meu terreno e o terreno do projecto. Na verdade tudo O processo de requalificação da cidade do Lubango, ini- começou com o surgimento da senhora Liseth Pedro, na ciado em 2009, impõe sacrifícios mas vai dar melhores altura coordenadora do projecto acima referido, que com condições de habita­bilidade aos munícipes, realçou no inúmeros pretextos tentou esbulhar-me do terreno. Ora domingo o governador da Huíla, Isaac dos Anjos. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 112

Falando como convidado do pro­grama “Espaço Público” Um total de 20.350 metros cúbi­cos de areia foram remo- da TPA, o governador justificou que as de­molições ocor- vidos para o desassoreamento da baía de Luanda, no ridas neste período visaram dar seguimento a um dos âmbito do projecto de requalificação da zona. mais importantes projectos de re­construção nacional, o Caminho-­de-Ferro de Moçâmedes, e livrar cidadãos Miguel Carneiro disse que, para facilitar os trabalhos, “de condições de vida extraordinariamente precárias” ao foi aberto um canal submarino para a renovação exige- longo do rio Mukufi, principal dre­no da cidade. nação das águas.

“Temos de projectar a cidade pa­ra ver como vamos inte- A despoluição da baía de Luanda permitiu o alarga- grá-la num conjunto social e futurista capaz de absor- mento por draga­gem de toda a Marginal, através da uti- ver mais gente. Actualmente o Lubango está com um lização de um moderno processo de centrifugação que milhão e meio de habitantes, mas se ela for bem estru- possibilita a limpeza das areias. turada podem caber mais duzentas mil pessoas e é isto que, estamos a fazer”, explicou o gover­nador. Isaac dos As matérÍ’8s inorgânicas encon­tradas no fundo das Anjos lembrou que a maioria da população do Lu­bango águas, sobretu­do esferovites, ferros, vidros e la­tas, de vive em espaços apertados, ocupando os canais de dre- acordo com Miguel Carnei­ro, tiveram como destino nagem e nestas condições, o modo de vida e de habita- final o aterro sanitário do Mulenvos, no município do bilidade é precário. Cacuaco.

“Olhamos para as infra-estrutu­ras existentes e pensamos O material orgânico e biodegra­dável encontrado foram que a so­lução é oferecer às pessoas melho­res condições, levados para o alto mar através de um canal criado para por isso pensou-se na instalação do comboio circular e o efeito. pensamos fazer a expansão da ci­dade para outras zonas”, disse o Governador da Huíla. 7.28 Membros de associação de camponeses são suspeitos da venda 7.27 Trabalhos de requalificação da baia ilegal de terrenos ficam concluidos já no proximo ano Jornal de Angola Jornal de Angola 25 de Novembro de 2011 23 de Novembro de 2011 O Comando Provincial de Luan­da da Policia Nacional As obras de requalificação da baía de Luanda terminam apresen­tou ontem, na Divisão de Polícia da Samba, três no próxi­mo ano, disse na segunda-feira à Angop o direc- membros de uma associação de camponeses que se dedi- tor de gestão do pro­jecto, Miguel Carneiro. cavam a burlas e venda ile­gal de terrenos. Segundo a polí­cia, o líder do grupo é Basílio Ca­dete Botelho. O responsável adiantou que a ter­ceira fase arranca no princí- pio de 2012 e vai durar seis meses. A área que vai ser alvo de Os outros membros do grupo são Victor Capar, Américo intervenção é a Avenida da Marginal, em que vão ser colo- Fernandes e João Ferreira, identificado pelas autoridades cados novos espaços pedo­nais e parques de estacionamento. como o secretário executivo da associação de campone­ ses. Os detidos alegam inocência e dizem que a sua A obra, em curso desde 2009, es­tá a transformar a baía detenção é ilegal por não terem sido apanhados em fla- de Luanda num local moderno e renovado do ponto de grante delito e os terrenos per­tencem aos camponeses vista ambiental. que se ins­creveram na associação.

Neste momento, decorrem trabalhos para a criação de O inspector Nestor Goubel, por­ta-voz do Comando uma nova avenida, com seis faixas de roda­gem ao longo Provincial de Luanda da Polícia Nacional, disse que os de todo o percurso e oito faixas nas zonas de intercepção terrenos em causa são “re­serva fundiária do Estado e as com outra rodovia. pes­soas não podem vir com meras cantigas para justifi- carem a sua actividade ilegal”. A primeira e a segunda fase do programa, que decorre- ram em paralelo, consistiram na construção da ponte Essa prática, referiu, tem ga­nhando corpo a cada dia Kianda, que liga a Marginal à Praia do Bispo; e na que passa nos municípios da Samba, Cacuaco, Viana construção de uma estação de serviço de combustíveis. e Kilamba Kiaxi. “É preciso tomar medidas para pôr A criação de zonas verdes, num total de 12 hectares, termo a esse tipo de práticas”, disse. constou, também, da primeira e segunda fase. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 113

A Associação de Camponeses para o Desenvolvimento de Cacuaco nas proximidades da nova subestação da Agro­-pecuário e Pesca Tala-hady (AC­DAPTH), dedi- Empresa Nacional de Electricidade (ENE). cava-se, segundo a Policia Nacional, à venda ilegal de ter- renos em vários bairros de Luanda, há mais de cinco anos. Ele é alegadamente proprietário de um terreno de 15 metros quadrados no referido bairro. Num belo dia, Os elementos do grupo reconhe­ceram que vezes sem foi surpreendido por supostos elementos da Comissão conta endere­çaram documentos às Administra­ções do bairro, dizendo-lhe que devia abandonar o terreno, Municipais de Viana e Samba para legalizarem o pro- por­que pertencia à outra pessoa. cesso de ven­da, mas sem sucesso. Por isso, deci­diram “Pedi explicações aos mesmos que me apresentassem o criar a associação para con­vencerem a população de que referido dono. E estes, simplesmente não quiseram. Foi era um projecto sério e legal. O admi­nistrador comunal assim que nos desentendemos, porque há mais de nove do bairro do Ra­miro, Vihinda Lumbala, desmen­tiu a meses que ocupei o terreno e não encontrei nin­guém”, existência dos documentos. descreveu Henriques, depois disso, viu-se esbofeteado, tendo ficado com os maxilares partidos. Os detidos garantiram que os ter­renos pertencem aos camponeses do bairro do Ramiro, município da Samba, “Já formalizei uma queixa na Divisão de Polícia de que os autorizaram a forne­cê-los à população pelo Cacuaco. Estou a espera do número de processo e que valor sim­bólico de mil Kwanzas. Era exigida a cópia me cha­mem juntamente com os agressores para que do Bilhete de Identidade e uma fotografia do tipo passe sejam responsabilizados”, argumentou, acrescendo que para os candidatos aos terrenos consta­rem da lista de lutar até onde poder pelo seu terreno. beneficiários, que já ultrapassa 300 inscritos. Espancado foi tam­bém João Alberto que, por cúmulo, As autoridades do Ramiro con­firmam a existência de viu sua casa demolida por um grupo, alegadamente, associações e indivíduos estranhos que se dedi­cam à liderado por uma tal senhora Ade­laide. invasão de terrenos conside­rados reservas fundiárias do Esta­do para comercializarem de forma ilícita. VIbinda “Vinha do trabalho. Quando cheguei o meu vizinho Lumbala, adminis­trador comunal do Ramiro, reco­ informa-me que os fiscais passaram e colocaram nheceu a existência de invasão de terrenos por parte de algumas estacas no meu terreno”, perante essa situação pessoas estra­nhas que se intitulam ser membros de uma João Alberto deslocou-se ao comité do MPLA onde os associação de camponeses. supostos demolidores trabalham, “no sentido de me informar sobre o que estava a acontecer”. Considerou que estes indivíduos com estas práticas “O senhor Matondo respondeu que meu terreno era preten­dem apropriar-se das reservas fundiárias do grande e, para tal, tinha de ser repartido. Não aceitei a Estado. “Nós fazemos trabalhos de fis­calização juntos proposta. Logo, o mesmo e os seus colegas começaram das áreas consi­deradas reservas fundiárias”, pre­cisou a bater-me”, quei­xou-se, salientando ainda que nestes Vihinda Lumbala. bairros novos todos existem grupos de aproveitadores que se fazem passar por fiscais ou militantes do MPLA. O administrador comunal do Ramiro precisou que a ocu- pação ilegal das reservas fundiárias pre­judica os projectos “São grupos de aproveitadores espalhados nestas zonas. que o Gover­no Provincial de Luanda pretende desenvol- Estão na pedrei­ra, no Belo Monte e depois da Anda”, ver que, vão desde a dis­tribuição de espaços à população denunciou ao notar que a actividade destes é desarmar para o programa de auto constru­ção dirigi da. “Os preva- terrenos e revende­-los a outros interessados. ricadores utilizam a astúcia para enganar as autoridades”, “Fiz uma participação à Polícia de Cacuaco e já tenho o disse. Os cidadãos insistem em comprar aos vende­dores número do pro­cesso, porque estes bandidos demo­liram terrenos considerados re­servas fundiárias do Estado. a minha cabana de chapas. Por enquanto só estamos a fazer cabanas de chapas para manter o espaço en­quanto vamos preparando o mate­rial”, avançou A1berto. 7.29 Luta por terra jornal a capital No terreno, o A Capital ouviu a ver­são da Iª secretária da 26 de Novembro de 2011 OMA, Adelaide Paulina. De acordo com ela, devido as constantes queixas de burlas ou ocu­pação de terrenos e, Pedro Francisco Henriques de 38 anos foi barbara- visando combater os assaltos nocturnos, foi constituído mente es­pancado por elementos liga­dos a uma suposta um grupo de rondas nocturnas, que também vela pela Comissão de moradores que se fizeram passar por fiscais urbanização do bair­ro. no bairro Deolinda Rodrigues, algures no município Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 114

Este grupo acrescentou, é que tem entrado em con- 7.30 Demolições e promessas do flitos com os morado­res. A mesma reconheceu que governo de Luanda houve, sim, espancamentos no bairro que en­volveram jornal a capital o senhor Matondo e alguns cidadãos. 26 de Novembro de 2011

“O senhor Matondo teve brigas com cerca de 17 Cansado de viver na tenda está Maid Bumbas, uma elementos e ao longo dessa briga soube que houve das víti­mas das demolições de 2004 no bairro da feridos”, confirmou, mas observou que “nós inter- Cambamba. Disse à nossa reportagem que desde a altura viemos imedia­tamente, encaminhan­do-os para o em que perdeu a casa até ao presente, vivem de promes- hospital. sas dos diri­gentes do país. “Depois das demolições, o GPL, orientou que permanecêssemos cada um no local “A casa destruída é de um cidadão que foi en­contrado onde havia a sua casa. É onde estamos a viver até hoje, a pernoitar ao relento com uma arma de fogo. Ao em cabanas de chapas, comas nossas famílias”, frisou. ser interpe­lado, disparou contra o pessoal da ronda. Parti­cipamos o caso à Polícia e o camarada tivera Acrescentou que no dia 02 de Agosto de 2007 tinham sido detido”, explicou a res­ponsável da OMA, pontu­ sido visitados pelo minis­tro das Obras Públicas, Higino alizando que, enquanto esteve preso, o primo do carneiro, que lhes prometera realoja-los no Zango­-III ou mesmo é que destruiu a cabana, alegadamente porque quatro. “Em 2008 veio cá uma comi­tiva do MPLA lide- as chapas eram dele. rada pelo e camarada Dino Matross. Fez as mesmas pro- messas. Até agora nada vimos a respeito do prometi­do”, De salientar que as vitimas mais frescas das demolições exclamou com o rosto carregado. Pe­dra Bata é outro são cerca de 120 famílias que residiam nos arredores cidadão que no mesmo período perdeu a sua casa no do Dispensário de Tuberculose de Luan­da algures no bairro Bagdad sob a justificação do GPL, se­gundo a bairro Shaba. O A Capital foi ao local e constatou qual, tinham que ser banidas as construções anár­quicas. dos moradores que restam no local o destino dado aos seus confrades de longa data. Dona Bela é também “Diziam que construímos anarquicamente ou de forma uma das mora­doras do bairro que espera conhecer o ilegal, mas a Administração do Kilamba Kiaxi sabia da mesmo destino dentro de mais ou me­nos dias, uma existência do bairro. Hoje vão lá ver o que estão a fazer vez que a casa dela já foi enumerada e, quando isso nos nossos terrenos? Será que só eles é que devem viver acontece, não se espera mais nada. bem neste país?”, indagou o cida­dão, para a seguir recor- dar que no dia 07 de Junho deste ano, manti­veram um “Estamos todos na iminência de sair daqui do bairro”, encontro com o GPL, 00 que, 00 que, tudo o que lá acredita ela que diz viver no bairro há cerca de 18 ficou acordado nada foi cumprido. anos. “Daqui a dias virão com outras mentiras com o aproxi- José Tavares, 47 anos, ainda não foi desalojado, mas mar das eleições para caça­rem os nossos votos”, deduziu já se queixa de sauda­des do bairro caso isso aconteça. Hata. Re­corde-se que fruto das demolições e o não É lá onde ele tem suas raízes de amizades e de traba- realojamento as vitimas haviam tentado manifestar-se lho, ao longo de uma vivência de 22 anos. junto do palácio presiden­cial, uma tentativa, no entanto, “Meus filhos se fizeram homens aqui. Uns já são pais gorada. Os populares pretendiam pedir explicações ao e donos de casa. Estamos prontos para sair desde que Presidente da República sobre as demo­lições das suas nos alojem em casas condignas e não em tendas como residências e saber onde passariam a residir. O desejo tem sido noutros bairros”, reivindicou, concluindo que esbarrou numa barreira policial, fortemente arma­ que mesmo nas áreas de transferência de­vem colocar da, apoiada por uma brigada canina e de­zenas de veí- muitos autocarros à dis­posição. culos de combate. As demoli­ções, só em Luanda, terão “Os vizinhos que foram para o Panguila estão a recla- deixado cerca de três mil famílias ao relento. mar os gastos com o táxi, porque muitos deles traba­ lham nestes arredores. As senhoras têm cá as suas As várias promessas de resolução das «violações das vio- fontes de negócio”, manifestou. lações de direitos hu­manos pelo Governo da Província de Luanda” no que às de­molições, desalojamen­tos forçados e esbulhos de terras diz respeito, mereceram uma refle­ xão por parte da organi­zação não governamen­tal SOS Habitat, no dia 19 último. O acto que se subordinou ao tema, “Violações dos direitos humanos em Angola e promessas documenta­das não honradas pelo Governo da Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 115

Província de Luanda”, juntou jornalistas e membros “Vamos dirigir uma missiva assinadas pelas vitimas de das comunidades achadas vítimas de demolições da demolições em Luan­da ao Presidente da República para ilha de Luanda, viven­do, actualmente, em ten­das nos exi­gir que resolva ºs problemas das pes­soas vitimas de bairros zango, Cambamba I e II, Banga Wé, Bagdad, demolições da llha de Luanda, actualmente a residirem Dangeré, no município do Kilamba Kiaxi, para além em tendas no zango, município de Viana. dos sinistrados das chuvas de 22 de Janeiro de 2007 e os que, em 2009 reque­reram e pagaram mil e 500 kwanzas no Banco BPC, terrenos, que de­ram entrada 7.31 Reservas fundiarias foram ocupadas nas administrações mu­nicipais, afim de integrá-los ilegalmente num am­biente social digno e harmonioso. Jornal de Angola 29 de Novembro de 2011 Ao usar da palavra, Rafael Morais da SOS Habitat, começou por dizer que a “impunidade dos violado- Na localidade de Capari Novo, província do Bengo, res dos Di­reitos Humanos continua a ser a caracte- centenas de pessoas ocuparam Ilegalmente as reservas rística principal da situação”, se não fosse, destacou, fundiárias do Estado e pretendem construir casas A “milhares de vitimas de desalojamentos forçados não esses espaços. A Informação foi divulgada ontem, no continua­vam a aguardar por justiça”. “A maioria Caxito, por Fonseca Canda, administra­dor municipal das tentativas de processar violadores dos direitos adjunto do Dande. humanos junto dos tribu­nais não chegaram a um momento de julgamento e sentença”, recordou o acti- Fonseca Canda garantiu à comu­nicação social que há vista social que critica a falta da par­te do Governo de muita gente a ocupar terrenos ilegalmente. Na zona uma postura de reco­nhecimento de direitos, valoriza- de Capari Novo existem duas reservas fundiárias, ção, promoção e protecção da maioria dos cidadãos. uma das quais pertence ao Gabinete de Recons­trução Nacional, com uma área de 2.127 hectares, destinada Rafael Morais vai mais longe e acusa o Governo de à cons­trução de habitações. usar modelos de desenvol­vimento muito arcaicos, segundo ele, baseados no modelo de crescimento da Com a recente divisão adminis­trativa, que altera os cidade planificado na época colonial. limites geo­gráficos das províncias de Luanda e Bengo, “É um modelo que se centro na expan- ~ são da “verificou-se a invasão das reservas fundiárias “, infor­ cidade para as periferias onde vive gente vulnerável mou Fonseca Canda. e, cada vez mais pobre”, expressou, acrescentando que é tudo parte de um plano bem estudado, visando Revelou igualmente que existe uma terceira reserva a expulsão forçada das pesso­as. “É um modelo de fundiária, tam­bém na localidade do Capari, com desenvolvimento económico e político urbano que, uma área de 3.215 hectares, sob res­ponsabilidade do ob­jectivamente, exclui, expulsa e reprime com vista Governo Provin­cial do Bengo: “também esta reser­va a promoção da apropriação de terras e a realização de está a ser invadida porque o Go­verno Província do rendimentos das elites”, considerou. Bengo não tem o controlo da área que só agora passou para a sua jurisdição”. A Ad­ministração Municipal do Na óptica de Rafael Morais, o actual cenário só Dande não cedeu nenhum espaço naquela zona, pôs serve para atiçar os ânimos de pessoas já frustradas, isso, “qualquer ocupação é ilegal”. Fonseca Canda concluindo que as manifestações da juventude que denun­ciou que os ocupantes levantam casas de chapa hoje se observam são fruto de algumas destas atitu- e capim para depois extorquirem dinheiro ao Estado des incubadas na alma dos adolescentes ou mesmo quando forem desalojadas. crianças. “Estamos a falar, por exemplo, de mi­lhares de crianças provenientes da llha de Luanda, actu- Neste momento, segundo o re­presentante da almente a viverem em Tendas no Bairro zango e as Administração do Dande, há mais de 4.000 ocupan- dos realoja­dos da Tchavola e Tchimucua na Huíla, tes ilegais nas reservas fundiárias do Estado, “o que Cambambas e outras comunidades, que a qualquer impede o ordena­mento do território”. momento podem revol­tar-se, porque vivem os efeitos das vio­lações”, exemplificou, avançando que em face Fonseca Canda é de opinião que “as ocupações têm da situação vigente, adivinha­-se que nos próximos contornos políticos” e revelou que já foram toma­das meses, caso não se resolvam as promessas, o Governo medidas para estancar a situa­ção. “Reunimos com Provincial de Luanda pode ser levado às barras do os ocupantes ilegais nos locais onde construíram e Tribunal. foram intimados a abandonar as reservas fundiárias de imediato, mas muitos não acataram as or­dens”, Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 116 disse Fonseca Canda. Mas a Administração do Dande vai avan­çar com. medidas drásticas “porque esta prática é, um crime não pode­mos tolerar acções criminosas”. Uma das reservas ocupadas está destinada à construção de uma no­va centralidade.

“A Administração Municipal do Dande tem os equi- pamentos e meios técnicos necessários para in­tervir no terreno e começar o seu trabalho de limpeza dos terre- nos”, sublinhou Fonseca Canda.

Por outro lado, pontualizou que após o loteamento, os interessados na aquisição de terrenos deverão dirigir-se à Administração munici­pal do Dande, para cumprir com as formalidades, tendo em conta a ob­tenção de terrenos. A pergunta sobre os critérios de cedência de terrenos com interes­ses económicos, que compreendem a extracção de terra vermelha, burgau, água, pesca e o potencial turís- tico, com amplas zonas lacus­tres e à beira-mar, Fonseca Canda frisou que a administração saberá fazer a distin- ção das diferentes áreas para o melhor aproveitamen­to, e em prol da economia do país.

“Apelamos para que abandonem as áreas, para fazermos as separações entre o interesse económico e o so­cial”, disse Fonseca Canda.

Adiantou que nos critérios de 10­teamento existem par- celas para re­sidências de renda baixa, média e alta. “As pessoas estão a ocupar grandes extensões de terreno, UIlJ hectare, outros 600 metros quadra- dos. isto não é possível. Temos que ser organizados e não incorrermos em deso- bediência ci- vil”; alertou o funcionário séniorda Administração do Dande, provín­cia do Bengo.

