NOVEMBRO de 2011 Centro de Documentação e Informação
O Extracto de notícias é um serviço do Centro de Documentação da DW (CEDOC) situado nas instala- Redação ções da DW em Luanda. O Centro foi criado em Janeiro Helga Silveira de 2001 com o objectivo de facilitar a recolha, arma- zenamento, acesso e disseminação de informação sobre Conselho de Ediçao desenvol-vimento socio-economico do País. Allan Cain, Jose Tiago e Massomba Dominique Através da monitoria dos projectos da DW, estudos, pes- quisas e outras formas de recolha de informação, o Centro armazena uma quantidade considerável de documentos Editado por entre relatórios, artigos, mapas e livros. A informação é Development Workshop – Angola arquivada física e eletronicamente, e está disponível para consulta para as entidades interessadas. Além da recolha Endereço e armazenamento de informação, o Centro tem a missão Rua Rei Katyavala 113, da disseminação de informação por vários meios. Um dos C.P. 3360, Luanda – Angola produtos principais do Centro é o Extracto de notícias. Este Jornal monitora a imprensa nacional e extrai artigos Telefone de interesse para os leitores com actividades de interesse no +(244 2) 448371 / 77 / 66 âmbito do desenvolvimento do País. O jornal traz artigos categorizados nos seguintes grupos principais: Email [email protected] 1. Redução da Pobreza e Economia 2. Microfinanças Com apoio de 3. Mercado Informal 4. OGE investimens públicos e transparência Development Workshop 5. Governação descentralização e cidadania OXFAM Novib 6. Urbanismo e habitação Fundação Bil1&Melinda Gates 7. Terra 8. Serviços básicos 9. Género e Violência 10. Ambiente
As fontes monitoradas são: – Jornais: Jornal de Angola, Agora, Semanário Angolense, Folha 8, Terra Angolana, Actual, A Capital, Chela Press, O Independente, Angolense, e o Semanário Africa. – Websites: Angonoticias, Radio Nacional de Angola, Ibinda. – Publicações Comunitárias como ONDAKA, Ecos da Henda, InfoSambila, Voz de Cacuaco e Jornal Vida Kilamba.
O Corpo das notícias não é alterado. Esperamos que o jornal seja informativo e útil para o seu trabalho. No âmbito de sempre melhorar os nossos servi-ços agradece- mos comentários e sugestões.
Grato pela atenção.
A Redação INDÍCE
1 REDUÇÃO DA POBREZA E ECONOMIA
1.1 “A queda de Angola não significa que o pais piorou, mas sim que os outros se esforçaram mais” 1 1.2 Angola desce um lugar no ranking do doing business 2012 2 1.3 Impacto do investimento chinês 2 1.4 Projecções económicas `atrapalhadas ´ 3 1.5 Responsabilidade social das empresas: para uma parceria para o desenvolvimento (primeira parte) 4 1.6 Promessa longe do cumprimento 5 1.7 Jornalistas recebem uma formação sobre “objectivos do milenio” 6 1.8 Porque descaracterizar os bairros requalificados? 7 1.9 Executivo espera gerar 10 mil postos de trabalho em 2012 8
2 MICROFINANÇAS
2.1 BCI apresenta verba para micro credito 9 2.2 Credito malparado aumentou em 2010 9 2.3 “A operação do microcrédito é uma aliança extremamente vantajosa para Angola” 10 2.4 Credito agricola a empresarios 11 2.5 Cuidado com o credito malparado 11 2.6 Sector bancário cresce acima da economia em 2010 12 2.7 Camponeses associados recebem microcredito no negage 13 2.8 Mercado do Mota 14 2.9 Sem atrapalhar lucro dos bancos 14 2.10 Crédito malparado duplicou 15 2.11 Fiscais gatunos 16 2.12 Programa do Executivo impulsiona comércio rural 16 2.13 Milhares de camponeses na Lunda-Norte beneficiam em breve de crédito agrícola 18 2.14 Credito concedido é inferior ao disponivel 19 2.15 Bancarização em Angola é “gota de água no oceano” 19 2.16 Apenas 11% dos angolanos têm conta bancaria 20 2.17 Crédito agrícola «sem» camponeses 20 2.18 Poupança pode ser um bom negócio 21 2.19 Milhares de camponeses na Lunda-Norte beneficiam em breve de crédito agrícola 22 2.20 «Kilapi» para mobilar a casa 23
3 MERCADO INFORMAL
3.1 Novo mercado a berma da estrada 25 3.2 Fantasmas do Roque Santeiro 25 3.3 Candidatas a doentes de úlcera gastrica e tuberculose 26 3.4 Casas da candonga dificultam comerciantes 28 3.5 Autoridades preocupadas com a venda inlegal 28 3.6 Governante anuncia plano para melhoria dos mercados 30 3.7 Vendedores do mercado do Cassualala têm sombras 30 3.8 Administradores dos mercados culpam executivo pelas praças de rua 31 3.9 Uma profissão a considerar 32 3.10 Descartáveis, mas retornaveis 33 3.11 A luta pela sobrevivencia nas ruas do kuito 34 3.12 Os desafios das zungueiras 35 3.13 Mercado informal domina Luanda… 36 3.14 Aposta no meio rural «presa» no papel 37 3.15 A persistencia de um empreendedor que garante a subsistencia da familia 38 3.16 Embarcações a preço elevado 39 3.17 Conselho regional traça estratégias para disciplinar venda informal 39 3.18 Venda na praia só com higiene 40 3.19 Venda ambulante de frutas atrapalha lojistas 40 3.20 Sambizanga com ambiente nauseabundo 41 3.21 Inaugurado mercado na cela 41
4 OGE INVESTIMENS PÚBLICOS E TRANSPARÊNCIA
4. 1 OGE E a linguagem dos números 43 4.2 Jovens exigem esclarecimentos sobre alegadas contas de jes 44 4.3 Trinta e três porcento do oge destinam-se ao sector social 45 4.4 Arrecadação do GPL cai bruscamente 46 4.5 Orçamento do estado aprovado na generalidade 46 4.6 O OGE de 2010 provocou défice de 15 milhões de dólares` 48 4.7 Oposição defende mais verbas para o sector social 49 4.8 Proposta de lei do oge debatida na especialidade 50 4.9 É preciso mais transparências na gestão do executivo angolano 50 4.10 Análise técnica á proposta de orçamento geral de estado do governo de Angola para o ano de 2012: comentarios gerais (1) 51 4.11 É Preciso mais transparências na gestão do executivo angolano 55 4.12 Despesas para as eleições inscritas á parte 56 4.13 OGE Destnado ao huambo será revisto 58 4.14 Análise técnica á proposta de orçamento geral de estado para o ano 2012: comentários sobre a composição do oge 2012 (2) 58 4.15 Assembleia nacional aprova oge na generalidade 61
5 GOVERNAÇÃO DESCENTRALIZAÇÃO E CIDADANIA
5.1 Decretos do Presidente dão projecção a Luanda 62 5.2 Sociedade civil exige mais transparência do governo 62 5.3 “Nos últimos 15 anos, há indicicios de que a fecundidade começa a cair 63 5.4 Provincia de Luanda delonga por governador competente 64 5.5 Aqui é a cpaital do sobúrdio de Luanda” 65 5.6 «Queremos deixar de servir apenas para as estatísticas eleitorais» 66 5.7 Batata quente» para o novo gpl 69 5.8 A voz de bento bento no «corredor da morte» 70 5.9 Vigora nova estrutura orgânica com a nomeação do governador 71 5.10 Novos administradores nomeados em Luanda 72 5.11 GPL Transfere-se para cidade do kilamba 72 5.12 Eleições autárquicas ou legislativas? 74 5.13 Bento bento tem a politica na veia falta-lhe conciliar o tacto da gestão de uma cidade turbulenta 75 5.14 Bento bento arruma a casa 75 5.15 Bento bento nomeia` compadre` para presidente da comissão administrativa de Luanda 76 5.16 Cacuaco entre a expansão e a desigualdade 76 5.17 Deixou problemas para enfrentar outros 78 5.18 Contestada nomeação de tavares 79 5.19 Parlamento altera funcionamento dos órgãos da administração local 79
6 URBANISMO E HABITAÇÃO
6.1 Casas sócias são construídas para funcionários 80 6.2 Lucro garantido 80 6.3 Habitações distribuídas na urbanização do Camama 81 6.4 Casacon online 82 6.5 Jovens querem apoio da banca para construção de habitações 82 6.6 Abertas inscrições para sorteio de casas 83 6.7 Militares podem beneficiar de habitações sociais em todo o pais 83 6.8 Jovens inscreveram-se para sorteio de casas sociais 84 6.9 Militares podem beneficiar de habitações sociais no pais 84 6.10 Estado-maior do exercito junta-se ao projecto habitacional do executivo 85 6.11 Ovas casas para antigos combatentes 86 6.12 Retrato colorido da moderna cidade do kilamba 86 6.13 Construidas casas para desfavorecidos 88 6.14 Fundo dá garantias para empréstimos 89 6.15 Novas casas para o interior da provincia 89 6.16 Ministro defende controlo dos preços das casas 89 6.17 Fundo habitacional e operadores da banca assinam acordo 91 6.18 Construidas milhares de moradias 92
7 TERRA
7.1 Maianga tem novo sistema informático para a emissão de atestado de residência 93 7.2 Administração descarta responsabilidade na ocupação da praia 93 7.3 Soba queixa-se de não receber dinheiro 94 7.4 Administrador do sambizanga 94 7.5 Administração não confirma inscrição 95 7.6 Martelo demolidor volta á tchavola no lubango 95 7.7 Administração do Kwanzas desanca contra privada 96 7.8 Bebé morre após demolição de casa 97 7.9 Moradores dizem-se injustiçados na sua própria terra 98 7.10 Quando os “diabos” de isaac vêm ao de cima 99 7.11 Tchavola é habitada há mais de um século 100 7.12 Pescadores do cabo ledo insatisfeitos com a transferencia do bairro 100 7.13 Administração comunal em silêncio 101 7.14 Administradora comunal deixa familia ao relento 101 7.15 Garimpeiros invadem terrenos de deputados 102 7.16 Governo cria condições para ocupação legal de terrenos 103 7.17 Madrasta desaloja enteados no maculusso 103 7.18 A Lei da Terra de Angola e a discussão da sua aplicação 104 7.19 Edificio de dois andares desaba no bairro nelito soares 105 7.20 Conclusões da conferencia do huambo 106 7.21 Fazendas continuam á espera do divórcio com a letargia 106 7.22 Lei de terras constitui mais-valia para o pais 107 7.23 Problemática da terra passada á lupa 109 7.24 Evitemos que a posse da terra seja próxima ameaça á paz 110 7.25 Mais um terreno em conflito 111 7.26 Requalificação da cidade melhora a habitalidade 111 7.27 Trabalhos de requalificação da baia ficam concluidos já no proximo ano 112 7.28 Membros de associação de camponeses são suspeitos da venda ilegal de terrenos 112 7.29 Luta por terra 113 7.30 Demolições e promessas do governo de Luanda 11 7.31 Reservas fundiarias foram ocupadas ilegalmente 115
8 SERVIÇOS BÁSICOS
8.1 Pobres pagam pela água dos ricos 117 8.2 Abastecimento de água chega ás aldeias 118 8.3 Água dificil para todos 119 8.4 Bairros de Luanda sem energia há 30 anos 120 8.5 Uma”dor de cabeça” sempiterna 122 8.6 Um chafariz ao deus dará no kilamba kiaxi 123 8.7 Solicitada reabilitação do Olímpio Macuéria 124 8.8 Água chega a calonda 124 8.9 Governador pede apoio dos cidadãos para resolver os problemas de Luanda 125 8.10 Elisal com dificuldades de pagar operadoras 125 8.11 Politicas de saneamento em discussão 126 8.12 GPL Gasta 18 milhões de dólares/mês 127 8.13 Lixo obriga GPL a dívida de cerca de usd 90 milhões 128 8.14 BB «Herda» pesada dívida 129 8.15 Baldas da epal 129 8.16 Pango-aluquém sem agua potavel 129 8.17 300 Mil localidades do pais serão alcançadas até 2012 130 8.18 Munípes do prenda clamam por agua há um ano 130 8.19 Falhas constantes de água ofuscam greve da epal 130 8.20 Abastecimento de água potável preocupa o secretário de estado 131 8.21 Água e energia são carências notáveis 132 8.22 PCA Da epal terá desviado através de `pombos correios` 1 milhão de dólares 132 8.23 Sejam bem-vindos ao deserto, meus senhores! 133 8.24 Há falta de consciência na deposição do lixo 133 8.25 Quando o abuso passa dos limites 135 8.26 Edel á luz de velas… 135 8.27 Redes de água e energia são reforçadas no lucala 137 9 GÉNERO e VIOLENCIA
9.1 Empoderamento economico da mulher é importante no contexto da sadc 138 9.2 É cultura do angolano bater na mulher? 138 9.3 Os moradores admitem sono tranquilo 139 9.4 A criminalidade está demais 140 9.5 Kaulele, a capital da delinquência 141 9.6 Assaltos á luz do sol 142 9.7 Desgraça com sabor oeste-africano 143 9.8 A “Faixa de gaza” de Luanda 143
10 AMBIENTE
10.1 Legislação minimiza impacto sobre o meio ambiente no país 145 10.2 Fiscalização florestal reclama por técnicos 145 10.3 Uso de materiais naturais evita danos ao ambiente 147 10.4 Ambientalistas buscam formas para a csptção de novos fundos 147 10.5 Plano de saneamento contrubui para o desenvolvimento 148 Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 1
1 REDUÇÃO DA POBREZA Tendo em conta isto, que outras reformas devem ser ope radas para que se tenha um ambiente de negócio mais E ECONOMIA favorável? É preciso melhorar naqueles indicadores para se chegar a esse índice de classificação. O primeiro deles é as facilidades para se estabelecer um novo negócio. Aqui 1.1 “A queda de Angola não significa entra o número de procedimentos necessários para se que o pais piorou, mas sim que os criar um tipo de empresa, o tempo para criar a empresa, outros se esforçaram mais” o percentual das receitas por capita do ano em curso. Jornal expansão Por exemplo, a renda por capita do País. Portanto, cada 04 de Novembro de 2011 uma destas áreas. Quanto à questão dos alvarás, Angola tem uma classificação de 115, que é bastante melhor. O Que considerações tem a fazer sobre o posicionamento mesmo acontece com o acesso a electricidade, onde o de Angola no relatório Doing Business 2012? índice é de 120, num universo de 183 países; registo de propriedade, 129; a questão do acesso ao crédito, 126; Antes de dizer o que me parece, eu gostaria de tecer alguns protecção aos investidores, 105; pagamento de impos- comentários que são importantes para contextualizar essa tos, 149; comércio exterior, importação e exportação, classificação que tem Angola. Primeiro, é importante per- 163; cumprimento dos contratos, 181; e depois as reso- ceber o que é o estudo sobre o ambiente de negócio. É um luções para o caso de insolvência das empresas têm uma estudo comparativo de regulamentações que se aplica às classificação de 160. empresas dos países, que é feito em 183 países ou econo- mias. Bem, o que temos de ter em consideração na clas- Portanto, estes dados são ponderados com os de outros sificação de Angola é que essa classificação, que é feita países, e a classificação de Angola é de 17l. E preciso a cada ano quando se faz o estudo comparativo, é uma analisar isso em detalhe e ver as áreas onde Angola podia escala móvel, porque, na medida em que Angola avança, trabalhar, e penso que seriam naquelas em que ainda outros Estados têm avançado mais ou menos. No âmbito está em desvantagem em relação a outros países. Sei que geral, isto depende muito. Não é que Angola não tenha também tem a questão da contratação da mão-de-obra, feito esforços no sentido de melhorar o ambiente de negó que tipo de u contrato é permitido e não permitido, o cios para as empresas, mas o que pode ter acontecido é tempo, e isso vai d criando rigidez e dificuldades li para que outros países tenham feito mais. as empresas, acabando por p interferir com os índices globais que Angola teve. Este facto, por si só, justifica a queda de Angola da posição 171 para a 172? O Guiché Único de Empresas prepara-se para abrir mais Mesmo com algumas reformas, e foi o caso deste ano, duas agências em Luanda, e o País tem também uma em que Angola fez duas reformas importantes: uma delas nova Lei de Investimento Privado com vários incentivos. foi a questão dos direitos de propriedade, ficou mais fácil Até que ponto estas medidas podem ser importantes para transferir propriedade, e foi, também, reduzido o valor melhorar a posição de Angola? de imposto cobrado sobre transferência de propriedade. Eu acho que é importante porque um dos indicadores Isto, obviamente, vai reduzir os custos das empresas a que nós vimos aqui é o tempo, o número e dias que se transaccionar. A segunda reforma tem que ver com o leva para tramitar m determinado processo. estabelecimento das agências de crédito, ou seja, o acesso ao crédito está mais facilitado, na medida em que as É óbvio que a abertura de mais uma agência do Guiché agências de crédito agora são obrigadas a ser mais trans- Único vai diminuir a quantidade de dias que são neces- parentes. Quer dizer, um indivíduo ou empresa que tem sários e facilitar também o acesso do empresário a infor- uma facilitação destas agências I terá direito a conhecer mação. Porém, o que se nota, e isso faz parte do relató- a sua posição e a verificar se os dados estão correctos. rio que foi divulgado, é que os países precisam de fazer Isto ajuda, porque são informações muito importantes um esforço muito grande em colocar todos os dados em para as empresas poderem levantar créditos para inves- meios magnéticos, seja, electrónico, e o Guiché Único timento de trabalho. Portanto, Angola fez esse trabalho, ainda é uma coisa presencial, requer a presença da pessoa mas, ainda assim, caiu um ponto da classificação, saindo e só existe em Luanda. Devia fazer-se um esforço para- do lugar 171 para a posição 172. Não significa isto lelo para que esse pedido de processos de alvarás pudesse que Angola piorou. Isto significa que os outros países ser feito através de meios electrónicos. fizeram mais esforço. Isso significa que estamos numa dinâmica e não adianta avançarmos sozinhos. E preciso saber também como é que os outros estão a avançar. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 2
Pelo que se percebe do relatório em causa, a execução 1.3 Impacto do investimento chinês de contratos é o pior indicador do país. Na sua opinião, Jornal Agora o que deve ser feito de concreto para se melhorar este item? 05 de Novembro de 2011 Olhe, eu não sou um especialista na área e fica difícil tecer uma opinião, até porque não participei na pes- Não se sabe ao certo quanto o país recebeu nos últimos quisa. Mas ao olhar aqui os Índices e comparar qual é a anos, de empréstimo da China, mas dados de várias maior situação aqui, é que, quando há uma disputa de publicações de pesquisa, como o European Journal of contrato, a solução vai durar três anos. Então este é um European Research, revelam que cerca de 15 biliões de ponto crucial, é o tempo que se demora para se dirimir dólares é a provável dívida contraída pelo Estado ao ‘ uma questão contratual. Então, é óbvio que aqui deve gigante asiático. ser feita alguma coisa para que o tempo seja mais curto. Recentemente o Fundo Monetário Internacional (FMI) Se comparar Angola com Argélia, por exemplo, nota-se avançou num estudo que o investimento chinês em uma diferença muito grande entre estes países. Angola está subestimado, embora Pequim mantenha forte presença na construção civil, agricultura, teleco- O que dizer sobre o posicionamento da África subsaariana municações, construção automóvel e logística. no relatório? As pesquisas apontam que como prova suficiente dos Este é outro aspecto que gostaria de salientar. O rela- programas de ajustamento estrutural em África, desen- tório, no seu exercício sumário, refere justamente a volvidos pela China, os novos empréstimos são obriga região da África subsaariana, que teve um dos maiores dos a pagar de volta os velhos, com as taxas de juro Índices de avanço em todo o mundo: 78% dos países da continuamente ultrapassando o crescimento económico. África subsaariana conseguiram fazer alguma coisa para Segundo os analistas do Fundo, as grandes dívidas têm melhorar o seu ambiente de negócios, ou seja, 36 dos 46 efeitos negativos para a economia de desenvolvimento, países desta região do continente africano conseguiram os encargos dos débitos são os impostos fiscais, que fazer isso. É louvável porque é um indicador bastante fazem os empréstimos resultar em redução da despesa positivo. É um sinal de que a região acordou para esta pública. questão e está empenhada em melhorar o ambiente de Foi no âmbito da consolidação do seu império financeiro negócios para que, realmente, o potencial do continente que o Governo chinês desenvolveu o famoso ‘método possa desabrochar, e é preciso simplesmente criar con- Angola’ que consiste em disponibilizar dinheiro para dições adequadas para que este crescimento de África projectos específicos obrigatoriamente desenvolvidos possa acontecer. pelas empresas chinesas, tornando-se assim, uma ajuda para o financiamento que cria dependência mais do que os outros tipos de auxílio, como o apoio orçamental. 1.2 Angola desce um lugar no ranking A China tenta, a todo o vapor, fazer de Angola a produ- do doing business 2012 ção barata e fonte dos recursos naturais para satisfação Jornal expansão da demanda interna e, em seguida, usar o país como um 4 de Novembro de 2011 mercado dos seus produtos manufacturados. O FMI revelou, ainda, que outros estudos apontam O mais recente relatório do IFC – International Finance que o país já é o maior fornecedor de petróleo africano Corporation conclui que, em 2010, um número conside- à China e o maior receptor de investimento chinês, rável de economias da África Sub-Sahariana melhorou o embora nas estatísticas não apareça. seu ambiente regulador para as empresas locais. Apesar Além dos sectores tradicionais, gás e petróleo, está disto, e devido as alterações metodológicas, aliadas ao amplamente espalhada na construção civil e automóvel, facto de que muitos países africanos estarem a reformar- telecomunicações, agricultura e logística. -se num ritmos mais rápido, a classificação de Angola A presença não se confina apenas às grandes empresas, baixou ligeiramente, saindo da posição 171, ocupada em mas também em todo o tecido empresarial angolano, 2011, para a 172 na classificação de 2012. retirando muitas vezes o protagonismo dos nacionais, permitindo a criação de uma ‘subeconomia’ que retira a credibilidade das parcerias estabelecidas nos acordos firmados, fundamentalmente na construção civil e indústria. A diversificação dos investimentos, não reflecte o inte- resse do ‘ gigante asiático’ em incentivar a diversificação da economia, industrialização de valor acrescentado, ou redistribuição de rendas económicas. A estratégia de exportação chinesa é um dos factores Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 3 importantes para a ‘ desindustrialização’ de vários países Desenvolvimento (Bad) fixa o crescimento deste ano em africanos de renda média, como por exemplo, a Nigéria 7,5%, passando em 2012 para 11,2%, graças sobretudo e Angola, visto que Pequim não está a transferir o ‘know à recuperação dos preços do petróleo, embora reconheça how’ para estes Estados que carecem de mão-de-obra “um menor impacto” na redução da pobreza. especializada. Os analistas do Bad afirmam que apesar do investi- Nos últimos seis anos, Angola terá recebido da China mento público em Angola estar em alta, é marcado pelo cerca de 15 biliões de dólares em linha de crédito. Estes “clientelismo político e pela corrupção”, aconselhando, fundos são canalizados para o processo de reconstrução por isso, um crescimento robusto com impacto sobre o nacional assistido pelas empresas chinesas, mas a falta desemprego e as gritantes desigualdades sociais. de fiscalização dos projectos num contexto institucional Comparando os dados de 2010, o Fmi constata melho- disfuncional e de corrupção, leva a incertezas quanto à rias muito sensíveis da posição angolana, já que as previ- qualidade e lisura do processo. sões apontavam para um saldo da balança corrente, em o país é actualmente o maior fornecedor de petróleo, percentagem do Produto Interno Bruto (Pib), de 1,33% superando tanto a Arábia Saudita como o Irão, e as em 2011 e de 3,292% no próximo ano. exportações atingiram cerca de 800 mil barris por dia. Quanto à inflação, de acordo com o Fundo, continua O estudo exploratório do Fundo presume, também, a constituir um dos maiores quebra-cabeças da política que as estatísticas oficiais do investimento chinês estão económica, passando em termos médios de 14,5% em subvalorizadas devido ao ‘método Angola’, uma vez que 2010 para 14, 6% ente ano e descendo para 12,4% em toma quase impossível separar o que é investimento 2012. direito estrangeiro e a ajuda bilateral ou contratos de De acordo com os dados disponíveis, o país deverá financiamento com os privados. crescer duma aa media da economia mundial (4,5% em O Investimento chinês nos Países de Língua Oficial 2012) e mesmo da taxa de crescimento prevista para os Portuguesa (PALOP) subiu 27%, nos primeiros sete mercados emergentes (6,5%). Crescerá também muito meses, deste ano, para 62,9 biliões de dólares, face ao além da média da África subsaariana (5,5% em 2011 e período homólogo de 2010. 5,9% em 2012) e dos países africanos exportadores de petróleo (6,9% em 2011 e 7% em 2012). “Este ano, o crescimento apenas será superado pelo 1.4 Projecções económicas Ghana (13,7%)”, refere o estudo, sublinhando que “a `atrapalhadas ´ posição externa do país é positiva, pois é visto como um Jornal AGORA credor líquido e a variação do preço das com modities 05 de Novembro de 2011 terá um impacto globalmente muito positivo na balança comercial”. As análises eufóricas das autoridades contrastam com Prognósticos do Bm. O economista do Banco Mundial as previsões das principais instituições financeiras mun- para Angola e Moçambique, estimou, por seu lado, que diais, não deixando de ser uma confusão de narizes por o investimento público e a valorização do petróleo per- não haver um rácio razoável. mitirão a país crescer escassos 8% no próximo ano. O Executivo reporta um crescimento de 12% em 2012, Ricardo Gazel, citado recentemente pela agência de um ritmo quase quatro vezes superior ao estimado para informação financeira Bloomberg, fixou o crescimento este ano (3,7%). deste ano em 5%, revendo por baixo as estimativas do Estas previsões inscritas no Orçamento Geral do Estado Fmi. (Oge) para o próximo ano são mais optimistas do que as A brusca queda dos preços do ‘ouro negro’, em 2009, análises do Fundo Monetário Internacional (Fmi). Este provocou uma baixa nas reservas de moeda estrangeira, prevê uma expansão de 10,8% em 2012 contra 3,7% provocando o abrandamento do Programa de Investi em 2011. mentos Públicos e de construção de infra-estruturas. A crer nos indicadores, Angola será o terceiro país com o o executivo do Bm observou que as perspectivas econó- maior crescimento em toda a África subsahariana, atrás micas sã sólidas, pois, “0 país está numa posição com- da Nigéria (12,4%) e Serra Leoa (15%). pletamente diferente, prevendo-se o reinício dos inves- As autoridades pretendem atingir um défice nulo em timentos no sector não petrolífero, estimulando ainda 2012, com as receitas e despesas a atingirem mais de 35 mais o crescimento”. mil milhões de dólares e um controlo da inflação abaixo A redução da produção petrolífera, resultante de inter- de 12%. rupções para a manutenção, deverá ser “mais do que com- Por sua vez, o Oge2012 estima um crescimento de 13,4% pensada”, pelo aumento dos preços do crude, segundo do sector petrolífero e o não-petrelífero de 12,5%. Já o o especialista, que prevê igualmente um aumento do Fmi prevê uma subida de apenas 10,4% neste último. investimento público antes do pleito eleitoral marcado Por sua vez, o último relatório do Banco Africano de para o próximo ano. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 4
Gazel antecipa um excedente de 8% do Pib em 2011 e que é o capitalismo – o único sistema económico até um aumento das reservas de divisas para mais de 20 mil hoje implantado e que tem mostrado uma extraordiná- milhões e dólares, tomando assim mais fácil o Executivo ria capacidade de transformação e regeneração interna e financiar os investimentos sem ter de emitir dívida. de ajustamento às crise e turbulências várias, políticas e O Banco Português de Investimentos (Bpi) num estudo sociais – e a economia de mercado. publicado em Agosto último, previa uma aceleração da Na perspectiva de Dunlap, os empregados, os forne- economia de 2,5% em 2011 e 9,8% em 2012. cedores, os clientes, o Governo e os representantes da À sua conta, o economista Alves da Rocha referiu que comunidade – esta, provavelmente, um dos vectores a nossa economia poderá tornar-se na quinta maior de destrinça entre responsabilidade económica e res- do continente africano em 2014. “Caso esse deside- ponsabilidade social das empresas: a sua capacidade de rato seja atingido, a economia angolana ficará à frente inserção nas comunidades e de interagir com elas e com de Marrocos e atrás da África do Sul, Nigéria, Egipto os seus elementos – não devem interferir nas decisões e Argélia”, notou o especialista, por altura do F6rum tomadas pelos verdadeiros decisores, isto é, os que inves- sobre Estratégia e Competitividade. tem na empresa. Os verdadeiros decisores, que são os De acordo com este professor universitário, a análise investidores, têm, não só, o direito de encerrar a empresa é feita com base na evolução satisfat6ria da taxa de e despedir os seus trabalhadores, como declarar inváli- Rendimento Nacional Bruto, na dinâmica da economia dos e irrelevantes quaisquer postulados que tais pessoas e no poder de compra dos cidadãos. possam fazer sobre o modo como gerem a mesma. “Não há nenhuma fórmula mágica. O que acontece é Como disse, trata-se duma visão restritiva do que deve apenas uma benesse do mercado internacional”, notou ser hoje a empresa, em contextos modernos, democra- o economista, Fernando Heitor, para quem “a econo- ticamente envolventes e participados e competitivos. mia poderá apresentar elevadas taxas de crescimento por Seguramente que existem outras formas de governar as duas razões: o aumento da produção petrolífera mesmo empresas a que Peter Drucker tão abundantemente se com as limitações impostas pela Organização dos Países refere. Dentre as mesmas avultam as relacionadas com a Produtores de Petróleo e o preço do barril no mercado”. responsabilidade social das empresas e os seus defensores contestam a viabilidade de avaliação económica isolada duma empresa e a curto prazo. Em vez disso, uma ava- 1.5 Responsabilidade social das liação mais ampla, de longo prazo, englobando todas as empresas: para uma parceria para operações da empresa. o desenvolvimento (primeira parte) Jornal Expansão 2 – Definição de responsabilidade social empresarial 11 de Novembro de 2011 (RSE) Para os evangelistas do mercado, a primeira prioridade Em homenagem aos 36 anos de independência nacio- da empresa é produzir bens e serviços que a sociedade nal, durante os quais as necessidades dos angolanos não quer e precisa, num quadro estratégico de maximização foram satisfeitas na medida das expectativas que este do lucro individual. Onde meter a responsabilidade social? facto político criou, tendo-se hoje um dos países mais Na interdependência entre negócios e sociedade na busca desiguais do mundo e de África, entendi escrever uma duma envolvente estável entre necessidades individuais e série de três artigos dedicados necessidades colectivas? à responsabilidade social das empresas e que tem como Entendi curial reflectir sobre duas dimensões da respon- desafio máximo as propostas formuladas por Sua sabilidade social das empresas e tentar fazer a ponte entre Santidade Bento XIX na sua encíclica Caritas in Veritate. elas. o ponto de vista moral. Aparentemente, este ponto Esta responsabilidade empresarial deve ser encarada na de vista pode coincidir com a ética dos negócios, com a perspectiva de uma parceria público-privada para o lealdade de intenções face a parceiros e a terceiros, o for- desenvolvimento. necimento de bens e serviços dentro de normas de qua- lidade e de respeito dás preferências dos consumidores, 1 – Introdução a publicidade não enganosa. Deste ângulo de análise, a Poderia começar com uma afirmação lapidar de Albert responsabilidade social empresarial é a dedicação contí- J. Dunlap sobre a essência da empresa num regime capi- nua da empresa a comportamentos éticos, contribuindo talista de economia de mercado evidentemente diferente para o desenvolvimento económico e melhorando as dum outro de capitalismo de Estado, em vigor na China condições de vida dos trabalhadores e das suas famílias, e que quase passou despercebido na ex-União Soviética: assim como das comunidades em que estão inseridas. “a empresa pertence às pessoas que nela investem – e A componente moral da responsabilidade social exige não aos empregados, aos fornecedores, nem à comuni- que os negócios se façam com honestidade, seriedade dade onde está instalada”. Declaração forte e radical do e sinceridade e no respeito dos compromissos assumi- Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 5 dos. Igualmente determina que não se tenham salários Então a questão passa a ser: criar bons empregos em que em atraso e se paguem as remunerações do trabalho de o empregado se sinta útil a si, à sua família e à sociedade acordo com os contratos assinados. em geral. Para isso faz-se mister que a força de traba- Um ponto particular: porque se pede que as empresas lho seja bem dotada de educação e de conhecimentos se comportem com responsabilidade social e a mesma técnicos. postura não é exigida às pessoas ricas? Estas classes pos- sidentes afectam somas consideráveis a gastos de extrava- gância e sumptuosidade privadas. Estes cidadãos e classes 1.6 Promessa longe do cumprimento sociais distanciam-se da imensa maioria da população, Jornal semanario factual em vez de a ajudarem na caminhada para uma prosperi- 12 a 19 de Novembro de 2011 dade comum. Uma sociedade harmoniosa caracteriza-se pela democracia, pelo imperativo da lei, pela equidade, Os automobilistas e moradores manifestam o seu des- pela justiça, pela sinceridade, pela amizade e pela vitali- contentamento pela progressiva degradação da avenida, dade o ponto de vista económico dado que o sofrimento não é prematuro. Os empresários e as empresas são quem deve operar a melhor combinação produtiva dos factores de produção, Eles concordam que poderá ser pior, caso Luanda, nos com diferentes finalidades: maximizarem os retornos próximos dias, seja fustigada por forte chuva, o que dos investimentos, poupar recursos escassos (e, por isso e impossibilitará o tráfego automóvel e pedestre, face ao em alguns casos, caros) e acautelar uma repartição justa mau estado da via. do rendimento gerado no decurso do exercício da acti- vidade produtiva. Percebem-se elementos sociais nesta As demonstrações de desagrado por parte dos utentes da função económica do empresário. via surge pela promessa efectuada pela administradora Assim como se adivinham zonas de contradição e conflito do município do Rangel, Maria Clementina Silva, no entre a função económica das empresas e o que deseja- passado dia 22 de Setembro, quando prometeu que os velmente deveria ser a sua função social. E uma delas é trabalhos de reabilitação da via arrancaram em seguida, quando, por razões de eficiência (poupança de recursos) mas, até ao momento, não se vê nada de novo no local e de maximizacão de lucros, as combinacões factoriais favorecem o capital (e as suas diversas componentes) em Na avenida Hoji-Ya-Henda, o estado crítico do piso desfavor do trabalho, optando-se, portanto, por processos no sentido triângulo dos Congoleses linha-férrea do de produção intensivos em tecnologia e capital. Cazenga, bem como o troço até ao hospital América Observada do ponto de vista da empresa, a RSE pode ser Boavida, está a cada dia a deteriorar via degradada causa entendida como parte da gestão de risco, isto é, tomando insegurança. diferentes medidas estratégicas para assegurar a sobrevi- vência da empresa no futuro previsto. Isto faz parte da Para muitos automobilistas, a degradação excessiva da responsabilidade dos gestores para com os accionistas, avenida Hoji-Ya-Henda e a fraca iluminação pública e a mellior maneira de o fazer é lutar por um modelo contribuem, em muito, para a insegurança na via, sobre- operacional que crie valor para todos os stakeholders, tudo no período nocturno. que, de outra maneira, poderiam, no longo prazo, tornar a empresa vulnerável. O semanário Factual voltou a efectuar uma ronda na A criação de emprego pode ser, provavelmente, a mais avenida Hoji-Ya-Henda, três meses depois da promessa importante responsabilidade social das empresas e dos da administradora municipal, Maria Clementina Silva, empresários, embora seja a consequência económica onde pôde constatar a progressiva deterioração da via natural da constituição de actividades produtivas. Não quase na sua plenitude. se pode iniciar uma qualquer acção produtiva sem que a combinação dos factores entre o trabalho. Marx dizia Automobilistas ouvidos pelo semanário dizem que a que o capital mais não é do que trabalho cristalizado, situação que se vive na zona do pica-pau já leva mais significando que a origem essencial do processo de pro- de seis ou oito meses. Na opinião destes, o trabalho de dução – capitalista e não capitalista – é o trabalho. colocação de um novo tapete asfáltico na via levada a Mas que tipo de emprego? Claro que as empresas não cabo pela BECOM não surtiu os efeitos desejados, pois são centros empregadores tout court. Não o podem ser, foi apenas um trabalho paliativo. porque também têm a responsabilidade social de acau- telar uma racional a locação de outros recursos e factores O automobilista Carlos António, que tem a avenida escassos. Empregando por empregar, as empresas des- Hoji-ya-Henda como a principal via para chegar ao perdiçam capital, escasso sobretudo em economias em local de trabalho, revelou ao Factual que “é muito triste desenvolvimento ou subdesenvolvidas. verificar que uma das principais avenidas do município Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 6 do Rangel se encontra degradada desta maneira, mas as 1.7 Jornalistas recebem uma formação autoridades municipais nada fazem, no sentido de con- sobre “objectivos do milenio” trapor a gradual deterioração da mesma. Jornal de Angola 22 de Novembro de 2011 Para o morador Paulo Gonga, a situação pode vir a piorar caso, nos próximos dias, caia forte chuva sobre O director nacional da Comunicação Social reiterou Luanda, o que poderá causar inúmeros transtornos à cir- ontem, em Luanda, o compromisso do Ministério de culação automóvel, principalmente. “Neste momento, prosseguir na defesa de parcerias para a superação técnica Luanda ainda não foi fustigada por uma forte chuva, e profissional dos seus quadros, para melhor desempe mas os transtornos já são visíveis. nhar o seu papel de informar e educar a população. Quanto ao tráfego, muitos são os que têm tido inúmeros problemas nos seus automóveis, devido ao mau estado da José Luís de Matos reafirmou o compromisso na aber- via. Por isso, é preciso que a Administração do Rangel tura do seminário de capacitação de jornalistas sobre os faça alguma coisa, a fim de evitar as consequências que Objectivos do Desenvolvimento do Milénio (ODM), hão de advir”, salientou o morador. propostos pelas Nações Unidas. o Factual constatou, igualmente, graves problemas a nível da drenagem das águas pluviais, o que tem causado “Dividido em metas mensuráveis e indicadores, os o seu acumulo ao longo da avenida Hoji-ya-Henda, Objectivos do Milénio permitem acompanhar o pro- tendo como resultado a deterioração do tapete asfáltico. gresso e exige dos países relatórios sobre as suas politi- Por seu turno, o automobilista João Gaspar salientou cas e programas para os atingir”, disse Luís de Matos, ao semanário que a avenida Hoji-Ya-Henda necessita de para quem, com a realização deste seminário, os jor- um trabalho de reabilitação profundo, uma vez as obras nalistas estão mais convictos das suas o responsabi- levadas a cabo não terem surtido o efeito desejado, tendo lidades na divulgação e promoção dos Objectivos de em conta a sua durabilidade efémera. Desenvolvimento do Milénio.
“Este facto demonstra a fraca qualidade das estradas “Os ODM são também importantes para o futuro da a nível da província de Luanda e não só”, asseverou o humanidade, pois ao mesmo tempo visam tu promover automobilista. os direitos humanos, a m paz e a segurança”, salientou.
Moradores querem que administradora dê a cara A coordenadora das Nações Unidas em Angola, Maria Cansados por esperar, os automobilistas e os moradores do Valle Ribeiro, referiu que o seminário se enquadra adjacentes à via pedem à administradora do município no conjunto de programas VII que a ONU desenvolve do Rangel que venha a público explicar os motivos do em parceria com o Executivo, destacando os programas atraso do inicio das obras de reabilitação da avenida como o acesso à água potável, saneamento, nutrição e Hoji-Ya-Henda, principalmente nos seus pontos mais segurança social. críticos. “Realizamos esta acção formativa porque achamos que a Marta Fernandes, moradora do município e usuária questão do desenvolvimento não só constitui uma preo- da via, fez saber ao Factual que “é muito difícil acredi- cupação do Executivo, mas também das Nações Unidas tar que esta avenida ainda continua no estado em que e de cada cidadão”, disse. está, visto que os próprios membros da administração Maria do Valle Ribeiro referiu os progressos que Angola a utilizam. regista em relação aos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, em particular, na educação, no acesso à água “Penso que a administradora (com todo o respeito) quer potável e a participação das mulheres na vida pública e que chova para, depois, aparecer com a televisão e tentar nos órgãos de decisão. passar a imagem de que está a trabalhar. Esta não é uma atitude de alguém que se preocupa com o povo”, O seminário, uma iniciativa do Programa das Nações desabafou Marta Fernandes. Unidas para a População (PNUD), vai abordar assuntos ligados aos “Progressos de Angola concernentes aos ODM” e os “Desafios a que estão relacionados”, e conta com a participação de jornalistas de nove províncias do país-Cabinda, Uíge, Huambo, Benguela, Malange, Bengo, Kwanza Norte, Kwanza-Sul e Luanda. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 7
Os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) Como foi no bairro anterior, os construtores fecharam surgem da Declaração do Milénio das Nações Unidas, todas as saídas e entradas que condicionam a vida dos adoptada pelos 191 Estados-membros no dia 8 de beneficiários e dos simples passageiros, das áreas afec- Setembro de 2000. tadas pelas obras, o que como se imagina, condiciona sobremaneira a fluidez do tráfego rodoviário, situação Criada num esforço para sintetizar acordos internacio- aproveitada pelos taxistas para sobre facturar na corrida. nais alcançados em várias cimeiras mundiais ao longo dos anos 90, a Declaração traz uma série de compro- Seja como for, como o lema é “ os constrangimentos missos concretos que, se cumpridos nos prazos fixados, passam e a obra fica”, as pessoas aturam a situação, na segundo os indicadores quantitativos que os acompa perspectiva dos sacrifícios consentidos serem o mais nham, devem melhorar o destino da humanidade neste breve e que a obra perdure no tempo. século. Os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio estão No Mártires e no Bairro Popular foi notável que ao a ser discutidos, elaborados e expandidos globalmente reabilitarem as vias, alteraram significativamente as e dentro de muitos países. Entidades governamentais, mesmas. É o caso da rua Machado Saldanha. Em que empresariais e da sociedade civil estão a procurar formas foram encurtadas as faixas de rodagem, pois onde com- de inserir a busca por esses Objectivos nas suas próprias portavam mais de uma faixa de rodagem, depois da estratégias. reabilitação, dois carros em sentido contrário, já não Erradicar a pobreza extrema e a fome, atingir o ensino podem cruzar mesmo em faixas contrárias e em con- básico universal, promover a igualdade entre os sexos e trapartida aumentam-se as passadeiras. O problema se a autonomia das mulheres, reduzir a mortalidade infan- agudizou nas Bs e Cs, pois nestes bairros, tendo sido til, melhorar a saúde materna, combater o VIH-Sida, construí dos para acudir situações do superpovoamento a malária e outras doenças, garantir a sustentabilidade da cidade, as residências não possuem garagens e como ambiental e estabelecer uma parceria mundial para o é obvio, os moradores estacionam as suas viaturas nas desenvolvimento são os oito objectivos da ONU apre- ruas como sempre foi. Com as obras, estes queixam-se sentados na Declaração do Milénio e que se pretende de terem a vida às avessas, porque não conseguem esta- alcançar até 2015. cionar mais as suas viaturas nos locais habituais, porque ao reabilitarem-nas estreitaram-nas de tal forma que se estiver um carro estacionado, outro já não pode passar. 1.8 Porque descaracterizar os bairros requalificados? Com a indisciplina aos motoristas, se alguém atrever-se Jornal o continente em deixar a viatura na via no período nocturno, pela 25 de Novembro de 2011 manhã tem grandes prejuízos decorrente das embatidas neste período, o que leva os moradores a contestar. Este No âmbito do seu programa, o Executivo tem estado a trabalho das vias teriam que ser como eram e nunca realizar obras para requalificação dos bairros de Luanda” inventar fórmulas que não se encaixam. para melhorar o nível de vida dos seus habitantes de As comissões de moradores, procuraram tirar satisfação forma a não estarem a margem do desenvolvimento que à administração local, que não consegue dar quase nada, a cidade está a receber. porque as obras estão a cargo de um órgão de subordi- nação central, que quer no acto do levantamento topo- Foi assim com Mártires de Kifangondo, mesmo sendo gráfico como na realização da obra, não dá e “cavako” um bairro urbano e nas proximidades do portão de aos órgãos da administração local e muito mel nos aos entrada da Capital, que durante muito tempo quando moradores. chovia era uma miséria, pois não permitia mobilidade até mesmo dos moradores, o que ao concluir as obras Esta forma de estar é estranha, não acham? Porque o que o público manifestou a sua alegria e se predispôs a pre- se propala por aí, é que toda obra tem que ser antecedida servá-la para durar. do estudo de impacto ambiental, o que se subentende, as forças vivas da comunidade, logo se teria visto que era Agora é a vez do Nelito Soares, por ser uma área bas- contraproducente reduzir as faixas de rodagem. E agora tante frequentada, já que comporta o mercado dos a obra já está feita e apesar de não estar concluída, com se Congoleses, centro Recreativo Kilamba, um ponto de vai solucionar o problema? Vão se partir outra vez as Vias referência obrigatória quando está em causa a cultura, e o passeio ou o povo vai sofrer assim mesmo? para citar simplesmente alguns lugares de referência e até serve de trampolim da cidade para os bairros circunvizinhos. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 8
1.9 Executivo espera gerar 10 mil postos de trabalho em 2012 Destaca-se que o sector da Indústria transformadora Jornal semanario factual registou um crescimento médio anual, entre 2008 e 26 de Novembro a 03 de Dezembro de 2011, na ordem dos oito porcento e foram criadas e 2011 entraram em funcionamento 750 empresas privadas, em quase todos os subsectores, com destaque para a indús- Segundo o titular da pasta, António Pitra Neto, o pro- tria alimentar e de bebidas. grama do Executivo para 2012 preconiza que a geração de emprego deve ocorrer, essencialmente, nos sec O número de postos de trabalho directos cifrou-se em tores primário, secundário e terciário da economia, na mais de 25 mil e 120, e o valor dos investimentos pri- sequência dos programas gizados desde 2008. vados atingiu cerca de quatro mil milhões de dólares”.
De acordo com o governante, citado pela ANGOP, que O sector dos têxteis, vestuário e calçado, começa respondia terça-feira (22) às perguntas dos deputados agora a dar os primeiros passos, com o relançamento à Comissão de Economia e Finanças, a estabilidade da cultura e da fileira do algodão e a reabilitação e o macroeconómica, a adopção de incentivos facilitadores desenvolvimento da produção têxtil, de modo a gerar nalgumas áreas, a formação dos artigos laborais espe- emprego e a substituir as importações. cializados e, sobretudo, a disponibilidade de recursos financeiros internos e externos, para que os projectos Para o próximo ano, deverão entrar em funcionamento de investimento sejam a alavanca fundamental para a três fábricas de tecidos, nomeadamente Textang II, em geração de emprego e possam ser um dos problemas. Luanda, a Africa Têxtil, em Benguela, e a SATEC, na cidade do Dondo, na província do Cuanza Norte). “Felizmente, hoje o quadro é melhor e é assim que o Executivo tem incidido, desde 2008, os seus esforços, a fim de que a geração de emprego se fizesse no sector primário, secundário e terciário da economia”, referiu.
Relativamente a 2012, adiantou, esta política vai conti- nuar, devendo as atenções estarem viradas para os secto- res da agricultura, da pecuária, da pesca e das indústrias transformadoras.
“Quero aqui referir que, neste sentido, um papel muito importante vai continuar a ser dado ao investimento público e ao privado. Os esforços financeiros do Estado, através do Orçamento Geral do Estado, são uma via e não podemos subestimar a via imprescindível da colaboração do investimento público e privado nacional e estrangeiro neste objectivo central para qualquer socie- dade, qualquer economia que é a geração de emprego”, afirmou.
Salienta-se que, de acordo com dados do Executivo, as perspectivas sectoriais do Executivo prevêem que o sector da indústria transformadora deverá registar um crescimento médio anual na ordem dos 10 porcento entre 2012 e 2017 e cuja expectativa de geração de empregos deverá situar numa média anual entre 7, 4 mil empregos directos e 7,5 mil indirectos, estimado em 8, 5 mil milhões de dólares.
Já o sector da energia prevê investir oito mil milhões de dólares para a produção e cerca de nove mil milhões para o sistema de transporte e distribuição de energia. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 9
2 MICROFINAÇAS No seu conjunto, a generalidade dos indicadores reco- lhidos pela consultora numa amostra que “caracteriza de forma fiel o sector bancário em Angola, na medida em que traduz cerca de 92”/” do total de activos conso- 2.1 BCI apresenta verba para micro lidados da banca em Angola, conforme publicação do credito BNA de 5 de Outubro de 2011”, evidenciam um cresci- Jornal o pais mento do sector, tanto em dimensão como em rentabi- 04 de Novembro de 2011 lidade. Assim os activos aumentaram em cerca de 21 %, o número de colaboradores em 18°h, (situavam-se, em O BCI disponibilizou, no princípio do mes de Outubro, 2010, em 11.000 pessoas) e o número de balcões abertos 25,3 milhões de kwanzas para concessão do micro-cré- em 22%. No que respeita aos indicadores de rentabili- dito de campanha a 98 camponeses do Municipio da dade, há a registar o crescimento de 24% ao nível do Ganda, Benguela, no âmbito do Programa de Combate produto bancário e de 24 % do resultado líquido. à fome e redução da pobreza no país. A KPMG constata que persiste ainda uma significativa Segundo o responsável do sector dá Agricultura e concentração do sector, estando 80% do mercado con- Desenvolvimento Rural na Ganda, Manuel Tchitumba, centrado em cerca de 20% dos bancos, mas assinala que consta do pacote da concessão de microcrédito a recep- esta situação tende a modificar-se, observando-se “alte- ção de imputes e alfaias agrícolas, além de juntas de bois rações de quota de mercado, nomeadamente nas rubri- para tracção animal, com vista ao fomento dá produção cas de activo, crédito e depósitos, estando estas cinco agrícola na região, Instituições (que consubstanciam 20% do conjunto do sistema bancário) a perder quota relativa face aos res- Manuel Tchitumba disse à Angop, o processo rea tantes, representando uma intensificação do ambiente lizou-se em três fases distintas, tendo a última benefi- concorrencial. ciado apenas camponeses organizados da comuna da Babaera. Mau grado se ter verificado em 2010 um crescimento na No entanto, 800 processos remetidos hão mais de dois captação de depósitos e recursos de clientes bem como anos ao Banco Sol para obtenção de micro-crédito de na concessão de crédito, o ritmo de evolução destas campanha esperam pela disponibilização de verbas, com rubricas denotou um ligeiro abrandamento em relação vista a incentivar os camponeses locais, o que condiciona a 2009. A captação de recursos manteve uma tendên- o desenvolvimento do processo produtivo. cia de crescimento de 13,9%, sendo de realçar que se observou urna alteração qualitativa na composição dos Manuel Tchitumba acrescentou que no quadro depósitos, com “uma redução do peso dos Depósitos à desse pacote, existe também o Crédito Agrícola de Ordem, por contrapartida dos Depósitos a Prazo, que Investimento para pequenos, médios e grandes agri reforçaram o seu peso no total de Depósitos de Clientes cultores, para o qual os requisitos exigidos impõem que face ao ano anterior”. Já o crédito concedido cresceu na os interessados possuam capacidade em capitais, para ordem dos 17,8%. A consultora observa que “a expressão poderem prestar garantias aos bancos, que o sector bancário tem na economia (crédito conce- dido/ PIE) é de 19,8%, valor semelhante a outras eco- nomias ‘baseadas’ no petróleo, mas ainda aquém dos 2.2 Credito malparado aumentou valores observados noutros países”. A transformação em 2010 de recursos de clientes em crédito continuou a evoluir, Jornal o pais fixando-se nos 53,6%, o que significa que, situando-se 04 de Novembro de 2011 ainda abaixo dos 100%, se verifica um maior aproveita- mento dos recursos captados, dirigindo-os para soluções O crédito malparado aumentou na banca nacional em de financiamento. Também a evolução do produto ban- 2010, verificando-se um crescimento do crédito vencido cário foi positiva, registando um crescimento de 24,2%, em percentagem do crédito total em 79,6%, revela o explicado sobretudo pelo forte incremento da margem estudo anual da KPMG dedicado à Análise ao Sector financeira que cresceu 53,2%. Bancário Angolano. Num ano que foi de viragem na crise económica mundial, após a forte desaceleração Rentabilidade aumenta decorrente da crise económica internacional, o rácio de A rentabilidade da banca nacional continua fortemente crédito vencido sobre crédito total situou-se nos 5,1%. atractiva: a Rentabilidade dos Capitais Próprios (ROE), situou -se em 30,3°/0, “embora decorrente do aumento Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 10 dos custos de estrutura tenha apresentado uma ligeira redução em 2010”. Já evolução do costto-income, de 2.3 “A operação do microcrédito uma forma global, foi negativa, fixando-se em 49,7”10 é uma aliança extremamente (era de 39,6”/0 em 2009). “Este facto deveu-se sobre- vantajosa para Angola” tudo à pressão dos custos operacionais, nomeadamente, Jornal expansão custos com pessoal e aberturas de balcões, decorrentes da 04 de Novembro de 2011 política de investimento do sector”, refere o documento. Portugal é um parceiro privilegiado nas relações econó- A taxa de bancarização e o sistema de pagamentos pros- micas com Angola. Até que ponto é necessária a manuten seguiram o seu crescimento, embora a primeira abrange ção desta posição? apenas 11% da população total e mau grado os esfor- Julgo que é preciso trabalhar cada dia com uma pers- ços de expansão das diferentes instituições presentes no pectiva de futuro. Quanto ao nosso relacionamento mercado, que abriram, em média, 12,5 balcões por mês, especial, eu não diria que Portugal deva ter quaisquer num total de 150 novos balcões abertos ao longo do pretensões hegemónicas. Temos, sobretudo, de defender ano. A forte concentração de balcões em Luanda (51%) posições úteis para os dois povos, e a posição de Portugal faz antever que “o potencial de abertura de agências aqui deve ter contrapartida na posição de Angola em ocorra, sobretudo, nas restantes províncias, primeiro Portugal. Isto é muito importante. Não é só Portugal no litoral e depois no interior”. Foi efectuado ainda um que é um parceiro económico privilegiado para Angola, forte investimento em novas máquinas automáticas, Angola também o é para Portugal graças a9s investi quer Multicaixa (AIM), quer de pagamento automático mentos que tem feito. E necessário manter esta capaci- (IPA), o qual se traduziu num crescimento de 26% e dade de caminharmos juntos. 60% respectivamente. Que contributo se pode esperar da banca portuguesa para o De referir que se manteve a tendência de crescimento desenvolvimento e crescimento da banca angolana? continuado no volume médio mensal de transacções na Ainda tenho memória do que era a banca angolana há Rede Multicaixa, passando de 3,6 milhões em 2009. uns anos. O nível de bancarização era muito baixo. A O relatório confere um particular destaque ao papel do banca portuguesa contribuiu para mudar essa situação Banco Nacional de Angola (BNA) no plano da regu com a sua capacidade tecnológica e de inovação, porque lação e supervisão, pugnando por “um cada vez maior ela tem, nestes campos, posições de liderança reconhe- alinhamento das Instituições Financeiras com os ‘stan- cidas internacionalmente. Não é assim um parceiro dards’ internacionais e as boas práticas de mercado”. menor para Angola. A operação de microcrédito que o Millennium Angola e o Banco Atlântico lançaram con- A KPMG confere especial relevo à supervisão pruden- juntamente em Angola é prova de uma aliança estreita, cial e comportamental, prevenção de branqueamento que permite a concretização de operações extremamente de capitais e combate ao financiamento do terrorismo, vantajosas para Angola, e que, do ponto de vista técnico, normalização do Plano Contabilístico das se equiparam com o que de melhor se faz noutras partes Instituições Financeiras (Contil), integração da Central do mundo. de Informação de Risco de Crédito (CIRC), ‘com- pliance’ e ‘assurance’ e implementação da gestão de risco O microcrédito é mais um trunfo para tornar o banco e capital. inovador? Penso que sim. E esta aliança entre o Millennium Angola Para além do reforço da regulação e supervisão, a KPMG e o Banco Privado Atlântico pode de facto correspon- considera que a captura do potencial e crescimento do der a um compromisso real para com o povo angolano. mercado, o lançamento de novos canais de distribui- Trata-se de um processo que dá primazia a pessoas com ção e inovação financeira, a gestão de risco de crédito, capacidades empreendedoras. É bom ouvir essas pessoas o surgimento da banca de investimento e do mercado dizerem que conseguiram realizar os seus sonhos ace- de capitais, o acompanhamento do impacto das altera- dendo ao microcrédito. Honrando os seus compromis- ções fiscais que se avizinham sobre o sector financeiro, sos perante o banco, dão sustentabilidade ao negócio e a formação e retenção de recursos humanos e a segu- contribuem para o desenvolvimento do meio em que rança da informação e gestão da continuidade de negó- se integram. Impressiona-me particularmente o papel cios configuram os principais desafios que se colocam da mulher neste domínio pela capacidade de gestão ao sistema bancário angolano, o qual, sublinha a con- e pela estabilidade de que dá mostras. Lembro-me de sultora, continua a apresentar “inúmeras oportunidades uma parte do recente discurso do Senhor Presidente da de crescimento”. República de Angola sobre o Estado da Nação, em que chama a atenção para a prioridade às micro, pequenas e Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 11 médias empresas na economia como factor de erradica- ção da pobreza e de apoio às camadas mais desfavoreci- 2.4 Credito agricola a empresarios das. Penso que o Millennium e o Atlântico trabalham Jornal o pais nessa perspectiva, permitindo a um maior número da 04 de Novembro de 2011 população o acesso a financiamentos que podem mudar as suas vidas. Benguela Cerca de vinte empresários da província de Benguela começaram a beneficiar desde 27 de Outubro Que metas se pretende atingir premiando empreendedores de um micro-crédito de campanha agrícola, financiado que aderem ao microcrédito, quando é comum estes encara pelo Banco de Comércio e Indústria (BCI), visando rem o banco como uma espécie de “cobrador” da dívida que a auto-suficiência alimentar e o desenvolvimento da contraem? região. Penso que há um aspecto importante na relação entre o banco e o seu cliente, que é a relação de continuidade. O Segundo o presidente do Conselho de Administração, interesse do banco não é apenas o de dar o dinheiro e o Filomeno Seitas, que falava num encontro com empre- de receber os reembolsos devidos nos prazos acordados, sários da província de Benguela, este crédito de campa mas é o de acompanhar os projectos que financia Por ser nha vai até 500 mil dólares, com juros a partir de 15 uma relação contínua, o banco deve estar atento e prepa- porcento, em 12 meses, avançou o jornal Sol. rado para ajudar a superar eventuais dificuldades que o Referiu que este produto é um investimento do empreendedor possa enfrentar. Se lhe falharem algumas Executivo angolano através do Banco de Desenvolvi competências, o banco tem interesse em disponibilizar mento de Angola. alguém que possa tecnicamente dar conselhos para o negócio prosperar. Portanto, não é uma relação fria E Filomeno Seitas avançou que o projecto já beneficia 70 verdade que, se o banco precisa legitimamente de porcento de clientes no país, com créditos no valor de ganhar dinheiro, deve igualmente salvaguardar os aspec- seis milhões de dólares, sendo dois mil e quinhentos tos que apontei, visando sempre permitir ao empreende- camponeses, agrupados em 143 pequenas associações dor realizar o seu sonho. agrícolas.
Que resultados de médio e longo prazo do programa Deu a conhecer que o Banco de Comércio e Indústria de 00crocrédito do Millennium se podem augurar para pretende, até Dezembro do próximo ano, aumentar o Angola? Para além de possibilitar que as pessoas desen- valor do crédito de seiscentos milhões para mil milhões volvam os seus talentos, Angola já demonstrou ter uma de dólares. enorme capacidade empreendedora. Basta ver como se desenvolve nas ruas a actividade comercial. Há uma Filomeno Seitas frisou ainda que BCI pretende aumen- capacidade muito forte neste País que deve ser bem apro- tar mais quatro agências na província de Benguela, veitada e canalizada, por isso penso que o microcrédito para proporcionar mais oportunidade de negócios aos pode fazer muito melhor do que aquilo que já alcançou. cidadãos. As regiões interiores do País não têm, muitas vezes, as Fundado em 1991, o Banco de Comércio e Indústria vantagens da capital e da zona costeira, porque o acesso possui 48 agências 15 postos de atendimento e está pre- à inovação e às novas tecnologias é mais lento. Ora, é sente em 15 províncias do país. Pretende abrir agências muito importante que os bancos façam a diferença pro- nas províncias do Kuando Kubango e do Uíge. movendo micro, pequenas e médias empresas. Desta forma, cresce a economia no interior, e esta puxa ainda mais o crescimento da economia do País. Aliás, parte 2.5 Cuidado com o credito malparado do contributo deste crescimento provém já do interior, Novo jornal e estou curioso em visitar essas zonas. São avanços que 04 de Novembro de 2011 tornarão Angola mais ágil, mais moderna e muito mais forte, consolidando-se como potência regional. O sector bancário angolano registou um crescimento significativo do crédito malparado, cifrando-se actu- almente em 5% do total da carteira de crédito, o que merece por parte das principais instituições financeiras algum nível de preocupação alertou, em Luanda, o presidente da KPMG/ Angola.
“O crédito vencido ou o crédito malparado, ou ainda as situações de incumprimento perante o banco têm Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 12 um crescimento bastante significativo, atingindo já rácios que começam a ter algum nível de preocupação Este crescimento de balcões foi também acompanhado representando 5% do total da carteira de crédito – o pelo aumento do número de colaboradores, cerca de que já é um nível bastante significativo, que merece 18% do crescimento do pessoal bancário, o que corres- seguramente por parte das principais instituições finan- ponde a uma criação de empregos muito significativa ceiras um nível de preocupação, suportado no cresci de 1700 novos postos de trabalho no sector financeiro mento de 111% face a 2009”, salientou o homem forte em 2010, que no final desse ano empregou 11.300 da KPMG/ Angola, José Luís Silva. pessoas.
O responsável da KPMG falava nesta terça-feira, 01, Relativamente à evolução do sistema de pagamentos, durante uma conferência que serviu para apresentar o manteve-se a tendência de crescimento continuado estudo sobre o desempenho do sector financeiro em do volume médio mensal de transacções na rede Angola entre 2009 e 2010, que abrangeu 14 das 23 ins Multicaixa, passando de 3,6 milhões de 2009 para 5,5 tituições financeiras e bancárias existentes no país. milhões (média mensal) durante 2010, indica o estudo.