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8 SERVIÇOS BASICOS citando as regiões do Zango, na Viana, e do Panguila, no Cacuaco, pontos satélites de Luanda. Segundo as autoridades responsáveis por esses locais, a pressa do governo materializar determinados projectos leva a 8.1 Pobres pagam pela água dos ricos de­salojar as populações e realojá-los nessas centralidades Jornal semanario angolense mesmo que 1S condições básicas não tenha sido garanti- 05 de Novembro de 2011 das. Isso inclui, claro, o acesso à água através da canali­ zação devida e a sua distribuição. Prece ser uma das maiores preocupações do governo – e deveria mesmo ser – pelo alarde que se faz em torno da A orientação do governo é que as infra-estruturas, como questão, de um lado, e do outro, pela neces­sidade pri- a rede de abastecimento do preciso líquido, sejam feitas mária que constitui o acesso ao produto – a água. Mas o gradualmente, depois de «instalar» as pessoas nas casas. resultado do estudo recentemen­te divulgado pela orga- Por isso, nessas regiões, a falta de água é crónica e a bata­ nização não-governamental internacional Development lha para se conseguir «cartá-la» é heróica. São longas Workshop (DW) só veio praticamente confirmar de caminhas com bacias, baldes e bidões «na cabeça» para maneira mais formalizada aquilo que a população já vive «estocar» às vezes apenas 10 litros de água por dia. e constata na prática. A recomendação da Organização Mundial da Saúde, Saiu desse estudo a conclusão de que os cidadãos pobres segundo o dirigente da DW, é de que, por dia, em con- pagam aproximadamente 20 dólares por cada metro dições normais, uma pessoa consuma 60 litros e, em cúbico de água, ao passo que, para usufruírem da mesma situações de emergência, no mínimo 20 litros, nas mais quantidade do precioso líquido, os cidadãos mais ricos diversas actividades. Isto quer dizer que além de pouca, pagam apenas um mísero dólar. Isto é: os que ganham a quantidade de água consumida por cada cidadão entre pouco ou quase nada, que são a maioria, pa­gam dois nós, nos termos de uma vida salutar, é um atentado. mil kwanzas (pelo actu­al câmbio das kinguilas) por mil «Isto não é bom para a saúde humana», diz Allain Cain. litros de água. E os que ganham muito ou quase tudo pagam so­mente 100 kwanzas pela mesma quantidade Se para as camadas mais po­bres as infra-estruturas de água. para o acesso condigno à agua podem ser feitas paula- tinamente, uma vez que não se tem outra opção, senão Como grande parte dos cida­dãos da faixa dos mais aceitar o destino que lhes é imposto, para as camadas «balados» é • constituída por pessoas ligadas ao poder mais abastecidas, o próprio governo faz questão que e logo abaixo deles vem a faixa dos funcionários públi- a coisa seja diferente. O maior exemplo desse critério cos privilegiados, o pacote das suas benesses não poucas segregacionista é-nos dado pelos apartamentos de classe vezes inclui a isenção do pagamento da con­ta de água, média/ alta da cidade de Kilamba Kiaxi. sendo isto feito pelo Estado. Mesmo quando o liqui­do não chega, ou vive a secar nas torneiras, os camiões-cis- Há a impressão de que, neste caso, não houve pressa de ternas, em muitos casos, são subsidiados para encherem se ter­minaram as residências da cidade do Kilamba, já os tanques dos «chefes». Eis a extensão do dese­quilíbrio que aí estão todas as condições criadas para oferecer água total. suficiente a quem lá for mo­rar. Longe da realidade dos que «cartam» água todos os dias pelos «zangos» da vida, O director-geral da DW, Allain Caiu, citado pela revista são os cidadãos de classe média e classe média alta é que «Econo­mia & Mercado», na sua análise diz que se a água vão ocupar aquelas casas. É a consumação da injustiça continuar a ser distribuída gratuitamente aos ri­cos não social promovida entre nós. haverá fundos para o Es­tado recuperar os investimen- tos, garantir a manutenção das con­dutas que estão a ser Haverá tempo de refazer qual­quer mal entendido que instaladas, nem meios para alargar a rede às zonas ainda supos­tamente poderá existir na leitura que se faz dessa não beneficiadas. conjuntura? O «homem-cabela» da DW é de opi­nião que o Estado deve permitir a entrada de operadores pri- Mas, parece que o juízo do Es­tado segue outras direc- vados neste nicho do mercado, sem se abdicar do com- ções e es­tabelece as prioridades de acordo com as neces- promisso de sub­vencionar o consumo da água. «Se o sidades da elite, cuja nata está enlaçada ao poder. valor gasto pelos pobres na aquisição da água pudesse ser re­cuperado pelas autoridades, daria para estender a Um exemplo dessa observação são os critérios levados rede até às zonas suburbanas», anota. a cabo na construção das casas ditas so­ciais, localiza- das nas periferias das grandes cidades, particu­larmente, Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 118

Há um dia de dinheiro que cor­re nas regiões periféricas Foi igualmente construído um reservatório de distri- de Luan­da, cuja fonte são os pobres, e que dá um banho buição semi­enterrado, com capacidade para cinco mil frio na EPAL. Um mercado avaliado em 250 milhões metros cúbicos de água, e concluída a rede geral de de dólares em cada, em todas as formas de consumo distribui­ção. O governo gastou 10 milhões e 350 mil de água prati­cadas por esse mundo «desgraça­do». dólares. Enquanto a EPAL, conforme o documento elaborado pela DW, arrecada apenas 17 milhões de dólares anuais Com a conclusão do segundo lo­te do projecto, que con- em cobranças pelo fornecimento do serviço. sistiu na distribuição de água ao domicílio bem como da construção de 93 fontenários nas zonas suburbanas, os Assim, mais ou menos 233 milhões de dólares passam habitantes sentem-se agora mais folgados. por baixo da ponte da informalida­de. Mas longe de ser um vilão para a população, a «candonga» da água Esta empreitada esteve a cargo da empresa “Abrantina é a única saída visível no universo das necessidades dos Construto­ra”, e custou aos cofres do Estado oito pobres, onde o Estado, sejamos realistas, ainda não é milhões, 414 mil e 793 mil dó­lares. Actualmente, com capaz de lá chegar. Perde o Estado, sim. Mas, os cida- mais de 150 habitantes, para além da nova conduta dãos, pelo menos, não morrem de sede. adutora do rio Mucari, Ndalatando possui mais duas con­dutas erguidas na década de 50, sendo uma de água mineral, a partir da fonte da “Santa Isabel”, e outra do 8.2 Abastecimento de água chega ás “Monte Redondo”, que produ­zem cinco e 20 litros por aldeias segundo, respectivamente. jornal de Angola 11 de Novembro de 2011 População aplaude Anteriormente, com a escassez que se fazia sentir um O programa “Água para To­dos” melhorou este ano a pouco por to­da a cidade e arredores, era possí­vel assis- vida das populações do Kwanza-Norte, elevando para tir a distribuição da água a ser feita por camiões cister- aproximada­mente 200 mil o número de pes­soas com nas ad­quiridos pelo Governo da provín­cia do Kwanza- acesso directo à água potável com a Instalação de sis­temas Norte, visando ate­nuar a carência no fornecimento do no Mussabo, Tango, Luln­ga () e Samba-Caju. referido líquido às p6pulações, contribuindo também para a pre­venção de doenças causadas pelo consumo de A par destas localidades, todas as vilas municipais da água imprópria. província já possuem água potável a jorrar nas torneiras, bem como a maioria das comunas e aldeias da província As cisternas circulavam todos os dias nas redondezas dos dispõem igualmente de novos sis­temas de abastecimento bairros Ndalatando, 28 de Agosto, 11 de Novembro, e trata­mento de água. dentre outros. Apesar disso registavam-se grandes alvo­ roços para cada pessoa conseguir encher o seu recipiente, Os habitantes da cidade de Ndalatando já respiram dado o pouco tempo que as viaturas, insu­ficientes para a de alívio, agora que está concluído o novo sistema de demanda, perma­neciam nessas zonas. captação e distribuição de água, entretanto erguido na área, identifi­cado na década de oitenta na repre­sa do rio Actualmente, com a água a jorrar nas torneiras das ruas Mucari, localizada a 17 quilómetros a Leste da cidade. da cida­de, bem como dos fontenários es­palhados pelos O sistema tem capacidade para bom­bear 90 litros por bairros periféricos, é já notável a satisfação das popu­ segundo. lações que há muito almejavam este benefício.

As obras incluíram duas fases: a primeira teve a ver com A reportagem do Jornal de An­gola ouviu alguns bene- a captação e tratamento da água e consequente acumu- ficiários, os quais congratularam-se com o es­forço feito lação nos reservatórios. Tais trabalhos terminaram em para a melhoria do abastecimento de água, tendo alguns Março de 2009. A segunda fase consistiu na reabilitação deles solicitado o reforço do traba­lho realizado no da captação a partir do Mucari e terminou com a distri- tocante às ligações domiciliares, uma vez que as novas buição às residências. canalizações fixam-se apenas até aos contadores de cada residência. A cargo da empresa chinesa Si­no-Hydro, os trabalhos envolve­ram a reabilitação de 7,5 quilóme­tros de tubagem A senhora Constância Francisco, moradora há mais de em “PVC” e fer­ragem para adução de 9,3 quiló­metros, 10 anos no bairro Sambizanga, referiu que a sua família para além da nova capta­ção, conduta adutora e estação deixou agora de percor­rer longas distâncias para conse­ de tratamento. guir água, tendo sugerido um au­mento do número de Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 119 fontenários no seu bairro, para poder diminuir o fluxo lidade. A equipa de reportagem deste jornal visitou os de pessoas. Municípios do Ran­gel e Kilamba Kiaxi para ver de “Estamos muito contentes, é um passo bastante louvá- perto, como as pessoas fazem para conseguir líquido vel. Nós des­de sempre consumimos água das cacimbas. precioso. Tínhamos de andar lon­gas distâncias para conseguir boa água, agora já não, só pedimos que acrescentem mais Pela ausência da água corrente nas torneiras de casa, o fontenários pa­ra nos ajudar, porque devido às en­chentes negócio da água, nos bairros Sapú e Nelito Soares zona a confusão também au­menta. Somos muitos e a água é da Cs, na periferia de Luanda, ganha corpo. Muitas pouca”, referiu. famílias têm a grande dificuldade de conseguir o líquido que consideram até mesmo ser mais va­lioso que o ouro. Por outro lado, Helena Zamuna, doméstica e mora- dora na rua da emissora há mais de 30 anos, frisa que o Na comuna do Nelito Soares, zona da Cs as di­ficuldades número de cidadãos na cida­de cresce todos os dias, pois são ainda maiores, porque grande parte dos moradores, a procura do precioso líquido era urna das maiores dores preci­sam se deslocar até a zona da Precol ou até mesmo a de cabeça na cir­cunscrição. Salienta que o novo sistema zona do mercado do Tunga para conseguir água potável. que todos os dias leva a água à comunidade tranquiliza de que maneira os moradores da área. Aumentaram os Numa breve ronda efectuada pela nossa equipa de repor- níveis de oferta e diminuiu a procura. tagem ao in­terior do bairro Rangel constatou-se que há mais de oito anos que os mo­radores da comuna com o mesmo nome estão sem água nas torneiras. Filomena 8.3 Água dificil para todos Manuel, 49 anos morado­ra na rua da C10, contou que Jornal a capital quase todas as casas da sua rua tinham água canali- 12 de Novembro de 2011 zada, mas que desde o ano de 2002 que são obrigados a comprar em camiões cisternas 1000 litros de água por Numa altura em que o Che­fe de Estado, José Eduardo 4 mil kwanzas. “Para quem, como eu, tem seis pes­soas dos Santos, proferiu na Assembleia Nacional, no passado em casa sou obrigada a gas­tar, de duas em duas semanas, dia 22 de Outubro, um discurso sobre o estado da 4 mil kwanzas, o que arromba com o orçamento fami- Nação. Discurso, que foi aguardado com mui­ta expec- liar”, lamentou. tativa, por todos os cidadãos nacionais e não só. Segundo ela, já foram feitas várias solicitações, junto às Durante o discurso, o Presidente da República fez administrações comunal e municipal, para encontrar uma pormenorizada ra­diografia de todos os sectores da uma solução, mas o que é verdade, volvidos qua­tro anos, go­vernação. Assim, todos os angolanos tomaram conhe- “nem água vai, nem água vem”. Marisa Solange, outra cimento, do que está a ser feito em cada sector, dentre moradora ouvida pela re­portagem do Jornal A Capital, eles estava o sector da Energia e Água. revelou que, não acredita que o Rangel volte a ter água como antiga­mente. Apontou os lençóis freáticos que Para melhor orientação de todos os cidadãos, o Chefe de ameaçam engolir o bairro e as obras inacabadas nas Estado garantiu que já se pensou vários projectos de média es­tradas como facto­res de impedimento. Declarou ainda e grande envergadura, para assegurar o abastecimento que, existe muita gente a ganhar fortunas com o negócio de água a muitos centros urbanos, mas não existe por dos camiões cis­ternas que vendem a água no bairro. Por enquanto uma carteira nacional de projectos estruturantes, isso, senten­ciou que, “não vai ser tão cedo a reposição que resolvam, satisfatoriamente, o problema da água. da água, no bairro Rangel”, frisou, subli­nhando mais adiante que o negócio dá de comer a muita gente e nós No sector da Energia e Aguas destaca-se o facto do Chefe que com­pramos somos, os mais prejudicados em termos de Estado ter frisa­do a importância do programa “Água de gastos”. para Todos”, que na sua óptica 1,2 mi­lhão de pessoas já beneficia com água potável. Assim, o consumo de água Dona Quina Francisco, moradora no bairro Nelito passou de 67 litros por habitante, isto é, por dia, em Soares, disse à nossa equi­pa de reportagem que, 2008, para 101 litros por habitante por dia em 2011, num an­tigamente no bairro saía água, mas com o passar do cres­cimento de 51 por cento. Até ao ano de 2012, este tempo tudo foi mudando e desde o não de 2003 que não programa tem como objecti­vo assegurar o acesso à água têm água, a jorrar das torneiras e por vezes. potável, a pelo menos 80 por cento da população rural. “Estamos há mais de oito anos sem água corrente e Mas, isto não se vê em vários pontos da cidade capital, ninguém diz nada sobre o assunto”, disse, acrescen­ água potável para todos está muito longe da nossa rea­ tando que os jovens que acarretam a água, em bidões, Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 120 cobram muito caro. “chega­mos a pagar muitas vezes 250 e «HDA». Nesse bairro, algumas moradias, pró­ximas da kwanzas(kz) por bidão”. Para a moradora, nem sempre estrada, têm energia eléctrica, mas noutras (distantes da há bolso para aguentar a situação. Por isso, opta por pro- estrada), há cidadãos que não beneficiam desse bem há curar ela mesma, a água gastando somente 20 kz, econo- mais de 30 anos, segundo constatou este jornal. mizando o máximo possível. O nosso primeiro entrevis­tado foi Venâncio Tchivinda, Já Garcia Leandro, 37 anos, morador do bairro Sapú, o mais antigo morador da comuna do Ngulo, localizada revelou que no seu bairro nunca houve água nas tor- no referido bairro, que aí reside desde o ano de 1981. neiras e esta situ­ação, é um dos muitos problemas que Segundo ele, desde en­tão, o maior problema sempre o bairro enfrenta e por este motivo, as pessoas vivem foi a falta de energia eléctrica e água canalizada. «Para prevenidas, construindo tanques ou até mesmo acumu­ falar verdade, nunca tivemos em momento al­gum estes lam bidões em casa. dois bens, desde que se começou a erguer casas nesta circunscrição.» “Para o meu caso, eu tenho em casa vários bidões para transportar a água sempre que haver necessida­de”, A falta destes dois recursos tornou-se numa praga para salientou, aludindo que a água para o banho deve ser a os moradores, disse, explicando que alguns até têm conta gotas. energia, mas não é da rede da EDEL e, sim, de pequenos «puxa-puxa» que os vizinhos criaram, e também não é Em tom de desaba­fo explicou ainda que chega a ser energia com que possam contar, porque «mais vai do que cansati­vo, os vai e vem com o carro de mão “É abor- vem»).Para se ter a casa iluminada, só com gerador, cujo recido, por vezes chego no local de trabalho rebentado, barulho é be­néfico para os assaltantes pratica­rem as suas mas para satisfazer a minha necessida­de tenho mesmo acções sem que sejam notados. «A casa de uma antiga que me sacrificar,” salientou. vizinha foi assaltada, ela clamava por socorro, mas não foi possí­vel socorrê-la, porque devido ao barulho dos José Benedito disse, à reporta­gem do Jornal a capital, geradores, ninguém ouviu nada», contou Lito Francis­co, que tem uma carrinha, uma forma que encontrou para morador do Ngulo, aju­dar os seus vizinhos. Está neste negócio há quatro anos. Con­ta que, o seu ganha­-pão começa com a recolha A nossa fonte perdeu a conta de quantos geradores já de bidões à porta do cliente, enche-os no fontanário da com­prou, tendo criado em sua casa uma oficina para Calemba II e a seguir faz a entrega, a cada um dos clien- reparação das máquinas. tes. E que não se pense, que o trabalho de José Benedito é feito de forma desorganizada. A situação em que se encontra o bairro mencionado é lastimá­vel, principalmente pelo facto de ser considerado de baixa renda, por isso, muitos residentes só po­dem 8.4 Bairros de Luanda sem energia melhorar as suas condições de vida em sonhos. Para há 30 anos agravar a desgraça dos cidadãos, além da energia e água, Semanário Angolese não existe sequer um hospital público ou uma es­cola 12 de Novembro de 2011 estatal, falando-se somente em clínicas e colégios.

A responsabilidade de distribuição de água canalizada e Para que explicasse os motivos desse exagerado tempo energia eléctrica à população tem sido uma tremenda dor sem ener­gia, contactámos o presidente da comissão dos de cabeça para aqueles que se com­prometem fazê-lo, o moradores local, Adelino Laurindo, o qual adian­tou GPL, pois, ainda se encontram, em alguns municípios da que, dentro de poucos meses, provavelmente ainda este cidade capital, populares que, desde a fundação dos bairros, ano, o bairro todo vai beneficiar de ener­gia eléctrica e nunca viram a «cor» da energia da rede, muito menos água água canalizada. canalizada. O Semanário Angolense conta a história de três «guetos» luandenses, nome­adamente, Os Ossos, muni- Acrescentou que será erguida uma escola estatal, que cípio do Sambizanga, Curtume (Cazenga) e Morro Bento lecciona­rá, pelo menos, até ao ensino mé­dio. «São as três lI, Samba, considerados como os líderes da escuridão, a coisas que estão no programa para este ano para o bairro começar pelo últi­mo, uma vez que esse conglome­rado Morro Bento II que pos­so adiantar», precisou. lidera a lista, com 30 anos sem água nem luz. A nossa equipa de reportagem tentou conversar com o O bairro Morro Bento II é vis­to como um dos bairros adminis­trador do município da Samba, Pedro Fançony, de alto risco desta cidade, tendo gerado grupos de delin- mas, infelizmen­te, como já se tornou habitual no exercí- quentes alta­mente perigosos, nomeadamen­te «Babilónia» cio da nossa função, os nossos esforços foram por «água Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 121 abaixo». Inclusive, marcámos uma audiência com o edil, quem tinha a responsabilização de concluir o trabalho mas até ao fecho desta edição, e apesar de ter prometido, e também pela própria acção erosiva do tempo. «Hoje, não nos contac­tou. Entretanto, Pedro Fançony foi exo- nada lá figura se­quer para contar a história», frisou o mais nerado quarta-feira, 22, do cargo, tendo para o lugar velho com um semblante triste Em 2008, na sequência sido no­meado Pedro Mal UIígo. Oxalá o seu substituto de reclamações feitas por um grupo bem organizado de consiga pôr fim ao sofrimento de 30 anos dos mora­dores moradores do bairro, a EDEL, em suposta colaboração do Morro Bento II. com a administração comunal do Ngola Kiluanje, terá orientado para que se fizesse uma colecta popular para Enquanto isso... ajudar nos gastos que a edificação do posto de transfor- «Ossos» completou 30 anos às escuras! mação que deve servir a zona há veria de requerer. «Cada O chamado Bairro dos Ossos, que se situa nas proximi- casa deu três mil Kwanzas e comprámos brita e areia, dades da Cadeia Central de Luanda, vulgo Comarca, no mas a obra não avançou, por falta de interesse da EDEL Sambizanga, é outro dos bairros completamente esque- e da própria administração comu­nal», diz outro idoso da cido pela EDEL: está, passe, há 29 anos sem energia área, onde mora há mais de 40 anos. eléctrica, depois de, em 1982, se ter ensaiado a monta- gem de um posto de transformação, que nunca chegou a Isaac Lucombo, 71 anos, acrescenta que quase todos os funcionar em 1 pleno. dias úteis faz um «vai e­ vem» entre a EDEL e a adminis- tração co­munal do Ngola Kiluanje para pressioná-­las a Desde então, a Empresa de Distribuição de Electricidade darem solução a este problema capital, mas o certo é que (EDEL) não parece nada interes­sada em solucionar o o seu esforço, que até não é isolado, tem sido em vão. problema da cabine eléctrica que lá estava a montar, «Prometem que vão aparecer, mas nunca surgem», diz, não se tendo dignado a justificar os motivos de tão pro­ de­solado, o velhote. «É demais», indigna-se. longado descaso. Os moradores interrogam-se se isto decorrerá de simples má fé das diversas di­recções que Como uma desgraça nunca vem só, os moradores do pela EDEL já passa­ram ao longo de todo este tempo ou Bairro dos Ossos ainda têm outro problema bicudo: por nesse musseque morarem pessoas que para as auto- falta de água potá­vel, cuja distribuição, em chafarizes, ridades não «contam». é de­veras irregular. Segundo uma das nossas fontes, o precioso líquido só jorra por al­guns instantes a partir São centenas de famílias a vi­verem às escuras, literal- das três da manhã: «A essa hora, com estes bandidos aí, mente, sem vislumbrarem a mais pe­quena luz no fundo quem tem coragem de sair de casa para acarretar água? do túnel, o que deve deixar qualquer mortal permanen- quase ninguém», expressou. temente com os ner­vos em carne viva. «É inacreditá­vel», diz, em conversa com o SA, um ancião dos seus 80 anos, Além disso, os munícipes queixam­ se do mau desempe- dos primeiros moradores que o bair­ro tem, desde que a nho da polícia local. «Ela nunca aparece quando o povo zona era mais mata que outra coisa, isto ainda ao tempo pre­cisa, a única preocupação dos agentes é mandar parar da outra senhora. carros para pedirem ga­sosas, mais nada. Aos bandidos da zona, eles deixam praticamente em paz», la­menta Segundo o velhote, identificado apenas por Miguel, a outro morador. falta de energia, além de complicar a vida dos moradores do Bairro dos Ossos, dada a importância que a «luz» tem Segundo a esposa do velho Miguel, avó Nazaré, que no dia-a-dia das pessoas, nos tempos que correm, acaba resolveu embrenhar-nos um bocado pela história, o por facilitar a acção dos grupos de bandidos locais, que Bairro dos Ossos ganhou esta denominação ainda ao fazem das suas, particularmente na calada da noite. tempo do colono, por ter sido erguido num descampado Acompanhado de sua esposa de sempre, ancião conta onde os matadouros de Lu­anda iam depositar os restos que nos primeiros tempos da conglomeração, nos idos dos animais que comercializavam. «Na altura, havia de 60, os morado­res do bairro consumiam energia for- poucas casas, mas depois alguém, desen­rascado, resolveu necida por uma empresa de sapatos, que lhes ofere­cia a construir a sua a partir dos ossos dos animais que eram luz sem exigir qualquer contrapartida. aqui depositados.­ E, de repente, começou a ser chamado Bairro dos Ossos’, Bairro dos Ossos’ e assim ficou até Anos mais tarde, segundo ele, já depois da indepen- hoje», conta a ve­lhota, a fechar a nossa conversa: dência e com a paralisação da beneficente empresa de sapatos, foi então que a EDEL deu os primeiros passos Para finalizar, Cazenga para a edificação do posto de transformação, que nunca Bairro Curtume há 27 anos... foi concluído até hoje. Tanto assim foi que o esqueleto da Depois deter passado pelos municí­pios da Samba e o cabine acabou por desaparecer, engolido pelo descaso de Sambizanga, a nos­sa equipa de reportagem fez mais Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 122 uma paragem. Desta feita, no município mais populoso, 8.5 Uma”dor de cabeça” sempiterna o Cazenga, concretamente no bairro Curtume, que jornal semanario factual também desen­rola uma história idêntica à dos outros 12 a 19 de Novembro de 2011 supracitados, onde os munícipes recla­mam a falta de energia há 27 anos. Com o surgimento da água na Terra, surgiram, igual­ mente, os seres vivos que dela dependem para so­breviver. Segundo os residentes, a história é sempre a mesma, Assim, vem sendo des­de que o Homem veio ao mundo, todos os anos, em tem­pos, apareceram agentes da pois, sem a qual, ele não poderia resistir. EDEL, na possibilidade de se construir uma nova Foi por isso que, com o desenvolvimento das so­ciedades, cabine, infelizmente, até hoje, não vêem nada, apenas a questão da água sempre foi motivo de discórdia, quer criaram expectativas. para a sua navegabilidade nos mares e rios, como para a sua uti­lização doméstica. Quando os repórteres se deslocaram ao bairro, eram pre- Mas, para que a água chegasse aos domicílios, os homens cisamente 18:30m, a área estava completamente escura, criaram as condições, a fim de que ela estivesse à mão de notava-se nas paragens habituais de táxi ausência de semear dos cidadãos. pessoas, porque o perigo tem sido eminen­te no calar da noite. «A estas horas, aqui já não pára táxi, por causa da E, deste modo, na maioria dos países do mundo, a água delinquência e os inúmeros casos de roubos que se tem disponível aos seus habitantes é po­tável, sou seja, saudá- cons­tatado», disse um dos munícipes, que não se quis vel para o consumo, no geral. identificar, acrescentando que, desde a sua nascença, naquele bairro, nunca viu um sinal da energia da rede, E, por mais incrível que pareça, a água, tal como a roda acostumando-se assim com o barulho de geradores. e a electrici­dade, sempre andaram de mãos dadas, pois, sem a qual, não há barragens e sem barragens não há Januário Sebastião, residente há 24 anos e presidente da energia que possa abaste­cer os milhões de cidadãos do comissão de moradores do sector 17, reafirmou que o mundo, o que implica que esse trinómio deve ser sempre bairro já se en­contra nestas condições desde então, por levado em conta quando se pensa em de­senvolver esta razão, decidiram criar uma comissão. Tal comissão cidades, vilas, aldeias ou povoações. já realizou vários encontro.s com a administração muni- cipal do Cazenga, no sentido de se criar um programa A nível dos grandes países industrializados, a canaliza- de implementação de cabinas, mas desde que foi acor- ção de água potá­vel para as várias comuni­dades já não dado, em 2008, até à data presente, não vemos qualquer apresenta qualquer impedimento, quiçá há séculos, pelo resultado positivo.» aproveitamento racional dos seus rios e mares, ao contrá- rio dos países do Terceiro Mundo, onde o acesso à agua Os munícipes explicam também que os enfermeiros potável, pelas populações, ainda é difícil, por diversas do centro de saúde do Cazenga, localizado no bairro razões, muitas das quais podem ter a ver com o fraco Curtume, no período nocturno atendem os pacientes à in­vestimento no sector e à não manutenção das redes luz de velas. Há poucos meses, a administração ofereceu instaladas e que se deterio­ram ao longo do tempo. um gerador ao centro, mas quando não há combustível, Aliás, o acesso à água potável é uma das “dores de ou se o gerador apresenta difi­culdades, o clima que se cabeça” constante na Declaração Universal dos Direitos vive é o mesmo. Humanos, já que o uso desta é um direito humano de dignidade. Importa realçar que este é apenas um ínfimo retrato dos bairros luandenses que se encontram nesta situação Porém, nos países, par­ticularmente os desérticos, onde crítica, que não mais deveria se prevalecer nesta cida­de, a falta de chuva é quase permanente, a ca­rência de água por se tratar da capital do país e ser considerada a mais tem contribuído para a mortali­dade infantil, a fome e cara do mundo. Já está mais do que na hora de o governo a pobreza, recorrendo, quando isso acontece, à ajuda provin­cial pensar numa rápida solução, exigindo mais internacional. trabalho às empresas vocacionadas para tal, para que o nosso país possa co­meçar a mostrar, pelo menos, indí- Ademais, por falta de recursos financeiros, muitos países cios de desenvolvimento.• se vêem e se desejam para levar a água a todos os aglome­ rados populacionais que, nesses casos, sobrevivem com água bruta de rios, de lagoas e de lagos, com as con- sequências pre­visíveis, nomeadamente diarreias agudas, proble­mas da pele e cegueira, causados por parasitas aquáticos. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 123

PNUD leva em conta IDH Mesmo assim, a ener­gia fornecida pelas barra­gens e cen- Por isso é que, no qua­dro do PNUD, um país, para trais térmicas ao país é ainda insuficiente, agora que as se dizer desenvolvido, tem de melhorar o Indice de cidades, as vilas, as comunas e as po­voações se desenvol- Desenvolvimento Hu­mano (IDH) dos seus cidadãos, vem, tendo sido já avançada pelas autoridades a neces­ pois o ID H pas­sa pelo acesso à água potável e à energia sidade de construção de mais cinco barragens, para que eléctrica satisfatória. a energia eléctrica chegue ao mais recôndito canto de Angola. Sem esses dois “itens”, com o agravamento das condi- ções sociais, com o desemprego, o fraco apoio estatal A ser assim, e com os investimentos de peso, ver-se-á que e sem um salário condigno, jamais as popu­lações dos quão neces­sário é fornecer melhor energia eléctrica, pois países em de­senvolvimento verão o seu IDH justificado. as necessidades do dia-a-dia não se compadecem com Para que a água potável e a energia eléctrica de qualidade lamparinas e velas, que são a solução inteligente sem­pre estejam disponí­veis às populações, é pre­ciso que inves- a escuridão surge. timentos avultados sejam aplicados nesses dois sectores, pois, sem rede instalada e a sua ligação às residências, um longo percurso tem de ser executado. Relativamente 8.6 Um chafariz ao deus dará no a Ango­la, que assinalou a 11 de Novembro o seu 36° ani­ kilamba kiaxi versário da independência, a questão da água potável e Jornal a capital da energia eléctrica de qualidade tem estado nas preocu- 12 de Novembro de 2011 pações do Execu­tivo que vem trabalhando para a imple- mentação do programa “Agua (potável) para todos”, que O Governo Provincial de Luanda construiu vários fon- até hoje beneficiou já um milhão de habitantes. tanários m bairros periféricos da capital­. Um desses fon- tanários foi instalado no bairro Calemba II, município Claro que, com o fim do conflito, em 2002, o Executivo do Kilamba Kiaxi. Hoje, o local é um autêntico pôs mãos à obra para a reabilitação das canalizações mercado de água. As filas começam a formar-se logo obsoletas, à renovação da tubagem nas cidades e vilas pela manhã. Para muitos cidadãos, no encher e acar­ e, acima de tudo, aumentou, para ní­veis superiores, o retar o maior número de baldes, banheiras e tam­bores abasteci­mento de água potável a uma maior franja de água está o lucro. Constatamos que, há um grande popula­cional. desperdício de água nos vários fon­tanários, instalados um pouco por todos os bair­ros periféricos da cidade No entanto, o acesso à água potável ainda é uma capital. As mangueiras são muitas vezes deixadas no miragem para a maioria dos cidadãos angolanos, dada chão, com muita água a jorrar por todos os lados. Crian­ a extensão territorial (um milhão, 246 mil e 700 quiló- ças, jovens e adultos dão-se ao luxo de se banharem no metros quadrados), embora o país seja rico hidrografica- local, deixando tudo à volta em autênticas lagoas. Lito mente, ou seja, tem um grande potencial hídrico, com Simão é um dos muitos jovens, que gerem o fontanário centenas de rios e de riachos, sem contar com um litoral da Calemba II. Ele conta que, a sua função é cobrar a de Ca­binda ao Namibe. água aos consumidores e, de quan­do em vez, orientar a limpeza do lugar, porque à volta do fontanário pára Deste modo, não há ra­zões para que a água po­tável não mui­to lixo. venha a abranger todos os habitantes até 20015, meta preconizada pelo Executivo, num es­forço financeiro O jovem responsável pelo fontanário da Calemba II, gigantesco.­ disse que tem sido mui­to difícil, convencer os consu- midores a não desperdiçarem a água. “Eles não querem No tocante à energia eléctrica, a situação é me­nos boa, saber”, disse resignado. Questionado sobre o destino do devido ao cresci­mento das cidades, aos obsoletos cabos dinheiro arrecadado no local, justificou que a admi- de trans­portação e ao uso indevi­do da energia eléctrica nistração já não mostra in­teresse em recolher o refe- pe­los beneficiários, pesem os milhões de dólares que rido dinhei­ro, por isso ele em companhia dos ami­gos fo­ram e vêm sendo investi­dos pelo Executivo. dividem entre si.

Daí que seja inter­rompido, quase sempre, o forneci- Nisso tudo quem mais sofre são as donas de casa. Adelina mento de energia aos vários municípios de Luanda, por Rosalina é uma dona de casa, que gasta todos os dias exemplo, para trabalhos de manutenção para a instala- 200 kwanzas para ter água em casa. Quando há falha de ção de novos cabos e, igualmente, a reti­rada de cabos água, no fontanário então gasta 500 kwanzas ou mais. A ligados ile­galmente e que contri­buem para os apagões dona de casa disse ainda que, nos últimos dias têm tido que, às vezes, se prolongam mais de um mês. muitas dificulda­des para conseguir o líquido, porque o Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 124 pessoal que está a gerir não pertence a administração acertada. Não estaríamos a viver os problemas que atra- municipal. “Tudo está abandonado, os jovens que vivem vessamos actualmente”. no bairro é que estão a gerir e subiram a tarifa”, explicou. O administrador comunal do Ne­ves Bendinha, Manuel Muitas pessoas optaram, por fazer do negócio da venda Feliciano, afirmou à Angop que a reabilitação da refe- de água, como a principal fonte de rendimentos e sobre- rida via é da responsabilidade do governo provincial de vivem somente disso. O negócio remonta há anos, Luanda. alguns bairros não possuem água canaliza­da e esta é dis- tribuída ao domicílio. Com 9,50 metros de largura e uma extensão de cerca de três quilóme­tros, a rua Olímpio Macuéria come­ça Lito Simão, reconhe­ceu também que o lixo e as águas junto ao Hospital Sanatório, no Palanca, e desemboca paradas são prejudiciais à saúde, razão pela qual, sempre na Machado Saldanha, no Neves Bendinha. que pode, ele e outros jo­vens fazem limpeza ao redor do fontanário. Ex­plica que, os valores ar­recadados diaria- mente grande parte gastam em bebida alcoólica. Con­tou 8.8 Água chega a calonda que o único senão, nessa empreitada, são as pessoas que Jornal de Angola sabotam o material, com areia e pedras, utilizam varões 17 de Novembro de 2011 para quebrar as torneiras e fazem bu­racos, para dificul- tarem a passagem das pessoas até ao local. Um novo sistema de abasteci­mento e distribuição de água potá­vel à população da localidade de Ca­londa, município O jovem reconhece que é cansativo, mas que pouco tem de Lucapa (Lunda-Norte) encontra-se em funciona­mento a fazer por estar desempregado neste momento, aos 24 desde o princípio da semana. Inaugurado pela adminis- anos, revelou que não tem outra for­ma de ganhar a vida. tradora municipal, Isabel Gregório, a infra-estrutura vai “Prefiro ficar a cobrar água, do que tirar o que é dos contribuir para o bem ­estar da população que, durante 20 outros”, disse consciente que aquilo não é um emprego anos, esteve privada de água. fixo. O fontanário da Calemba 11 abastece os bairros do Golfe, Sapu, Kimbango, Palanca e outros pequenos O sistema possui duas bombas, com capacidade para 90 bairros limítrofes, pertencentes ao município de Viana. e 45 me­tros cúbicos, que vão produzir 135 mil litros de água por hora. O siste­ma está ainda equipado com uma rede de distribuição de seis chafari­zes, com seis torneiras 8.7 Solicitada reabilitação do Olímpio cada, para além das ligações domiciliárias. Macuéria Jornal de Angola O soba Bemardo Caquece reco­nheceu que a água 12 de Novembro de 2011 potável fazia muita falta às comunidades de Ca­londa e disse esperar que as autori­dades administrativas con- Munícipes do Kilamba Kiaxi, em Luanda, pediram tinuem a desenvolver programas de exten­são dos prin- à administração lo­cal que recupere a rua Olímpio cipais serviços básicos, como a água, energia eléctrica, Macuéria, que se encontra em avançado estado de saúde e educação. degradação. A administradora municipal do Lucapa, Isabel Gregório, Os moradores lamentaram o fac­to da rua, que atravessa aconse­lhou as populações a colaborarem na preservação as comunas do Neves Bendinha e do Palanca, municí- das infra-estruturas que o Estado coloca à disposição das pio do Kilamba Kiaxi, e dá acesso ao bairro do Golfe, comunidades. “A população pediu água e nós, com muito se en­contrar degradada, depois de re­centemente ter sido esfor­ço, conseguimos satisfazer o pedi­do. E importante reabilitada por uma empresa estrangeira. que todos nós cui­demos deste bem precioso, que faz tanta falta no nosso dia-a-dia”, rea­firmou Isabel Gregório. De acordo com o morador Jorge Fernando, quando chove, a rua fica inundada, a circulação das pessoas é limitada e as viaturas correm o risco de ficar enterra- das. “No tempo seco produz-se muita poeira, porque o asfalto já desapareceu”, lamentou.

Na opinião de João Manuel, a administração municipal devia ter resolvido a situação na época seca. “Entulhar com brita os buracos existentes na rua era a medida mais Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 125

8.9 Governador pede apoio dos De acordo com o governador, bem pagas, as operadoras cidadãos para resolver os também podem ser bem acompanhadas, penalizando problemas de Luanda os incumprimentos. “Quando não se paga, não se pode Jornal de Angola exigir”, subli­nhou, mas garantiu que vai corrigir as dis- 17 de Novembro de 2011 torções no sector e fazer com que as empresas de recolha de resíduos sólidos possam trabalhar de acordo com os O novo governador de Luan­da, Bento Sebastião Francisco desejos do Executivo e, em especial, do Presidente da Bento, tomou ontem posse no Palácio da Cidade Alta, República que, frisou o governa­dor, “quer, cada vez mais, que lhe foi conferida pelo Presidente da República e Chefe uma ci­dade limpa, arrumada e aprazível para todos, que do Executivo, José Eduardo dos Santos. seja uma referência na região e no mundo”.

Bento Bento pediu colaboração na solução dos prin- Bento Bento, que acumula as funções de primeiro secre- cipais problemas que afligem os munícipes. O gover- tário de Luanda do MPLA, disse que a sua experiência nador de Luanda garantiu que “fez o diag­nóstico dos no domínio do acom­panhamento político do Governo problemas que assolam a província e particularmente a Provincial vai servir de base à go­vernação, respeitando cidade de Luanda”, destacando entre os mais prementes “cada vez mais os interesses dos cidadãos”. os da energia eléctrica, abastecimento de água potável e sa­neamento básico. Construções anárquicas “Temos consciência de quanto é difícil governar Luanda, Em relação às construções anár­quicas, Bento Bento mas com I a colaboração de todos, sem ex­cepção, disse que uma das soluções para o problema é continuar podemos realizar, com al­gum sucesso, muitas tarefas com o processo de Saneamento de terrenos para serem que se colocam ao governo de Luanda”, disse Bento distribuídos às pessoas que preci­sam e têm capacidade Bento, que reconhe­ceu as dificuldades da sua missão. de cons­truir, uma experiência que já foi feita no passado.

Com o governador Bento Bento tomaram igualmente posse O novo governador de Luanda pediu aos luandenses os vi­ce-governadores para os sectores Económico, Manuel para respei­tarem as regras estabelecidas para quem quer Ventura Ca­traio, para a Organização Adminis­trativa, construir uma casa, no­meadamente a concessão do Graciano Francisco Do­mingos, e para o sector Político terreno e a licença de construção. e Social, Jovelina Alfredo António Imperial. O Chefe de Estado felici­tou os empossados e desejou que cumpram O governador de Luanda disse que é contrário às demo- “com muito êxito” a missão que lhes foi confiada. lições, que consi­derou apenas necessárias quando vi­sam retirar pessoas que constroem em zonas de perigo, como Reorganização do governo Bento Bento apontou como linhas de água. tare­fa prioritária a reorganização do Governo Provincial e das Admi­nistrações Municipais. O governa­dor garan- A cerimónia, que decorreu no sa­lão nobre do Palácio tiu “afinarias à altura de Luanda” para prestarem servi- Presidencial, foi testemunhada pelo Vice-Presi­dente da ços de qualidade. – República, Fernando da Piedade Dias dos Santos, pelos ministros de Estado, ministros e altos funcionários da “Os administradores e gover­nantes da província de Presidência da República. Luanda de­vem estar mais próximos dos pro­blemas dos cidadãos”, sublinhou o governador Bento Sebastião Fran­cisco Bento, advogando a necessidade de haver uma 8.10 Elisal com dificuldades de pagar governação dialogante e participativa. operadoras jornal semanario continente Em relação à venda informal, Bento Bento referiu que 18 de Novembro de 2011 o Gover­no Provincial e as Administrações Municipais devem encontrar uma solução que permita ás pessoas O lixo em Luanda aumentou de for­ma exponencial, que actualmente vendem nas ruas continuem a ganhar nos seis últimos me­ses, numa altura em que a edilidade o seu sustento, mas em locais adequados. conhece o seu novo timoneiro, Bento Bento.