Segundo José Silva, os efeitos da conjuntura menos inte- Este crescimento foi suportado por um forte investi- ressante (crise económica e financeira) vivida em 2008 e mento no parque de ATM e TPA, com um crescimento 2009, provocaram alguma desaceleração do crescimento de 26% e 60%, respectivamente, sendo que esta evolu- do sector financeiro, trazendo outra realidade para o ção implicou uma média mensal de disponibilização de sector bancário angolano que incidiu num forte cresci ATM de 21jmês e de TPA de 379/ mês. mento do crédito vencido. “Tudo isto são sinais de rápida disseminação dos ser- “Obviamente que este rácio varia de banco para banco, viços financeiros em Angola, actuando como suporte mas em média alguém que apresenta já um indicador de fundamental do desenvolvimento económico”, referiu. crédito vencido sobre o total de cinco por cento, começa a ser de alguma preocupação e seguramente merecerão O crescimento de activos representou 21% em 2010. do sector financeiro um particular cuidado”, frisou. O responsável da KPMG considera que são “números notáveis para a economia nacional”, especialmente para O estudo, que cobriu 92% do total dos activos do o sector financeiro, juntamente com o crescimento do sector financeiro em Angola, tem como base informa crédito – que rondou os 18%. Em 2009 essa meta sofreu ções fornecidas pelo BNA e bancos operadores, a certa desaceleração, mas aquilo que os bancos investi- Empresa Interbancária de Serviços (Emis), Ministério ram dos fundos que captaram, especificamente o crédito da Economia, Banco Mundial, FMI e a Associação de denotou um crescimento de 18%, num ritmo de cedên- Bancos de Angola (Abane). cia que atingiu 1,5 triliões de kwanzas. Relativamente à taxa de bancarização cresceu, em 2010, cerca de 11% “A performance do sector financeiro foi, em 2010, mas continua, na visão da KPMG, a ser ainda bastante enquadrada por uma retoma do crescimento econó- baixa. mico”, sublinhou José Luís Silva, para quem esse cres- cimento teve como suporte “uma evolução favorável do “Esse crescimento tem sido notável, mas comparado preço do petróleo, permitindo que a economia crescesse com vários países da África Austral e outros países em ligeiramente mais acelerada comparativamente a 2009”. vias de desenvolvimento resulta numa taxa bastante No entender da KPMG, a economia angolana conti- baixa”, afirmou José Silva. nua a depender do petróleo, mas esse peso relativo tem vindo ano após ano a reduzir a sua predominância, com a diversificação. 2.6 Sector bancário cresce acima da No entanto, assinalou que esta diversificação não afasta economia em 2010 o crescimento do sector bancário, que pesa alguma coisa Jornal expansão na estrutura do PIB angolano. 04 de Novembro de 2011
“O Sector bancário voltou, em 2010, a ser um sector Apesar da permeabilidade da dinâmica dos agregados bastante dinâmico, com crescimento forte, suportado macroeconómicos, em 2010, o sector bancário angolano no investimento significativo da rede de balcões que continuou a apresentar um acentuado crescimento da cresceu para 830 unidades, correspondente a abertura sua actividade, inclusive, acima da própria economia. média de 12,5 novas agências por mês”, referiu. Revela o estudo “Análise ao Sector Bancário Angolano” da consultora KPMG, publicado terça-feira última. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 13
mas ainda aquém dos valores observados noutros países. De acordo com a KPMG, o sector cresceu tanto em Conforme avança o relatório, o crédito vencido, em termos de dimensão, através de um aumento de cerca percentagem total, cresceu em 79,6%, situando-se o seu de 21 % dos activos, 18% em número de colaboradores rácio sobre o crédito total nos 5,1%. No entanto, a trans- e 22% em número de balcões abertos, tanto em rentabi- formação de recursos de clientes em crédito continuou lidade, com o crescimento de 24% ao nível do produto a evoluir, fixando-se nos 53,6%. Embora ainda abaixo bancário e de 24% do resultado líquido. dos 100%, esta evolução traduz-se num 5,5 milhões Transacções médias mensais registadas na rede multi- Devido à indisponibilidade das demonstrações finan- caixa, em 2010 maior aproveitamento dos recursos cap- ceiras de algumas das instituições, alegam os autores tados, dirigindo-os para soluções de financiamento. do estudo, apenas foi considerada uma amostra de 14 instituições bancárias, das 23 que operam no País. Não Quanto à evolução do produto bancário, registou-se um obstante isto, a consultora considera a amostra represen- crescimento de 24,2%, explicado sobretudo pelo forte tativa, na medida em que caracteriza, “de forma fiel”, incremento da margem financeira, que cresceu53,2%. o sector bancário em Angola, sendo que se traduz em cerca de 92% do total de activos consolidados da banca Desafios do sector bancário em Angola nacional. Segundo a KPMG, o contínuo desenvolvimento do sistema financeiro angolano, traduzido no aparecimento Apesar de cerca de 80% do mercado estar concentrado de novas instituições (nacionais e estrangeiras) a operar em cerca de 20% dos bancos, avança o estudo, tem no mercado, a contínua tendência de “bancarização” da vindo a observar-se alterações de quota de mercado, população, bem como a diversificação e o alargamento nomeadamente nas rubricas de activo, crédito e depó- da oferta de produtos e serviços bancários, traduzem-se sitos, estando os considerados cinco maiores bancos a em novos e crescentes desafios para o sector bancário. perder quota relativa face aos restantes, representando uma intensificação do ambiente concorrencial. Para tal, sugere, torna-se fundamental a existência de uma estratégia concertada e adequada que permita a No que à evolução do sistema de pagamentos diz respeito, endereçar os importantes desafios que se avizinham, segundo a análise do sector bancário nacional feita pela tanto numa perspectiva estratégica de negócio quanto KPMG, manteve-se a tendência de crescimento conti- de regulamentação e introdução de boas práticas nuado no volume médio mensal de transacções na rede internacionais. multicaixa, passando de 3,6 milhões, em 2009, para 5,5 milhões de transacções (média mensal), durante 2010. 2.7 Camponeses associados recebem Este crescimento das transacções, sustenta, foi supor- microcredito no negage tado por um forte investimento no crescimento do Jornal o pais parque de ATM e TPA, com um crescimento de 26% 04 de Novembro de 2011 e 60%, respectivamente, sendo que esta evolução impli- cou uma média mensal de colocação ou a disponibiliza- Uíge – Cento e 19 camponeses de oito associações do ção de ATM de 1/mês e de TPA de 379/mês. município de Negage beneficiaram na Sexta-feira, 28 Já a captação de recursos, manteve uma tendência de de Outubro, na referida localidade, de micro crédito do crescimento de 13,9%, ritmo inferior ao registado no Banco Sol, no quadro do programa nacional de crédito ano anterior. de campanha agrícola 2011/2012, noticiou a Angop.
Quanto à composição dos depósitos, o estudo indica Na cerimónia de entrega de materiais agrícolas e outros uma redução do peso dos depósitos à ordem, em contra- bens aos associados, o responsável local do Instituto de posição aos depósitos a prazo, que reforçaram o seu peso Desenvolvimento Agrário, Pedro Alberto Pinto, disse no total de depósitos de clientes, face ao ano anterior. que o valor global do micro crédito é de oito milhões 895 mil e 850 kwanzas. O valor em referência, disse, Concessão de crédito foi empregue já na aquisição de fertilizantes, sementes Em 2010, o crédito concedido no universo dos bancos diversas, moto serras, moto bombas, pulverizadores, em análise cresceu na ordem dos 17,8%, registando regadores, machados, limas, amendoim, feijão, botas de também uma taxa de crescimento inferior à registada borracha, capas de chuva, bem como um vasto campo no ano anterior. A expressão que o sector bancário tem mecanizado de seis hectares de terra. na economia (crédito concedido/PIE) é de 19,8%, valor semelhante a outras economias “baseadas” no petróleo, O responsável informou que outras famílias de quatro Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 14 associações da aldeia Cabala beneficiaram de instru- muitas ruas em sentidos diferentes – na perpendicular, mentos de trabalho no valor de dois milhões 30 mil e na diagonal e até na oblíqua, dependendo apenas dos 250 Kwanzas e quatro outras da povoação de Cangundo olhares – engordando o que no passado era um residual receberam materiais agrícolas e outros bens avaliados ponto de venda com bancadas de gente que detestava, se em seis milhões 805 mil e 400 kwanzas. calhar, a imensidão turbulenta do Roque. É assim que um tal de “Mercado do Mota” hoje se apre- Pedro Alberto Pinto informou ainda que no ano tran- senta quase comoo sucessor ilegítimo do Roque Santeiro, sacto, 34 camponeses associados das aldeias de Cangulo não tendo, contudo, nem pujança nem glória para rivali- e Quisseque, município de Negage, beneficiaram de zar com o mítico lugar que por décadas (quase) ditou o micro crédito do Banco de Comércio e Indústria, ava- ritmo do melhor e pior da economia doméstica. liado em oito milhões na aquisição de materiais agríco Rostos conhecidos e novatos de última hora juntam -se las e outros bens, assim como uma área de mais de na balbúrdia do espaço alternativo, na busca incessante cinco hectares de terra preparada para desenvolverem a da fortuna como se fazia no velho mercado desmante- agricultura. lado, gabando se da sua condição de herdeiros felizes de uma experiência mercantil que historiadores e sociólo- Ernesto Jorge, responsável das associações de campone- gos levarão tempo a fixar nos cânones, de tão singular. ses da aldeia Cabala e também beneficiário do micro- Nós, com esta “viagem”, tentámos fazer o que se calhar -crédito de campanha agrícola, mostrou-se satisfeito nos competia, repisando aqueles destroços sentimen- com o processo e salientou que o micro crédito vai ajudar tais, mais do que uma antiga mina produtora de riqueza na melhoria das condições de vida dos camponeses. avulsa.
O administrador municipal adjunto do Negage, Jonas João, agradeceu, no acto da entrega simbólica, a boa 2.9 Sem atrapalhar lucro dos bancos vontade do Banco Sol por viabilizar o processo de Jornal a capital desenvolvimento agrícola e pediu aos beneficiários que 05 de Novembro de 2011 cumpram com o prazo estabelecido para o reembolso. Estes dados foram divulgados esta semana em Luanda num estudo apresentado pela consultora internacional 2.8 Mercado do Mota KPMG, que faz constar que o número de bancos no país Jornal O PAÍS praticamente duplicou nos últimos cinco anos, tendo 04 de Novembro de 2011 surgido desde 2005 uma dúzia de novas instituições. Em 2005, existiam apenas 11 bancos em Angola, hoje O Roque Santeiro saiu do lugar onde sempre esteve pelas existem 23, três deles tendo emergido apenas em 2010. razões que a seu tempo foram explicadas pela edilidade de Luanda, transferido a contra gosto para o distante A consultora KPMG adianta que a penetração do sistema Panguila. Hoje, depois de avaliados serenamente ganhos bancário ainda é muito limitada, atingindo em 2010 e perdas, há o assumir de que não terá sido, aquela, apenas 11% de uma população presentemente avaliada uma solução por ai além em termos de performance de em 18 milhões de pessoas. Percentagem ligeiramente gestão. Não é isso, porém, o que aqui nos traz. inferior a adiantada pelo governador do BNA, José de Lima Massano, que fixar a taxa de penetração em 13%. Perscrutar o Roque Santeiro como célebre defunto espa- cial (à diferença do enredo que lhe dá o nome a partir do E isto apesar de meio mundo reconhecer os esforços Brasil), significa seguir o rasto da massa vendedora, des- desenvolvidos pelas instituições financeiras angolanas, cobrir-lhes os caminhos das novas batalhas pela sobrevi- tidos ainda assim como insuficientes. Até porque a taxa vência, ou seja, procurar desvendar o dayafter. média de penetração nos países africanos, segundo a KPMG, ronda os 20%. O poiso privilegiado dos antigos vendedores da gigan- tesca praça é – para lá da rota oficial que leva ao Mercado A boa notícia é que existe muito espaço para banca do Panguila, uns 20 km dali, e do hiper atabalhoado crescer, sobretudo no interior do país, segundo reconhe- “Arreiou Arreiou” em plena intersecção da Cónego ceu o presidente da KPMG/Angola, José Luís Silva. Um Manuel das Neves com a Senado da Câmara -, um amon- potencial de crescimento que justifica, segundo J. Luís toado de vias no interior do próprio Sambizanga, muito Silva, o “elevado ritmo de crescimento do investimento perto do centro católico Dom Bosco. Diga-se quase que em infra-estruturas, sistemas e recursos humanos, de o mercado precisou apenas de cruzar o asfalto e evitar a que é exemplo o reforço do sistema de pagamentos em 9ª esquadra da Polícia Nacional, tomando o espaço de ATM (Terminal Multicaíxa) e de TPA (Terminal de Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 15
Pagamento Automático)”. Para enfrentar este problema, a auditora sustenta que Em 2010, o crescimento de ATM em Angola atingiu se “deverá refinar a concessão de crédito, acompanhar 26% (1.250 terminais), sendo que o TPA alcançou os e monitorizar estas operações e executar processos de 60% (12.140 terminais), com a entrada em funciona- recuperação de crédito em incumprimento eficazes. A mento de 150 bancos comerciais, o que acrescidos dos retoma do crescimento fará diminuir o rácio alcançado 680 balcões de 2009, totaliza 830 no ano passado. no ano transato”.
O presidente da KPMG/Angola adiantou que continua A banca, sector infra-estruturante da economia, apre- a registar-se uma tendência de crescimento continuado senta condições para consolidar o crescimento em “pra- no volume médio mensal de transacções na rede multi- ticamente todas as rubricas de análise, activos, crédito, caixa, que passaram de 3,6 milhões em 2009, para uma depósitos e resultados”. média mensal de 5,5 milhões de transacções em 2010. Para atestar os resultados líquidos da banca angolana no O relatório partiu das informações disponibilizadas por último ano, basta referir os 24% acrescidos, segundo os 14 dos 23 bancos a operar no país, cinco dos quais repre- números da KPMG. sentam cerca de 80% do mercado. Em termos de activos totais, os maiores são o Banco Africano de Investimentos Também como noutros sectores, constata-se que mais (Bai), o Banco Espírito Santo Angola (Besa), o Banco de metade dos balcões está concentrado na capital do de Poupança e Crédito (Bpc), o Banco Bic e o Privado país, abrindo muitas oportunidades de expansão nas Atlântico (Bpa). províncias. A progressiva ‘bancarização’ das instituições analisadas, Mas é preciso dizer que relativa mente à eficiência, a com a expansão da sua actividade mercê da abertura de KPMG faz uma avaliação global do cost-to-income novos balcões, distribuídos pelas 18 províncias, e o facto negativa, com um aumento de 10% entre 2009 e 2010, de apenas 11% da população estar ‘bancarizada’, repre totalizando os 49,7%Trocando em miúdos, a banca senta, para os auditores, um sinal de que o “potencial de continua a lucrar bem, mas proporcionalmente aos anos crescimento do sector é brutal”, podendo mesmo vir a anteriormente considerados, menos, devido ao aumento duplicar a curto prazo. dos custos operacionais com a abertura de novos balcões Os desafios que se colocam ao sector bancário assentam e recrutamento de maior número de empregados – mais na necessidade de uma “estratégia concertada e ade- de onze mil, segundo a consultora. quada”, tendo em vista dois pontos: a perspectiva estra- Para gáudio da banca angolana em Angola, apesar de tégica de negócio e a regulamentação e introdução de tudo e contra as marés de outras latitudes, a chamada boas práticas internacionais. Rentabilidade dos Capitais Próprios, ainda alcançou os A economia permanece ainda bastante vulnerável à crise 30,3% em 2010. e à desaceleração económica externa, na medida em que o Produto Interno Bruto permanece muito depen Agora, do outro lado da moeda, isto é, para as famí- dente das receitas petrolíferas, não obstante o esforço de lias, os particulares, as empresas – talvez não exista uma diversificação sectorial que tem sido levado a cabo pelo imagem tão “luminosa” sobre o custo do dinheiro e a Executivo. (in) eficiência e acesso aos serviços bancários. O crescimento que, em 2012, se prevê que seja de 12%, contra os 3,7% previstos pelo Fundo Monetário 2.10 Crédito malparado duplicou Internacional para 2011,oferece as condições para o Jornal AGORA consequente crescimento e desenvolvimento da banca 05 de Novembro de 2011 comercial.
Os dados estão contidos num estudo da consultora Kpmg, apresentado em Luanda, destacando ainda a retoma do crescimento económico. Na análise, salienta-se que o rácio do empréstimo por pagar sobre o crédito total aumentou em 2010 para 5,1%, comparativamente aos 2,83% registados em 2009. “O crédito vencido (fora do prazo de pagamento) atingiu, em 2010, níveis de alguma preocupação e que exigem especial cuidado do sector bancário”, defendeu José Luís Silva, representante da Kpmg em Angola. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 16
2.11 Fiscais gatunos 2.12 Programa do Executivo impulsiona Semanário AGORA comércio rural 05 de Novembro de 2011 Jornal de Angola 06 de Novembro de 2011 Este triste e folclórico espectáculo público de os ficais do governo de Luanda abocanharem -se dos produtos dos O escoamento dos produtos agrícolas do campo para vendedores de rua já ganhou calos nas mãos e não há os mercados vai, brevemente, ser processado com mais forma de se lhe pôr um ponto final. rapidez e em quantidade com a execução do Programa de Promoção de Comercio Rural (PPCR) que visa conce- Quando se fala em fiscais ou fiscalização é no pressu- der crédito aos comerciantes, disse ao Jornal de Angola, posto de que eles, além de fiscalizarem, aplicariam as o vice-governador da. Huíla para área Económica. respectivas multas com os respectivos comprovativos para se pagar. Sérgio da Cunha Velho acredita no êxito do programa criado pelo Executivo e nos resultados positivos a serem Com os vendedores ambulantes ou chamados de rua alcançados pelos pequenos e grandes agricultores assim sucede, apenas, que lhes são açambarcadas tudo o que como pelos antigos e novos comerciantes. Os produto- vendem, ficando simplesmente a verem navios. Os res das várias zonas agro-pecuárias da província passam produtos atiram-se para os jipes da fiscalização, origi- com a execução deste programa “a se ocupar exclusi nando, sobretudo da parte das senhoras, uma correria vamente da lavoura”. desenfreada para alcançar as viaturas, na esperança de saberem para onde são levadas as ‘imbulas. Até ao momento, afirma o vice-governador, os agriculto- Na ordem das prioridades os fiscais, na verdade, deviam res exercem as tarefas ligadas a produção e a de comercian- invertê-las. Vender umas ‘bunjingangas na via pública, tes dos alimentos, facto que tem criado constrangimentos como pastas, cuecas ou vernizes em nada periga a saúde a vida dos homens do campo. “A vida de comerciante das pessoas. Isto já desperta o ‘ apetite’ dos fiscais que implica procurar bons mercados, dominá-lo, fazer boas fecham os olhos à venda de ‘santes’ de vários tipos parcerias e empenhar-se à venda dos alimentos. Há gente (galinha, mortandela ou até a atum) em bacias plásti- que não tem muita paciência para isso”. cas misturadas com as areias espalhadas pelas viaturas circulantes. Garantiu que o cultivo de alimentos e o seu escoamento, Isso, sim, é um verdadeiro atentado à saúde pública! vão ser impulsionados, com o Programa de Promoção de Nos últimos tempos, menos actuantes já vão sendo os Comercio Rural por conceder financiamentos aos anti fiscais em relação às ‘ kinguilas’, senhoras de pernas ao gos e novos comerciantes para adquirir a produção do léu que literalmente inundam Luanda do negócios das campo e colocá-los nos mercados de vários pontos da notas verdes. Neste caso particular já nos vimos fartando província, quiçá do país. de sugerir ao governo de Luanda a introdução de uma taxa para os vendedores de dólares nem que fosse para Sérgio da Cunha Velho que se reuniu com os repre- criar neles o sentido daquele mínimo de ligação com a sentantes dos bancos comerciais operadores do fundo, legalidade dos mais insignificantes negócios de rua. nomeadamente BPC, Banco Sol, BAI e BCI, explicou É populismo e demagogia mais argumentar-se que as que o propósito do programa é de extrair o excedente ‘Kinguilas’ são umas pobrezinhas que nem sequer uma agro-pecuário dos camponeses, agricultores, criadores taxa de 10 mil kwanzas anuais podem suportar, devendo de animais e outros. pagar um valor muito inferior os ardinas e outros ven- Segundo o governante, os estudos preliminares sobre dedores, igualmente devidamente identificados com os operadores feitos em vários pontos da província da próprio passe. Huíla determinaram 230 comerciantes na área grossista e retalhista, respectivamente, a serem envolvidos neste processo.
Alguns comerciantes com actividade interrompida por falência, vão reanimar os seus negócios e recuperar as infra-estruturas. O novo programa do Executivo, subli- nha, implica dos produtores e comerciantes maior dina- mismo e empenho. Urge aumentar, diversificar as cultu- ras e apostar na qualidade do remanescente destinados a venda. Os grossistas e retalhistas devem ter em conta as exigências dos mercados. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 17
Argumentou que a reactivação dos centros de consumo anima os agricultores com parcelas de terras lavradas e agro-industriais capacitados para absorver e transfor- em vários pontos da província da Huíla, por solucionar mar os produtos horto-frutícolas, são prementes para a o dilema do escoamento dos produtos registado prin- capitalização dos camponeses e agricultores, fomento cipalmente na época das safras. Francisco Domingues do cultivo em quantidade e qualidade e repovoamento explora as terras férteis ao longo do perímetro irrigado animal. da Matala, onde cultiva enormes quantidades de batata rena e hortaliças. O vice-governador para área Económica, fez saber que os municípios do norte constituem o celeiro da pro- Explicou que os produtores já estão preocupados com o víncia, por estar em reactivação as zonas antigamente escoamento da batata, tomate e repolho que está neste consideradas como triângulo do milho, notadamente momento a ser colhida nas zonas produtivas do município. em Caluquembe, Chicomba e Caconda e, haver também O agricultor considerado como um dos maiores produ- produção considerável diversificada na Humpata, tores do tubérculo da localidade em referência, revelou Quipungo; Cuvango e Matala. que está prevista a colheita de sete mil toneladas de batata rena produzidas em 456 hectares irrigados regularmente Bancos já têm recursos pelo canal de irrigação da barragem da Matala. Estas Os bancos comerciais operadores do Programa de quantidades, disse Domingues, leva a cada produtor a Promoção de Comercio Rural, já têm disponíveis os procurar mercado para escoar os alimentos do campo, recursos financeiros para o inicio da actividade com os facto que as vezes se toma difícil devido a concorrência grossistas e retalhistas da província da Huíla, estando o com o produto importado. A dificuldade de escoamento valor para o crédito quantificado em dois milhões e 400 faz com que a batata e outros se deteriore, significando mil dólares. perdas avultadas aos agricultores. A coordenadora provincial de Micro-Finanças do BPC na Huíla, Prudência Agustina disse, terça-feira, que já Defende que a salvação está no Programa de Promoção estão disponíveis para cobrir as despesas, nesta primeira do Comercio Rural concebido para financiar os comer- fase, um milhão de dólares.. ciantes que vão adquirir o excedente e encaminhar aos Os comerciantes com o expediente organizado podem mercados de vários pontos do país com o fim de comer- recorrer ao banco para inicio da avaliação das propostas. cializar. A iniciativa do Executivo vem em boa altura pela A medida que aumentar a aderência e os comerciantes razão -da produção agro-pecuária aumentar a cada ano. exercerem a actividade com responsabilidade para o Feliciano Miguel, um produtor com enormes espaços sucesso do programa, o Banco de Poupança e Crédito com plantações de tomate nas proximidades do rio vai disponibilizar mais recursos, Prudência Agustina Giraúl, na província do Namibe, considera oportuno a garantiu que as taxas a serem aplicadas por cada aquisição de veículos com sistemas de frio para trans- financiamento são bonificadas e os prazos negociados. portar em condições adequadas a batata e hortaliças. “E O Banco Sol e o Banco Africano de Investimentos têm preciso financiar a compra de camiões com câmaras fri- disponível um milhão de dólares e 400 mil dólares, res- gorificas para evitar que sejam expostos ao sol ou calor pectivamente. Os especialistas destas instituições estão os produtos do campo com pouca resistência”, afirmou mobilizados para prestar assistência técnica aos empresá- Feliciano Miguel, tendo exortado aos comerciantes rios organizados para o recurso ao crédito impulsionador maior dinamismo, empenho e necessidade de trabalhar do comércio rural. Por sua vez, o director provincial do com gosto e destreza. Comércio na Huíla, Fernando Calolas, informou que já se averiguou o estado actual das infra-estruturas dos Miguel, esperançado com o desenvolvimento agro-pecu- estabelecimentos comerciais das zonas rurais da provín- ário, afirmou que materialização do programa, desafoga cia e, apurou que apesar das melhorias necessárias em um pouco as actividades dos agricultores e separa as alguns imóveis, há condições de funcionamento. tarefas de lavoura e de comerciante. Vamos agora prestar De acordo com o director, três equipas técnicas foram mais atenção ao processo produtivo e diversificação das constituídas para prestar acessória aos comerciantes dos culturas. municípios. Os técnicos vão estar disponíveis para a cor- recção de certas práticas prejudiciais a actividade comer- Q produtor apelou as unidades hospitalares, instituições cial, identificar problemas e superá-los, entre outras com refeitórios como clubes desportivos, lares de estu- questões. dantes, centros infantis, forças da defesa e segurança, fabricas e outros, a aliar-se ao programa para dar maior Agricultores mais animados dinâmica a a8sorção da produção nacional destinada ao O crédito a ser disponibilizado aos comerciantes através consumo. do Programa de Promoção do Comercio Rural (PPCR), Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 18
O Executivo, sublinhou Feliciano Miguel, criou um o processo de concessão de crédito está a ser condu- projecto que vai valorizar cada vez mais os produtos zido em quatro balcões, localizados nos municípios de nacionais, encoraja a todos os produtores a prosseguir, Xá-Muteba, Lucapa, Cambulo e o balcão do Chitato, motiva o aumento das áreas de cultivo, um facto que que tem a missão de gerir todo o sistema. exige a participação e entrega de todos os cidadãos com Mas, além das referidas agências, o gestor disse que o visão de fortalecimento e desenvolvimento produtivo. banco criou uma outra, na localidade do Cacolo, na província da Lunda-Sul, para atender os camponeses dos municípios do Lubalo, Cuílo e Caungula, tendo em 2.13 Milhares de camponeses na Lunda- conta o factor proximidade. Norte beneficiam em breve de crédito agrícola Vitorio Lopes Ngugi afirmou que todos os documentos Jornal de Angola remetidos ao banco foram viabilizados e, neste momento, 09 de Novembro de 2011-12-16 estão a ser notificados os requerentes para que iniciem o processo de criação de contas bancárias, aguardando-se, O governador provincial da Lunda-Norte, Ernesto também, pela assinatura de contratos com os potenciais Muangala, revelou, no Dundo, que cerca de 14.000 fornecedores de inputs agrícolas. camponeses da província vão beneficiar, brevemente, de Destacou os municípios do Xá-Muteba, Cuango e crédito agrícola de campanha, com vista a aumentarem Capenda Camulemba como sendo os que estão mais os níveis de produtividade e melhorar a qualidade de avançados em termos de regularização dos processos dos vida nas comunidades rurais. camponeses associados, junto do Banco.
O governador Ernesto Muangala referiu que o Falta de documentação Programa Municipal Integrado de Desenvolvimento Sobre os motivos do atraso na concessão de crédito, o Rural e Combate à Pobreza neste momento encontra-se responsável esclareceu que a morosidade deveu-se a na secretaria do Banco de Poupança e Crédito (BPC), uma série de lacunas registadas nalguns documentos aguardando-se pela homologação de um total de 96 pro remetidos ao BPC, com particular realce para o plano jectos de camponeses locais. de necessidades dos associados, que é acompanhado da factura assinada pelo empresário que garante o forneci- O responsável mostrou-se preocupado com a fraca mento de materiais agrícolas. adesão dos camponeses locais ao Crédito Agrícola de O Crédito Agrícola de Campanha, esclareceu Vitorio Campanha, tendo defendido a necessidade dos mesmos Lopes, consiste em dois pacotes. O primeiro visa aproveitarem a iniciativa do Executivo, que tem como financiar acções de exploração durante uma época finalidade ajudar os cidadãos a participar no processo de agrícola, enquanto o outro tem a ver com os custos da desenvolvimento económico e social da região. aquisição de instrumentos agrícolas e sementes para as Ernesto Muangal salientou que o referido crédito vai culturas prioritárias, de acordo com a realidade de cada permitir o desenvolvimento das comunidades rurais, região. assim como o relançamento da produção agrícola, no âmbito do Programa de Combate à Fome e Redução da O gerente do BPC revelou que o valor máximo a conce- Pobreza. der equivale a 5.000 dólares, convertidos em kwanzas, por beneficiário, com uma taxa de juro estimada em “Agora mais do que nunca, os nossos camponeses têm a cinco por cento. O empréstimo, afirmou, deve ser reem- oportunidade de poderem incrementar os seus níveis de bolsado num período de dez meses. produção e, por isso, devem aderir a este pacote finan ceiro”, apelou o governador Ernesto Muangala, que O responsável bancário disse que objectivo do emprés- anunciou que o lançamento oficial da entrega do crédito timo, consubstanciado na aquisição de equipamentos acontece, no município de Xá-Muteba, nesta semana. fixos, como máquinas; motobombas, catanas, enxadas O governador Ernesto Muangala pediu também aos e outros equipamentos destinados ao apoio dos campo- administradores municipais para Imprimirem maior neses organizados eI11 cooperativas e associações, visa dinamismo a nível dos comités de pilotagem, com incentivar o aumento do rendimento familiar. vista a permitir que mais camponeses beneficiem de financiamento, a partir da próxima campanha agrícola. Vitorio Lopes afirmou que o crédito tem ainda a missão O gerente do BPC no Dundo assegurou que a instituição de melhorar a qualidade de vida das comunidades tem todas as condições criadas para que os camponeses rurais, no quadro dos programas locais de combate à beneficiem do financiamento, a partir desta semana. fome e redução da pobreza. Vitorio Lopes Ngugi disse que a nível da Lunda-Norte, Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 19
Celeridade na atribuição O crédito Amigo do Sol foi estabelecido no quadro de O presidente da União Nacional dos Camponeses de uma parceria estratégica entre o banco e o Ministério Angola (UNACA), na Lunda-Norte, solicitou maior da Administração Pública, Emprego e Segurança Social. celeridade na atribuição do. Crédito Agrícola de Campanha, com vista a facilitar a actividade dos cam- O presidente da Comissão Executiva do Banco Sol poneses locais. informou que a instituição está apostado no reforço Daniel Mutambuleno disse que, em função da moro- da concessão crédito interno ao consumo, para o ramo sidade que se regista na disponibilização do finan automóvel, de investimento e apoio à micro, pequena e ciamento, os camponeses locais continuam a clamar por média empresa. apoios, mormente para a aquisição de instrumentos de produção, sementes e fertilizantes. O presidente da UNACA alertou que a morosidade na 2.15 Bancarização em Angola é “gota de atribuição do crédito tem concorrido negativamente no água no oceano” incremento da produção agrícola a nível de toda a pro- Jornal semanario o continente víncia da Lunda-Norte e pode comprometer, sobretudo, 11 de Novembro de 2011 a presente campanha, naquela parcela do país, onde são cultivados essencialmente a mandioca, milho, feijão, O processo de bancarização no país abrangeu, em 2010, horto-frutícolas, batata-doce e amendoim. apenas 11 porcento da população total (estimada em 18 milhões), não obstante os investimentos das instituições Neste momento, estão a ser promovidos encontros entre financeiras na expansão da actividade, com a abertura as administrações municipais, os técnicos da direcção constante de novas agências pelas 18 províncias. provincial da Agricultura e Desenvolvimento Rural e responsáveis de associações e cooperativas agrícolas, Essa realidade foi constatada pela KPMG, na sequência com a finalidade de se acelerar o processo de apresenta- do estudo realizado sobre o desempenho do sector ban- ção da documentação necessária e o “acompanhamento cário em 2010, divulgado recentemente, em Luanda, subsequente a ser dado para a normalização dos crédi- concluindo que a cifra se encontra abaixo de outros tos junto dos bancos, segundo o presidente da União países africanos ou economias emergentes, o que deixa Nacional dos Camponeses de Angola, na Lunda-Norte. antever o potencial de crescimento desse seguimento da economia.
2.14 Credito concedido é inferior ao Ao apresentar os resultados da referida “Análise ao disponivel Sector Bancário em Angola”, o presidente dessa empresa Jornal de Angola de auditoria no país, José Luís Silva, sublinhou que o 11 de Novembro de 2011 sector continua a apresentar inúmeras oportunidades de crescimento e desenvolvimento, tendo como referência a O Banco Sol disponibilizou, este ano, crédito avaliado baixa taxa de penetração de serviços bancários. em 500 milhões de dólares norte-americanos, para apoiar iniciativas de investimento público e privado “Para incentivar este potencial de crescimento têm-se em todo o país, informou o presidente da Comissão mantido um elevado ritmo de crescimento do inves Executiva da instituição, Coutinho Nobre Miguel. timento em infra-estruturas, sistemas e recursos humanos, de que é exemplo o reforço do sistema de Em declarações à imprensa, na quarta-feira, em pagamentos em ATM (Terminal Multicaixa) e de TPA Ndalatando, Coutinho Nobre Miguel anunciou que, (Terminal de Pagamento Automático)”, avançou. Neste para além do crédito já concedido, o Banco Sol dispõe particular, o presidente da KPMG informou que o cres- ainda de 330 milhões de dólares até ao final do mês de cimento de ATMs em 2010 rondou 26 porcento (mil Dezembro. e 250 terminais), enquanto o de TPA fixou-se em 60 porcento (12 mil e 140 terminais. Por seu turno, o valor dos depósitos obtidos até esta altura do ano nas 89 agências que possui situa-se em um milhão e 350 mil dólares, de acordo com a agência Angop. Aliado a isso, 150 novos balcões de distintos bancos Coutinho Nobre Miguel disse que, a nível dos serviços, comerciais entraram em funcionamento, resultando no o Banco Sol dispõe de vários pacotes de financiamento, aumento de 680, em 2009, para 830 em 2010. Na mesma com realce para o Crédito Agrícola de Campanha e senda, disse que se manteve a tendência de crescimento de Investimento, para o Comércio Rural, à Mulher e continuado no volume médio mensal de transacções na Amigo do Sol. rede multicaixa, passando de 3,6 milhões em 2009 para Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 20 uma média mensal de 5,5 milhões de transacções no ano que em 2009. A banca angolana emprega hoje mais 11 seguinte. Esta evolução implicou uma média mensal de mil funcionários, refere o estudo da KPMG. Mas não colocação/disponibilização de 21 ATMs e 379 TPAs. é só em recursos humanos e dimensão que a banca em Salienta-se que (actualmente a taxa de bancarização a Angola está a crescer. No ano passado, os lucros do I nível do país atingiu já 13 porcento ~ da população, sector subiram 24%, os activos 21% e o produto bancá- segundo o governador c do Banco Nacional de Angola rio 24% face ao ano anterior. (BNA), s José de Lima Massano. Apesar das grandes oportunidades de crescimento e Taxas de juros para financiamento da economia são da maior concorrência, o mercado bancário angolano altas continua muito concentrado. Cinco instituições contro- Quatro mil contas bancárias foram abertas nos bancos lam 80% de um mercado com mais de duas dezenas comerciais, desde que foi lançado há mais três meses de players. Em termo de activos, o Banco Africano de o “Deposito Bankita”, com valor mínimo de 100 Investimento, o Banco Espírito Santos de Angola, o kwanzas, no âmbito e do programa de educação finan- Banco de Poupança e Crédito, o Banco de Fomento ceira, a lançado pelo Banco Nacional de Angola (BNA), Angola e Banco BIC são os cincos maiores. anunciou o governador r do Banco Central, José de Lima Massano. O gestor reconheceu ser difícil ter um O sector tem ainda fraca expressão na economia: o sistema financeiro forte quando 87 porcento da popula- crédito concedido representa cerca de 19% do PIB, ção se encontra ainda fora do sistema bancário. Por esta um valor normal para países fortemente dependentes razão, disse que vão continuar a promover campanhas do petróleo, mas longe de outros estados, adianta o de sensibilização para que mais pessoas possam aceder documento. O rácio de transformação (peso de crédito aos serviços bancários. Disse estar a trabalhar com os sobre os depósitos) é apenas de 53%,6 que compara com bancos comerciais, no âmbito da expansão bancária em 140% existente em Portugal, por exemplo. Os respon- todo o país, para o surgimento da figura do correspon- sáveis da KPMG salientam que o Banco Nacional de dente bancário ali onde ainda não há a possibilidade de Angola (BNA) será um elemento chave para suportar o implantar um balcão, com toda Infra-estrutura neces- desenvolvimento futuro do sector assegurando a super- sária. Reconheceu que as taxas de juros, para financia- visão do sistema e aproximando-a, cada vez mais, dos mento da economia, ainda são altas, tendo informado padrões internacionais. que as taxas de juros têm estado a cair, embora não com a celeridade requerida. José Massano esclareceu, por outro lado, que os juros para empréstimos de investi- 2.17 Crédito agrícola «sem» mentos rondam a volta de 17 porcento, enquanto para o camponeses crédito ao consumo são ainda mais altos. Semanário Angolense 12 de Novembro de 2011
2.16 Apenas 11% dos angolanos têm A fraca adesão dos camponeses da Lunda-Norte ao conta bancaria crédito agrícola de campanha levou o governador a pro- Jornal agora víncia, Ernesto Muangala, a manifestar preocupação. 12 de Novembro de 2011 Em declarações ao Jornal de Angola, recentemente, o mandatário provincial disse que o Programa Municipal Em Angola, apenas 11 % da população tem conta ban- Integrado de Desenvolvimento Rural e Combate à cária um dado que prova que a penetração dos serviços Pobreza neste momento encontra-se na secretaria do financeiros no país é ainda muito baixa mas que sina- Banco de Poupança e Crédito (BPC), aguardando-se liza grandes oportunidades de crescimento para o sector pela homologação de um total de 96 projectos de cam- da banca, diz um estudo da KPMG apresentado, em poneses locais. Luanda e Lisboa O chefe do executivo local deixou expresso que os admi- nistradores municipais devem imprimir também os seus A expansão da banca em Angola não abordou, porém, esforços a nível dos comités de pilotagem, com vista a em 2010: a rede de ATM (multicaixa) subiu 26% para permitir que mais camponeses beneficiem de financia- 1.250 terminais, a de TPA (terminais, portáteis de paga mento, a partir da próxima campanha agrícola. mento) aumentou 60% para 12,1 mil terminais. Por seu lado, o gerente do BPC no Dundo assegurou que a instituição tem todas as condições criadas para que, No ano passado, abriam ainda 150 novos balcões, ele- em breve, os camponeses beneficiem do financiamento. vando para 830 o total de dependência bancárias sendo Muangala indicou que, cerca de 14.000 camponeses da criados 1.747 novos postos de trabalho, mais 18% do província vão beneficiar desse crédito agrícola de campa- Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 21 nha, com vista a aumentarem os níveis de produtividade que têm menos posses, porque a sua aplicação é a partir e melhorar a qualidade de vida nas comunidades rurais. de 50.000 Kwanzas ou o mesmo valor em dólar, com taxas de rentabilidade entre 3 e 5% em Kwanzas e 3 a 4% em dólares. 2.18 Poupança pode ser um bom negócio O Banco BAI, de acordo com a sondagem, parece ofere- Semanário Angolense cer algumas vantagens em relação às outras instituições 12 de Novembro de 2011 bancárias constatadas. Como tal, esse banco permite rentabilizar a poupança em até um ano, enquanto os Há três anos que Marcos Paulino é cliente de um dos seus concorrentes o fazem em até 180 dias. Também se maiores bancos do mercado nacional e se diz satisfeito verifica o facto de o cliente poder interromper a progres- com as tarifas praticadas por aquele estabelecimento. são da poupança antes do prazo pré-estabelecido. Segundo ele, é como investir e ganhar. «Este banco tem-me ajudado muito, eu no hesito em investir o meu Segundo o que constatámos, Banco Internacional e dinheiro para poupar, porque sei que só saio a ganhar. Credito O meu dinheiro multiplica, por isso aconselho os outros (BIC) não é «muito ligado» ao rendimento na poupança, a seguirem o mesmo exemplo, porque não se vão arre uma vez que tem um único modelo desse serviço para pender» afirmou o usuário. a sua clientela. O valor mínimo a depositar não foge à regra da maioria dos bancos. São 100 mil Kwanzas ou Em Angola. um país em franco crescimento cidadãos o equivalente em dólares, enquanto as cifras de rendi- como Marcos Paulino estão a ganhar a partir de uma mento das contas, num tempo entre 30 e 180 dias, são certa competitividade, particularmente entre os bancos, de 2 a 3%, em Kwanzas, e 4 a 5%, em dólares, caso que cada dia que passa. as instituições bancárias vão criando, mostra uma mais-valia das poupanças na moeda estran entre outros serviços, algumas facilidades de créditos de geira em questão. poupanças. É sobre o rendimento das poupanças que este fez uma pequena sondagem por alguns bancos da nossa Ainda no BIC, apurámos que a «conta banquita», do praça, onde verificou a concorrência que existe entre eles, programa de inclusão bancária do Banco Nacional de trazendo ao leitor um esboço geral desse quadro. Angola, que já está em vigor há alguns meses, conforme a política interna desse estabelecimento, é aceite apenas O Banco de Fomento Angola (BFA), um dos líderes nos balcões das outras províncias, uma vez que se julga do mercado angolano, tem dois modelos de poupança, atingir com maior proporção as zonas rurais. sendo a primeira designada «auto rendimento», diri- gida aos depositantes de um valor mínimo de 80 mil Na capital do país, a abertura de qualquer conta con- Kwanzas, ou o equivalente em dólar, tendo como taxas tinua a depender do montante estipulado pelo próprio de crescimento 1.25%, em 90 dias, e 4.5%, em 180 dias. banco e não dos 100 Kwanzas, valor mínimo estabele- Sendo a poupança em dólares, as taxas são de 1.50%, em cido pelo BNA para abrir uma «conta banquita». 30 dias, e 3.5%, em 90 dias. Sendo o Banco de Poupança e Credito (BPC) um dos O segundo modelo de poupança do referido banco é desig líderes do mercado financeiro angolano, não gostaría- nado «super poupança», em que o valor mínimo a depo- mos de o deixar de fora dessa sondagem. Tal como no sitar é de 10 mil dólares ou o equivalente em Kwanzas. ElC, esse estabelecimento tem apenas um único modelo Em 30 dias, a taxa de rendimento é de 1.25%, já em um de poupança, mas com uma das melhores taxas de ren- ano, está estimada em 2.25%. Caso o cliente prefira abrir dimento do mercado, que é uma única, tanto para o a conta em Kwanzas, as tarifas de rentabilidade são de 5% tempo da poupança, quanto para as contas feitas em em 180 dias, e de 5.5%, em 360 dias. Kwanzas ou em dólares. A renda dos depósitos de pou- pança, em aplicações mínimas de 100 mil Kwanzas (ou No Banco Africano de Investimentos (BAI), a oferta que se o correspondente em dólar), está na ordem dos 11.5%, apresenta é quase a mesma. Existem também dois modelos num tempo que varia de 30 a 90 dias. para aplicações a prazo, sendo um o «rendimento crescente», com volume de crescimento de 5 a 7%, em Kwanzas, e de O rendimento em poupança é um modelo de vanta- 4 a 5%, em dólar, para uma aplicação mínima de 100.000 gem que os bancos oferecem, em que o cliente aplica Kwanzas ou o correspondente em dólar. o dinheiro e este vai crescendo consoante as tarifas estabelecidas por cada instituição bancária. Quanto O segundo modelo de aplicação do mesmo banco é mais dinheiro é aplicado, mais tempo o dinheiro fica no «conta depósito a prazo», que vem facilitar os cidadãos banco e maior será o rendimento que terá. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 22
2.19 Milhares de camponeses na Lunda- Mas, além das referidas agências, o gestor disse que o Norte beneficiam em breve de banco criou uma outra, na localidade do Cacolo, na crédito agrícola província da Lunda-Sul, para atender os camponeses Jornal de Angola dos municípios do Lubalo, Cuílo e Caungula, tendo em 09 de Novembro de 2011-12-16 conta o factor proximidade.
O governador provincial da Lunda-Norte, Ernesto Vitorio Lopes Ngugi afirmou que todos os documentos Muangala, revelou, no Dundo, que cerca de 14.000 remetidos ao banco foram viabilizados e, neste momento, camponeses da província vão beneficiar, brevemente, de estão a ser notificados os requerentes para que iniciem o crédito agrícola de campanha, com vista a aumentarem processo de criação de contas bancárias, aguardando-se, os níveis de produtividade e melhorar a qualidade de também, pela assinatura de contratos com os potenciais vida nas comunidades rurais. fornecedores de inputs agrícolas.
O governador Ernesto Muangala referiu que o Destacou os municípios do Xá-Muteba, Cuango e Programa Municipal Integrado de Desenvolvimento Capenda Camulemba como sendo os que estão mais Rural e Combate à Pobreza neste momento encontra-se avançados em termos de regularização dos processos dos na secretaria do Banco de Poupança e Crédito (BPC), camponeses associados, junto do Banco. aguardando-se pela homologação de um total de 96 pro jectos de camponeses locais. Falta de documentação Sobre os motivos do atraso na concessão de crédito, o O responsável mostrou-se preocupado com a fraca responsável esclareceu que a morosidade deveu-se a adesão dos camponeses locais ao Crédito Agrícola de uma série de lacunas registadas nalguns documentos Campanha, tendo defendido a necessidade dos mesmos remetidos ao BPC, com particular realce para o plano aproveitarem a iniciativa do Executivo, que tem como de necessidades dos associados, que é acompanhado da finalidade ajudar os cidadãos a participar no processo de factura assinada pelo empresário que garante o forneci- desenvolvimento económico e social da região. mento de materiais agrícolas.
Ernesto Muangal salientou que o referido crédito vai O Crédito Agrícola de Campanha, esclareceu Vitorio permitir o desenvolvimento das comunidades rurais, Lopes, consiste em dois pacotes. O primeiro visa financiar assim como o relançamento da produção agrícola, no acções de exploração durante uma época agrícola, âmbito do Programa de Combate à Fome e Redução da enquanto o outro tem a ver com os custos da aquisição de Pobreza. instrumentos agrícolas e sementes para as culturas prio ritárias, de acordo com a realidade de cada região. “Agora mais do que nunca, os nossos camponeses têm a oportunidade de poderem incrementar os seus níveis de O gerente do BPC revelou que o valor máximo a conce- produção e, por isso, devem aderir a este pacote finan der equivale a 5.000 dólares, convertidos em kwanzas, ceiro”, apelou o governador Ernesto Muangala, que por beneficiário, com uma taxa de juro estimada em anunciou que o lançamento oficial da entrega do crédito cinco por cento. O empréstimo, afirmou, deve ser reem- acontece, no município de Xá-Muteba, nesta semana. bolsado num período de dez meses.
O governador Ernesto Muangala pediu também aos O responsável bancário disse que objectivo do emprés- administradores municipais para Imprimirem maior timo, consubstanciado na aquisição de equipamentos dinamismo a nível dos comités de pilotagem, com fixos, como máquinas; motobombas, catanas, enxadas vista a permitir que mais camponeses beneficiem de e outros equipamentos destinados ao apoio dos campo- financiamento, a partir da próxima campanha agrícola. neses organizados eI11 cooperativas e associações, visa O gerente do BPC no Dundo assegurou que a instituição incentivar o aumento do rendimento familiar. tem todas as condições criadas para que os camponeses beneficiem do financiamento, a partir desta semana. Vitorio Lopes afirmou que o crédito tem ainda a missão de melhorar a qualidade de vida das comunidades Vitorio Lopes Ngugi disse que a nível da Lunda-Norte, rurais, no quadro dos programas locais de combate à o processo de concessão de crédito está a ser condu- fome e redução da pobreza. zido em quatro balcões, localizados nos municípios de Xá-Muteba, Lucapa, Cambulo e o balcão do Chitato, Celeridade na atribuição que tem a missão de gerir todo o sistema. O presidente da União Nacional dos Camponeses de Angola (UNACA), na Lunda-Norte, solicitou maior Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 23 celeridade na atribuição do. Crédito Agrícola de cio informal, pelo que também observamos, e de Campanha, com vista a facilitar a actividade dos cam- acordo com o responsável da loja referenciada, permite poneses locais. aumentar o volume de vendas mesmo nos estabeleci- Daniel Mutambuleno disse que, em função da moro- mentos legalmente formalizados quando praticada sob sidade que se regista na disponibilização do finan uma boa gestão. ciamento, os camponeses locais continuam a clamar por apoios, mormente para a aquisição de instrumentos de Mas enquanto a loja do Golf II, ainda não trabalha com produção, sementes e fertilizantes. a parceria dos bancos, no que concerne aos financiamen- tos, em outras – como o Barateiro do Prenda e o Reis O presidente da UNACA alertou que a morosidade na dos Móveis, em Viana vende-se sob esse conceito, com o atribuição do crédito tem concorrido negativamente no credito sujeito a aprovação do banco associado. incremento da produção agrícola a nível de toda a pro- víncia da Lunda-Norte e pode comprometer, sobretudo, Entre os kits mais vendidos do estabelecimento da a presente campanha, naquela parcela do país, onde são Viana, por exemplo, está o mobiliário completo de salas cultivados essencialmente a mandioca, milho, feijão, e de quartos que custam a partir de 199 mil kwanzas horto-frutícolas, batata-doce e amendoim. – valor que pode ser liquidado em 12 pagamentos de 19.900 Kwanzas. Clientes daquele mesmo município, Neste momento, estão a ser promovidos encontros entre das regiões do Camama e do Zango e ate clientes de as administrações municipais, os técnicos da direcção outras províncias, como Uíge e Malanje, recorrem ao provincial da Agricultura e Desenvolvimento Rural e financiamento bancário para concretizar a aquisição e responsáveis de associações e cooperativas agrícolas, recebem as compras em casa. com a finalidade de se acelerar o processo de apresenta- ção da documentação necessária e o “acompanhamento Essa possibilidade de obter o produto e abater a dívida subsequente a ser dado para a normalização dos crédi- da aquisição pouco a pouco, por mês, com a «ajuda» de tos junto dos bancos, segundo o presidente da União uma instituição bancária financiadora, está a conquistar Nacional dos Camponeses de Angola, na Lunda-Norte. compradores e, pelas declarações de José da Silva, do sector de vendas da «Rei dos Móveis», está também a satisfazer as expectativas dos lojistas. 2.20 «Kilapi» para mobilar a casa Jornal semanario angolense Nesse estabelecimento, com artigos importados de 19 de Novembro de 2011 Portugal e da Itália, segundo o atendente, a concorrência é boa e o sistema de venda parcelado tem permitido O apelo da propaganda de uma loja de mobiliário, no maior «escoamento» dos produtos, se bem que os seus Golf II, em Luanda, faz saber: «melhor qualidade com serviços que compõe entrega, montagem e pós-venda menor preço. Mas este chamamento atinge menos a também façam muita diferença. atenção dos possíveis compradores do que o facto das compras serem pagas em duas partes iguais de 50%, Para obter o micro-crédito como nos deu a entender o responsável pelas vendas do Para promover uma maior eficiência da politica comer- estabelecimento. cial que se assenta no fraccionamento do pagamento em compras dessa natureza – que de um modo geral, Com móveis 100% importados, de países como Portugal pode incluir uma gama diversificada de produtos que e Malásia, a loja permite que o comprador reconhecido vai de moveis à matérias de construção, de ferramentas por determinado critério, possa pagar metade do valor à maquinários – alguns bancos possuem um serviço de do produto no acto da compra e o restante da dívida ser micro-crédito «dirigido». quitado posteriormente, num período de tempo concor- dado entre o estabelecimento e o cliente. O banco Millennium Angola é um exemplo dessas insti- tuições. Entre os requisitos necessários para auferir-se de Nas compras feitas com o pagamento parcelado há um crédito, tal como os demais bancos, figura a condi- também fia opção do comprador pagar no acto da aqui- ção de ter uma conta domiciliada nesse estabelecimento, sição uma determinada percentagem do total do custo a comprovação salarial e o concurso de um avalista. sem no entanto levar o produto, que depois é entregue, ao domicílio, feito o pagamento da percentagem em débito. Entretanto, em conformidade com o seu próprio nome, é no Banco Bai Micro Financiamento (BMF) em que Essa modalidade de crédito do praticada pela Merico encontramos um serviço mais especializado nessa ver- Mobiliário, o chamado «kilapi», tão comum no comér- tente. Qualquer interessado munido com a papelada Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 24 exigida – que integra entre os principais itens o com- provante salarial, um extracto bancário dos últimos seis meses da conta onde é domiciliado o salário e a factura pró-forma does) produto (s) desejado – tem um crédito ao seu alcance.
Soubemos que depois da aprovação da proposta de financiamento os interessados precisam desembolsar um mínimo de 200 dólares americanos, ou o valor corres- pondente em kwanzas, para abrir a conta no BMF – que é necessária para que os valores sejam disponibilizados.
Para o pagamento, que ao mesmo tempo é o reem- bolso do dinheiro emprestado através do micro-crédito, há um plano a honrar, com datas predefinidas para o efeito. Conforme informações do balcão desse banco credor, nos dias estabelecidos entre vender e comprador, o cliente levanta o seu dinheiro na conta do salário e deposita a parcela do pagamento do crédito na conta aberta ne estabelecimento bancário. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 25
3 MERCADO INFORMAL venda nesse local, uma vez que as pessoas estão subme- tidas a muitos riscos e não têm licença para ali praticar comercio, mas apenas proibiram, não fizeram cumprir a interdição, ajudando as pessoas que lá se encontram. 3.1 Novo mercado a berma da estrada Jornal semanari o angolense Os munícipes têm opiniões diferentes sobre a situação, 03 de Novembro de 2011 pois muitos pensam que os vendedores devem ser retira- dos do local, procurando o seu próprio rumo, tal como Passar pela avenida Ngola Kiluange, próximo à fábrica nos fala Domingos Bernardo. «Estas pessoas correm da Cuca, tornou-se muito difícil, devido aos vendedores risco de vida, têm que sair daí o quanto antes, ninguém ambulantes que decidiram formar um novo mercado na é culpado se ficaram sem espaço, porque o lixo que pro- zona. duzem e os gatunos que já vêm fazer das suas consti- tuem perigo para nós também», afirmou Segundo o professor Adão Manuel, o mercado começou a formar-se há já algum tempo, mas na altura, nada Já Paula Francisco é de opinião que o governo deveria foi feito, porque não se pensou que se iria tornar per- arranjar um local para essa população. «Penso que é mal manente, uma vez que, no princípio, era constituído vender na rua, por causa dos perigos a que estão expos- por zungueiras que só ocupavam o local no período tos, mas, para este pessoal, é um mal necessário, por isso nocturno. o governo deveria construir mais feiras ou fazer alguma Desde a retirada do antigo «Roque Santeiro» as coisas coisa para não os deixar à deriva.» mudaram, por isso, os professore se mostram preocupa- dos com a saúde dos alunos, porque a situação tende a O mercado não só dificulta os peões, mas também os se agravar. alunos da escola primária nº 7012, porque os produ- tos são vendidos defronte ao por tão desta instituição Depois que a localidade tornou-se num espaço comer- de ensino, e a poluição, tanto sonora como orgânica, cia, com a abertura de mais lojas, dependências bancá- prejudica. rias, e até três edifícios residenciais, passou a ser também Segundo alguns polícias, quando recebem ordens, eles mais frequentada. A situação está uma autêntica luta expulsam os vendedores juntamente com os fiscais e a pela sobrevivência, onde comerciantes, taxistas e popu- zona volta ao normal. Mas quando saem, os ambulantes lação em geral se debatem todos dias. regressam novamente e fazem das suas. Carlos Capita, morador do bairro, mostrou-se muito agastado com o problema. «Sinceramente, é muito triste Os comerciantes dos mercados legalizados mais próxi- ver isto aqui, temos de fazer um grande exercício para mos dizem que os principais prejudicados nesta história podermos passar. O que tem de lixo tem de pessoas e são eles, que pagam impostos, sendo-lhes ainda rouba- produtos, alguém tem de fazer alguma coisa», desaba- dos os clientes numa concorrência desleal. Dizem ainda fou A desorganização e o lixo causados pelos vendedo- que os fiscais deveriam ter soluções palpáveis, se não as res constituem os principais motivos de reclamação dos coisas vão continuar na mesma. populares. Sendo paragem obrigatória para os taxistas, as coisas complicam-se muito mais ainda. Entre o caótico trânsito, a poluição e os perigos de vida, persiste o braço de ferro entre os polícias e os vendedo- Maioritariamente constituída por mulheres, a praça da res, numa autêntica luta pela sobrevivência. Cuca, como se diz usualmente, tem sido o único meio de sustento para muitas famílias. Os vendedores reco- nhecem que estão expostos ao perigo, mas, ainda assim, 3.2 Fantasmas do Roque Santeiro dizem que nada mais podem fazer porque os mercados Jornal O PAÍS estão todos cheios. 04 de Novembro de 2011
«As coisas estão complicadas em casa, por isso, se eu não Corno nas horas seguintes às grandes devastações resul- vier aqui para vender, os miúdos não comem, as pessoas tantes da incrível força da Natureza – terramotos, vulcões que passam por aqui compram alguma coisa que já dá ou tsunamis -, o silêncio e a sensação do tempo que pára para fazer jantar para os filhos, com perigo ou não, vou deixando atordoados lugares e pessoas, é o que há como mesmo ficar aqui», frisou Delfina Andrade. novidade central quando se volta à grande parcela de terreno que durante anos foi o mercado Roque Santeiro, Segundo algumas fontes da administração municipal no coração do Sambizanga, em Luanda. do Cazenga, há muito que o administrador proibiu a Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 26
Atracção fundamental do bairro que tem também ícones construção – madeiras, tintas, colas, pregos, martelos, como o estádio Mário Santiago e o grupo carnavalesco blocos – alvo de um incêndio muito perto do momento União Operário Kabocomeu, mas igualmente muitos em que a gigantesca praça se preparava para levantar emblemas imateriais como a fama da sua marginalidade, ferro e acomodar-se longe dali, na zona do Panguila. custa a crer que o Roque Santeiro teve um fim e, com ele, o eclipsar de todo o seu buliçoso quotidiano de Bem no centro do mercado, a lembrança real de que nem vendas, revendas, favores, traições, conflitos e demais tudo são fantasmas no velho Roque: uma tenda verde, catálogo de pequenos e grandes actos da sociologia de sobrada provavelmente das muitas campanhas militares massas tornados desafios díceis de descodificar. havidas, assume o lugar de honra que nunca teria nos tempos O lugar está hoje transformado num gigantesco des- áureos do grande mercado, porque seria então apenas mais campado que mostra o que nunca deixou ver: os contor- um ponto minúsculo, verde por um tempo, mas acasta- nos de uma geografia apetecível para os sonhos e utopias nhado poeirento pouco depois, pela força que o manto de de qualquer urbanista, com a sua sobracentra vista sobre sujidade tinha de moldar a paisagem à sua vontade. o Atlântico, vendo entrar e sair navios na baía capita- lina. Largos hectares que a multidão compacta transfor- De dentro da tenda olha-se para fora. Não parecem mava em insuficiente espaço de comércio, numa ilusão olhares de desconfiança num lugar que se tornou calmo, de óptica que dissimulava melhor ainda as suas virtudes inofensivo, bendito, como se sobre ele impendessem os e misérias. Ali cabiam os bons e a escória, os justos e os ares bons de um acordo de paz firmado para ser real- malvados, ajudando a montar, ano a ano, o cúmulo de mente cumprido. lendas que inspiraram escritores, poetas, cineastas e os próprios homens da política e da Academia. Até os homens armados que protegem o local estão imbuí- dos do novo espírito do Roque, um mercado que deixou de Seriam assim com certeza as granades feiras da Idade o ser, um sítio onde a vida acabou e restaram apenas os seus Média, que atraíam para espaços enormes de cidades em pequenos mistérios. São generosos, acenam sem esperarem consolidação mercadores de impérios próximos e afas- pela saudação do visitante intruso e não caem na tentação tados, na procura incessante do lucro, a alavanca que das perguntas que inibem uma peregrinação que sabem move a base de uma das actividades mais antigas e mais inabitual. Ver uma viatura por ali é também para os guar- activas da civilização humana, o comércio. diães um alívio para as suas próprias angústias, perpassadas por silêncios de dia e de noite, como nos tempos em que a Urna tenda solitária guerra tinha pausas à espera do ataque seguinte. Quase se podem ouvir os ruídos envergonhados dos fan- tasmas que agora povoam o Roque, depois que as: almas, muitos milhares delas, se dispersaram pela geografia 3.3 Candidatas a doentes de úlcera que nunca se conseguirá estabelecer a rota, na perfei- gastrica e tuberculose ção. Parece um lugar ensombrado, meio localizado -na Jornal folha 8 imaginação – entre o cemitério de corpos em repouso e 05 de Novembro de 2011 os vales de cadáveres e pultos que se multiplicaram pelo pais, na viciosa voragem das guerras passadas. Trabalhadores de rua por força da circunstância têm uma alimentação que deixa a desejar e os coloca entre Há um desassossego e um silêncio incómodo no passeio potenciais doentes das efermidades que têm como causa que se faz por um lugar onde o barulho no ar, pregão o défice alimentar. Tito Marcolino simultâneo de milhares destes, as buzinas dos veículos motorizados que por ali se aventuravam nas estreitas Enquanto uns mata-bicham, almoçam, lancham e passagens, constituíam a senhorial presença que não se jantam, além de ter provarem qualquer coisinha antes foi afastando aos poucos mas acabou sob a forma de um de dormir para consolidarem o que puderam ingerir em rude corte. defesa dos seus ricos e preciosos estômagos, os demais não mata-bicham, não almoçam e só jantam quando Com o curso à memoria ainda é possível situar onde calha não por serem inimigos das três 3 refeições regula- funcionava a secção do mobiliário, com as suas camas, res de cada dia, mas sim, porque têm de madrugar para colchões, cadeirões, sofás, chegados de longe, enviados chegarem a tempo e horas aos locais em que compram por gente que lá fora viveu das bonanças do Roque, mas mercadoria de negócio e não só mas também por terem boa parte deles saídos de ateliers domésticos ali mesmo de passar à acção logo após a aquisição. montados, para testar a perícia e o engenho dos nossos; um pouco mais para lá, já quase a finalizar o períme- Tal é o caso das peixeiras que por volta das 4 da madru- tro na direcção de Cacuaco, o recanto dos materiais de gada têm de ir à praia “pegar” o peixe e em seguida Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 27 iniciar a venda da mercadoria na tentativa de vendê-lo o -se com de muitas outras pessoas que falaram à repor- mais fresco possível. O mesmo acontece com os demais tagem que, no entanto, também recolheu história de vendedores que a par da peixeira partem de casa cerca pessoas que já padeceram de tuberculose. ‘Temos duas das 4 horas para regressarem somente entre às 18 e 19 colegas que faleceram desta doença, no sanatório”, expli horas, período em que, como é obvio, não cozinham, cou a zungueira Joana Nguimbi. limitando-se a mentir a fome, comendo coisa fria e, como se não bastasse, de pé e em andamento. O referido cenário motiva alertar e aconselhar a quem de direito a desenvolver acções práticas destinadas à criação Se os outros comem de maneiras a garantir saúde e com de empregos para os milhares de Angolanos feitos vend ela prolongarem as suas vidas, os que não comem candi edores ambulantes em virtude de outro recurso de datam-se, involuntariamente a criarem feridas nos estô- sobrevivência não terem. magos. Ou seja, a doentes de ulcera gástrica, tubercu Dispensa por outro lado ser adivinho para se poder lose e as demais que segundo os médicos são causadas chamar atenção ao facto que a não ser acautelado, pela má nutrição. Não há quem não saiba que mal ali arrisca-se ter em conta o défice de especialistas para o mentados tarde ou cedo adoecem e morrem. combate de muitas destas doenças na rede, já destas doenças na rede de saúde. Ainda têm de enfrentar as Não é preciso ser-se enfermeiro ou médico para se atingir corridas dos agentes. o entendimento básico de que os Angolanos e as Angola nas que desenrascam manjar a zungar não são saudá- Por ser gratuito e, além disso, divertir os de mau senso veis, em virtude de não poderem diariamente confec sempre entusiasmados a estarem lá onde há “bilo” há por cionar e dizer sim, às três refeições universalmente esta- aí gente que aplaude. Que acha graça de presenciar poli- belecidas como garantes da manutenção dos organismos ciais a correrem de um lado para outro com as coitadas humanos. Uma dessas pessoas é Cata ri na Coelho, pei- e os desgraçados dos negociadores de rua. xeira que, como todas as outras, deixa a casa antes das Não tem piada nenhuma e ainda POI cima reveste-se 5 horas e apenas regressa por volta das 19 horas. “Tem de um mal que irrita os cidadãos de bom senso para os que ser assim porque senão o negócio vai à baixo”, jus- quais é feio ver homens farda dos, de barba rija, num tificou o sacrifício, completado pela péssimas condições exercício para o qual não foram treinados. Não há quem alimentares. “As vezes conseguiu comer, não também acredite que haveria candidatos a agente da Policia se como se estivemos em casa, mas dá para matar a fome”. de antemão soubessem que ser policial inclui brincar ao gato e ao rato com as esposas dos outros. É ponto assente que cedo ou tarde, os cidadãos como Catarina Coelho estão condenados a contraírem doenças Com programa governamental devidamente concebido tendentes a acelerarem-lhes. “Não temos outra escolha, para a erradicação da presença de vendedores e mendi- mas todos vamos morrer”, consolou-se. gos de rua fazer-lhes-ia desaparecer para a tranquilidade Quem também, em função do esforço da labuta, tem dos agentes e não só, mas também dos ambulantes e da tido refeições que muito deixam a desejar, é Paulo sociedade em geral envergonhada por pertencer a um Morais, engraxador, que resume a sua refeição diária País rico, mas desorganizado, ao ponto de ser incapaz de em “uma e meia”. Ou seja, almoça, sendo que a comida distribuir a riqueza excessiva que tem aos seus. compra por duzentos kwanzas (200 Kz) nos seguranças. Com os empregos que se podem criar em abundância “É boa comida, eles (seguranças) recebem à mais e fruto das empresas instaladas e por instalar a partir nos vendem a duzentos kwanzas”, conta para depois da corrida desenfreada do interesse de muitos por explicar a meia refeição. “A noite, se as coisas correm investir em Angola ocupar-se-iam os desempregados, bem, compro um pão com salsicha ou um pincho para o esvaziar-se-iam as ruas e consequentemente Angola jantar”, explica Paulo de 16 anos de idade que é órfão de deixaria de correr o risco que corre de preparar para o pai e vive apenas coma mãe. futuro uma sociedade de doentes que ninguém duvida Fazendo fé as palavras de Paulo, a história dele asseme- hão-de emergir do longo tempo de trabalharem como lha-se de grande parte dos seus colegas, assim como dos ambulantes e concomitantemente de candidatos à lavadores de carro e “outros trabalhadores da ruas”, argu- doenças que não é proibido adivinhar serão um bico de mentou para depois responder que “às vezes enquanto” obra para o futuro próximo. tem tido problemas do estômago.
“Tuberculose nunca tive, mas dor do estômago tenho às vezes enquanto, mas compro os comprimidos e passa”, explicou. Neste aspecto, a realidade de Paulo assemelha- Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 28
3.4 Casas da candonga dificultam Os servidores cobram um valor entre 200 e 2000 comerciantes Kwanzas por dia, dependentemente do produto. Jornal folha 8 Os mesmos levam em conta a quantidade, volume e o 05 de Novembro de 2011 valor da mercadoria, de forma a determinar o valor da mercadoria. Mais de mil Kwanzas é quanto os proprietários dos quintais e casas de processos cobram diariamente aos Interrogado pela brusca subida de preço, Celestino vendedores que dependem daquele serviço. Gama justificou que através da procura teve que contra tar segurança e pagar a limpeza do recinto. Mais com o Os moradores, residentes nos arredores do mercado que ganha consegue sustentar a família. estão á arrendar os espaços, porque é rentável, apesar de não oferecer condições de conservação da mercado- Com excepção da segunda-feira, os restantes dias tem ria. Os quintais e casas de processos dos mercados de sido produtiva para aqueles que seguiram este negócio, Kicolo, Panga Panga, Asa Branca, Kwanzas, Arreio a e Apesar disso, os vendedores propõem como solução um Catin Tom especulam os preços do arrendamento do pagamento mensal, tendo em conta que muitas vezes o estabelecimento. Para os comerciantes a prática dos pro negócio não rende: prietários está a complicar na arrecadação de lucros, motivo pelo qual estão a acrescer as tarifas dos produ- “E torna-se difícil atender ao mesmo tempo as quotas da tos, o que tem encarecido o bolso do consumidor. Maria administração do mercado e dos chamados processos”, Helena, vendedora do ex-mercado do Roque Santeiro, especificou. actualmente no Panga Panga, lamenta a condição em que se encontra. Sente também, a diferença de preço após extinção do mercado sito no município do Sambizanga 3.5 Autoridades preocupadas com a “RS”. Para a comerciante de bolinhos, bombom frito venda inlegal com jinguba e kissangua, Doroteia Ndango, do mer Jornal de Angola cado de Asa branca, declara ter pago a uns meses atrás 07 de Novembro de 2011 200 Kwanzas por dia para o armazenamento dos utens- l1io de trabalho, com a subida da tarifa, diz ser obrigada Boaventura Moura, director Nacional de Medicamentos, a atravessar mais de dois quilómetros e meio a pé, com o está preocupado com a venda ao público de fármacos material de serviço à cabeça para poder ter algum lucro. sem controlo de qualidade. Os consumidores encon- tram produtos farmacêuticos sem comprovação cientí- Esta prática já se verifica a alguns anos atrás, com a fica, sem registo e que ainda não foram homologados em invasão dos estrangeiros, no arrendamento das residên- Angola. Para ultrapassar os problemas do sector, anun- cias próximo das estradas principais e terciárias, para ser- ciou que está a ser criada uma lei mais abrangente e que ventia de lojas e armazéns. Muitos destes proprietários vai completar a legislação existente. foram levados pela precária condição de vida. Segundo apurámos, as “casas de processo” surgiram em finais Jornal de Angola – Os medicamentos importados da década de 80, mas, segundo os seus proprietários, o entram e forma livre ou estão sujeitos à autorização de negócio tende aumentar desde o encerramento do Roque alguma instituição do Estado? Santeiro e a venda ambulante. Esta actividade ficou ape- Boaventura Moura (BM) – Todos os produtos farma- lidada por «Processo», devido adesão dos comerciantes. cêuticos carecem de uma autorização da Autoridade Para além de guardarem os produtos dos vendedores, Reguladora do Sector Farmacêutico, além do controlo também prestam serviços aos comerciantes em trânsito aduaneiro, da Inspecção Geral da Saúde e de outras para outros pontos do país. Entidades fiscalizadoras.
Através da procura, os guardiões melhoraram os servi- JA – A legislação necessita de actualização? ços, oferecendo condições de conservação de frescos e BM – A legislação actual é recente, está adequada ao hortaliças. nosso contexto e regula a importação e comerciali zação dos produtos farmacêuticos e o exercício da acti- Celestino Gama assume que o negócio é rentável, “estou vidade farmacêutica. Estamos já trabalhar numa Lei a oferecer aos vendedores as melhores condições possí- Farmacêutica de Angola, que vai ser mais abrangente. veis. De forma a não dificultá-los na comercialização dos produtos, porque não conseguiriam levar os haveres em JA – Qual é a sua maior preocupação em relação o processo casa, através da distânciaa da praça”, declarou. de entrada, distribuição e comercialização de medicamen tos em Angola? Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 29
BM – Como Autoridade Reguladora do Sector pretendemos que em Angola somente os fabrican- Farmacêutico Angolano, além do défice de profissionais tes nacionais, os importadores ou distribuidores por farmacêuticos, estamos preocupados com o controlo grosso, possam vender medicamentos directamente às da qualidade e da introdução no mercado de produtos farmácias. farmacêuticos que ainda carecem de comprovação, de registo e homologação. JÁ- Os grossistas de medicamentos têm regras a cumprir? BM – Eles devem cumprir as boas. práticas de armaze- JA – A comercialização de medicamentos obedece aos namento e distribuição, devem dispor permanentemente requisitos legais? de medicamentos em quantidade e variedade suficiente BM – A comercialização de mediamentos obedece para garantir o fornecimento adequado e contínuo do aos requisitos legais previstos na Lei das Actividades mercado. Têm de pôr à disposição da autoridade regula- Comerciais para a distribuição por grosso e um Decreto dora e demais autoridades públicas competentes, os con- Presidencial que determina que só podem ser comercia- tratos escritos, celebrados com a pessoa responsável pela lizados no território nacional medicamentos que benefi- direcção técnica e, quando aplicável, com as empresas ciem de uma autorização ou de um registo, válido e em que procedem ao transporte dos medicamentos. vigor, concedidos pela Autoridade Reguladora. JA – Quem está habilitado para importar medicamentos J A – Quais são as regras fundamentais no fornecimento de em Angola? medicamentos ao público? BM – Estão habilitados a importar medicamentos e BM – A legislação angolana proíbe fornecer ao público outros produtos farmacêuticos, apenas entidades farma- medicamentos e outros produtos farmacêuticos fora das cêuticas autorizadas para o exercício desta actividade, farmácias e em acondicionamentos que não estejam com licenciamento comercial específico. rotulados ou que não contenham folhetos em língua portuguesa contendo todas as informações exigidas e JA – Existe uma rede ilegal de importação de medicamentos? salvaguardar a boa qualidade dos produtos, tanto na BM – Não temos conhecimento. origem como na rede de distribuição. A legislação em vigor e os esforços conjugados dos Ministérios da JA’- Os medicamentos que entram em Angola são fabrica Saúde, do Comércio, do Interior e das Finanças, através dos por laboratórios farmacêuticos de reconhecida idonei dos Serviços Aduaneiros, estão a trabalhar para que isto dade técnico-científica? não aconteça. BM A tendência actual é a proveniência seja de empre- sas farmacêuticas de idoneidade técnico-científica existir JA – Há venda livre de medicamentos que só podem ser produtos de fábricas menos cotadas. E existem marcas vendidos com receita médica? contrafeitas, porque a contrafacção é um problema global BM – Há um esforço de organização e de trabalho que atinge todos os países do mundo. Reconhecemos em todas as entidades que actuam na área dos medi- os esforços do Executivo regulação e controlo total da camentos. Tudo estão a fazer para uma fiscalização entrada de medicamentos no mercado nacional. farmacêutica mais eficaz. Por isso, não acreditamos que o Estado Angolano esteja a ignorar a existência de qual- JA- Os seus serviços têm controlo sobre todos os medicamen quer problema que seja preocupante para a saúde. tos importados? BM – Sim, há a obrigatoriedade de submissão de todo JA – Algumas mortes súbitas podem ser atribuídas à e qualquer medicamento que ‘se pretenda comercializar ingestão de medicamentos de forma abusiva e sem receita em Angola ao S is tema de Registo de Medicamentos, médica? com o objectivo de garantir idêntico grau de qualidade, BM – Não temos como confirmar a existência ou não segurança e eficácia para todos os medicamentos, inde- dessas mortes. Mas para detectar e tratar as reacções pendentemente da sua proveniência ou local de pro- adversas a medicamentos, no Ministério da Saúde dução, contribuindo assim para aumento do grau de estamos a organizar um serviço e uma rede de farma- confiança da população. Apenas alguns medicamentos -covigilância, que pretendemos seja eficaz. considerados imprescindíveis podem ser” importados sem autorização prévia. Mas são casos pontuais. JA- Entre os medicamentos tomados de forma abusiva estão os estimulantes sexuais, tem conhecimento de casos mortais? JA – Como é que as regras de venda de medicamentos BM – Desconheço, mas recomendo a todos que evitem devem funcionar? essas práticas que são prejudiciais a saúde. Vamos tra- BM – Achamos que devem funcionar conforme esti- balhar mais para reforçar a regulação e o controlo far- pula a legislação em vigor. Com as regras estabelecidas, macêutico desses estimulantes. Temos de trabalhar Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 30 também na sensibilização, na informação, na educação. alternativa aos cuidados de saúde convencionais e favo- Os órgãos de comunicação social públicos e privados, recer a compra de medicamentos de produção local no e o Jornal de Angola, em particular, também podem âmbito dos processos de aquisição dos medicamentos ajudar. essenciais.
JA – O medicamento Victosa foi produzido para o tratamento da diabetes e está a ser usad6 por quem deseja 3.6 Governante anuncia plano para emagrecer. Em Angola existe esse fármaco? melhoria dos mercados BM – Não temos conhecimento da entrada desse Jornal de Angola produto no nosso mercado. Mas, vamos avaliar. 10 de Novembro de 2011
JA – há controlo de qualidade dos medicamentos? A vice-governadora do Bié para a esfera económica, Ana BM – Para comprovar a qualidade dos medicamen- Maria Mvuay, revelou ontem, no Cuito, que o sector tos vendidos em Angola, nós queremos instalar um definiu políticas destinadas à organização de sistemas de Laboratório Nacional de Controlo de Qualidade, redes de produtos locais nos mercados municipais. físico-químico e microbiológico de medicamentos em A acção, segundo explicou, visa dimensionar a activi- Luanda. dade comercial e possibilitar o aumento da capacidade económica dos vendedores e fornecedores. JA – E quais são os principais ensaios nesse laboratório? BM – Os principais ensaios são a identificação de subs- Falando após uma visita aos mercados municipais do tâncias activas, volume médio, peso médio, dose dispen- Bié, que serviu para avaliar o estado das estruturas e as sada, uniformidade de doses e muitos outros. condições de comercialização dos produtos, considerou os mercados como o centro da estabilidade económica JA – Neste momento que trabalhos a Direcção Nacional de do país. Tendo em conta a sua importância no sector, Medicamentos está a fazer? defendeu a necessidade da melhoria da actividade BM – Estamos a desenvolver um plano estratégico de comercial a nível destes estabelecimentos. A estratégia, reforço do sector farmacêutico e com ele esperamos referiu a governante, conta com a pareceria de agricul- aumentar a disponibilidade dos medicamentos essen tores e automobilistas que exerçam as suas actividades ciais nas unidades sanitárias. Estamos a criar condições no interior da província. Os mesmos têm a missão de para que toda a população tenha acesso aos medicamen- escoar os produtos do campo para os mercados, onde tos essenciais, qualidade garantida dos medicamentos vão ser vendidos. em uso nas unidades sanitárias, maior grau de utilização Para que o programa seja desenvolvido sem grandes pro- racional dos medicamentos e gestão mais eficiente do blemas, Ana Mvuay pediu aos comerciantes para regu- sector farmacêutico. larizarem as suas actividades comerciais, adquirindo a documentação que os identifique e que garante, igual- JA – O que está a ser feito para melhorar a disponibilidade mente, uma melhor segurança. dos medicamentos essenciais nas unidades sanitárias? BM – Estamos a estabelecer um sistema de aprovisiona- mento integrado que contempla os três níveis de assis- 3.7 Vendedores do mercado do tência sanitária. Vamos criar uma central de compras Cassualala têm sombras e aprovisionamento de medicamentos, com a incum- Jornal de Angola bência de adquirir e distribuir os medicamentos, gra- 10 de Novembro de 2011 tuitamente ou não, às instituições públicas e aos nossos parceiros. Também estamos a reforçar as capacidades Os vendedores do mercado de Cassualala, situado na dos recursos humanos na gestão dos medicamentos, rea- comuna de Massangano, município de Cambambe lizar supervisões regulares aos gestores de medicamentos (Kwanza-Norte), registam há três meses uma queda nas unidades sanitárias e aumentar o Orçamento Geral considerável do volume de vendas devido à redução do do Estado para os medicamentos essenciais. tráfego automóvel no troço da estrada nacional 230 entre Zenza do Itombe e Dondo. JA – O que é necessário para assegurar que os medicamen Segundo noticiou a Angop, os vendedores queixam-se tos essenciais sejam financeiramente mais acessíveis a todos? da falta de interesse por parte dos utentes da via Luanda! BM – É necessário suprimir as taxas e direitos alfande- Malange. O trânsito diminuiu na referida via depois da gários que oneram os preços dos medicamentos, reforçar reabilitação da Estrada da Trombeta, que liga Luanda as capacidades dos órgãos de controlo dos preços dos a Ndalatando, passando pelo município do Golungo medicamentos, promover a medicina tradicional como Alto, um percurso de cerca de 60 quilómetros. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 31
O novo troço encurta a distância entre a localidade do O histórico dos dois mercados permite, no entanto, Zenza do Itombe e Ndalatando, e constitui uma alter- maior compreensão da situação do mercado do Panguila nativa à passagem pelo Morro do Binda, onde se regista que foi arquitectado para acolher os vendedores do antigo um elevado índice de sinistralidade rodoviária. mercado Roque Santeiro que, desde início, mostraram- -se resistentes à mudança. Grande parte dos mesmos Uma vendedora que há mais de 20 anos comercializa nem nunca experimentaram vender no mercado que fruta e peixe de água doce no mercado disse que as tem uma capacidade para albergar 5200 vendedores. vendas conheceram uma redução de 50 por cento. A distância que separa o mercado do centro da cidade, assim como a dificuldade de acesso (bem melhor nos 3.8 Administradores dos mercados dias que correm) destacavam-se entre os argumentos culpam executivo pelas das vendedeiras que, desta feita, calculavam que o novo praças de rua mercado nunca teria a concorrência do mercado de Jornal folha 8 origem: Roque Santeiro onde, calcula-se, movimentava- 12 de Novembro de 2011 -se mais de 1 milhão de dólares por dia.
Os mercados informais nos arredores dos formais e a A transferência daquele que foi um dos maiores merca- consequente fuga dos vendedores do segundo para o dos de céu aberto do continente, segundo explicação do primeiro destacam-se entre os problemas do sector em Executivo, deveu-se à necessidade de oferecer melhores Luanda. A inversão do referido quadro é uma das pre- condições aos então utilizadores que, entretanto, rejeita- ocupações do ministério do Comércio no quadro da ram as óptimas condições que encontraram no Panguila. implementação do novo modelo de gestão dos mercados que visa maior rentabilidade do investimento feito pelo Por seu turno, o mercado do Asa Branca, antes da sua Executivo na construção e reabilitação dos mesmos. reabilitação, era bastante concorrido, contrariamente Aquando da reabilitação de alguns dos principais mer- aos dias que correm. Grande parte das bancadas, cados da capital do País, a sociedade civil manifestou-se daquele que foi um dos mercados de referência de venda preocupada pelo facto da dimensão dos mesmos serem de roupa usada, está inutilizável enquanto as ruas adja inferiores que as das anteriores estruturas. A referida centes transformadas em mercados informais. preocupação, no entanto, foi ignorada pelas autorida- Entre as razões apresentadas pelas vendedoras destaca-se des, como, de resto, acontece na maioria das vezes. O a que dá conta da exiguidade do mercado para albergar tempo, no entanto, responsabiliza-se de mostrar que os todas ou a maioria das pessoas que vendiam no espaço responsáveis pela projecção dos novos “congoleses”, “São onde foi construído o novo mercado. Paulo” e “asa branca” falharam. Desta feita, explicam, as pessoas que ficaram sem lugares No âmbito das actividades de divulgação da nova Lei formaram mercados informais nos arredores dos formais, das actividades comerciais, o ministério do Comércio fazendo concorrência desleal aos vendedores formais e reuniu, recentemente, com os responsáveis dos merca- estes, sequencialmente, decidiram engrossaram os mer- dos da capital para falar do futuro modelo de gestão dos cados informais dos arredores. Actualmente, estima-se mesmos, comprando-a com a actual. em mais de 50% o nível de abandono dos vendedores do referido mercado que foi projectado para albergar cerca No referido encontro existiu unanimidade em relação de 1400 vendedores, menos cerca de 600 do mercado ao défice que a fuga dos vendedores representa na anterior. colecta das receitas e ainda que se trata de um assunto que carece de um diagnóstico em virtude de acontecer A realidade deste mercado, assemelha-se com a dos con- em grande parte dos mercados com destaque para os que goleses que, depois de reabilitado e inaugurado há cerca foram recentemente reabilitados. Tais são os casos do de três anos; passou a ter capacidade para cerca de mil mercado do Panguila, inaugurado há menos de um ano e 600 vendedores mas apenas cerca de trezentas (300) e do Asa Branca, reabilitado há cerca de quatro anos. têm estado a ocupar os respectivos lugares, actualmente. As motivações destes abandonos assemelham-se com as As imponentes estruturas e a qualidade dos dois merca- do mercado do Cazenga. Os vendedores queixam-se da dos, motivam interrogações sobre as razões que levam concorrência desleal do mercado informal (os vendedo- os vendedores a trocar as condições das novas infra- res do mercado formal pagam uma quota diária de 100 -estruturas e formar mercados informais, na maioria dos kz), constituído nos arredores pelas dezenas de pessoas casos, nos arredores dos formais. que ficaram sem lugar. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 32
Para inverter o referido quadro, o administrador do A maioria dos jovens roboteiros é proveniente das mercado é de opinião que o espaço adjacente ao mesmo regiões da Huíla, do Huambo, do Kwanza-Sul e do seja utilizado como parte integrante do mercado de Bié, que vieram a Benguela, à procura de condições de forma a acolher as pessoas que vendem nos mercados vida, devido à falta de grandes oportunidades, como o informais. emprego e o estudo nas suas terras de origem.
Dos mercados reabilitados, o São Paulo é o que ainda Durante o périplo pelos bairros da cidade de Benguela, tem as suas bancadas totalmente ocupadas, mas a admi- o Factual encontrou-se com os roboteiros António nistração do mesmo também manifesta-se preocupada Marcelino, Eugénio Tchissinde, Tiago Tchiamba, com a possibilidade do mercado informal defronte do Domingos Muhanha, António José, João Jorge, Costa mesmo (que é um dos maiores de Luanda) motivar o Casimiro e Francisco Vicente. esvaziamento das bancadas. Como medida de preven- Convidados a falar das suas experiências, os roboteiros ção, a administração defende a ampliação do mercado quiseram em troca valor monetário, mas depois acede- para absorver os vendedores dos mercados informais. ram à conversa. Portanto, grande parte dos administradores concluíram que a razão do vazio dos mercados e, consequentemente, António Marcelino, de 16 anos, explicou que proveio a pouca rentabilidade dos mesmos está no facto de terem da região do Kaluquembe, no município de Caconda sido construídas estruturas inferiores e, consequente- (Buíla), e está em Benguela há seis meses. Ele contou mente, pequenas apara albergar todos os vendedores. que veio a Benguela a convite do seu irmão mais velho, à procura de melhores condições de sobrevivência. “Na altura da decisão da reabilitação destes mercados já existiam nos arredores dos mesmos, alguns vendedores Dinheiro obtido chega para sustentar família e esperava-se que se espaços que pudessem acolher “Para conseguir alguma coisa para o meu sustento, também estes mas o que aconteceu foi totalmente o acordo às 05 horas e deixo o trabalho às 16. Normal contrário, algumas pessoas que tinham lugares ficaram mente, carrego caixas de peixe, caixas de óleo, peças sem os mesmos”, comenta um vendedor do mercado dos de motas e geradores”, fez saber ao Factual António congoleses. Marcelino, acrescentando que os preços da transpor tação dessas cargas variam de 150 a 200 Kwanzas, de E como dizer que ao reabilitar como reabilitou os mer- acordo com o peso, o tamanho das mercadorias e a dis- cados o Executivo investiu no aumento de mercados tância a percorrer. informais e vendedores ambulantes que, entretanto, são Antómo Marcelino contou que, apesar de muitos combatidos de maneira desumana. esforços, o dinheiro arrecadado no seu dia-a-dia “não chega para sustentar toda a família que se encontra em Kaluquembe, mas dá para remediar, pelo que vale a 3.9 Uma profissão a considerar pena o trabalho. Jornal semanario factual 12 de Novembro de 2011 O roboteiro deu a conhecer que “por dia, às vezes, factura mil e mil e 600 kwanzas”, tendo conseguido enviar para Na sua maioria, os roboteiros têm idades entre os 16 e a sua família alguns bens, como um televisor, um apare- os 38 anos, pouco cuidados, com camisolas encardidas lho de som e um DVD. “E, na semana passada, comprei e carcomidas pelo tempo, com cabelos empoeirados e uma cabeça de gado e mandei 20 mil Kwanzas para a unhas sujas e compridas, transportando, diariamente, minha mãe que vive em Kaluquembe”, referiu no seu carro de mão tudo quanto podem: sacos de arroz, António Marcelino. caixas de óleo vegetal e pequenos electrodomésticos, a troco de 100 ou 200 Kwanzas. Eugénio Tchissinde é natural da província do Huambo e é o mais novo na profissão, com apenas três semanas A profissão de roboteiro já foi muito respeitada e procu- de intensa actividade laboral. O jovem, de 22 anos e rada, tendo sido considerada grande fonte de sustento casado, afirma gostar do que faz, afiançando que a falta de muitas famílias angolanas, particularmente as de de grandes oportunidades de emprego na sua terra natal Benguela. foi o motivo que o levaram a Benguela.
Mas, hoje, a profissão não é valorizada pela sociedade “Viemos os cinco do Huambo, à procura de melho- civil, o que faz desistir os menos persistentes que optam res condições de sobrevivência, e todos partilhamos o por melhores condições de vida. mesmo quarto, garantiu. Na praça do bairro dos nave- gantes, zona BO, o Factual encontrou António José, de Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 33
26 anos, e que veio do Bié há nove meses, para trabalhar actividade. Começou ouvindo conversas, a propósito, como roboteiro. Descontraído e a fumar um cigarro, com vizinhos do bairro, muitos deles já dedicados à afirmou que gosta do trabalho que faz. “Eu gosto muito recolha de garrafas. Diziam que, a actividade era ren- desse trabalho e, enquanto não encontrar um outro para tável, embora, reconhecidamente, todos concordassem o substituir, prefiro trabalhar assim do que roubar”, que não garantia um bom futuro. Mesmo assim, e asseverou António José, com um certo à vontade. depois de convencer a sua mãe, Simão Ambrósio aderiu.
Como nem sempre consegue obter entre mil e dois mil Depois de apanhar a sua primeira garrafa, não parou e 500 kwanzas por dia, o roboteiro fez saber que é obri- mais. Simão levanta-se cedo, todos os dias, e parte em gado a fazer outros trabalhos extras. busca de garrafas, caminhando pelos distintos bairros da cidade, tendo, até, faro para descobrir mais e mais “Kota, às vezes, sou obrigado a varrer o pó de algumas locais de convívio. barracas da praça e a escalar peixe na praia”, indicou, sorrindo. Num bom dia de trabalho, pessoas dedicadas como Simão conseguem recolher até três sacos, aqueles com Tiago Tchiamba tem 18 anos e é roboteiro há seis meses, capacidade para cinquenta quilogramas, bem cheios de afirmou que a profissão não é “nada fácil”, pois se passa garrafas. Um saco pode levar até 72 duas garrafas, cor- o resto do tempo na rua debaixo do sol, apanhando respondendo a três grades (de 24 unidades) para cada poeira todos os dias e levando grandes quantidades de saco. É esse o resultado de um dia normal de trabalho, cargas pesadas. para quem recolhe garrafas e que, depois, se converte em dinheiro. Terceiras pessoas aparecem, depois da No mercado da Kaponte, a maior praça a céu aberto na recolha feita, a requisitar as garrafas em troca de algum cidade de Benguela, o Factual encontrou o carpinteiro dinheiro. “Não é muito”, adverte Simão, mas sempre Augusto Tomás, que fabrica os carros de mãos feitos de ajuda “por alguma comida em casa”. E, no caso particu- madeiras e com pneumáticos de viaturas abandonadas. lar de Simão, que frequenta uma escola privada, a ajuda Augusto Tomás revelou que, por dia, atende a dois clien- se estende ao pagamento das propinas. tes que levam os carros de mão (Kangulo) ao preço de 12 a 15 Kwanzas, em função do seu tamanho. “As necessidades em casa aumentam”, salientou o jovem desempregado. “Não podemos é ficar parados, enquanto A fonte avançou que o material que usa vem de Bengue1a. haver qualquer coisa que se possa fazer”.
Ele identifica, até, algumas vantagens no trabalho que 3.10 Descartáveis, mas retornaveis faz. “Não temos patrão”, contou, ao reforçar que basta Jornal a capital que alguém deite para o lixo, uma garrafa de cerveja, 17 de Novembro de 2011 para que o nosso “salário esteja garantido”.
Movido pela influência de amigos, Simão Ambrósio, de Com os três sacos que enche todos os dias, Simão ganha 22 anos, decidiu abraçar uma actividade que, embora dois mil e 700 kwanzas, isso porque ele cobra, pelo saco longe da atenção da maioria dos luandenses, vai ganhando cheio, novecentos Kwanzas. Quanto mais horas de tra- muitos adeptos entre a população com rendimentos mais balho tiver, maior será rendimento de Simão. Segundo baixos. Há três anos, ele tomou-se um entre os muitos refere, a estratégia é evitar faltar, uma opção difícil, cidadãos no lixo, sobretudo em locais de preferências para sobretudo para quem está na escola a preparar-se para convivi os, em busca de garrafas de vidro. um futuro melhor. Quando há provas, disse, “não há como não faltar”, e os rendimentos, por conseguinte, Sejam nas praias, nas traseiras de discotecas ou em baixam. palcos de maratonas, o dia seguinte, para o descanso dos protagonistas da noite, é de trabalho para Ambrósio A história de Simão se repete por entre os populares e para quem, como ele, ganha a vida a recolher garrafas. que por Luanda ganham a vida, a recolher garrafas nas São milhares de garrafas recolhidas, amontoadas, em lixeiras. Não importa a idade, se velhos, jovens ou crian- seguidas, em sacos, também reciclados, cheios até à ças, ou o sexo, se mulheres ou homens, o facto é que exaustão para que possam levar a maior quantidade pos- todos fazem-no ao som de uma mesma palavra: sobrevi- sível de garrafas de vidro, todavia descartáveis. vência. São as agruras do desemprego que os empurram para essa actividade, apesar do preconceito instalado ao Para onde vai tanta garrafa? Já lá chegaremos. Vamos redor dela. conhecer, primeiro, a como foi que Simão abraçou a Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 34
“Somos mal vistos na rua”, lamenta Simão, ele que frutas e frescos, peixe, carne, frangos são os negócios confessa ter sentido, no início da sua actividade, uma preferenciais das zungueiras. certa “vergonha”. Afinal, “as pessoas são vistas como se fossem excluídos da sociedade e as outras, normalmente, Zungar, que na língua quimbundu significa andar ou se afastam de nós”. passear, tornou-se um negócio de sobrevivência para todas as faixa etária da sociedade. Para além das senho- Preconceitos à parte, está-se perante uma actividade, em ras, os jovens e crianças aderem a esta prática de comér- que intervêm várias pessoas com funções diferentes. Se cio informal. Alias, até expatriados enveredaram por Simão, por exemplo, tem a tarefa de recolher as garrafas este tipo de negócio. directamente das lixeiras, há ainda pessoas como Emília Silva que as compra para, depois, revendê-las a uma A senhora Engrácia Cardoso é uma referência de mulher empresa com a qual fixou contrato nesse sentido. Mas talhada no comércio informal. Com 40 anos de idade até lá, há ainda os motociclistas, aqueles que se fazem e mãe de cinco filhos tem uma fisionomia juvenil. É transportar sobre motorizadas de três rodas, que levam zungueira há cerca de 20 anos, e explica porquê: “Se as garrafas em fardo para o comprador final. eu tivesse uma formação especializada já não poderia continuar a fazer negócio, porque me sinto cansada. No passado, Emília também já recolheu garrafas da Sei que aparentemente mostro uma outra característica lixeira. Agora não. Ela, hoje, tem o privilégio de deter mas eu sou comerciante há mais de 20 anos. Todo isto um contrato com o comprador final, revendendo, porque não tive oportunidade de ir à escola. Por isso, a a valores mais altos, claro, as garrafas que compra de única alternativa é fazer negócio para sustentar os meus quem a recolhe na rua. filhos”, lamentou. Assim como Simão foi influenciado por conhecidos, Emília também se iniciou nesta actividade, através de Viúva, a mãe de cinco filhos, Engrácia Cardoso, comer- vizinhas que recolhiam as garrafas. Curiosa, questio- cializa desde cosméticos a electrodomésticos. Mesmo nou-lhes sobre o destino dos resíduos. Soube, então, que que já vendeu peixe e carne pelas ruas da cidade do as garrafas eram vendidas para várias empresas e que, Kuito. Mais iniciou com a actividade vendendo frutas melhor ainda, o resultado da venda aumentava o rendi e verduras. mento daquelas famílias. Se olharmos para os preços das frutas, verduras e Desempregada, decidiu abraçar a experiência e mantém legumes, que variam entre 50 a 100 Kwanzas, as zun- a actividade ao longo destes anos. Regra geral, deposita gueiras ganham regularmente cerca de mil Kwanzas de os sacos cheios de garrafas, duas a três vezes por semana. lucro do negócio. “Depende da quantia que trouxerem”, explicou, porque “Mano, nós zungamos para não deixarmos os filhos a isso, também, vai ditar o negócio com a empresa. fome. O meu bebé, desde que nasceu, nunca provou leito Nido ou yougurt importado. Simão e Emília não são os únicos que vivem de “garrafa”. Clemente dos Santos é o motociclista, responsável pelo Vontade de c0mprar não falta mas, não tenho dinheiro carregamento de muitos sacos de garrafas. Ao ver o cres- para dar o melhor para ele”, lamentou. A experiência cimento do negócio das senhoras, viu, também, a neces- na rua leva-a a afirmar que na vida é importante ter sidade de transportar a mercadoria para o comprador. “Já paciência e ser humilde para conseguir alcançar um tinha a moto, então, procurei clientes”. Por saco, ele cobra determinado objectivo. ‘’As vezes não vendo quase nada. cem kwanzas. Explica que, num dia, pode levar mais de Há negócios que não dão lucro e só tiramos o dinheiro 50 sacos. “Não é muito, mas ajuda em casa”, referiu. investido”.
Debaixo de Sol ardente ou da chuva encontramos em 3.11 A luta pela sobrevivencia nas ruas varias esquinas da cidade do Kuito os vendedores ambu- do kuito lantes. Ao contrário dos ambulantes da cidade capital, Jornal o pais Luanda, no Kuito as zungueiras não são importunadas 18 de Novembro de 2011 pela polícia, nem pelos fiscais. Exercem a actividade desde as primeiras horas do dia até ao anoitecer. O dia-a-dia das negociantes ambulantes, zungueiras, inicia às seis da manhã. O objectivo é “comprar negócio” As ofertas no negócio de rua são – várias, dependen- nos comerciantes grossistas ou retalhistas no centro da tes somente da necessidade do comprador. Para quem cidade. O género de negocio varia da capacidade finan- pretende comprar banana, tomate, a batata-rena e ceira da zungueira. Cosméticos, roupa usada, legumes, doce, abacate, manga e cebola, é só ficar à porta de Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 35 casa e esperar pelas zungueiras. Os produtos do campo Outro exemplo é o adolescente de 4 anos,..Aurélio vêm preferencialmente dos municípios do Chinguar, Bunga, que com um carro de mão vende desde pilhas Kunhinga, Katabola, Andulo, Kamacupa, Chitembo, a bisnagas de perfumes e todo o tipo de cosméticos Nharea e Kuemba. baratos. Aurélio não estuda e diz que com o negócio consegue suprir as suas necessidades e as da família. A cada dia que passa a sede capital é invadida por mais vendedoras e vendedores ambulantes, vindos do inte “Vivo com a minha mãe e duas irmãs. A minha mãe rior da província do Bié e das províncias do Huambo, desde que fiz 12 anos que não me sustenta. Tive de Benguela e Kuando Kubango. abandonar a escola para começar a vender na rua”, disse. Disse ainda que perdeu o pai na guerra do Kuito, Às doze horas, depois de passarem pelas ruas da cidade, é segundo lhe conta a mãe. As minhas irmãs de seis e sete notória a presença em massa das zungueiras pelos largos anos não vão a escola, porque a mãe não as registou e diz do Jardim da pouca-vergonha, largo da Shell e diante dos não ter dinheiro para pagar os estudos das filhas. bancos comerciais. Para essas mulheres a refeição decente é o jantar, que normalmente é um funje com lombi (ervas “A minha mãe não trabalha. De tempo em tempo faz ou folha de tubérculos). serviço de cartar água ou deitar o lixo de certas casa para conseguir SO ou 100 kwanzas. Eu consigo ganhar, por “Quando saímos de casa de manhã cedo mal nos ali- vezes, mil Kwanzas por dia, e dá para comprar comida mentamos. De tarde compramos um pão e comemos para casa”, desabafa. assim, sem nada. Ao cair de noite compramos lombi e tuba para o jantar. Quando temos lucro compramos As dificuldades e os motivos que levam crianças a um pouco de peixe”, lamentou envergonhada a senhora comercializar nas ruas da cidade do Kuito são varios. Jamba, vendedora de fruta Crianças alimentam famílias Mas a falta de emprego para pais e jovens é a que mais zungando. faz crescer o número de crianças a zungar pela cidade.
A exploração do trabalho infantil é muitas vezes incen- tivada pelos pais, que no desemprego incentivam os 3.12 Os desafios das zungueiras filhos a exercer alguma actividade que dê algum benefí- Jornal o pais cio financeiro para a família. As crianças fazem de tudo 18 de Novembro de 2011 um pouco, até imploraram aos clientes para que lhes comprem algo e poderem regressar à casa com algum As mulheres vendedoras de rua na província do Bié não dinheiro que é o pão da família. diferem muito, na sua forma de comercializar os produ- tos, em relação às das restantes províncias do País. Talvez Este é o caso do pequeno Artur Cassapa, que todas as a sua característica humildade e paciência na decisão manhãs saem de casa com roupa usada para comercia- do cliente para comprar um determinado produto lhes lizar nos bairros da cidade do Kuito. Encontramos o especifique na actividade do comércio ambulante. menino junto ao largo do Governo da província, onde nos contou que os pais e a mãe são desempregados. A vendedora ambulante na cidade do Kuito comercia- ‘’A mãe é que mandou vir vender. liza, como tantas outras, vários artigos, que vão desde os vestuários aos materiais de cozinha, passando pelos Ela ficou em casa a lavar a roupa, mais sempre me frutos, legumes e outros alimentos frescos como carnes manda vender. Hoje ainda não vendi nada, porque as e peixe. pessoas não estão a gostar da roupa. Dizem estar muito usada e suja”, disse. A zungueira faz a venda de produtos a retalho nos mer- cados municipais e paralelos. Expõe as mercadorias ao Artur conta que os pais são desempregados. A mãe faz ar livre, no chão ou em bancadas improvisadas para biscates, carta água e lava roupa alheia em casa. “O meu atrair os compradores. pai, desde que saiu das FAPLA não tem emprego. Bebe muito e não faz nada”, lamentou. Ao amanhecer de cada dia, é visível desde o interior da cidade até às zonas urbanas de cada município, Assim como o pequeno Artur, outras crianças são vistas incluindo a capital provincial, a marcha das mulheres no a zungar pelas ruas da cidade do Kuito e acusam os pais Bié. Na região centro do País, as mulheres ambulantes de serem os mandatários dessa actividade. Uns estudam levantam -se às 5 horas da manhã para começar a pre- e outros não. parar a casa para depois partirem à compra do negócio que elas pretendem. Começando pelas mulheres vende- Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 36 doras da zona rural, que expõem as suas mercadorias Acrescentemos agora ao panegírico relato descritivo o nas beiras das estradas, esperando pelos viajantes que que vale a pena dizer agora, como o facto de o amplo des- circulam em carros próprios ou em táxis, para a compra campado ter recebido, não faz muito, o Chefe de Estado dos seus produtos. Com os filhos às costas colocam os para assinalar o lançamento de todo o vasto plano de seus produtos nas bacias, tigelas e baldes para melhor requalificação do município onde o Roque Santeiro se acomodação. Entretanto, nas zonas urbanas as comer- instalou, como brincadeira séria, nos idos de 80. Vai ciantes ambulantes, começam a sua actividade a partir nascer uma nova terra, um novo mundo, com sonhos das 6 horas da manhã, com as bacias de legumes e caixas melhorados e de conquista, diametralmente opostos à de frescos á cabeça, entram de quintal em quintal com estreiteza daqueles pensares que mostravam o caótico um andar e falar humildes que as caracterizam, pergun- lugar de trocas mercantis como um valor em si mesmo. tando, muitas vezes na língua Umbundu, aos respecti- O país suplantou-se, avançou futuro adentro e esta- vos moradores o que pretendem comprar. beleceu patamares, mais altos e mais ambiciosos, para que dele se orgulhem os ‘ seus filhos. Nascerá assim, no Ao contrário de outras regiões, onde as zungueiras velho terreno hoje povoado de vazios repetidos, fogos cantam gritando os seus produtos para o conhecimento habitacionais de qualidade soberba. Para que a memória de quem até esteja distraído, as mulheres ambulantes do Roque se afunde com tudo o que produziu de des- nesta região tem a sua metodologia especial de chamar a prezível nos longos anos que por ali andou. Mas que, atenção dos seus clientes. De rua em rua, em cada olhar ao mesmo tempo, os vitoriosos do lugar – sobretudo uma pergunta ou um esclarecimento sobre o produto aqueles filhos de ninguém que se fizeram homens com que leva à cabeça para qualquer cidadão. os proventos do Santo milagreiro – se lembrem um dia, quiçá morando nos novos arranha-céus, que começou Quem vive na cidade do Kuito apercebe-se da presença ali a sua saga. de mulheres que vendem de tudo um pouco, encontrando nesta actividade a sua forma ideal de sobreviver ao invés de entrar para outros vícios que destroem a vida e ferem a moral. 3.13 Mercado informal domina Luanda… As vendedoras ambulantes residentes na periferia da Jornal semanario factual capital do Kuito, que é uma cidade pequena com- 19 a 26 de Novembro de 2011 posta pelas comunas do Cunje, Trumba, Cambândua e Chicala, levantam-se às 5 horas da manhã e com filho Sempre se soube que a actividade comercial obedece a às costas começam a sua jornada laboral. fizeram ao regras, ou seja, tem de se pautar pela legalidade. espaço, mostra hoje como a vida nem sempre precisa de No entanto, devido a vários factores, a maioria dos quais ser estática ou agarrada a velhas rotinas. tem a ver com a carência de emprego e com a avidez em obter dinheiro diariamente. Contrariamente a outros Pertencerá pois a um passado sem volta tudo o que expe- empregados da Função Pública, o mercado informal vai rimentámos como sensação, bom de recordar na última tomando o lugar do mercado legal, sem que se apliquem oportunidade que a ela nos referiremos. Escrevemos, mecanismos de dissuasão. então, na visita nostálgica: “Como nas horas seguintes às grandes devastações resultantes da incrível força da Até então, tudo parece claro, porque vender bens ali- Natureza -terramotos, vulcões ou tsunamis -, o silêncio mentares ou domésticos é normal, mas, dentro da lega- e a sensação do tempo que pára deixando atordoados lidade, seria ainda melhor, pois, desse modo, o Estado lugares e pessoas, é o que há como novidade central poderia arrecadar milhões de Kwanzas para investimen- quando se volta à grande parcela de terreno que durante tos no sector social, essencialmente. anos foi o mercado Roque Santeiro, no coração do Sambizanga, em Luanda. De facto, em qualquer país, há o mercado oficial (o que paga impostos) e o informal, ou seja, fora da lei (que não “Atracção fundamental do bairro que tem também paga imposto). ícones como o estádio Mário Santiago e o grupo carna valesco União Operário Kabocomeu, mas igualmente Neste caso, os mercados informais acontecem sempre onde muitos emblemas _ imateriais como a fama da sua margi a anarquia é reinante, em que as forças da ordem não inter- nalidade, custa crer que o Roque Santeiro teve um fim vêm e a venda de qualquer coisa é a principal actividade. e, com ele, o eclipsar de todo o seu buliçoso quotidiano de vendas, revendas, favores, traições, conflitos e demais Ao falar-se, principalmente, de Luanda, pode dizer-se catálogo de pequenos e grandes actos da sociologia de que a cidade é dominada pelo mercado informal que massas tornados desafios difíceis de descodificar”… abarca quase metade da sua população, num universo Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 37 de seis milhões de habitantes. sentes em tudo quanto é canto. Só para citar alguns locais, Luanda dorme e acorda ao Para ordenar o mercado informal, a solução seria a ritmo dos mercados informais, com a aglomeração de criação de fábricas e de outros investimentos em aldeias vendedores, muito cedo ou até de madrugada, nas ruas, ou povoações do país, quer dizer em comunas, onde os nos passeios e mesmo ao longo das estradas, dificultando serviços para os moradores inexistem. o trânsito automóvel e perigando a vida de vendedores distraídos com o dinheiro à mão. Sendo assim, o oportuno seria a criação de mais mer- Quem segue para vila de Viana, a primeira sensação cados longe da cidade de Luanda, como em Catete, na que sente é o movimento de centenas de vendedores em Funda, em Cabolombo, nos Zangos, em Viana, e no ambos os lados da via, onde tudo comercializam: cerveja, Benfica, no município da Samba. refrigerantes, utensílios domésticos, água engarrafada, latas com diversos produtos, enfim, um mar de gente Porque a permanecer assim, o aspecto urbano de Luanda vai que pulula à coca de clientes. piorar de dia para dia, nada valendo a requalificação que vem sendo feita em diversos dos seus municípios, e matando a Perguntar-se-ia por que esses vendedores não fazem a sua cançoneta que um dia foi feita para elogiar a capital como “ actividade nos locais determinados, como praças, mercados linda e de bem-querer, hei-de amá-la ate morrer... legais e afins, e porque preferem a rua para a venda de mercadorias? Um dos factores tem a ver com a exiguidade dos merca- 3.14 Aposta no meio rural «presa» no dos oficiais existentes que não conseguem abarcar mais papel de mil vendedores, como os do Panguila e do Kikolo Jornal angolense (em Cacuaco), dos Kwanzas e do Asa Branca, no muni- 19 de Novembro de 2011 cípio do Cazenga, o dos Congoleses, no Rangel, e o da Praça Nova e o da Sanzala, no município de Viana. O ordenamento rural de que tanto fala o empresário Manuel Monteiro, muito em voga nos dias de hoje, Esses mercados oficiais, embora de dimensão razoável, visa, grosso modo, assegurar a requalificação da vida estão longe de satisfazer a demanda, e a sua localização no campo. Um dos pressupostos do Plano de Desenvol também não é agradável por motivos como a falta de vimento Económico e Social de Benguela (2009/13), manutenção e o lixo acumulado sem recolha constante, traçado na era Dumilde Rangel, a requalificação da fazendo chiqueiro principalmente quando chove. vida no meio rural inscreve a construção das chamadas «Aldeias Rurais», um modelo importado do Brasil. Basta Um das melhores medidas tomadas pelo Governo recordar que a iniciativa terá como suporte o já conhe- Provincial de Luanda foi a transferência do mercado do cido Programa de Requalificação do Gado Tradicional Roque Santeiro, no município do Sambizanga, para o e Empresarial, que prevê o relançamento do sector novo mercado do Panguila, em Cacuaco, em 2010. agro-pecuário. É, está visto, uma clara demonstração Mas, este não pôde, igualmente, absorver o grosso do papel que as «fazendas da desilusão» podem jogar dos vendedores saídos do Roque Santeiro, que era um quando darem o ar da sua graça, até pelas perspecti- mercado com o “cancro” de montanhas de lixo e de vas que apontam para a recuperação do parque Pecuário porcaria. dilacerado pela guerra.
Porém, é preciso atribuir o comércio informal ao êxodo Com uma população animal não superior a duzentos causado pelo conflito armado que “empurrou” para mil bovinos, na sua maioria pertencentes a criadores Luanda milhares de migrantes, a maioria de aldeias e tradicionais, a província de Benguela perdeu, indicam de povoações onde as carências são várias, com falta de dados oficiais, 1 milhão e quinhentas mil cabeças, a cifra energia e de água potável e onde a aquisição de dinheiro que se quer resgatar. Por ora, o dado a reter é que o gado é difícil. importado teve uma adaptação bastante satisfatória. É verdade que houve uma ou outra morte, mas o balanço Daí verificar-se o estado caótico do centro e da perife- das cinco fases de importação deixa antever um futuro ria da capital, onde em cada esquina e ruas vendedores promissor. Conhecedor do projecto de repovoamento, permanecem horas e horas a vender produtos de toda a Alegria Agostinho, chefe da área técnica dos Serviços espécie. Veterinários, declarou que as características das duas regiões – Angola/Brasil – são semelhantes, embora se E o pior é que ninguém põe mão nisso, tornando a reconheça que a adaptação não é igual. De acordo com cidade de Luanda suja, cheia de sacos de plástico vazios o veterinário, a criação desta raça, forte em termos de a esvoaçar, misturando-se ao pó e à água podre já pre- massa corpulenta, exige rigor na aplicação de métodos Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 38 científicos e mecanizados. «Estes animais dão uma diver- lhos, escovas, materiais eléctricos, tapetes e muitos sidade de produtos pecuários, com realce para a carne, outros artigos constam da lista dos produtos dos quais mas nem tanto o leite. Portanto, o mais importante é se faz acompanhar o jovem Kafukila, sempre atento a que estão adaptados, com pasto e água à disposição», uma chamada. resumiu. Já o Engenheiro Fernando Pacheco, especia- lista em desenvolvimento rural, adverte que, mais do Ele diz que gasta mais de mil dólares na compra dos que as estratégias a seguir para o relançamento da pecu- vários artigos que transporta. Sempre que é possível, o ária, que incluem a importação, a generalização e o mel jovem recorre aos armazéns nos bairros Hoji ya Henda e horamento do gado tradicional, todas elas carregadas de São Paulo para compra de novos produtos, com o objec- vantagens e desvantagens, a classe empresarial deve ter tivo de evitar a rotura. Kafukila diz que os moradores em atenção aspectos como a comida, a água e as técnicas de condomínios em Viana, Quinhentas Casas e Luanda de pastagem. Sul são os potenciais clientes.
O antigo presidente da ADRA fez este pronunciamento Para Kafukila, a confiança nesta actividade é fundamen- tendo como paradigma a crescente necessidade de pro- tal, por isso não rejeita os kilapes (dívida). “Com o kilape, dutos pecuários num país com um «pobre» rebanho, procuro obter mais lucros. A solução é ter dinheiro para constituído por pouco mais de 4 milhões e quinhentos dar continuidade ao negócio, enquanto aguardo que mil bovinos. Sob olhar atento de centenas de criadores paguem a dívida”, afirma Kafukila. Norberto Kafukila e governantes, o agrónomo alertou que a prioridade relata que começou a vender nas ruas de Viana com um deve passar por estes factores, regra geral ofuscados por carro de mão. Cinco anos depois, comprou uma moto homens do sector empresarial, e só depois surge a escolha de três rodas. O sol era o pior inimigo de Kafukila, mas da raça do boi. «Qualquer uma das opções, incluindo o sempre foi persistente e volvidos seis meses, comprou melhoramento do gado tradicional, também chamado outra com cabine, o que lhe permitiu trabalhar com indígena, deve passar pelo conhecimento da história mais comodidade. da veterinária no país», vincou. Segundo Fernando Pacheco, não há desenvolvimento da actividade pecu- A nova moto, de marca Bandex, custou-lhe 2200 ária sem o domínio das técnicas de pastagem, mesmo dólares. Norberto arrecada diariamente com as vendas com a carteira de 350 milhões de dólares americanos 15 a 20 mil kwanzas. que o Governo, por via do Banco de Desenvolvimento Angolano (BOA), tenciona financiar projectos agro- O exercício desta actividade permite-lhe sustentar a pecuários. Sugeriu, por outro lado, o reforço da parce- família, composta por esposa e dois filhos e garantir ria público-privado, investimentos na organização de os seus estudos e da companheira. Diz que o segredo empresas e, a fazer valer a velha máxima de que «a união do seu sucesso consiste na paciência, persistência, espe- faz a força», a criação de associações. rança e capacidade empreendedora, qualidades, no seu entender, que devem nortear os jovens, muitos dos quais com grandes potenciais. Para Kafukila, os jovens devem 3.15 A persistencia de um abraçar os bons exemplos e, em caso de necessidade, empreendedor que garante a solicitarem ajuda aos amigos, à família ou a uma outra subsistencia da familia pessoa que, às vezes, estão prontos a apoiar o necessi- Jornal de Angola tado. Reconhece que inicialmente tudo parecia difícil e 24 de Novembro de 2011 todas as tentativas são válidas desde que não se atrope lem as normas de um comportamento digno e irrepre- Norberto Kafukila, de 24 anos, afirma que os jovens ensível. Kafukila recorda-se que para arrancar o negócio devem ser empreendedores e desenvolver actividades que recorreu a um empréstimo de 30 mil kwanzas a um tio, garantam a sua subsistência. importância que foi devolvida quatro meses depois.
Ele faz venda ambulante e recorre a uma moto com três Um estabelecimento comercial para vender os seus pro- rodas como seu ganha-pão. dutos, alternativa para pôr fim às longas caminhadas em busca de clientes, e uma formação superior no domínio Estudante nocturno da sétima classe, Norberto Kafukila da electricidade industrial são os dois maiores sonhos circula em vários pontos e artérias do município de Viana que persegue 00 jovem empreendedor. à procura de possíveis compradores dos seus múltiplos produtos que enchem a sua carroçana.
Vassouras, baldes, correntes para cães, fita-cola, espe- Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 39
3.16 Embarcações a preço elevado 3.17 Conselho regional traça estratégias Jornal o pais para disciplinar venda informal 25 de Novembro de 2011 Jornal de Angola 24 de Novembro de 2011 Apesar de os integrantes da cooperativa e outros pes- cadores, que se disponibilizaram a abraçar a causa do O Conselho Regional Sul de Medicina Natural e centro estarem empenhados na defesa dos ideais da Tradicional (CONMENTA), na Huíla, está a definir organização, ao ponto de aconselharem os demais a estratégias para disciplinar a actividade dos vendedores aderirem as novas políticas de venda, o desejo de verem ambulantes de medicamentos naturais e tradicionais. actividades facilitadas, principalmente no que respeita à A informação foi avançada ontem, no Lubango, pelo aquisição de meios de trabalho, já foi posto «à prova de coordenador regional do Conselho de Medicina Natural bala» com a chegada de novos meios de trabalho. e Tradicional, Mateus Vicente.
Trata-se de seis novas embarcações e sete motores de Mateus Vicente esclareceu que, neste momento, estão a marca Yamaha com referências 25 e 40. Mas o que pre sensibilizar os praticantes do sector a aderirem à associa- ocupa os filiados é o preço canoas de cor de laranja e ção de ervanários, de parteiras tradicionais e vendedores vermelha orçadas em três mil e 500 dólares, segundo de medicamentos naturais. disse uma fonte, que demonstrou a sua indisposição para comprar uma delas. “Em condições normais nós O conselho está preocupado com elevado número de compramos embarcações média mil e 500 e ~ grandes pessoas que vendem medicamentos de origem natural entre dois ou 2.500 dólares. em locais impróprios. Muitos deles comercializam pro- dutos nas ruas e mercado informal e, em alguns casos, Valendo-se da experiência que tem na aquisição dos passam receitas médicas, sem estarem devidamente referidos meios, o pescador não teve receio de dar a sua credenciados. proposta monetária para as barcas aí colocadas. Para ele, custam entre USD 1.500 a 1.800, já que nenhuma delas “Os vendedores de medicamentos na rua não são espe- possui mais de seis de metros de comprimento. cialistas em medicina natural. E aproveitam o desconhe- cimento das pessoas para passar receitas aos pacientes À semelhança de Cataya Charruage, um outro entrevis- sem a – dosagem ideal para o tratamento das doenças”, tado de O PAIS esperava que o centro facilita os pesca frisou. dores a comprarem o combustível no bairro com a cons- As receitas passadas pelos vendedores ambulantes estão trução de um posto de abastecimento. na base do aumento dos casos de intoxicação por medi- camentos naturais ou tradicionais, que aparecem nos Tal expectativa o havia obrigado a perguntar sobre o hospitais espalhados pela província da Huíla. assunto ao pessoal da Direcção Nacional das Pescas, de quem assegurou ter recebido a promessa da instalação de Mateus Vicente disse que o conselho de medicina natural um posto dentro das infra-estruturas do centro. está a reforçar a parceria com os órgãos de c fiscaliza- “Mas pelo que vemos isso não vai ser agora”atirou, ção da actividade económica e com a direcção provin- lamentando o facto de ainda terem de percorrer distân- cial r da Saúde, para o reconhecimento c da actividade cias para conseguir gasolina ou gasóleo. médica naturista. Como parceiro da direcção provincial da Saúde, o conselho regional quer ajudar as autoridades A fonte calculou os gastos do pescador que comprar os a controlar a importação e exportação de medicamentos novos meios em mais de 10 mil dólares., repartidos em tradicionais. Prevê também emitir pareceres n sobre a três mil e 500 da barca e os mais de quatro mil do motor, qualidade dos fármacos importados e exportados. Huíla que já obrigou alguns pescadores a pagarem uma pri- é considerada, a nível do país e de Africa, como um dos meira comparticipação de 60.589 Kwanzas, para além berços da medicina na natural, pelas potencialidades da do combustível de cada empreitada de pesca. sua flora, rica em plantas curativas. Por isso, assegurou, os membros do ri conselho estão preocupados com a n exploração das ervas vendidas, dentro e fora do país, por cidadãos nacionais e estrangeiros, sem benefícios para a província. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 40
do estado operam preços acessíveis ao bolso do consumi- 3.18 Venda na praia só com higiene dor, de modo a ter a fruta todos os dias a mesa. A maior Jornal o pais parte dos produtos é vendida a 100 Kwanzas como valor 25 de Novembro de 2011 mais baixo e 500 Kz o valor mais alto, deixando as cadeias alimentícias sem oportunidade de concorrência. Aos pescadores que não aderirem às políticas do centro, os responsáveis reservam -lhes responsabilidades acresci- Este cenário tem se registado em todas as lojas de refe- das no que toca à disposição das condições de higiene do rência na baixa da cidade. O aglomerado de senhoras produto e do lugar para venda. a expor produto na entrada ou arredores das mesmas “Quem não quiser vender o seu peixe aí no centro é suscita atenção dos que frequentam o estabelecimento livre de o fazer na praia, mas terá de reunir as condições comercial, apesar de ser uma concorrência desleal elas de higiene a serem recomendadas por especialistas da conseguem sair dai todos os dias dependendo das vendas instituição”, avisou um dos dirigentes da cooperativa de com mais de dez mil Kwanzas. pescadores mais a sul do então município da Samba. Para controlar e responsabilizar os indivíduos que não Muitas destas mulheres sofridas, com maridos desem- cumprirem com as recomendações higiénicas, estará pregados, optaram pela venda ambulante de forma a todos os dias à beira-mar uma equipa de fiscalização oferecer a família o sustento diário. autorizada para multar os prevaricadores, apreender e repreender os vendedores. Conseguem com o que ganham formar os filhos, prepa- rando-os para o futuro. A maior parte delas, tem idade Questionado se com esta medida não se estaria a obrigar compreendidas entre os 18 a 40 anos de idade, falaram indirectamente que os pescadores depositem o seu a nossa reportagem das dificuldades que atravessam em pescado no centro, o responsável da cooperativa recusou casa e na rua “zunga”. Marcelina de 19 anos de idade, a política de obrigação aos profissionais, mas reconheceu esposa de Francisco de 27 anos deidade, cunanga, está que vai ser muito difícil os seus colegas reunirem con- na zunga a dois anos, para ajudar o marido e apoiá-lo dições de sanidade requeridas pelo estabelecimento com na compra de um emprego. “Tal como tem sucedido no equipamentos e pessoal especializados para tratamento, nosso país”. conservação e venda dos produtos marinhos. Já tia Maria, com muito orgulho diz que, com o que Quanto às políticas do centro, o responsável corrigiu a ganham conseguiu ingressar o filho na faculdade, “mano tendência dos insatisfeitos em ressaltarem mais a venda jornalista apesar de que o nosso país não estar bom, com do peixe, tendo adiantado que a organização surgiu par este trabalho consegui meter o meu filho na faculdade facilitar a conservação dos produtos da pesca e formação embora ser muito difícil” comentou com entusiasmo. de alguns cursos, como os de electricidade, técnica de frio, mecânica e outros ligados à área social. Das dificuldades apresentadas, o arrendamento é o maior problema delas, embora Josefina Abreu construiu com o dinheiro da zunga e hoje é senhoria, “para conse- 3.19 Venda ambulante de frutas guir o que tenho hoje tive que passar por muitas dificul- atrapalha lojistas dade, até mesmo viver no quintal da minha sogra, hoje Jornal folha 8 tenho casa na renda, mais mesmo assim vou continuar 26 de Novembro de 2011 na zunga até não poder mais” explanou.
A “Inconsistência das políticas para a redução do elevado Notando o entusiasmo das bravas mulheres, a nossa índice de desemprego continua a ser o principal motivo reportagem perguntou se elas passam o testemunho do que está a levar milhares de jovens à prática de venda ofício aos filhos. Pelo que, nos deparamos com Augusta, ambulante. O mesmo regista-se com as vendedoras de universitária de 22 anos de idade, vendedora aos 16 frutas que invadem as portas das lojas para comercializar. anos e incentivada pela mãe. “ Comecei a vender por influência da minha mãe, vi a necessidade de começar Nas prateleiras de diferentes super mercados encontra- a comprar as minhas coisas e comecei a vencer loengo. mos oscilação de preços das frutas, as mais consumi- Hoje vendo de tudo um pouco e consigo pagar os meus das são a maçã verde, maçã vermelha, pêra pacman, estudos”. pêra rocha, tangerina, laranja, limão, melancia, manga, mamão e a banana, que ronda entre 182 a mais acessível Os que praticam a venda ambulante, segundo eles (mamão) e 820 Kwanzas como mais caro (banana). Já a afirmam que é possível melhorar a vida, mas só com concorrência, que não contribui para a receita do cofre muita força de vontade e responsabilidade. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 41
Caso de Augusta. A jovem, há cinco anos dedica – se a Em quase todos os edifícios do São Paulo, incluindo nos vender nas ruas da cidade de Luanda, consegue projec arredores do Cine com o mesmo nome, as zungueiras tar o futuro diferenciado das demais. Deslumbrou – encontram-se apinhadas, fazendo-se transportar com os me o meigo sorriso a referir da vaidade das outras e o seus bens de comércio. retardo do futuro. Fez – nos recordar que para isso teve de deixar para trás algumas amizades, incluindo a de O mau estacionamento facilita a imundície de muitos pessoas que cresceu com ela. Com o que ganha, além de vendedores, pois onde houver viaturas estacionadas tem- pagar os estudos, ajuda a faml1ia na compra de material porariamente lá haverá zungueiras a fugirem do solou escolar para irmãos e os grifes. “Sou a segunda filha e usarem para o encosto das suas mercadorias. Com muita tenho a responsabilidade de ajudar os meus irmãos com facilidade, acabam por fazer necessidades menores sem a o que ganho, não posso perder o juízo como o outro que mínima preocupação com o público, atitude semelhante só bebe e rouba por não ter emprego”, disse. à dos taxistas.
Os pequenos buracos entre os entrocamentos criam 3.20 Sambizanga com ambiente congestionamento do tráfico automóvel e afunilam- nauseabundo -nos para se tornarem em charcos quando as águas jornal semanario factual saem dos esgotos, por sinal entupidos, a escorrem às 26 de Novembro a 06 de dezembro de 2011 estradas da rua Ngola Kiluanje, passando pela Rádio Eclésia até à Edel. Por falta de balneários públicos, de organização dos espaços de vendedores ambulantes, a não-determi- A comissão do bairro, contactada pelo Factual, mos- nação fixa de paragens de táxi, ineficiente fiscalização trou-se indisponível. Este é mais um dos casos de saúde da Polícia, mau estacionamento, edifícios cujos pilares ambiental e requer uma resposta das autoridades, dada apresentam ruídos, a existência de buracos nas estradas, a preocupação dos moradores que esperam as mãos dos associada à circulação frenética de pessoas, a zona de novos governadores de Luanda. São Paulo tem um estado nauseabundo há mais de três meses. 3.21 Inaugurado mercado na cela Os moradores apontam a falta de higiene dos agentes jornal de Angola da protecção física, zungueiras que preferem as portas 30 de Novembro de 2011 das lojas por debaixo dos edifícios, lavadores de carros e taxistas que urinam, desavergonhadamente, em plena O novo mercado municipal da Cela, na cidade do Waku estrada sobre os pneus de viaturas, assim como a putre- Kungo, no Kwanza-Sul, com capacidade para 1.600 facção das latrinas e de água dos esgotos que não sofrem vendedores, entrou em funcionamento no sábado. sucções por falta de recursos financeiros. Erguido pela empresa construtora angolana Ancon- Marilda Antunes, moradora há 30 anos, fez saber que construções, no prazo de 12 meses, a obra foi inau o problema do cheiro nauseabundo no São Paulo não gurada pelo governador da província, Serafim do Prado. constitui um problema novo, pois, na maioria dos edi- ficios, além da falta de elevador, regularidade de energia Construído no âmbito do Programa de Investimentos eléctrica, a água já não sobe às canalizações domésticas. Públicos (PIP), o novo mercado da Cela está implantado Deste modo, muitos são os moradores que jogam urina numa área “total de 15 mil metros quadrados e custou das escadas a baixo, água suja e dejectos das crianças. aos cofres do Estado um montante de 1,5 Milhões de dólares. O estabelecimento dispõe de diversas lojas, res- “As valas de esgotos estão quase entupidas por falta de taurantes e bares, sete armazéns, quatro câmaras frigorí- uma limpeza regular. Algum trabalho de limpeza para ficas para a conservação de peixe, carnes, frutas e horta- evitar o cheiro é feito de forma isolada e particular, em liças, quiosques, boutiques e 302 bancadas. Conta ainda vez de congregar diversos moradores de cada edifício. com parque de estacionamento e um grupo gerador para Demonstra-se, assim, negligência à pureza ambiental garantir a corrente eléctrica aos vários serviços ali presta- em quase todo o São Paulo. As zungueiras são outras dos. O governador Serafim do Prado louvou o empenho “porcas”, vendem e urinam por baixo dos edificios, onde demonstrado pela empresa construtora que, apesar dos comem e deixam o resto. Deste modo, estamos todos constrangimentos conjunturais, honrou o contrat9 cele- condenados ao mau cheiro”, asseverou. brado com o governo. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 42
“E, de facto, um momento de alegria por ter chegado o dia da inauguração do mercado municipal da Cela, há muito esperado pelas populações locais e não só. As portas estão abertas e a responsabilidade cabe a todos os munícipes, para que os vários equipamentos aqui colo cados durem por muito tempo”, frisou. Cecília João, vendedora de hortaliças e outros produtos há três anos, manifestou a sua alegria por ter conseguido um espaço que lhe permite exercer a actividade em óptimas con dições de higiene.
“Estou contente porque agora vou vender numa bancada limpa e com abrigo contra o sol e chuva”, disse. Rita Domingos conseguiu uma boutique e afirmou estar alegre. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 43
das reclamações por parte de certos deputados sobre 4 OGE INVESTIMENTOS a decisão do então Ministro das Finanças, Joaquim David, de aumentar os preços dos combustíveis. Fez-se PUBLICOS E um tal escarcéu no Parlamento, que só faltou ouvir-se pedir o linchamento público do Ministro... TRANSPARENCIA 6. Os deputados esqueceram-se que tinham sido eles próprios a analisar, discutir, votar e aprovar o OGE. Implicitamente, tinham aprovado o aumento dos preços 4. 1 OGE E a linguagem dos números dos combustíveis que estavam, então, a questionar. E Jornal semanario angolense não foi justo recorrerem a desculpas pois, que eu saiba, 03 de Novembro de 2011 em momento algum da nossa história parlamentar se terá quebrado a disciplina de voto na bancada parla 1. Todos os anos, mais ou menos por altura do mês de mentar do partido maioritário. Novembro, a Assembleia Nacional discute a proposta de Orçamento Geral do Estado que lhe é remetida pelo 7. Ainda a propósito do nosso OGE, vale a pena referir Governo. Para muitos, trata-se de um mero ritual, de outro facto que também reputo de interessante. No dis- um simples exercício de retórica, já porque as oposições curso proferido em sessão solene do Parlamento, no dia com assento parlamentar não têm condição efectiva para 18 de Outubro, sobre «o estado da Nação», o Presidente influenciar o resultado final – tal é a disparidade dos José Eduardo dos Santos realçou o facto de o OGE 2012 assentos entre os representantes do partido que suporta prever receitas e despesas na ordem dos 3,5 triliões de o Governo e os das oposições. kwanzas. Constatou-se, porém, agora, que o documento que foi efectivamente apresentado ao Parlamento aponta, 2. Mesmo assim, não é aconselhável perder de vista que sim, para receitas de aproximadamente 3,7 biliões de o Orçamento Geral do Estado é um dos principais ins- kwanzas (excluindo os financiamentos dos activos) e trumentos de política, e que é por seu intermédio que os despesas na ordem de 3,4 biliões de kwanzas (excluindo políticos procuram pôr em prática muitas das suas ideias os compromissos com a amortização da dívida e a e materializar os objectivos que perseguem. O OGE constituição de activos), deixando, por isso, uma clara define, pois, uma determinada concepção do Estado, folga orçamental capaz de ser fundamentalmente direc- assim como as prioridades da governação, em cada cionada para a redução da nossa dívida pública. Uma momento. Intrinsecamente é, pois, através da estrutu- dívida pública que diz-se estar situada na redondeza dos ração desse instrumento da política orçamental que se 35 mil milhões norte-americanos, o correspondente a perspectiva o desenvolvimento económico e social. 38.2% do nosso Produto Interno Bruto.