‘Recolha de lixo Fontes bem colocadas e conhecedoras do dossiê, atri- Referindo-se ao trabalho das operadoras de recolha de buem à Elisal alguma incapacidade em poder cumprir lixo, o governador informou que a maio­ria está há sete com o contrato que mantém com as cerca de uma dezena ou oito meses sem receber pagamentos pelos servi­ços, o de operadoras, encar­regues de limpar o lixo produzido que pode condicionar nega­tivamente o seu desempenho. nos municípios da capital. Com a nova configuração Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 126 administrativa – in­clusão de Icolo e Bengo e Quiçama, 8.11 Politicas de saneamento em e a criação do município de Luanda, es­pera-se que a discussão Empresa de Limpeza e Saneamento de Luanda vem a Jornal de Angola repen­sar a forma de abordagem de limpeza da capital, 18 de novembreo de 2011 quanto mais não seja, por que grande parte das operado- ras não dispõem de um parque técnico-oper­ativo capaz Angola vai em 2012 desenvol­ver uma Política Nacional de responder à demanda. de Sa­neamento Ambiental que visa for­talecer a gestão de resíduos sóli­dos e a expansão das redes de es­gotos, anun- O recurso, segundo se sabe, é a tercer­ização desses servi- ciou a ministra do Am­biente, Fátima Jardim, quando ços a pequenas op­eradoras detentoras de meios, que têm discursava na abertura da primei­ra conferência sobre estado a actuar na periferia da provín­cia. Face a avultada saneamento denominada ‘’Angolasan1’’. dívida da Elisal para com as operadoras de limpeza, com as quais tem contrato firmado, muitas delas se viram Os trabalhos decorrem sob o lema “Garantir o sane- forçadas a re­duzir o ritmo de trabalho, pois estão com amento e melhorar a qualidade de vida”. O objectivo dificuldades de manter a frota em ­bom estado de fun- principal é recolher contributos para a definição da cionamento. O aumento significativo de montanhas de Política Nacional de Saneamento Ambiental em Angola. alho, isto é, só está no seu gabinete à I lixo por tudo A ministra disse que as estratégias recomendadas podem quanto é canto da capital partir das dezassete horas em ser alcança­das com a revisão do actual sistema do uso da diante. (excepção ao centro da cidade onde a Elisal é água, recolha e tratamento do lixo, sistemas de drena- permanente) ilustra bem o quadro crítico da situação gem e com inovações tecnológicas nas áreas de engenha- ria, arquitectura e estudos sociológicos. Como que sem saber o que dizer aos aumento com os seus colaboradores seus parceiros, algumas fontes dizem Fátima Jardim sublinhou a ne­cessidade de unir esforços mais próximos, e ainda, pelo facto de I que o director para que o saneamento ambiental acompa­nhe o cresci- geral da Elisal, Antas ter promovido uma autêntica mento e desenvolvi­mento sustentável em Angola, para caça às Miguel, evita o contacto com as bruxas, o que bem-estar das populações. permitiu à deserção de quadros de reconhecida compe- tência para outras áreas, como é o caso do Eng. Lucas, Fátima Jardim realçou que as diarreias, cólera, tétano agora confinado a um espaço cedido pelo arquitecto e outras doenças “têm a ver com a falta de saneamento Bento Soito, no gabinete de requalificação do Cazenga e consumo de água im­própria”. Podem ser reduzidas, e Sambizanga, enquanto outro, Eng. Gourgel está na so­bretudo nas zonas rurais, caso se­jam concretizadas Direcção Provincial de Energia. A agravar a sua situ- as acções inseri­das na Política Nacional de Sanea­mento ação dizem as nossas fontes, está agora acumulado de Ambiental. dívidas para com as operadoras de limpeza de Luanda. Há sete meses que a Elisal não paga a recolha de lixo “O Executivo está a dar os pri­meiros passos, no quadro em Luanda O dos­sier “lixo”, será certamente um dos da me­lhoria do saneamento ambiental, particularmente temas com que Bento Bento terá na sua mesa de tra- no que diz respeito à contenção da proliferação da cons- balho, além de proced­er à uma profunda “faxina” na trução de casas próximas dos rios, da zona costeira, de Elisal, cuja gestão tem sido posta em causa por pessoas condutas de água e centrais de tratamento de água”, conhecedores do processo que levará à uma mudança da explicou Fátima Jardim. imagem da nossa capital. A direcção de Antas Miguel é, igualmente, acusada de ter “torrado” milhões de dólares O Ministério do Ambiente de­senvolveu nos últimos para a compra de viaturas de luxo para os membros de três anos programas sustentáveis como o Programa direcção, enquanto os trabalhadores continuam a se Municipal Rural de De­senvolvimento Integrado de depa­rar com inúmeras dificuldades para o desempenho Com­bate à Pobreza, de Auto-suficiência Alimentar e o das suas actividades. O CONTINENTE trará nas pró- programa de reabili­tação e construção de infra-estrutu­ ximas edições uma reportagem profunda so­bre a proble- ras e de melhoria da rede sanitária. mática da recolha de lixo em Luanda. Fátima Jardim anunciou que todos têm contribuído para melhorar os Ín­dices de desenvolvimento humano.

A conferência termina hoje e é uma iniciativa do Ministério do Ambiente, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e UNICEF. Participam membros do Executivo, deputados à Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 127

Assembleia Nacional, governa­dores e vice-governadores, 8.12 GPL Gasta 18 milhões de dólares/ corpo diplomático acreditado em Angola, parceiros mês nacionais e estrangeiros e representantes das agências jornal o pais das Nações Unidas. 18 de Novembro de 2011

Conferência Numa conferência de imprensa que dirigiu no dia 28 de O empenho do Executivo nas ac­ções destinadas a Junho deste ano, Antas Miguel disse que a empresa que melhorar as con­dições sanitárias da população das áreas dirige paga actualmente cerca de 18 milhões de dólares/ urbanas e rurais foi ontem reafirmado pela secretária da mês às ope­radoras. Presi­dência da República para os Assun­tos Sociais, Rosa Pacavira. O montante avançado pelo direc­tor da EUSAL está longe do que esta instituição pagava entre os anos de Falando sobre o programa inte­grado de combate à 2004 e 2005, altura em que os custos da recolha de resí- pobreza e sanea­mento na primeira Conferência Na­cional duos sólidos esta­vam cifrados em apenas seis mi­lhões de Sobre Saneamento, Rosa Pacavira. dólares/mês.

Apesar da diferença, o responsável da ELISAL conside- Rosa Pacavira frisou que o Executivo tudo tem feito para rava que os cerca de 18 milhões de dólares que se paga aumentar a cobertura – deste serviço básico nas áreas mensalmente não estavam “fora dos padrões estabeleci- ru­rais, suburbanas e urbanas do país. Rosa Pacavira dos em cidades como a nossa”. afirmou que a questão é um desafio permanente, acres- centando que o acesso aos ser­viços de saneamento é um De qualquer modo, a relação cus­to-benefício ainda dos indi­cadores básicos que serve para aferir os dife- é discutível, de acordo com os pronunciamentos do rentes níveis de pobreza exis­tentes numa determinada engenheiro porque os montantes que têm sido pagos sociedade. Considerou ainda que o aumento dos inves- pela limpeza da ci­dade foi aumentando e a qualidade timentos no sector da água e saneamento contribui, por do serviço prestado ainda não é dos melhores. Por esta outro lado, para a redução da po­breza, devendo por isso razão, na aludida conferência de imprensa realizada a serem di­reccionados para as zonas rurais e suburbanas cerca de cinco meses, anunciou-se uma mudança no das grandes cidades. modelo de limpeza devido aos constrangimentos regis­ tados, as debilidades nos cadernos de encargos e o cres- Administrações municipais Como práticas e estratégias cimento exponen­cial da cidade. que contribuem para a melhoria do sa­neamento básico rural, apontou o compromisso público das administra- O responsável da Elisal assegurou ainda que tinha ções municipais. Nesse sentido, frisou ser necessário for- notado apenas uma tentativa de cumprimento do con- talecer a participação comunitária e o desen­volvimento trato só na zona baixa da cidade. de um plano estratégico para a criação de latrinas comunitá­rias, com a mobilização de recursos e apoio Nas zonas periféricas havia uma fraca operacionali- técnico, aproveitamento dos recursos do ecossistema e a dade por parte das operadoras que não cumpriam inte­ combinação de metodologias, boas práticas e políticas, gralmente com o que tinham estipu­lado no caderno de que tenham em consideração as necessidades lo­cais e o encargos. trabalho comunitário. “Contrariamente ao modelo ante­rior que não tinha um Relativamente às áreas rurais, in­dicou a eliminação plano de co­municação viável e que a fiscalização era de águas resi­duais a nível domiciliar e a qualida­de de realizada de uma maneira débil, o novo programa será consumo das populações, pa­ra se reduzir as taxas de monitorado 24/24 horas através do sistema de GPS”, morbi­mortalidade por doenças de trans­missão hídrica e salientou Antas Miguel, quan­do anunciou o novo manuseamento sa­nitário e tratamento dos dejectos e de modelo de lim­peza da capital, onde o lixo deixaria de ser águas residuais. depositado em espaços públicos mas sim nos privados. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 128

8.13 Lixo obriga GPL a dívida de cerca A sugestão de que limparia a cida­de com apenas 15 de usd 90 milhões milhões de dólares terá sido anunciada pela próprio jornal o pais di­rector da Empresa de Limpeza e Saneamento Urbana 18 de Novembro de 2011 de Luanda (ELISAL), Antas Miguel, mas o parta – voz da referida empresa desmentiu a informação. As dívidas do Governo Provincial de Luanda, que conhece esta se­mana Bento Sebastião Bento «Bento Mesma assim fontes das operado­ras garantem que o Bento» como novo governador, para com as operadoras engenheiro ter­-se-á apercebida posteriormente que difi- de resíduos sólidos atingiram os 90 milhões de dólares, cilmente faria um trabalha em prol da limpeza da cidade segundo apurou O PAÍS junto de em­presários do sector. capital com os referidas montantes sugeridas.

As empresas ligadas ao ramo, que ultrapassam mais de Outro casa que chamou a atenção das empresas de uma dezena, encontram-se há mais de seis me­ses sem limpeza que actu­am há mais tempo no negócio é que receber os respectivos pa­gamentos. mesmo após se ter anunciada que os valores pagos às firmas já existentes eram irrisórias, notaram que ainda A situação obrigou a que muitas destas firmas não foram introduzidas novas ope­radoras de limpeza a partir paguem os salários aos seus funcionários, entre técni- do pró­pria Governa de Luanda, então diri­gida par José cos administrativos e brigadistas de lim­peza. Outras Maria de Sousa. tiveram que utilizar os recursos que mantinham guar- dados em algumas instituições bancárias para outros “Como é que se pode fazer isso. Se nem mesmo para investimentos para efec­tuarem o pagamento dos orde- as operadoras exis­tentes havia dinheiro, parque razão nados atrasados. foram introduzidas novas empre­sas?”, questionou um empresário. “Actualmente existem mesmo muitas empresas de limpeza cujos funcionários estão sem salários há mais Par falta de uma reacção oficial do Governo Provincial de quatro meses. Eles não con­seguem pagar as rendas de Luanda, uma fonte do Ministério das Finanças de casa, os colégios dos filhos e cumprirem com outros re­alçou que é necessária apurar-se se é a sua instituição compromissos”, alertou um empresário do sector que que não alocou as verbas ou se trata de um atraso da preferiu o anonimato. parte das entidades agora comandadas por Bento Bento.

O PAIS apurou junto de fonte liga­da ao conhecido Segunda ainda a fonte das Finan­ças, quando a sua insti- “negócio do lixo” que recentemente os trabalhadores de tuição envia o dinheiro ao GPL cabe a esta a escolha do uma empresa situada no muni­cípio do Kilamba Kiaxi destino que deverá dar ao mon­tante cabimentado. pretendiam desencadear uma greve, o que não veio a “A questão ou o pagamento das operadoras de lixo é acontecer apesar de uma pe­quena manifestação que foi feita directa­mente pelo Governo Provincial de Luanda. realiza­da à entrada do estaleiro principal. A empresa Quando o Ministério das Fi­nanças envia a dinheiro, tem sido citada como sendo propriedade de um antigo entrega o bolo todo, compete ao GPL repartir o mon- governa­dor da província de Luanda. tante aos beneficiários, não de­cidimos nada sabre quem deve rece­ber ou não.”, realçou a fonte. Há cerca de três semanas, o Go­verno Provincial de Luanda, que ainda não tinha um governador, havia Do Governa Provincial de Luanda recebemos apenas a dado garantias a alguns responsáveis e proprietários de seguinte res­posta, que foi avançada por um dos sobrevi- empresas de lim­peza que a situação podia ser resol­vida ventes da última remodelação do Chefe da Executivo: no mais curto espaço de tempo. “não posso confirmar estas suspeitas do não pa­gamento das operadoras de limpeza. Quem pode fornecer uma Segundo apurámos, haveria no Ministério das Finanças resposta concreta é o Gabinete de Estudos e Planeamento uma tran­che de cerca de 2S milhões de dólares norte- ou a Empresa de Lim­peza de Luanda, que distribui os -americanos que seriam utili­zados para o pagamento das montantes às operadoras”. opera­doras. Contactado por este jornal, o por­ta – voz do GPL, Os operadores garantem que a situação começou a Ladislau Silva, tam­bém desconhecia qualquer informa- tornar-se in­suportável para as suas instituições após à ção sobre o assunto em causa. entrada em cena do engenhei­ro Antas Miguel que anun- ciou que podia limpar a capital do país com menos 10 milhões de dólares da que a valar inicialmente atribuída. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 129

8.14 BB «Herda» pesada dívida realidade não estão, havendo casos em que já se está há Jornal semanario angolense vários e longos dias sem ela. 19 de Novembro de 2011 O cidadão, mesmo que queira, não consegue contrariar Vinte e quatro horas depois de ter tomado posse como a infor­mação falsa por impossibilida­de de entrar em sin- governa­dor provincial de Luanda, Ben­to Bento foi, na tonia com a emissora em que o homem es­teja a falar. quinta-feira, 17, confrontado com uma greve de uma das Também o número de telefone do porta-voz da Epal que operadoras do lixo, cujos trabalhadores pa­ralisaram as ele disponibiliza na comu­nicação social para qualquer suas actividades, devido à falta de pagamento de salários. in­formação está sempre desligado.

Os trabalhadores afectos à empresa «West Kiaxi», cuja Na realidade, não se sabe que se passa com o forneci­ titularidade tem sido associada ao deputado do MPLA mento de água, porque as jus­tificações são as mais e antigo governador de Luanda, Job Kapapinha, parali- diversas. Sequer através da comunicação social se tem saram as suas actividades, devido ao não pagamento de conhecimento das interrupções de fornecimento de salários que se regista há 3 meses. água.

Esta empresa, uma das mais antigas a operar neste seg- Curioso também é saber como é possível, na mesma mento do mercado, tinha a seu cargo a responsabilidade rua, um lado ter água e outro não? Algum tempo pela recolha de lixo numa área considerável do municí­ depois é o inver­so. Jamais isso ocorrera na mi­nha zona, pio do Kilamba Kiaxi. mas agora sim!

Segundo dados apurados por este jornal, a «West Kiaxi» O que também é verdade é que é impossível viver-se sem emprega cerca de 800 tra­balhadores. O Semanário água. Se deve cada um fazer a sua parte, que o faça, mas Angolense apurou de boa fonte que o Governo de Luanda com res­ponsabilidade e seriedade, por­que, conforme se não honra há mais de seis meses os seus compromis­sos diz, «todos juntos, é possível». financeiros com as operadoras do lixo; um passivo que já se arrasta desde o tempo em que José Maria dos Santos foi governa­dor desta província. 8.16 Pango-aluquém sem agua potavel Jornal de Angola Bento Bento, indicado para ocupar o ca­deirão máximo 19 de Novembro de 2011 do Palácio da Mutamba, foi deste modo apanhado no meio de um tur­bilhão que já dura há alguns meses. O sector das Águas no municí­pio do Pango-Aluquém reclama por um sistema de captação, tra­tamento e dis- Espera-se que o novel edil provincial consiga, o mais tribuição. Actualmente, a população é obrigada a con- rápido possível, contornar esta situação, embora se sumir água não tratada proveniente de furos. Se­gundo trate de um passi­vo que já vem de duas anteriores apurou a reportagem do Jornal de Angola, a falta de água administrações.­ potável sem causado sérios pro­blemas à saúde pública dos mu­nícipes, que se debatem com doenças diarreicas agudas, sar­nas e infecções urinárias. 8.15 Baldas da epal Jornal semanario angolense Para ultrapassar esta situação, está em estudo um pro- 19 de Novembro de 2011 grama no domínio da saúde pública, que vai promover campanhas de sensibilização porta a porta e pales­tras A zona da Ingombota abastecida de água pelo reservató- nos locais de trabalho e esco­las do município. rio da Maianga esteve duas semanas sem água, sem que Na Saúde, está já concluído, apetrechado e em pleno se soubesse as razões. Não se con­seguia obter nenhuma fun­cionamento o hospital munici­pal, com os serviços de infor­mação através do piquete desse reservatório, porque pedia­tria, ginecologia, análises clí­nicas e farmácia. os dois telefones à disposição do con­sumidor estiveram As grandes dificuldades resi­dem na falta de médicos e sempre des­ligados. enfer­meiros para atender a população que procura assis- tência médica, assim como de residências para acomo- É curioso que sempre que o porta-voz da Epal aborda dar os funcionários. na rádio a situação do abastecimento de água à capital a dado dia nem sem­pre corresponde à verdade, porque O hospital tem ainda uma ma­ternidade, área adminis- muitas vezes ele refere certas zonas como estando a ser trativa e sala de internamento com uma capacidade para abastecidas e em funcionamento normal, quan­do na 50 pacientes. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 130

O sector da saúde dispõe tam­bém de um hospital regio- da situação. De acordo com Domingos Paciência, Chefe nal, de­vidamente apetrechado e equipa­do, na região dos do departamento de Comunicação e Imagem da EPAL, Dembos-Kiba­xe e que cobre todo o município. A tuber- têm con­hecimento do problema sendo que estão a gerir a culose, tripanossomíase e malária são as doenças mais situação. Explicou que nas ruas do Petro­fe, Simione até frequentes em Pango-Aluquém. ao lote 22,es­tavam a ser feitas manutenções num dispo- sitivo. Quanto ao corte de água na rua Simione Mucune, deve-se a pressão por se tratar de uma parte alta. Disse 8.17 300 Mil localidades do pais serão ainda que foi colocada uma conduta de 200ml na rua do alcançadas até 2012 Laboratório da Engenharia, que servirá para aumentar a Jornal angolense capacidade de distribuição “ dentro em breve estaremos 26 de Novembro de 2011 a fazer as ligações “, explicou.

Estimativas do executivo apon­tam que 300 mil locali- dades do país sejam alcançadas, até 2012, porque até 8.19 Falhas constantes de água ofuscam este ano vão ser construídos mil novos sis­temas de greve da epal abastecimento de água e igual quantidade de furos Jornal folha 8 em zonas rurais, onde ainda é deficitário, garantiu, 26 de Novembro de 2011 em Março último, na Huíla, a minis­tra da Energia e Águas, Emanuela Vieira Lopes. Conforme ainda dados Os funcionários da empresa de distribuição de água de estatísticos, desde o seu lançamento em 2007 até a pre- Luanda, EPAL, paralisaram as actividades, entre os dias sente data, pelo menos dois milhões de habitantes do 21 e 22 de Novembro, para protestar melhores condi- país beneficiaram do programa, que prevê uma taxa de ções salariais e de trabalho, contrariando o argu­mento cobertura de cerca de 80 porcento da popula­ção do país do PCA da empresa, segundo o qual, as reivindicações e a absorver um fundo global orçado em mais de 100 dos trabalha­dores já tinham sido satisfeitas. milhões de dólares ameri­canos. “As reivindicações que o sindicato co­locou, todas elas foram resolvidas e era momento de nos sentarmos”, 8.18 Munípes do prenda clamam por ar­gumentou, na véspera do dia marcado para a greve, agua há um ano acrescentando que as condições dos trabalhadores jornal angolense actuais são bem melhores que as dos fun­cionários do 26 de Novembro de 2011 passado que, no entanto, nunca optaram pela greve.