3. O OGE é um volumoso calhamaço que vai parar 8. Embora seja demasiado importante a ordem de gran- às mãos dos deputados para o analisarem, discutirem deza dos valores orçamentados e, sobretudo, se vistos e, depois, aprovarem em versão final. Trata-se, segura- numa perspectiva relativa 1 ou seja, comparados uns mente, de um exercício maçudo e cansativo, pois que com os r outros, e até mesmo com o valor 1 global), o calhamaço vem, por norma, demasiado comprome- chamou ainda assim a minha atenção a terminologia tido com muitos números que expressam a afectação usada pelo Presidente da República não sua alocução dos recursos públicos, bem como as suas origens. São no Parlamento. O Presidente falou, por exemplo, em mesmo números de dimensões quase quilométricos – triliões de kwanzas quando, na realidade, deveria ter passe, claro, o exagero. dito biliões de kwanzas. Mas, vou explicar-me melhor, por uma questão metodológica e também de rigor, para 4. Talvez pelo facto desses números serem demasiado standatizarmos a nossa linguagem económica, sob pena grandes, e, também, por alguma codificação na lingua- de um dia não nos conseguirmos entender uns com gem utilizada, não poucas vezes, aos deputados menos os outros. Para alguns isto pode até parecer «um não preparados em matérias económicas escapam determi- problema», mas, na realidade, não é. nadas mensagens, e até mesmo decisões inseridas no OGE. De tal modo que, no momento da sua imple- 9. Na generalidade dos países europeus, para os grandes mentação, já assistimos serem os próprios deputados a números, a sequência numérica é a seguinte: milha- questionarem-nas. res, milhões, milhares de milhões, biliões, milhares de biliões, triliões, etc. Porém, no continente americano, 5. Estou agora a recordar-me de uma situação algo cari- e à medida que se acrescentarem três dígitos, passase cata ocorrida há uns anos, quando se ouviram exalta- de milhares para milhões, de milhões para biliões, de Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 44 biliões para triliões, etc. Quer, então, dizer que um incorrectas. mesmo número pode ler-se «mil milhões» na Europa e, 16. Se lhe dissermos a um europeu que a nossa dívida contudo, nos EUA, dizer-se «um bilião»; ou então, «um pública ronda os 35 mil milhões de dólares, ele colo- bilião» na Europa, dizer-se «um trilião» no continente cará logo 9 zeros depois do 35. Se o nosso interlocu- americano. tor for norte-americano, teremos de dizer que a nossa dívida pública ronda os 35 biliões de dólares, para ele, 10. Os países africanos foram colonizados por países então, assumir os 9 zeros depois do 35 – pois ele não europeus e nós, de modo algum, somos uma excep usa milhar de milhão, como usam os europeus (e nós ção. Por isso, o nosso sistema de ensino ainda tem também fomos educados a usar). Para um interlocutor bem marcado tal herança – mesmo que, no processo brasileiro, diríamos, então, que a nossa dívida pública de reconstrução nacional, estejamos a fazer recurso aos rondará os 35 bilhões de dólares, já porque ele é ameri- mais diversos contributos, vindo de todas as partes do cano, tal como os norte-americanos e, além disso, cons- mundo. truiu o seu próprio português.
11. A situação fica mais complicada, se ainda juntar- 17. Para terminar, uma referência à actual população mos ao cocktail dos números a terminologia brasileira. mundial: para os europeus, somos 7 mil milhões; para Ou seja, se ao português que herdámos da colonização, os norte-americanos, somos 7 biliões; e somos ainda 7 misturarmos o português que se fala no Brasil. É assim bilhões para os brasileiros. De facto, é muita fruta... que há entre nós quem já diga (e escreva) «bilhão» (em vez de bilião), «trilhão» (em vez de trilião), «quatrilhão» 18. Mesmo que sejamos já um fruto das várias conflu- (em vez de quatrilião), etc. ências trazidas pelo período pós-independência, seria bom fazermos algum esforço para uniformizarmos 12. Olhemos, pois, novamente, para o discurso do a linguagem. Muito em especial, quando se trata de Chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos. O números. quê que vemos? Vemos, por exemplo, que, no mesmo texto, ele usou indistintamente as duas nomenclaturas: 19. A não ser assim, um dia destes, Angola transforma- a europeia e a americana. E, depois, ainda mesclou tudo -se numa verdadeira Babilónia…E, então, cada um terá isso com algum “brasileirismo”, ou seja, o português do sempre que se fazer acompanhar de um tradutor ou de Brasil. um intérprete... O bom exemplo deve vir de cima, para ser melhor entendido! 13. Em certo momento, o Presidente disse: «O baixo custo do endividamento externo, combinado com a recu- peração dos preços de exportação do petróleo, reflectiu- 4.2 Jovens exigem esclarecimentos -se na melhoria do saldo das Transacções Correntes da sobre alegadas contas de jes Balança de Pagamentos, que evoluiu de um défice de 7 Novo jornal mil e 500 milhões em 2009 para apenas um défice de 11 de Novembro de 2011 350 milhões em 2010». Um grupo de jovens escolheu o dia 11 de Novembro 14. Descontado o facto de o Presidente se ter esquecido para realizar urna manifestação a exigir que o Presidente de mencionar a moeda a que se referia (suponho que da República, José Eduardo dos Santos, venha a públi seria o dólar norte-americano), á estava ele também a co prestar esclarecimentos sobre as alegadas contas ban- usar a nomenclatura europeia: “7 mil e 500 milhões em cárias que tem no exterior do país. A concentração em 2009”. Se optasse pela nomenclatura norte-americana, Luanda está marcada para às 12hOO, desta sexta-feira, teria dito: “7 biliões e 500 milhões em W09”. Se, no dia em que se comemoram os 36 anos de independência. limite, ainda quisesse ‘abrasileirar” um pouco a nomen clatura americana, então, teria dito: ‘7 bilhões e 500 Um dos organizadores do protesto, Mário Domingos, milhões em 2009”. fá entendo o porquê de o Presidente,e disse ao Novo Jornal que o objectivo da iniciativa é pres- referir às receitas e despesas orçamentais, socorrendo-se sionar José Eduardo dos Santos a declarar os eventuais da palavra «trilhão», tal como, afinal, falam e escrevem valores que tem no exterior. “Nós queremos que ele os brasileiros. venha a público, diante do povo angolano, falar das suas contas milionárias, porque o povo precisa saber quanto 15. O assunto pode parecer sem interesse, não relevante, é que ele tem fora do país”, explicou o jovem. mas eu faço questão de lhe dar a devida importância, uma vez que se, por exemplo, estivermos a falar com Mário Domingos disse ainda que se forem impedidos um estrangeiro, poderemos induzi-lo a tirar conclusões pelas forças da segurança vão desencadear uma série Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 45 de manifestações nos bairros. “Já estão criadas todas as condições. Se formos impedidos, vamos manifestar-nos 4.3 Trinta e três porcento do oge nos bairros periféricos de Luanda. Estas manifestações destinam-se ao sector social vão culminar com uma concentração defronte à Cidade Jornal semanario factual Alta. Estamos cansados de ser enganados, basta”, 12 a 19 de Novembro de 2011 salientou. O preço médio de exportação do barril de petróleo Segundo o jovem, foram feitos contactos com organi- avançado pelo Orçamento Geral do Estado (O.G.E.) zações nacionais e internacionais dos direitos humanos, para 2012 é de 77 dólares por barril, uma perspectiva partidos políticos e com algumas embaixadas acredita- relativamente conservadora perante actual conjuntura das em Angola. internacional, cujo preço médio ronda os 100 dólares por barril. Mário Domingos, de 26 anos, deixou claro que se trata de um protesto pacífico, que não recorrerá a qualquer Em contrapartida, os altos riscos e incertezas nos mer- tipo de violência. “Não queremos intrusos no nosso cados financeiros e quanto à desaceleração da economia meio como tem acontecido nas outras manifestações mundial não deixam muitas alternativas senão a fixação porque a nossa iniciativa é pacífica. Iremos manifestar de um preço médio fiscal de exportação prudência e que sem nenhuma arma”. permita margem de manobra para a gestão orçamental.
A nossa fonte disse ainda que a realização da manifesta- O presente orçamento sofreu leve decréscimo de 4,3 ção foi comunicada ao Governo da Província de Luanda. triliões em 2011 para 4,2 triliões, mercê em parte da “Já escrevemos ao governador interino de Luanda e tudo redução do preço médio fiscal de exportação. Salienta-se está preparado para no dia 11 sairmos à rua e dizermos que a perspectiva de produção petrolífera anual passou que basta de neo-colonialismo e de exploração”. de 620,5 milhões de barris em 2011 para 662,7 milhões de barris em 2012, o que reflecte sobre a melhoria da Uma outra fonte avançou que todos os jovens condena- performance do sector petrolífero que espera crescer dos pelo tribunal municipal da Ingombota e posterior- no próximo ano 13,4 porcento, enquanto o segmento mente absolvidos pelo Tribunal Supremo estarão presen não petrolífero deve crescer na ordem de 12,5 porcento tes na manifestação. “Não estamos com medo, também contra 8,1 porcento do ano em curso. não queremos novamente guerra. O nosso objectivo é que este país mude para melhor. Estamos cansados. Até O Orçamento prognostica, igualmente, um aumento nas necessidades básicas temos problemas, não há luz, substancial das receitas do sector não petrolífero, que água e estradas em condições, Já chega. Tudo é para ele passam de 7,5 porcento em 2011, para 12,5 porcento e a sua família?”, questionou-se a fonte. em 2012. Relativamente às normas de execução, o OG.E./2012 reafirma o compromisso do Estado com as O mesmo grupo tem vindo a organizar manifestações boas práticas de gestão fiscal, de maneira a assegurar a no país. Uma delas era para pressionar o Governo no estabilidade e o crescimento sustentável da economia. sentido de encetar reformas democráticas e acabar com a corrupção. Numa outra manifestação, a do dia 3 O.G.E. para o próximo ano prevê aumento significa- de Setembro, que resultou em vários presos e feridos, tivo da taxa de crescimento real da economia, saindo os jovens reclamavam contra os 32 anos no poder do dos 3,4 porcento em 2011, para 12,8 porcento em 2012, Presidente da República, José Eduardo dos Santos. enquanto a meta de inflação é estimada em 10 porcento, contra 12 porcento do presente ano. . Os organizadores são, na maioria, jovens artistas e “rappers”, cuja música contesta a pobreza, a desigualdade As projecções para 0.G.E. 2012 indicam um cresci- social e a corrupção. Segundo um dos organizadores, a mento do Produto Interno Bruto (PIB) real de 12,8 por- manifestação terá lugar na Praça da Independência. cento, sendo 13,4 porcento para o sector petrolífero e 12,5 porcento para o sector não petrolífero. Prevê-se, ao mesmo tempo, que a produção média diária estimada de petróleo bruto deverá situar-se nos 1,8 milhões de barris.
Face ao comportamento recente do preço do crude no mercado internacional, conforme previsões do Fundo Monetário Internacional, o preço médio do Brent, petróleo que serve de referência às nossas exportações, Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 46 situa-se nos 100 dólares por barril. sentadas, tanto pelo Instituto de Planeamento e Gestão Tendo em atenção os riscos inerentes ao desempenho Urbana de Luanda (IPGUL), quanto pela conta de da economia mundial e à necessidade de se garantir a recolhimento do GPL. execução da despesa fixada no O.G.E./2012, tomou- -se como pressuposto de preço médio de exportação do Em Agosto, o IPGUL arrecadou 130.821.136,10 de petróleo bruto nacional o valor de 77 dólares como base Kwanzas, total que sofreu um estrondo de aproximada- na qual foi projectada a receita petrolífera. mente que 88,06% e fechou Setembro com o pequeno montante de 15.616.515,00 kwanzas. Já o valor anga- Salienta-se, que as estimativas apontam que o preço riado pela conta de recolhimento sofreu um baque médio do petróleo angolano deverá situar-se em 2011 menor. Mas longe dos 259.535.729,09 Kwanzas com em 110 dólares por barril. A alta do preço do petróleo os quais contribuiu em Agosto para a CUT, desceu uns nos primeiros meses de 2011 permitiu acumular exce- 58,43% – mais da metade – e parou em 107.882.788,00 dente orçamental de 458,8 mil milhões de Kwanzas, Kwanzas no mês de Setembro. entre Janeiro e Março, já no segundo trimestre o supe rávit fiscal ultrapassou os 400 mil milhões de Kwanzas. Ao contrário das receitas colhidas pelo próprio GPL, por intermédio da sua secretaria geral, através das taxas e Acrescenta-se que o efeito combinado entre a alta do licenças, a angariação feita pelas administrações munici- preço do petróleo, no primeiro semestre, e da melhoria pais em Setembro foi de cerca de 10,08%, maior do que da avaliação dos desembolsos de financiamentos externos a que foi verificada em Agosto subiu dos 48.772.633,00 motivou, no passado mês de Julho, o Executivo a recorrer Kwanzas para 53.691.514,00 Kwanzas. aos Créditos Adicionais para o Q.G.E. para 2011. Nesse aspecto, tendo somado 10.495.476,00 kwanzas de As projecções ajustadas para 2011 indicam um cresci- colheita setembrina, o município do Kilamba Kiaxi superou mento do PIB real de 1,7 porcento, sendo de 8,8 porcento o do Cazenga no topo da lista das maiores contribuições, para o sector petrolífero e de 8,1 porcento para o sector seguido pelo Cacuaco. Cazenga, em Agosto, foi o maior não petrolífero e prevê-se que a produção diária média contribuinte da arrecadação do GPL, com uma quantia estimada de petróleo se situe em 1.723,6 mil barris. de 10.719.269,00 Kwanzas, enquanto, em Setembro, foi o que teve, quantitativamente, a maior queda: 8.359.465,00 Embora se projecte um preço médio de petróleo das Kwanzas. Um declive de, mais ou menos, 22,00%. ramas angolanas de 110 dólares, considera-se prudente assumir-se um preço conservador de 95,37 dólares. Na outra extremidade, o «pulo de gato» das receitas foi Assim, a volatilidade no preço e o consumo do crude no executado pelo município de Viana, com uma esticada de mercado internacional poderão afectar positiva ou nega- aproximadamente 81,47%. Saiu de 3.024.375,00 Kwanzas, tivamente a economia angolana. em Agosto, para 5.488.353,00 Kwanzas, em Setembro.
4.4 Arrecadação do GPL cai 4.5 Orçamento do estado aprovado na bruscamente generalidade Semanário Angolense Jornal de Angola 12 de Novembro de 2011 16 de Novembro de 2011
As receitas comunitárias e locais da província de Luanda, A proposta do Orçamento Geral do Estado (OGE) depositadas na Conta Única do Tesouro (CUT), refe- para’2012, aprovada ontem por maioria de 148 votos, rentes ao mês de Setembro, registaram uma queda vai à discussão nas comissões de especialidade da brusca, em mais da metade do valor recolhido no mês Assembleia Nacional, antes de voltar à plenária para dis- de Agosto, mais exactamente, cerca de 59,64%. cussão e votação final, no dia 29 ou 30 de Novembro. As bancadas da oposição abstiveram-se. De acordo com o balanço mensal divulgado pelo gabinete do vice-governador para o sector económico A proposta, com receitas e despesas estimadas em 4,4 e produtivo, as receitas de Setembro fixaram-se em triliões de kwanzas, tem como metas uma taxa de 177.190.817,00 Kwanzas enquanto em Agosto, o reco- inflação anual de 10,0 por cento, um aumento na taxa lhimento foi de 439.129.500,00 Kwanzas. de crescimento real da economia de 3,4 por cento em 2011, para 12,8 por cento em 2012. O OGE 2012 prevê O surto estatístico, pelo que se pode conferir no rela- igualmente um aumento substancial das receitas do tório, foi provocado em grande parte pelas cifras apre- sector não petrolífero, de 7,5 por cento em 20 11 para Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 47 l2,5porcentoem20l2. Em termos de produção de petróleo, a previsão cifra-se “Não há ainda uma avaliação exacta dos encargos que em 6,6 milhões de barris, com o preço médio de comer- correspondem à divisão administrativa do país e uma cialização estimado em 77 dólares o barril. O valor imputação nacional desses encargos na província”, subli- nominal do Produto Interno Bruto em 9,8 mil milhões nhou, acrescentando que esses procedimentos são adop- de kwanzas, uma taxa de crescimento real de 12,8 por tados num futuro muito breve. Referiu que há projec- cento, repartidos em 13,4 por cento para o sector petro- tos e programas concentrados, mas que não significam lífero e 12,5 por cento para o sector não petrolífero. Luanda, porque são executados pelos sectores mas têm incidência nas províncias. O OGE 2012 tem receitas fiscais (excluindo os desem- bolsos de financiamentos e venda de activos) projectadas Verba para Cabinda em3,7 mil milhões de kwanzas e despesas fiscais (exclui Outra preocupação manifestada pelo deputado da opo- amortização da dívida e constituição de activos) fixadas sição Raul Danda tem a ver com o destino dos dez por em 3.420 mil milhões, resultando um superavit fiscal de cento das receitas fiscais da produção de petróleo desti- 340,6 mil milhões (USD 3.533,4 mil milhões), equiva- nadas à província de Cabinda. lente a 3,5 por cento do PIB. O ministro das Finanças esclareceu que o artigo 7° da pro- O ministro das Finanças, Carlos Lopes, referiu, na posta de lei do OGE para 20 12 prevê a afectação às pro- apresentação do documento, que a proposta de 20 12, víncias de Cabinda e Zaire de 12.929 mil milhões e 4.935 comparativamente ao OGE dos três anos precedentes, mil milhões de kwanzas, respectivamente a que ocorreu, assume um cenário mais promissor para a economia explicou, foi uma mudança na forma de gerir esses valores nacional, tendo em conta a posição sólida das reservas afectos às províncias, passando a ser geridos dentro do externas e das contas fiscais. OGE, cuja lei fixa essa receita consignada às duas provín cias e a despesa é executada sempre através do Sistema O ministro realçou o bom resultado que está a ser alcan- Integrado de Gestão Financeira do Estado (SIGFE). çado no controlo da inflação, sem deixar de acautelar os riscos decorrentes da actual incerteza sobre o desfecho O Executivo não tem tido problemas em prestar contas da crise da dívida na Europa e do desempenho da eco- à Assembleia Nacional, esclareceu ainda o ministro das nomia dos EUA. Finanças, em resposta a uma pergunta colocada por um deputado. Foi apresentada a Conta Geral do Estado de Carlos Lopes acrescentou que a proposta orçamental 2010, o relatório de execução do OGE do primeiro, assenta em projecções realistas para a economia nacional, segundo e terceiro trimestre de 2011 e no devido tempo tendo em conta a evolução recente e as perspectivas da vai ser apresentado o balanço do exercício económico economia mundial e a evolução das finanças do Estado deste ano. nos anos 2009, 2010 e 20 11. Durante os debates, os deputados levantaram várias questões relacionadas com O ministro disse que as contas do OGE dos últimos três a distribuição das despesas por sector e por região, a rea- anos traduzem-se em melhorias significativas do desem- bilitação de infra-estruturas aeroportuárias, e as verbas penho fiscal e do desempenho da economia no geral. destinadas à Comissão Nacional Eleitoral. Quanto às metas a serem a1cançadas com o OGE, o ministro esclareceu que não é regra elas virem expres Distribuição das despesas sas no OGE, porque este apresenta apenas o quadro Questionada pelos deputados da oposição foi a dispa- macroeconómico. ridade entre as verbas destinadas aos organismos cen- trais (82 por cento) e as destinadas às províncias (18 por Despesas nas eleições cento). O ministro das Finanças, Carlos Lopes, esclare- Bastante questionada pela oposição foi a atribuição de ceu que não se deve fazer uma leitura cingindo-se apenas mais verbas à Comissão Interministerial para o Processo I às actividades permanentes que aparecem na descrição Eleitoral (CIPE) do que à Comissão Nacional Eleitoral. da despesa como concentrando cerca de 73 por cento da despesa total. O ministro da Administração do Território, Bornito de Sousa, esclareceu que o orçamento proposto para a De acordo com o ministro, tudo ocorre no território Comissão Interministerial para o Processo Eleitoral está nacional, apesar de reconhecer que deve haver um relacionado com 0llro\:esso de registo e actualização trabalho de aprimoramento para se ter uma noção do registo eleitoral em 2012. Em relação à Comissão aproximada da distribuição da despesa pelo território Nacional Eleitoral, o ministro explicou que por não ter nacional. sido ainda aprovado o pacote legislativo eleitoral, e não Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 48 estando clarificadas algumas tarefas a serem exercidas limpeza, incluindo a própria EUSAL, precisa de cerca de por esse órgão, é mais cauteloso aprovar fundamental- 25 milhões de dólares mensais só para este sector. Mas mente as despesas administrativas. Novas aerogares. o OGE aprovado no ano passado contemplava apenas a O ministro dos Transportes, Augusto Tomás, anunciou quantia de nove milhões de dólares, um facto que resul- que o Executivo aprovou a construção de quatro aero- tou num défice de milhões de dólares. gares novas para o Soyo, Dundo, Saurimo e Luena, a serem executados durante o ano de 2012, programa este Durante o mês de Janeiro do ano em curso a direc- que abarca todas as províncias. ção da Empresa de Limpeza e Saneamento da capital do país reuniu com os representantes das empresas do Relativamente à reabilitação do aeroporto de Mbanza sector. E a solução encontrada para se efectuar o paga- Congo, o deputado do PRS Luís Manjala sugeriu antes mento, segundo o porta-voz, foi juntar a dotação de dois a construção de um novo aeroporto. O ministro respon- meses para se pagar um mês de trabalho das firmas que deu que enquanto o novo aeroporto não é projectado, limpam a cidade e arredores. “temos que por a funcionar aquilo que existe”. Quando se adoptou o «estratagema dois em um» tinha- Sector da Agricultura -se a esperança de que a revisão do Orçamento Geral Sobre o sector agricultura, focado por alguns deputados do Estado, que aconteceu em Julho deste ano, fosse eli- da oposição, o ministro Afonso Pedro Canga informou minar a discrepância que se verificava entre o montante que Angola, dentro de poucos anos, vai ser auto-sufi- de nove milhões de dólares atribuído e os 25 que dizem ciente na produção de carne, milho e arroz. necessários. Com os 15 milhões de dólares de diferença atribuídos a empresa que supervisiona as operadoras O ministro enumerou os esforços do Executivo para poderia ajustar o orçamento para a limpeza, o que não proporcionar condições de trabalho na agricultura aos veio a acontecer. camponeses, médios e grandes empresários. O ministro indicou que a prioridade do Executivo incide na agri- “A ELISAL continuou a juntar dois meses para pagar cultura familiar, considerando que há resultados visí um único mês. E está questão não pode ser vista fora veis no aumento da produção no interior, que reclama a do contexto geral em termo da economia e das finanças sua comercialização. Recordou que o Executivo aprovou do pais”, justificou o porta-voz. “A empresa tem todo recentemente um crédito de 350 milhões de dólares que já o interesse em resolver esta questão, não está a agir de beneficiou 24 mil camponeses com 47 milhões de dólares. má-fé porque o problema é do orçamento”, acrescentou.
Em relação à participação do sector agrícola no Produto O nosso interlocutor assegurou que neste momento Interno Bruto, o ministro Afonso Pedro Canga referiu, existem equipas do Ministério das Finanças e do próprio em termos comparativos, que há cinco anos a Agricultura Governo Provincial de Luanda a trabalharem para resol- representava menos de cinco por cento, enquanto a pers- ver a situação durante o mês de Dezembro. Trata-se de pectiva em 2012 é de 13 por cento. O ministro Pedro um compromisso do próprio Estado, tendo em conta Canga acrescentou que com os investimentos de grande que um atraso desencadearia outros problemas sociais escala em curso no sector, Angola atinge, nos próxi- junto dos trabalhadores e familiares dos funcionários mos anos, auto-suficiência em alguns produtos como o das empresas de limpeza. milho, o arroz e a carne. “A ELISAL apenas contrata os serviços e os fisca- liza. Remete às estruturas visadas para efectuarem os 4.6 O OGE de 2010 provocou défice pagamentos”, adicionou Nicolau Frederico. de 15 milhões de dólares` Jornal o pais 18 de Novembro de 2011 4.7 Oposição defende mais verbas para o sector social O porta-voz da Elisal, Nicolau Frederico, reconheceu a Jornal angolense existência de uma dívida com as operadoras de limpeza, 19 de Novembro de 2011 mas frisou que ela resulta de um défice que se registou no Orçamento de Estado de 2011, aprovado em Setembro A proposta do Orçamento Geral do Estado (OGE) para do ano passado. 2012, que, ainda, vai à discussão nas Comissões de Especialidade da Assembleia Nacional, antes de voltar Nicolau Frederico realça que a província de Luanda, à plenária para discussão e votação final, no dia 29 ou onde actuam neste momento 13 grandes empresas de 30 de Novembro, tem receitas e despesas orçadas em Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 49
4,4 triliões de kwanzas e tem como metas uma taxa de 18 por cento causou fortes debates, com os deputados da inflação anual de 10,0 por cento, um aumento na taxa oposição a fazerem vários questionamentos. O ministro de crescimento real da economia de 3,4 por cento em das Finanças defendeu que não se deve fazer uma leitura 2011, para 12,8 por cento em 2012. cingindo-se apenas às actividades permanentes que apa recem na descrição da despesa como concentrando cerca Prevê igualmente um aumento das receitas do sector de 73 por cento da despesa total. Aludindo aos pronun- não petrolífero, de 7,5 por cento em 2011 para 12,5 por ciamentos da oposição que defende mais verbas para as cento em 2012. restantes províncias, já que nesta altura a maior parte fica em Luanda, Carlos Lopes afirmou que tudo ocorre No que diz respeito a produção de petróleo, a previ- no território nacional, apesar de reconhecer a falta de são cifra-se em 6,6 milhões de barris dia, com o preço um trabalho de aprimoramento para se ter uma noção médio de comercialização estimado em 77 dólares por aproximada de distribuição da despesa pelo território barril. O valor nominal do Produto Interno Bruto em nacional. 9,8 mil milhões de kwanzas, uma taxa de crescimento real de 12,8 por cento, repartidos em 13,4 por cento “Não há ainda uma avaliação exacta dos encargos que para o sector petrolífero e 12,5 por cento para o sector correspondem à divisão administrativa do país e uma não petrolífero. imputação nacional desses encargos na província”, admitiu, prometendo que esses procedimentos são adop O OGE 2012 tem ainda receitas fiscais (excluindo os tados num futuro muito breve. Aquele responsável escla- desembolsos de financiamentos e venda de activos) receu ainda que há projectos e programas concentrados, projectadas em 3,7 mil milhões de kwanzas e despesas mas que não significam Luanda, porque são executados fiscais (exclui amortização da dívida e constituição de pelos sectores mas têm incidência nas demais províncias. activos) fixadas em 3.420 mil milhões, resultando num super activo fiscal de 340,6 mil milhões (USD 3.533,4 o Deputado pela UNITA, Raul Danda, mostrou-se pre- mil milhões), o equivalente a 3,5 por cento do PIB. ocupado com os dez porcento das receitas fiscais da pro- dução de petróleo destinados à província de Cabinda, Na apresentação do OGE, documento que prevê as que diz ser insignificante. Em reacção a esta preocupa- despesas e receitas a serem feitas em 2012, o ministro ção, o ministro das Finanças esclareceu que o artigo 7° das Finanças, Carlos Lopes, salientou que a proposta de da proposta de lei do OGE para 2012 prevê a afectação 2012, comparativamente ao OGE dos três anos prece- às províncias de Cabinda e Zaire de 12.929 mil milhões dentes, assume um cenário mais promissor para a eco- e 4.935 mil milhões de kwanzas, respectivamente. a que nomia nacional, tendo em conta a posição sólida das ocorreu, como explicou o ministro, foi uma mudança reservas externas e das contas fiscais. na forma de gerir esses valores afectos às províncias, pas- sando a ser geridos dentro do OGE, cuja lei fixa, essa O ministro referiu-se com satisfação ao resultado que receita consignada às duas províncias e a despesa é exe- está a ser alcançado no controlo da inflação, que diz ser cutada sempre através do Sistema Integrado de Gestão bom, mas alertou para os riscos decorrentes da actual Financeira do Estado (SIGFE). incerteza sobre o desfecho da crise da dívida na Europa e do desempenho da economia dos EUA. O ministro disse ainda que o executivo não tem tido problemas em prestar contas à Assembleia Nacional. Foi Carlos Lopes acrescentou que a proposta orçamental apresentada a Conta Geral do Estado de 2010, o relató- assenta em projecções realistas para a economia nacio- rio de execução do OGE do primeiro, segundo e terceiro nal, tendo em conta a evolução recente e as perspecti- trimestre de 2011 e no devido tempo vai ser apresentado vas da economia mundial e a evolução das finanças do o balanço do exercício económico neste ano. Estado nos anos 2009, 2010 e 2011.
Durante as discussões, os deputados mostraram-se preo- O ministro disse que as contas do OGE dos últimos cupados com a distribuição das despesas por sector e por três anos traduzem-se em melhorias significativas do região, a reabilitação de infra-estruturas aeroportuárias, desempenho fiscal e do desempenho da economia no e as verbas destinadas à Comissão Nacional Eleitoral. geral. Quanto às metas a serem alcançadas com o OGE, o ministro esclareceu que não é regra elas virem expres- Oposição defende equilíbrio na distribuição das sas no OGE, porque este apresenta apenas o quadro despesas macroeconómico. A disparidade entre as verbas destinadas a Luanda com 82 por cento e as destinadas às restantes províncias com Para Ngola Kabangu, presidente da bancada parlamen- Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 50 tar da FNLA, as razões de fundo da abstenção daquele logia, saúde, assistência e reinserção social, da família partido, aquando da aprovação do OGE, prendem-se e prom0iY.ão da mulher, dos antigos combatentes e com as insuficiências do Projecto do Orçamento Geral veteranos da pátria, e do ambiente. do Estado, que continua com muitas zonas cinzentas e com muita pobreza em termos de definição: Porque há A proposta de OGE para 20 12 foi aprovada terça-feira, necessidade de se aprofundar melhor o debate. Ngola na generalidade, com 148 votos a favor, nenhum contra Kabangu, que falava ao Angolense, defendeu que trinta e 24 abstenções. A mesma prevê receitas e despesas de por cento para a área social não é nada para um país que 4,42 quatriliões de kwanzas. Ao sector social cabe a tem sérios problemas de saúde, educação, falta de água, maior percentagem, com 33,3 por cento. energia entre outros. Quanto à verba para o sector da segurança, Ngola Kabangu disse não estar contra isso, porém alerta para que se priorize o sector social por ser o 4.9 É preciso mais transparências na que mais afecta o quotidiano dos cidadãos. “Não estou gestão do executivo angolano contra o investimento neste sector, mas já não estamos Jornal semanario angolense em guerra, temos que pensar no homem”, disse acrescen- 19 de Novembro de 2011 tando, que temos bons recursos, mas questiona que tipo de homem tem Angola. Chamado a sugerir, que áreas A pesar dum quinhão de ressalvas que ainda mantém deveriam merecer atenção especial, Kabangu respon- em relação à prestação de contas que o governo ango- deu que “temos que cuidar mais da saúde, da educação, lano tem apresentado, o Fundo Monetário Internacional segurança alimentar, saneamento básico, por estar mais (FMI), ao conceder uma nova injecção de crédito ao país, ligado ao quotidiano dos cidadãos. “Porque estamos a deu uma mostra da confiança que pretende depositar no governar homens e não rios, nem lagos, desabafou, para Executivo comandado por José Eduardo dos Santos. terminar dizendo que “vamos voltar à especialidade e fazer um debate sério”. Há alguns dias a instituição aprovou a administração orçamental de Angola e vai liberar 134,8 milhões de dólares para o país, com o resguardo segundo o qual 4.8 Proposta de lei do oge debatida na é imperativo haver uma melhor gestão das receitas especialidade do petróleo e uma maior transparência das contas do Jornal de Angola governo. 19 de Novembro de 2011 O representante do FMI, em Luanda, Nicholas Staines, As comissões permanentes da “Assembleia Nacional referiu que Angola ainda tem dificuldades em produzir debatem na especialidade, a partir da próxima segunda- contas claras. E na mesma linha de juízo, o representante feira, “a proposta de Orçamento Geraldo Estado (OGE) da organização não-governamental Global Witness, para 20 12,já incluindo as preocupações da socie- Diarmid O’Sullivan, mostrou-se crente que, embora dade civil, anunciou ontem, em Luanda, o presidente a Sonangol publique parte das suas contas, a maioria da Comissão de Economia e Finanças da Assembleia permanece obscura, assim como muitas perguntas sobre Nacional, Diógenes de Oliveira. as sociedades mistas da petrolífera estatal, sobre o que detém realmente e que possui no exterior. O deputado, que coordenou o encontro entre a comissão que dirige e os parceiros sociais, ouviu as preocupações Entretanto, se bem que para o vice-director do FMI, do Conselho Nacional da Juventude (CNJ), da Asso Naoyuki Shinohara, a gestão das finanças públicas e a ciação dos Deficientes, do representante dos enfermeiros transparência sejam questões prioritárias que requerem e da UNTA-Confederação Sindical. progressos, «as autoridades angolanas merecem os cum- primentos pelo alto desempenho alcançado no quadro do programa de reforma e estabilização apoiado pelo Diógenes de Oliveira assegurou que, posteriormente, Fundo». essas preocupações são passadas por escrito, permitindo assim o início dos debates na generalidade. Shinohara acredita que o Governo tem melhorado o “E com actividades deste género que podemos mostrar controlo das transferências dos «royalties» do petróleo que continuamos a servir Angola”, frisou. para o orçamento do Estado e que esforços estejam em curso para reduzir as somas inexplicadas das contas Estiveram no encontro representantes da sociedade civil governamentais e nas actividades da Sonangol. ligados às áreas das finanças, educação, cultura, juven- tude e desportos, do ensino superior, ciência e tecno- O relatório da Global Witness, de 2010, observou dife- Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 51 renças muito significativas entre as receitas do petróleo Banco Mundial interessam na verdade ao governo ango- fornecido pelos Ministérios das Finanças e do Petróleo lano, por causa dos juros baixos praticados por essas e as receitas declaradas pela Sonangol na sua contabi- instituições, mas a obrigatoriedade de uma gestão trans- lidade. O’Sullivan indicou que são «questões funda parente afigura-se como uma «cortina de ferro» para as mentais» sem respostas, apesar das melhorias constata- autoridades de Angola, aparentemente «habituadas» à das pelo FMI. má gestão do dinheiro público.
«O Governo produz relatórios trimestrais sobre a execu- No ponto de vista de alguns especialistas da matéria ção orçamental e as empresas de petróleo do Estado publi- económica, os empréstimos milionários fáceis como cam auditorias financeiras e o Banco Central melhorou o os da China, sem as exigências semelhantes do Fundo seu sistema de controlo interno e terminou a sua auditoria Monetário Internacional, embora possam ter algumas em 2010», observou o responsável da ONG. vantagens, retiram a oportunidade do país evoluir no capítulo da boa administração pública Mas essa inexactidão das contas do Governo angolano também foi relevada pelo FMI. Os empréstimos da instituição para Angola, um dos 4.10 Análise técnica á proposta de maiores produtores de petróleo do continente, desde orçamento geral de estado do 2009, ascendem a 1,21 mil milhões de dólares. governo de Angola para o ano de 2012: comentarios gerais (1) Por vezes considerada uma estrutura paralela do Jornal a capital Governo, a Sonangol detém as concessões petrolíferas, 19 de Novembro de 2011 ocupa-se da distribuição e possui uma importante car- teira de investimentos no estrangeiro e em Angola. Neste capítulo, pretendo analisar de forma directa, Possui igualmente a sua companhia aérea e dirige objectiva, clara e sem recurso a quaisquer métodos com- programas governamentais de habitação e de indústria. plexos de análise macroeconómica, o peso específico Segundo o FMI, um plano de finanças público a médio de cada sector da actividade económica de Angola na prazo vai facilitar o trabalho de proteger o país da flutu- geração do Rendimento Nacional. ação do mercado do petróleo. Estrutura da economia real de Angola Em Novembro de 2009, o FMI aceitou acordar um Se olharmos para os quadros 2 e 3 (pagª 9 e 10), notamos crédito de 1,4 mil milhões de dólares para ajudar que o PIB da economia angolana, continuará a crescer Angola a reconstituir as suas reservas de divisas, depois em 2012 (12,8% é o que se espera atingir). de uma baixa do mercado do petróleo diante da recessão mundial. Todavia, a dependência da economia a um único produto (o petróleo) continuará grande e perigosa. Representará Em Junho passado, o governo de Angola tinha rejeitado nada mais nada menos do que 39% do PIB. Se ao petró- um empréstimo do Fundo Monetário Internacional no leo adicionarmos o gás natural, cujo projecto LNG no valor de 400 milhões de dólares, que já havia sido «acor- Soyo irá entrar na fase de produção e comercialização dado», alegando gozar de boa situação financeira. no próximo ano, a cifra indicada aumentará certamente para 41% ou mais! Não é pois de estranhar, que apesar Naquela altura, em entrevista ao periódico Expansão, o da muito apregoada necessidade de diversificação da ministro angolano das finanças, Carlos Alberto Lopes, economia, em 2012 o sector petrolífero continuará a encarregou-se de dar o recado do Executo, ao dizer que registar uma taxa de crescimento maior do que todos os o governo angolano se sentia confortado com o nível de restantes sectores da economia nacional. receitas e reservas internacionais líquidas. Agricultura e indústria No entanto, a especulação à volta da questão indica Um País como Angola com vastos recursos naturais e que a rejeição das autoridades angolanas estava ligada e elevadíssimas potencialidades económicas geradoras assim continua – com a falta de transparência nas suas de riqueza, é desolador ver sectores estratégicos como contas. Diante dos empréstimos que concede, o FMI a Agricultura, Pecuária e Pescas e a indústria transfor- exige claridade na gestão, facto que terá afugentado os madora (para só citar estes) serem preteridos, a tal ponto governantes angolanos e os teria levado a preterir os 400 que a sua contribuição para o Produto Interno bruto, milhões de dólares então disponibilizados. é quase irrisória face ao enorme potencial disponível! Apenas (7,3% e 12,2% previstos para 2012). Ambos os Os créditos concedidos tanto pelo FMI tal como pelo sectores são excelentes geradores e multiplicadores de Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 52 emprego, pela sua natural característica “labour inten- É um factor de desenvolvimento por excelência, desde sive”, principalmente em economias ainda subdesenvol- as civilizações antigas, à revolução industrial (sec.19) vidas como a de Angola! Mesmo tendo esta possibili- até aos nossos dias. Não se faz industrialização da eco- dade nata de resolverem problemas graves transversais nomia, nem se alcança desenvolvimento económico e como o desemprego; a pobreza; a fome; o subdesenvol- muito menos desenvolvimento humano, sem energia! vimento; a dependência externa etc. e evitar ou reduzir Em Angola grande parte da população ainda usa a lenha, as consequências sociais e politicas dai resultantes, ainda para cozer os alimentos, aquecer-se do frio e iluminar- assim este Governo não consegue (ou não pretende?) -se, como faziam os seus antepassados de há milhares encontrar uma fórmula que lhes dê a importância que de anos! Fica muito difícil entender, que um país que já merecem! Em 2011, ambos os sectores não chegarão produz há quase 1 década em média mais de 1 milhão sequer aos 11% do PIB e em 2012 prevê-se que nem de barris de petróleo por dia e que possui uma das 4 sequer atingirão metade do peso específico do sector principais bacias hidrográficas do planeta Terra, esteja a extractivo, na economia nacional. É evidente que isto debater-se tão gritantemente com a falta de energia eléc- deita por terra, qualquer pretensa boa intenção deste trica, contrariamente aos países da região! Governo em adoptar uma política de diversificação da economia angolana. Até na Namíbia, um país vizinho árido, sem caudais de água (rios) nem petróleo, não há problemas graves no São legítimas questões pertinentes sobre se este Governo fornecimento regular de energia eléctrica, às famílias e saberá exactamente o que é diversificar a economia às empresas! Contrariamente, os apagões em Angola, angolana! Quais os caminhos a seguir (Estratégias)? são frequentes e não fosse o combustível (gasóleo e gaso- Que prioridades adoptar? (Programas)? Que limites? lina) ainda baratos (porque subsidiados pelo Estado) que (fraquezas, ameaças)? Que agentes económicos envolver abastecem geradores, o sector empresarial e familiar, no processo? Enfim... Que eu saiba, nunca se organizou estariam de rastos! O irrisório contributo para o PIB, um debate aberto, inclusivo, nacional sobre esta temática deste sector fundamental para a melhoria da qualidade tão importante para o nosso futuro. Talvez se discuta das nossas vidas, está bem ilustrado nos apenas 0,1% em isto somente nos gabinetes governamentais ou nos ditos 2011 e 0,2% previstos para 2012. comités de especialidade (partidária), o que a acontecer traduz um complexo autista e uma grave miopia, na Construção abordagem de questões estratégicas de âmbito nacional! Este sector é primordial, num país que apresenta baixís- simos níveis de capital fixo, agravados pelo elevado grau Neste momento, o Sector agrícola, precisa de quase tudo de depreciação e obsolescência dos meios fixos existen- em termos infra-estruturas (físicas e técnicas) e até de tes, grande parte deles como se sabe, destruídos ao longo políticas de crescimento realistas e ambiciosas. Por mais de 3 décadas de guerra, bem como da falta de manu- que se diga o contrário, a problemática da propriedade tenção preventiva e do mau uso, a que frequentemente da terra e a sua distribuição e utilização, ainda não está têm sido submetidos! Diga-se em abono da verdade, que suficientemente bem resolvida em Angola! E sem isso, este sector mereceu, logo após ao fim da guerra (2002), não se faz “revolução verde”! Por sua vez, o sector indus- atenção prioritária por parte do Governo, que adoptou trial (indústria transformadora) asfixia-se num colete de uma política de reconstrução física bastante agressiva. forças retrógradas, nas quais até a falta de energia eléc- trica, de água canalizada, de saneamento básico (esgotos Vias de comunicação (estradas, pontes, caminhos de e lixos) ainda se fazem presente e de que maneira! Este ferro) e edificios públicos (repartições, escolas, hospitais cenário de fraquezas e constrangimentos estruturais, etc.) foram alvos de um intenso esforço de reconstrução, não fica completo se nele não se incluir, a gritante falta nunca antes visto! O volume da dívida pública externa e de quadros profissionalmente qualificados e a endémica a presença de muitos chineses, brasileiros e não só, estão burocracite na Administração pública (repartições, aí para o testemunhar! Porém, a retórica de “canteiro de portos, aeroportos e alfandegas etc.) e a corrupção (que obras” em que se transformaria o país, só com os pro- virou institucional) que lhes está associada! Perante um jectos do Governo, não se concretizaria plenamente, se cenário destes, o Governo responde de forma lenta, não houvesse um grande e patriótico dinamismo da tímida, desencorajante e contraproducente quer no que população e do sector privado, no que a construção civil se refere ao volume de investimentos que faz (mostrar- diz respeito. Para um país carente um meios fixos cor- vos-ei isso mais adiante), como às políticass desconcerta- póreos (em quantidade e qualidade) e pelo facto deste das, gizadas espontaneamente sem estudos tecnicamente sector ser também um grande empregador (principal- orientados a sustentá-los! mente de trabalhadores de baixa e média qualificação, que abundam em Angola), penso que o Governo pode Energia eléctrica e deve aumentar o seu esforço, o que a acontecer faria Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 53 aumentar os níveis actuais de contribuição no PIE, outros mercados locais com importância crescente em acima dos actuais 7,9% (2011) e dos 8,9% previstos termos de volume de negócios. Daí que, em minha para 2012. Sendo Angola um pais em reconstrução e opinião, a taxa de inflação ao basear-se apenas no IPC- renovação, que tanto carece de infraestruturas básicas Luanda (índice de preços no consumidor), não traduz e de modernização, por tudo quanto é canto, pode-se com rigor, exactidão e verdade, o nível da inflação em e deve-se fazer mais, mesmo tendo eu consciência que Angola. Ele poderá ser I maior ou menor? Quem sabe? “Roma e Pavia, não se construíram num dia “ Mas isso Por outro lado o Governo, nunca (que eu saiba) efectuou aconteceu há muitos séculos atrás! Mais adiante, adicio- ou se já o fez nunca publicou, um Estudo económico das narei mais comentários sobre este aspecto. causas da inflação em Angola. Houve sim, discursos do Presidente da Republica I a questionar sobre as I causas Em conclusão, a economia angolana em 2012 ainda será da inflação! Ouvi e li opiniões expressas em, mideas pri- bastante débil, muito dependente de um único produto vados. Mas dai a existir um estudo do I Governo, cien- de exportação (petróleo) e por isso, bastante vulnerá- tificamente elaborado, sobre as causas reais da inflação vel! Qualquer “safanão” no preço do barril do petró em Angola, nada! Acontece que a inflação tem vários leo no mercado internacional que o atire para baixo, f factores causais. O prévio conhecimento destes facto- como aconteceu em 2008/9, lá se vai por água abaixo, res, através de estudos (e não da adivinhação!), F facilita toda a sua aparente solidez financeira e estabilidade enormemente a escolha e a aplicação das ~ soluções mais macroeconómica! adequadas para a sua redução ao nível mais desejado! E nem T é preciso inventarem-se soluções. Elas existem A solução passa necessariamente por uma aposta mais ~ e estão plasmadas nos manuais especializados! Basta séria, responsável e corajosa, na diversificação da econo- conhecer-se a dimensão real e as características da infla- mia. Esta via permitirá um aproveitamento mais racio- ção que o. E país tem e ir ao manual, buscar a receita e nal e rentável das enormes potencialidades económicas depois aplicar-se o medicamento mais adequado e nas que o país tem em vários sectores, muitos deles ainda doses certas para se combater este mal ! Porque a infla- em estado de exploração artesanal. Só assim o quadro ção, quando atinge níveis altos, como vem acontecendo estrutural da economia angolana se alterará significati- em Angola, é um MAL! vamente dando espaço a uma maior contribuição dos outros sectores, no Produto interno bruto e alargando-se Quer seja uma inflação provocada pelo excesso de desta forma à base económica de geração de rendimento procura agregada (inflação da demanda), ou provocada nacional. pelo aumento dos custos (inflação de custos) ou até mesmo inflação inercial (provocada pela expectativa dos agentes económicos). Qualquer uma delas provoca Vou agora analisar e comentar, alguns dos indicadores males às empresas, ás famílias e ao próprio Estado. Em macro-económicos mais importantes, com base nos Angola, há 7 anos sucessivos que a Inflação está nos 2 quais se avalia a estabilidade (ou instabilidade) macro- dígitos. Fez morada ai e pelos vistos vai ainda ficar por económica de um país. ai mais alguns anos. Não sei quantos mais! O que sei Taxa de inflação é que, em WI0 ela atingiu 15,3%. Em finais deste ano andará entre os 12 a 13% e em 2012 está previsto no A literatura económica, define inflação como sendo o OGE, 10 %. Na região SADC, Angola é dos países aumento contínuo e generalizado dos preços dos bens com maior taxa de inflação. Moçambique Namíbia, A e serviços num determinado mercado. Em Angola, Sul por exemplo têm muito menos. Para Angola é mau, sabe-se que os preços são bastante altos, comparativa- pois é mais um obstáculo no caminho dos objectivos de mente com de outros países (outros mercados nacionais). crescimento e de estabilidade económica e social que se De resto, a cidade de Luanda vem figurando amiúde, pretendem! no ranking internacional, como sendo a mais cara do mundo para os expatriados. Todavia, os preços dos bens Taxa de desemprego e serviços no mercado de Luanda, não são iguais aos O conhecimento deste iniciador é, duma importância praticados noutras cidades e vilas de Angola. Alguns capital para uma boa gestão da economia nacional. são mais altos outros mais baratos! Contudo, as esta- Não é obrigatório que este assunto seja analisado em tísticas oficiais do Governo, baseiam-se somente em profundidade no OGE, já que a sede mais apropriada dados recolhidos em Luanda para o cálculo da infla- para o efeito é o Plano Nacional. Todavia, algo devia ser ção em Angola (IPC Luanda). Apesar de Luanda ser a mencionado no relatório de fundamentação em jeito de capital económica, financeira, político-administrativa e informação para facultar aos destinatários e utilizado- sei lá mais o quê (diz-se que representa entre 55 a 65% res deste importante instrumento de gestão publica, um do volume de transacções), o país é vasto e tem vários pacote mais completo de indicadores macroeconómicos. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 54
Este indicador, calcula o nº de pessoas sem emprego, além da política monetária restritiva normal, praticando- mas prontas e aptas para trabalhar, do universo da força -se uma política monetária fundamentalista, claramente de trabalho (população activa) do Pais. Trata-se de um ultra-liberal de cariz exploratório e elitista. Onde está o indicador da capacidade de trabalho inactiva q.d dos crédito ao consumo? E a que preços se pratica nos poucos recursos humanos desperdiçados. casos rigorosamente seleccionados, que são autorizados?
Que a taxa de desemprego é muito alta em Angola Na verdade, a taxa de juro tem uma enorme influência (estima-se que ande à volta dos 30%), acho que ninguém no nível de poupança de uma economia e também, no tem dúvidas acerca disso. E para aqueles que as têm, basta volume de investimentos, pois poupança e investimen- verem nas cidades de Angola (destaque para Luanda) as tos andam interligados. Sendo a taxa de juro um ins- dezenas de milhares de jovens e adultos em idade activa, trumento da politica monetária do Estado, os g0vernos que deambulam pelas ruas e mercados paralelos, ven- devem saber utilizá-la com inteligência, pragmatismo dendo aquilo que a pouca sorte diariamente e sentido de justiça social, porquanto, uma excessiva rentabilização do capital financeiro em detrimento de Quando se analisam as tendências económicas a médio outros factores de produção, aprofunda desigualda- e longo prazo de um país, somos obrigados a nos socor- des económicas e sociais provocando instabilidade no rer de indicadores do emprego, da produtividade e do mercado e não só. investimento. As principais fontes fiáveis de dados para se calcular o emprego (taxa e volume), são os Censos da Reservas internacionais líquidos (ril) população. Acontece que em Angola não se fazem Censos A RIL, é um stock em ouro ou moeda internacional desde a década 70 do século passado. Mas o Governo se (divisas) com ampla aceitabilidade e convertibilidade, quiser, mesmo sem censos, pode utilizar outras técnicas que o Estado possui e que os governos dispõem para de recolha de dados como por exemplo os Inquéritos às satisfazer as obrigações internacionais (importações de famílias e às empresas. Note-se que existe uma grande bens e serviços) e aplicar a política monetária (oferta e relação entre a taxa de desemprego e a taxa de inflação procura de moeda). No minimo, estas reservas devem (Curva de Phillips). Também pouco se escreve e quase ser suficientes para cobrir 3 meses de importações. nunca se fala sobre o Índice de Infelicidade maior, da população. Este interessante indicador calcula-se pela No Relatório de fundamentação ao OGE, nada consta sorna da taxa de inflação dos preços no consumidor, sobre o total da reserva disponível. Apenas se informa com a taxa de desemprego. que a RIL aumentou em cerca de Usd.5.912 milhões de 1 Jan. a Agosto 2011. Se considerarmos que o preço Se à taxa de inflação dos preços no consumidor adicio- do barril de petróleo não sofreu grandes oscilações de narmos a taxa de juro anual, teremos o Índice de infeli Setembro a esta parte, o aumento da ~ RIL poderá cidade menor. Em cada um dos casos, quanto mais atingir até 31 Dez. 2011, um montante acima de 8 mil alto for o valor, mais infelizes se presume que sejam os milhões, o que adicionando ao saldo então existente, consumidores que somos todos nós, com destaque para em minha opinião poderá chegar-se acima dos 28 mil os que não são detentores de meios de produção econo- milhões de dólares americanos, em finais do corrente micamente activos (i.e.- capitais vivos). ano.
Taxa de juro Se tivemos em atenção que o volume total das impor- O Relatório de fundamentação ao OGE, dá algumas tações de 2011, rondará os 21.500 milhões de dólares, informações sobre esta matéria, mas apenas em relação pode-se concluir que o nível da RIL de Angola, não ao mercado internacional (euro e Usd). Relativamente sendo espectacular, é francamente positivo! a Angola, nada se diz! As taxas de juro cobradas pelos bancos, neste país não são só altivíssimas mas também surrealistas! Constituem um autêntico gargalo de Dívida pública estrangulamento à rentabilidade dos investimentos das OGE é omisso em relação à Dívida pública em 2011, empresas e um enorme obstáculo à melhoria das con- mas apresenta dados em relação a 2010 que cifram o dições de vida das famílias angolanas. Por outro lado, monte da dívida em Usd.30.364 milhões que se diz o crédito bancário em Angola continua aristocrati- serem equivalentes a 38%) PIB projectado para 2011. zado, partidarizado e é concedido com base em crité- A ser verdade, este valor da dívida está sim, entro dos rios arbitrários e bastante discriminatórios. Em Angola limites de sustentabilidade aconselhados pelas institui- vive-se uma autêntica e elementar exploração do capital ções financeiras internacionais «45% PIB para econo- financeiro sobre o capital económico e o capital-traba- mias subdesenvolvidas). Outro sinal positivo, é o facto lho. No domínio das políticas do Governo, anda-se para de 30% da Divida estar traduzido em dólares america- Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 55 nos. Como a maior parte das receitas fiscais angolanas 4.11 É Preciso mais transparências na petrodólares) estão também traduzidas nesta divisa, isto gestão do executivo angolano ta o agravamento da dívida em resultado das diferen- Jornal semanario angolense ças cambiais, apesar de que há o problema da dívida de 19 de Novembro de 2011 Angola contraída nos países da 20na euro, que actual- mente atravessa uma crise embora neste momento favo- A pesar dum quinhão de ressalvas que ainda mantém reça o dólar americano. em relação à prestação de contas que o governo ango- lano tem apresentado, o Fundo Monetário Internacional Em relação à dívida pública, nunca se deve perder de (FMI), ao conceder uma nova injecção de crédito ao país, vista o facto de que o seu reembolso, em particular o da deu uma mostra da confiança que pretende depositar no divida externa, e o consequente pagamento dos juros, Executivo comandado por José Eduardo dos Santos. normalmente só podem ser financiados com as recei- tas das exportações. Angola, como se sabe, está muito Há alguns dias a instituição aprovou a administração limitada no que concerne a produtos de exportação. Na orçamental de Angola e vai liberar 134,8 milhões de prática – e sobre isso já me pronunciei – só o petróleo e dólares para o país, com o resguardo segundo o qual o gás natural e um pouco os diamantes, geram receitas é imperativo haver uma melhor gestão das receitas em dívidas. do petróleo e uma maior transparência das contas do governo. Daí que, em matéria de contracção de dívida publica, o Governo deve ser muito prudente e usar de sanidade O representante do FMI, em Luanda, Nicholas Staines, financeira. O montante destas dívidas deve ser exclusi- referiu que Angola ainda tem dificuldades em produzir vamente aplicado em investimentos de longa duração, contas claras. E na mesma linha de juízo, o representante com um período de “pay back “ superior a 15 ou 20 da organização não-governamental Global Witness, anos, com vista a assegurar um retomo económica e Diarmid O’Sullivan, mostrou-se crente que, embora socialmente recompensante. A qualidade das obras a a Sonangol publique parte das suas contas, a maioria construir e do equipamento a adquirir com o montante permanece obscura, assim como muitas perguntas sobre destas dívidas, deve ser rigorosamente fiscalizada, para as sociedades mistas da petrolífera estatal, sobre o que que se salvaguarde maior tempo de vida útil a estes detém realmente e que possui no exterior. investimentos e benefícios mais duradoiros, quer para o pais, como para as populações. E contraproducente, Entretanto, se bem que para o vice-director do FMI, utilizar o dinheiro das dívidas públicas, em obras mega- Naoyuki Shinohara, a gestão das finanças públicas e a lómanas, de fachada vulgo elefantes brancos ou em bens transparência sejam questões prioritárias que requerem e serviços ostentatórios, cujo impacto social é reduzido progressos, «as autoridades angolanas merecem os cum- e a valia económica efémera! Na maior parte das vezes, primentos pelo alto desempenho alcançado no quadro este Governo não tem acautelado suficientemente estes do programa de reforma e estabilização apoiado pelo aspectos e quando isso não acontece, a factura a pagar Fundo». pelos próximos governos e as futuras gerações, toma-se ainda mais pesada. Isto é muito mau! De resto, temos Shinohara acredita que o Governo tem melhorado o hoje vás) rios exemplos que vêm da Europa com e a controlo das transferências dos «royalties» do petróleo problemática das Dívidas soberanas a Grécia, Portugal, para o orçamento do Estado e que esforços estejam em Irlanda e certamente a Itália, debatem-se hoje com curso para reduzir as somas inexplicadas das contas uma crise sem precedentes, provocada pelos excessos governamentais e nas actividades da Sonangol. de consumo e de investimento público, cometidos por sucessivos vemos durante vários anos. É o que dá 12 O relatório da Global Witness, de 2010, observou dife- cada governo a querer mostrar que é Se melhor gastador renças muito significativas entre as receitas do petróleo que o anterior. Sem de se preocuparem com os limites da fornecido pelos Ministérios das Finanças e do Petróleo 5es economia em cada momento! e as receitas declaradas pela Sonangol na sua contabi- lidade. O’Sullivan indicou que são «questões funda mentais» sem respostas, apesar das melhorias constata- das pelo FMI.
«O Governo produz relatórios trimestrais sobre a exe- cução orçamental e as empresas de petróleo do Estado publicam auditorias financeiras e o Banco Central melhorou o seu sistema de controlo interno e termi- Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 56 nou a sua auditoria em 2010», observou o responsável 4.12 Despesas para as eleições inscritas da ONG. Mas essa inexactidão das contas do Governo á parte angolano também foi relevada pelo FMI. Os emprésti- Jornal de Angola mos da instituição para Angola, um dos maiores pro 22 de Novembro de 2011 dutores de petróleo do continente, desde 2009, ascen- dem a 1,21 mil milhões de dólares. As despesas para as eleições gerais estão estimadas em 23, 4 mil milhões de kwanzas e estão inscritas numa Por vezes considerada uma estrutura paralela do “dotação em reserva” na proposta do Orçamento Geral Governo, a Sonangol detém as concessões petrolíferas, do Estado para o próximo ano, que está em discussão ocupa-se da distribuição e possui uma importante car- na Assembleia Nacional, revelou ontem o secretário de teira de investimentos no estrangeiro e em Angola. Estado do Tesouro, Alcides Safeca. Possui igualmente a sua companhia aérea e dirige programas governamentais de habitação e de indústria. Alcides Safeca esclareceu que a inscrição da verba numa Segundo o FMI, um plano de finanças público a médio “dotação em reserva” decorre do facto de estar ainda em prazo vai facilitar o trabalho de proteger o país da flutu- discussão, na Assembleia Nacional, a proposta de lei elei- ação do mercado do petróleo. toral que vai definir os órgãos intervenientes. Só depois as verbas são distribuídas por todas as entidades que vão Em Novembro de 2009, o FMI aceitou acordar um organizar as eleições legislativas e presidenciais de 2012. crédito de 1,4 mil milhões de dólares para ajudar Angola a reconstituir as suas reservas de divisas, depois de uma O secretário de Estado do Tesouro disse aos deputados baixa do mercado do petróleo diante da recessão mundial. que quando for aprovada a lei eleitoral, faz-se a afecta- ção das verbas às instituições que vão realizar a despesa Em Junho passado, o governo de Angola tinha rejeitado inscrita no OGE na rubrica “preparação e realização das um empréstimo do Fundo Monetário Internacional no eleições”. valor de 400 milhões de dólares, que já havia sido «acor- dado», alegando gozar de boa situação financeira. Por não estar ainda definido o papel que cada um tem no processo eleitoral, o Executivo adoptou o princí- Naquela altura, em entrevista ao periódico Expansão, o pio de inscrever na CNE apenas as verbas para o seu ministro angolano das finanças, Carlos Alberto Lopes, funcionamento regular, 14 mil milhões Kwanzas, e encarregou-se de dar o recado do Executo, ao dizer que na CIPE as verbas ligadas ao registo eleitoral, cerca de o governo angolano se sentia confortado com o nível de 16 mil milhões de kwanzas, dos quais 9,3 mil milhões receitas e reservas internacionais líquidas. de kwanzas para o funcionamento do Ministério da Administração do Território. No entanto, a especulação à volta da questão indica que a rejeição das autoridades angolanas estava ligada e Criação de empregos assim continua – com a falta de transparência nas suas O ministro da Administração Pública, Emprego e contas. Diante dos empréstimos que concede, o FMI Segurança Social, António Pitra Neto, revelou ontem exige claridade na gestão, facto que terá afugentado os que a admissão de funcionários públicos vai passar a ser, governantes angolanos e os teria levado a preterir os 400 a partir do próximo ano, da responsabilidade dos titula- milhões de dólares então disponibilizados. res dos órgãos, deixando de haver a atribuição de quotas pelos ministérios das Finança, Emprego e Segurança Os créditos concedidos tanto pelo FMI tal como pelo Social e Administração do Território. A determinação Banco Mundial interessam na verdade ao governo ango- resulta de um Decreto Presidencial publicado este ano. lano, por causa dos juros baixos praticados por essas As admissões são feitas com base no quadro de pessoal instituições, mas a obrigatoriedade de uma gestão trans- aprovado e em vigor, nos limites orçamentais disponibi- parente afigura-se como uma «cortina de ferro» para as lizados para o pessoal e os sectores, e com base nas vagas autoridades de Angola, aparentemente «habituadas» à que existam no quadro orgânico do pessoal. má gestão do dinheiro público. De acordo com o ministro, deixou de haver um processo No ponto de vista de alguns especialistas da matéria de centralização do controlo dos efectivos da função económica, os empréstimos milionários fáceis como pública, fruto das limitações orçamentais, passa esse os da China, sem as exigências semelhantes do Fundo controlo a ser feito pelo titular do próprio órgão. Monetário Internacional, embora possam ter algumas vantagens, retiram a oportunidade do país evoluir no O ministro revelou igualmente que o Programa do capítulo da boa administração pública Executivo para 2012 prevê a criação de empregos nos Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 57 sectores agricultura, pecuária, pescas, florestas, pescas e A ministra da Comunicação Social esclareceu, em res- indústrias transformadoras. posta a uma solicitação o que deputado Raul Danda; que a RTP-Africa “é um instrumento da política externa O Programa Empreendedorismo na Comunidade, portuguesa”, mas não repugna ao seu ministério que que faz parte do Programa Cidadania e Emprego, que aquele canal de televisão emite programas a partir de abrange vários projectos, vai gerar, no próximo ano, Angola. A ministra sublinhou que a prioridade do sector dez mil postos de trabalho em todo o país, através do consiste nos serviços externos como a TPA Internacional micro-crédito. e os serviços em línguas estrangeiras da Rádio Nacional de Angola. Outro projecto é o da formalização das actividades eco- nómicas informais, a cargo do Ministério da Economia; Sector da Saúde e o programa de inserção dos jovens na vida activa, atra O ministro da Saúde, José Van Dúnem, afirmou ontem vés do recrutamento, de micro-crédito e equipamentos que ‘o sector que dirige está a investir na formação de profissionais. técnicos médios e superiores e não mais em técnicos básicos, devido à complexidade do trabalho, que exige Comunicação social que os profissionais progridam. A ministra da Comunicação Social, Carolina Cerqueira, disse ontem aos deputados que os diplomas que fazem Interrogado pelos deputados sobre o encerramento das parte do pacote legislativo da comunicação social foram escolas técnicas de saúde, o ministro disse que em muitas já submetidos à apreciação do Conselho de Ministros unidades sanitárias não há médicos: “por isso temos que para futura aprovação da Assembleia Nacional. ter enfermeiros que sejam capazes de, com qualidade, garantir a saúde das populações”. O ministério da Comunicação Social, prosseguiu, está a trabalhar com a sexta Comissão da Assembleia Nacional, Em relação aos técnicos básicos existentes, prosseguiu a quem já foi remetido o relatório síntese das discussões. o ministro da Saúde, a estratégia é que se superem com Aguarda o agendamento das reuniões para especialistas acesso às escolas para passarem de básicos a técnicos do ministério e deputados analisarem ai questões téc- médios, sendo admitidos apenas esses técnicos, para o nicas. Sobre a parcialidade dos órgãos de comunicação aumento da qualidade dos serviços. social públicos, levantada pelo deputado Raul Danda, a ministra referiu que cada órgão de comunicação tem Sobre o registo dos medicamentos, o ministro José Van a sua linha editorial, respeitando os princípios legais, e Dúnem disse que estão em discussão dois documentos tendo em conta a diversidade. de base sobre a matéria. A intenção é garantir a qualidade dos medicamentos. Referindo-se ao Jornal de Angola, apontado pelo parla- mentar como um órgão que se posiciona sempre contra Enquanto não há registo, Angola adopta o registo dos os partidos da oposição, a ministra acrescentou que países com os quais tem relações, por exemplo Portugal, “temos que ter em conta a prerrogativa que a democracia ou aqueles que a Organização Mundial da Saúde (OMS) nos dá para a pluralidade de ideias”. A ministra disse valida como tendo qualidade. igualmente que dispõe de estatísticas sobre matérias que são publicadas pelos órgãos de comunicação social públi- Em relação à mortalidade, que alguns deputados consi- cos, incluindo as que se referem aos partidos políticos. deram ainda muito alta, o ministro esclareceu, citando as estatísticas sanitárias mundiais de 2011, da OMS, que “O pluralismo e a isenção fazem parte de uma cultura a esperança de vida em Angola era, em 1990, de 18 anos que se vai adquirindo, e a formação dos jornalistas pode para os homens, em 2000 passou para 44 e em 2009 levar no futuro a terem uma apreciação mais vasta. Esta passou para 51 anos. mos a fazer um esforço para melhorar”, acrescentou. A Nas mulheres, a esperança de vida era de 45 em 1990,48 ministra indicou que existe uma Estratégia do Executivo em 2000 e 53 em 2009. De acordo com o ministro, para a Comunicação Social, que vai de 2010 a 2012, que a tendência da esperança de vida “é nitidamente tem como principal objectivo a modernização do sector, progressiva”, o que significa que os factores que condi- a abertura de mais centros de produção de rádio e de cionam a mortalidade estão a melhorar.” televisão em todo ‘O país, a expansão das publicações da Empresa Edições Novembro, a formação de quadros e a A proposta do Orçamento Geral do Estado para o aprovação do pacote legislativo da comunicação social. próximo ano tem receitas estimadas em cerca de 4,4 tri- liões de kwanzas e igual montante de despesas. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 58
4.13 OGE Destnado ao huambo será 4.14 Análise técnica á proposta de revisto orçamento geral de estado para Jornal agora o ano 2012: comentários sobre a 26 de Novembro de 2011 composição do oge 2012 (2) Jornal a capital A verba do Orçamento Geral do Estado (Oge/2012) 26 de Novembro de 2011 para o Huambo, fixada em 33.451.885.513,00, (cerca de 33 milhões de dólares) correspondente a 0,76% do O OGE 2012 prevê Receitas e Despesas no valor de Kz. valor total da proposta em discussão nas comissões de 4-420.483.285.538,00. Este valor, ao câmbio estimado especialidade da Assembleia Nacional, desde o dia 18 de Kz.96,40 (Usd) equivale a USD-45.855 milhões ou deste mês, será revista e ajustada, garantiu o ministro se quiserem ler de outra forma 45,85 mil milhões de das Finanças dólares. Haverá alguns que preferirão hiperbolizar e ler este nº em 45,8 biliões de dólares! Carlos Lopes, que respondia às inquietações levanta- Receitas das pelos deputados, lembrou que o orçamento para o próximo ano prossegue as mesmas políticas consagradas Se olharmos para o Resumo da Receita (pagª-41), no Oge / 2011, consubstanciadas na redução das taxas de sobressai a supremacia das receitas petrolíferas sobre as juros e da inflação, por serem duas variáveis importantes demais. Nada mais, nada menos do que 57,92%. Só o na implementação das políticas macroeconómicas. rendimento das concessões de petróleo, assume 40,47% “Vamos assumir o compromisso de procedermos à de toda a Receita fiscal do Estado angolano. Está tudo revisão e ao ajustamento do orçamento para o Huambo, dito! A conclusão a que cheguei ao analisar a estrutura na justa medida do limite que foi fixado e que de facto da economia angolana e que está plasmada no capitulo I não está reflectido no Oge 2012”, prometeu o gover- parágrafo 1.5 (pagª 3), volta à talhe de foice. nante, sublinhado: Angola depende excessivamente de um único produto “O Oge, é o instrumento financeiro do Estado e é de exportação, o que toma a sua economia bastante vul- suficientemente abrangente, porquanto as pessoas não nerável aos ditames da economia internacional! Estamos podem olhar para o Orçamento e dizer que vai abranger tramados, diria um cidadão mais pessimista! Angola está apenas uma parte da população, mas sim a todos”. num beco, mas é evidente que este beco tem saída. E a O orçamento deve garantir o funcionamento da admi- saída sabe-se qual é: A diversificação tão rápida quanto nistração do Estado e do sector social, com a realiza- possível da economia, para produzir e vender mais pro- ção de despesas, criando condições necessárias para o dutos angolanos, no mercado internacional. desenvolvimento da economia (daí a razão de não haver exclusão), chamando o ministro a atenção para as acções Uma chamada de atenção: Verifica-se uma tendência consagradas no Programa de Investimentos Públicos. crescente nos últimos 3 anos, do aumento da receita patrimonial, num ritmo superior ao da receita tributá- A existência do tecido empresarial proporciona a criação ria, a tal ponto que em 2012 os montantes destas 2 fontes de empregos e a consequente retirada da população da de receita quase igualam ou seja 43% do OGE para a pobreza, porque, através do emprego, obtém-se o ren- Receita tributária contra 41% para a Receita patrimo- dimento, que serve para poupança. A proposta do Oge nial. Isto dá a impressão que o país, está à venda! Mas é 2012 está fixada em 4.420.483.285.532,00 (mais de uma impressão ilusória. 44 mil milhões de dólares) e reserva para o Huambo O que verdadeiramente está à venda é o petróleo de 33.451.885.513,00 (0,76. Este valor coloca esta provín- Angola, que é extraído num área territorial que esta cia abaixo de Benguela (1,56%), Bié (0,77%), Huila sim, é concedida (alugada) as empresas por um período (1,14%); Cabinda (1,04), Malanje (0,86%), mas acima determinado. Como este solo ou subsolo de onde se do Bengo (0,61), Kuando Kubango (0,64), Kwanza Sul extrai o petróleo é património do Estado, então o rendi- (0,67%). Luanda beneficia de uma fatia de 3,95%. mento do aluguer é registado como receita patrimonial. O valor deste aluguer, chega a ser muito maior do que a soma dos impostos sobre os rendimentos mais os impos- tos sobre a transacção e os impostos sobre a produção do petróleo. É por isso que o total da receita patrimonial se aproxima tanto do da receita tributária. A procura de concessões de petróleo em Angola tem aumentado nos últimos anos! Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 59
Despesas • Habitação e serviços comunitários (que inclui o abas- Por se tratar da componente política e socialmente mais tecimento de água, a iluminação das vias publicas e o conflituosa do OGE, irei dedicar-lhe mais tempo. desenvolvimento habitacional), o Governo querem dar De natureza económica o Governo tem gasto anual- 4,14% (USD 1,89 mil milhões). E para a PROTECÇÃO mente, mais de metade das receitas do Estado em despe- AMBIENTAL (que inclui gestão de resíduos/lixos sas correntes com destaque para as Remunerações (salá- gestão de águas residuais/ esgotos) o governo prevê gastar rios e outros rendimentos do trabalho) dos funcionários pouco mais de USD. 604 milhões de dólares. Ora vejam (pessoal civil) e dos militares e paramilitares. As autori- lá! Angola é dos países africanos com menor cober- dades tradicionais estão também incluídas milhões), que tura de água potável por habitante, não obstante a sua se pretende atribuir ao Sector Social com uma análise enorme disponibilidade hídrica (rios e lagos). Os países um pouco mais detalhada. fronteiriços sem capacidade hídrica que se compare, A Educação (inclui ensino pré-primário primário; com destaque a Namíbia e Zâmbia superam-no grande secundário; superior etc.) receberá Usd 3,9 mil milhões, mente neste domínio. Cabo Verde um arquipélago árido qualquer coisa como 8,52% do OGE. Trata-se mesmo está ~ melhor posicionado que Angola, no que o forne- assim, de uma verba pequena, comparada com os enor cimento de água potável diz respeito. Em relação ao lixo mes desafios a enfrentar neste sector de capital impor- e ao saneamento, básico, Angola está entre os piores do tância estratégica para o desenvolviment9 sustentado. mundo! As vias publicas raramente estão iluminadas e Comparando-a (em termos de % do PIE) com aquilo a maior parte delas nem postes de distribuição têm e que as instituições da SADC e da UNESCO recomen- em muitas, faltam até lâmpadas. Resultado: É dos países dam ainda é baixa. Nenhum país da SADC, gasta tão africanos com as vias públicas (mais escuras e com um pouco do seu PIE com a educação, como Angola! índice de acidentes rodoviários mais alto! Há (tanto mas tanto por fazer ~ nestes domínios da vida I nacional, Saúde (inclui todos os hospitais, centros e maternida- que não se consegue entender como é possível destinar des públicas do país, bem como produtos, aparelhos e anualmente, tão poucas verbas! Enquanto rubricas não equipamentos médicos). Tal como a educação, a saúde é especificadas ou outros serviços não identificados, se de importância estratégica fundamental, quer para eco- lhes atribuem verbas colossais! nomia como para a segurança nacional no seu todo. a desenvolvimento humano depende disso! Acontece que • A defesa, segurança e ordem pública, continuam a Angola tem uma das mais altas taxas de mortalidade ser tratados por este Governo, como o “parente mais materno infantil do mundo os angolanos debatem-se querido” e todos anos têm sido bem servidos. Em 2012 com problemas sérios de Saúde publica da malária, às receberão a bela quantia de mais de Usd 7 mil milhões doenças diarreicas; passando pela tuberculose e doença (15,3% do OGE). Nada mau! Porém, mesmo recebendo de sono a nível de saúde da grande maioria dos angola- anualmente tanto dinheiro, ainda há muitos milhares nos é precário! A taxa de mortalidade geral é das maiores de ex-militares (homens e mulheres) por desmobilizar da região a sistema de saúde de Angola, não tem capa- e reformar (pensões). Uma séria e corajosa inspecção cidade de resposta. Está prenhe de debilidades e insufi (sindicância p.exe.) neste sector ajudaria certamente a ciências a todos os níveis. Frequentes faltas de medi- gerir melhor os fundos que lhes têm sido atribuídos! camentos e material gastável; atendimento hospitalar incompetente e corrupto (gasosismo) fraca qualificação Sectores económicas do pessoal medico e paramédico; baixa remuneração do Parece que em 2012 estarão bem servidos. Mas se nos pessoal agravada com recorrentes atrasos no pagamento lembrarmos que este ano lhes foi destinado 11,8% do de salários. Enfim... é um Deus que nos acuda! OGE e pouco de realmente significativo se fez nestes sectores pois continuam se debatendo com os mesmos Não obstante tantos problemas neste Sector vital, para problemas básico de sempre, os Usd 4,63 mil milhões a sobrevivência das populações, o Governo em 2012 (10,11%) que foram destinados em 2012 pouco ajuda- só pretende dar 5,2% do OGE ou seja USD 2,39 mil rão a galvanizar sectores tão estrategicamente impor- milhões! E pasmem-se, este Governo quer entregar mais tantes, como a Agricultura, Silvicultura, Pesca e Caça; dinheiro (4.83%) a “ Serviços de Segurança e Ordem Industria transformadora; Industria extractiva (miné- Pública não especificados quer dizer, que não estão devi- rios); ~ Construção, Transportes; Comunicações... damente identificados ou melhor não se sabe bem quais Enfim, um conjunto de sectores produtivos que posicio são! Pois é, pretende-se dar mais dinheiro a estes “serviços nados uns à montante e outros à jusante, são estrutu- fantasmas” do que aos Serviços hospitalares de todo o Pais, rantes e transversais de toda a actividade económica e que como se sabe, estão muito bem identificados, localiza servem de alavancas para o crescimento económico e dos, especificados etc. e a quem só lhes vão atribuir 3,48% o desenvolvimento. A verba que se pretende entregar do OGE. Parece-vos absurda ou não, esta opção? em 2012 a todos estes sectores, parece milionária mas Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 60 isto é apenas uma ficção numérica, porque se formos a para-se em nº à de Luanda ou até supera. E tem mais analisar o que se quer dar a cada um daqueles sectores, Zaire é a região que mais produz petróleo em Angola e tudo fica mais claro. Vejamos o Sector da Agricultura, a única que vai passar também a produzir gás natural. que como se sabe provocou o “milagre económico” do Malange e Uíge, têm enormes potencialidades em agri- crescimento de Angola na década de 70 e cujas enormes cultura e silvicultura e até em turismo. E a guerra des- potenciais idades, são internacionalmente reconhecidas. truiu muito mais estas regiões do que Luanda. Então Temos água, luz solar em abundância e terras exten- porque razão se lhes faz tanta injustiça na hora de distri- sas e férteis que constituem a base para urna revolução buir o rendimento nacional? a mesmo poderíamos dizer verde! Neste domínio, Africa do Sul e Zimbabué, não em relação ao Bengo (0,61%); Bié (0,77%); Cabinda nos superam! Tudo o que falta, no domínio infraestru- (1,04%); Huambo (0,76%). A todas estas 4 regiões tural; da investigação científica, formação de quadros; juntas pretende-se entregar 3,18% do OGE (USd.l, 4 mecanização, electrificação das zonas rurais; comércio mil milhões) contra os Usd 1,8 mil milhões de Luanda, rural etc. depende apenas duma forte vontade politica que é uma cidade-provincia quer dizer, é a mais pequena traduzida na afectação pelo Governo, de mais dinheiro província de Abgola, em superfície. Enquanto estas e outros recursos, a este sector fundamental. províncias recebem migalhas, a Estrutura central, que funciona em Luanda, irá abocanhar 82,49 % do OGE, Qualquer exercício sério e inteligente, de diversificação isto é USD 37 mil milhões! da economia angolana, para ser bem sucedido tem de passar necessariamente por este sector! Todavia, este Será que esta solução distributiva do rendimento nacio- Governo só pretende entregar ao Sector primário da nal, contribui eficazmente, para a redução das assime- economia nacional Usd.554 milhões (1,21% do OGE). trias regionais ou para a sua perpetuação? Será que desta E para a Industria transformadora, que se debate com forma, se conseguirá diminuir o excesso de população enormes problemas infraestruturais da responsabilidade residente nas cidades, fazendo-os regressar às localidades do Estado, querem dar 0,05%; Construção (0,01%); de origem? Tenho muitas dúvidas! Comunicações (0,43%) enfim, apenas migalhas. Enquanto que os Serviços Públicos Gerais se banque Breve comentário sobre o pip tearão com 41,20% ou seja USd.18,8 mil milhões! O PIP, é uma designação abreviada do Programa de Perante este exercício tão surrealista de repartição do Investimento Publico que o Governo pretende imple- bolo nacional, fico estupefacto e sem mais entários a mentar o decurso de um ano. Trata-se na realidade das fazer! obras de construção civil, estudos e projectos de enge- nharia e outros, aquisição de máquinas e equipamen- Despesa por local tos e todos os serviços associados. Grande parte do PIP Uma boa maneira de analisar as causas das assimetrias anual é obras de construção e reconstrução civil. regionais de um país e as formas utilizadas de as com bater, é verificar como é que um governo distribui as Em 2012, este governo pretende gastar com investi- receitas do OGE pelas localidades (regiões) do país. a mentos públicos a quantia de USD 9,147 mil milhões. Resumo da Despesa por Local (pag.71) é bem elucida- Considerando que a capacidade de execução de obras e tivo e não deixa margem para dúvidas. projectos em Angola é geralmente baixa, penso que esta verba é aceitável! Vejamos agora como é que este mon- LUANDA, sempre foi a região mais beneficiada e tante, será distribuído pelo território nacional, para levar mais priorizado. Em parte entende-se por ser a capital a cada região melhoria das condições de vida. politica, económica e financeira e por concentrar uma grande parte (fala-se em 7.í) da população do País. Tudo Mais uma vez nota-se a descriminação negativa, a que já bem, mas daí a receber anualmente, mais do que 4 a 5 me referi anteriormente. Luanda (pagª. 292) irá ficar com províncias juntas, já não é aceitável, tanto mais que a 27,4% do montante total reservado para os investimen- maioria das províncias orça mentalmente inferiorizadas, tos que o Governo pretende fazer em 2012. Qualquer são exactamente aquelas que apresentam os maiores pro- coisa como Usd.2,5 mil milhões. E não pensem que este blemas infra-estruturas pois foi lá onde a guerra mais se montante é grande, porque inclui obras monumentais fez sentir. como a do novo aeroporto internacional, por exemplo. Negativo! A construção do novo aeroporto de Luanda, •As províncias do Zaire (0,50%), Uíge (0,91%), Namibe na região de Bom Jesus, só vai absorver 0,02% do total (0,47%), Moxico (0,72%), Malange (0,86%) e Lunda do PIP (pgªs 171 e 298). Quer dizer, para uma obra Sul (0,52%), todas juntas irão receber 3,98% do OGE, tão gigantesca e que nem sequer está ainda construída tanto quanto se pretende dar à Luanda (3,95%). Estou a 60%, só se previram gastar com ela 150 milhão de em crer que a população de todas estas províncias equi- kwanzas, em 2012 ou seja 1 milhão e meio de dólares! Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 61
Mas afinal a obra está paralisada ou está mesmo em da dívida e constituição de activos, estimadas em três curso? E se está em curso donde sairá o dinheiro para mil e 420 mil milhões, resultando um superávit fiscal a financiar? Mesmo que este venha da China, através equivalente a 3,5% do PIB. dos bilionários empréstimos a que este país oriental habituou o governo de Angola, ainda assim, as verbas O ministro das Finanças, Carlos Lopes, disse, durante a tinham de estar inscritas no OGE! Mas para minha sur- apresentação do OGE, o actual cenário revelar-se mais presa e certamente vossa, não há mais verbas inscritas promissor para a economia nacional em comparação aos para financiar este Projecto em 2012! Isto só pode signi- últimos três anos, tendo em atenção a posição sólida das ficar 2 coisas: Ou o aeroporto está concluído (e não foi reservas externas e das contas fiscais. isso que ouvimos do P. Republica a 18 Outubro, nem o que vimos na TPA, recentemente!). Ou então vão parali- O titular destacou a proposta orçamental assentar em sar as obras em 2012? Se for este o caso, mesmo assim, 1 projecções realistas para a economia nacional, tendo em milhão de dólares não chegarão para pagar os gastos que conta a evolução recente e as perspectivas da economia a paralisação acarreta! Então aqui há coisa! E é, para o mundial e a evolução das finanças do Estado, nos anos Tribunal de Contas investigar e o Parlamento fiscalizar, 2009, 2010 e 2011. é claro! Em contrapartida, o ministro da Agricultura, dó Poderia ter dissecado mais este OGE para retirar dele Desenvolvimento Rural e das Pescas, Afonso Pedro outros aspectos negativos e também positivos. Mas para Canga, reafirmou ao plenário da Assembleia Nacional isso corria o risco de ser muito mais longo e fastidioso que cerca de 24 mil produtores familiares beneficia- e abusaria certamente do vosso precioso tempo. Não ram de um total de 47 milhões de dólares do Crédito é o meu propósito e por isso fico por aqui, esperando Agrícola de Campanha, desde 2010. que tenha sido suficientemente claro, elucidativo, cons trutivamente crítico e pedagógico. Esta foi a minha prin- cipal intenção ao decidir fazer este trabalho analítico. Bem hajam, todos os que tiverem oportunidade de ler este documento.
Principal base de trabalho utilizada: • Orçamento Geral do Estado (Proposta p/ 2012) • OGE proposto em 2011 e Orçamento complementar 2011 • Balanço de Execução Orçamental (1ºSemestre 2011) • Algumas opiniões de cidadãos Gomais e debates rádio-tv) • Observação e vivência no meio objecto de análise
4.15 Assembleia nacional aprova oge na generalidade Jornal semanario factual 19 a 26 de Novembro de 2011
A Assembleia Nacional aprovou, na terça-feira, 15, na generalidade, o Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2012. O OGE, avaliado em 4,4 triliões de Kwanzas, estima uma taxa de inflação de 10%, e a expectativa de crescimento real da economia é de 12,8%, em 2012. A previsão de produção de petróleo ultrapassa os 6,6 milhões de barris, com o preço médio de exportação de 77 dólares o barril.
As receitas fiscais, excluindo os desembolsos de financia- mentos e venda de activos, estão projectadas em 3,7 mil milhões de Kwanzas e despesas fiscais, sem amortização Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 62
5 GOVERNAÇÃO Cunha Velho revelou aos conferencistas que, no quadro desse programa, o governo central disponibiliza, anual- DESCENTRALIZAÇÃO mente, para cada município cerca de 214 milhões e 521 mil kwanzas (mais de dois milhões de dólares), com a E CIDADANIA excepção do Lubango que atinge os 2 milhões e 288 mil kwanzas. Estes dinheiros são geridos totalmente pelas administrações municipais sem interferência do governo provincial, no que se refere aos concursos públicos e a fis- 5.1 Decretos do Presidente dão calização directa. Cunha Velho acrescentou, além desse projecção a Luanda montante, as administrações municipais recebem ainda Jornal de Angola mais de dois milhões de dólares destinados aos cuida- 02 de Novembro de 2011 dos primários de saúde, no âmbito do programa da sua municipalização para sustentar as campanhas, aquisição O Presidente da República, José Eduardo dos Santos, de medicamentos, entre outras necessidades correntes. assinou e mandou publicar ontem, no Diário da O vice, que impediu a imprensa de captar as suas decla- República, vários diplomas legais, entre os quais rações, salientou ainda que dos 13 municípios que bene- os Decretos Presidenciais que aprovam os estatu- ficiaram destas verbas, oito não as gastaram sem, no tos orgânicos do Governo da Província de Luanda e entanto, se ter referido às prováveis incapacidades téc- dos municípios de Belas, Viana, Cazenga, Cacuaco, nicas de que padecem a generalidade das administra- Quissama, Icolo e Bengo e Luanda, que agora também ções municipais, no tocante à elaboração de projectos e é município. O Presidente José Eduardo dos Santos a gestão e contabilidade, tendo lamentado o facto de as assinou ainda o Despacho Presidencial que determina finanças não devolverem a quem não gasta o dinheiro que os titulares dos órgãos da Administração Local do cabimentado, não gasto para um determinado ano Estado na Província de Luanda, assim como os vice- económico. -governadores e administradores adjuntos, continuem a O governante revelou, ainda, que o seu executivo exercer as funções interinamente, enquanto não forem já gastou cerca de 2 biliões e 28 milhões de kwanzas nomeados os titulares definitivos dos cargos. Outros para os 170 projectos consignados, faltando aplicar Decretos Presidenciais remetidos para publicação no 823 milhões, 651 mil kwanzas, referentes ao terceiro Diário da República são os que cria a urbanização de trimestre. Sequele, no município do Cacuaco, e o que estabe- A educação foi o sector que beneficiou da maior fatia do lece o regime específico da sua organização e gestão. ‘bolo’, consumindo 1 bilião, 354 milhões e 422 kwanzas, O Presidente da República assinou ainda o Decreto possibilitando a entrega de 32 escolas primárias, com Presidencial que estabelece o regime de taxas e licenças 192 salas de aulas, sendo que a conclusão destes projec- específicas aplicáveis no município de Luanda, informa tos permitirá à inserção de 15 mil e 360 crianças do total uma nota da Secretaria para Assuntos de Comunicação de 33 mil e 181 crianças fora do sistema de ensino. Institucional e Imprensa do Presidente da República. Quanto ao programa merenda escolar, Cunha Velho não escondeu o insucesso desta iniciativa, avançado apenas que seis municípios beneficiam dele. Isto é dos 5.2 Sociedade civil exige mais 555 mil alunos do ensino primário previstos, apenas 12 transparência do governo mil e 939 são beneficiados. Jornal AGORA 05 de Novembro de 2011 Foram estas e outras revelações que levaram os parti- cipantes a exigirem maior transparência na gestão dos A sociedade civil huilana, que se reuniu recentemente fundos públicos e questionarem ao vice questões como a para, analisar a dinâmica das organizações da sociedade problemática do lixo na cidade, valas de drenagem entu civil locais, o programa integrado municipal de desen- pidas, carência de medicamentos nos hospitais públicos, volvimento rural, do combate à fome e à pobreza e eleger ao que Cunha Velho prometeu resolver com ajuda da os participantes à conferência nacional, pediu maior sociedade civil a quem pediu maior participação nos rigor na gestão da coisa pública. encontros dos conselhos de auscultação e concertação social (Cacas). Mas esta alega não estar bem represen- O tema sobre o programa de desenvolvimento rural de tada porque os mecanismos de eleição ao fórum são combate à fome e à pobreza introduzido pelo, vice-gover- bastante viciados. Além disso, alguns municípios nem nador para a área económica da Huíla, permitiu aos pre- sequer têm Cacas constituídos e, entre os que criaram, sentes tirar conclusões bastantes sobre a forma como são a maioria furta-se em integrar membros da sociedade gastos os dinheiros públicos ao nível dos municípios. civil locais. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 63
Os membros da sociedade civil denunciaram e conde- Baseando-se em registos da história de países desenvol- naram a atitude do administrador da Matala, Miguel vidos, o especialista feriu que à medida que o número Vicente, que impediu a realização da conferência de lhos caiu, melhorou a qualidade de da das pessoas, municipal, alegando que exibissem um documento assi- reduzindo a proporção de pobres. nado por Isaac dos Anjos a autorizar a sua realização. No final da conferência elegeram os participantes à “O número de filhos por mulher também tem uma conferência nacional que decorrerá em Malanje, este relação muito próxima, negativa, com relação ao mês. Índice e Desenvolvimento Humano (IDH). Quantos mais filhos por mulher, melhor o IDH”, ilustrou José Ribeiro, para quem, quanto à taxa de natalidade, pais 5.3 “Nos últimos 15 anos, há indicicios se encontra numa fase muito mais adiantada iniciada de que a fecundidade começa a cair em 1950, através da generalização do uso de vacinas. Jornal a capital Num outro desenvolvimento, o mesmo especialista que 05 de Novembro de 2011 temos vindo a citar, desta vez, durante uma conferência sobre “População e Povoamento integrado”, realizada Na verdade esta pergunta vai permanecer no ar durante em Luanda no pretérito mês de Agosto, afirmou que mais algum tempo, permanecer no ar durante mais existem no pais estatísticas a apontar que há 97 homens algum tempo, a julgar pela ausência ou mesmo, demora para cada 100 mulheres. na realização de 1m censo populacional. Até agora, a hipotética resposta estima que a população angolana “Existem, de facto, mas não com a intensidade que as ronda entre os 14 milhões e os 15 milhões, fazendo fé pessoas falam. Para cada 100 mulheres, existem 97 nas amiudadas referências que se vão fazendo quanto ao homens”, confirmou, elucidando que, é numa propor- assunto. ção de em 100 mulheres existirem menos três homens.
Alguns sectores versados na matéria defendem a possi- “Não são sete mulheres para cada homem como se bilidade de sermos um pouco mais acima dos números procura dizer às vezes. Não! Para cada 100 mulheres avançados, mas já outros, sugerem que somos menos e existem 97 homens”, desdramatizou José Ribeiro, ao que, pela vastidão territorial de Angola, há necessidade acrescentar que se trata de uma situação que se altera de se incrementar uma política baseada na teoria bíblica com a idade. “crescei e multiplicai-vos”. Seja como for, o ideal mesmo é, fazer-se o censo populacional. “”Na altura do nascimento nascem mais meninos do que meninas. Para cada 100 meninas nascem 103 meninos Entretanto, um estudo dos Indicadores Demográficos mas, depois, a própria natureza encarrega-se de repor o do país, realizado pela Universidade Lusíada, refere que equilíbrio”, e como? “Mata mais meninos que meninas Angola está a registar um período de transição da taxa para haver um certo equilíbrio”, concluiu. de natalidade, o que revela que tem havido uma menor preocupação das mulheres em ficarem grávidas. População mundial chegou aos sete mil milhões Há cerca de 2000 anos, a população mundial era Numa perspectiva de admitir que nasce-se mais do que de apenas cerca de 300 milhões e foram necessários se morre, no país, os dados da Lusíada revelam ainda mais de mil e 600 anos para que este valor duplicasse. que os investimentos no sector da saúde, sobretudo em Actualmente, porém, segundo o relatório da ONU sobre vacinas de prevenção, permitiram a redução de mortes. a Situação da População Mundial em 201, apresentado Acrescenta, ainda assim, que até 2040, a população nesta segunda-feira, 31 de Outubro, em Lisboa, sete mil angolana não duplicará para 40 milhões de pessoas, milhões de pessoas habitam planeta. tendo em conta que, há 15 anos observa-se a uma ten- dência de as mulheres ficarem cada vez menos grávidas. Uma das questões que o rápido crescimento demográ- “Nos últimos 15 anos, há indícios de que a fecundidade fico coloca é: até quando a Terra terá capacidade para começa a cair e nós estaríamos a entrar na primeira fase sustentar tantas pessoas? Algumas tendências são notá- de transição da natalidade. Se essa tendência se manti- veis, refere o relatório das Nações Unidas. Actualmente, ver, a natalidade vai começar a cair e, estima-se que em existem 893 milhões de pessoas acima de 60 anos em 2050, a fecundidade das mulheres esteja em tomo dos todo o mundo, mas em 2050 os sexagenários já serão dois ou três filhos”, disse o demógrafo José Ribeiro, ao 2,4 mil milhões. apresentar os indicadores do estudo, esclarecendo que os factores enumerados acima fazer reduzir de seis ou sete para dois ou três filhos para cada mulher angolana. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 64
Já as pessoas com menos de 25 anos compõem quase Noutras regiões, ao contrário, a taxa de fecundi’t1ade metade da população mundial. Há cerca de 1,2 mil declinou drasticamente desde 1950 até hoje. Na Amé milhões nas faixas etárias entre 10 e 19 anos. Esse per- rica Central, era de 6,7 filhos. Sessenta e um anos depois, centual já é uma realidade em alguns dos maiores países essa taxa caiu para 2,6, ou seja, meio ponto percentual em desenvolvimento. acima do “nível de reposição de 2,1 filhos, sendo uma dela rapariga. Considerando que os jovens podem ser “uma força poderosa para o desenvolvimento económico”, a ONU Já no Leste asiático, a taxa era de 06 filhos por mulher recorda que essa oportunidade de “bónus demográfico” em 1950. Actualmente, é de 1,6, bem abaixo do nível de é passageira e deve ser aproveitada rapidamente, ou reposição. então perderseá. Em África, porém, a queda foi mínima: a taxa de fecun- Paralelamente, verifica-se que o segmento populacional didade actual é de 05 filhos por mulher. A despeito do entre os 10 e os 24 anos começou a declinar em vários declínio das taxas de fecundidade globais, cerca de 80 países e não apenas nas nações industriais desenvolvidas. milhões de pessoas nascem a cada ano, número equiva- No México, por exemplo, onde a fecundidade decresceu lente ao da população da Alemanha ou da Etiópia. de modo significativo nas últimas décadas, a pirâmide populacional tem encolhido regularmente na base, com a faixa etária de o a 14 anos a passar de 38,6% do total 5.4 Provincia de Luanda delonga por nacional a 29,3% em 2010. Como consequência, em governador competente duas décadas -a idade média do país subiu de 19 para Jornal semanario continente 26 anos. 11 de Novembro de 2011
A ONU chama a atenção para os reflexos do desenvol- A Capital Angolana está sem chefe de Governo vimento económico e social sobre a juventude na Índia, (Provincial)! Esta situação mesmo transitária, causa onde a taxa de fecundidade de 2,5 filhos por mulher celeuma e aperreia aos Munícipes (Empresários, ainda está bem acima do nível de reposição da popula- Empresas, Negócios, Politicas, Estratégias, Definições, ção (2,1), e há mais de 600 milhões de pessoas na faixa Decisões, Soluções, etc., etc.). É importante que haja de 24 anos ou menos. uma desenvoltura da situação, porque uma Comissão de Com 1,2 mil milhões de jovens, fenómeno que tem Gestão tem alguma limitação executiva. atraído o interesse de muitos demógrafos, a Índia está em vias de suplantar a China, considerada a nação mais O futuro chefe de Governo Provincial de Luanda terá populosa do mundo, com 1,3 mil milhões de pessoas, que priorizar políticas e execuções nas actividades das segundo o último recenseamento. Obras Publicas, e na Assistência Social dos Munícipes. Na Província de Luanda existem munícipes com bas- 80 Milhões de bebés por ano o rápido crescimento tante carência, pobreza, e é importante que o Governo populacional teve início em 1950, com as reduções de da Província faça intervenções sociais (ajuda alimen- mortalidade nas regiões menos desenvolvidas, o que tar). Vislumbremos, uma das necessidades prioritárias resultou numa população estimada em 6,1 mil milhões da Província de Luanda é a construção de redes de no ano 2000. Ou seja, quase duas vezes e meia a popu- valas de drenagens subterrânea, contrariamente a exis- lação de 1950. tente Cidadela – Calemba. (Não existe nenhum País Civilizado no Mundo com vala de drenagem a céu De um ponto de vista, o facto de termos chegado aos aberto, que eu conheça). 07 mil milhões pode ser encarado como um sucesso. Mas, refere a ONU, “nem todos beneficiam dessa con- Existem bairros na Província de Luanda, com rede de quista ou da maior qualidade de vida associada a esse saneamento construídas, sem ligação à valas de dre crescimento. Há grandes disparidades entre e dentro dos nagem, porque não existem! países”. A prioridade de construção de valas de drenagem deve Muito desse aumento populacional deve-se às altas taxas ser abrangida também na construção de estações de tra- de fecundidade dos países mais pobres, dos quais 39 se tamento, antes das descargas ao mar. Com esta estra- situam em África, 09 na Ásia, 06 na Oceânia e 04 na tégia prioritária a província de Luanda ganharia um América Latina. consumado significativo, abrangente, transversal, que resolveria e acabaria, com situações que maiores afligem os Munícipes, ex: melhoria na qualidade de vida, dimi- Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 65 nuição dos charcos, doenças endémicas, boa circulação 5.5 Aqui é a cpaital do sobúrdio de pedonal e automóvel, etc., etc. Luanda” Este tipo de sensibilidade governativa carece de com- jornal angolense petência, erudição, capacidade de trabalho, contraria- 12 de Novembro de 2011 mente de o que tem acontecido, sucessivamente ne: na nossa Província (Capital). O Bairro da Demuca é tido como uma das áreas mais críticas do referido município em termos de crimina- A Província de Luanda necessita urgente de um lidade, saneamento básico, energia eléctrica e falta de Governador com capacidade interventiva, entendido, água potável. Os moradores adquirem a água através dos com equidade, pragmatismo, receptivo as ideias, dis- tanques a sessenta Kwanzas o recipiente de vinte e cinco cuti-las, sem autismos nem “elitismos”! (sistema político litros. O bairro está situado acerca de duzentos metros ou social que favorece a elite, em prejuízo t dos restantes do antigo mercado do Roque Santeiro em direcção a membros do grupo ou I da população). rotunda da 80avista chegando até a praça do Calusinga. Segundo informações obtidas no local, a energia eléc As maiores necessidades dos Luandenses, (hospitais, trica foi restabelecida há dois anos, após vinte anos às água, energia, saneamento, emprego, trânsito, estradas escuras, mas sabe-se ainda que os cortes de energia tem asfaltadas), devem constar nas prioridades do próximo sido frequentes. Governador, definindo estratégias para minimizar estas necessidades. No que tange a criminal idade no referido bairro, os moradores a denominaram de “ rainha dos crimes”, É necessário que o próximo Governador focalize no seu disseram ainda que são feitas denúncias, mas a polícia mandato as questões sociais. Elaborar uma estratégia quase nunca aparece. Um dos munícipes contou que política e socioeducativa para encaminhar vendedores de esta semana na rua da vaidade, uma senhora foi assal- rua miúdos e jovens para formação técnico profissional tada por volta das dez horas da manhã, os delinquentes com remuneração mínima, com alguma atractividade, “gatunos” levaram os cinco mil kwanza que a mesma de maneira a causar de facto uma procura considerável trazia e ninguém interviu com medo se sofrer represá- por parte destes jovens vendedores de rua. O Governo lias. “Estes meliantes são jovens do bairro”, informou. da Província de Luanda deve de alguma forma tentar estancar esta situação que se está a tomar enfadonha. Os munícipes estão revoltados com esta condição e pro- Sabemos que alguns Jovens vêm de outras Províncias, metem que caso não se faça alguma coisa para estancar o a procura de emprego. r É triste saber que a Província problema, farão justiça por próprias mãos. Actualmente de Luanda só tem um lar para idosos, (Beiral) em pés- a situação que se vive na zona é a guerra entre os grupos. simas condições, é importante C a construção de vários “Já morreram muitos jovens aqui nesse mundo do crime Centros de Repouso para Idosos, nos Municípios de e as mortes são a olho nu”, contaram, tendo realçado Luanda. ainda que, os jovens na sua maioria estão desempregados e por essa razão estão a consumir o álcool em excesso Estamos no tempo chuvoso, o Governo Provincial como uma forma de subterfúgio. deve ter os meios (máquinas) para a execução das obras Públicas nos bairros com maior dificuldade Por outro lado, ficamos a saber que no referido bairro de evacuação das aguas pluviais, de maneira a inter- existe um mercado conhecido como “ praça Calusinga” vir quando necessários. O Governo Provincial de está a ser invadida por ex-vendedores do antigo mercado Luanda tem que ter DEVERES, OBRIGAÇÕES, e do Roque Santeiro. De acordo com os moradores, esta RESPONSABLIDADES. realidade tem se verificado desde que o Roque Santeiro fechou, as vendedoras que foram transferidas para o Panguila estão a regressar, pois afirmam não terem clientes.
Quanto a diversão ao fim-de-semana o ambiente é de festa um dos salões mais conhecido chama-se “Família Forever” onde são realizadas as festas. Os jovens já não conseguem jogar a bola porque os espaços que outrora existiam agora se transformaram em armazéns.
Ainda no Sambizanga na rua do Chamavo também conhecida por “rua do Mantorras” assim denominada Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 66 por ser a rua onde nasceu e cresceu o jogador de futebol, manhã as cinco para varrer o lixo das ruas e colocar nos Pedro José, trivialmente conhecido por Mantorras, foi lá sacos nas portas de cada residência e, o transportadora onde a equipa do KaLuanda fez a sua segunda paragem. arma de fogo, dentro do jeso, tirou a arma para o inti- Logo a entrada da rua, é visível as péssimas condições midar, mas o seu filho começou a lutar com ele e conse- em termos de saneamento básico por toda extensão da guiu desarma-lo e levaram-no a polícia. “Assaltos aqui é rua, está enlameada. Segundo os munícipes esta situ- o pão-nosso de cada dia”, afirmou. ação se verifica como consequência da chuva que se abateu na última semana. “ Aqui no tempo chuvoso é Pepe, contou por outro lado, que as farras daquela época um caos não se consegue passar, porque as águas elevam eram muitos populares, eram festas de quintal, mas por o nível das casas”, frisou um dos munícipes. Madalena vezes no decorrer da festa muitos fugiam “pulavam os Eduardo, moradora, disse que estão com corte de ener quintais” quando a polícia aparecia, pois tinham que ter gia eléctrica há já algum tempo e esta condição esta a autorização para realizar estes eventos. Continuou, as deixar os munícipes desgastados, também não há água vezes havia competições entre os DJ para ver quem toca potável, situação que esta a obrigar os moradores a pro- mais e os mais famosos daquele tempo era o DJ Oscarito curarem o liquido precioso noutras zonas. e o Chico. Outro munícipe que também se pronunciou a equipa do KaLuanda foi Constantino Paulo, morador há mais de Sobre os relacionamentos disse que o namoro era a base quarenta anos, disse que todas as semanas tem havido de cartas, não namoravam nos becos tinham que ser desmandos, principalmente as quintas, sexta-feira e tudo formal o rapaz ia para casa da rapariga ter com os sábados a partir das dezoito e trinta, aparecem grupos pais dela para que estes dessem a permissão e tinham que começam as cinco até as sete horas. “Quem viu o de faze-lo dentro de casa. Contou que muitos rapazes Sambizanga e quem vê hoje o município está péssimo”, que não sabiam escrever na época compravam uma carta lamentou. Contou que outrora as condições de vida já feita que os portugueses vendiam. “A carta já vinha eram favoráveis os problemas a cima citados não haviam, escrita num canto estava escrito não noutro sim e se tendo acrescentado que os jovens daquela altura estavam a menina disse-se sim então dobrava o canto do sim”, inclinados na educação. explicou.
Quanto “as farras” disse que antigamente as festas eram feitas salões. Disse ainda que haviam muitos restauran- 5.6 «Queremos deixar de servir tes, um dos conhecido era o “ bate chaves” hoje estes apenas para as estatísticas espaços foram transformados em residências. “O muni- eleitorais» cípio do Sambizanga mudou muito”, disse Sebastião jornal semanario angolense Caetano, munícipe desde 1975,num olhar ao passado 19 de Novembro de 2011 contou que as ruas eram todas asfaltadas, havia água potável disponível, os chafarizes funcionavam, mas José Patrocínio, animador dos «Debates a Quinta» actualmente estão com três fontanários e apenas dois e líder da Organização Não Governamental (ONG) funcionam. Quanto ao crime explicou que a rua do São OMUNGA, é um activista tão conhecido no sul de Paulo e do Ngola Kiluange, são as mais afectadas em Angola quanto a «Coca Cola», passe algum exagero. Em termos de assaltos, disse ainda que os armazéns têm con- entrevista exclusiva a este jornal, Zé Tó – como também tribuído de certa forma para o aumento da delinquência é conhecido e tratado pelos mais próximos – afirma, e também do excesso de lixo que tem se verificado ao por sua conta e risco, que grande responsabilidade dos longo da artéria. avanços no processo democrático em Angola se deve à intervenção cidadã e que a Sociedade Civil, formalizada “Aqui está horrível”, frisou, tendo acrescentado que a ou não, tem contribuído, e de que maneira, para que presença da polícia não se faz sentir e por vezes quando hoje todos os angolanos se sintam menos povo e mais aparece o retrato do Sambizanga na era colonial. cidadãos. Nado e criado no Lobito, José Patrocínio é de opinião que a intervenção da Sociedade Civil amedronta De acordo com Pepe de Freitas, outro munícipe, na era o poder instituído. Só isto, diz, justifica os discursos colonial o município estava em melhores condições em musculados contra algumas associações ou personalida- termos de estruturas e as pessoas eram mais respeito- des da Sociedade Civil. Fiquem então com o essencial da sas. Na altura chamava bairro “canicio um” denomi nossa conversa. navam-no assim porque havia um bar no local que tinha o mesmo nome foi assim que surgiu. Com relação ao lixo, disse que outrora tinha o habito de acordar muito cedo por volta das quatro e meia da Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 67
Semanário Angolense (SA) As manifestações são uma mania o poder instituído. Só isto justifica os discursos mus- que viraram moda ou é uma moda que virou mania? culados contra algumas associações ou personalidades José Patrocínio (JP) – Durante muito tempo foi impossí- da Sociedade Civil. Só isto justifica a luta que se trava vel manifestarmo-nos, desde que o motivo fosse de con- contra a intervenção destas pessoas e grupos. Isto é um testação, reivindicação ou ainda de protesto. Era normal bom indicador do nível de cidadania que temos. que as manifestações apenas aparecessem com motivos de apoio ao poder instituído. Claro que isto é uma visão SA – Quer dizer que até então angolano era mais povo que generalista, já que na realidade sempre foi havendo um cidadão propriamente? pouco de protestos. Más o que quero dizer é que não era JP – O que acredito é que cada vez mais as pessoas se vão no sentido consciente de manifestação. A partir de certa dando conta que são cidadãos. Que têm direitos. altura, as manifestações passaram a ocupar um espaço Principalmente, que têm responsabilidades para a mais concreto de pressão. garantia destes direitos. Cada vez acreditamos mais que os direitos que vamos exercendo são produto da nossa As manifestações passaram a ocupar um maior espaço responsabilidade no processo. Os direitos não caiem do de afirmação da cidadania. A medida que se vai conse- céu. Nem nos são dados como caridade. São resultados guindo impor o exercício deste Direito mais existe a ini- de luta e de consciencialização. Esta é a nossa responsabi ciativa de se manifestar. As pessoas começam a gerir um lidade: lutarmos pelos nossos direitos e termos voz na novo instrumento e vamos todos aprendendo a utilizá-lo construção do país que sonhamos. Isto tem vindo a cada vez melhor. As pessoas vão se dando conta que, crescer. Isto é um facto. afinal, pode-se exercer este direito e então o vão utili- zando cada vez mais para expressarem os seus proble- SA – O poder instituído, usando palavras suas, lida mal mas. Acredito que também a situação em que vivemos com as manifestações? em Angola, em que nos confrontamos com milhares de JP – o poder instituído «ainda» lida mal com as mani- problemas de injustiça, com falta de espaços de partici- festações. Ou melhor, «ainda» lida mal com todo o pação e de reconhecimento de cidadania, mais razões tipo de intervenção que pretenda alterar a actual ordem existem para que as pessoas utilizem as manifestações das coisas. Ou seja, qualquer tentativa de mudança do para reivindicarem. sistema é confrontada com as reacções de impedimento e repressão. A título de exemplo é o que está a acontecer SA – Não respondeu directamente à pergunta... aqui em Benguela (especialmente no Lobito) em relação JP – Não estávamos habituados a assistir às manifesta- ao OKUPAPALA, 1.” Encontro Internacional de Artes ções e muito menos a participar nelas. Ficamos então e Culturas Urbanas. O tipo de pressão e repressão de admirados com tantas iniciativas do género. Elas vão que estamos a ser alvo demonstra o que expresso atrás. É continuar. preciso insistirmos na luta.
SA – Não acha que a manifestação como instrumento de SA – Que tipo de repressão estão ser alvos no Lobito? Porquê luta política, está a ser banalizada? e por quem? JP – Penso que nunca se banaliza um direito. As pessoas JP – O OKUPAPALA é uma actividade que envolve a vivem a euforia de um novo momento. Começámos a OMUNGA enquanto produtora. O projecto foi conce- perceber que afinal podemos manifestar-nos. Percebe bido juntando diversas ideias de várias pessoas e grupos. mos que estamos a conquistar este espaço e por isso O que se pretende com este tipo de festival é juntar as se utiliza bastante, principalmente neste momento, a pessoas através da valorização das realidades das comu- manifestação. Mas também acredito que é uma fase de nidades periféricas. Por isso este festival foi concebido luta muito concreta. As pessoas vão aprendendo a utili- para ser realizado em vários bairros periféricos na cidade zar também outros instrumentos. Estamos agora a nos do Lobito. O projecto foi apresentado quer a nível local, envolver cada vez mais na construção da cidadania. como provincial. Inicialmente deveria coincidir com os festejos da cidade, mas por várias razões externas à nossa SA – Há pouca consciência de cidadania em Angola? vontade, decidimos adiá-lo para as comemorações da JP – Não digo que temos pouca consciência de cidada- independência. A 09 deste mês (quarta-feira) a menos de nia em Angola. Acredito que grande responsabilidade 24 horas para começar com o festival, o director provin- dos avanços no processo democrático em Angola se cial da cultura chamou dois membros ligados à organi- deve à intervenção cidadã. A Sociedade Civil, formali- zação (não da OMUNGA) e informou que o Governo zada ou não, tem contribuído, e de que maneira, para retirava todo o apoio porque não podia estar metido que hoje todos nos possamos sentir mais cidadãos. De num projecto onde se encontram também os promoto tal forma que eu acredito nisto. Tenho a sensação de res de manifestações em Luanda. Assim ficámos sem que esta intervenção da Sociedade Civil amedronta sala para a realização do «Quintas de Debate» (que era Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 68 uma escola no bairro da Lixeira) e sem a Administração a administração. Tivemos que fazer uma grande ginás- municipal onde prevíamos realizar uma palestra e uma tica de distracção e assim inventámos à última hora um exposição. Percebemos a ideia apresentada pelo director outro espaço e arrancámos com a actividade. Mesmo provincial da cultura, só que não imaginávamos que o assim fomos contactados pela polícia para acabar com cerco seria ainda maior. o espectáculo. Decidiu-se continuar. No dia 13 fomos informados pela empresa «Rosalina Expresso» de que SA – Isto quer dizer que o festival já não vai acontecer? nos retirava o apoio. Esta empresa, para além das via JP – Não. Isto quer dizer que nos confrontamos com turas que alugávamos, tinha disponibilizado um mini- bastantes obstáculos e desafios. Temos então que ser -autocarro como patrocínio. Outro patrocinador tinha bastante criativos e não desistir. Em relação à palestra decidido retirar-nos os contentores habitacionais onde se e exposição prevista para a administração municipal encontram hospedados outros participantes. conseguimos transferir e realizar no cine Imperium. No entanto isto desmobilizou o pessoal porque desconcen- SA – Agora quanto ao facto de as manifestações serem trou a equipa da organização e também o pessoal que quase sempre liderados por dirigentes de partidos políticos? estava informado. Em relação ao «Quintas de Debate», decidimos realizá-lo na rua junto à referida escola. Isto JP – Não sei se podemos generalizar que as manifes- também trouxe os seus problemas. O pior é que dois tações são lideradas por jovens desocupados. O facto jovens apedrejaram o local enquanto decorria o debate de serem jovens tem algum argumento. Na realidade e puseram-se imediatamente em fuga. Pouco mais de em toda a parte do mundo são os jovens que têm mais cinco minutos depois, o segundo comandante munici- energia e dinâmica. São também, em essência, menos pal da polícia do Lobito já se encontrava no local com conformistas. Possivelmente o facto de se sentirem exclu- mais três ou quatro indivíduos, declarando que teria sido ídos lhes leva a terem mais coragem para se manifestar. contactado por telefone sobre o ocorrido. Muito rápida a Sentem na pele as consequências de um sistema injusto. intervenção do comandante, não parece? E pior é que a Não sei também se estão, todos eles ligados a partidos intervenção do comandante foi para desmobilizar a acti- da oposição. Mas se isso corresponde à verdade, também vidade com a justificação de uma suposta falta de segu- tem explicação. Estar ligado a um partido da oposição rança. Pouco depois apresentaram uma criança como já demonstra não estar a favor do sistema e do regime. se tivesse sido ela a pessoa que apedrejou. Deste ape- Por outro lado, estar ligado a um partido já demonstra drejamento (duas ou três pedras) ficou partido o vidro alguma formação política. Lideranças têm que ter visão da viatura da empresa «Rosalina Expresso» que estava política. Seja como for, temos é de olhar para o facto de alugada para prestar apoio. Mas apenas era o início. A serem cidadãos insatisfeitos com a situação que vivemos pressão não ficou por aí. num país rico para alguns e miserável para a maioria.
SA – Porquê que a maior parte dos manifestantes são, na SA – Nestas manifestações não tem havido aproveitamento sua maioria, jovens desocupados liderados alegadamente por parte de alguns líderes partidários? por pessoas ligadas aos partidos da Oposição? JP – Não poderíamos esperar outra coisa. É obvio que JP – Antes de responder a esta pergunta, quero ainda os partidos políticos tiram e devem tirar o seu proveito. acrescentar os tipos de pressão que estamos a ser alvo Seria estranho se isso não acontecesse. Isso não é um neste momento para que não se realize o OKUPAPALA. crime nem um problema. Iodos os envolvidos na causa No dia 11 de Novembro fomos impedidos de realizar o de construção do país ficam atentos aos contextos e vêem espectáculo previsto para a Damba Maria, por alegada neles as oportunidades e/ou os constrangimentos para as falta de autorização. A 12 de Novembro somos infor suas intervenções. Não podemos é pensar que, pelo facto mados que todos os participantes que estavam acampa- dos partidos políticos fazerem o seu aproveitamento em dos no espaço da Cuca, na Restinga, tinham que aban- relação às manifestações, que estas são organizadas a donar imediatamente o recinto sem qualquer alternativa mando desses partidos políticos. São duas coisas dife- para onde ir. A Cuca era um dos patrocinadores do rentes. Temos manifestações em que os organizadores evento. Esta situação foi preocupante. Decidiu-se não são claramente partidos políticos e temos manifestações abandonar o local e permaneceu-se aí até ao dia 13. Este em que os organizadores são cidadãos, mesmo que estes incidente traz inclusivamente atritos nas relações pesso- possam ter alguma filiação partidária. ais. O director da área comercial da Cuca é meu conhe- cido. Acredito que não tenha sido nada fácil para ele ter SA – As manifestações que ocorrem agora no país tiveram que tomar essa decisão. Isto pode levar a outros proble- como base de inspiração a «Primavera Árabe»? mas já que a OMUNGA se sente lesada por este proce- JP – É obvio que vivemos num mundo cada vez mais dimento. No dia 12 de Novembro, tentaram impedir a globalizado e a informação chega-nos a velocidades realização do espectáculo na Catumbela. Foi a polícia e mais rápidas. É obvio que os contextos se influenciam. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 69
Por esta razão poderemos dizer que talvez haja alguma o que pode significar algum desnorteio político, consi influência. Mas ao mesmo tempo penso que há con derando os últimos acontecimentos criados pela oposi- textos gerais de insatisfação. E isto não acontece apenas ção de um modo geral, entre os quais avultam as mani- no mundo árabe, mas também na Europa, em África, festações de protesto. nos Estados Unidos. Cada vez mais procuramos alter- nativas a um sistema capitalista financeiro cada vez mais A província de Luanda, apesar da sua menor dimensão arrogante e antipopular. O sistema é o mesmo em qual- (mesmo com os acréscimos buscados à província do quer parte do mundo. É contra este sistema, que envolve Bengo) em relação às demais províncias, acaba por ser a esquemas de corrupção (ver a Grécia) cada vez mais maior de todas pela complexidade das suas componen- alarmantes e descarados, que os cidadãos um pouco por tes, pela diversidade estrutural e por ser o território em todo o mundo, têm vindo a manifestar-se. Afinal em que se situa a maior cidade de Angola, a mais populosa, todo o mundo há pessoas que acreditam que um mundo a mais polémica, sede dos órgãos de decisão e poder. mais justo é possível. A grande metrópole que é Luanda foi-se descaracte- rizando ao longo dos anos sem que se acautelasse as 5.7 Batata quente» para o novo gpl medidas necessárias ou se providenciasse os meios cor- jornal semanario angolense rectos para a sua manutenção e correcção do seu cresci- 19 de Novembro de 2011 mento desordenado e anárquico. Os tempos de guerra contribuíram, igualmente, para a sua degradação e A nomeação, pelo Presidente da República, de Bento desorientação, embora sempre houvesse quem regesse os Sebastião Francisco Bento, para o cargo de governa- rumos que a cidade e, consequentemente, toda a provín- dor da província de Luanda, embora surpreendente, cia, deveriam tomar. não causou tanta admiração, como seria de esperar, em alguns círculos políticos e da comunicação social, Actualmente, passados os tempos turbulentos da guerra porque depois da exoneração do então governador José há quase uma década, apesar das novas infra-estruturas Maria dos Santos, já se prognosticava tal possibilidade. que vão surgindo r um pouco por todo o lado, apesar e das chamadas «novas centralidades», é visível e facil- Ao ser nomeado para dirigir os destinos da cosmopolita mente se apercebe que Luanda não tem um plano direc- e controversa província em que se situa a capital do país, tor que norteie os destinos da capital para metas devida- Bento Bento terá herdado, nas circunstâncias actuais, mente definidas. mais que uma dura empreitada, uma autêntica «batata quente», muito difícil de se manter entre as mãos, apesar Muita coisa acontece um tanto à socapa, quiçá na ânsia dos forros com que possa cobri-las. de se fazer mais para mostrar trabalho, porque de con- trário não haveria constantes demolições e desalojamen- Para diversos analistas, a sua nomeação não passa de tos de populares, em alguns casos forçados, que são «ati- uma estratégia política do MPLA que visa utilizar o rados» por tempo indefinido em tendas, assim como sentido de persuasão e mobilização de Bento Bento para a expropriação de terrenos de lavoura de cidadãos que aglutinar os administradores municipais e as populações não têm onde ganhar o pão de ti cada dia, sem que lhes dos respectivos municípios para fins eleitorais, já que, à seja garantida qualquer contrapartida por um bem que semelhança dos governadores de outras províncias, vai já lhes vem de várias gerações anteriores. acumular com as funções de 1.0 secretário do partido no poder. Apesar dos vários projectos anunciados ou em vias de arranque, vão surgindo novos bairros de lata da noite Contudo, outros observadores para o «caldeirão» que é o para o dia em outros locais e nos mesmos em que já acon- GPL, Bento Bento terá que ter um jogo de cintura muito teceram demolições e até mesmo nas chamadas «reservas forte para não acabar escaldado como já aconteceu com fundiárias do Estado», sem que quem de direito, neste muitos outros que por lá passaram, o que pressupõe que caso as administrações locais, tomem medidas para algo se terá passado na cúpula do maioritário que cha- evitar que se vá continuando com os mesmos problemas muscou a imagem de Bento Bento e a nomeação para o sociais e infra-estruturas. Junta-se a isso a construção de cargo de governador de Luanda visa o xeque-mate. arranha-céus e condomínios em locais sem condições de Para outros ainda, a nomeação pelo PR de alguém que saneamento, as estradas e ruas que estão em permanente nunca deu mostras de competência administrativa reabilitação e um grande número de situações que não se governamental para uma província como Luanda, é consegue resolver por não haver uma equação coerente e uma demonstração de pouco interesse pelos destinos da responsável da sua importância primária ou secundária. capital e mais preocupação pelos pressupostos eleitorais, Os vários governadores que passaram por Luanda, cada Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 70 um à sua maneira, foram cavando o seu buraco. Houve Em meio a tudo isso, é caso para se dizer que se o desem- quem levantasse um ou outro alicerce e pode-se destacar penho de Bento Bento na governação de Luanda for quem fez alguma coisa para melhorar, embora a maioria como as bocas que mandava nas actividades políticas do nada tenha feito, apenas ajudando a afundar mais a partido no poder, que se cuidem os prevaricadores. Haja «embarcação» já esburacada. governador.
A «batata» torna-se mais quente para o novo governador, ao somar-se o mau trabalho dos administradores muni- 5.8 A voz de bento bento no cipais que, apesar de alguma purga efectuada por José «corredor da morte» Maria dos Santos, continuam a apostar no desleixo, na Jornal semanario angolense desorganização, apresentando por tudo e nada desculpas 19 de Novembro de 2011 que não colhem neste tempo em que o trabalho sério e responsável deve ser a prioridade, sem justificarem o Desde Kundi Paihama, ninguém, mas ninguém que fazem com o dinheiro do erário público que lhes mesmo, conseguiu se sair bem depois de ocupar o posto é confiado para melhorar as condições dos respectivos de Governador de Luanda. Nem mesmo Aníbal Rocha, municípios, nem para onde levam os meios de trabalho ainda hoje considerado pela «vox populi» como o melhor que são postos à sua disposição, como camiões, tracto- inquilino que já passou pelo Palácio da Mutamba. Esse res, cisternas, entre outros meios. É comum dizer-se que até saiu mal. por ser bom, o que, dizem as más línguas, esses meios são utilizados em proveito próprio, em nego- não caía bem ao «Chefe», que se sentiu ofuscado pela ciatas como a venda de água ou nas suas quintas. popularidade do então edil de Luanda. Todos os seus sucessores (Simão Paulo, Job Capapinha, Francisca do Todo um conjunto de situações negativas foi-se acu- Espírito Santo – a única mulher a ocupar o cargo – e mulando ao longo dos mandatos dos sucessivos gover- por último o «meteórico» José Maria dos Santos) ainda nadores, tendo o próprio Presidente da República hoje realizam uma travessia no deserto. Razão terá por reconhecido quando nomeou para dirigir Luanda uma isso Reginaldo Silva quando chama a este cargo de «o Comissão de Gestão liderada por Higino Carneiro. Na corredor da morte». altura, a esperança dos luandenses renasceu, mas, pouco tempo depois, as coisas voltaram à rotina habitual dos Razão terão também, por isso, aqueles que vaticinam anteriores governos. para Bento Francisco Bento, ou Bento-Bento se preferi- rem, o fim da picada para a sua carreira política. Ou pelo Assim sendo, é caso para dizer que o ora nomeado menos o píncaro de onde ir-se-á estatelar ao comprido, governador de Luanda, homem mais habituado às lides mais cedo ou mais tarde. É que, ao ser inesperadamente partidárias, com vocação para agitador/mobilizador de nomeado para o posto de Governador de Luanda – massas, recebeu uma árdua tarefa que exigirá peito para cargo do qual à boca pequena se diz que um peso pesado enfrentar os problemas sociais, a falta de energia eléc- como Adelino Peixoto fugiu – adivinha-se o fim de uma trica e água potável e corrente, a falta de saneamento carreira que, se bem que com algum êxito nas lides par- e limpeza em toda extensão da província, a maka dos tidárias, pouco tem a oferecer em termos de gestão. transportes públicos, da saúde e educação, a delinquên- cia que se vai agravando, a corrupção, a indisciplina e Para além de uma passagem pelo Conselho de o desrespeito de algumas entidades que são as primei- Administração de uma empresa menor, pouco mais tem ras a prevaricar, o descontentamento popular por estas para oferecer. O seu perfil, populista e pouco ortodoxo, e outras razões criadas pelas anteriores administrações, dificilmente o deixa talhado para os grandes desafios como a expropriação de terrenos e a sua venda por parte que a província mais complexa apresenta à sua edilidade. dos fiscais e funcionários das administrações municipais, Se onde nem a conhecida diplomacia de Francisca do além do problema do dinheiro que a população depo- Espírito Santo conseguiu resistir às constantes inter- sitou para obtenção de terrenos para a auto-contrução ferências do poder central – chegou a conseguir ser dirigida e que volvidos cerca de três anos ninguém tuge nomeada Ministra Sem Pasta com direito a assento no nem muge, o que está a ser considerado como uma feno- Conselho de Ministros -, não é crível que o «trungungu» menal burla do GPL aos cidadãos. de Bento Bento o consiga.
Como se não bastasse, é tempo de S. Pedro começar a Se onde a grande capacidade de gestão de Aníbal Rocha, «abrir as torneiras» e as enxurradas vão aumentar, e de que o iniciador das grandes obras em Luanda, não resistiu às maneira, os problemas de Luanda, sobretudo das ruas que ondas e contra ondas das intrigas palacianas, não será praticamente deixam de existir em tempo chuvoso e dos certamente sob o estilo errático do actual Governador bairros periféricos que submergem nas águas. que se irá resolver os grandes problemas de falta de água, Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 71 de energia eléctrica e dos engarrafamentos que asfixiam mais porque até agora a arquitecta Cada Ribeiro não a economia da capital do País. foi ainda substituída como vice governadora para a área técnica. Sem contar que, sendo o Presidente da República actu- almente o verdadeiro Governador de Luanda, se está Fontes contactadas asseguram que é por esse défice de para ver como será a coabitação com um homem que, BB que o PR está a tomar especial cuidado na selec- bom activista político como é, pode não ter a diploma- ção de quem proverá este cargo, com responsabilidades cia e discernimento suficientes para saber quando deve directas na execução das várias obras de Luanda. Porque aparecer e quando deve deixar as luzes da ribalta para o Bento Bento é que não será, sob pena de um fiasco total. «Chefe». Não tem perfil, nem formação, nem pachorra para isso. Caso para dizer que se isso dependesse de BB, os citadi Duas razões principais poderão ter levado o Presidente nos de Luanda estavam paiados. Resta saber quando e Eduardo dos Santos a nomear Bento Bento para um sobre quem recairá a escolha do Presidente Eduardo dos cargo de tamanha responsabilidade numa altura como Santos para resolver os problemas de falta de água, luz, esta. A primeira prende-se com o facto de BB ser indubi- lixo por tudo quanto é canto e engarrafamentos desgra- tavelmente o melhor 1.0 Secretário Provincial do MPLA çados da capital do «canteiro de obras». da última década, e a segunda tem a ver com uma certa impaciência do PR em relação às makas crónicas entre o governador e o chefe provincial do MPLA nas provín- 5.9 Vigora nova estrutura orgânica cias em que estes dois cargos são exercidos por pessoas com a nomeação do governador diferentes. A Huíla – a única agora com essa divisão – é Jornal de Angola exemplo disso, com a corrente a não passar entre Isaac 22 de Novembro de 2011 dos Anjos de um lado e Marcelino Tyipingue e Virgílio Tyiova de outro, ao ponto de a própria base eleitoral do O ministro da Administração do Território disse ontem MPLA estar ameaçada. Na impossibilidade de remover que, com a nomeação da nova direcção do Governo Bento Bento da chefia do MPLA na província pelo seu Provincial de Luanda (GPL), tem início a aplica- excepcional desempenho, a solução encontrada foi a de ção da nova estrutura orgânica da instituição e das «abonar-lhe» com o cargo de Governador Provincial administrações municipais, nomeadamente, do municí- para o qual está ainda menos talhado que o seu «con- pio de Luanda, que vai ter uma comissão administrativa frade de perfil» Job Capapinha, esse que até tinha e um presidente. tido um «estágio» como Vice Ministro da Juventude e Desportos. Bornito de Sousa, que presidiu à cerimónia de apre- sentação do governador da província de Luanda, A acumulação dos dois cargos poderá ter – tem certa- Bento Sebastião Francisco Bento, aos funcionários do mente – uma forte motivação político eleitoral. Bento GPL, referiu que já foi dado o acordo do Ministério da Bento é afinal o melhor antídoto que o MPLA até agora Administração do Território às propostas de nomeação encontrou para a onda cada vez crescente de manifesta- do presidente da comissão administrativa do municí ções contra si e contra o seu líder, José Eduardo dos Santos, pio de Luanda e dos administradores municipais de com as suas gigantescas contra-manifestações. Famoso Cacuaco, Viana, Belas, Icolo e Bengo e Quissama. pela sua irreverência política, o actual Governador Bornito de Sousa solicitou a atenção da direcção do da Província não hesitará em usar essa condição para governo de Luanda na incorporação dos municípios do assacar vantagens políticas para o seu partido. No caso, Icolo e Bengo e da. se um partido ou movimento da oposição decidir convo car uma manifestação, a partir do momento que terá que Quissama. Além de realçar a problemática da energia notificar o Governador Provincial, Bento Bento poderá, eléctrica, água potável e gestão dos resíduos sólidos, se quiser, demorar a reagir ao pedido para dar tempo como desafios de actuação apontados por Bento Bento, para organizar uma «contra-manif», quiçá na mesma Bornito de Sousa acresceu a organização da circulação hora e local. Já o fez antes e certamente fá-lo-á sempre rodoviária urbana, a segurança dos cidadãos e seus bens, que possa sem qualquer peso de consciência. Adivinham habitação social e a disponibilização de espaços para se pois tempos difíceis para a Oposição e para os «revús», autoconstrução, estabelecimento de espaços para mer- como gostam de chamar-se os jovens protagonistas das cados, organização da administração fiscal e o diálogo «manifs». permanente com os cidadãos.