Desde que foi lançado em 2007 o projecto denominado “Hoje estamos em melhores condições, os nossos traba- “água para todos” foram colocados quatro fontanários lhadores têm um ven­cimento base de 500 dólares, um nos quais os mo­radores teriam de pagar cinco kwanzas ca­nalizador de terceira setecentos (700) dólares, têm por cada recipiente, sendo que o montante serviria para seguro de saúde, estamos a tratar com o Executivo e os a manutenção dos mes­mos. Disseram os munícipes bancos a possibilidade de financiamento para a casa dos que também foram canalizados água nas residências, nossos funcionários e mel­horar as dos trabalhadores, regem os factos que desde a altura da sua implemen- mas pen­samos que alguém quer fazer história, sendo o tação até então os cortes têm sido imutáveis. “ Desde o primeiro a fazer greve na EPAL”, argumentou Lionídio princípio do ano que estamos com falha de água”, frisou Ceita. Continuando, atribuiu a aderência à greve dos Antónia Cerqueira, muní­cipe. Os chafarizes já não fun­ trabalhadores, à elevada juventude da empresa e garan- cionam. Dentre eles apenas dois funcionam, mas com tiu que, durante os doze anos que trabalha na EPAL, irreg­ularidade. nenhuma outra administração fez tanto pelos adminis- tradores como a administração que preside e tem cerca Soube-se ainda que muitos dos moradores saem a rua de um ano de mandato. “Fizemos aprovar o classificador para pro­curar o liquido precioso a partir das cinco da de funções que permitiu fazer promoções, e criamos uma manha, isto é, nas imediações do município da Samba, área de carreira”, justificou. Facto, no entanto, é que os Cassenda, Nzamba Dois, a fim de conseguir adquirir trabalha­dores paralisaram a actividade como estava pre- a água a preço de dez a vinte kwanzas o bidão de vinte vista e voltaram ao trabalho depois da intervenção do cinco litros, pois outro meio são os tanques de água que ministério da Energia e Agua e, consequentemente, a comer­cializam a cinquenta kwanzas o bidão e setenta administração da empresa e a comis­são sindical remar- kwanzas a ba­nheira, já outros vendem três cem o bidão. carem as negocia­ções que devem retomar no próximo De acordo com os munícipes estão agastados com a situ- dia 28.11 como ficou acordado. ação porque até então a EPAL não se manifesta diante Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 131

A EPAL tem cerca de 1500 trabalha­dores que, segundo a maior parte da popula­ção ainda consome água impró­ a comissão sindi­cal, reclama por aumento salarial na pria, que coloca em risco a vida de muitas pessoas. ordem dos 600%, argumentando ser possível em virtude de os administra­dores da empresa esbanjarem dinheiro Luís Filipe da Silva trabalhou no Kuando-Kubango, com a compra de carros top de gama, entre outras des- com o objectivo de se inteirar do grau de execução do pesas consideradas desnecessárias. abastecimento de água potável na região, com realce para o Progra­ma Agua para Todos que prevê be­neficiar Greve sem consequência 80 por cento da população rural até ao ano de 20 12. No entanto, a referida paralisação, segundo apurou o Folha8, passou des­percebida à maioria dos luandenses Logo após a sua chegada ao Aero­porto Comandante não tanto pelo tempo que durou mas, sobretudo por Kwenha, o secre­tário de Estado das Aguas teve um tratar-se de uma situa­ção normal as falhas constantes en­contro com a vice-governadora para o sector eco- no abastecimento do líquido precioso. “Não apercebi- nómico, Verónica Mutango Adolfo, de quem recebeu -me de nada, agora que me dizes, lembro-me que essa in­formações detalhadas sobre a si­tuação socioeconó- semana terá faltado água, mas quando é que saberemos mica da provín­cia, com realce para o fornecimen­to de se é resultado de uma greve quando é recorrente a falta água potável à população. de água”, desabafou um dos munícipes da Sam­ba. - Luís Filipe da Silva admitiu que o sector deve redo- Segundo apurou ainda a reportagem grande parte das brar esforços para melhor o actual quadro do Kuando- pessoas que se aper­cebeu da greve foi graças aos meios de Kubango. Sublinhou que, dos nove municípios da pro- comunicação social. Mas, mesmo assim, muitos destes, víncia, apenas, qua­tro beneficiaram do Programa Agua não sentiram qualquer diferença no abastecimento da para Todos. Estes municípios são Menongue, Cuito água nos dias de greve comparati­vamente com os res- Cuanavale, Cuan­gar e Dirico, cujos níveis de abaste­ tantes dias. cimento, ainda assim, são insatisfa­tórios. Citou como exemplo a capi­tal da província, Menongue, que ainda Outras semelhanças enfrenta muitas dificuldades em termo de abastecimento Assim como a greve na EPAL passou despercebida pelo e distribuição de água potável à popula­ção, apesar dos défice no abasteci­mento ou prestação no serviço, acre- últimos tempos be­neficiar de investimentos. dita-­se, aconteceria com uma greve em outras empre- sas públicas como são os casos da EDEL, TAAG e a “Os serviços prestados à popula­ção neste domínio ainda Telecom, embora, as duas últimas com menos acentu- são irrisó­rios”, admitiu Luís Filipe da Silva, para quem ação. Ou seja, embora, no caso da companhia aérea, a situação pode ser resol­vida a curto prazo, se todos os pudesse (o dia de greve) parecer apenas mais um dia esfor­ços forem dirigidos para a constru­ção de mais sis- de cancelamento dos voos, facto é que mais facilmente temas de abasteci­mento e a abertura de furos de água: os potenciais passageiros se aperceberiam, por ex­emplo “a província é rica em termo de re­cursos hídricos. O com a ausência dos serviços pré­-embarque. No caso que falta apenas é mais investimentos”. Luís Filipe da da Telecom, por sua vez, as consequências da greve Silva indic9u que, a nível do país, o Programa Agua poderiam ser confundidas com os normais défices nos para Todos tem esta­do a contribuir para atenuar as difi­ serviços de telecomunicações, mas pela importância e culdades das comunidades que vi­vem no meio rural, influências destes serviços em diversos sectores precipi­ mas reconheceu que ainda é necessário redobrar es­forços taria a verdade. Aliás, é por saber disso que, há cerca para atingir a meta de atender 80 por cento da popula- de um mês, a administra­ção da Telecom dobrou-se às ção até 20 12. exigências da comissão sindical, algumas horas de­pois, de decretar greve. A vice-governadora para o sector económico conside- rou que ~ visita do secretário do Estado das Aguas é oportuna, pois o Governo Provin­cial está a trabalhar 8.20 Abastecimento de água potável afincadamente para encontrar soluções viáveis e susten- preocupa o secretário de estado táveis que permitam a me­lhoria das condições de vida da jornal de Angola po­pulação. Verónica Mutango Adolfo disse que o abas- 26 de Novembro de 2011 tecimento de água potável na província “é crítico.

O secretário de Estado das Águas, Luís Filipe da Silva, O secretário de Estado das Aguas terminou ontem a ga­rantiu, na cidade de Menongue, que vai prestar uma visita ao Kuando – Kubango. Estava acompanhado de atenção es­pecial ao fornecimento e distri­buição de água uma comissão integrada por representantes­ da Casa potável na pro­víncia do Kuando-Kubango, uma vez que Civil da Pre­sidência da República e dos minis­térios Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 132 da Energia e Aguas, da Ad­ministração do Território, “É verdade, a luz aqui é uma maka, já fomos à EDEL, Finanças e do Planeamento. mas nada, tudo se mantém na mesma, sem­pre à espera”, referiu An­tónica Matilde, de 60 anos, e a viver na Calemba desde 2001. 8.21 Água e energia são carências notáveis Para ela, somente a requalificação da Calemba pode Jornal semanario factual melhorar a vivência dos moradores, pois o lixo cumu- 26 de Novembro a 03 de dezembro de 2011 lado no bairro é o pior mal, devido à falta de recolha pelas empresas de limpeza. Os moradores do bairro Calemba, nas imediações da Mesmo assim, as pes­soas insistem em atirar o lixo para Tourada, na Maianga, em Luanda, atravessam momen- a rua, empes­tando a área onde crianças brincam sem se tos difíceis no que toca ao abastecimento de água potável preocu­parem com as doenças daí originadas. e ao forneci­mento de energia eléctrica que tem resultado na procura do preciso líquido e na “puxada” de luz, a fim Por isso, moradores propuseram a intervenção da de poderem satisfazer as suas necessidades diárias. Administração Comu­nal do Kassequel, a fim de melho- rar o abastecimento da água potável e o forne­cimento O Factual efectuou um périplo pela Calemba, ten­do de energia, cuja ausência tem atraído mar­ginais que per- notado dezenas de mu­lheres e de menores com baldes seguem alu­nas que frequentam o en­sino nocturno nas e banheiras sobre a cabeça, à procura de água potável, imedia­ções da Calemba. apesar de algumas residências terem reser­vatórios nem sempre re­comendados, pois a água aí colocada é de pouca fia­bilidade. 8.22 PCA Da epal terá desviado através de `pombos correios` 1 milhão de Joana Francisco, mo­radora no bairro da Ca­lemba, dólares afirmou que a falta de água potável já dura pelo menos Jornal agora três meses, al­tura em que algumas obras no pavimento 26 de Novembro de 2011 rodoviário ocorreram. O nome do presi­dente do conselho de administração Em contrapartida, a fonte deixou claro que a maioria da Empresa Pública de Aguas de Luanda (Epal) circu- das casas da Calemba, feitas de blocos de cimento e lou, esta semana, nos meios jornalísticos e não só, como cobertas com chapas de zinco, não possuem sistema de estando na origem do desvio de 1 milhão de dólares que cana­lização interior ou exterior, dada à forma desorde- terão sido apreendidos pela polícia fiscal no aeroporto 4 nada com a “urbe” cresceu. de Fevereiro. “Hoje, a Calemba já é um bairro grande que nasceu em 2001, sem um plano director, pois, cada um cons- De acordo com as fontes do AGORA, Leonildo Seitas truiu a sua moradia como pôde, isto é, de qualquer (1.5.) teria distribuído o valor em pequenas tranches a modo, havendo casas de chapas, de tijolo e de blocos de vá­rios intermediários que o leva­riam para o estrangeiro. cimento, todas cobertas por chapas de zinco, mas o pior é a sua desordenação”, vincou Joana Francisco. O ‘mujimbo’ espalhou-se pela capital, provocando equí- vocos a uns e indignação a outros. Mas, dentro do bairro, Factual verificou que manguei- “Soube também por portas travessas que o Pca estaria ras de plástico de diversos cumprimentos se estendiam por detrás do dinheiro encontrado nas bolsas de indiví- de algumas casas para outras, na pers­pectiva de busca- duos que evocaram o seu nome no aeroporto internacio- rem água de tanques com o apoio de electrobombas. nal de Luanda”, contou um antigo funcionário da Epal. o bairro possuía um fontanário, mas acabou por ser Para este operador de rede, não estranha o sucedido já desactivado pelos seus responsáveis, fazendo que os seus que após a sua ascensão L.S. ‘puxou’ indiví­duos ‘dóceis’ habitantes te­nham de percorrer por distâncias para con- que mais pudessem se identificar com a sua estratégia seguir alguma água para con­sumo. de gestão.

Quanto à energia eléc­trica, ela não existe, pois o bairro “Desde que foi investido, o chefe viaja frequentemente, cresceu sem ordem e o resultado são as noites escuras, le­vando consigo muito dinheiro da tesouraria para além onde velas e can­deeiros são vistos através das saliências das aju­das de custo. Se, desta vez, tentou esticar as mãos dos tectos das casas. muito mais do que elas permitem é seu pro­blema”, referiu o mesmo contac­to, admitindo ainda que “s6 não Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 133 acontece nada porque o Pca é de boa família e está bem tardam a ser sentidos pelos populares Luanda está feio, protegi­do”. pois, num deserto.

As nossas fontes revelaram, ainda, que uma boa gestão pode­ria tornar a empresa financeira­mente forte, melho- 8.24 Há falta de consciência na rando também a situação salarial dos trabalha­dores. deposição do lixo As tentativas de ouvir a versão de L.S. foram, porém, Jornal de Angola mal sucedi­das até ao fecho da desta edição, nesta 28 de Novembro de 2011 quinta-feira. No caos da movimentação das ruas de Luanda é neces- Água rara. A Epal é, a par da Edel, uma empresa com sário um olhar atento para perceber a cir­culação de planos ambiciosos mas longe de benefi­ciarem os consu- carrinhas carregadas com pilhas de papelão ou gran­des midores de Luan­da. Este ano terá arrancado a instalação sacos plásticos de cor cinza.. Essas carrinhas têm impor- de 700 mil ligações do­miciliárias em várias zonas urba­ tância vital na cidade capital, que conta com cerca de nas da capital. Com a execução desse projecto, espera-se sete milhões de ha­bitantes. Elas transportam gran­de pelo aumento do nú­mero de beneficiários, de 140 mil quantidade do lixo produzido na cidade para o aterro para mais de 700. sanitário, nos Mulenvos, Cacuaco.

Entre 2000 a 2010, a Epal investiu 560 milhões de Papéis, embalagens de chiclete, tampinhas de garrafa, dólares na produ­ção, distribuição e aumento da rede, casca de ovo, latinhas, copos e garrafas de plásti­co são estando prevista a construção de dois grandes sistemas os resíduos que mais for­mam o lixo que muitos teimam de abas­tecimento de água com capacidade de seis metros em jogar nas ruas, principalmente as vendedoras cúbicos por segun­do. Foi ainda elaborado um plano ambulantes. para aumentar a taxa de cobertura do serviço de abaste- cimento de água em, pelo menos, 80%. O lixo, que muitas vezes é acu­mulado nos esgotos, fica molhado depois das chuvas e toma-se um “hospedeiro” Pensa-se igualmente na reorga­nização e reestruturação de mosquitos. da em­presa e a criação de uma nova cultura empresa- rial, incluindo o controlo dos investimentos, mas tudo Devido as festividades de fim de ano, que se aproxima, isso ainda não passa do papel.­ A água potável há muito aumenta a importação de mercadorias e o li­xo, como dei­xou de jorrar nas torneiras de grande parte da cidade sempre, também aumen­ta. O lixo é também produzido e nos bair­ros é mesmo uma miragem. por muitos automobilistas e pedestres, que atiram os objectos para o chão, sem qualquer respeito pela “nossa casa comum”, Luanda José Quintino, que reside no 8.23 Sejam bem-vindos ao deserto, Ran­gel há mais de 20 anos, disse à reportagem­ do Jornal meus senhores! de Angola que muitas vezes vê automobilistas e não só Jornal a capital a jogarem lixo para o chão, mesmo em zonas onde há 26 de Novembro de 2011 contento­res. “As pessoas depositam o lixo onde bem lhes apetece. Esse repro­vável comportamento verifica-se mais Naves fora a greve que se instalou na Empresa Pública em certos automobilistas que não têm paciência de parar de Aguas de Luanda (EPAL), entretanto já levantada, a um mi­nuto num local onde há contentores para depo- capital do país vê-se a braços com uma gritante falta de sitar o lixo. fornecimento do precioso líquida Eles preocupam-se mais em man­ter o seu carro limpo e Há já algumas semanas que os luandenses se vêem obri- esquecem que essa atitude é má”, referiu. Há oito dias gados, cada um à sua maneira, a percorrer longas distân- que José Quintino convi­ve com o mau cheiro provocado cias com pesados alguidares à cabeça, além de terem que pelo lixo acumulado em frente a sua casa. desembolsar os já de si parcos recursos para adquirirem água, onde quer que a encontrem. O morador de um dos prédios no Rangel é um dos muitos moradores prejudicados pelo lixo acumulado em Trata-se de ma situação, deveras lamentável. E pouco frente à sua moradia. “Além do mau cheiro, também confortante ver mulheres, crianças e até idosos em exer- enfrento o problema dos cães, que são atraí­dos pelo lixo. cícios hercúleos para obterem um bem que lhes deveria Eles vêm aqui, me­xem e fazem muita sujeira”, recla­ma ser facilitado, no âmbito dos vários programas conce- José Quintino. bidos para a melhoria do sector, mas cujos benefícios Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 134

Segunda-feira passada, no perío­do da manhã, a repor- Parece que o carro do lixo ali não passa. Até ao final tagem do Jor­nal Angola passou por diversos bairros da manhã de se­gunda-feira passada, disse a mora­dora para verificar a situação da recolha. Em toda a extensão Isaura Madalena, a recolha do lixo não tinha sido feita das ruas das B, C e Terra Nova consta­tou a presença havia uma semana. dos carros de reco­lha do lixo a fazerem o trabalho. A reportagem deparou com um se­não: não retiravam 9lixo Isaura Madalena apela às pessoas a fazerem o seu papel. espalha­do nas ruas. Amarildo Elise, que também re­side “Nós temos um dever cívico como cidadãos. Va­mos no Rangel, revelou que naque­la área a operadora não faz manter a nossa cidade limpa, só assim mudamos a imagem o traba­lho desde a semana passada. da nossa capital, cuidamos da nossa saúde e evitamos doenças infecciosas pelo lixo que nós mesmos fazemos.” “Em quase todas as ruas do bair­ro há lixo em frente às casas. Nós ficamos à espera que os carros das operadoras Acumulação do lixo de recolha de lixo passem, mas nada e ninguém fala. E À medida que a população cres­ce, com ela cresce o triste”, afirmou. consumo e a quantidade de lixo na cidade. Ape­sar de todos saberem o que é cor­recto fazer, há cidadão que não Triângulo dos Congoleses cumprem a sua parte. No Triângulo dos Congoleses também é visível a acumu- lação de lixo. Em frente ao mercado, o lixo já tinha sido Para ver como o lixo se acumula, ficámos três horas de recolhido, mas só na via principal. Nas transversais, divi- “plantão” próximo aos armazéns situados na praça das sámos sacolas contendo lixo, nas portas das casas. Pedrinhas, nos Congoleses. A viatura de recolha do lixo passa depois das lojas fecharem. Na via principal do Marçal em direcção à antiga DNIC, o cenário é “penoso” porque mesmo que os carros das De manhã, as ruas estão limpas. operadoras passem duas vezes por dia o lixo parece Mas, aos poucos, aparece um saco de lixo aqui, outro ali. nunca terminar. Quatro horas depois, a lixeira já toma conta de vários Alguns moradores dessa área ale­gam que a operadora “se lugares. esqueceu de que aqui vivem pessoas e que na­turalmente produzem lixo”. No local reparámos que quem contribui para a sujeira são, na sua maioria, mulheres e crianças, que vasculham Mas a reportagem do Jornal de Angola deparou-se com o lixo à procura de bi­dões e garrafas para revender com­ contento­res meio vazios e pessoas, principalmente crian- bustível. Questionada pela nossa reportagem do porquê ças, a deitarem o li­xo para o chão. Marlene Leandra foi de vasculhar um monte de lixo, uma mulher que aparen- apanhada em flagrante pela reportagem do Jornal de tava mais de 50 anos respon­deu, “o lixo não é só meu”. Angola a deitar lixo no chão. Questionada, respondeu: Naquela zona, o lixo fica por ci­ma de águas estagnada”s e os mos­quitos e moscas poisam nos produtos perecí- “O contentor está cheio e tenho de atravessar a rua.” veis que são vendidos a retalho. A área do São Paulo é Envergonhada por ver um rapaz com idade infe­rior à sua conhecida como zona comercial, pelo avultado número depositar o lixo no con­tentor, pegou no “seu lixo” e com de lojas, arma­zéns e o próprio mercado, sem esquecer os um sorriso falso foi depositar no contentor. A situação vendedores informais. repete-se na rua do Beiral. Próximo à linha-férrea, no sentido do município do Cazenga, existe uma vala que Apesar de já não se fazer sentir montanhas de lixo, são se tomou no maior depósito de lixo dos morado­res. Os visíveis os objectos espalhados pelas ruas e que pro- mosquitos e as moscas fa­zem ali morada. O”que mais vocam mau cheiro. Segunda-feira, como constatou a comoveu a reporta­gem do Jornal de Angola foi o facto reportagem do Jornal de Angola, os contentores estavam de crianças inocentes brincarem na lixeira sob o olhar superlota­dos. Os armazéns encerram as por­tas depois complacente de muitos adultos. das 15”horas.