Do ponto de vista técnico, também adivinham-se O ministro considera que a acumulação das funções de tempos difíceis para os munícipes de Luanda, mais a primeiro secretário provincial do MPLA em Luanda e Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 72 de governador, tal como acontece em várias províncias, Num despacho, Bento Bento determina o fim das é facilitada por uma clara delimitação de competências funções de todo o pessoal de apoio colocado no gabinete entre o governo central, provincial e as administra do governador provincial. José Tavares Ferreira, até então ções municipais que remetem agora grande parte das administrador do Sambizanga, foi nomeado para o cargo funções executivas do antigo governo provincial para a de presidente da Comissão Administrativa Municipal comissão administrativa da cidade de Luanda e para as de Luanda. Os actuais administradores do Cazenga, administrações. Nataniel”Tany”Narciso, e de Viana, José Moreno, foram reconduzidos nos seus respectivos cargos. “O governo provincial deve resistir a substituir-se aos municípios na realização das tarefas que lhes são acome- Os despachos foram exarados tendo em conta a tidas pelos novos estatutos orgânicos”, disse. Lei n° 17/10, de 29 de Julho, sobre a Organização e Funcionamento dos Órgãos da Administração Local O governador da província reconheceu que na cidade do Estado, conjugada com o artigo 90 do Decreto de Luanda existem muitos problemas por resolver e Presidencial n° 276/11, de 31 de Outubro, que aprova o situações que nesta altura deviam estar resolvidas. “Por Estatuto do Governo da Província de Luanda. isso estamos obrigados todos a fazer mais e melhor, a Segundo o novo organigrama, a província de Luanda ser mais rigorosos nos nossos processos e a um esforço passa a ter sete municípios contra os anteriores nove. colectivo e solidário.” Os municípios são Luanda, Cazenga, Viana, Belas, Quissama, Cacuaco e Icolo e Bengo. Bento Bento assumiu que-é necessário mais disciplina, rigor e trabalho árduo e ressaltou que os desafios a enfrentar são, sobretudo, de gestão e capacidade de orga- 5.11 GPL Transfere-se para cidade do nização e de trabalho em equipa para governar bem a kilamba província de Luanda. Jornal o pais 25 de Novembro de 2011 “Os nossos problemas são também de ordem técnica e sabemos que existem soluções técnicas para os actuais A sede do Governo da Província de Luanda vai ser problemas nos domínios da energia eléctrica, água, resí- transferida futuramente para a Cidade do Kilamba, no duos sólidos, infra-estruturas e gestão urbana”, disse. recém -criado município de Belas, uma mudança ditada em parte pelo novo figurino administrativo que está a ser implementado na cidade capital, revelaram fontes 5.10 Novos administradores nomeados daquela instituição a O PAÍS. A transferência da sede em Luanda do governo de Luanda resulta em parte da necessidade Jornal de Angola de acomodação da Comissão Administrativa Municipal 23 de Novembro de 2011 de Luanda (CAML), cujo presidente é o ex – edil do município do Sambizanga, voltando assim o edifício a O governador de Luanda, Bento Bento, procedeu acolher a sede da câmara municipal de Luanda. ontem a exonerações e nomeações de administradores municipais, tendo em conta a nova divisão política e A concretização da transferência não será para breve administrativa da província. tendo em conta que deverá aguardar que a nova sede do GPL esteja edificada. Em face disso, de momento a José Tavares Ferreira, Manuel Cafussa e José Francisco Comissão Administrativa Municipal de Luanda vai ser Correia foram exonerados dos cargos de administra- instalada provisoriamente n no edifício da extinta admi- dores municipais do Sambizanga, Cacuaco e Kilamba nistração municipal da Ingombota. Kiaxi, respectivamente. O novo figurino administrativo de Luanda contempla a Bento Bento exonerou ainda os administradores da existência de sete I municípios, contrariamente aos nove Ingombota, Pedro Samuel John Júnior, da Samba, Adão até anteriormente existentes, designadamente, o muni- António Malungo, da Maianga, Manuel José Marta, cípio de Luanda, te Cazenga, Cacuaco, Viana, Belas, do Rangel, Maria Clementina Gomes da Silva, e do Quissama e Icolo Bengo. Kilamba Kiaxi, José Francisco Correia. Quanto ao município de Luanda, consta que será Foram também exonerados o administrador da formado por treze distritos e vai absorver territórios Quiçama, João Martins, e a secretária-geral do governo dos Ir extintos municípios do Rangel, Sambizanga, de Luanda, Maria Hilário. Ingombota, Kilamba Kiaxi e Maianga. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 73
‘’Vassauradas’’ No entanto, o inicio da semana, o governador de Sai como o grande vencedor nesta remodelação a figura Luanda, Bento Bento, para dar corpo ao novo figurino do ex-administrador do Sambizanga, José Tavares administrativo da província, nomeou o presidente da Ferreira., que assume a presidência da Comissão Comissão Administrativa Municipal for de Luanda, os admin1strativa de Luanda, que terá sob sua alçada treze administradores municipais e outros responsáveis do seu distritos. gabinete. Sobreviveram igualmente os administradores do Na sequência, Bento Bento exonerou José Tavares Cazenga, Viana, respectivamente, Victor Nataniel Ferreira, Manuel Cafussa e José Francisco Correia dos Narciso, d José Manuel Moreno, que permanecem cargos de administradores municipais do Sambizanga, d intactos nos seus lugares, um facto aparentemente Cacuaco, Kilamba Kiaxi, respectivamente. De igual devido à sua condição de membros do comité central modo foram exonerados da Ingombota, Samba e do partido. Maianga, respectivamente, Pedro Samuel John Júnior, Adão António Malungo e Manuel José Marta. Enquadra-se também na lista dos sobreviventes, o admi- nistrador do Icolo e Bengo, António Calado, arquitecto O acto administrativo de Bento Bento, enquanto gover- m de profissão que migra de Caxito para Luanda, nas nador de Luanda, resultou no afastamento dos adminis mesmas funções que ocupava anteriormente. tradores nomeados pelo seu antecessor, José Maria dos Santos, designadamente, da Samba, Rangel, Cacuaco, e Este arquitecto de profissão já foi quadro do GPL, Ingombota. onde foi o director da extinta Direcção dos Serviços de Gestão Urbana, percursora do actual Instituto de Na verdade, os ex-administradores dos extintos muni- Gestão Urbana de Luanda – IPGUL. cípios da Samba, Ingombota, Cacuaco, Rangel, res Para Cacuaco a opção recaiu para sobre Rosa João pectivamente, Adão Malungo, Pedro Samuel John Janota Dias dos Santos, que não é desconhecedora deste Júnior, Manuel Cafusa e Maria Clementina da Silva, metier, pois até então desempenhava idêntica função na nem sequer 1, tiveram tempo suficiente para se fami- comuna da Funda. liarizarem com o metier das administrações, tendo em conta que todos foram nomeados a 22 de Junho do ano Ana Maria Rodrigues da Silva e Silva passa de adminis- corrente cessaram igualmente as funções os adminis- tradora adjunta do extinto município do Rangel para tradores municipais e adjuntos da Samba, Rangel e da doravante ocupar-se do município da Kissama que foi comuna! da Funda. desanexado da provinda do Bengo.
A até então secretária-geral do governo, Maria Umba Enquanto isso, a secretária municipal do MPLA da Hilário, que ocupava este cargo desde Fevereiro do ano Ingombota, Joana António Quintas, ocupar-se-á da corrente, também não sobreviveu à primeira vassourada administração do novo município de Belas, que herda o de Bento Bento, que no seu lugar renomeou, Judite território da Samba e se estende até à cidade do Kilamba. Armando Pereira. Regresso a casa Num só ápice, o governador da Província de Luanda Judite Armando Pereira regressa ao executivo de Luanda, determinou também a cessação de funções de todo o onde ingressou na vigência do governador Simão Paulo, pessoal de apoio, colocado no seu gabinete. ocupando-se do gabinete de Estudos, Planeamento e Estatística, posteriormente indicada para secretária- Os sobreviventes -geral, função que exerceu até Fevereiro do ano corrente. Contrariamente aos receios de muitos funcionários do GPL, o governador de Luanda não incluiu nas suas Trajectória semelhante percorreu a directora do gabi- nomeações nenhum out -sider, apostando na prata da nete do governador, Ana Cristina Pódia Kay Salvador, casa. que até à sua nomeação foi administradora adjunta da Samba. Fontes que acompanharam o processo, alegam que nos últimos dias, assistiu-se um a um grande corrupio No entanto, antes de ser nomeada em Junho deste ano nos corredores do secretariado província de Luanda do exercia o cargo de directora do gabinete do governa- MPLA, local onde tudo terá sido cozinhado, bem como dor de Luanda, uma função que se prolongou desde o nos corredores da sede do partido governante, na expec- mandato da governadora Francisca do Espírito Santo. tativa de serem reconduzidos nos cargos anteriores. Não menos importante foi a nomeação de Alberto Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 74
Marques Domingos para a função de assessor político, 5.12 Eleições autárquicas ou legislativas? que marca também o regresso àquela instituição, pois já Jornal o continente foi o director de gabinete do governador que mais tempo 25 novembro de 2011 esteve em funções desde o tempo de Aníbal Rocha. Autárquicas! Porque servem melhor os interesses das Governar colectivamente populações (Províncias, Municípios, Comunas, Bairros, O presidente da Comissão Administrativa Municipal Avenidas, Ruas, Estradas, etc., etc.). O que muda na vida de Luanda, José Tavares Ferreira, anunciou, à margem quotidiana de um munícipe com a eleição legislativa de da cerimónia de tomada de posse, o seu compromisso um partido? Absolutamente nada! O impacto é indirecto, com a promoção de uma governação participativa e bastante demoroso, quase nenhum. Porque as políticas transparente para o município de Luanda. do Governo são centralizadas sem especificidade territo- rial, homogéneas, não complementam, não satisfazem a Na referida ocasião disse que de concreto já existe um necessidade local (Municipal). programa para o município de Luanda, resultante da integração dos programas dos municípios extintos por Existe alguma crise letárgica na sociedade Angolana força da revisão administrativa da província. (Sociedade Civil, Partidos, Oposição, Tecnocratas, Políticos, Comunicação Social (Mídia), Empresas, “Os problemas do município de Luanda estão devi- Empresários, Universitários, etc., etc.)? Não se compre- damente identificados. Todos nós conhecemos, resta ende o porquê da não discussão desta temática. Será falta agora, mais do que falar, arregaçar as mangas”, disse o de Literacia? Porquê que em Angola só se discute poder presidente da Comissão Administrativa Municipal de e não políticas? Fulano, Sicrano e Beltrano! Substituição Luanda. do A, em detrimento do B. Nota-se que algumas forças José Tavares Ferreira anunciou que a primeira emprei- políticas (partidos, oposição, sindicatos, associações, tada desta longa jornada que agora inicia, será encontrar movimentos associativos, etc.), não estão preocupadas um local para a sua acomodação, bem como a nomeação com as necessidades, carências, ambições das popu- da sua equipa de trabalho uma questão a ser equacio- lações, pelo contrário querem única e exclusivamente nada brevemente. chegar ao Poder e a sua continuação.
No entanto, augura o apoio dos munícipes de Luanda, Distingamos, as eleições que causariam maior “resolu- lembrando que sem a colaboração e cooperação destes a ção” nos problemas das populações, são as Autárquicas, tarefa de governar Luanda será difícil. I porque é o Poder Local, representativo (Vereadores, Assembleia Municipal), porque o munícipe também “Pensamos fazer uma governação transparente, partici- (teria alguma responsabilidade ou irresponsabilidade na pativa, aonde todos os cidadãos de forma disciplinada escolha do candidato, periodizava situações, priorizava e organizada vão e devem contribuir para transformar políticas e políticos, teria escolha TI alargada de candi- Luanda num lugar bom para nascer e viver”, afirmou datos, cobrariam c as promessas ao candidato vencedor, o presidente da Comissão Administrativa Municipal de a eleito. Numa situação de eleição autárquica, os candi- Luanda. datos elaboram um ai programa, põem a disposição dos fé eleitores, é debatido, levado ao escrutínio, opcional. De igual modo, aponta como linhas de força da sua Com a elaboração e execução da Lei de Autárquica cria- governação a resolução dos problemas de energia, água, riam empregos as populações locais. saneamento básico, reparação das vias tanto principais como terciárias e o combate à pobreza. O poder seria partilhado, e quando da assim é, a res- ponsabilidade é compartilhada por todos. Só assim se Enquanto se aguarda pela instalação definitiva CAML, pode dizer Estado democrático, com alternância os de aquele responsável assegura o normal funcionamento poder local. das administrações municipais e comunais para quem desejar obter qualquer serviço da administração. O poder seria partilhado, e quando assim é, a responsa- bilidade é compartida por todos. Só assim se pode dizer Estado democrático, com alternância de poder local.
O Executivo angolano em preterir, projectar, executar a Lei Autárquica, e em prioridade às eleições legislati- vas ir meteu a carroça a frente dos bois. Foi estrategi- camente e politicamente errado, paradoxal, causando Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 75 desgastes político ao próprio Partido, Executivo, O foco central dos problemas em Angola é ou estão (Governo). Portanto, nestas situações – políticas que nas municipalidades, (bairros, avenidas, ruas, estra- vivemos o Povo culpabiliza os fracassos de governação, das). A resolução destas temáticas todas passam pela 1 (Municipal ou Provincial) “estradas mal executadas, implementação, aprovação, execução da lei autárquica. falta de água, luz, hospitais com funcionamento defici Não tenhamos outras causas, porque não é assertivo. tário, ausência de política habitacional municipal, cen- Sem esta política não iremos lá chegar, no lugar ambicio- tralismo de poder, corrupção, etc.,” ao Poder Central, ao nado por todos nós angolanos. Melhor vida para todos. Governo, porque sente que não participou, não votou, não elegeu aquele Administrador ou Governador rapi- nador, Incompetente, que não defende politicamente o 5.13 Bento bento tem a politica na veia seu Município, Província, que não executa as políticas falta-lhe conciliar o tacto da gestão preconizadas pelo Poder Central, que não intervêm poli- de uma cidade turbulenta ticamente a favor do interesse do povo da localidade que Jornal folha 8 representa. 26 de Novembro de 2011
Qual é o incentivo que tem um Administrador ou Água benta nas pias quase secas dos partidos da oposição Governador em resolver os problemas do Povo, se não foi a nomeação de Bento Bento, perdão, agora passou foi o Povo que o elegeu? Ele sabe que a sua renomeação a ser Bento Joaquim Sebastião Francisco Bento, para o não depende dos munícipes, pelo contrário ele agrada o alto cargo de governador da Província de Luanda, que, seu Partido, Chefe, única e exclusivamente com bajula- mal se acomodou no seu novo cadeirão, deu a conhe- ções, ofertas, oportunidades de negócios, defesas públi- cer o seu novo modo de encarar a ex-desgovernança de cas demagógicas, mentiras, etc., etc. sem preocupação e Luanda, que ele quer à viva força transformar em boa sabedoria, que é a degradação da imagem do Partido e governação. Para começar, Bento Bento, pediu aos novos do Governo que está em causa. administradores municipais uma maior transparência e disciplina no desempenho das suas funções. Fez esta Alguns Governadores e Administradores têm estratégias exigência durante o acto de empossamento dos novos pessoais, muito bem delineadas, sabem, querem chegar administradores municipais e do presidente da comissão ao poder para poder rapinar dinheiro suficiente, bens, administrativa municipal de Luanda, numa cerimónia oportunidades de negócios, para posteriormente fazer realizada no salão nobre do Governo Provincial. um outro tipo de actividade. Antevendo a desculpabi- lização dos actos praticados, sabendo que as culpas não O novo inquilino da Mutamba apontou o município de lhe irão cair em cima, despreocupado em saber, pensar Viana como sendo o mais problemático nesta vertente que futuramente isso poderá causar ou não \ problemas de boa governação, “por isso gostaria que esta situação ao seu Partido, ou em alguns membros do seu Partido. acabasse”. Inicia agora, disse ele, mais ou menos com Q O Governo angolano ao implementar De executar estas palavras, começou um novo modelo de gestão dos a Lei Autárquica encontraria uma forma de isentar municípios, por isso deve haver mais eficiência, transpa- algumas si imputações administrativas, políticas, p má rência, rigor, empenho e profissionalismo durante todas governação, de alguns governadores e administradores as actividades. incompetentes. Também seria uma forma de distribuir riqueza, dando competências, a nível fiscal financeiro, as autarquias, municípios e as empresas e por associa- 5.14 Bento bento arruma a casa ções intermunicipais, etc., etc. Cidadãos independentes Jornal semanario angolense competentes etc. ou de outras forças políticas candi 26 de Novembro de 2011 datavam-se, ganhariam eleições e o e administravam e governavam mal ou bem, sem responsabilidades directas O governador provincial de Luanda, Bento Bento, do executivo. Partilhando o poder que muitos ambicio- começou já arrumar a casa, como se diz na gíria, ao pro- nam, acham-se capazes, com intelecto superior ao ar que ceder, nesta quarta-feira, ao empossamento dos novos ocupam cargos administrativos e governamentais, mas administradores municipais nomeados, que, no quadro que não acontece porque têm outra cor partidária ou são da nova divisão administrativa da província, passam a apartidários. Portanto neste contexto em que vivemos ser apenas sete, contra os nove anteriores. o executivo deve partilhar o poder local. Nomear cida- dãos independentes, de outras forças políticas e sociais, A eles, pediu maior transparência e disciplina no tecnocratas, universitários, etc., etc. É uma estratégia desempenho das suas funções. apaziguadora. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 76
Disse que os novos responsáveis das administrações 5.15 Bento bento nomeia` compadre` devem assumir uma atitude forte com compromisso para para presidente da comissão a obtenção de resultados positivos, tendo em vista a ele- administrativa de Luanda vação da qualidade de vida dos luandenses. «Cada um Jornal agora reflectiu sobre a importância e a responsabilidade com 26 de Novembro de 2011 que a partir de agora se apresenta perante os munícipes da cidade capital, na resolução dos seus problemas», frisou. O novo inquilino do palácio provincial não podia se ter estreado, ao iniciar funções, ao velho e corriqueiro estilo O governador avisou os administradores para o término dos seus antecessores: exonerou todo pessoal de apoio dos falsos orçamentos, porque com ele haverá transpa- colocado no gabinete do anterior governador, incluindo rência obrigatória para todos e fiscalização permanente a secretária – geral do governo de Luanda, Maria Hilário as contas. «Podem esperar apoio, compreensão e uma actuação Este cargo é sobretudo de coordenação administrativa e diligente, mas não seremos coerentes com as insuficiên- não de confiança política, mas isso de ‘varrer’ a equipa cias ou situações injustificadas», alertou o governador. já experimentada herdada do antecessor é um vicio Quando aos administradores reconduzidos, Bento inculcado na cabeça dos novos estreantes nos cargos, Bento disse que devem ter em mente que as suas respon- a começar pelos ministros e prosseguindo a nível dos sabilidades são ainda maiores, pois o governo da pro- governadores provinciais. víncia e o seu titular não irão pactuar com apropriação anárquica de terrenos. Agindo assim não é possível manter a coesão e muito menos qualquer dinâmica antes conseguida. Tem de A propósito, apontou o município de Viana como sendo separar-se o trigo do joio, isto é, as funções de con o mais problemático nesta vertente, “por isso gostaria fiança política do governador, mantendo em funções que esta situação acabasse». os quadros meramente técnicos ou de perfil tecnocrata. «Quem trabalhar bem será reconhecido, quem não fizer Doutro modo, regressa-se sempre ao ciclo vicioso de será devidamente observado e responsabilizado, porque começar tudo de novo. vendo Luanda verifica-se que já há desenvolvimentos assi- naláveis, mas também vive ainda graves problemas estru- A taluda das novas nomeações ‘bentistas’ coube a turais, nomeadamente a nível das infra-estruturas, energia, José Tavares Ferreira, o anterior administrador do água potável e saneamento básico», alertou o governador. Sambizanga, nomeado para presidente da Comissão Municipal Administrativas de Luanda. Entretanto, uma fonte próxima de Bento Bento explicou que o governador não procedeu à exoneração de nenhum Prometendo pôr fim aos falsos orçamentos e fiscalizar dos antigos administradores municipais. «Simplesmente, permanentemente as contas, estas indirectas de Bento corno eles tinham sido nomeados ao abrigo de urna lei Bento apenas podem ter como destinatários anteriores que foi revogada, também os seus cargos deixaram de ter governadores, embora as generalizações sejam sempre existência legal», disse. abusivas. De acordo com o novo organigrama a pro- Caem neste quadro os antigos administradores dos víncia de Luanda passou a ter sete municípios em vez extintos municípios da Samba, Rangel, Maianga, dos anteriores nove. São eles: Luanda, Cazenga, Viana, Sambizanga e Ingombota, que passam à categoria de Belas, Quissama, Cacuaco e Bengo. distritos, todos integrados no novo e mega município de Luanda, que tem à testa José Tavares. 5.16 Cacuaco entre a expansão e a «É possível que alguns deles venham a chefiar os dis- desigualdade tritos que comandavam corno administradores munici- Jornal semanario o factual pais», anotou a nossa fonte. de 26 de Novembro a 03 de dezembro
Além de José Tavares, para município de Luanda, foram Cacuaco possui um clima tropical e seco, com regiões empossados os seguintes administradores municipais: áridas e semi-áridas, influenciadas pela proximidade Victor «Tany» Narciso (Cazenga), José Manuel Moreno do mar. A pesca continental, marítima, a agricultura e (Viana), Rosa Janota dos Santos (Cacuaco), Ana Maria os recursos do subsolo fazem desse município os seus da Silva e Silva (Kissama), Joana António Quintas principais valores. Na esfera social, o sector da Educação (Belas) e António Calado (!colo e Bengo), notando-se e Cultura controlou 242 escolas, das quais 92 são públi- um claro ascendente de senhoras. cas, 129 comparticipadas e 21 colégios. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 77
Das 92 escolas públicas, 58 são de ensino primário, O Sarampo teve dois casos, a cólera e a raiva, 27 casos 17 possuem quatro Puníveis e um Instituto Médio de registados nos últimos três meses, num intervalo de dois Gestão, assim como um Instituto Politécnica. Das 129 dias para cada patologia. escolas comparticipadas, 73 são de ensino primário e do I Ciclo. Dos 21 colégios, nove são de ensino primário. O município de Cacuaco conta somente com 10 médicos e 125 enfermeiros, a falta de fármacos e a busca pelo tra- O município viu crescer o número de crianças no pro- tamento tradicional associado à negligência de muitas cesso de ensino durante o ano em curso, com o controlo famílias são indicados como as principais causadoras de 185 mil e 866 alunos matriculados, dos quais 929 de morte fora dos hospitais. mil e 58 são do sexo feminino nos diferentes níveis de subsistemas. O número de professores controlados foi de O Comando Municipal da Policia Nacional registou, quatro mil e 526. em média, por mês, 59 crimes e 11,8 crimes por média quinzenalmente. Os mesmos foram praticados com Para o ensino especializado, foram controlados sete mil recursos à arma de fogo; salientam-se o homicídio volun- e 512 estudantes. Para estes, há falta de salas em condi- tário, frustrado, o roubo de viaturas e ofensas corporais. ções, dado que a sua realidade é ainda é uma miragem, A participação das Forças Armadas e a denúncia dos mas a direcção municipal, através do seu delegado, moradores fizeram que se evitassem mais casos de vio- Augusto Cabundi, assegura tudo estar a ser feito, para lência e assassinatos, mas os habitantes clamam pela que duas salas multi-funcionais estejam prontas, embora posição policial sobre os supostos meliantes que hora e se recorra às escolas 8014 e 8090. meia são libertados sem o prévio julgamento, quando são tido como perigosos. Segundo Adelina Gonçalves, estudante universitária e professora em Cacuaco, as dificuldades ligadas à má Desenvolvimento rural qualificação e requalificação da carreira docente, a De acordo com o programa municipal de desen falta de materiais de trabalho, atraso salarial e a fraude volvimento integrado e combate à pobreza, foi possível durante os exames, têm empecilhado o processo de ao sector da agricultura o cultivo de mais de 30 toneladas ensino e aprendizagem, facto que coloca em descrédito de hortícolas, nomeadamente tomate, cebola, pimento, muitas instituições de ensino e a sua direcção municipal. cenoura, repolho, couve, alface e beringela, numa área de mil e 168 hectares de terras. O Factual abordou directores de escolas e encarregados de educação. Estes manifestaram-se opositores à actual Os camponeses deram a conhecer que o êxito se deve realidade que o ensino está a ter. à mobilização e à preparação de associações, cooperati- vas agrícolas, resolução de alguns conflitos de terra nos Segundos eles, “a falta de seriedade na transmissão do bairros de Muzondo, Ludi e Funda, e à monitoria de saber, a ineficiente adaptação aos novos meios didácti- campanhas agrícolas. Em contrapartida, a não-transpa- cos por parte dos professores, a má concepção de reali- rência do microcrédito constitui handicap para os mais dades académicas feitas pelo governo provincial e a sua necessitados. implementação equivocada” são apontadas como coro lários do fraco rendimento dos estudantes do primeiro No sector da pecuária, a administração criou para as e segundo ciclo. populações pequenos albergues para aves, caprinos, suínos, ovinos e equinos. A Fazenda Agro-Industrial Afonso Bernardo, professor universitário, fez saber ao Giramunalu tem servido de fábrica de água mineral Factual que tais resultados também se devem à inefi- e transforma o leite do seu gado em diversos produ- ciente actuação da inspecção escolar sobre a assidui- tos derivados como queijo e iogurte. A mesma fábrica dade dos funcionários e sobre a denúncia dos casos que já recrutou mais de dez jovens, que se encontravam no mancham as instituições e a classe docente. mundo da delinquência.
Ele recomenda que a inspecção escolar passe a ser uma A pesca, considerado um sector de sobrevivência para unidade independente do Estado para a melhoria da muitos habitantes de Cacuaco, possui 18 cooperativas educação. artes anais, das quais 11 são marítimas e sete continen- tais, com uma frota de 380 embarcações. O sector da Saúde contou com cinco centros sani- Desde o princípio do ano até à data presente, mais tárias estatais, 16 postos de saúde, três salas de parto e de 160,6 mil toneladas de peixe foram capturadas. A uma sala de tratamento de cólera. sardinha, a Corvina e a Savelha destacam-se entre as redes dos pescadores. Estes funcionários consideraram Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 78 essa actividade positiva. A falta de chatas de fibras, de Luanda, Belas, Cacuaco, Cazenga, Viana, Icolo e Bengo motores, de combustíveis e de higiene ao longo da costa e Quissama. marítima, e viaturas para a inspecção, são consideradas como as dificuldades prementes. José Tavares Ferreira vai presidir a Comissão de Adminis tração dos municípios da capital, ou seja, o “executivo de Água, energia e habitação Bento Bento” fica agora sob a “batuta” de um general, O município de Cacuaco tem, igualmente, registado, na que pouco ou nada, fez no município do Sambizanga. área de geologia e minas, propriamente na exploração No entanto, o município do Sambizanga encontra-se de inertes, um desenfreado “anarquismo”, segundo o mergulhado “num mar” de problemas, com destaque Gabinete de Comunicação e Imagem que se explica pela para o débil saneamento básico, criminalidade e outros. falta de fiscalização e de critérios de exploração por parte de empresas e indivíduos desconhecidos. Enquanto administrador do Sambizanga, José Tavares Esses fazem de forma abusiva a exploração de inertes é acusado de nada ter feito, pois os moradores do Ngola no período nocturno. O município conseguiu até agora Kiluanje, um dos bairros mais críticos daquela cir fazer a terraplenagem de mais de trinta ruas. Os habi- cunscrição de Luanda, dizem que enquanto vigorou o tantes das comunas do Kikolo e da Funda dizem ser seu consulado José Tavares visitou apenas uma única ineficientes tais obras, devido à fragilidade do tapete e vez aquela zona, com o objectivo de acompanhar uma ao atraso na sua conclusão. disputa de terra no Farol das Lagostas. A zona do Ngola Kiluanje debate-se com vários problemas sociais, que Os habitantes consideraram a falta de água potável e vão desde o saneamento básico, a falta de energia eléc- de energia eléctrica elementos causadores do índice de trica, um dilema que afecta toda a capital do país. O delinquência acrescida, assim como de patologias cujas chamado bairro da Linha Férrea é descrito como pior crianças são as mais afectadas. As três comunas, Kikolo, em casos de segurança pública, tudo porque alguns Funda e Sede, não recebem, há mais de três anos, melho- dos meliantes que operam nas cercanias do ex-mercado ramento efectivo de energia e de água potável. Roque Santeiro usam aquele troço como esconderijo. A Muitos chafarizes estão soterrados na terra e outros única esquadra que foi implantada na zona não tem tido danificados. As razões não foram avançadas, mas os capacidades para prevenir o crime, uma vez tratar-se de munícipes afirmam tratar-se de uma “má gestão e falta um bairro periférico erguido fora dos padrões arqui de colaboração directa dos administradores” empossa- tectónicos, motivo pelo qual os efectivos não conseguem dos naquela circunscrição de Luanda. se desdobrar.
No sector da habitação, Cacuaco conta com a sua nova Ainda sobre o combate à criminalidade, os moradores cidade, de 10 mil casas das 60 mil habitações erguidas dizem que o consulado de JT sempre mostrou-se indife- e inauguradas pelo presidente de Angola, José Eduardo rente a este fenómeno. “Aqui a polícia tem feito um tra- dos Santos. A mesma cidade está localizada no Musseque balho dentro das possibilidades, porque existem bairros Sequele. O projecto tem 419 edificios. que ninguém consegue entrar e o mais agravante não têm esquadras policiais”, disse um agente da corporação. Manuel Cafussa, então administrador de Cacuaco durante cinco meses, foi demitido, sem esclarecimento As principais vias de acesso estão esburacadas, a ilumi- aos seus moradores, por causa de um comunicado nação é a “conta gotas”. Estes são alguns exemplos sobre tornado público, no dia 22 de Novembro. a realidade do Sambizanga.
5.17 Deixou problemas para enfrentar 5.18 Contestada nomeação de tavares outros Jornal semanario angolense Jornal angolense 26 de Novembro de 2011 26 de Novembro de 2011 Entre os edis nomeados, o antigo administrador muni- A nova divisão político-administrativa de Luanda teve cipal do agora distrito do Sambizanga, José Tavares como principal novidade a alteração para sete muni- Ferreira, é o que registou como que uma grande subida cípios, contra os nove como vigorou por mais há uns de categoria, ao tornar-se no presidente da comissão anos atrás. Por deliberação da Comissão Permanente do administrativa do maior município do país, o município Conselho de Ministros, o novo inquilino do palácio da de Luanda. Mutamba, passou a comportar agora os municípios de Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 79
Este mega município engloba os territórios do seus problemas, na qual manifestam, com a devida argu- Sambizanga, Samba, Ingombota, Maianga e Rangel, mentação, o seu protesto contra a nomeação do agora sendo também o maior parque industrial do país. E, se «homem-forte» do mega município de Luanda. Fica por levar em consideração que, no quadro do novo regime saber qual será a reacção do Chefe. tributário, cada município ficará com parte das receitas fiscais arrecadadas no seu território, então José Tavares Ferreira terá a seu cargo uma pipa de massa para gerir, 5.19 Parlamento altera funcionamento provavelmente mais do que alguns governadores pro- dos órgãos da administração local vinciais. Portanto, ele ocupa no momento um cargo de Jornal de Angola capital importância. 29 de Novembro de 2011
No entanto, a sua nomeação para a chefia do mega A Assembleia Nacional reúne-se hoje na sua segunda município de Luanda não está a ser bem digerida por sessão plenária a para a apreciação e votação final, o muitos dos seus antigos munícipes do Sambizanga, entre outros diplomas, da proposta até de alteração à que já empreenderam um movimento de contestação Lei de Organização e Funcionamento dos Órgãos da contra José Tavares Ferreira, como soube o Semanário Administração Local do Estado (Lei e nº17/l0, de 29 Angolense de fonte do MPLA. de Julho).
A fonte diz que os contestatários argumentam que se A ordem de trabalho inclui ainda a apreciação e votação o seu desempenho num espaço muito menor e menos final das propostas de Lei sobre a Organização Territorial complexo que o novo município de Luanda, como era o e de Delimitação dos Municípios da Província de Sambizanga, deixou muito a desejar, então nem dá para Luanda. imaginar o que dará a sua gestão na gigantesca circuns- crição que passa a estar a seu mando. «Só pode ser um Os deputados vão igualmente apreciar e votar as pro- desastre», como defendem os seus críticos. postas de lei de Delimitação dos Municípios do Bengo, do Arrendamento Urbano, e de Mediação Imobiliária. Segundo a fonte, entre os contestatários estão inclu- Outros diplomas a serem apreciados e votados são as ídos muitos militantes do partido no poder, pelo que propostas de lei sobre o Regime Cambial do Sector as estruturas locais do MPLA não deixaram de mani- Petrolífero, da Designação e Aplicação de I Medidas festar alguma apreensão, uma vez que o município de Restritivas Impostas por I Actos Internacionais e sobre o Luanda passa a ser a maior praça eleitoral do país, o que Estatuto das Línguas Nacionais. faz com que tenha de ser muito bem gerido para que não se registe nenhuma surpresa para a «grande família» na A agenda de hoje inclui igualmente a apreciação e votação hora da contagem dos votos. da s proposta de Lei que cria os Parques Nacionais de Luengué-Luiana, de Maiombe. Todas “as propostas A fonte diz ainda que os contestatários do Sambila à foram aprovadas na generalidade em sessões plenárias nomeação de José Tavares ameaçam mesmo empreender anteriores. Para amanhã, está prevista a terceira reunião uma manifestação de protesto, caso o MPLA não reveja plenária, que vai apreciar e votar, na generalidade, as o caso. Entre os defeitos apontados ao antigo admi propostas de Lei de Bases sobre o Regime Jurídico das nistrador do Sambizanga, além da suposta incompetên- Associações Privadas e das Associações Públicas. Outros cia que lhe é atribuída, avultam a sua alegada arrogân- diplomas a serem apreciados e votados na generalidade cia, vaidade e desprezo com que tratava os munícipes. são as propostas de lei que aprovam o Código Geral Tributário, o Código de Processo Tributário e o Código Uma fonte do MPLA em Luanda disse mesmo que se das Execuções Fiscais. A ordem de trabalhos da terceira ele não mudar de comportamento é bem capaz de não sessão prevê ainda a apreciação e votação, na generali- se aguentar no cargo o tempo que espera lá estar. «Ele dade, das propostas de Lei do Cinema e Audiovisual e tem de mudar, senão vai cair muito mais rápido do que do Mecenato. pôde imaginar», disse. Os parlamentares vão apreciar e votar o Projecto de Aliás, o Semanário Angolense soube que os contestatá- Resolução que Aprova a Movimentação de Deputados. rios do Sambizanga, que continuam assim sob a alçada Para preparar as duas sessões, os deputados da bancada de José Tavares, quando o queriam ver pelas costas, já parlamentar do MPLA analisaram ontem os diplomas e terão feito chegar uma carta a Bento Kangamba para tiveram contactos com os projectos. que a coloque na mesa do Presidente da República, um filho do Sambila e por isso um pouco mais sensível aos Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 80
6 URBANISMO E HABITAÇÃO Gabinete de Reconstrução Nacional. Entretanto e no início de processo de candidatura, a SONIP indicou a empresa Delta Imobiliária (até então praticamente desconhecida do mercado) como a responsável para agi- 6.1 Casas sócias são construídas para lização das vendas e da vertente comercial do empreendi funcionários mento (publicidade, relação com os bancos e seus clien- Jornal de Angola tes, divulgação do projecto). 02 de Novembro de 2011 Mas vamos às contas. A nova cidade contempla 710 edi- Governo da Província do Huambo projectou a constru- fícios, 24 creches, nove escolas primárias e oito secundá- ção de 13.600 casas sociais, nos municípios, comunas rias e 50 quilómetros de estradas. O projecto tem conclu- e aldeias da província para evitar o êxodo de quadros são prevista para Outubro de 2012. Até lá, o empreiteiro das suas áreas de origem para a cidade do Huambo ou deve entregar mais 595 edifícios, que correspondem a outros locais do país com melhores condições de vida. 16.822 apartamentos e 198 lojas. O acesso à nova cidade O Governo da Província do Huambo prevê entregar, está facilitado pela primeira circular de Luanda, via com ainda este mês, as primeiras casas sociais, que estão a ser duas faixas de rodagem em cada sentido, cujo número erguidas na comuna da Chiaca, município do Ukuma, pode ser aumentado, e separador central. soube o Jornal de Angola de fonte oficial. Estão dissolúveis, nesta primeira fase, 3.180 apartamen- A construção das residências insere-se no projecto do tos do tipo T3 A, B, C e T5. As casas T3 A e B têm 110 Executivo de construção de casas em todos os municí- metros quadrados, T3 C têm 120 e T5 têm 150 metros pios do país e combater o fenómeno da fuga de quadros quadrados. Os preços variam entre 120 mil e os 210 mil e funcionários da província, de acordo com o director dólares por apartamento. Só na primeira fase, e se consi- do Gabinete de Estudos e Planeamento do Governo da derarmos um preço médio de 150 mil dólares (com uma Província, Victor Chissingui. comissão para a Delta de 5% por imóvel), o lucro com a venda dos apartamentos será de cerca de 24 milhões de O director do Gabinete de Estudos e Planeamento do dólares. A receita total ronda os 477 milhões de dólares Governo da Província do Huambo, Victor Chissingui, norte-americanos. fez saber ao Jornal de Angola que esta estratégia se enquadra no Programa de Investimentos Públicos, que No final, depois de vendidos os 16.822 apartamentos prevê a construção de 200 casas em cada sede municipal (a um preço médio de 150 mil dólares), a receita bruta da província. será de 2,5 biliões de dólares. A comissão final da Delta Imobiliária, considerando os tais 5%, será de 126 Ainda em Novembro, o Governo prevê entregar igual milhões de dólares. número de residências a: os quadros e funcionários ligados à administração do município de Tchindjendje, A situação é ainda mais facilitada pela elevada demanda na província do Huambo. que a nova centralidade está a receber. Segundo foi tomado público, na primeira fase actualmente em exe- cução, a procura ultrapassou largamente a oferta de 6.2 Lucro garantido imóveis. Novo jornal 04 de Novembro de 2011 Com uma particularidade: 41 entidades e empre- sas – quase todas ligadas ao sector público – solicita- As contas são mais ou menos simples: por cada apar- ram a compra de apartamentos. Destas destacam-se tamento vendida na nova centralidade do Kilamba em os Ministérios do Ambiente, da Comunicação Social, Luanda, a empresa Delta Imobiliária irá arrecadar uma da Justiça, da Energia e Águas, Saúde, Administração comissão como sempre acontece no sector imobiliá- do Território, assim como as empresas Angop, Edições rio. No final do processo, se a comissão for de 5% por Novembro, Alfândegas, TAAG, TPA, Epal, Edel, ENE cada imóvel vendido, estamos a falar de 12t milhões de e Cimangola. Segundo o Novo Jornal apurou a escolha dólares garantidos no cofre da Delta. da Delta foi feita sem recurso ao mercado e sem a aber- tura de concurso público. Também não são conhecidas Como se sabe a responsabilidade da comercialização as capacidades da referida empresa, até porque a sua dos apartamentos construídos pelo Estado no Kilamba, actividade foi até agora quase invisível. Fonte da Delta, em Luanda, está nas mãos da SONIP – Sonangol em conversa com o Novo Jornal, rebate tal sensação: Imobiliária, depois da construção ter sido gerida pelo “Isso pode não ser bem assim. O que conta são as pessoas Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 81 que trabalham nas empresas. Há quem tenha vários Muandumba considerou estes jovens um exemplo do anos de trabalho e não apresenta mesmo assim um bom bom comportamento cívico a ser seguido pelos demais serviço”. Quanto aos supostos lucros que se antevêem, nos vários desafios que Executivo tem pela frente. O a fonte da Delta Imobiliária não comenta. “Não sei se ministro realçou que a entrega das casas é parte do com- será assim tão bom negócio. Depende. Neste momento promisso assumido pelo Executivo, no âmbito da estraté- temos de nos preparar para estudar bem os processos gia de combate ao défice de habitação no país, que aflige de candidatura, saber se as pessoas têm ou não capaci- principalmente a camada juvenil. dade de honrar os compromissos... Há que ter em conta também os custos operacionais da empresa”, frisou. Para a entrega simbólica das chaves das respectivas Neste momento trabalham na Delta mais de 30 pessoas casas, foram seleccionados seis jovens dos 115 contem- e a imobiliária tem quatro lojas abertas, em Luanda. plados nesta primeira fase. Procederam à entrega entida des governamentais como o ministro da Juventude e Recorde-se que recentemente o investigador, jornalista Desportos, Gonçalves Muandumba, a secretária para e activista cívico, Rafael Marques, publicou um artigo os Assuntos Sociais do Presidente da República, Rosa que acusava Manuel Vicente e Hélder Vieira Dias Pacavira, a vice-ministra da Família e Promoção da “Kopelipa” de serem os principais accionistas da Delta Mulher, Ana Paula do Sacramento, o vice-ministro da Imobiliária. O caso teve alguma repercussão fora de Comunicação Social, Manuel Miguel de Carvalho, a Angola, mas no país desconhece-se qualquer reacção vice-governadora de Luanda para área Social e Política, dos visados. Em Diário da República, sabe o Novo Jovelina Imperial e administradores do Banco de Jornal, na constituição da empresa surge apenas o nome Poupança e Crédito (BPC). de Ismenio Pereira Macedo, antigo administrador do Banco Privado Atlântico (BPA). Sonho concretizado Teimo Francisco é um dos contemplados do projecto. Esteve acompanhado da esposa e do filho, de quatro 6.3 Habitações distribuídas na anos. Q casal vivia em casa arrendada. A reportagem do urbanização do Camama Jornal de Angola disseram que concorreram ao “Angola Jornal de Angola Jovem” com fé de que tudo ia dar certo. O dia 29 de 04 de Novembro de 2011 Outubro marca no seu calendário o fim de uma vivência de vários anos em casa arrendada. “Depois do sorteio O Executivo, através do Ministério da Juventude e muitos não acreditaram que o projecto “Angola Jovem” Desportos, entregou sábado mais de uma centena de fosse uma realidade. Mas nós depositámos confiança. casas na zona da Camama em Luanda, aos jovens que se Valeu a pena esperar. As casas são boas”, disse Teimo. habilitaram à aquisição de imóveis no âmbito do projecto “Têm água canalizada e energia, arruamentos e digo “Angola Jovem”, que visa a construção e venda a título de que é preciso que as pessoas confiem nos projectos do crédito bancário de casas de média e baixa renda. Executivo. Esperámos e confiámos e hoje temos o sonho da nossa casa própria realizado”, salientou a esposa com As. 115 casas do tipo T-3 entregues, fazem parte da pri- um sorriso de alegria. meira fase do conjunto de casas dos jovens que concorre- ram no ano passado. O projecto, ainda em curso, visa a Foi um dia de muitas alegrias construção de 500 habitações até Junho de 2012. Esmeralda Rocha foi outra contemplada. Ela saltou ao ouvir o nome do marido no momento de receber ª chave A cerimónia de entrega oficial foi antecedida de corte de de uma das casas. fita inaugural pelo ministro da Juventude e Desportos, Gonçalves Muandumba, acompanhado de outras enti Osvaldo Rocha, o esposo, é operador de câmara da dades governamentais. Televisão Pública de Angola. Esteve de serviço naquele dia no local da cerimónia. Com a câmara ligada, ele espe- No discurso que se seguiu à inauguração oficial das casas, rava filmar o próximo beneficiado, quando ouviu o seu Gonçalves Muandumba chamou a atenção dos jovens nome a ser anunciado. O jovem, que estava próximo da contemplados no sentido de criarem comissões de mora nossa equipa de reportagem, suspirou de alívio e pediu dores, para o melhor controlo das condições de higiene e ao colega assistente para se ocupar do serviço. Momentos de segurança dos prédios. depois, Osvaldo e esposa festejavam, exibindo as chaves às câmaras, gritando “demorou mas conseguimos”. O governante elogiou os jovens que investiram no pro- jecto “Angola Jovem” e a perseverança em esperar até ao No grupo de jovens contemplados, na sua maioria momento ideal da entrega das suas casas. casad9s, na idade dos 18 aos 35 anos, cada um tem uma Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 82 história para contar, acerca dos caminhos que percor sair de casa com o recurso aos cartões de crédito (Visa, reram até à meta. Augusto e Juliana são casados e con- Mastercard, American Express, entre outros), aos depó- correram em Abril do ano passado. Têm dois filhos e sitos em conta ou ao Multicaixa (Cartão de débito). A vivem na casa dos pais de Augusto. O casal informou empresa classifica esta inovação como “um marco na que para a compra da casa do tipo T3, rés-do-chão e pri- história da Casacon e também das operações de vendas meiro andar, deu entrada de um sinal, correspondente em Angola”. a 17 mil dólares americanos, ao BPC. O custo total da O novo site, com o endereço www.casacon.comapre- casa é de 170 mil dólares. senta um menu que lista os diferentes departamentos onde se encontram agrupados os produtos comer Em função do contrato contraído com o Banco, cializados pela Casacon, os quais apresentam o preço e a devem pagar mensalmente 800 a mil dólares ameri disponibilidade bem como um “carrinho de compras” e canos durante 15 a 20 anos.Questionado sobre o preço outras funcionalidades e informações úteis. do imóvel, Augusto disse que “não considero alto em função do tipo e qualidade da casa. A empresa, fundada em 2003 pelo grupo Urbanova, conhecida pelo seu pioneirismo no domínio do ‘auto- O que está a acontecer à juventude e não só, é que muitos -serviço’, refere que, com esta inovação, pretende “criar não têm condições económicas suficientes. Mas Angola facilidades, comodidade, reduzir custos, deixar os pro- é um país que está em processo de desenvolvimento con dutos com valores competitivos, agregar vendas e trazer tínuo e muita coisa está a mudar. O exemplo pode ser a Casacon para um patamar mundial em conceito e constatado em todo o país. inovação”.
Depois da guerra, o desejo das pessoas não será satisfeito com toque de mágica, mas sim com muito trabalho, 6.5 Jovens querem apoio da banca para com projectos solúveis, confiança e na aceitação dos pro construção de habitações jectos do Executivo”. Jornal de Angola 10 de Novembro de 2011 As casas As casas do tipo T3, rés-do-chão e primeiro andar, estão Os jovens que receberam lotes de terrenos para autocon- construídas em blocos de prédios de cinco casas cada e trução dirigida nas novas urbanizações da província da comportam duas salas, cozinha, duas casas de banho, Huíla, querem o apoio das instituições bancárias, para três quartos e dois quintais, à frente e atrás. O projecto materializarem o sonho da casa própria. conta com redes de água potável, energia eléctrica, espaços de lazer e arborização. A área vai estar completa- O secretário Executivo do Conselho da Juventude na mente urbanizada com ruas principais de duas faixas de Huíla, Joaquim Tyova, manifestou esta preocupação rodagem, sendo uma para cada sentido, e secundárias, durante um encontro realizado na cidade do Lubango, bem como áreas de estacionamento e bermas. A casa comos representantes de distintas associações juvenis. modelo custa 170 mil dólares americanos e a aquisição é Joaquim Tyova frisou que o ano passado, as autoridades livre, cabendo aos interessados estabelecer contrato com governamentais distribuíram 2010 lotes a jovens para a a instituição responsável projecto “Angola Jovem”, uma auto-contrução dirigida. Mas devido à falta de apoios, parceria entre o Ministério da Juventude e Desportos e tudo continua parado. BPC, que prevê a construção de 500 casas até Junho de 2012. Esta situação, disse, preocupa o Conselho da Juventude na província. Por isso, o encontro serviu para reflectir sobre o apoio que as instituições bancárias podem dar 6.4 Casacon online na solução deste problema. Jornal o pais “Reconhecemos as limitações financeiras que os jovens 04 de Novembro de 2011 atravessam, pelo que pedimos aos bancos para criarem créditos destinados à auto-contrução dirigida”, salientou A Casacon lançou um novo site afirmando assim a sua Joaquim Tyova. O encontro contou com a participação presença no canal comércio electrónico. Trata-se de de líderes de organizações estudantis, desportivas, polí- um novo conceito de vendas, tanto na própria empresa ticas, religiosas, culturais e empresariais. quanto em Angola, dotando-a com uma ferramenta de O director da Juventude e Desportos na Huíla, Francisco vendas on-line de características profissionais. Barros, afirmou que as autoridades da província já dis- tribuíram 300 lotes, cabendo a cada jovem, mil metros O novo site da insígnia permite efectuar compras sem quadrados. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 83
Francisco Barros esclareceu que a primeira fase consiste Dezembro, no Estádio Municipal Edelfrides Palhares na distribuição de lotes de terrenos, e a segunda prevê a da Costa. cedência de créditos bancários, através da apresentação do título de propriedade e outros documentos. Desse sorteio, vão sair os 82 beneficiários que podem receber as chaves das moradias mobiladas, em Janeiro Francisco Barros informou que estão em curso nego- de 20 12. ciações avançadas com as instituições bancárias, para ajudarem o Governo Provincial a resolver o problema A Angop apurou que 82, das 92 casas do novo bairro habitacional da juventude. social, cujo preço é 35 mil dólares, reembolsáveis em 15 anos ao Banco de Poupança e Crédito, já estão Além da cidade do Lubango, a distribuição de lotes de concluídas e apresentam uma estrutura que engloba três terrenos para construção à juventude decorre nos muni- quartos, cozinha, sala e quarto de banho. cípios da Humpata, Quipungo, Matala, Caluquembe, Gambos e Cacula, informou o director da Juventude e Desporto na Huíla. 6.7 Militares podem beneficiar de habitações sociais em todo o pais Jornal o independente 6.6 Abertas inscrições para sorteio de 12 de Novembro de 2011 casas Jornal de Angola A Cooperativa Pérola Verde prevê construir cerca de 11 de Novembro de 2011 500 mil casas para os efectivos das Forças Armadas Angolanas (FAA), ex-militares, funcionários civis, viúvas As inscrições para o sorteio de 82 casas sociais, cons- e outros familiares destes informou o vice-presidente da truídas no âmbito do Programa Angola Jovem, no cooperativa, Paulino Pinheiro Dombele. bairro Nossa Senhora da Graça, arredores da cidade de Benguela, começaram na terça-feira, com dezenas de De acordo com o responsável, que apresentava o pro- candidatos. jecto durante uma conferência de imprensa, a ideia surgiu devido as solicitações feitas pelos militares e tra- Segundo o membro do Comité Provincial de Avaliação balhadores civis das FAA. dos Processos de Candidaturas, Daniel Ngunde, as ins- crições estão abertas até ao próximo dia 18 e obedecem Para dar resposta a estas solicitações, acrescentou, o ao Regulamento de Acesso e Concessão de Habitação comandante do exército ordenou a criação de uma Social à Juventude, aprovado à luz do Decreto Executivo comissão de gestão que trabalhou para o surgimento da n° 29/09 de 17 de Abril. mesma que se enquadra no âmbito do programa do exe- cutivo para a construção de um milhão de casas. Os candidatos devem ser cidadãos angolanos e ter entre 18 e 35 anos. Para se inscreverem, devem preencher Para si, como a intenção é de dar resposta imediata as uma ficha e apresentar atestado de residência, certidão necessidades habitacional destes cidadãos, a coopera- matrimonial ou de união de facto, fotocópia do Bilhete tiva firmou um acordo com a empresa Tamar Lda., que de Identidade, do cartão de contribuinte, declaração do conseguiu um financiamento de três milhões de dólares vínculo laboral e salarial, e a situação militar regulari- para as primeiras 50 mil casas, através da República do zada, no caso dos jovens. Vietname, que vai numa primeira fase suportar as cons- truções das habitações. Das 100 fichas de inscrição disponibilizadas no pri- Por seu turno, a gestora da empresa Tamar, Celeste de meiro dia, apenas 26 foram preenchidas pelos candida- Brito, adiantou que o projecto já está a ser implemen- tos, “uma situação normal, por se tratar da abertura do tado em sete das 18 províncias e nesta primeira fase serão processo”, referiu Daniel Ngunde. inauguradas, no dia 11 de Novembro, 10 casas modelos Confiante que a adesão dos jovens aumente nos próxi- em cada uma delas. mos dias, garantiu que foram montadas seis brigadas De acordo com ela, o projecto com prioridade a todos para o atendimento célere dos candidatos, entre as 8h30 os militares das forças armadas, no activo ou não, viúvas e as 12hOO, na sala de imprensa do pavilhão multiusos de guerra, será também extensivo a pessoas singulares, Acácias Rubras. porquanto a ideia não é criar um bairro meramente para os militares, mas com abrangência ao cidadão comum. Durante oito dias, devem dar entrada pelo menos 1.500 candidaturas, estando o sorteio marcado para dia 20 de “Cada um destes projectos comportam 50 porcento de Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 84 casas sociais (T3), 30 para as médias (T5) e para as altas Mostrou-se confiante que a adesão dos jovens aumente 20 porcento (T6), com uma cifra inicial de oito mil e nos próximos dias, garantido estarem montadas seis 100 casas cada província, sendo 5.600 sociais, 1.500 brigadas para o atendimento célere dos candidatos, no de média renda e mil de alta renda, num projecto que período das 8:30 às 12:00, na sala de imprensa do pavi- vai aumentando conforme as solicitações”, explicou. O lhão multiuso Acácias Rubras. preço das mesmas vai de 60 mil kwanzas, 150 e 250 mil Kwanzas, respectivamente. Acrescentou que durante oito dias devem receber pelo menos mil e 500 candidaturas para o sorteio, previsto Segundo a responsável, o acordo firmado com a coope- para o dia 20 de Dezembro, no Estádio Municipal rativa é sem fins lucrativos, porquanto o projecto visa Edelfrides Palhares da Costa. Desse sorteio sairão os 82 proporcionar habitações a esta franja da sociedade sem beneficiários, que poderão receber as chaves das mora- que tenham que pagar algum juro, daí que o pagamento dias mobiladas em Janeiro de 2012. é feito através do salário e quando se faz o primeiro pagamento já se recebe as chaves da casa. A Angop apurou que oitenta e duas, das noventa e duas De acordo ainda com ela, um dos principais critérios de casas do novo bairro social, cujo preço é 35 mil dólares acesso é ser sócio da cooperativa e ter as quotas todas norte americanos, reembolsáveis em 15 anos, ao Banco pagas. Tendo acrescentado ainda que se o beneficiário de Poupança e Crédito, já estão concluídas e apresentam tiver outra modalidade de pagamento é livre desde que uma estrutura que engloba três quartos, cozinha, sala e não se submeta a empréstimos que lhe façam perder o quarto de banho. propósito da organização, que é a isenção de juros. Depois da província do Kwanza Sul, onde será feita a entrega das primeiras 10 casas modelo, seguir-se-ão 6.9 Militares podem beneficiar de Kuando Kubango, Huambo, Benguela, Lunda Sul e habitações sociais no pais Luanda com três pólos. Jornal semanario factual 12 a 19 de Novembro de 2011
6.8 Jovens inscreveram-se para sorteio De acordo com o responsável, que apresentava o pro- de casas sociais jecto durante uma conferência de imprensa, a ideia Jornal o independente surgiu devido às solicitações feitas pelos militares e pelos 12 de Novembro de 2011 trabalhadores civis das F AA.
As inscrições para o sorteio de oitenta e duas casas Para dar resposta a estas solicitações, acrescentou, o sociais, construídas no âmbito do Programa Angola comandante do exército ordenou a criação de uma Jovem, no bairro Nossa Senhora da Graça, arredores comissão de gestão que trabalhou para o surgimento da cidade de Benguela, iniciaram-se terça-feira, com da mesma que se enquadra no âmbito do programa do dezenas de candidatos. Segundo o membro do Comité Executivo, para a construção de um milhão de casas. Provincial de Avaliação dos Processos de Candidaturas, Daniel Ngunde, as inscrições para o sorteio vão decorrer Para si, como a intenção é de dar resposta imediata às até dia 18 deste mês. As mesmas, explicou, obedecerão necessidades habitacional destes cidadãos, a coopera- ao Regulamento de Acesso e Concessão de Habitação tiva firmou um acordo com a empresa Tamar IDA, que Social à Juventude, aprovado à luz do Decreto Executivo conseguiu um financiamento de três milhões de dólares no 29/09 de 17 de Abril. para as primeiras 50 mil casas, através da República do Vietname, que vai numa primeira fase suportar as cons- Disse que os candidatos devem ser cidadãos angolanos truções das habitações. e ter idade entre 18 e 35 anos. Esses devem preencher a ficha de inscrição e apresentar atestado de residência, A gestora da empresa Tamar, Celeste de Brito, adiantou o certidão matrimonial ou de união de facto, fotocópia do projecto já estar a ser implementado em sete das 18 pro- bilhete de identidade, do cartão de contribuinte, decla- víncias e, nesta primeira fase, poderem ser inauguradas, no ração do vínculo laboral e salarial, assim como a situa- dia 11 de Novembro, 10 casas-modelo em cada uma delas. ção militar regularizada, no caso dos jovens. De acordo com ela, o projecto com prioridade a todos os Segundo a fonte, das 100 fichas de inscrição disponibi- militares das FAA, no activo ou não, viúvas de guerra, lizadas no primeiro dia, apenas 26 foram preenchidas será, igualmente, extensivo a pessoas singulares, por pelos candidatos, “uma situação normal, por tratar-se da quanto a ideia não é criar um bairro meramente para abertura do processo”. os militares, mas com abrangência ao cidadão comum. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 85
“Cada um destes projectos comporta 50 porcento de De modo global, a cooperativa de projecta construir casas sociais (f3), 30 para as médias (f5) e para as altas quinhentas mil casas por todo o país, urna fatia que leva 20 porcento (f6), com uma cifra inicial de oito mil e a afirmar -se como «um dos parceiros mais privilegiados 100 casas cada província, sendo 5.600 sociais, 1.500 de do Executivo na consecução deste objectivo». média renda e mil de alta renda, num projecto que vai aumentando conforme as solicitações”, explicou. Para a materialização deste ambicioso projecto, os O preço das mesmas vai de 60 mil Kwanzas, 150 e 250 seus responsáveis contam com o Poio institucional do mil Kwanzas, respectivamente. Executivo que se compromete em ceder espaços em todas as reservas do Estado. Segundo a responsável, o acordo firmado com a coope- Os promotores da iniciativa garantem igualmente que o rativa é sem fins lucrativos, porquanto o projecto visa projecto não está aberto somente aos efectivos das FAA, proporcionar habitações a esta franja da sociedade, sem mas a todos os funcionários públicos e privados interes- que tenham de pagar algum juro. Daí que o pagamento sados no projecto. é feito através do salário e quando se faz o primeiro pagamento já se recebem as chaves da casa. A cooperativa Pérola Verde surge em resposta às várias solicitações dos efectivos das Forças Armadas Ango De acordo com ela, um dos principais critérios de acesso lanas, facto que determinou criar-se uma comissão que é ser sócio da cooperativa e ter as quotas todas pagas. trabalhou junto dos vários organismos do Executivo Acrescentou que, se o beneficiário tiver outra modali- e culminou com a constituição da cooperativa Pérola dade de pagamento, é livre desde que não se submeta a Verde. empréstimos que lhe façam perder o propósito da orga- nização, que é a isenção de juros. Metade das casas que a cooperativa propõe construir serão de baixa renda, as restantes estão repartidas entre Depois da província do Kwanza-Sul, onde será feita a médias e alta renda, segundo o vice-presidente da coo- entrega das primeiras 10 casas-modelo, seguir-se-ão as perativa, o major Paulino Pinheiro, que falava durante a do Kuando-Kubango, Huambo, Benguela, Lunda-Sul e apresentação pública do projecto. Luanda, com três pólos. A construção de casas de média e alta renda deverá acon- tecer apenas quando as 18 províncias do país estiverem 6.10 Estado-maior do exercito junta- consolidadas com as casas económicas, tendo em conta se ao projecto habitacional do que o projecto é eminentemente social, consignado no executivo Programa Nacional de Habitação. Na sequência da Jornal o pais expansão do projecto no Dia do Exército a celebrar-se a 18 de Novembro de 2011 17 de Dezembro, serão apresentadas mais 70 casas nas províncias G do Huambo, Kuando-Kubango e Luanda, O Estado-maior do Exército associou-se ao desafio do com três pólos de casas de baixa renda. O major Paulino Executivo, na área da Construção, com a constituição Pinheiro tranquiliza os cinco mil sócios, garantindo que de uma cooperativa de âmbito nacional, denominada em todas as províncias os espaços onde serão erguidos Pérola Verde, cujo projecto predispõe-se edificar por os fogos já foram cedidos pelos respectivos governos todo país quinhentas mil casas até 2017. provinciais. A apresentação das casas no Kwanza-Sul contou com a presença da ex-vice-governadora para a O primeiro passo em direcção a este objectivo aconte- área social Fernanda Cabral, que agradeceu a escolha ceu na semana passada no Kuanza – Sul, província que da província para o arranque de projecto destinado acolheu a apresentação e a entrega das seis primeiras casas aos efectivos das FAA que contribuíram imenso para sociais de 100 metros quadrados, erguidas num espaço de a independência de Angola. “ Acho que é o momento 380 hectares e orçadas no valor de 60 mil dólares. oportuno para que possam ter dignidade, terem urna residência que possa dignificar o esforço efectuado ao Para o Kuanza Sul, a cooperativa consignou a constru- longo destes anos todos para que Angola alcançasse a ção de 5 mil casas económicas, médias e de alta renda, a paz”, disse Fernanda Cabral. serem erguidas em toda a sua extensão. De acordo com as informações apuradas durante a cerimónia, os sócios O Presidente do Conselho de Administração da Tamar, da cooperativa só começam a ser descontados nos salá- Celeste de Brito, a gestora da cooperativa, explicou que rios se já estiverem na posse da casa num valor a que não a intenção da sua empresa vem em resposta ao desafio é incorporado taxa de juro. Mas primeiro terão que se do Executivo em construir um milhão de casas, pro- associar ao projecto pagando a jóia de 150 mil Kzs. curando conferir dignidade a todos os soldados que Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 86 tanto lutaram para a independência e a preservação da de inauguração teve a presença de alguns elementos do soberania. Executivo e do governo da província e autoridades ecle- siásticas e tradicionais. “A nossa intenção não é construirmos urna vila para militares, porque hoje já não estamos em guerra, por isso O ministro dos Antigos Combatentes e Veteranos da devemos integrar outras franjas da sociedade”, explicou Pátria disse estar satisfeito por o projecto beneficiar a responsável da Tamar, quando anunciava a extensão antigos combatentes, pois a questão habitacional tem do projecto habitacional a pessoas de todos os extractos sido das mais os preocupam. “Estou muito satisfeito sociais. porque a grande carga que transporto aos ombros fica reduzida”, frisou Kundi Payhama. Emoções As lágrimas de emoção apossaram-se do primeiro con- O Vice – Presidente da República assistiu, à margem templado com uma casa do projecto, o oficial do Exército, da cerimónia, à apresentação, em slides, do Programa tenente José Castilho Capina, que ingressou nas Forças de Intervenção do Hospital Regional de Cabinda, que Armadas no ano de 1976, no tempo das extintas Forças prevê a construção, a médio e curto prazo, cri de uma Armadas Populares de Libertação de Angola. nova unidade hospitalar na província, com todos os ser- viços médicos. O projecto foi bem recebido pelo Vice- O tenente Capina até à entrega da casa, não sabia que Presidente da República, que recomendou ao governo da seria contemplado iria ser contemplado com uma resi província que o prossiga. dência, apesar de ser um dos filiados. Por isso, não resis- tiu a surpresa e não susteve as lágrimas de emoção. Até Projectos na saúde ao momento em que foi contemplado, o tenente Capina O ministro da Saúde afirmou que se o projecto se con- disse que vivia numa casa cujas condições são precárias. cretizar é muito importante para Cabinda face o cresci- Por esta razão, agora atribui elevada importância e cre- mento demográfico que regista. José Van-Dúnem referiu dibilidade sobre a viabilidade deste projecto. que o Programa do Executivo para o sector estabelece a municipalização dos serviços de saúde, com a atribuição “Parece mentira, não esperava. de recursos financeiros às administrações municipais, Recordo que quando o General Lúcio do Amaral passou para os aproximar das populações, e a criação de hospi- pela nossa unidade, anunciou o projecto, muito de nós tais regionais em Cabinda, Malanje, Huambo, Benguela estávamos a ignorar, não pensávamos que seria reali- e Huíla. O Vice-Presidente da República reuniu, ainda dade”, rematou o feliz contemplado. ontem, com os membros do governo da província, de quem recebeu informações sobre as acções sociais desen- volvidas nos últimos dois anos. 6.11 Ovas casas para antigos combatentes Fernando da Piedade Dias dos Santos visitou as obras Jornal de Angola de construção da Faculdade de Ciências Médicas e do 18 de Novembro de 2011 futuro campus universitário, o pavilhão multi-uso do Tafe, o Centro Infantil Pioneiro Zeca e a Escola secun- O Vice-Presidente da República, Fernando da Piedade dária do segundo ciclo do Buco Ngoio e inaugurou o Dias do Santos, inaugurou, ontem, em Instituto Poli técnico do Chiaze. Cabinda, 150 casas destinados 1 a antigos combatentes Para hoje, último dia da visita, fala à imprensa para fazer e ex.) Guerrilheiros da FLEC reintegrados no âmbito do um balanço desta deslocação a Cabinda. memorando de entendimento.
O complexo residencial, que recebeu o nome de Santa 6.12 Retrato colorido da moderna Catarina, nove quilómetros a sul da cidade de Cabinda, cidade do kilamba constituída por casas tipo T3, têm sala de estar, varanda, Jornal de Angola cozinha e quarto de banho e já dispõem de mobiliário, 19 de Novembro de 2011 adquirido pelo governo da província. Todos os caminhos vão dar ao Kilamba, pois já começa- O empreendimento está orçado em 11 milhões de ram a ser CI vendidos os apartamentos da nova cidade. dólares, oito milhões dos quais investidos nas obras São 9 horas de quinta-feira, 10 de Novembro. A cidade de construção e os restantes em infra-estruturas exte- 11 tem edifícios imponentes: O ar puro circula entre os riores, como vedação, pavimentação, sistema de drena- edifícios c separados por espaços verdes te e cuidados gem de águas, iluminação e arborização. A cerimónia tapetes de relva. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 87
No passeio da longa Avenida Imperial Santana, os pen- Equipamentos modernos samentos perdem-se entre o desabrochar simultâneo de Todos os prédios estão equipados com sistema para a flores em quase todos os s jardins da nova centralidade ligação à Internet, parabólica, TV cabo e ar condicio- do Kilamba, inaugurada em Julho deste e ano pelo nado. Cada morador terá ainda um lugar de estaciona- Presidente da República, t José Eduardo dos Santos. mento em áreas previamente definidas.
A cidade tem todas as características de qualquer outra Quanto aos moradores que possuem mais de duas via- distinta e moderna do mundo: áreas residenciais para turas, a administração do Kilamba pode criar soluções. albergar mais 400 mil habitantes, estabelecimentos A cidade reservou algumas áreas para a construção de comerciais, zonas de lazer, escolas, hospitais, uma rede infra-estruturas onde pode ser desenvolvido todo o tipo viária eficaz e um canal ferroviário. de comércio. Parques de estacionamento, restaurantes, ginásios, A cidade do Kilamba é considerada média por possuir até clubes, colégios privados são equipamentos da cidade do 500 mil habitantes. Apesar de ainda não estar concluída na Kilamba. sua totalidade, já tem todas as infra-estruturas e os espaços verdes estão bem cuidados. A cidade está toda arborizada. Cada bloco de edificios da cidade do Kilamba tem escolas e creches. Os alunos não têm de percorrer longas Ambiente sadio distâncias para ir à escola. Os estabelecimentos de ensino Os habitantes da cidade do Kilamba têm um ambiente podem arrancar no início do próximo -ano lectivo. sadio. Em cada esquina da cidade há contentores e Os mercados e hospitais também fazem parte do leque pequenos recipientes de lixo fixos. O saneamento básico de infra-estruturas da cidade do Kilamba. Os hospitais tem um sistema de esgotos eficiente. O abastecimento estão equipados com meios tecnológicos modernos para de água canalizada foi projectado com a construção de garantir a um tratamento adequado e de qualidade aos centrais de armazenamento para que o morador tenha doentes. água potável permanentemente. Integrada no novo município de Belas e erguida numa superfície de 3,2 milhões de metros quadrados, a cidade A estação de tratamento de água abastece em exclu- tem 71 O edificios, 24 creches, nove escolas primárias sivo o que é garantia de um fornecimento permanente. e oito secundárias e 50 quilómetros de vias. O projecto Kilamba é _a cidades de Angola mais bem iluminada. tem conclusão prevista para Outubro de 20 12. Até Para chegar à cidade do Kilamba existe uma rede de Venda dos imóveis transportes públicos eficiente. Cada bloco de aparta mentos tem paragens para facilitar a vida dos moradores. A venda dos apartamentos na cidade do Kilamba decorre a bom ritmo, de acordo com o administrador da Delta O trânsito dentro da cidade é regulado por um moderno Imobi1iária, Paulo Cascão. Das mais de 70 mil pessoas sistema de sinais verticais, horizontais e electrónicos. inscritas, 30 por cento confirmaram interesse em adqui- Em alguns cruzamentos há passagens superiores para rir os imóveis a pronto pagamento. peões, porque os administradores da cidade do Kilamba prevêem um tráfego intenso quando as casas estiverem “Até final desde mês os clientes podem ter as suas casas, todas habitadas. quando todo o processo estiver concluído. As restantes vão comprar as casas através do financiamento bancá Kilamba tem edificios diferenciados em tamanhos, cores rio. Nós vamos aguardar já que estão disponíveis 3.180 e designação. Um bloco, por exemplo, tem mais de dez apartamentos”, referiu o Paulo Cascão. edificios com a mesma cor, mas com tamanhos diferentes. Os mais baixos têm cinco andares e possuem apartamen A Sonip – Sonangol Imobiliária ~ Propriedades, tos com três quartos e uma área de 110 metros quadrados. empresa gestora dos imóveis, anunciou igualmente a comercialização de 35.536 novos apartamentos, ainda Os edificios mais altos, que vão de nove a 13 andares, em construção, nas centralidades do Kilamba (16.822), têm apartamentos de três a cinco quartos e as suas áreas Cacuaco/Dande (10.002), Zango (2.464), Quilómetro varia, dos 120 aos 150 metros quadrados. Os prédios 44 (2.248) e no Musseque Capari (4.000), habitações. têm elevadores modernos e portas electrónicas. Cada morador tem um código de acesso.
Os apartamentos têm boas salas, cozinha com despensa e lavandaria, quartos e uma suite. Todos têm roupeiros embutidos. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 88
6.13 Construidas casas para Apoio a doentes de lepra desfavorecidos Angélica Gonçalves disse que 46 pessoas idosas, Jornal de Angola incluindo 42 portadoras de deficiências causadas pela 19 de Novembro de 2011 lepra, em situação de extrema vulnerabilidade, estão sob controlo da direcção provincial do Ministério da A directora provincial da Assistência e Reinserção Social Assistência e Reinserção Social. (MINARS) do Bié, Angélica Gonçalves, Informou ontem que cerca de 50 casas foram construídas com Quanto à situação médica e medicamentosa, alimen- materiais rudimentares, na comuna de Sande, município tar, vestuário e apoio moral, a responsável disse que os de Catabola, para acolher cidadãos desfavorecidos que idosos vivem actualmente em condições mínimas, tendo perderam as suas residências durante conflito armado. em conta a pequena dimensão da estrutura actual.
Angélica Gonçalves disse que a instituição está igual- Angélica Gonçalves referiu que a maior parte dos idosos mente a ajudar 40 pessoas da comuna de Malengue, existentes no actual lar de Cangalo, no município do município de Chitembo. Cuito, foi ali parar em resultado de conflitos ocorridos na localidade. Os beneficiários, que abandonaram as suas casas por suspeita de invasão das mesmas por animais ferozes, As dificuldades financeiras e sociais, como a marginali- estão a receber chapas de zinco e outros materiais para zação, exclusão, acusações de feitiçaria, agressões físicas, facilitar a construção das referidas residências. homicídios e expulsão do seio familiar e da comunidade também levaram os mais velhos aos referidos lares. A directora do MINARS disse que, em colaboração com as administrações municipais, uma escola primária e A responsável salientou que alguns idosos estão a praticar um posto de saúde estão a ser construí dos em benefício a actividade agrícola, artesanato, alfaiataria, sapataria e da população da localidade. olaria para aperfeiçoarem as suas habilidades e garantir o seu sustento, aliás é assim que tem de ser. A província Angélica Gonçalves aclarou que a nível do governo local do Bié possui, pelo menos, 12 residências gémeas que está prevista a construção de um centro infantil e outro albergam os idosos desfavorecidos, além de outras 16 comunitário para albergar pessoas deficientes para a que acolhem os doentes de lepra e seus filhos. A falta de formação profissional. A par destes empreendimentos, creches, na cidade do Cuito, é o principal motivo para a quatro centros comunitários, sendo dois infantis, um construção de tais infra-estruturas, no sentido de ajudar artesanal e de formação profissional, estão em fase final as crianças desamparadas e filhos de trabalhadores. da sua construção, na cidade do Cuito. Angélica Gonçalves salientou que no município de O objectivo, segundo a responsável da Assistência e Catabola está a ser erguido um centro com conclusão Reinserção Social, é albergar crianças e adultos em idade prevista para este ano. Este programa, que visa a dimi escolar e profissional. nuição de crianças desamparadas, vai continuar.
Área social merece atenção O MINARS presta igualmente apoio aos centros reli- A directora provincial disse que a situação social no Bié giosos das igrejas Católica, Evangélica Congregacional não é dramática, mas é necessária uma atenção especial e dos Irmãos em Angola, que encontram, às vezes, difi do governo e de outras instituições da sociedade. Apenas culdades no funcionamento das instituições de caridade. dois especialistas em educação social estão integrados no MINARS e daí a aposta na formação de quadros para o atendimento dos utentes dessa área.
A directora local do MINARS disse que foram selec- cionadas cinco educadoras, que são vigilantes de infân- cia, para o curso de formação para formadores, num processo contínuo, no sentido destas aperfeiçoarem e transmitirem os conhecimentos aos restantes colegas da província. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 89
6.14 Fundo dá garantias para Anunciado em 2008, o Programa habitacional do empréstimos Executivo prevê, até o próximo ano, a construção de Jornal de Angola um milhão de fogos habitacionais em todo o país, para 25 de Novembro de 2011 reduzir a grande procura de casas no país.
Os bancos comerciais assinaram, ontem, em Luanda, um acordo com o Fundo de Fomento de Garantia 6.15 Novas casas para o interior da Habitacional, que vai servir de avalista para as pessoas provincia que pretendam comprar casa através de crédito bancário. Jornal de Angola 25 de Novembro de 2011 O fundo vai assegurar até 80 por cento do valor do imóvel. O documento assinado ontem estabelece que a A comissão provincial da habitação do Cunene reuniu, coordenação apresente uma lista de projectos ilegíveis à na cidade de Ondjiva, com os administradores munici- candidatura habitacional. pais, com quem discutiu o modelo de construção, em 2012, de 200 casas em cada circunscrição. O coordenador do fundo, Carlos Panzo, adiantou que o O consultor do governo provincial para o programa modelo para adesão já está estruturado. O cliente deve nacional de construção habitacional, Augusto Sebastião, dirige-se ao seu banco e candidatar-se. O banco, por sua propôs quatro modelos, mas os administradores optaram vez, apresenta a candidatura ao Fundo de F 0mento de pelo economicamente mais viável. . Garantia Habitacional, que tem a missão de interme- A primeira hipótese apresentada prevê a construção das diar a relação entre os bancos comerciais e os credores casas sem reboque, que deve ser feito pelo beneficiário, habitacionais. segunda, com reboque, a terceira, já pintadas, e a última, com todos os acabamentos. . O ministro do Urbanismo e Construção, Fernando da Fonseca, disse esperar que os bancos contribuam para O governador provincial, que participou na reunião, dinamizar o sector imobiliário. “Os bancos devem pro- anunciou que os terrenos para a construção das casas já curar estimular esta dinâmica, criando parcerias e opor- estão disponíveis nos municípios da Cahama, Cuvelai, tunidades com as cooperativas habitacionais, para que Ombadja, Kwanhama, Namacunde e Curoca. possam desempenhar um papel de ajuda ao Executivo “Vamos receber equipamentos provenientes da China nesse sentido, para a habitação social”, referiu. para complementar as casas, como mosaicos, chapas, tectos falsos, janelas, portas e louças sanitárias”, disse O presidente do Banco de Poupança e Crédito (BPC), António Didalelwa, que se mostrou esperançado na Paixão Júnior, disse que o acordo dá a possibilidade conclusão das obras até Agosto de 2012. de alargar o leque de operações relacionadas com o crédito habitacional. Por seu lado, Coutinho Nobre O governador António Didalelwa lembrou que foram Miguel, do Banco Sol, afirma que qualquer cliente disponibilizados, a cada município da província do pode aderir-ao crédito habitacional, desde possua os Cunene, 2,6 milhões de dólares para a construção de requisitos exigidos. casas para professores, enfermeiros e outros funcionários públicos. Assinaram o acordo os presidentes do BPC, do Banco Sol, BNI, BPA, Banco Keve, BCI, BFA e BAI. O acto foi assistido pelos ministros das Finanças, Carlos Alber 6.16 Ministro defende controlo dos to Lopes, do Urbanismo e Construção, Fernando da preços das casas Fonseca, e pelo governador do Banco Nacional de Jornal de Angola Angola. O crédito à habitação para aquisição de casas 29 de Novembro de 2011 no âmbito do Programa habitacional do Executivo vai ser feito tendo como referência a taxa LUIBOR, que é a O ministro das Finanças, Carlos Lopes, afirmou que o média resultante das taxas de juro cobradas pelos bancos valor ideal para uma casa social deve ser, no máximo, comerciais nas operações entre si. O Banco Nacional de 60 mil dólares e que o Executivo deve trabalhar para Angola anunciou, recentemente a taxa média de juros a controlar os preços das habitações. vigorar para os empréstimos a serem concedidos pelos bancos comerciais. Executivo lançou um programa para “Temos um mercado onde há disfunções muito sérias no facilitar a aquisição de casas para a população, principal domínio da formação de preços e ainda especulativo”, mente os mais carenciados. disse ó ministro, no domingo, no programa Espaço Público, da TPA, acrescentando que o Estado deve Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 90 actuar no sentido de proteger os cidadãos com menos fez o anúncio, disse que, relativamente à dívida externa, posses. “Essa é a função social do Estado”, disse. o país deve, entre outros, 5,6 mil milhões de dólares Carlos Lopes explicou, também, as funções do Fundo à China, 1,8 mil milhões ao Brasil, 1,4 mil milhões a de Fomento Habitacional, mecanismo criado pelo Portugal e 1,2 mil milhões a Espanha. Executivo para garantir aos cidadãos 80 por cento do valor do crédito a contrair com um banco comercial Carlos Lopes afirmou que o crescimento de 12,8 por para a compra de uma moradia. A primeira função do cento, que a economia angolana vai registar no próximo fundo, disse o ministro, é promover a habitação social, ano, vai ser sustentado pelos dois sectores: petrolífero e apoiando a construção de casas sociais para a população não petrolífero. Na área petrolífera, alguns campos vão mais carenciada. retomar a produção, fixando o crescimento deste sector em 13,4 por”cento, ao contrário dos três anos anteriores, Quanto à possibilidade de os cidadãos de baixo rendi- em que se registaram quedas de 5,1 por cento (2009), mento adquirem habitação numa centralidade, referiu três por cento (2010) e 8,8 por cento (2011). que o conceito de centralidades não é apenas visto numa óptica de luxo. Como exemplo, referiu a centralidade do No sector não petrolífero, o crescimento esperado é de Kilamba, onde estão, também, a ser desenvolvidos projec- 12,5 por cento, impulsionado pela expansão o das áreas tos de casas sociais, para permitir que não haja segregação dos diamantes (10, I por cento), energia (11,8 por cento), em termos da classe média alta, média e baixa, que deve construção (7,5 por cento) e agricultura (13_SoPOT beneficiar de todas as facilidades que o lugar oferece. cento). A evolução nestas áreas, impulsionada, também, pela execução do Programa de Investimentos Públicos. Esclareceu, ainda, que as casas sociais são aquelas que, Segundo explicou, é preciso que o EL Produto Interno providas de condições urbanísticas aceitáveis, como Bruto (que é a soma de toda a riqueza produzida no arruamentos, sistemas de esgotos, água e luz, são cons país durante um período) cresça na dimensão esperada truídas utilizando um modelo que permite que o preço para o próximo ano, para que o Executivo possa, através final esteja mais ou menos de acordo com a capacidade de políticas concretas, melhorar os serviços de saúde, financeira dos cidadãos com rendimentos baixos. O educação e habitação. ministro afirmou, igualmente, que determinadas formas “São estes os indicadores que nos permitem qualificar de apresentação do Orçamento Geral do Estado vão ser o nível de desenvolvimento de um país”, disse o minis- reavaliadas para que os cidadãos tenham uma verdadeira tro das Finanças, referindo que a economia “angolana noção de como as despesas são distribuídas pelas dife- tem progredido desde 2002 e manteve-se mais ou menos rentes categorias. estável em 2005 com uma subida de 10,4 por cento.
A reavaliação consiste na desagregação de determinadas Em 2006 e 2007, continuou o ministro, Angola registou rubricas orçamentais. “Há, por exemplo, uma rubrica um crescimento muito acentuado, de 25,7 por cento, residual que diz serviços não especificados, vamos rea apesar de depois, em 2008, ter descido para 15 por valiá-la, analisar com profundidade o classificador e ver cento, os indicadores continuaram positivos em2009, se efectivamente conseguimos desdobrar esta verba, ava- 2010 e 2011. liada em 10 por cento do orçamento, e imputá-la nas diferentes categorias de despesas”, disse. Reforma tributária o ministro também falou do processo de reforma tributária em curso no país, dizendo que este O ministro afirma que o objectivo é mostrar a forma está a contribuir para aumentar a fiscalização, reforçar a como a despesa é distribuída. “Não há aqui nenhum pro- capacidade interna e de resposta da administração. blema de transparência. O que pretendemos é transmitir à população, de uma forma mais desagregada, como o Os resultados são “muito palpáveis no domínio do orçamento se comporta, sobretudo na componente da aumento das receitas tributárias”. despesa”, afirmou o ministro. Esta decisão surgiu depois A reforma está dividida em três fases e vai ser desenvol- de uma chamada de atenção da Assembleia Nacional vida até 2015. A primeira fase, iniciada no ano passado, durante a discussão do documento na especialidade. cingiu-se ao levantamento de toda a situação ligada “ à administração tributária. A segunda na revisão de toda Dívida do país a legislação subjacente à política fiscal e tributária. A A dívida total de Angola está orçada em 31,4 mil milhões última, que começa no próximo ano e termina em 2015, de dólares, 17,8 mil milhões dos quais de dívida externa é a fase de aplicação concreta das medidas. e o restante de interna, que resulta de emissões de obri- gações e Bilhetes de Tesouro, para financiar o Programa Para fazer face ao processo de reforma, o Ministério das de Investimentos Públicos. O ministro da 1iinanças, que Finanças admiti 30 jovens licenciados que, depois de Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 91 submetidos a um curso de especialização, foram enqua- produto financeiro do FFH que ao mesmo tempo servirá drados na Direcção Nacional de Impostos e nas repar- de avalista dos cidadãos que pretendam um financia- tições fiscais. mento bancário. “O fundo vai garantir este financia- mento aos bancos de acordo a formalização do contrato e irá cobrir ate 80 por cento de risco de incumprimento 6.17 Fundo habitacional e operadores do crédito”, sustentou o responsável. da banca assinam acordo Jornal de economia e finanças Segundo Carlos Panzo, o modelo está em andamento, 29 de Novembro de 2011 uma vez que o cidadão deve contactar o banco para ter acesso as condições de adesão, acrescentando não O Ministério da Construção e Urbanismo através do haverá qualquer ligação directa entre o cidadão e o FFH, Fundo de Fomento Habitacional (FFH) assinou na mas sim entre o banco e os mutuários isto depois da última quinta-feira, em Luanda, com os bancos comer- formalização do documento. ciais públicos e privados que operam no mercado, um acordo para a -formalização de contrato de habitação No entanto, o Executivo apresentará, brevemente, uma social para a população. lista de projectos e com base neste documento os bancos vão escolher os que melhor se enquadram para o seu A cerimónia da assinatura do acordo decorreu no edi- financiamento para posterior aprovação do Governo. fício do Ministério das Finanças e testemunhado pelo titular da pasta Carlos Alberto Lopes, ao governador Interrogado se a Centralidade do Kilamba está contem- do Banco Nacional de Angola (BNA), José Massano plada neste pacote, Carlos Panzo disse que o programa de Lima e do ministro da Construção e Urbanismo, que o Executivo está levar a cabo é de âmbito nacional, Fernando Fonseca. não sabendo se a Centralidade do Kilamba está ou não contemplada no referido projecto. O acordo foi assinado pelo coordenador da comissão de gestão do FFH, Carlos Panzo, e pelos presidentes Operadores satisfeitos de Conselho de Administração de nove operadoras Por sua vez, Paixão Júnior, presidente do Conselho de bancárias que actuam no mercado nacional, designa- Administração do BPC, assegurou que este projecto vai damente, BPC, BCI, BFA, Sol, BAI, Keve, BNI, (BPA permitir aos bancos realizarem operações que não eram e BIC. (Fernando Fonseca, ministro do Urbanismo e efectuadas, permitindo-os a fazerem publicidades para Construção, disse na ocasião que o I Executivo está a que as populações adquiram as habituações. contar com a I participação dos bancos para I no futuro trabalharem em t conjunto na construção de habitação “Estamos convencidos de que este projecto terá êxito condigna para as populações e o FFH vai cumprir com e acima de tudo terá um tratamento especial da nossa o seu papel assim s como os bancos. parte, isto não quer dizer que os demais projectos serão descriminados, pois para nós todos os outros serão legí- “Há uma dinâmica no crescimento no sector de veis”, sustentou o economista. habitação e isso deve nos estimular criando parcerias com os outros organismos para a construção de diversos Segundo o responsável, “dentro em breve vamos receber tipos de habitação para diferentes níveis da população”, uma lista onde constam todos os projectos e a partir dela para quem, as forças armadas, os antigos combatentes saberemos escolher os que foram de encontro com as têm as suas cooperativas e estas estão ajudar o fundo nossas exigências. no cumprimento do seu papel”, assegurou Fernando Fonseca. Para o presidente da Comissão Executiva do Banco Sol, Coutinho Nobre Miguel, assegura que a instituição que Para o governante, as empresas de construção civil dirige tem todas as estruturas montadas para receber poderão comparticipar igualmente neste projecto de e executar o projecto, visto que possuem um fundo de habitação para que os objectivos traçados pelo Executivo garantias bastante aceitável. venham a surtir os efeitos desejados no mais curto espaço de tempo, assegurou o ministro, que igualmente mos- trou-se bastante satisfeito pela disposição dos bancos em apoiar o projecto.
Cobertura do Executivo Para Carlos Panzo, o acordo ora assinado vai regular o Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 92
6.18 Construidas milhares de moradias O director-geral do Kora-Angola, Nirnrod Gerber, Jornal de Angola disse ao Jornal de Angola que este projecto foi con- 30 de Novembro de 2011 cebido para que fosse economicamente viável, social- mente justo e transparente e ecologicamente correcto, A Kora-Angola vai construir na província do Huambo ao mudar o conceito urbano para comunidade urbana. 12 mil moradias, atravé9’do projecto habitacional Horizonte, que foi apresentado ontem ao governo da “E nesta lógica que vamos funcionar, de forma a ofere- província. cer a melhor qualidade ao melhor preço.”
O projecto vai ser desenvolvido em quatro localidades, Nirnrod Gerber disse ainda que este novo conceito Bailundo, Caála, Chipipa e Lossambo. de comunidade urbana, por eles desenvolvido, visa o As residências e apartamentos do projecto, de média crescimento de novos pólos de desenvolvimento social renda, são do tipo T3 e construí das numa área bruta e económico, bem como a descentralização do cresci- de aproximadamente 100 metros quadrados. mento populacional em Angola. O município da Caála tem previstoa a construção de quatro mil residências e o Bailundo três mil. No “Particularmente no Huambo, onde vão ser edifica- ... Huambo, a localidade do Lossambo vai ser contem- das 12 mil habitações, este projecto abre várias jane plada com duas mil residências e a comuna da Chipipa las de oportunidade, principalmente se considerarmos com três mil. que estas casas vão ser o lar de mais de 70 mil pessoas e o local de trabalho de outros tantos milhares de O projecto habitacional Horizonte, com um período profissionais.” de execução de três anos, contempla igualmente a A Kora-Angola, para esta empreitada, conta com 60 construção de infra-estruturas de acesso às habitações, trabalhadores, 30 por cento dos quais são estrangeiros. desde os armamentos, redes e sistemas de drenagem de Além do Huambo, o projecto Horizonte vai chegar’ águas residuais, domésticas e pluviais, redes de abas- às províncias de Luanda, Bié, Huambo, Kwanza-Sul, tecimento de energia eléctrica, abastecimento de água Uíge e Moxico. potável e iluminação pública.
A directora comercial da Kora-Angola, Lídia Santos, disse que na primeira fase do projecto, tanto as mora- dias como os apartamentos vão ser vendidos ao equiva- lente va55.600dólares.
Lídia Santos referiu que o processo de aquisição pode iniciar p, com um contrato de reserva do imóvel, com base num pagamento A de cinco por cento do valor. No momento da assinatura do contrato – com essa de compra e venda, o cliente tem que dar outro adianta de dez por cento. O montante restante é liquidado aquando da entrega da casa ou faseadamente ao longo da construção. “O pagamento das residências é a pronto, mediante capitais próprios ou através de um crédito habitação. A Kora-Angola está em negociação com”vários bancos privados para estabelecer protocolos de parceria, de forma a facilitar o acesso ao crédito habitação por parte dos compradores”, disse.
Lídia Santos referiu que a Kora-Angola vai ter no Huambo um stand de vendas, onde vai poder receber os seus clientes e esclarecer quaisquer dúvidas que tenham acerca do projecto Horizonte. Nestes espaços os clientes celebram os contratos de reserva. O stand do Huambo está localizado no município da Caála. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 93
7 TERRA De acordo com” os técnicos do CNTI, O sistema oferece como vantagens a dinamização no atendimento aos munícipes, a disponibilização de informações, em tempo real, dos processos recebidos pela administração 7.1 Maianga tem novo sistema e a responsabilização dos seus funcionários. informático para a emissão de atestado de residência Jornal de Angola 7.2 Administração descarta 02 de Novembro de 2011 responsabilidade na ocupação da praia O Governo Provincial de Luanda apresentou ontem o jornal o pais novo sistema informático de emissão de novos modelos 04 de Novembro de 2011 de agregado familiar, cartões e atestados de residência, durante uma cerimónia realizada na administração O administrador da Samba, Adão Malungo, descartou municipal da Maianga, presidida pelo governador inte- ontem qualquer responsabilidade por parte da adminis- rino de Luanda, Graciano Domingos. tração que dirige no que toca à venda da praia do Morro dos Veados, situada no bairro Benfica, em Luanda, isso Durante a sua intervenção, o governador interino mani- em resposta a uma reportagem avançada por O PAIS festou à direcção do município da Maianga a sua satis- na edição anterior a esta sobre a privatização da referida fação pela “modernidade da gestão administrativa e zona costeira. visão de futuro” e considerou que Luanda deve abraçar o que de melhor se utiliza em tecnologia para a gestão “A ocupação da referida área pela Ocean Drive coinci- de territórios. diu apenas com a nossa entrada no comando da admi “Para uma melhor governação, os elementos estatísticos nistração, mas nós não temos nada a ver com a cedência são da mentais e isso passa também pelo controlo admi- ou venda do terreno”, esclareceu o administrador, adian- nistrativo da população, com vista à planificação do tando que o seu elenco foi apenas comunicado pelo desenvolvimento de infra-estruturas salientou. Graciano Governo da Província de Luanda (GPL), para acom- Domingos considerou que o novo sistema facilita a panhar todo processo de negociações e a retirada dos actividade administrativa, economiza tempo, poupa o moradores da zona. cidadão de alguns aborrecimentos e ajuda a combater a extorsão de dinheiro e reconheceu que “a Maianga dá Quando lhes foi incumbida tal responsabilidade, estive- um passo que o governo da província ainda não deu”. ram na base das alegações contidas nas documentações chegadas do GPL o facto de a organização interessada, Apesar disso, garantiu que, no futuro, o Governo na altura, ter tido reunidas as condições exigidas, que se Provincial de Luanda vai funcionar em rede. “Se não prendiam principalmente com as residências de destino houver uma cadeia rigorosa de verificação de dados dos dos moradores, bem como as indemnizações referen- cidadãos, estaremos a participar de” forma errada “ num tes à adaptação à nova realidade de vida e aos meios de processo de informações” o governador interino garantiu trabalho. que, apesar da alteração da divisão político-administra- tiva da província, que entrou ontem em vigor, se impõe. Das promessas constavam mil dólares para a primeira uma modernização, admitindo a hipótese de conexão do semana nas casas azuis do Zango IV, para além de uma sistema informático de emissão de documentos com os indemnização de cobertura à perda dos barcos de pesca serviços da polícia. e das barracas de praia, que até à data desta entrevista não foi cumprida. Protegido contra adulterações o administrador muni- cipal da Maianga, Manuel Marta, garantiu que foram Quanto à Ocean Drive, o dirigente não avançou criadas condições para se evitarem adulterações na nenhuma informação que facilitasse alguma caracteri- emissão de documentos e reafirmou que projecto é zação da empresa ou mesmo o seu objecto social. Disse uma iniciativa da administração. “O projecto está apenas que a exploração e investimento no local tinham inserido, desde 2008, e foi apenas aperfeiçoado com um fim social. a colaboração do Centro Nacional de Tecnologias de Informação. Agora está mais seguro e a sua apli- Interrogado sobre a periodicidade do processo das nego- cação permite o atendimento com maior celeridade à ciações, o responsável não soube dizer ao certo quando comunidade. teria começado o expediente, mas foi determinante em afirmar que “o processo da concessão da parcela de terra Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 94 foi arquitectado pelo GPL, num período de tempo que O ancião chega mesmo a colocar a distância que o separa antecede consideravelmente ao do nosso empossamento.” das instituições do Estado como a razão do abandalho Por ser um assunto que continua a desencadear muita que recebe dessas, porque os seus colegas do Quilómetro polémica, saltando à vista a proibição de banhistas nessa 30, Ramiro, Buraco e Barra do Kwanza recebem apoio área do litoral de Luanda, Adão Malungo aconselha os regularmente. inquietantes a buscarem esclarecimento no Governo Provincial de Luanda. Por causa disso, ele prefere considerar-se desprezado ou descriminado, desconfiando até que o seu nome nunca O PAIS envidou esforço para ouvir dirigentes afectos ao constou da lista dos sobas no activo. GPL, mas não encontrou resposta. Cada um dos contac- tados remetia o assunto para outrem. Oriundo do município da Caála, província do Huambo, Daniel Francisco chegou a Luanda aos 14 anos de idade, “Nem todos foram contemplados” Um dos indivíduos tendo habitado no bairro do Cazenga durante muito que integrava a comissão de moradores, agora a residir tempo, até que em 1986 recebeu a incumbência de asse- no Zango IV, revelou que algumas pessoas perderam gurar o Museu da Escravatura. suas casas sem terem recebido outras em Viana. “Nem todos foram contemplados, porque havia 185 Poder sem autoridade casas de chapa, mas só foram contabilizadas as 17 que Na ocasião da entrevista a este jornal, o soba manifestou bradas à força das armas e as 58 que a fiscalização da o seu descontentamento pelo facto de estar a ser ultra- comuna do Benfica havia numerado primeiro”, declarou passado em assuntos respeitantes à administração terri- uma fonte, tendo informado que outros tiveram de se torial da área que considera de sua jurisdição. sujeitar em receber os três mil e 500 dólares, embora “Todo mundo vem aqui e faz o que quiser sem me dizer tenha havido mesmo alguns que, por terem estado nada”, desabafou, tendo mostrado o cerco que a direc- ausentes, nem sequer receberam nada. ção do Museu da Escravatura colocou em volta das casas dos moradores. Alega que local pertence à referida insti- A comissão dos moradores do Morro dos Veados con- tuição do Estado. tinua no activo, porque os integrantes dizem que há muitos problemas pendentes, um dos quais tem a ver Para demonstrar que a sua presença e a dos vizinhos não com a recuperação da indemnização. partiu de uma ocupação ilegal, contou que chegaram ao local por intermédio de Boaventura Cardoso. Informou que foi o actual governador de Malange que o mandou 7.3 Soba queixa-se de não receber habitar nessa localidade, numa época em que era difícil dinheiro alguém aparecer por aí para lhe prestar apoio. Jornal o pais 04 de Novembro de 2011 “Essa profissão de guarda que me deram em 1986 me obrigou a muitos sacrifícios, um dos quais poderia ter Daniel Francisco de 86 anos, soba do bairro denomi- sido a minha vida”, contou o próprio, que até hoje espera nado Museu da Escravatura, localizado próximo da por um sinal do actual governador de Malange. instituição pública com o mesmo nome, na comuna do Benfica, na Samba, queixa-se de nunca ter recebido Daniel Francisco encontra-se reformado, recebendo nenhuma prestação financeira referente ao posto que diz apenas mensalmente uma pensão financeira de ocupar há mais de 10 anos. oito mil Kwanzas. “Estou aqui há muito tempo e nunca recebi nenhum Kwanza de soba que eu sou, mas vou a todas reuni- ões de zona, do município e em algumas actividades 7.4 Administrador do sambizanga do Governo Provincial e cumpro com os meus deveres Jornal semanari o continente na comunidade”, lamentou o soba, contando que o 04 de Novembro de 2011 uniforme que veste lhe foi dado pela Administração Municipal da Samba, sob orientação do Governo da General José Tavares, administrador municipal do Província de Luanda (GPL). Sambizanga, recentemente, fez 1 uma demonstração que é possível resolver os problemas pontuais dos muní- Quando se encontra com os altos mandatários do muni- cipes. Tudo sucedeu quando dois cidadãos que disputam cípio ou do GPL, estes pedem-lhe paciência, ao ponto um terreno na sua circunscrição em que ele era acusado de alegarem que o seu dinheiro vai ser entregue tão logo estar a favorecer uma das partes, I ou seja, o militar. Ele, resolvam algumas situações, segundo o queixoso. I ciente que nenhuma das partes haviam recebido da sua Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 95 administração o “agremmant” de tomarem o terreno, 7.6 Martelo demolidor volta á tchavola colocou frente à frente as partes e no local se dirimiu no lubango o problema, pois que como é lógico, o que adquiriu os novo jornal documentos a mais tempo, levou vantagem. Assim é 04 de Novembro de 2011 que deve ser, pois outros não se dão este serviço, dei- xando esta nas mãos dos fiscais que acabavam por ser A PROVÍNCIA da Huíla voltou a testemunhar actos de um elemento extra demolição de residências na Tchavola, nos arredores da cidade do Lubango, o bairro que ganhou nome por ter acolhido 3 mil e 81 farm1ias retiradas das cercanias da 7.5 Administração não confirma linha férrea de Moçâmedes inscrição . Jornal o pais Sem nenhuma explicação às vítimas, os tractores da 04 de Novembro de 2011 administração municipal do Lubango entraram em acção. Mandaram abaixo 27 casas de pessoas que ques- De acordo com o secretário dos sobas do município da tionaram a justeza da decisão, visto tratarem-se de Samba, João Adão, existem apenas três sobas inscritos moradores que, como revelaram ao NJ, eram nativos do na lista das autoridades tradicionais, no perímetro entre bairro e que se viam, por isso, no direito de erguer ali as o Morro dos Veados e o Ramiro. suas residências.
“Nós só temos registado os sobas dos bairros Quilómetro Arlete Isaías, de 21 anos, solteira e mãe de duas crianças, 30, Ramiro e Buraco, que com o soba grande da Samba estava inconformada depois de ver a sua casa, construída compõem o elenco dos quatro inscritos no quadro em terreno herdado dos avós, deitada abaixo. A jovem, administrativo do Governo da Pronúncia de Luanda que disse que não acreditar no que estava a ver, repetia a (GPL) “, explicou o secretário. Considera que outros exclamação: “Não é possível que as pessoas sejam trata- estão em via de enquadramento, em função de necessi- das com tanta insensibilidade” dades causadas pela expansão de alguns bairros. Indo mais longe nas suas criticas, Arlete questio- É neste contexto que João Adão coloca a situação do nou mesmo a lei da terra que atribui ao Estado a sua velho Daniel Francisco, ao qual recomenda muita calma propriedade originária. “Embora a terra seja proprie- e paciência. Certificou que o velho foi parar naquele dade do Estado, o Estado não é a população? O pre- lugar como funcionário do Museu da Escravatura, ins- sidente sozinho não é Estado! O governador sozinho tituição que já o concebeu a condição de reformado, não é Estado! Estado é o povo”, insistiu Arlete Isaías, dando-lhe a pensão merecida. O secretário dos sobas queixando-se da falta de mobilização prévia das pessoas. informou ainda que a instituição do ancião à categoria Maria Constantina, frustrada com a acção dos tractores de soba foi uma gentileza de um dos administradores demolidores, disse que perdeu as terras de cultivo que cessantes. Não em nome da administração, mas, sim, garantiam a sobrevivência da farm1ia. “O governo não como administrador. pode fazer-nos passar por este sofrimento, tirando-nos o pouco que temos”, desabafou a nossa entrevistada, que A julgar pela dimensão do município da Samba e pelo se mostrou ainda preocupada pelo facto de a acção não número de sobas que se vêem a andar por aí, bem uni- ter sido justificada pelas autoridades administrativas da formizados, muitos deverão estar na condição do soba capital. do Museu da escravatura. Sobre o assunto João Adão preferiu não avançar qualquer informação, prometendo Ninguém entre as autoridades da Huíla se pronunciou fazê-lo em fórum próprio. O secretário reconheceu que sobre os novos acontecimentos no bairro da Tchavola, as autoridades tradicionais recebem um subsídio em que deixaram preocupadas as organizações de defesa dinheiro, acrescentado ser apenas um privilégio daque- dos direitos humanos, como a Associação Construindo les que se encontram bem legalizados pelo GPL e pelo Comunidades. A MC já condenou a acção e exigiu expli- Ministério da Administração Pública Emprego e segu- cações convincentes dos responsáveis pelas demolições. rança Social (MAPESS). Muito por fazer na tchavola O coordenador da comissão de moradores do bairro da Tchavola, Tomás Sapoco, disse ao NJ que, apesar do esforço e da aparente vontade do executivo de Isaac dos Anjos em melhorar o quadro actual, a situação continua a inspirar cuidados redobrados. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 96
Tomás Sapoco alertou para as dificuldades verificadas presta serviço público, não pode fazer essas afirmações!”. no que toca ao acesso à água potável, ausência total de “Eu não vou te mentir, sou agente político do MPLA, luz e fraca prestação nos sectores de saúde e educação, não estas a ver a bandeira? questionou-se, tendo apon- que, de acordo com o responsável, “não respondem em tado com o dedo indicador da mão direita no local onde pleno” aos anseios das populações que habitam o bairro. estava a bandeira do MPLA, no seu gabinete. Um local “Não é possível que um bairro desta dimensão não conte onde à luz da actual Constituição angolana, devia estar a com um médico se que, atirou Sapoco. da República, por ser uma instituição pública. “Se fosse o Jornal de Angola falava, mas vocês (imprensa privada) Fazendo fé nas declarações do nosso interlocutor, são e os partidos da oposição só fazem confusão, só estão vários os serviços básicos que estão longe do alcance dos para estragar o trabalho dos outros”. moradores da Tchavola, que precisam, por outro lado, de ver resolvido o problema do escoamento das águas das Depois de citar a Rádio Despertar continuou com chuvas, que nalguns casos entram pelas casas adentro. ataques pessoais, tendo, de seguida, atingido o Angolense Realidade que pode ser invertida com um trabalho mais ao afirmar que “O Angolense, desde que o conheço, só aturado, asseverou Tomás Sapoco. faz escândalo, só fala mal do partido (MPLA)”. Chama do a ser mais concreto e citar uma das edições em que Aos problemas referidos, acresce a falta de transportes se sentiu escandalizado, aquele administrador apontou a públicos para facilitar as deslocações de e para a cidade. edição 648. “Eu ainda tenho aqui um jornal Angolense As ligações foram suspensas devido à dificuldade de onde vocês falam mal do camarada Bento Bento, aquilo acesso à zona. Situação, que segundo apurou o Novo é um escândalo” atirou. Recordemos aqui a man Jornal, poderá ficar resolvida com a construção de uma chete em referência. «Afinal a oposição liderada pela ponte que deverá ligar Tchavola ao resto da capital da UNITA não encomendou manifestações. Bento Bento Huía. desmascarado pelo chefe». Esta manchete veio a propó- sito das declarações feitas pelo Secretário provincial de Luanda, Bento Bento, segundo as quais as manifestações 7.7 Administração do Kwanzas desanca realizadas um pouco por todo o pais são encomendadas contra privada pela oposição liderada pela UNITA, tendo ainda citado Jornal ANGOLENSE nomes como Justino Pinto de Andrade, presidente do 05 de Novembro de 2011 Bloco Democrático e David Mendes, presidente do Partido Popular. As afirmações de Bento Bento, entre- O administrador identificado como Panguila, garan- tanto, seriam contrariadas pelo Presidente da República, tiu que os vendedores não vão sair daquele local, vão no seu mais recente discurso sobre o Estado da Nação, continuar, simplesmente está-se a fazer o alargamento quando disse que as manifestações resultam da falta de do mercado ao mesmo tempo que será totalmente diálogo com a juventude. requalificado. E garantiu, por outro lado, que será um dos melhores mercados de Angola. Aquele responsável De acusação a acusação, o administrador, de quem se recusou-se, entretanto, a adiantar mais pormenores ao diz querer aparecer na imprensa à custa de ataques a ter- nosso jornal em virtude de a nossa equipa estar iden- ceiros, para ser mais visto pelo chefe, ainda teve tempo tificada com um credencial devidamente assinado e de acusar o jornalista e advogado Willian Tonet de carimbado. Importa salientar que é um documento para ser um rebelde. “Mesmo aquele Willian Tonet conhe todo o funcionário da instituição (Jornal. Angolense) ci-lhe há muito tempo quando era da JMPLA e hoje é que esteja à espera da renovação do seu passe, sendo por o mais rebelde de todos, é desobediente”, acusou alu- isso um “instrumento” para tratar de assuntos inerentes dindo aos trabalhos publicados pelo seu jornal, o Folha a sua função junto de organismos estatais e privados. 8. Contactados pelo Angolense, os responsáveis daquela Porém, aquele administrador não ficou por aí, avançou publicação ignoraram pura e simplesmente as declar com ataques à imprensa privada. Para já, começou por ações de Panguila ao considera-las como verborreias de afirmar que toda imprensa privada estava ao serviço dos pessoas paranóicas. “São afirmações sem nexo e des- partidos da oposição em Angola. Prosseguindo, Panguila cotextualizada”, disse um dos responsáveis. De recor- afirmou que muitas vezes os jornalistas fazem gravações e dar ainda que numa das suas declarações à imprensa, distribuem a vários órgãos de comunicação social, tendo Willian Tonet mostrou-se desiludido pelo “seu” MPLA citado a Rádio Despertar como um dos destinatários e, referindo-se às práticas dos dirigentes do maioritário, dessas gravações. “Toda imprensa privada está ligada aos afirmou que o MPLA estava a trair os seus ideais, por partidos da oposição em Angola”, afirmou Panguila. E isso afastou-se. Por sua vez, o director para a informação dirigindo-se ao administrador, a nossa equipa de repor- da Rádio Despertar, Cláudio Emanuel, disse o Panguila tagem exclamou: “Mas o senhor, como um agente que não ter qualificações, nem integridade para falar de Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 97 qualquer órgão que seja. “Não vamos estar a responder a Nesta exuberante tarefa quem mais sofre são as donas de este fomento de conflito, as pessoas conhecem o tipo de casa. Arlete disse que quando o abastecimento da admi- informação que passamos, em que pautamos pelo rigor nistração falha, a solução passa pela compra de água em e imparcialidade”, esclareceu. tanques, um exercício que pode oscilar entre 100 à 180 Kwanzas o recipiente de vinte litros.
7.8 Bebé morre após Educação demolição de casa Em relação a educação, cerca de 200 alunos das classes Jornal ANGOLENSE do ensino primário da escola da Tchavola, estudam em 05 de Novembro de 211 condições precárias. O cenário é completamente deso- lador, pois além de assistirem às aulas num espaço a Durante as demolições do passado dia 25 de Outubro, céu aberto, sentam-se em cadeirinhas levadas de casa. aconteceu uma surpresa – Jorge Augusto, um recém- No caso de os alunos cujos, encarregados de educação -nascido que na altura das demolições o pequeno tinha não possuem capacidades financeiras para as adquiri- apenas 3 dias de vida, encontrava a dormir na casa dos rem então optam por pedras ou latas de leite. O outro avós quando a retro-escavadora começou a demolir problema está relacionado com a localização da escola, a residência num clima de gritos, no sentido de avisar que se situa próximo de uma estrada sem asfalto e na as autoridades. O seu irmão de apenas 12 anos decidiu qual os automobilistas, ao circularem ria zona levantam “arriscar a vida” ao romper o cordão policial e introdu- poeira para as salas de aula. De acordo com a pequena zir-se para o interior da casa afim de resgatar o seu irmão Maia Caluque nem sempre os professores aparecem, zinho. Numa atitude que surpreendeu tudo e tocfos, atendendo a distância que têm de percorrer para atingir segundo os relatos da mãe, quando o rapaz saiu com o o local de trabalho. Saúde De acordo com os habitan- seu irmão aos braços já quase sem vida, os agentes mos- tes, a assistência médica e medicamentosa prestada pelos traram-se frios, mas ainda assim, o rapaz foi levado até enfermeiros está longe de uma qualidade exigida, a ao posto policial, acusado por crime de desobediência contar pela falta de técnicos de saúde, bem como medi- às autoridades. “O bebé nasceu com sete meses, como camentos para os primeiros socorros. não temos possibilidades de pagar uma incubadora no hospital público, optamos pelo método tradicional de De acordo com Catarina Costa, os doentes com malária, colocá-lo numa casa. Depois de retirado do sítio que diarreia aguda e má nutrição, são evacuados para a era usado como “incubadora artesanal”, o pequeno cidade de Lubango por falta de condições. “O posto de Jorge Augusto não resistiu e perdeu a vida no dia 27 de saúde não possui laboratório de análises clínicas, Raios Outubro e o funeral aconteceu numa manhã do dia 30 X, bloco operatório e outros serviços”, frisou. do mês passado. Em face da situação, a família clama por justiça e Por outro lado, a fonte lamentou a distância que separa o responsabilização do executivo por tudo que tem acon- único posto de saúde e a comunidade da Tchavola. tecido naquela localidade. “Já perdemos três membros De acordo com Catarina, na calada da noite quando um na família que não resistiram as injustiças do governa- paciente é levado ao posto de saúde, sem a presença dos dor Isaac dos Anjos, perdi a minha irmã Juliana Jamba, agentes da polícia, estes não aceitam abrir as portas para de 18 anos, a mãe Catarina Nguenda, de 62 anos de o atender. idade, tudo isso, num período de 42 dias, ambas mor reram vítimas de trombose e enfartes”, disse. Energia eléctrica Com relação ao abastecimento de energia eléctrica ao Água potável bairro, não existe. Pois, na falta deste meio indispen- Os moradores do bairro da Tchavola e Tchimukwa sável a solução para alguns habitantes foi recorrer a consomem água de riachos e abastecidas pelas cister- energia mecânica. O grande problema para manutenção nas afecto a administração municipal do Lubango, dos geradores é a distância que têm de percorrer para a o método optado por alguns populares foi colocar os compra do combustível, cerca de três quilómetros para recipientes com maior capacidade ao longo da estrada e adquirir o mesmo no centro da cidade de Lubango. que também servem de reservatórios. Entre os objectos “Na falta de combustível nas bombas nós compramos usados como recipientes estão: tambores, baldes e até em alguns revendedores do mercado paralelo. O litro mesmo contentores de lixo adaptados como recipientes, custa 120 Kwanzas, mesmo nas bombas pagamos uma para reservar água que é consumida no dia-dia. Foi pos- caução”, re· velou Catarina. A rede eléctrica pública sível vislumbrar esta realidade nos bairros da Tcimukwa abrange apenas o bairro Mitcha onde foram erguidas as e Mitcha, onde encontramos bidões de 5 mil litros colo- casas da juventude e arredores. cados nas ruas, aguardando pelo abastecimento. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 98
7.9 Moradores dizem-se injustiçados Catarina da Costa e vizinhos partiram em busca de na sua própria terra explicações ao Palácio do Governo, mas foram barrados Jornal ANGOLENSE pela polícia que os aconselhou a dirigirem-se a adminis- 05 de Novembro de 2011 tração municipal do Lubango, onde se depararam com um “forte dispositivo” policial. Centenas de pessoas dormem ao relento, expostas ao frio “Eles alegam que a área é reserva do Governo”, disse intenso em plena época chuvosa nos bairros “Tchavola” Catarina da Costa, que exibia, no momento uma lista e “Tchimukwa”, arredores da cidade do Lubango, onde manuscritas, descrevendo os gastos efectuados na compra apenas restam escombros de casas. As autoridades do material de construção “ foram 170mil Kwanzas,” alegam que as casas foram construídas ilegalmente, balançou. Já a mãe de Maria, a anciã Beliana Zacarias, desobedecendo os padrões urbanísticos e a invasão a 55 anos, natural do Kaluquembe, província da Huíla, reserva do Estado. há quarenta anos que se mudou para Tchavola onde se uniu matrimonialmente com António Zacarias, falecido A demolição do dia 25 de Outubro último, deixou por há 6 anos. A viúva teve cinco filhos e actualmente conta terra casas feitas de adobe, de blocos, de chapas de zinco. com doze netos, órfãos e todos vivem em casa da avó. Deste local restam apenas escombros, chapas destruí- Segundo a anciã, os pais que faleceram deixaram casas das, barro, um vasto e descampado terreno, num clima na Tchavola, mas por ordem do executivo de Isaac dos que ilustra um cenário devastador. Anjos encontram-se nessas condições. “As casas existem há mais de 20 anos e quando se construiu aqui, tudo, Marisa Francisca Tunis, 30 anos, doméstica, vive com isso era uma zona agrícola e de pasto. Actividade essa o marido neste bairro há quatro anos. tendo adquirido que era desenvolvida pelos nativos e outros que sempre a parcela de terra onde construiu a sua antiga casa a viveram aqui na Tchavola. camponeses que ali cultivavam a terra, concretamente, a mandioca, o massangoi, o milho, o feijão e a criação Passados vários anos, agora não se compreende que a de gado. área é reserva do Estado, lamentou a anciã. A mesma entende que a ocupação da Tchavola é fruto de uma Reunidos no quintal reflectindo sobre o rumo a tomar estratégia do executivo local para usurpar as terras dos e deitada num colchão de espuma por baixo de um nativos e dar lugar aos interesses de alguns governantes. cajueiro e junto de um pequeno autocarro avariado, per- Num ápice de descontentamento, António e alupete tencente ao marido, Marisa Tunis conta que, “depois de Ngampula, ex-morador da linha-férrea, também é obtida a autorização de construção”, as obras começa- vítima das intrusas demolições que o deixou impávido ram há quatro anos. quando recebeu um telefonema do irmão avisando que a sua casa estava a ser demolida. “Tenho três filhos, dois dos quais nasceram aqui. Para onde vou se nem uma tenda me deram para viver?”, “A minha casa tinha dois quartos, uma sala de visita, questiona. Segundo a mesma, as demolições começaram cozinha e WC. Esta é a minha segunda casa que partem. no dia 20 de Outubro, sem que os moradores fossem A primeira foi demolida próximo a linha-férrea, na altura avisados. A máquina da administração municipal do estava em Luanda e toda acção foi feita sem tempo de Lubango, com agentes da polícia de Ordem Pública, retirar os bens, nunca pensei que iríamos sofrer deste surgiram no terreno e começaram a demolir as residên- jeito”, disse. António Calupete. Filomena Capale é uma cias com os bens no interior. Revoltados com a acção, jovem moradora do antigo bairro do Arco-fris, que rea- houve pessoas que não resistiram e tentaram enfrentar lizava o sonho de ter casa própria, mas viu tudo adiado a polícia. Estes por sua vez, responderam com tiro quando os agentes decidiram destruir na totalidade o teios. “Fui ameaçada de morte quando tentava impedir alicerce do quintal, já que a mesma decidiu começar a a demolição da minha casa. Naquele momento estava construção pelo quintal. O trabalho já executado cus- pronta para dar a minha vida, porque não compreendo tou-lhe 300. mil Kwanzas, quer na compra de materiais, este governo, quando demoliram as casas ao longo da bem como no pagamento dos pedreiros. linha-férrea, nós entendemos e quando indicaram este local, para mim foi o regresso as minhas origens. Pois, A jovem Filomena que é professora, sublinhou que a os meus progenitores nasceram e vivem aqui até hoje, acção do executivo de Isaac dos Anjos, é uma disse acrescentando que, esta parcela -é herança dos meus pais. Agora o governador orienta a demolição da minha casa alegando ilegalidade ou constrangimentos urbanísticos, isso não é verdade”, disse. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 99
7.10 Quando os “diabos” de isaac vêm estão a conservar água em contentores de lixo usados. ao de cima E, essa mesma água, serve para beber, cozinhar e tomar Jornal a capital banho. 05 de Novembro de 2011 Por outro lado, o jovem António Ngangula, 29 anos de idade, teve a mesma sorte depois gastar o equivalente a Na já célebre zona da Tchavola, em Luanda, capital da oito mil dólares. Construiu, com esse dinheiro, a sua província da Huíla, a população vive tão desesperada, casa no local que lhe foi cedido pelo próprio governo. quanto anda confusa. E não é para menos! No princí- Com a casa agora demolida, diz-se tão desesperado que pio do ano, isto é, a seis de Março, último, várias famí- “não tenho mais forças para viver”. lias foram retiradas, forçadamente, dos bairros em que “Tive de fazer das tripas coração, para conseguir viviam e largadas num local ermo, vivendo ao relento, dinheiro para comprar o material e conseguir erguer a sem que o Governo da província cumprisse a promessa minha casa e quando pensava dar dignidade aos meus de reunir material, para ajudar na construção de novas filhos vieram me destruir a casa”, resumiu, assim, a sua residências. desesperante situação.
Meses depois, o espírito de sacrificio veio ao de cima. “Isso é revoltante, porque foram eles que mandaram Muitas famílias conseguiram erguer residências, no local construir aqui”, queixou-se, acusando o governador da para o qual foram transferi das meses antes. Mas, para provinda de estar a fomentar essa nova onda de demo- a maioria delas, o pior apenas estava para vir. Quando lições, em nome dos seus interesses particulares. “Agora se pensava que os traumas do passado não se repetiriam, como estão a construir o condomínio dele, não nos quer eis que, na semana passada, essas casas novas, em que ver aqui”, frisou António, com o rosto carregado de habitavam, foram novamente demolidas. Sem qual- revolta. quer informação prévia, lá veio, outra vez, o Governo Provincial da Huíla, com as suas máquinas e demoliu Filomena Carrele, 30 anos, está na mesma situação. 27 residências. Depois de gastar três mil dólares para fazer uma casa, de uma sala e dois quartos, para viver com os três filhos Como resultado disso, pelo menos duzentas pessoas viu também o seu esforço a ir abaixo, numa fracção de estão, nos últimos dias, a viver ao relento. São pessoas de segundos. “Ao ver a minha casa no chão, foi como se várias idades, entre crianças, algumas delas recém-nasci- me estivessem a matar pela segunda vez. Já tenho dívida das e pessoal de certa idade. O ancião José Maria Kapen com o banco pela primeira casa, destruíram, e agora essa de é um exemplo. Quis o destino que esse cidadão, que segunda que foi um dinheiro que guardava, também nasceu justamente na zona da Tchavola, fosse mais uma partiram”, lamentou para, em seguida, destacar: “eles vítima do governo de Isaac dos Anjos. Encontrámo-lo me mataram mesmo”. na rua, em companhia de outros 15 membros da sua família, desesperado e a clamar por uma intervenção do Até o coordenador da Comissão de Moradores da governo central para travar os abusos do governador pro- Tchavola, Tomas Sapoka, mostrou-se solidário com os vincial, popularmente chamado de “Isaac dos Diabos”. populares. Disse que, não foi comunicado por ninguém sobre essa medida, assim como não existe razões plausí Tchavola, no dialecto local, equivale à podre, na língua veis para tal atitude, porque desta vez os populares portuguesa. O nome vem a propósito das condições de cumpriram com todas as normas exigidas pelo próprio vida das pessoas que foram para ali despejadas. governo.
As condições de habitabilidade são inexistentes. Não No seu entender, a intenção é “o Governador Isaac jorra água nas torneiras, não há electricidade. Há, dos Anjos alargar o seu condomínio e, portanto, tem porém, um posto médico, mas nele funcionam apenas que demolir as residências que estão próximas dele. dois enfermeiros que não possuem meios adequados Como somos pobres, não podemos ficar seus vizinhos”, para assistir os pacientes. Na farmácia, por exemplo, não comentou. existe medicamentos. Quando a doença assola, têm que percorrer entre um a dois quilómetros a pé. Não há meio de transportes na Zona. A equipa de reportagem deste jornal conversou com três crianças, com baldes na cabeça. Acarretavam água, percorrendo longas distâncias. Interpeladas, a respeito, contaram que transportavam água de um charco “para a mãe cozinhar”. A falta de água é tanta que, na Tchavola, Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 100
7.11 Tchavola é habitada há mais de um “Têm – nos dito que nos vão tirar daqui e vão colocar século – nos lá ao lado do campo de futebol, mas o lugar fica Jornal ANGOLENSE muito distante do mar e isso vai dificultar muito as 05 de Novembro de 2011 nossas actividades de pesca”, disseram alguns pescado- res que consertavam as redes para mais uma empreitada A Tchavola é um bairro ao redor de Lubango. Segundo de captura do pescado. Importa referir que o bairro está fontes contactadas pela nossa equipe de reportagem, a localizado num ponto alto e a menos de 500 metros do zona é habitada há mais de cem anos. De acordo com os mar, elementos que o pescador considera muito impor- moradores, o mais antigo morador da Tchavola morreu tantes para o controlo e decisão para pesca. há 2 anos, na altura com 113 anos de idade, o mesmo atendia por Cassova Capembe. Entre os autóctones da “Nós daqui em cima podemos controlar o mar e decidir Tchavola está José Mário Capembe, 85 anos, antigo se dá ou não para ir pescar”, informaram, assegurando- revisor do caminho-de-ferro de Moçãmedes. -se no clima, coloração das águas marinhas e noutros elementos, que não ousou revelar por constituírem um Outro filho da Tchavola chama-se Miguel Chambassuco, segredo colectivo dos homens do mar. A ameaça da reti- 75 anos, nasceu e cresceu naquela terra, sentado nos rada dos populares começou em 2010 e os fiscais ale- escombros da sua casa. O mesmo mostrou-se bastante gavam a segurança dos moradores, por se tratar de um fraco e sem ânimos para se expressar a vontade, pois, bairro situado num plano inclinado, soube este jornal de que as consequências das demolições ainda pairam no Raimundo, um dos pescadores, que chegou à comuna seu rosto. do Cabo Ledo em 2001, vindo do Sumbe, província do Kwanza Sul. Juntos e nunca misturados Ao redor do bairro onde foram efectuadas as demoli- O pescador desconfia que a administração local pre- ções está ser erguido um condomínio de 25 casas. Um tende ceder projecto, segundo alguns moradores alegam estar asso- “Nós daqui em cima podemos controlar o mar e decidir ciado a Isaac dos Anjos. Ainda na sua fase de execução, se dá ou não para ir pescar”, asseguraram os pescadores apuramos que os apartamentos na sua maioria já foram ou vender o espaço em causa para algumas individuali- ocupados, restando apenas dois. Neste momento os dades com capacidade para construírem na área institui- sócios estão a estudar os preços das mesmas. Esta infor- ções hoteleiras e turísticas, já que existem na praia dois mação foi avançada por um membro da gerência. estabelecimentos do género e um terceiro em projecção. Os imóveis são do tipo T3 com duas plantas diferen- O nosso interlocutor, que se mostrou como um conhe- tes e ocupam uma área de aproximadamente 82 metros cedor do dossier que resultou na privatização da praia quadrados, a obra está ser executada por uma emprei- dó Morro dos veados, em Luanda, louvou o facto de as teira chinesa. Segundo ainda apuramos no terreno, os referi das instituições não estarem a proibir a frequência apartamentos foram comprados pelo governo local com das pessoas ao mar. vista a acomodar alguns quadros seniores do executivo. Entretanto, a nossa equipa de reportagem tentou con- “Se fosse como em Luanda, onde já não se pode pescar tacto via telefone com o governador Isaac dos Anjos, e banhar nalgumas praias como a do Morro dos veados, como é da praxe dos nossos governantes, todas chama- eu acho que os dirigentes daqui iam arranjar um grande das foram ignoradas. Tentamos a comunicação durante problema com o povo, porque essa é a praia mais fre- dois dias, que deram em nada. quentada da comuna do Cabo Ledo.
Quem não se mostrou indiferente à situação foi um grupo 7.12 Pescadores do cabo ledo de senhoras, que se identificaram como peixeiras, encon- insatisfeitos com a transferencia do tradas na praia a escalar o peixe. Elas disseram que o lugar bairro onde a administração está a projectar o realojamento das Jornal o pais pessoas é menor em relação ao Cabo Ledo da Praia. 11 de Novembro de 2011 “Se dependesse de nós não iríamos lá, mas como eles OS habitantes do bairro Cabo Ledo da Praia, município é que mandam, temos de aceitar”, consentiram logo a da Quissama, província do Bengo, revelaram a O PAIS, seguir. Sempre que se toca no assunto da transferên- Terça-feira, 8, a sua insatisfação com o plano de trans- cia, elas e outras mulheres do bairro vão pressionar ferência da, administração comunal que visa colocá -los o coordenador do bairro a recorrer às entidades da em outra zona da comuna. comuna para evitarem as consequências negativas que isso poderá representar na vida da comunidade. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 101
“Infelizmente, ele vai lá e nos diz sempre que lhe Do GPL, uma fonte anónima considerou tratar-se de mandam acalmar”, contaram entristecidas, ao ponto uma fase de transição para os administradores da região de questionarem a quem podiam dirigir mais as suas de Quissama, que possuem um período estimado em súplicas. cerca de 90 dias para a direcção que lhes foi confiada pelo Governo da província do Bengo. Segundo as peixeiras, os homens da administração local deviam conversar com os moradores, para ouvirem a Depois disso, caberá ao Governo da Província de Luanda opinião destes no que toca ao plano de transferência. nomear ou indicar alguém para dirigir os destinos dessa localidade, que, na pior das hipóteses, passará à jurisdi- “Pode ser que, mesmo com o surgimento de restaurantes e ção do município de Belas. hotéis, não haja necessidade de sairmos daqui”, cogitaram, dizendo que conhecem zonas costeiras de Angola onde De acordo com a fonte, a permanência dos actuais os bairros coexistem com instituições turísticas. Embora administradores ou nomeação de elementos oriundos não mostrem resistência em sair do local os moradores das consideradas terras do “Jacaré bangão” não está fora esperam que quando chegar a hora do desalojamento os de possibilidade, já que de forma directa ou indirecta dirigentes procurem repor as condições infra -estruturais estes pertencem ao Governo de Angola. reais ou adequadas ao novo habitat como chapas de zinco, para a construção dos primeiros abrigos. “Se lhes reconhecer competências para as exigências do novo quadro administrativo da província de Luanda, As senhoras aproveitaram a ocasião da nossa reportagem poderão ser confiados para administrar o Cabo Ledo” para informarem sobre a atitude de alguns conhecidos reforçou, sublinhando que enquanto durar o período de seus no bairro Sangano, que tiveram de se retirar das transição, se vai fazer aquilo que ele prefere considerar proximidades do mar, devido a iguais pressões, tendo como trabalho de casa. sublinhado que muitos foram mesmo saindo por inicia- tivas próprias, para não se arriscarem ao abandono. O Cabo Ledo da Praia constitui o lugar mais pes- 7.14 Administradora comunal deixa queiro da comuna e insere-se num conjunto de mais familia ao relento de 10 bairros, destacando-se a Zona Dez, Área social, Novo jornal Kudissanga e o Catambor, no Cabo Ledo-sede, que tem 11 de Novembro de 2011 a Norte o Sobe e Desce, Sangano e Canfufu, enquanto na região mais. No bairro da lagoa do São Pedro da Barra, município do Cazenga, uma fanu1ia foi posta ao relento, na tarde desta terça-feira, sem aviso prévio. Graças à solidariedade dos 7.13 Administração comunal em silêncio vizinhos, conseguiu passar a noite debaixo de um tecto. Jornal o pais 11 de Novembro de 2011 Com a construção da vala de drenagem da zona da Lagoa do São Pedro da Barra, uma obra do G0verno da Para obter esclarecimento sobre a retirada dos moradores Província de Luanda, algumas casas foram demolidas. do Cabo Ledo da Praia, O PAIS rumou ao encontro da Segundo os vizinhos, habitação em questão não constava administração comunal, onde abordou o administrador do plano da vala de escoamento que vai passar naquela adjunto, que se identificou com o nome de Tavares. zona, porque a residência não tinha sido notificada, conforme o regulamento.”Mesmo assim, a administra- Ele recusou-se a dar qualquer depoimento no concer- dora comunal, Madalena Vicente, mandou derrubar a nente, alegando não ter autorização para o fazer, numa casa, sem dó nem piedade”, denunciaram os vizinhos. altura em que a equipa administrativa de que faz parte tem conhecimento do decreto aprovado, que contempla Quando o NJ chegou ao local, a proprietária da resi- os municípios de Quissama e de Icolo e Bengo para a dência, conhecida como Janeth, não conseguia falar, por província de Luanda. isso, os vizinhos decidiram falar por ela e relatar o seu drama. A inquietação do segundo homem da comina de Cabo Ledo obrigou a nossa reportagem a contactar o Governo “Quando a administradora apareceu aqui, ontem, não da Província de Luanda (GPL), a fim de se inteirar quis saber de nada. A única ordem que deu foi para acerca dos responsáveis pelos destinos da vila até então destruírem a casa da senhora, não se importando com pertencente à jurisdição do Bengo. as condições precárias em que vive esta família”, recor- daram os vizinhos, acrescentando que a dona da casa Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 102
é urna senhora “solteira e batalhadora” que vende boli- começam por tentar subornar os guardas com valores nhos para sustentar os quatro filhos. “Querem partir a que rondam os 5.000 dólares e terminam em pancadaria casa da senhora sem a indemnizar, isso não se faz. E a e ameaças de morte, em caso de os fiéis dos proprietários administradora comunal fui arrogante e prepotente. Os não cederem o ouro”. homens que a acompanharam sentiram-se comovidos com as lágrimas da dona, mas a administradora não se “Eles não têm um horário certo, chegam a qualquer comoveu, nem um pouco”, revelaram hora, até de noite vêm. Geralmente vêm cerca de 50 pessoas e trazem armas. Começam por dizer que são os “Nós ainda lhe dissemos que da forma que ela estava a donos dos terrenos e que herdaram dos seus avôs. Mais maltratar esta farm1ia nós não íamos votar mais nela tarde, tentam corromper-nos com dinheiro na ordem e ela respondeu que não queria saber, porque nós não dos 5.000 dólares”, contaram os guardas, que pediram votamos nela”, recordaram. que não revelássemos os seus nomes.