Linha férrea As empresas das operadoras co­meçam as suas actividades a Saindo da linha-férrea e em di­recção à comuna do Hoji- partir das 18 horas e estendem-se até as as cinco da manhã. Ya-Henda, na paragem da Cuca, existem outros amon- “Temos vistos os carros que levam lixo as 18,20, meia toados de lixo, que dificultam a passagem dos carros e noite e as cinco a passarem. Só que muitos de nós dei­ dos pedestres. E muito lixo junto. Junta-se a poeira e cães xamos o lixo em locais não apropria­do e é triste”, disse rafeiros, que procuram alimentação. Perto dos armazéns João Francisco. daquela co­muna a imagem é toma-se pior. A mesma opinião foi corrobada por outros citadinos ouvidos pela reportagem do Jornal de Angola. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 135

8.25 Quando o abuso passa dos limites António Morais “Toy” é um pacato cita­dino, merece Jornal folha 8 todo o respeito. Ou talvez, seja uma forma astuta de 26 de Novembro de 2011 alguém querer expulsar o jovem da habitação. Porque nenhuma empresa idónea de limpeza e saneamento A Empresa de limpeza e Sanea­mento “Vista” colocou, básico aceitaria atentar contra a vida de qualquer cidadão, há mais de quatro meses, um contentor comunitário de in­dependentemente da condição social e económica. lixo escassos metros da porta da residência do munícipe, António Morais “Toy”, sito na rua Mira Flor, Camuxíba, bairro Samba, província de Luanda. 8.26 Edel á luz de velas… Jornal semanario angolense O contentor foi colado numa altura em que o munícipe 26 de Novembro de 2011 estava ausente de Lu­anda por razões profissionais. Ao con­statar a situação, dirigiu-se à direcção da empresa Os últimos meses têm sido catastróficos para os habi- acima referenciada para a remoção do respectivo depó- tantes de Luan­da e para a economia do país, devido à sito de re­síduos sólidos, mas foi pura e simples­mente forma como se vem processando o abastecimen­to de ignorado, apenas faltou ser cus­pido na cara. energia eléctrica à cidade capital de Angola. As econo- mias domésticas estão a ressentir-se sobremaneira da Aborrecido com o procedimento dos funcionários e da distribuição de energia a conta-gotas e sem o mínimo de direcção da “Vista”, empresa responsável pela recolha de planificação e de res­peito pelos direitos do consumi­dor. lixo e resíduos sólidos no município da Samba, dirigiu- E o que dizer dos projectos de relançamento da indústria e -se à administração, mais propriamente à Fiscalização das novas centralidades? Vamos comprometer estes projectos local, onde apresentou a queixa. Foi aconsel­hado a fazer à partida, por continuarmos a ter problemas básicos como uma exposição escrita a fim de facilitar o esclarecimento; este, de distribuição de energia eléctrica a conta-gotas? tem­po perdido porque também resultou em fracasso. O munícipe levou um baile dos grandes! Foi com espanto que, há pouco mais de 2 meses, ouvimos dizer que haveria sérias restrições no abastecimento de Se a Administração Municipal do Sam­ba, através da energia eléctri­ca à cidade capital por um período de um Fiscalização, sente-se incapaz de resolver o problema, em mês. O motivo tinha a ver com trabalhos de manutenção que organismo António Morais irá recorrer para resol- em Kapanda. Lá ficámos estupefac­tos, perguntando-nos ver o diferendo? Face à pre­sença do contentor a escassos como era possível acontecer algo do género em pleno metros da residência é obrigado a suportar o cheiro nau- ano de 2011, depois de durante décadas termos ouvido seabundo e está sujeito a contrair doenças. das mais esfarrapadas desculpas em relação à não resolu- ção deste problema, que já passou a ser um dos maiores “Sou obrigado a abandonar a minha casa porque é inva- empecilhos para o governo do nosso país e para os ango- dida por grandes quantidades de ratos, moscas, mosqui­ lanos residentes em meio ur­bano. tos, baratas e outros insectos nocivos à saúde humana. Não estou contra a ex­istência de contentores nesta área, Mas lá fomos aguentando, até porque «um mês passa mas que deve ser posto num local seguro e longe de pre- depres­sa» (como erradamente se ouvia dizer). Mas não, judicar os moradores da rua Mira Flor”. já que, afinal, de contas não era nada um mês: o assunto não estaria resolvido em Outubro – apenas lá para Quando a Vista atrasa em recolher o lixo, Toy Morais No­vembro, ou seja, mais um mês de espera, acreditando é obrigado a varrer a parte frontal da residência porque nas «autori­dades da luz», em quem nunca o deveríamos al­guns moradores depositam os detritos no chão. “Houve ter feito. momentos que tive de dormir fora”, desabafou o muní- cipe, residente na rua Mira Flor, Camuxiba, município Decorria o início de Novembro, quando ouvi dizer pela da Samba, província de Lu­anda. rádio que, afinal de contas, só em Dezembro estaria reposta a normalidade. E perguntei-me como é possível A empresa em questão teria a coragem de fazer o alguém andar a enganar-nos tanto tempo e manter-se mesmo na residência de um general das Forças Armadas impunemente no seu poleiro... Angolanas? Oficial superior da Polícia Nacional? Al­tos funcionários de Estado? Parentes de Ministros? Com que então os senhores engenheiros deixaram de Governadores? Se tem força, vai colocar defronte a porta saber fazer contas? Deixaram de saber fazer peque- da vivenda de uma das filhas do Presidência da nas projecções? Eu ainda estudei engenharia duran­te República, José Eduardo, da Corimba. Não se aprovei- um ano e meio, até comprovar que nada tenho a ver tem da modéstia do au­tóctone faltar ao respeito. com máqui­nas. Portanto, recordo-me bem das análises Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 136 matemáticas, das ál­gebras e das geometrias descriti­vas. Comentários Parece-me, pois, não ser pre­ciso ter formação em enge- Nos últimos tempos, têm-se ouvido muitos comentários nharia para saber que 8+8 são 16, mas 8x8 já passam a res­peito da EDEL. Mas não me pare­ce que, neste caso, a ser 64. Ou seja, qualquer estudante da 6ª Classe a culpa seja da EDEL. Atribuir à EDEL a culpa do que saberá contabilizar devidamente o tempo que durará a está a suceder é o mesmo que atribuir a culpa da falta manuten­ção do equipamento. de lei­te ao leiteiro, quando a verdade é que se as vacas não produzem leite, o leiteiro nada pode fazer. Portanto, Só que isso não é tudo. Em fi­nais de Outubro, ouvi a responsabilidade deve ser atribuída ao Ministério da na TPA um dos governantes do sector da energia dizer Energia e Água e, eventualmente, ás empresas produto- que o problema não estaria resolvido em Dezembro, ras de electricidade. Até porque não me soa nada bem coisa alguma. A previsão seria talvez lá para Março do o argumento segundo o qual a albufeira está sem água, próximo ano, na melhor das hipóteses. Aí, então, fiquei quando se sabe que isso pode (e deve) ser prevenido. chocado. Recordei­-me da década de 1980, em que toda a gente enganava toda a gente com números bonitos, mas Mas a verdade é que a empre­sa de electricidade que lida os es­tômagos dos angolanos roncavam a bom roncar com o público é a distribuidora (não as produtoras), de (alguns, até, rosna­vam a bom rosnar). Estaremos a regres­ modo que é a EDEL que arca com todas as cul­pas. Eis sar a esse tempo, em que os relatórios eram tão bonitos, alguns dos comentários que ouvi recentemente: «Já não que chegavam a impressionar de tão longe da realidade que ficávamos 2 dias sem luz em casa, desde os tempos da estavam? guerra»; Vol­támos à década de 90»; «Que ma­nutenção é essa, que não estava programada?». E, agora, vem esta semana a senhora Ministra dizer que afinal o problema estará resolvido em Dezembro. A respeito de comentários ou­vidos, há mais alguns que Portanto, falaram-nos em Novembro, em Dezembro, não posso deixar de partilhar com os leitores. Alguns Março do próximo ano e, nova­mente, Dezembro deste têm a ver com a ânsia que os cidadãos têm de pu­nição ano. Só não disse a senhora Ministra por quanto tempo exemplar em relação aos culpados desta situação, que o problema ficará resolvido ou, por outras palavras, há décadas prometem resolver o pro­blema, mas ele daqui a quanto tempo voltaremos a passar pela penum- vai-se agudizando ano após ano: «Isso só pode ser bra por que passamos agora e por todos os martírios daí sabotagem...»; «Ai, que saudades do tempo de partido decorrentes. único...»; «Lembram-se do que nessa altura se fazia aos Como se tudo isso não bastasse, vêm responsáveis do sabotadores?». sector da energia atirar-nos mentirinhas, demons- Tem também havido comen­tários relacionados com trando que pretendem apenas manter os seus tachos. as co­branças normalmente arbitrárias (muitas vezes, Esquecem-se do ditado que diz que e a mentira tem mesmo com con­tador) que a EDEL pratica. As pessoas pernas curtas. Ou h será que anunciarmos um mês de perguntam-se se neste período de sérias restrições, as restrições e, depois, dois su­cessivos incrementos de um cobranças vão ser processadas tendo em conta isso: mês não fazem com que fiquemos na penumbra durante «Quero ver quanto a EDEL vai cobrar ago­ra...». três meses? o Não teria sido melhor anunciar p logo de início os tais 3 meses de CI sofrimento? É que, se Um amigo do sector do ma­rketing foi um pouco mais assim se E tivesse agido, poderiam os cidadãos reclamar lon­ge, tendo-me recordado a recen­te nomeação do (com todo o direito q que lhes assiste), mas ao menos te Governador da província de Luanda. Amado por uns, ninguém vos acusaria de estarem a mentir apenas para detestado por outros, a verdade é que todos devemos dar tentarem manter os tachos. a mão ao novo Governador, desejando-lhe sucessos na sua empreitada, pois o seu sucesso re­sulta em benefício E há mais: onde estarão as cha­madas fontes alternativas, para todos nós, citadinos. Durante a «esfrega» de mais de nas quais se tem gasto tanto, mas tan­to dinheiro? Será 2 dias sem energia que a EDEL nos aplicou esta semana, admissível que, havendo manutenção do equipa­mento, o meu amigo perguntou-me: «Será que estão assim a se continue ainda hoje a fazer cortes e restrições, prejudi­ dar as boas-vin­das ao novo Governador?». Bem, não cando as pessoas e a economia? Por que razão não se faz me parece que seja isso. Mas se assim for, até parecem como em todo o lado, onde as manu­tenções não chegam os joga­dores do FC Porto, que deixaram de saber jogar sequer ao co­nhecimento do consumidor? Será que não apenas porque querem tramar a vida ao treinador... se faz manutenção de equipamento nos outros países? Faz-se, sim. Mas ninguém sabe disso, porque isso não é E, já agora, por que razão con­tinuamos a ter em Luanda assunto de domínio público. Em caso de manutenção, há um Director da EDEL que é figura pública? Enquanto soluções. É assim em todo o lado. Por que razão não há-de isso acontecer e enquanto tal entidade tiver o poder de ser também assim por cá? decidir sobre a vida das pessoas (quanto tempo as pesso­ Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 137 as trabalham e quanto ganham), quer dizer que estamos trução de três outros nos bairros Cabaça e Comandante mal, mui­to mal em relação a uma matéria elementar Ataque. como é a da produção e distribuição de energia eléctri­ca. A Administração Municipal do tal, Lucala construiu e Negócio dos geradores apetrechou uma co­zinha e uma lavandaria no hospital Um último aspecto que tem de ser referido tem a ver municipal, um depósito de medicamentos, além de ter com os geradores, que fazem com que os últimos dias reabilitado e apetrechado quatro postos médicos, dois tenham sido de grande calor em Luanda. Infeliz­mente, dispensários de tuberculose, quatro escolas do ensino não temos por cá o hábito de colocar termómetros nas primário e uma do primeiro ciclo do ensino secundário. ja­nelas, de modo que não sei qual a temperatura dos Também foram construídas casas para o administrador últimos dias. Mas que tenho visto toda a gen­te trans- municipal e seu adjunto. pirar, Sobretudo quando surge a tesoura da EDEL, de forma inesperada e implacável, sem aviso. No sector da agricultura, a Administração Municipal adquiriu uma carrinha e dois tractores, com rebo­ques Há uns anos atrás, quando se dizia que o problema da para apoiar o sector agrário. Há falta de sementes e ferra- distri­buição de energia eléctrica esta­ria resolvido lá para mentas para desenvolver a actividade no campo. O ano 2008-2010, vimos vendedores de geradores dirigirem-se agrícola no municí­pio do Lucala estará melhor servi­do, à Muxima, com re­zas, preces e promessas. Parece que com a disponibilidade de 166 hectares de terras, mas os pedidos destes vendedores à Virgem continuam a o grande problema, segundos os agriculto­res, prende-se vingar, enquanto os lamentos dos cida­dãos não têm tido com a falta de inputs e sementes. força suficiente para se fazerem ouvir. Os camponeses associados tudo estão a fazer para ultra- Mas a verdade é que, graças à «competência» dos funcio- passar a si­tuação ainda nos próximos tempos. nários públicos do sector da energia, a venda de gerado- res é negócio que continua a prosperar por es­tas bandas – o que é, no mínimo, inadmissível.

Para já, temos é de garantir que nenhum funcionário do sec­tor da energia tenha qualquer negócio de gerado- res. Porque de contrário, poderemos esperar pelo menos outros 36 anos pela resolução deste problema bási­co que nos continua a afligir e a remeter para baixos níveis de de­senvolvimento.

8.27 Redes de água e energia são reforçadas no lucala jornal de Angola 30 de Novembro de 2011

A sede do município do Lucala, o Kwanza – Norte, é abastecida de energia eléctrica através de uma li­nha de baixa tensão de 30 KVA, proveniente da subestação de Ndalatando que é alimentada pelas barragens de Cambambe e Capanda. No casco urbano, oito dos 11 bairros já consomem energia eléctr­ica. Em carteira está a extensão da corrente eléctrica para os três bair­ro sem falta.

Relativamente ao abastecimento de água potável, cerca de 85 porcento da população já tem acesso à de e estão a ser construídos charizes e lavandarias.

Em Kiangombe, única comuna e município, foram construí dos chafarizes e quatro lavandarias nos bairros de Matamba, Coio e Dualumbi. Está em curso a cons- Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 138

9 GENERO E VIOLENCIA liberalização do comércio tenha resultado na criação de mais formas de emprego remu­nerado para as mulheres nos ofícios industriais.

9.1 Empoderamento economico da Mesmo com estes resultados, disse, não se registou mulher é importante no contexto nenhuma mu­dança significativa em termos de elimina- da sadc ção da desigualdade salarial, de autoridade e de progres- Jornal o independente são na car­reira, porquanto continuam a assumir respon- 12 de Novembro de 2011 sabilidades primárias no lar e na prestação de cuidados infantis. A ministra da Família e Promoção da Mulher, Genoveva da Conceição Lino, disse terça-feira, em Luanda, que o De acordo com a titular da pasta do Ministério da empoderamento económico da mulher é muito impor- Mulher, é preciso adoptar instrumentos jurídico-legal e tante no con­texto do desenvolvimento susten­tável e da de política que resolva os problemas da mulher empre- integração na região da SADC. saria e nos países onde já existem políticas e legislação sobre o empoderamento. Genoveva Lino, que falava na abertura da VI Feira Regional das Mu­lheres de Negócios da SADC, fez saber que um dos principais objectivos da comunidade é 9.2 É cultura do angolano bater na alcançar o desenvol­vimento e o crescimento económico, mulher? o alívio da pobreza, a melhor ia dos padrões e da quali- Jornal semanario continente dade de vida das populações da África Austral. 18 de Novembro de 2011

Consta ainda deste objectiva o apoio aos grupos social- Acho que sim! Até porque é uma prática que já encon- mente desfavorecidos, através da integração regional. trei, o meu avô o meu pai já batia nas mulheres Aprendi SADC, acrescentou, assinou e ratificou declarações e com eles! Não fui eu que inventei! Sabia que algumas protocolos destinados a proporcionar a erradicação da mulheres gostam! Até acham que devem ser surradas! pobreza e da fome exacerbada pelas dispari­dades do Foi assim que muitos ho­mens responderam ao meu género. pequeno inquérito.

A mulher constitui o grupo po­pulacional da região da A lei contra violência doméstica é persuasiva? Não! Porquê? comunidade e estudos indicam também que as mulhe- Porque não combate as causas, é pouco abran­gente, não irá res representam metade da população pobre em África e de modo nenhum ex­tinguir, inibir, conter com esta prática que a pobreza na SADC é exacerbada por diversos fac- cultural e secular. Porquê? tores tais como a epi­demia do Vih e Sida e as desigual­ dades do género, entre outros. A lei é oportunista, falaciosa, sem nenhum conteúdo instrutivo nem pedagógico. O/A legisladora (copy paste “A mulher suporta o maior fardo de todas estas condi- da lei Portuguesa) e o forcing exercido pelas mulheres na ções sociais e económicas devido ao seu estatuto social Assembleia Nacional preocupou-se em defender a pele e económico. Em todo os Estados membros a mulher das mulheres, única e exclusivamente ­estavam fartas de continua a enfrentar dificuldades de natureza especí- levar “porrada” dos homens com indulgência da justiça, fica ao género, com destaque para o limitado acesso e por falta de legislação criminal e penal. Todavia foi controlo dos recursos produtivos nas nossas socie­dades”, um passo dado. Mas será que foi dado o passo civili­ explicou. zacional com a criação da lei, contra violência domés- tica? O homem ango­lano deixará de bater na mulher? Embora seja um facto indiscutível, acrescentou, que a Es­tará regenerado? Ou teremos muitos homens presos sociedade benefi­ciária bastante da integração da mu­lher por este tipo de crime? Penso que não é esta a finalidade, no sector económico, em muitas zonas do mundo e, até porque aí, as mulheres ficariam sem os preciosos em particular, na África Austral, a mulher continua homens, que são poucos, passariam “fome e frio”! a enfrentar imensos constrangimentos nos domínios empresarial e comercial. Um da móbiles deste tipo de crime é o ciúme, traição, que espelha pouca instrução, civismo, e desenvolvi- Com o aumento da força de tra­balho flexível e even- mento humano por parte do homem p angolano em não tual e do trabalho irregular, as mulheres, mais do que perceber, admitir d que a traição faz parte do compor- os homens, continuam sem emprego se­guro, embora a tamento humano, independentemente VI da fidelidade Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 139 exigida. Todos os humanos traem! É uma questão de A lei contra a violência doméstica deve passar pela ver- tempo, portanto, devemos saber conviver, tente educacio­nal, ou seja, deve constar nos manu­ais escolares de ensino básico, todo o repúdio de qualquer É conceber, anuir, com este tipo de comportamento, violência inclu­indo a doméstica, deve ser instruída nas prática humana, sem violência alguma. Todos nós crianças, a lei devia ter o punho de obrigatoriedade traímos, m homens e mulheres, aliás a nossa vida e é de instrução so­cial, a lida familiar, logo nos pri­meiros feita de traições! Se é que podemos chamar de traição. sinais de violência. Com estes mecanismos poderemos ter melhores relacionamentos passionais. A “desacultu- O egoísmo ilusório das mulheres em auto protegerem-se ração” do Homem An­golano talvez seja o caminho para com a lei, demonstra, a primazia delas, antes e sobre- a inibição destas práticas criminais. tudo, deixando de fora o mais importante que são os filhos, (crian­ças) que não têm e representatividade de “género” na Assembleia Nacional, por isso não conse- 9.3 Os moradores admitem sono guem influenciar leis para se protegerem e favorecer, de tranquilo maneira a impor juridicamente aos pais o cumprimento, Jornal angolense obrigatoriedade dos deveres, para que consigam obter 19 de Novembro de 2011 melhor educação, civismo e desen­volvimento humano para que no futu­ro estejam instruídos e cultos, saibam, Os moradores do Sambizanga admitiram a diminui- compreendam, que não devem prati­car este tipo de ção da criminali­dade naquela circuns­crição de Luanda, atrocidades. pois desde a retirada do merca­do Roque Santeiro já se consegue dormir tranquilamente. Se a delinquência já É tão agressor, violento, criminoso, um pai, que pratica não assus­ta tanto, o mesmo não se pode dizer da falta violência contra a mulher, como faltar ao compromisso de água potável, energia eléc­trica, do desemprego, da e o dever com o filho. prostituição e do alcoolis­mo o Bairro Morro dos Bois situa-se por detrás do campo que outro­ra era o mercado Os filhos de hoje poderão ser os agressores de amanhã, Roque Santeiro o É assim designando pelos moradores se não forem bem instruídos, porque não acaute­laram porque existia um morro de areia vermelha onde foram na lei, (violência doméstica) a responsabilização criminal enterrados cadáveres. penal, (crime público), dos pais (pai e mãe), no incum- primento dos deveres e ob­rigatoriedade dos filhos, ex.: Há dois anos estivemos neste local e naquela altura os Deve ser crime público (prisão efectiva) em Angola uma munícipes disseram que os jovens na sua maioria se mãe ou pai que não assu­ma a paternidade ou materni- dedicavam ao alcoolismo e a criminalidade. A partir das dade do filho, (processo judicial simplificado, priori- dezanove horas já ninguém poderia passar, caso o fizesse tário, rápido), deve ser penaliza­da a mãe que de má fé seria assaltado e por vezes morto. engana, oculta, falseia a paternidade do filho, causan­do seríssimos problemas a este filho posteriormente, que A rua 200 era ti da como área re­servada para a pros- não matricula no ensino obrigatório (escolar), que não tituição, designavam-na assim porque as trabalhadoras assume a responsabilidade económi­ca do filho menor. de sexo “prostitu­tas” cobravam duzentos Kwanzas por cliente. A obrigatoriedade nos registos de nascimento, a inclusão dos nomes dos progenitores. É violento um filho sa­ber Esta semana voltamos a mes­ma paragem para obser- que não consta no seu registo de nascimento o nome do var as mudanças que ocorreram du­rante este período. pai, ou da mãe, por divergência de situações. O relógio marcava dez horas quando chegamos a rua 200, a primeira vista o ambiente parecia calmo e seguro, Estes são basicamente os pressupos­tos que deviam incluir estacionamos o carro numa zona estratégica, pois que na lei da vio­lência doméstica. Não é sonegando estes temíamos sofrer algum tipo de represália por parte dos assuntos que as mulheres terão sossego na relação com melian­tes, porque segundo informa­ções, a área outrora os homens, pelo contrário, estes presuntivos influenciam era tida co­mo “escritório de alguns marginais”. outros, também é violência doméstica. Começamos a nossa caminha­da e num olhar minu- Quem pensa que combate o crime com mão pesada, cioso cons­tatámos, que as residências na sua maioria só com a lei, está enganado. A vertente sócio-cultural são de chapas, o saneamento básico é péssimo, possui devia ser entendida, compreendida de maneira que a sua um número elevado de oficinas, mas estas, funcionam abrangência fosse transversal. em condições desfavoráveis. Segundo os moradores têm enfrentado muitos problemas, o principal é a falta de Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 140

água potá­vel, o chafariz que existe esta estragado há já Branca Neto, outra activista, dis­se também que o tra- muito tempo, por essa razão muitos dos mu­nícipes têm balho de aconselhamento tem surtido muitos efeitos, de se deslocar em áreas como na 80avista para conseguir porque muitas adolescentes saíram desta vida e tem adquirir o líquido pre­cioso, mas há outros que prefer­em incentivado outras para também o fazerem, tendo real­ comprar o mesmo aos vizi­nhos que possuem tanques de çado que as que ainda perma­necem apontam o desem- água, sessenta Kwanzas o bidon de vinte cinco litros e prego como a principal causa. Branca, explicou que elas um balde de cinco litros custa vinte cinco Kwanzas. ficavam no ponto a partir das seis horas da manhã e na medida que os ho­mens vão passando chamam­os e Já os chamados “roboteiros” que são contratados para entravam com os mesmos iam em casas, onde também acar­retar água cobram quinhentos Kwanzas para trans- co­mercializavam bebidas alcoóli­cas.” Mas agora esta portar seis bidons, chegando a fazer por dia dois mil e prática diminui muito”, frisou. quinhentos Kz. Procuramos saber onde ficava a ponte onde as chamadas traba­lhadoras de sexo ficam, um dos João Francisco, munícipe que trabalha numa oficina moradores deu-nos a indicação, mais alertou-nos sobre impro­visada do seu pai, durante o dia, e no período noc- os peri­gos que corríamos ao chegar no local. “Cuidado, turno vai a escola disse-nos que o dinheiro que ganha já guardem bem os telefones, a área onde vocês vão é mais ajuda a pagar os seus estudos. “Os marginais por perigosa”, alertou um dos moradores. Prosseguimos; ecos marginais por vezes assaltam os carros dos clientes encontramos dois rapa­zes que mostraram-nos a casa e nós somos obrigados a pagar os prejuízos. onde é feita a prostituição. Era uma residência de chapa e o chão de terra abatida. Telemóveis e dinheiro são coisas que os bandidos têm como preferência” vezes assaltam as viaturas dos clientes e nós Disse ainda que actualmente já não co­bram duzen- somos obrigados a pagar os prejuízos. Telemó­veis e dinheiro tos Kwanzas, agora varia de mil a mil e quinhentos são coisas que os bandidos têm como preferên­cia”, realçou. Kwanzas. “Duzentos Kwanzas era no tempo do mercado Ro­que Santeiro, porque havia mui­tos clientes, agora os Já Adelina Teresa, moradora disse que, com a retirada clientes reduziram”, explicou. do mercado Roque Santeiro, a de­linquência diminui, mas enfati­zou que o problema cinge-se na falta de água Quanto a criminal idade, o jovem disse que os assaltos canalizada e a energia eléctrica no bairro. Quanto ao são feitos a qualquer hora do dia. “A pre­sença da polícia problema da prosti­tuição na zona, disse que as jo­vens não se faz sen­tir no bairro, porque eles tam­bém ficam estão a enveredar neste caminho por falta de apoio por com medo de sofrer represálias”, disse. parte dos familiares. Nos momentos que falávamos com um dos rapazes o ambiente mudou, e o medo se instalou so­bre nós, porque algumas pes­soas que lá se encontravam co­meçaram a se 9.4 A criminalidade está demais aproximar e a suspeitar da nossa presença. Jornal semanario angolense 19 de Novembro de 2011 Antónia uma das prostitutas re­voltou-se com a nossa presença chegando a pegar num balde para atacar-nos. Não quero falar na cri­minalidade de escalão alto, como Começou a gri­tar “não quero falar vocês, não ajudam em desvios de verbas públicas e coisas do género. Não! nada, é m’e1’hor saírem daqui agora”, gritava. Segundo Gostava que vocês, os media, que têm poder de persu- informações, a mesma tem quatro filhos e está nesta asão pú­blica, atacassem o problema que vai crescendo a vi­da há muito tempo. No bairro existe um projecto cada semana que passa, que são os assaltos cons­tantes. denominado ABC, que proporciona cursos de pastela- ria, culinária e decoração tendo como objectivo ajudar Trata-se de uma situação que parece fugir do controlo da as pessoas que estão caídas no al­coolismo, drogas e na nossa polícia. Os ladroes andam por ai impunes e já não prostitui­ção. Batem nas portas das ca­sas e sensibilizam são só os pobres que andam a roubar os nossos cidadãos. as pessoas aparecerem nos encontros que são realizados São também os filhos de famílias de classe média que todos os dias. agora roubam, alguns por puro desporto, de maneira a ganharem respeito nos seus gangs. Andam por aí nas Carla Manuel, activista do proje­cto disse que desde que suas matas e armados. Um autêntico cenário de filmes o proje­cto começou muitas raparigas já deixaram a vida do antigo Oeste americano. da prostituição, tendo recebido ajuda espiritual e mate- rial. Contou que a maioria das mulheres entram na má Estamos a chegar a uma reali­dade absurda em que ser vi­da por falta de emprego e estu­do na sua maioria são assalta­do já faz parte do nosso dia-a-dia e ninguém reage mães sol­teiras. verdadeiramente para combater esta peste. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 141

Só no meu seio familiar e social, no espaço de uma tendo assim forças suficientes para se auto-defen­der, semana, foram assaltadas 8 pessoas, incluindo eu próprio. tinha a cabeça a sangrar por todo lado como causa dos Foi no trânsito, outros a porta de casa, a caminho de ferimentos. casa e dentro de estabelecimentos pú­blicos! E só estou a falar de mim e dos que me estão próximos. Ima­ginem Depois de a desgraça ter acon­tecido e os marginais o número de cidadãos que são assaltados diariamente... terem fugi­do, levaram o jovem no hospital e chamaram a polícia. Quando esta chegou, apenas pergunta­ram o Aonde vamos parar assim? Acho que chega a ser que ocorreu e foram-se embora. vergonho­so para uma cidade que se quer mostrar ao mundo como sendo uma urbe do futuro, lidar com Para os demais moradores do bairro Kauelele, Comuna do si­tuações destas diariamente. Kicolo no município do Cacuaco, há muito não conhe- cem os meios humanos e técnicos da Polícia Nacional Criminalidade do género sem­pre existiu em todo o (PN), que por sinal, segundo nossos en­trevistados “estes mundo e em todas as cidades, mas, no nosso caso, o meios conhe­cemos pela Televisão nos desfi­les festivos e nível de criminalidade disparou escandalosamente. quando o Governo quiser reprimir uma manifesta­ção ou defender seus negó­cios”desabafou “Tio Verdade”. Gostava que vocês publicassem uma matéria a chamar Segundo apuramos, os melian­tes têm um comodismo a atenção ao governo e principalmente à po­lícia, para de se tirar o chapéu porque nem de dia como de noite, acordarem e decidirem fazer alguma coisa, porque assim não se vê ne­nhum agente da ordem. não vamos conseguir atrair a confiança de investidores estrangeiros para a nossa economia nacional. Pessoas são assaltadas na luz do dia com meios bélicos e le­tais mas,” ficamos de bicos fe­chados porque todos nós Como se não bastassem os pro­blemas da má distribui- preci­samos a vida mesmo na mis­éria”_ sentenciou dona ção da ri­queza nacional, da falta de água, energia eléc- Teresa Soares que, por sinal, já foi as­saltada por mais de trica e saneamento básico, parece que ainda temos que 3 vezes num intervalo de 60 dias, mas que nunca viu os lidar com uma polícia passiva aos assaltos em Luanda. malfeitores por trás das grades mesmo com as devidas participações das ocorrências a tempo e hora, --segun­ Será que agora se tornou cultu­ra ser-se gatuno? do Ela, “já não sabemos quem é o verdadeiro policia ou Por favor, pelo nosso bem, pelo bem comum, por quem é o gatuno” porque, rematou, “­‘todos no Kauelele Angola, façam alguma coisa. Por uma Angola limpa, têm armas de fogo e as exibem sem re­ceios, em fim, justa e segura. somos prisio­neiros dentro das nossas pró­prias casas. Os que nos ata­cam, estão bem localizados e bem identifi- cados pela própria Polícia” adiantando, “senão ve­jamos: 9.5 Kaulele, a capital da delinquência Como se percebe que um verdadeiro agente da Or­dem, Jornal angolense passa o tempo todo, ou quase todo, nos alambiques de 19 de Novembro de 2011 bebidas fermentadas e roulottes como nas maratonas no meio dos mais perigosos marginais todos no Kauelele Até que ponto a delinquência quer chegar? Pergunta têm armas de fogo e as exibem sem receios, em fim, difícil de responder a qualquer pacato ci­dadão. Eram somos prisioneiros dentro das nos­sas próprias casas, os cerca das 17h e 30m do dia 9 do corrente, que por sinal que nos atacam, estão bem localizados e bem identifica- nas vésperas do dia da Independência Nacional, quan­do dos pela própria Polícia que por sinal os conhecem? Por um estudante saia da escola e deparou – se com cinco não terem peso de consciência na hora em que deviam mar­ginais armados. Mandaram-lhe parar e como diz o agir contra e repor a legalidade per­guntamos, se vivem velho ditado que; “quem não deve, não teme”, parou, de favores dos meliantes? Perguntas que ficam no ar e quando para seu espanto, pediram-lhe 50 kz, respon- que merecem resposta para quem de direito. Devido dendo que não os tinha porque acabava de sair da es­cola, o elevado número de ar­mazéns dos expatriados que um dos marginais bateu­-lhe com uma garrafa na cabeça atraem os amigos do alheio, hoje, Kauelele e em particu- e, atordoado pedia socorro e ninguém interessou-se lar o Kicolo em geral, tornaram-se numa Ilha de tesouro em lhe ajudar, limitando-se a olhar num sentimento aonde to­dos Piratas fazem moradas. de medo de re­taliação, enquanto outros margi­nais do mesmo grupo, pegavam nas suas pertenças e batiam Os alunos, são assaltados os seus haveres em plena luz do com mais força. dia e, para aqueles que pensam em laser noutros recintos da urbe,­ sofrem a humilhações de toda índole perante Tentou defender-se mas, sem sucessos pois, tivera seus côn­juges. Não se pode andar com um par de calça- apanhado com uma coronhada de uma pistola, não dos de marca. Se fores a uma lanchonete e ou roulotte, Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 142

és abordado com a pe­tição de apenas kzs; 50.00 co­mo Como é nosso dever e obriga­ção, pautando pelo rigor pontapé de saída das suas acções. e isen­ção, cumprindo a nossa deonto­logia profissio- “ Não temos sono, até gerador em pleno funcionamento nal, sobre a ma­téria em causa, tentamos para melhor é leva­do a partir das 19 horas e, porque têm protecção nos situar, contactar a Unidade Policial local mas, sem não sei de quem”…disse-nos a nossa interlocutora, que sucesso alegando falta de auto­rização superior. só se identifi­cou de Mingota com muita nos­talgia.

Cauelele, tornou-se num novo Hollywood aonde con- 9.6 Assaltos á luz do sol tracenam os verdadeiros Gringos. São afirmações dos Jornal a capital nossos entrevis­tados de que as ruas mais peri­gosas do 26 de Novembro de 2011 cauelele são: A rua Branca, que parte da entrada do regi- mento de transportes milita­res das FAA, vulgo 08, na Se os anteriores moradores viram-se a braços, com os estra­da principal de Cacuaco e de­semboca defronte a marginais nas suas residências, cantinas ou próximo de empresa “sovinagres” estrada direita da Cuca e ou Ngola casa, Afonso Alves Pedra, 30 anos, foi assaltado na via Kiluange, junto ao Instituto Médio de Economia do pública, por volta das 16 horas, quando saia do serviço. Kikolo. Teve surripiado 12 mil kwanzas do salário e foi ainda brutalmente agredido com blocos e paus”, contou, apon- Nesta mesma rua, está a famo­sa “canjala”, nome dado tando o dedo acusador ao grupo marginal ‘Os Rebenta’. por ra­zões óbvias, aonde são vítimas todas as pessoas que exibem algo que chame a atenção do meliante. Pedra não foi a única vítima daquele dia A única dife- Existe ainda ao longo da mesma rua, a Cafilda, pois, rença é que, as outras pessoas conse­guiram apanhar um ali desemboca a famosa rua da “Pensão Gaby”a qual é dos assal­tantes, conhecido por ‘Sicossa’, que foi levado à chama­da de “Cafunfo” porque, é lá onde todos grupos 15” esquadra da Polícia. rivais de mal­feitores ganham o pão a qualquer preço nas suas embosca­das, vezes há em que entram em Referiu ainda, por outra lado, que no dia em que as rixas sangrentas por causa das ocupações de lideranças. vítimas foram chamadas na esquadra, para reconhe- Também, não é menos perigosa a rua do Kussanguluca, cerem o jovem, o mesmo foi colocado no quintal e, agora Instituto Politécnico “Formi­guinhas”, onde até surpre­endentemente, saiu como se não tivesse feito 18 horas, não passa ninguém a pé com al­go importante nada “Chamamos os agentes, mas apenas um simulou ou abraçados, quando casais. Neste lugar, até aparecem que corria atrás dele, mas não passou disso mesmo. Ele homens fardados e ninguém os detém. (o marginal), inclusive, foi a caminhar lentamente”, denunciou. Dona Laura, lamenta o facto destes lugares todos estarem a menos de 500 metros da Unida­de Comunal da E, segundo os moradores, o tal de Sicossa é já um rein- polícia Nacional no Kikolo. “Sofremos muitas das vezes cidente, alguém que já esteve várias vezes detido, mas violência verbal por parte de alguns policias, quando onde também não demora muito. Um ou dois dias parti­cipamos ocorrências mais de duas vezes porque depois, ele sai e regressa no seio dos seus comparsas do pensam que estamos a lhes acusar, isso, nos desenco- grupo ‘Os Rebenta’. raja a denunciar os malfeitores porque muitas vezes os meliantes dão conta dos nos­sos nomes por quebra Numa briga entre os grupos marginais naquela área, de sigilo da própria polícia, que acabam de revelar os nome­adamente, ‘Os Rebenta’, ‘Cadeia’ e ‘Os Mini nomes dos denun­ciantes e, com isso, sofremos retalia- Diabos’, ocorrida na, vulgarmente, conhecida rua do ções directas, ou nossos filhos a caminho da escola, são Matondo, palco de autênticas batalhas campais entre os molestados”-concluiu. Toma­mos conhecimento de que referidos grupos, o cidadão Abel Morais, um morador cer­tos camiões que tomam estas ruas citadas como esca- das redon­dezas, viu a sua viatura danificada Os faróis patória dos engarrafamentos, são as­saltados porque o foram totalmente quebrados. estado das mesmas favorece os intrusos a fazerem aquilo que só eles Sofremos muitas das vezes violência verbal Ela, por exemplo, há pouco mais de uma semana, viu a por parte de alguns policias, quando participamos ocor- casa assaltada por volta da meia noite, por um grupo de rências mais de duas vezes porque pensam que estamos oito elementos, dois dos quais apre­sentavam-se munidos a lhes acusar, isso, nos desencoraja a denunciar os mal- de armas de fogo e os restantes com facas e ferros que feitores porque muitas das vezes os meliantes dão conta foram usados para deitar a porta abaixo e facilitar a dos nos­sos nomes por quebra de si­gilo da própria polícia invasão à residên­cia. sabem fazer porque estão esbu­racadas e nenhum carro pode andar no máximo mais de 20 kms/hora. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 143

Já no interior, os marginais fizeram reféns duas filhas lia E que, segundo disse, sempre que acções do género suas, de 13 e 14 anos, respectivamente, que os mesmos acon­tecem e as V10mas apresentam queixas, os margi- pretendiam violar, caso as suas exigências não fossem nais, curiosamente, não demoram na cadeia e aparecem satisfeitas. “Eles chegaram, bateram a porta, mas como mais furiosos. “Caso descubram que você apresentou não estávamos a abrir, começaram a partir a parede, nas queixa, serás sempre vítima deles. Agridem-te com facas proximidades do aro, até que a porta caiu. Entraram, e outros objectos contundentes ou mesmo matam-te. apontaram-nos as armas e exigiram dinheiro”, contou. Por isso, muitos de nós, os estrangeiros, evitamos dar participação à Polícia Salvo erro, se forem apanhados em A senhora disse que não tinha, pelo que os assaltantes flagrante delito”, notou. ameaçaram violar as filhas. Mostravam-se com ares de poucos amigos. “Tive que entregar 13 mil kwanzas, Tal como Mohamed a jovem Isabel corro­bora com mesmo não sendo meus, a botija de gás e os nossos a asserção, de que o “crime está demais” por aquelas telefones”. bandas. Ela, por exemplo, recorda um episódio vívido por uma amiga sua, que, após de violada, apre­sentou Apresentou queixas à Polícia? Res­pondeu que não. queixa à Polícia, que, de imediato prendeu os autores Porquê? “No dia seguinte, o meu estado de saúde agra­ do crime. vou-se com o choque daquela situação e tive que ser levada de emergência ao hospital”, onde diz ter perma- Mas, para o seu espanto e dos seus familiares, duas necido durante mais de dois dias. semanas depois os seus a1gozes já estavam livres para E é assim todas as noites na área em que vive Esperança outras empreitadas criminosas. Começaram a ameaçá-la Adão: há sempre um assalto e os tiroteios são frequen­tes. de uma nova violação e se possível fosse, matá-la Dadas “Acho que a falta de energia eléctri­ca e o fraco patrulha- as cons­tantes ameaças e, porque a Polícia nada fazia, o mento da Polícia tem facilitado a tarefa dos meliantes”, pai da mesma resolveu mudar-se daqui para Cacuaco, vaticinou. onde vivem até ao momento.

“Por exemplo, após assaltarem a mi­nha casa, tentaram, As mudanças forçadas de residências são uma constante. no dia seguinte, entrar numa outra casa. Os bandidos Os municípios de Cacuaco e Viana são apontados como só não conseguiram, porque o dono da casa tem arma portos seguros, para esta imigração de antigos morado- e fez disparos. Se fosse em casa de alguém que não tem res do bairro da Terra Vermelha Já no bairro Kalawenda. defesa, eles entravam mesmo e faziam o que queriam”, Também na zona 18, é a partir das 18 horas que começa reconheceu. o calvário para os moradores daquela circunscrição do município mais populoso de Luanda Contam, por exemplo que todas as noites têm de lidar com uma 9.7 Desgraça com sabor oeste-africano ‘saraivada de tiros`, geralmente provocada pelos margi- Jornal a capital nais, o que; diariamente; os obriga a manterem-se no 26 de Novembro de 2011 interior das suas residências ou a refugiarem-se noutras.

Os moradores de Terra Vermelha, ao que disseram a este jornal, têm a impressão que a criminalidade no bairro 9.8 A “Faixa de gaza” de Luanda apenas cresce. Nunca diminui. Nos tempos que correm, Jornal a capital todos os dias, um cidadão ou uma residência é assaltada 26 de Novembro de 2011

Um cidadão equanto-guineense que lamentou este Afonso Manuel, residente na rua do ‘Show Man’, é a facto à nossa reportagem, afirmando não saber mais mais fresca vítima da onda da criminalidade que volta a se ri ou chora A sua cantina, por exemplo, localizada fazer morada em vários bairros de Luanda. Tem uma his- na zona 18, do quarteirão 11, não passou despercebida tória para contar e dores para alimentar. Re­centemente, das acções dos meliantes. Em plena madrugada, conta, foi esfaqueado no abdó­men, após ter sido surpreendido um grupo de oito delinquentes armados com armas de por elementos pertencentes a um grupo marginal deno- fogo e picaretas, arrombaram a porta da cantina neu- minado ‘Os Rebenta’. tralizaram e amarraram-no para que não gritasse. Da cantina levaram vários produtos ali comercializados Interpelaram-no quan­do regressava da. Os quatro incluindo o dinheiro do dia anterior. Mohamed referiu biltres, munidos de facas, cercaram-no e obrigaram a que, embora se tenha visto apontado com uma arma de tirar tudo que trazia nos bolsos julgando-se homem de fogo e amarrado, bem como ver a sua cantina esvaziada, fé e conhecido na rua, Ma­nuel resistiu à exigência dos não apresentou queixa à Polícia por medo de represá- marginais. Se mala pensou, pior o fez. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 144

Afrontados, dois dos seus algozes partiram ao ataque. Apresentou queixas à Polícia? Res­pondeu que não. “Agarram-me por trás e desferiram dois gol­pes de faca, Porquê? “No dia seguinte, o meu estado de saúde agra­ um do lado direito e outro na barri­ga”, lembrou. A única vou-se com o choque daquela situação e tive que ser imagem que tem daquele momento é de ter visto parte levada de emergência ao hospital”, onde diz ter perma- das suas ‘vísceras’ a sair do corpo. O resto esfumou-se da necido durante mais de dois dias. memória, pois caiu inanimado. E é assim todas as noites na área em que vive Esperança Ainda com dificuldades em falar, diz que os seus car- Adão: há sempre um assalto e os tiroteios são frequen­tes. rascos apenas levaram a Bíblia que trazia nas mãos, “Acho que a falta de energia eléctri­ca e o fraco patrulha- enquanto único artigo de valor que transportava. Foi mento da Polícia tem facilitado a tarefa dos meliantes”, socorrido por fa­miliares e vizinhos para o hospital dos vaticinou. Cajueiros, onde, segundo disse, viu ne­gada assistência médica. “Por exemplo, após assaltarem a mi­nha casa, tentaram, no dia seguinte, entrar numa outra casa. Os bandidos “Não sei se era por causa da gravi­dade do ferimento só não conseguiram, porque o dono da casa tem arma ou se não tinham mesmo medicamentos”, questionou, e fez disparos. Se fosse em casa de alguém que não tem sublinhando que foi, imediatamente, conduzido ao hos- defesa, eles entravam mesmo e faziam o que queriam”, pital Américo Boavi­da, onde, aliás, o encontrámos sobre reconheceu. o leito daquela unidade hospitalar de referência.

De acordo com os mora­dores, no mesmo dia em que Manuel foi esfaque­ado, outras duas pessoas tiveram a mesma ‘sorte’, saindo apenas ilesa uma terceira, por se tratar de um agente da Polícia. Este, ao ser abordado pelos marginais, dispa­rou, facto que precipitou a fuga dos amigos do alheio.

Assaltada por oito pessoas Residente no bairro Terra Vermelha, na chamada Zona do Buraco, Espe­rança Adão, foi também vítima da subida em espi­ral da criminalidade nos bairros periféri- cos, que regressa com contornos mais violentos, mesmo após uma limpeza de balneário’ realizada pela Polícia.

Ela, por exemplo, há pouco mais de uma semana, viu a casa assaltada por volta da meia noite, por um grupo de oito elementos, dois dos quais apre­sentavam-se munidos de armas de fogo e os restantes com facas e ferros que foram usados para deitar a porta abaixo e facilitar a invasão à residên­cia.

Já no interior, os marginais fizeram reféns duas filhas suas, de 13 e 14 anos, respectivamente, que os mesmos pretendiam violar, caso as suas exigências não fossem satisfeitas. “Eles chegaram, bateram a porta, mas como não estávamos a abrir, começaram a partir a parede, nas proximidades do aro, até que a porta caiu. Entraram, apontaram-nos as armas e exigiram dinheiro”, contou.

A senhora disse que não tinha, pelo que os assaltantes ameaçaram violar as filhas. Mostravam-se com ares de poucos amigos. “Tive que entregar 13 mil kwanzas, mesmo não sendo meus, a botija de gás e os nossos telefones”. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 145

10. AMBIENTE 10.2 Fiscalização florestal reclama por técnicos Jornal de Angola 11 de Novembro de 2011 10.1 Legislação minimiza impacto sobre o meio ambiente no país A falta de fiscais florestais, a nível do Departamento Jornal de Angola Provincial do Instituto de Desenvolvimento Florestal 10 de Novembro de 2011 do Kwanza-Norte, contribui negativamente para o con- trolo da flora local, situação que facilita o abate desorde- O administrador adjunto do Sambizanga disse, na nado e queimadas anárquicas das espécies vegetais. Em segunda­-feira, à Angop, que os efeitos da construção civil entrevista ao Jornal de Angola o responsável da referida no ambiente têm merecido a atenção das au­toridades, Instituição, Guilherme Sebastião, aborda a situação com a aplicação de leis para minimizar o seu impac­to actual do sector. negativo. Agostinho da Silva, que é enge­nheiro, frisou que, à Jornal de Angola – Como tem sido feito a fiscalização das semelhança de outros países, em Angola o impacto da flo­restas da província? construção sobre o ambiente tem sido combatido com a Guilherme Sebastião – Em ter­mos de fiscalização, nos publicação de leis sobre o assunto. últimos quatro anos temos tido dificuldades para con- “O ambiente e o bem-estar dos cidadãos são aspec- trolar os índices de transgressões florestais, em função tos de inegável relevância a nível mundial, daí que os do défice de pessoal qualificado para o efeito, visto que efeitos negativos da actividade da construção mereçam dos treze fiscais que a brigada possui, apenas quatro estão a atenção dos Governos de muitos países que fomentam em condições de operar, situa­ção que garante um campo a investigação e procu­ram desenvolver medidas para os fértil pa­ra os transgressores. Apesar desta situação, con- minimizar”, referiu. tinuamos a realizar ac­ções de sensibilização junto das co­munidades, através de palestras e debates, mas que a Em Angola, afirmou, a maior re­levância dos efeitos meu ver não têm sido suficientes para conscienciali­zar negativos re­gista-se mais nos centros urbanos, com a a população no sentido de redu­zir as acções contra as criação de alguns estaleiros de construção. florestas. Além disso, declarou, existem restrições frequentes e significativas quanto ao espaço disponível, o que acar- JA – O que é que a população alega em relação a prática de reta dificuldades acresci­das, pelo que a instalação de desmatação e queimadas desordenadas?­ esta­leiros nesses locais, pela sua espe­cificidade, requer GS – As alegações mais constan­tes têm sido a procura atenção especial dos intervenientes no sector da cons- de solos fér­teis para a prática de uma agricultu­ra itine- trução para se minimizaremos impactos. “A actividade rante rentável, visto que nas áreas tradicionais os solos dos es­taleiros de construção nos centros urbanos causa apresen­tam-se em certa medida já cansados, daí que os agressões ao meio ambiente, interferindo com o dia-­a- detritos dos tecidos vege­tais queimados ou apodrecidos, dia dos cidadãos, que, com fre­quência, protestam contra ga­rantem maior consistência de hú­mus aos solos durante a poeira, a lama, o ruído, os atrasos no tráfego, a redução um período de produção de dois anos, o que de­pois do do espaço e os mate­riais ou entulho depositados no tempo em referência obriga à procura de outras zonas es­paço público”, disse. de produ­ção. E de realçar que as queimadas podem também contribuir de forma negativa para o aumento A nova legislação, salientou, vai pôr cobro a esta prática, do dióxido -de carbono na atmosfera, situação que pode mas é pre­ciso que haja maior divulgação en­tre as levar ao aumento do aquecimento global, assim como construtoras.. das doenças respiratórias agudas.

JA – Há registo de algum caso de realização de queimadas que tenha sido levado à justiça? GS – Em relação a este problema é quase impossível chamar os res­ponsáveis à justiça por se tratar de comu- nidades com centenas de ha­bitantes. Temos sim registos de ca­sos singulares por prática de caça, exploração de madeira e carvão de forma ilegal. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 146

JA – vos primeiros finalistas do Instituto Médio Agrário, es­pecíficas em termos de qualidade ronda os 500 mil saí­ram técnicos preparados para o sector? kwanzas por ano, isto é, num perímetro de 500 me­tros GS – Nós estamos conscientes das responsabilidades cúbicos. do Instituto Médio Agrário em relação a forma­ção de quadros especializados para o nosso sector, mas o pro- JA – Que responsabilidades so­ciais acarretam as concessioná­ blema é que a admissão do pessoal é através de concurso rias junto das comunidades onde exploram a madeira? público, onde no pre­sente ano tivemos somente a possi­ GS – Na maioria dos casos tem si­do o arranjo das bilidade de receber um especialis­ta, dos tantos formados picadas de acesso, contratação e formação de jovens pela insti­tuição de ensino em causa. locais, bem como a venda do produto a nível da região de forma facili­tada. Uma outra responsabilidade não A – Como caracteriza a situa­ção de produção de plantas e menos importante é a criação de serrações como o caso ex­ploração florestal a nível da província? das exis­tentes a nível dos municípios do e GS – Podemos considerar a situa­ção de produção e Kikulungo, cujas capacidades de produção rondam os exploração flo­restal como estável, tendo em conta que 80 metros cúbicos por dia. a nível da província não há ex­cesso de exploração de madeira. Pelo contrário, precisamos que mais empre- JA – Duas serrações para uma província como o Kwanza- sários do ramo invis­tam na região para que possamos Norte são suficientes? angariar mais receitas para os co­fres do Estado, tendo GS – Digo que não, a verdade é que no passado a pro- em conta os desafios do Executivo em relação a mate- víncia contava com várias serrações. Hoje a maior parte rialização dos vários projectos sociais e económicos com delas encontram-se obsoletas. A título de exemplo cito vista a melhoria da qualidade de vida da população duas de grande porte no município de , uma nacional. em Cambambe e Lucala, para além de Ambaca e Golungo-Alto, das quais algumas deixaram mesmo de JA – Quais são as espécies de árvores mais exploradas? existir na totalidade. A recuperação das existentes está GS – A província do Kwanza-Norte possui espécies de condicionada pela falta de financiamentos bancários árvores que produzem madeiras cujas qua­lidades são das com que se deparam alguns dos proprietários, tendo em mais concorridas a nível do mercado nacional e inter- conta o elevado índice de degradação dos imóveis que nacional. Refiro-me concretamen­te à moreira, kibaba, ac­tualmente exigem renovação total das suas estruturas. tacula e ndulo. Podemos encontrá-las nos municí­pios de Golungo-Alto, Cazengo, , Bolongongo, J A – A nível das áreas de explo­ração está a ser aplicado o Banga e Kiculungo. princí­pio de repovoamento florestal? GS – O repovoamento nestas áreas está a ser feito de JA – Em média qual é a capaci­dade anual de exploração forma natu­ral através dos rebentos das semen­tes primá- dos re­cursos florestais? rias. A repovoação flores­tal está concebida para aquelas GS – Durante o ano em curso a província contou com áreas vulneráveis à desmatação por causa de queimadas cinco con­cessionárias licenciadas para a ex­ploração e agricultura itinerante, onde por causa da gran­de inci- da madeira em toro e três para a produção de carvão dência dos fenómenos em causa haja dificuldades de vegetal, que em média exploram três mil metro cúbicos germi­nação, espontânea das espécies lo­cais. E impor- de áreas florestais, cada. Estas são exploradas de for­ma tante referir que este projecto é de âmbito nacional e selectiva por cada empresa, si­tuação que pode acautelar prevê a intervenção de vários acto­res-chave da vida social a extin­ção das mesmas. e econó­mica do país, como o caso das ad­ministrações municipais, institui­ções bancárias, organizações não JA – Quais os requisitos neces­sários para o acesso à licença governamentais, bem como outras concessionárias do de exploração de madeira em toro? ramo florestal. GS – Para tal, é necessário que pri­meiramente o inte- ressado constitua um processo onde estejam patentes J A – Qual é a área total dispo­nível para a exploração dos dados como o croquis de localiza­ção da zona onde pre- re­cursos florestais a nível da província? tende intervir, parecer da administração local e vistoria. GS – O Ministério da Agricultu­ra, junto dos seus par- Depois da conclusão proces­sual a documentação é reme- ceiros sociais, está a realizar um inventário, desde o ano tida ao governo provincial, encaminhada à direcção pro- de 2009, com o objectivo de diagnosticar as áreas dis- vincial da agricultura para efeito de homologação. poníveis para a exploração da madeira em toro, mor- mente aquelas mais vul­neráveis a queimadas e desmata- As licenças são cedidas em fun­ção da requisição das ção. O mesmo foi interrompido du­rante o ano passado espécies pre­tendidas, por exemplo uma licença de explo- por razões fi­nanceiras, mas tudo está a ser feito para que ração da madeira kibaba ou moreira, tidas como as mais ainda no decurso deste ano possamos retornar os traba­ Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 147 lhos, tanto mais que já realizamos algumas acções de 10.3 Uso de materiais naturais evita formação ao pessoal local durante o primeiro trimestre danos ao ambiente do ano em curso. Após a conclusão do projecto em causa Jornal de Angola va­mos ter dados fiáveis em relação a zona total para a 12 de Novembro de 2011 exploração da ma­deira em toro no Kwanza-Norte. O aproveitamento de matérias-primas naturais como JA – Qual é situação actual do chamado pulmão florestal a luz solar e a topografia original, deve fazer parte das do Morro do Binda? opções do estudo para a construção de qualquer estru- GS – A pureza do oxigénio da ci­dade de Ndalatando tura, para se evitarem as agressões ao meio ambiente, depende em grande medida do pulmão florestal do segundo o biólogo Maquemba dos Santos. Morro do Binda, situação que nos últimos tempos tem O especialista disse à Angop que a construção sustentá- obrigado o executivo local a acautelar várias medidas vel “é um pro­duto da moderna sociedade tecno­lógica e de segurança, como a pa­trulha do corpo da Polícia visa causar o menor im­pacto, tanto na construção como Nacional, administração municipal de Cazengo e auto- na manutenção dos empreendi­mentos, utilizando-se os ridades tradicionais junto das veredas da mesa com o recursos naturais locais do e forma integrada no meio objecti­vo principal de deter as acções de vandalismo ambiente”. protagonizadas por quem quer que seja. As medidas em causa estão a surtir efeito e acredita­mos que pouco Segundo ele, a escolha dos mate­riais deve ser orientada a pouco a população vai ganhando consciência da para a pre­servação e recuperação do meio ambiente e im­portância que ela representa para a vida das comuni- apontou os resíduos só­lidos das indústrias como “bas- dades do municí­pio de Cazengo, principalmente aquelas tante apropriados como substitutos da areia e da brita”. situadas ao Norte. “É preciso que cada um faça a sua parte, mesmo que pareça pou­co”, disse, sublinhando que atitudes como JA – O que pode avançar sobre a produção de plantas reciclar o lixo, utilizar produtos inteligentes para reduzir ornamentais? o consumo de água além do uso de madeira certifi- GS – Durante o ano passado pro­duzimos mais de quatro cada ou de origem legal e o paisagismo funcional, que mil plantas a nível de viveiros, das quais dois mil de ajuda na manutenção do equilíbrio da temperatura e da carácter ornamental, com maior destaque para as acácias humidade do ambiente, são algumas das solu­ções que rubras e a do tipo americano, com o objectivo de assegu- podemos adoptar no lugar onde vivemos. rar as actividades de arbo­rização, quebra ventos e melhor Para o biólogo, é importante que a sociedade tenha em pai­sagem das cidades e vilas da provín­cia. De Janeiro a mente que a sustentabilidade na construção ci­vil é de Junho do ano em curso produzimos mais de mil. vital importância não só para o planeta, como para a manu­tenção da nossa saúde, bem-estar e conforto, JA – Durante o primeiro semes­tre do ano em curso que receitas foram arrecadadas para os co­fres do Estado? GS – Durante o ano em curso o IDF no Kwanza-Norte 10.4 Ambientalistas buscam formas para emitiu qua­tro licenças para a exploração de madeira em a csptção de novos fundos toro, num volume de 2.500 metros cúbicos, que resulta­ Jornal de economia e finanças ram na arrecadação de dois mi­lhões, 451 mil e 680 22 de Novembro de 2011 kwanzas. Em relação ao carvão vegetal temos quatro licenças e um volume de 592 toneladas e valores estima- O saneamento ambiental, com particular realce ao dos em 38 mil e 796 kwanzas, para além da aplicação acesso po­pulacional à agua potável, re­colha e tratamento de uma multa que possi­bilitou a arrecadação de 36 mil e aos resíduos sólidos e líquidos é um factor crucial para a 105 kwanzas. A venda de plantas ornamentais possibili- melhoria da qua­lidade de vida das populações. tou a entrada de 266 mil e 968 kwanzas, perfa­zendo um Não exactamente nova, esta é uma das conclusões a que total de dois milhões, 793 mil 549 Kwanzas. chegaram os partici­pantes da I conferência Nacional sobre o saneamento ambiental, realizada em Luanda, nos dias 17 e 18 de Novembro, numa organiza­ção do Executivo, através do Ministério do Ambiente.

A conclusão, se não tiver nada de inovador, merece, no entanto, uma profunda refle­xão, se tivermos em conta que, apesar dos esforços do Executi­vo no sentido de se melhorarem as implicações ambientais, ape­nas 25 por cento da população angolana de baixos rendimen­tos Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 148 têm acesso ao saneamento básico, contra 75 por cento Num outro sentido, a mi­nistra chamou atenção para a da população com maiores posses, concentrada maiori- proliferação de habitações irregulares na zona costeira e tariamente nos meios urbanos. nas proximidades de leitos de Êxodo populacional

Dados divulga aos no even­to indicam que, em Angola, Os actuais problemas de sane­amento ambiental que se 75,5 por cento de famílias nas áreas urbanas contam regis­tam, em Angola, devem-se em muito ao elevado com urna instalação sanitária em casa, comparativa- fluxo demo­gráfico das zonas rurais para as urbanas. Esta mente aos agregados familiares na peri­feria das cidades, situação, se­gundo o arquitecto e consultor do Ministério onde 49 por cento estão ligados ao sistema de esgotos, do Urbanismo e Construção, António Camei­ro, só será contra apenas oito, nas zonas rurais. ultrapassada com a institucionalização de um pro­grama nacional de saneamento urbano, que coordene as acções “A falta de saneamento é fre­quente e é um sinal de de saneamento e assista os municípios nesta empreitada. pobre­za, podendo provocar doenças às pessoas, redu- zindo a sua produtividade e capacidade de trabalho”, “Deve-se criar um sistema e c instrumentos de infor- constataram os participantes da conferência. mação de v apoio ao planeamento e uso do A solo E assim que, perante um quadro nada animador, o urbano, elaborar planos p municipais de intervenções even­to recomendou ao Executivo o estabelecimento de d imediatas com custos mínimos, d bem como intro- um meca­nismo de financiamento, através da a locação duzir aborda­gens distintas, mas inter-relacionadas, para directa de fundos aos municípios, bem como a aplica- as zonas urbana, peri-urbanas e semi-rural, num pro- ção de uma taxa de sane­amento, como forma de mobili­ cesso municipal de plane­amento integrado, dinâmico e zação de fundos locais. progressivo, que visa impul­sionar a subida da escada do A reunião defendeu tam­bém a criação de um progra­ma saneamento, a nível individual e colectivo”, defendeu. profissionalizado de ad­vocacia que acompanhe esta matéria, bem como o surgimento de um órgão de sane­ Segundo o arquitecto, o êxo­do da população do campo amento ambiental junto do Ministério do Ambiente, para as Cidades tem corno conse­quência principal o que, a nível nacional, coordenará todas as acções relacio- crescimento descontrolado da construção, baixa quali- nados com este segmento e prestará assistência e capaci- dade do ambiente urbano, elevados índices de ca­rência tação aos municípios. de infra-estruturas, equi­pamentos, serviços e perda to­tal da estrutura urbana. Sendo que, na sua opinião, O imperativo da participa­ção das empresas produtoras os actuais investimentos no saneamento estão muito de resíduos nos programas de recolha, processamento e aquém das ne­cessidades para se atingirem os Objectivos acondicionamento de lixos é outra das recomendações de Desenvolvimento do Milénio (ODM), António sa­ídas da reunião. Gameiro defende, a participação nos prog14mas ao sector privado nacional e das comunidades. 10.5 Plano de saneamento contrubui para o desenvolvimento Jornal de economia e finanças 22 de Novembro de 2011

A ministra do Ambiente, Fátima Jardim, defendeu a urgência de adopção de um plano nacio­nal de sane- amento ambiental, que preveja as acções a serem tomadas com vista à melhoria das condições de vida das po­pulações e ao desenvolvimento sustentável do país.

“Há necessidade de definir­mos modelos, clarificar os ar­ranjos institucionais e criar um sistema nacional 9,ue integre e consolide as estratégias, os pla­nos e os progra- mas de sanea­mento”, salientou a ministra. Fátima Jardim destacou que os modelos de gestão de infra­-estruturas envolvem acções que visam a expansão do for­necimento de água e esgotos, bem como planos de gestão e regulamentos de combate à pobreza e de desenvolvimen­to comunitário.