Os vizinhos sentiram-se solidários com a família, apro- “Mas por não aceitarmos, sofremos represálias. veitaram o terreno onde se encontrava a casa e substi- Ameaçam-nos de morte. Já travámos aqui pancadarias tuíram as paredes por chapas de zinco. Foi assim que a com eles, eles fazem disparos para rios amedrontar. mulher e os quatros filhos conseguiram dormir debaixo Nós receamos as nossas vidas, porque nunca se sabe de um tecto. quando é que eles disparam mortalmente contra nós”, acrescentaram. Em declarações ao Novo Jornal por”telefone, o admi- nistrador do município do Cazenga, Tany Narciso, Os nomes mais sonantes entre os proprietários de terre- considerou o acto da fanu1ia de oportunismo. “São nos em causa são os do deputado Adelino de Almeida, pessoas oportunistas que querem lucrar com as casas de Aníbal Rocha e Osvaldo Saturnino de Oliveira, que o governo tem estado a distribuir. Nós já fizemos deputado na antiga legislatura. Ainda no local, deram- um cadastro e sabemos o número de casas naquela zona -nos conta de que o ex-embaixador de Angola na Índia, e aquela não constava. Mas se a senhora tiver os docu- Tailândia e Malásia, Tony da Costa Fernandes, tem aí mentos que provam que a casa já estava ali que faça um vários hectares. “Aqui é uma área só de governantes”, documento por escrito e nos envie”, afirmou. explicaram os interlocutores.
Tany Narciso disse também que a administradora Apesar de estarem na situação de vítimas alguns proprie- comunal foi agredida. Os populares atiraram pedras à tários preferiram não dar qualquer informação, quando administradora”, frisou. indagados pelo Novo Jornal sobre o assunto. Quem não se calou foi o deputado Adelino de Almeida, revelando O Novo Jornal tentou entrar em contacto com a adminis- que a Polícia está a par da situação, mas não põe cobro tradora comunal, Madalena Vicente, mas não teve êxito. ao problema.
“São indivíduos estranhos, não sabemos com quem 7.15 Garimpeiros invadem terrenos de estamos a lidar. Nem posso dizer que estou em litígio deputados com estas pessoas, porque não os conheço. Eu sou das Novo jornal pessoas que mais apresenta queixas à Polícia sobre este 11 de Novembro de 2011 problema. A polícia diz que tem de apanhar em flagrante para poder prender os indivíduos, mas como é que vão Indivíduos não identificados estão a invadir terrenos per- apanhar em flagrante se eles não rondam a área”, inter- tencentes a deputados e outras “altas” figuras do v apa- rogou-se o deputado. relho governamental, no Múnicipio de Viana, na zona agrícola de Kikuxi, mais concretamente por detrás da Adelino de Almeida, que falou para o Novo Jornal por Universidade Técnica de Angola (UTANGA). via telefónica, fez saber também que já foi alvo de ame aças por parte dos garimpeiros, que chegaram intimidar Embora nunca tenha chegado a público, o litígio “silen- à mão armada os seus escoltas. cioso” conta já dois anos e não é coisa simples. Os invaso res, que depois vendem os terrenos a terceiros, recorrem a ‘’Veja que aqueles elementos usam armas de fogo para armas de fogo para afugentar os titulares das terras. Mas os nos intimidar. Fui ameaçado com armas de fogo, mesmo que têm a vida em risco são os trabalhadores que os depu- diante dos meus escoltas policiais e estavam fardados. tados contrataram para servirem de guardas dos terrenos. Na qualidade de deputado procurei evitar, mas mais Os garimpeiros, disseram os nossos interlocutores, uma vez fiz queixa à polícia, só que não está a resolver a Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 103 situação e continuamos assim. A administração munici- Ainda no quadro da regulação da ocupação e uso do pal de Viana também sabe do assunto”, atirou o político. solo da província de Luanda, o Executivo vai accionar o sistema de requalificação urbana em algumas localida- Segundo Adelino de Almeida, aqueles terrenos foram des devidamente delimitada e identifica da, que consista cedidos aos deputados e outros governantes pelo no cadastramento da população afectada no perímetro, Ministério da Agricultura, com o intuito de estes transferi-la para zonas loteadas, com base em programas fazerem agricultura, tendo em conta que Kikuxi é uma de auto-contrução dirigida. Após a transferência, ainda área agrícola. de acordo com o documento, proceder-se-á a elaboração de um programa de demolição massivas dos artefactos Mas a escassez de água, explicou o interlocutor, está a impos- de chapas, madeira ou betão, com o superior envolvi- sibilitar a actividade agrícola, abrindo espaço para o surgi- mento das Forças Armadas Angolanas, Policia Nacional mento de um bairro no local. É cada vez maior o número de e outras forças. Reforçar as repartições municipais de residências que se vão erguendo naquelas paragens. fiscalização e ordenamento do território, com meios téc- nicos e humanos apropriados para fazer face às ocupa- O negócio de terrenos na capital é cada vez mais lucra- ções em curso na periferia de Luanda, são entre outros tivo. Recorde-se que o ex-governador de Luanda José planos traçados. Maria dos Santos Ferraz foi exonerado alegadamente na sequência de negócio ilícito de venda de terreno no De entre o programa de acções, consta ainda a sensibili- município da Samba. zação da população sobre os riscos das construções anár- quicas e em zonas vulneráveis, uma realidade que marca, nos dias, muitas localidades da periferia de Luanda. Os 7.16 Governo cria condições para militares das FAA e efectivos da Polícia Nacional, de ocupação legal de terrenos acordo com o plano do Executivo, serão destacados em Jornal o independente varias localidades para a protecção das áreas decretadas 12 de Novembro de 2011 como reservas fundiárias do Estado, satisfazendo desta feita, a demanda da população interessada em construir O Governo Provincial de Luanda vai produzir a lei de a casa própria. Esta lei que o Governo vai introduzir alteração ao código penal à semelhança do que se faz para criminalizar ocupações e vendas ilegais de terrenos com o código comercial e do registo predial, para cri- em Luanda vai servir de precedentes para que a médio minalizar as ocupações e vendas ilegais de terrenos, e longo prazos os esforços de requalificação não sejam enquanto conduta susceptível de provocar danos ao postos em causa pela onda de construções anárquicas/ património público. que proliferam em muitas partes de Luanda.
Uma medida sem precedentes que consta no programa É um projecto inovador na medida em que, além de do Executivo e que será produzida no quadro da regula- desencorajar o uso fundiário para fins especulativos, vai ção da ocupação e uso do solo na província de Luanda permitir que as famílias angolanas possam proceder a faz parte da lei de alteração ao código penal, que vai ocupação de terrenos tendo em conta padrões relaciona- consagrar a ocupação ilegal de terrenos como um crime dos com o ordenamento do território, dos levantamen- público. De acordo com o programa, serão criadas tos topográficos, planos directores municipais, urbanos nos municípios repartições técnicas municipais, com e outros. Portanto, a perspectiva da ocupação ilegal de a incumbência de ocupar-se dos cadastros, das cartas terrenos passar a ser crime público vai ser um ganho cadastrais de detalhe, dos levantamentos topográficos, para as populações e para o Estado angolano. planos directores municipais, urbanos, bem como de SIC (Sistemas de informação geográfica). O Executivo aprovará planos urbanísticos ou forais, sob propostas 7.17 Madrasta desaloja enteados no das respectivas administrações municipais, ficando sob maculusso gestão destas, com vista a satisfazer a demanda da popu- Jornal Angolense lação, sob forma de auto-construção dirigida, cujas infra- 12 de Novembro de 2011 -estruturas serão feitas a partir do rendimento e venda dos respectivos lotes. Na elaboração e aprovação destes A história conta-se da seguinte forma: Isabel Ricardo planos, prevê-se medidas restritivas às substituições na José da Cruz e Ernesto João Francisco Gorita, passa- concessão, bem como na transmissão de direitos fundi- ram, a partir de 1975, a coabitar a moradia nº 173, sita ários, com vista a evitar a apetência em adquirir terrenos na rua Che Guevara, bairro Maculusso, município da para logo desfazer-se dele a título oneroso, como simples Ingombota. forma de negócio especulativo. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 104
Desse relacionamento, segundo se apurou, terão resul- 7.18 A Lei da Terra de Angola tado três filhos, até à separação do casal, que ocorreu e a discussão da sua aplicação alguns anos depois. Em consequência da separação, Jornal de Angola Isabel Ricardo abandonou a residência, tendo ido viver 12 de Novembro de 2011 para uma casa arrendada. Passaram sete anos desde que a Assembleia Nacional João Gorita, um antigo funcionário público da empresa aprovou a Lei de Terras (Lei nº 9/04 de 9 de Novembro). Em projectos, UEE, permaneceu na residência, tendo Esta Lei surge como o primeiro instrumento legal que mais tarde se juntado a uma outra mulher. trata dos assuntos ligados à terra com profundidade, em comparação com a Lei 2l-C/92, tida por alguns espe Deste relacionamento com Rebeca José da Silva resultou o cialistas como uma lei agrária. nascimento de 10 filhos. O nome de Rebeca da Silva consta, aliás, de um documento de agregado familiar, datado de Historicamente, a Lei de Terras é considerada o primeiro 1991, em que aparece como esposa de Ernesto Gorita. diploma em Angola discutido amplamente por vários segmentos da sociedade, a julgar pelas contribuições A coberto de uma lei da Comissão Nacional para Venda fornecidas por várias comunidades rurais consultadas do Património Habitacional do Estado, de Janeiro de por altura do debate do seu ante-projecto em dez das 18 1992, o inquilino da habitação, ou seja, Ernesto Gorita, províncias. A Lei de Terras de 2004 e o seu regulamento manifestou interesse em adquirir a vivenda na qual habi- designado por “Regulamento Geral de Concessão de tava com a sua nova família. Terrenos”, com cerca de quatro anos, abre possibilida- des para a criação de regulamentos específicos. A Lei de Em 12 de Março do ano seguinte, procede ao paga- Terras em si mesma tem o carácter de uma lei funda- mento do referido imóvel, por via de uma guia de paga- mental, ti da no caso como a constituição fundiária, já mento emitida pelo BPC, tendo, em 20 de Junho de que dela dependem outros diplomas legais, cujo âmbito 1994, obtido o respectivo Termo de Quitação. de aplicação tem como recurso a Lei de Terras.
Acontece, porém, que Ernesto Gorita viria a falecer, Importa fazer referência ao projecto “Terra da FAO” em 16 de Maio de 2001, uma morte que, pelos vistos, (Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e terá servido para um «ajuste de contas» antigas entre a Alimentação), uma ferramenta de apoio às instituições madrasta e os enteados. governamentais angolanas para a melhoria da gestão da posse e administração de terras e dos recursos naturais, Em Fevereiro de 2003, Isabel Ricardo dá sinais, ale- nas províncias do Huambo e Bié. gando direitos de propriedade sobre o imóvel, tendo, nessa altura, intentado uma acção junto da Sala do Cível O projecto tem como objectivo central apoiar o e Administrativo do TPL. Executivo através das suas instituições envolvidas no processo de gestão fundiária, visando a aplicação do Sete anos depois, ou seja, em 20 de Janeiro de 2010, numa pacote legal sobre a terra com o fim de garantir os direi- carta dirigida aos herdeiros, a madrasta dava conta que a casa tos fundiários dos cidadãos, sobretudo das comunidades era sua propriedade e que estava a preparar se para vendê-la. rurais, para se alcançar um desenvolvimento territorial sustentável e integrado de todos os actores que intervêm Ainda no decurso desse mesmo ano, Isabel da Cruz no meio rural (camponeses, agricultores, fazendeiros, promove uma acção judicial de reivindicação de proprie- Estado, entre outros. Neste sentido, a Lei de Terras e dade, ao que diz, contra alguns herdeiros. o respectivo regulamento constituem elementos funda- Numa petição, ela alega ter comprado a casa em Julho mentais para se atingir os fins referidos. O projecto em de 2009, ou seja, 16 anos depois de ela mesma ter sido referência tem como principais parceiros o Ministério vendida a Ernesto Gorita. da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, o Ministério do Urbanismo e Construção, governos das Entre os enteados, há quem a afirme que o tribunal ter- províncias do Huambo e Bié e respectivas instituições e -se-á limitado a citar apenas um dos herdeiros, quando foi financiado pela Agência Espanhola de Cooperação deviam ser todos eles, que são um total de 10. Internacional e Desenvolvimento (AECID).
Em sua defesa, dizem que, apesar de ter sido apenas O projecto “Terra da FAO”, em conjunto com seus notificado um dos herdeiros, o juiz terá, mesmo assim, parceiros do Executivo e da sociedade civil, promoveu prosseguido a acção, que culminou com o despejo de todos quarta-feira, na cidade do Huambo, uma conferência os herdeiros, filhos de Rebeca, a 4 de Setembro de 2011. inter-provincial, para lançar, por ocasião do sétimo ani- Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 105 versário da Lei de Terras, uma reflexão sobre a temática desabamento das infra-estruturas, com maior incidência fundiária nos seus mais variados domínios. para o prédio do bloco 1.
“Da Lei de Terras a uma Proposta de Desenvolvimento As condições em que se encontram os edifícios consti- Territorial” foi. o lema da conferência, que avaliou e tuem eminente perigo para os moradores e transeuntes, identificou os desafios da Lei de Terras, tendo por base sendo já do conhecimento da administração municipal um fórum de concertação congregando os actores das do Rangel, instituição onde os habitantes há muito têm instituições envolvidas na aplicação da Lei, nomeada- participado a ocorrência. mente representantes das instituições públicas e das As autoridades locais, de acordo com a fonte, promete- organizações da sociedade civil. ram dar solução ao problema mas, até a data tudo não passou de promessa. A conferência contou com a participação de represen- tantes das províncias do Huambo, Bié, Luanda, Huíla O certo é que aqueles edifícios já não possuem condições e Kwanza-Sul, na qualidade de regiões onde o tema tem de habitabilidade e, como se não bastasse, há muito que sido tratado e com resultados. deixaram de receber o fornecimento de água e energia eléctrica. A administração e gestão da terra é uma temática mul- tissectorial que envolve diversos actores (Ministérios e Este jornal apurou, por outro lado, que os moradores suas instituições a nível central, provincial, municipal, daquele bairro seriam realojados no Zango mas, até a pre- comunal, autoridades tradicionais e sociedade civil, sente data não foram dados quaisquer passos neste sentido. entre outros). O estado degradante dos prédios, assim como à falta Pretendeu-se ter no final da conferência uma percep- de energia eléctrica faz com que os amigos do alheio ção conjunta do estado destas questões, com as expe transformem aquela zona como preferencial para as suas riências de províncias e actores que tenham avançado acções marginais. Jovens desconhecidos dos moradores na questão, assim como uma aprendizagem das lições aproveitam-se, igualmente, do abandono em que estão vividas por esses actores. Em síntese, foram objectivos votados os prédios para transformarem aquela área em da conferência do Huambo: oficina de reparação de viaturas. -Fazer uma análise conjunta dos pontos fortes, assim como dos desafios do pacote legal de terras e conhecer Esperança Manuel João, 49 anos e moradora do prédio melhor os processos de delimitação de terras comunitá- bloco 1 há 20, contou que o Governo havia já entregue rias de cada província. casas aos moradores daquela zona, que se encontram -Entender a importância da segurança fundiária para a em situação de risco, mas as mesmas não correspondem agricultura familiar e como esta se insere no processo de com as que estão instaladas, apesar do desabamento desenvolvimento rural. que se verifica, enquanto outras casas já estão ocupadas por pessoas desconhecidas, alegadamente, alojadas pela administração municipal do Rangel. 7.19 Edificio de dois andares desaba no bairro nelito soares Ante a recusa dos moradores as autoridades viraram-lhes Jornal semanario continente as costas e nunca mais falaram sobre o assunto. 18 de Novembro de 2011 Esperança Manuel lamentou o facto de alguns órgãos Os moradores do bairro Nelito Soares, município do de comunicação social público terem reportado o que Rangel, estão indignados devido ao estado avançado de se passa no bairro, não tendo, porém, divulgadas as degradação em que se encontram os prédios naquela zona, reportagens. muitos dos quais a beira do desabamento, à semelhança do que ocorreu, recentemente, com uma edificação do género. Adelino Manuel, morador há 30 anos, fez saber, por seu turno, que os cinco blocos de prédios ali existentes De acordo com Juliana Bragança, moradora há 23 anos foram inicialmente erguidos para um projecto experi no prédio do bloco 3, os edifícios já não estão em perfei- mental e que seriam demolidos para dar lugar a outros tas condições, uma vez que os mesmos são pré-fabrica- com maior resistência, o que não aconteceu até agora. dos, edificados há mais de 30 anos. Os moradores dizem que estão a viver num estado de exclusão, uma vez que todos os projectos implementados Segundo apurou este jornal, a maioria dos prédios já não no município, com vista ao melhoramento das condi- têm cozinhas, nem casas de banho, resultante do parcial ções de vida dos munícipes, não os abrangem. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 106
Um dos exemplos é o abastecimento da energia eléc- 3 – Sobre a agricultura familiar foi considerada de trica pré-pago, que já beneficiam os moradores das Cs, grande importância tendo em conta o número elevado mesmo junto aos blocos, onde os habitantes são obriga de pessoas que envolve e a sua produtividade, pelo que, dos a recorrer às famosas puxadas. precisa ser tida em conta, com a devida relevância nas estratégias de desenvolvimento. Os dados apresentados No que respeita a água potável, fala-se na existência de uma para fundamentar importância da agricultura familiar nova conduta, da qual os moradores do bairro Nelito Soares mostraram que existe uma grande diferença entre as são os únicos que não beneficiam a nível do município. áreas cultivadas pelas famílias e a classe agrícola empre- sarial, indicando um ponto de partida para a projecção O actual consulado administrativo do Rangel é o quarto, da segurança na posse, numa perspectiva de desenvolvi- desde que os problemas se intensificaram naquela área, mento rural. não tendo merecido uma solução por parte das auto- ridades. O antigo administrador municipal, Maciel 4 – Foi enaltecida a necessidade de se clarificar a relação Neto, “Makavulu”, sempre que foi abordado dizia que o que se pode estabelecer entre os direitos fundiários assunto não era da sua competência. consagrados à luz do costume e da lei de terras, visto que a questão foi bastante discutida na fase de elaboração da Dos contactos feitos com o Ministério da Reinserção lei de terras, porém o problema persiste. Social, no sentido de se encontrar uma solução, os domi- ciliados obtiveram a resposta de que já lhes tinham dado Uma questão para reflexão posterior tem que ver com a novas residências e que eles mesmos é que não quiseram, possibilidade ou não de as comunidades rurais poderem razão pela qual estão entregues à sua sorte. Enquanto evoluir de forma independente. a situação prevalecer os habitantes continuarão entre- gues ao perigo, que poderá agravar-se com as chuvas que se aproximam e prováveis ventos fortes. As principais 7.21 Fazendas continuam á espera do vítimas são as crianças que sempre brincam nos andares divórcio com a letargia de cima sem quaisquer condições para lazer. Estêvão jornal angolense Machado, administrador comunal da Terra Nova, 19 de Novembro de 2011 contactado sobre o assunto, disse que or problema dos “Blocos sul-africanos”, tal o como são também conheci- A estreia de um empresário estrangeiro nas picadas de dos, já tinha ‘- sido resolvido, não tendo havido vontade acesso a grandes fazendas agro-pecuárias, acompanhada e por parte dos moradores para deixarem )S aquelas resi- ao pormenor pelo jornal Angolense, produziu elemen- dências, apesar dos riscos que ta enfrentam diariamente. tos mais do que elucidativos sobre a campanha que pre- tende apresentar dados concretos em relação ao número e à situação de empreendimentos para a agricultura e a 7.20 Conclusões da conferencia do pecuária existentes na província de Benguela. huambo Jornal semanario angolense O processo de cadastramento das fazendas confiscadas 19 de Novembro de 2011 pelo Estado depois de 1975, cujos resultados deverão servir de bússola para um amanhã divorciado da sonolên 1 – Sobre os limites ao direito de propriedade privada cia, é o testemunho de que o sector da Agricultura e no âmbito do direito fundiário, a primeira nota a reter Desenvolvimento Rural tenciona colocar as potenciali- é a de que o exercício dos direitos fundiários em regime dades ao serviço do combate à pobreza, da redução das de propriedade privada da terra, está condicionado pelo importações e da segurança alimentar. Se analisadas as fim económico e social a que se destina a terra, bem queixas de quem teve sempre na falta de financiamento como, ao exercício do direito a terra de uma forma que um de vários entraves, agora que o BCI decidiu abrir os não contrarie a lei. Em suma, o princípio da proprie- cordões à bolsa facilmente se percebe que o empurrão dade originária do estado também limita o exercício do aos empresários locais começa a cobrar o trabalho de direito privado no âmbito do direito fundiário. casa. Uma viagem ao complexo do «Utalala» (Cubal), bem longe do asfalto que esconde milhares de campos 2 – O papel das instituições do poder tradicional no agrícolas por desbravar, acabou, dizíamos, por fornecer processo de gestão das terras das comunidades rurais dados que justificam a iniciativa do MINADER. Antes capitalizou a atenção dos participantes, tendo sido con- da chegada ao «Utalala», um dos poucos exemplos a ter siderado que em caso de conflitos decorrentes de proce- em conta, mas nem por isso isento de insuficiências, dimentos irregulares por parte dos sobas, deverá preva- fomos divisando sobras de um passado auspicioso ao lecer sempre o interesse colectivo. longo dos quase 150 quilómetros percorridos. Aparente Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 107 mente abandonadas, várias fazendas com infra-estrutu- 7.22 Lei de terras constitui mais-valia ras destruídas – moradias e armazéns -, todas recheadas para o pais de vestígios da produção de sisal, algodão e de outras Jornal semanario factual culturas tradicionais da Benguela de ontem, deixaram 19 a 26 de Novembro de 2011 boquiaberto o empresário vindo da Europa. Guiada pelo presidente da Associação dos Agricultores, Manuel “A Lei de Terra vigente serve para o momento actual, Monteiro, a nossa reportagem constatou que áreas ante- embora não seja de domínio de muita gente. Aliás, infe- riormente utilizadas para a agricultura e a pecuária lizmente, Administrações Municipais e Comunais con- foram transformadas em palcos de queimadas. tinuam com procedimentos e processos que impunham a lei antiga”, afirmou o activista cívico da ONG ango- O semblante do visitante traduzia, seguramente, o lana, na hora do balanço do sétimo aniversário da apro espanto de quem se encontrava num país em relação ao vação do referido instrumento legal. qual em conta o que ele próprio observava e o conjunto de informações que recebia de quem conhece a reali- Sublinhar que, a 9 de Novembro de 2004, foi aprovada dade como ninguém. Basta dizer que Nelito Monteiro, a lei 9/04 que regula o uso e posse da terra em Angola. o anfitrião, tem vindo a alertar para a necessidade de um ordenamento rural que defina áreas de actuação para Referindo ao percurso da sua existência, Bernardo as classes empresarial e camponesa, ambas de extrema Castro destacou ser sempre bom parar, olhar para trás importância na luta pela segurança alimentar. Aliás, um e questionar o que trazemos, um balanço que permite dos propósitos da nossa deslocação foi ouvir representan- percorrer pela distância que medeia entre a produção da tes de uma certa comunidade, protagonistas de um con- lei e a sua aplicação. flito de terra que os opunha a um empresário.«Situações “Estamos a falar de uma lei que foi discutida, ampla- destas ocorrem porque não existe ordenamento, a tal mente, com a participação da sociedade civil, académi- delimitação de espaços. Ninguém, óbvio, aceitará inves- cos e não só. Em contrapartida, peca pelo facto de se tir nestas condições», resumiu a fonte, ciente de que a fundar numa perspectiva essencialmente jurídico-legal, descapitalização do sector privado – que começa a ser mutilada pela natureza do seu objectivo à dimensão reduzida – constitui outro problema. Como que na multidisciplinar, ou ainda, transdisciplinar”, salientou. mesma linha de pensamento, alguns camponeses disse ram que se encontravam na «área da discórdia» há vários Para a fonte, na verdade, tal como o seu legislador, as leis anos, mas não souberam indicar, aí está, o ponto que também não são, no seu todo, perfeitas nem eternas. A separa o espaço de cada um. No terreno, este semaná- Rede Terra participou, activamente, no processo da sua rio pôde observar a prática da agricultura familiar a um produção com estudos e outras contribuições a vários palmo de dezenas de cabeças de gado bovino, todas per- níveis”. tencentes ao empresário em causa, que terão devorado bens agrícolas produzidos por camponeses. Do seu ponto de vista, em resultado disso, os cidadãos ganharam mais direitos do que tinham na lei anterior. Diante deste quadro, Manuel Monteiro, uma vez mais confrontado pelo Angolense, voltou a bater na mesma “É um ganho, mas é preciso lembrar que, entre a produ- tecla: «tal como venho defendendo, é necessário que ção de uma lei e a sua aplicação, a distância é enorme, chegue o ordenamento rural, tarefa para a qual o Estado particularmente num país com problemas de fiscaliza- é chamado a intervir. Certamente a pensar neste pro- ção da legalidade de actos ou omissões, como é Angola”, jecto, o sector da Agricultura e Desenvolvimento Rural salientou. quer saber o número de fazendas existentes e o ponto de situação das mesmas, segundo informou o seu titular, o Conflitos de terra remontam da antiguidade o activista Engenheiro Abrantes Carlos Sequesseque. O responsá- cívico, mestre em Cidadania Ambiental e Participação, vel adiantou que as estimativas apontam para mais de referiu-se, igualmente, à percepção que existe, segundo duas mil, sendo que a maior parte está em situação de a qual, com a entrada em vigor da actual lei d terras, os subaproveitamento. «Apenas vinte fazendas ou pouco conflitos ganha maior expressão. mais estarão a funcionar, mas com muitas dificulda- “E correcta a percepção e há razões par: isso. Temos des, por isso é que vamos retirar aos menos capazes e de convir que os conflitos de terras remontam desde a conceder o direito de exploração a agricultores que se antiguidade. Veja que, para c nosso caso, temos relatam mostrem aptos, com vontade de trabalhar em prol das segundo os quais as comunidades San e Khoi terão comunidades» sido as primeiras a habitação este território que, hoje, é Angola”. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 108
Recordou tratar-se de famílias humanas cuja ocupação burlados nos processos de acesso à terra para a constru- tradicional é a recolecção, a caça e o artesanato, sendo ção dirigida, há quase três anos, quando se dirigiram detentoras na altura de grandes extensões de terras. às Administrações Municipais, a fim de se inscreverem, “Hoje, estas populações vêem-se forçadas a novas depois de pagamentos feitos aos bancos e repartições dinâmicas sociais ou marginalizadas pela comunidade das finanças para os reconhecimentos e autenticação de bantu, tendo perdido grande parte do seu património documentos para o efeito necessário”, recordou natural construído. Assim, recomendou ser muito importante compreender “As condições social, económica e cultural daquelas que a intervenção do Estado na gestão de terras e a sua comunidades, quer na Huíla como no Kuando- concessão deve ser presidida por objectivos que a Lei de Kubango, são muito difíceis, devido a graves proble- Terras estabelece. mas de segurança alimentar e/ou segurança de posse da terra”, rematou Bernardo Castro. “Para o caso, queremos relevar o objectivo disposto na alínea a) do Artigo 14°, da Lei de Terras, que julgamos Na sua opinião, os conflitos existiram e existirão sempre. um pilar sem o qual os conflitos prevalecerão por muito O que queremos é que não ponham em causa as liber- tempo: Adequado ordenamento do território e correcta dades, garantias e direitos fundamentais das pessoas, formação, ordenação e funcionamento dos aglomerados bem como os direitos sociais, económicos, culturais e urbanos. ambientais. “É do domínio público que, com a independência nacio- Para a fonte, ainda não há efectivo ordenamento e pla- nal, as famílias que tinham sido expulsas, desumana- neamento territoriais, algo muito grave. mente, regressaram às terras dos seus ancestrais. Muitas “Grave, porque sem o ordenamento do território não dessas terras foram, duramente, diminuídas e descaracte há nem se pressupõe uma atitude de racionalização dos rizadas na sua identidade histórico-cultural, com a ins- recursos naturais, tão pouco se tem a noção da distri- talação de fazendas e de outro tipo de infra-estruturas buição das classes do uso do solo. Aliás, as bases para nas terras de comunidades tradicionais protegidas pelo a estratégia de desenvolvimento territorial são estabele- domínio útil consuetudinário”, explicou. cidas pelo ordenamento, tendo em vista os critérios de povoamento e economia de espaço”, sublinhou. Bernardo acredita que, nessa época, os conflitos eram latentes, uma vez que as terras eram do Estado Colonial De igual modo, prosseguiu, o orçamento para desen- Português e os nossos povos eram tidos como indígenas cadear o processo de reconhecimento das terras rurais e outros forçados ao processo de assimilação para o seu comunitárias não foi aprovado. reconhecimento como cidadãos portugueses. “Isso foi muito duro, segundo vivências que nos são “Quer dizer que o Instituto Geográfico e Cadastral de reportadas”, assegurou. Angola, enquanto, órgão técnico de gestão de terras em Angola (Art 67° da Lei de Terras), está refém de todos Estado deve identificar razões das ocupações ilegais esses pressupostos. Precisa não só de aproximar os seus Quanto à ocupação de forma ilegal das terras do Estado serviços às populações, mas também de potenciar os para se erguerem residências, inclusive nas seus equipamentos e recursos técnicos para responder áreas de muito risco, Bernardo Castro considerou às exigências do processo”, afirmou na hora de balanço que o mais importante no momento é procurar iden dos sete o director-executivo acha que as políticas de tificarem-se as razões desses comportamentos ou actos ordenamento procuram não só soluções, mas previnem lesivos à Lei de Terras e não só. eventuais conflitos. Isso, infelizmente, ainda não é um dado cá entre nós. Na sua opinião país, no país, também “Aqui, permita-me dizer o seguinte: a propriedade origi- não existe efectivamente uma política dos solos e os que nária da terra, aqui, é do Estado. O Estado é, o proprie- ocupam grandes extensões de terras se furtam das licen- tário e dono. E a ele a quem competem as responsabilida ças ambientais. des para evitar tais ilegalidades”. “O preço da terra é especulado por não ter sido publi- De acordo com o activista cívico, o que se passa é que a cado o Decreto Executivo Conjunto dos Ministérios das terra virou, mais do que nunca, para os nossos tempos Finanças, Urbanismo e Ambiente (Art. 102° Reg. Geral um tesouro, enfim, um negócio que envolve gente com de Concessão de Terrenos) “, assinalou. muito dinheiro. De igual modo, prosseguiu, o orçamento para desen- “Muitos documentos dão entrada nos órgãos competen- cadear o processo de reconhecimento das terras rurais tes, mas nunca obtêm respostas. Pacatos cidadãos foram comunitárias não foi aprovado. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 109
“Quer dizer que o Instituto Geográfico e Cadastral de A necessidade de exploração dos conceitos de terrenos Angola, enquanto, órgão técnico de gestão de terras em rurais e terrenos rurais comunitários, no âmbito do Angola (Art. 67° da Lei de Terras), está refém de todos trabalho dos actores que intervêm na problemática de esses pressupostos. Precisa não só de aproximar os seus terras, foram outros aspectos referidos. A conferência serviços às populações, mas também de potenciar os concluiu ainda, que apesar da aprovação da lei de terras e seus equipamentos e recursos técnicos para responder às dos diferentes instrumentos, são ainda necessários vários exigências do processo”, afirmou na hora de balanço dos outros para que a sua implementação seja eficaz. Neste sete anos de existência da Lei de Terras. aspecto particular foi referido que os instrumentos pre- cisam de estar em conformidade com a lei. De forma mais sucinta, defendeu que, quando não se tem o ordenamento e planeamento territoriais nem mesmo Em relação aos limites ao Direito de Propriedade o Estado sabe, a priori, onde se situam as suas terras Privada no âmbito do direito Fundiário, ainda no pri- quer do domínio privado, quer do domínio público, o meiro painel, a primeira nota a reter é a de que o exer- que permite que conflitue com as terras tradicionais das cício dos direitos fundiários, em regime de propriedade comunidades. “Veja que o Art. 84°, da Lei de Terras e 215° privada da terra, está condicionado pelo fim económico do Regulamento Geral apelam para que todo aquele que, e social, a que se destina a terra, bem como, ao exercí- por força da guerra ou outras situações, tenha ocupado de cio do direito a terra de uma forma que não contrarie a forma irregular as terras do Estado regularizasse dentro lei. Em suma, o princípio da propriedade originária do de três anos a sua condição desde 2007”. estado também limita o exercício do direito privado no âmbito do direito fundiário. Em contrapartida, fe7 saber, as Administrações faltaram com as suas responsabilidades. Em resultado, as pessoas O debate à volta dos dois primeiros temas mostrou a construíram, até nas periferias do aeroporto, do cami necessidade de se continuar a reforçar a capacidade de nho-de-ferro, em sítios de risco, etc., sob o olhar permis- intervenção dos diferentes actores envolvidos na proble- sivo do Executivo, através dos seus órgãos de fiscalização. mática da terra, assim como o aumento da frequência de eventos que proporcionem oportunidades de discussão “ Não circula a informação sobre o direito à terra, faltam dos assuntos inerentes as questões fundiárias. diplomas por publicar tudo isso é muito complicado. E, neste quadro, o balanço quanto a nós ainda é negativo”, Ficou ainda patente no debate, a necessidade de se concluiu na sua apreciação. proceder a formulação de uma estratégia coerente de planeamento do território, que permita a definição dos espaços destinados a investimentos, mecanismos de 7.23 Problemática da terra acesso, reservas ambientais e habitação, entre outros. passada á lupa Outro aspecto que capitalizou as atenções dos parti- jornal angolense cipantes é o papel das instituições do poder tradicio- 19 de Novembro de 2011 nal no processo de gestão das terras das comunidades rurais, tendo sido considerado, que em caso de conflitos A conferência teve como objectivos, fazer uma análise decorrentes de procedimentos irregulares por parte dos conjunta dos pontos fortes, assim como dos desafios do sobas, deverá prevalecer sempre o interesse colectivo. Pacote Legal de Terras e conhecer melhor os processos de delimitação de terras comunitárias de cada província; O segundo painel que abordou Agricultura familiar, entender a importância de segurança fundiária para a sua importância, teve dois momentos: estratégias agricultura familiar, e como esta se insere no processo do Governo para o Desenvolvimento Rural e Da de desenvolvimento rural e apresentar a metodologia de Segurança, na Posse a um Desenvolvimento Rural. desenvolvimento territorial como uma alternativa facili- Neste painel, foi destacada a aprovação de dois tadora dos processos de desenvolvimento. grandes instrumentos de intervenção no meio rural pelo governo de Angola, no período que se seguiu ao O primeiro painel abordou a Lei de Terras e as suas fim do conflito armado, designadamente: a Estratégia ramificações, onde os principais instrumentos jurídicos de Combate à Pobreza e a Estratégia Nacional de aprovados depois da lei 9/04 e o seu impacto no meio Segurança Alimentar e Nutricional, desenvolvidos rural foram o foco da abordagem, tendo-se destacado em dois grandes programas complementares entre si: a consagração na lei de terras vigente, da personalidade o Programa de Extensão e Desenvolvimento Rural, e jurídica às comunidades rurais contrariamente a lei o Programa de Desenvolvimento Rural e Combate à 21-C, que precisa apenas de um título que as confirme Pobreza. como tal. 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A agricultura familiar foi considerada de grande impor- 7.24 Evitemos que a posse da terra seja tância tendo em conta o número elevado de pessoas que próxima ameaça á paz envolve e a sua produtividade, pelo que, precisa ser tida Jornal semanario angolense em conta, com a devida relevância nas estratégias de 19 de Novembro de 2011 desenvolvimento. Os dados apresentados para funda- mentar a importância da agricultura familiar mostraram A Lei de Terras (9/04), que assinala, neste mês da que existe uma grande diferença entre as áreas cultivadas dipanda, o 7. ° Aniversário da sua promulgação, foi o pelas famílias e a classe agrícola empresarial, indicando tema de uma Conferência Inter-provincial que reuniu, um ponto de partida para a projecção da segurança na na cidade do Huambo, autoridades e representantes da posse, numa perspectiva de desenvolvimento rural. sociedade civil para uma reflexão sobre a sua implemen- tação, numa iniciativa do «Projecto Terra» da FAO. O encontro concluiu ainda que a segurança de posse tem de aumentar a propriedade, que seja aceite junto das ins- Desde os tempos remotos da violenta ocupação colo- tituições externas à comunidade garantir que ela possa nial do território, que a gestão/propriedade da terra em permitir a geração de renda para as famílias rurais. Foi Angola nunca foi um tema pacífico, tendo sido, aliás, enaltecida a necessidade de se clarificar a relação que se esta relação de usurpação/esbulho que esteve na origem pode estabelecer entre os direitos fundiários consagrados da luta armada de libertação nacional. à luz do costume e da lei de terras, visto que a questão foi bastante discutida na fase de elaboração da lei de terras, Ultrapassada a grande e grave injustiça do passado, com a porém o problema persiste. proclamação da independência nacional, a terra foi consa- grada como sendo propriedade originária do Estado. Uma questão para reflexão posterior colocada neste painel tem que ver com a possibilidade ou não de Em nosso modesto entender, é mister considerar-se, as comunidades rurais poderem evoluir de forma antes de mais, que esta entidade política, o Estado, é independente. integrada pelo conjunto dos cidadãos que habitam o território, isto é, pelos seus nacionais. A Gestão de Terra e Desenvolvimento Territorial foi o A ideia de Estado entre nós é normalmente reduzida ao último tema a ser abordado, mas nem por isso pode ser poder da grande instituição chamada governo, esque- considerado como secundário, afinal foi apresentada cendo-se que o principal poder de qualquer estado uma proposta metodológica de desenvolvimento terri- democrático reside na soberania do seu povo/cidadãos. torial como alternativa que pode facilitar os processos de desenvolvimento, baseada na participação e na nego- Isto para dizer que a terra é de facto e de jure proprie- ciação, pela FAO. Os participantes foram informados dade dos angolanos, enquanto fonte de legitimação dos sobre o ponto de situação da metodologia, estando neste restantes poderes/ instituições, mas também enquanto momento a decorrer a preparação das condições para indivíduos com direitos particulares, que devem ser sua implementação a partir de Janeiro de 2012, com a tidos e achados nas decisões que se tomam sobre um realização de um diagnóstico. A proposta foi entendida património que é colectivo. como uma oportunidade para a criação de sinergias dos diferentes sectores do desenvolvimento rural, como Achamos ser importante esta incursão pela terra arável actores protagonistas do desenvolvimento. do direito, porque a gestão deste património/activo con- tinua a ser feita apenas com base nos interesses (públi- Com uma assistência de quadros das instituições públi- cos/privados) de uma parte do Estado, assumida pelo cas, académicas, sociedade civil e de cooperação inter- Governo e os seus dignitários/associados, esquecendo-se nacional, vindos, principalmente das províncias do Bié, deliberadamente que o destacamento mais importante Huambo, Benguela, Kuanza Sul e Luanda, que lidam desse mesmo Estado é o constituído por todos nós, os com a problemática de terras no país, a abertura da cidadãos. conferência contou com as intervenções do Engenheiro É neste âmbito que gostaríamos aqui de destacar a Paulo Vicente, Assistente do Representante da FAO e do importância de algumas das conclusões a que chegaram governador do Huambo, Fernando Faustino Muteka e os participantes da Conferência Inter-provincial que contou ainda com um presidium de Filomena Delgado, discutiu no Huambo o tema: «Da Lei de Terras a uma Secretária de Estado para o Desenvolvimento Rural e proposta de desenvolvimento territorial». Ana Maria, Vice-governadora da Província do Bié para o Sector Económico e Produtivo. O primeiro objectivo do encontro foi fazer a análise conjunta dos pontos fortes assim como dos desafios do pacote legal de terras e o melhor conhecimento dos pro Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 111 cessos de delimitação de terras comunitárias de cada dizia que o terreno lhe havia sido entregue pelo Ministério província. de Urbanismo e Construção, ora dizia que o terreno havia sido entregue a um grupo de generais pelo mesmo minis Os participantes procuraram entender a importância de tério. Por varias vezes tentou ainda usar o nome de outros segurança fundiária para a agricultura familiar e como inistérios, até que por fim vendeu uma parte do terreno esta se insere no processo de desenvolvimento rural. onde foi erguido uma agência do banco BFA.
Foi também discutida a metodologia de desenvolvi- A administração local pelo sucedido andou durante mento territorial como uma alternativa facilitadora dos muito tempo a sua trás, mas também não conseguiu processos de desenvolvimento. encontrar nenhum documento que comprovasse as suas versões. Por isso, transferiu o caso para o IPGUI. Projecto Terra Enquanto aguardava pela resposta, a Sr. Liseth Pedro O projecto Terra da FAO é uma ferramenta de Apoio às mandou outra vez máquinas ao terreno e destruiu toda a instituições governamentais para a melhoria da gestão plantação que lá havia. Por tentar reclamar deteram-me da posse e administração de terras e dos recursos natu- por cinco dias e graças a intervenção do gabinete jurídico rais, nas províncias do Huambo e Bié, tem como objec e do gabinete de inspecção do gabinete do Ministério de tivo central apoiar o Governo de Angola através das suas Urbanismo e Construção fui solto. instituições responsáveis no processo de gestão fundi- ária, visando a implementação do pacote legal sobre a Passado algum tempo constatou-se que o projecto acima terra com o fim de garantir os direitos fundiários dos citado não se estendia até ao meu terreno e que poderia cidadãos, sobretudo das comunidades rurais no intento retomar ao processo de legalização do mesmo. E assim o de se alcançar um desenvolvimento territorial sus fiz. Enquanto aguardava pelo documento fui informado tentável e integrado de todos os actores que intervêm pelo IPGUL que o governo provincial cedeu o direito à no meio rural (camponeses, agricultores, fazendeiros, superfície do terreno em causa ao empresário Henriques Estado, etc.). Santos. Mas, o mais estranho foi saber que embora o documento tivesse sido passado pelo empresário já men- O Projecto em referência tem como principais parceiros cionado, que, o requereu foi o Sr. José Joanhes André. o Ministério da Agricultura do Desenvolvimento Rural Tentei obter alguma explicação a partir do IPGUL, e das Pescas, o Ministério do Urbanismo e Construção, tudo o que me foi dito é que o documento foi passado no Governos das províncias do Huambo e Bié e respectivas meio da confusão, isto durante a exoneração da antiga instituições e está financiado pela Agência Espanhola de governadora Sra. Francisca do Espírito Santo. Cooperação Internacional e Desenvolvimento (AECID) Portanto, gostaria de que se fizesse justiça por tudo quanto comigo está acontecer, porque inúmeras vezes 7.25 Mais um terreno em conflito pedi a intervenção das instituições competentes, mas há Jornal angolense mais de três anos o caso continua sem solução. 19 de Novembro de 2011 Certo de que o assunto merecerá o melhor acolhimento Carta aberta á Sua Excelência Sr. Engº José Eduardo dos da S. Exa prevaleço-me do ensejo, para apresentar as Santos Presidente da República de Angola. minhas cordiais saudações.
Desde 1983 que ocupo um terreno no município de Cacuaco, altura que ainda me encontrava nas FAPLAS. Francisco Massango Possuía uma declaração de cintura verde que devido ao Cacuaco, bairro Boa Esperança Luanda seu mau estado de conservação entreguei a administra- ção municipal para a sua renovação. Mas fui informado depois, que a declaração havia sido extraviada e que devia 7.26 Requalificação da cidade melhora a constituir um novo pedido de legalização de terreno. habitalidade Jornal de Angola Em 2002, quando surge o projecto Panguila não tive 22 de Novembro de 2011 qualquer problema, porque havia grande distância entre o meu terreno e o terreno do projecto. Na verdade tudo O processo de requalificação da cidade do Lubango, ini- começou com o surgimento da senhora Liseth Pedro, na ciado em 2009, impõe sacrifícios mas vai dar melhores altura coordenadora do projecto acima referido, que com condições de habitabilidade aos munícipes, realçou no inúmeros pretextos tentou esbulhar-me do terreno. Ora domingo o governador da Huíla, Isaac dos Anjos. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 112
Falando como convidado do programa “Espaço Público” Um total de 20.350 metros cúbicos de areia foram remo- da TPA, o governador justificou que as demolições ocor- vidos para o desassoreamento da baía de Luanda, no ridas neste período visaram dar seguimento a um dos âmbito do projecto de requalificação da zona. mais importantes projectos de reconstrução nacional, o Caminho-de-Ferro de Moçâmedes, e livrar cidadãos Miguel Carneiro disse que, para facilitar os trabalhos, “de condições de vida extraordinariamente precárias” ao foi aberto um canal submarino para a renovação exige- longo do rio Mukufi, principal dreno da cidade. nação das águas.
“Temos de projectar a cidade para ver como vamos inte- A despoluição da baía de Luanda permitiu o alarga- grá-la num conjunto social e futurista capaz de absor- mento por dragagem de toda a Marginal, através da uti- ver mais gente. Actualmente o Lubango está com um lização de um moderno processo de centrifugação que milhão e meio de habitantes, mas se ela for bem estru- possibilita a limpeza das areias. turada podem caber mais duzentas mil pessoas e é isto que, estamos a fazer”, explicou o governador. Isaac dos As matérÍ’8s inorgânicas encontradas no fundo das Anjos lembrou que a maioria da população do Lubango águas, sobretudo esferovites, ferros, vidros e latas, de vive em espaços apertados, ocupando os canais de dre- acordo com Miguel Carneiro, tiveram como destino nagem e nestas condições, o modo de vida e de habita- final o aterro sanitário do Mulenvos, no município do bilidade é precário. Cacuaco.
“Olhamos para as infra-estruturas existentes e pensamos O material orgânico e biodegradável encontrado foram que a solução é oferecer às pessoas melhores condições, levados para o alto mar através de um canal criado para por isso pensou-se na instalação do comboio circular e o efeito. pensamos fazer a expansão da cidade para outras zonas”, disse o Governador da Huíla. 7.28 Membros de associação de camponeses são suspeitos da venda 7.27 Trabalhos de requalificação da baia ilegal de terrenos ficam concluidos já no proximo ano Jornal de Angola Jornal de Angola 25 de Novembro de 2011 23 de Novembro de 2011 O Comando Provincial de Luanda da Policia Nacional As obras de requalificação da baía de Luanda terminam apresentou ontem, na Divisão de Polícia da Samba, três no próximo ano, disse na segunda-feira à Angop o direc- membros de uma associação de camponeses que se dedi- tor de gestão do projecto, Miguel Carneiro. cavam a burlas e venda ilegal de terrenos. Segundo a polícia, o líder do grupo é Basílio Cadete Botelho. O responsável adiantou que a terceira fase arranca no princí- pio de 2012 e vai durar seis meses. A área que vai ser alvo de Os outros membros do grupo são Victor Capar, Américo intervenção é a Avenida da Marginal, em que vão ser colo- Fernandes e João Ferreira, identificado pelas autoridades cados novos espaços pedonais e parques de estacionamento. como o secretário executivo da associação de campone ses. Os detidos alegam inocência e dizem que a sua A obra, em curso desde 2009, está a transformar a baía detenção é ilegal por não terem sido apanhados em fla- de Luanda num local moderno e renovado do ponto de grante delito e os terrenos pertencem aos camponeses vista ambiental. que se inscreveram na associação.
Neste momento, decorrem trabalhos para a criação de O inspector Nestor Goubel, porta-voz do Comando uma nova avenida, com seis faixas de rodagem ao longo Provincial de Luanda da Polícia Nacional, disse que os de todo o percurso e oito faixas nas zonas de intercepção terrenos em causa são “reserva fundiária do Estado e as com outra rodovia. pessoas não podem vir com meras cantigas para justifi- carem a sua actividade ilegal”. A primeira e a segunda fase do programa, que decorre- ram em paralelo, consistiram na construção da ponte Essa prática, referiu, tem ganhando corpo a cada dia Kianda, que liga a Marginal à Praia do Bispo; e na que passa nos municípios da Samba, Cacuaco, Viana construção de uma estação de serviço de combustíveis. e Kilamba Kiaxi. “É preciso tomar medidas para pôr A criação de zonas verdes, num total de 12 hectares, termo a esse tipo de práticas”, disse. constou, também, da primeira e segunda fase. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 113
A Associação de Camponeses para o Desenvolvimento de Cacuaco nas proximidades da nova subestação da Agro-pecuário e Pesca Tala-hady (ACDAPTH), dedi- Empresa Nacional de Electricidade (ENE). cava-se, segundo a Policia Nacional, à venda ilegal de ter- renos em vários bairros de Luanda, há mais de cinco anos. Ele é alegadamente proprietário de um terreno de 15 metros quadrados no referido bairro. Num belo dia, Os elementos do grupo reconheceram que vezes sem foi surpreendido por supostos elementos da Comissão conta endereçaram documentos às Administrações do bairro, dizendo-lhe que devia abandonar o terreno, Municipais de Viana e Samba para legalizarem o pro- porque pertencia à outra pessoa. cesso de venda, mas sem sucesso. Por isso, decidiram “Pedi explicações aos mesmos que me apresentassem o criar a associação para convencerem a população de que referido dono. E estes, simplesmente não quiseram. Foi era um projecto sério e legal. O administrador comunal assim que nos desentendemos, porque há mais de nove do bairro do Ramiro, Vihinda Lumbala, desmentiu a meses que ocupei o terreno e não encontrei ninguém”, existência dos documentos. descreveu Henriques, depois disso, viu-se esbofeteado, tendo ficado com os maxilares partidos. Os detidos garantiram que os terrenos pertencem aos camponeses do bairro do Ramiro, município da Samba, “Já formalizei uma queixa na Divisão de Polícia de que os autorizaram a fornecê-los à população pelo Cacuaco. Estou a espera do número de processo e que valor simbólico de mil Kwanzas. Era exigida a cópia me chamem juntamente com os agressores para que do Bilhete de Identidade e uma fotografia do tipo passe sejam responsabilizados”, argumentou, acrescendo que para os candidatos aos terrenos constarem da lista de lutar até onde poder pelo seu terreno. beneficiários, que já ultrapassa 300 inscritos. Espancado foi também João Alberto que, por cúmulo, As autoridades do Ramiro confirmam a existência de viu sua casa demolida por um grupo, alegadamente, associações e indivíduos estranhos que se dedicam à liderado por uma tal senhora Adelaide. invasão de terrenos considerados reservas fundiárias do Estado para comercializarem de forma ilícita. VIbinda “Vinha do trabalho. Quando cheguei o meu vizinho Lumbala, administrador comunal do Ramiro, reco informa-me que os fiscais passaram e colocaram nheceu a existência de invasão de terrenos por parte de algumas estacas no meu terreno”, perante essa situação pessoas estranhas que se intitulam ser membros de uma João Alberto deslocou-se ao comité do MPLA onde os associação de camponeses. supostos demolidores trabalham, “no sentido de me informar sobre o que estava a acontecer”. Considerou que estes indivíduos com estas práticas “O senhor Matondo respondeu que meu terreno era pretendem apropriar-se das reservas fundiárias do grande e, para tal, tinha de ser repartido. Não aceitei a Estado. “Nós fazemos trabalhos de fiscalização juntos proposta. Logo, o mesmo e os seus colegas começaram das áreas consideradas reservas fundiárias”, precisou a bater-me”, queixou-se, salientando ainda que nestes Vihinda Lumbala. bairros novos todos existem grupos de aproveitadores que se fazem passar por fiscais ou militantes do MPLA. O administrador comunal do Ramiro precisou que a ocu- pação ilegal das reservas fundiárias prejudica os projectos “São grupos de aproveitadores espalhados nestas zonas. que o Governo Provincial de Luanda pretende desenvol- Estão na pedreira, no Belo Monte e depois da Anda”, ver que, vão desde a distribuição de espaços à população denunciou ao notar que a actividade destes é desarmar para o programa de auto construção dirigi da. “Os preva- terrenos e revende-los a outros interessados. ricadores utilizam a astúcia para enganar as autoridades”, “Fiz uma participação à Polícia de Cacuaco e já tenho o disse. Os cidadãos insistem em comprar aos vendedores número do processo, porque estes bandidos demoliram terrenos considerados reservas fundiárias do Estado. a minha cabana de chapas. Por enquanto só estamos a fazer cabanas de chapas para manter o espaço enquanto vamos preparando o material”, avançou A1berto. 7.29 Luta por terra jornal a capital No terreno, o A Capital ouviu a versão da Iª secretária da 26 de Novembro de 2011 OMA, Adelaide Paulina. De acordo com ela, devido as constantes queixas de burlas ou ocupação de terrenos e, Pedro Francisco Henriques de 38 anos foi barbara- visando combater os assaltos nocturnos, foi constituído mente espancado por elementos ligados a uma suposta um grupo de rondas nocturnas, que também vela pela Comissão de moradores que se fizeram passar por fiscais urbanização do bairro. no bairro Deolinda Rodrigues, algures no município Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 114
Este grupo acrescentou, é que tem entrado em con- 7.30 Demolições e promessas do flitos com os moradores. A mesma reconheceu que governo de Luanda houve, sim, espancamentos no bairro que envolveram jornal a capital o senhor Matondo e alguns cidadãos. 26 de Novembro de 2011
“O senhor Matondo teve brigas com cerca de 17 Cansado de viver na tenda está Maid Bumbas, uma elementos e ao longo dessa briga soube que houve das vítimas das demolições de 2004 no bairro da feridos”, confirmou, mas observou que “nós inter- Cambamba. Disse à nossa reportagem que desde a altura viemos imediatamente, encaminhando-os para o em que perdeu a casa até ao presente, vivem de promes- hospital. sas dos dirigentes do país. “Depois das demolições, o GPL, orientou que permanecêssemos cada um no local “A casa destruída é de um cidadão que foi encontrado onde havia a sua casa. É onde estamos a viver até hoje, a pernoitar ao relento com uma arma de fogo. Ao em cabanas de chapas, comas nossas famílias”, frisou. ser interpelado, disparou contra o pessoal da ronda. Participamos o caso à Polícia e o camarada tivera Acrescentou que no dia 02 de Agosto de 2007 tinham sido detido”, explicou a responsável da OMA, pontu sido visitados pelo ministro das Obras Públicas, Higino alizando que, enquanto esteve preso, o primo do carneiro, que lhes prometera realoja-los no Zango-III ou mesmo é que destruiu a cabana, alegadamente porque quatro. “Em 2008 veio cá uma comitiva do MPLA lide- as chapas eram dele. rada pelo e camarada Dino Matross. Fez as mesmas pro- messas. Até agora nada vimos a respeito do prometido”, De salientar que as vitimas mais frescas das demolições exclamou com o rosto carregado. Pedra Bata é outro são cerca de 120 famílias que residiam nos arredores cidadão que no mesmo período perdeu a sua casa no do Dispensário de Tuberculose de Luanda algures no bairro Bagdad sob a justificação do GPL, segundo a bairro Shaba. O A Capital foi ao local e constatou qual, tinham que ser banidas as construções anárquicas. dos moradores que restam no local o destino dado aos seus confrades de longa data. Dona Bela é também “Diziam que construímos anarquicamente ou de forma uma das moradoras do bairro que espera conhecer o ilegal, mas a Administração do Kilamba Kiaxi sabia da mesmo destino dentro de mais ou menos dias, uma existência do bairro. Hoje vão lá ver o que estão a fazer vez que a casa dela já foi enumerada e, quando isso nos nossos terrenos? Será que só eles é que devem viver acontece, não se espera mais nada. bem neste país?”, indagou o cidadão, para a seguir recor- dar que no dia 07 de Junho deste ano, mantiveram um “Estamos todos na iminência de sair daqui do bairro”, encontro com o GPL, 00 que, 00 que, tudo o que lá acredita ela que diz viver no bairro há cerca de 18 ficou acordado nada foi cumprido. anos. “Daqui a dias virão com outras mentiras com o aproxi- José Tavares, 47 anos, ainda não foi desalojado, mas mar das eleições para caçarem os nossos votos”, deduziu já se queixa de saudades do bairro caso isso aconteça. Hata. Recorde-se que fruto das demolições e o não É lá onde ele tem suas raízes de amizades e de traba- realojamento as vitimas haviam tentado manifestar-se lho, ao longo de uma vivência de 22 anos. junto do palácio presidencial, uma tentativa, no entanto, “Meus filhos se fizeram homens aqui. Uns já são pais gorada. Os populares pretendiam pedir explicações ao e donos de casa. Estamos prontos para sair desde que Presidente da República sobre as demolições das suas nos alojem em casas condignas e não em tendas como residências e saber onde passariam a residir. O desejo tem sido noutros bairros”, reivindicou, concluindo que esbarrou numa barreira policial, fortemente arma que mesmo nas áreas de transferência devem colocar da, apoiada por uma brigada canina e dezenas de veí- muitos autocarros à disposição. culos de combate. As demolições, só em Luanda, terão “Os vizinhos que foram para o Panguila estão a recla- deixado cerca de três mil famílias ao relento. mar os gastos com o táxi, porque muitos deles traba lham nestes arredores. As senhoras têm cá as suas As várias promessas de resolução das «violações das vio- fontes de negócio”, manifestou. lações de direitos humanos pelo Governo da Província de Luanda” no que às demolições, desalojamentos forçados e esbulhos de terras diz respeito, mereceram uma refle xão por parte da organização não governamental SOS Habitat, no dia 19 último. O acto que se subordinou ao tema, “Violações dos direitos humanos em Angola e promessas documentadas não honradas pelo Governo da Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 115
Província de Luanda”, juntou jornalistas e membros “Vamos dirigir uma missiva assinadas pelas vitimas de das comunidades achadas vítimas de demolições da demolições em Luanda ao Presidente da República para ilha de Luanda, vivendo, actualmente, em tendas nos exigir que resolva ºs problemas das pessoas vitimas de bairros zango, Cambamba I e II, Banga Wé, Bagdad, demolições da llha de Luanda, actualmente a residirem Dangeré, no município do Kilamba Kiaxi, para além em tendas no zango, município de Viana. dos sinistrados das chuvas de 22 de Janeiro de 2007 e os que, em 2009 requereram e pagaram mil e 500 kwanzas no Banco BPC, terrenos, que deram entrada 7.31 Reservas fundiarias foram ocupadas nas administrações municipais, afim de integrá-los ilegalmente num ambiente social digno e harmonioso. Jornal de Angola 29 de Novembro de 2011 Ao usar da palavra, Rafael Morais da SOS Habitat, começou por dizer que a “impunidade dos violado- Na localidade de Capari Novo, província do Bengo, res dos Direitos Humanos continua a ser a caracte- centenas de pessoas ocuparam Ilegalmente as reservas rística principal da situação”, se não fosse, destacou, fundiárias do Estado e pretendem construir casas A “milhares de vitimas de desalojamentos forçados não esses espaços. A Informação foi divulgada ontem, no continuavam a aguardar por justiça”. “A maioria Caxito, por Fonseca Canda, administrador municipal das tentativas de processar violadores dos direitos adjunto do Dande. humanos junto dos tribunais não chegaram a um momento de julgamento e sentença”, recordou o acti- Fonseca Canda garantiu à comunicação social que há vista social que critica a falta da parte do Governo de muita gente a ocupar terrenos ilegalmente. Na zona uma postura de reconhecimento de direitos, valoriza- de Capari Novo existem duas reservas fundiárias, ção, promoção e protecção da maioria dos cidadãos. uma das quais pertence ao Gabinete de Reconstrução Nacional, com uma área de 2.127 hectares, destinada Rafael Morais vai mais longe e acusa o Governo de à construção de habitações. usar modelos de desenvolvimento muito arcaicos, segundo ele, baseados no modelo de crescimento da Com a recente divisão administrativa, que altera os cidade planificado na época colonial. limites geográficos das províncias de Luanda e Bengo, “É um modelo que se centro na expan- ~ são da “verificou-se a invasão das reservas fundiárias “, infor cidade para as periferias onde vive gente vulnerável mou Fonseca Canda. e, cada vez mais pobre”, expressou, acrescentando que é tudo parte de um plano bem estudado, visando Revelou igualmente que existe uma terceira reserva a expulsão forçada das pessoas. “É um modelo de fundiária, também na localidade do Capari, com desenvolvimento económico e político urbano que, uma área de 3.215 hectares, sob responsabilidade do objectivamente, exclui, expulsa e reprime com vista Governo Provincial do Bengo: “também esta reserva a promoção da apropriação de terras e a realização de está a ser invadida porque o Governo Província do rendimentos das elites”, considerou. Bengo não tem o controlo da área que só agora passou para a sua jurisdição”. A Administração Municipal do Na óptica de Rafael Morais, o actual cenário só Dande não cedeu nenhum espaço naquela zona, pôs serve para atiçar os ânimos de pessoas já frustradas, isso, “qualquer ocupação é ilegal”. Fonseca Canda concluindo que as manifestações da juventude que denunciou que os ocupantes levantam casas de chapa hoje se observam são fruto de algumas destas atitu- e capim para depois extorquirem dinheiro ao Estado des incubadas na alma dos adolescentes ou mesmo quando forem desalojadas. crianças. “Estamos a falar, por exemplo, de milhares de crianças provenientes da llha de Luanda, actu- Neste momento, segundo o representante da almente a viverem em Tendas no Bairro zango e as Administração do Dande, há mais de 4.000 ocupan- dos realojados da Tchavola e Tchimucua na Huíla, tes ilegais nas reservas fundiárias do Estado, “o que Cambambas e outras comunidades, que a qualquer impede o ordenamento do território”. momento podem revoltar-se, porque vivem os efeitos das violações”, exemplificou, avançando que em face Fonseca Canda é de opinião que “as ocupações têm da situação vigente, adivinha-se que nos próximos contornos políticos” e revelou que já foram tomadas meses, caso não se resolvam as promessas, o Governo medidas para estancar a situação. “Reunimos com Provincial de Luanda pode ser levado às barras do os ocupantes ilegais nos locais onde construíram e Tribunal. foram intimados a abandonar as reservas fundiárias de imediato, mas muitos não acataram as ordens”, Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 116 disse Fonseca Canda. Mas a Administração do Dande vai avançar com. medidas drásticas “porque esta prática é, um crime não podemos tolerar acções criminosas”. Uma das reservas ocupadas está destinada à construção de uma nova centralidade.
“A Administração Municipal do Dande tem os equi- pamentos e meios técnicos necessários para intervir no terreno e começar o seu trabalho de limpeza dos terre- nos”, sublinhou Fonseca Canda.
Por outro lado, pontualizou que após o loteamento, os interessados na aquisição de terrenos deverão dirigir-se à Administração municipal do Dande, para cumprir com as formalidades, tendo em conta a obtenção de terrenos. A pergunta sobre os critérios de cedência de terrenos com interesses económicos, que compreendem a extracção de terra vermelha, burgau, água, pesca e o potencial turís- tico, com amplas zonas lacustres e à beira-mar, Fonseca Canda frisou que a administração saberá fazer a distin- ção das diferentes áreas para o melhor aproveitamento, e em prol da economia do país.
“Apelamos para que abandonem as áreas, para fazermos as separações entre o interesse económico e o social”, disse Fonseca Canda.
Adiantou que nos critérios de 10teamento existem par- celas para residências de renda baixa, média e alta. “As pessoas estão a ocupar grandes extensões de terreno, UIlJ hectare, outros 600 metros quadra- dos. isto não é possível. Temos que ser organizados e não incorrermos em deso- bediência ci- vil”; alertou o funcionário séniorda Administração do Dande, província do Bengo.
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8 SERVIÇOS BASICOS citando as regiões do Zango, na Viana, e do Panguila, no Cacuaco, pontos satélites de Luanda. Segundo as autoridades responsáveis por esses locais, a pressa do governo materializar determinados projectos leva a 8.1 Pobres pagam pela água dos ricos desalojar as populações e realojá-los nessas centralidades Jornal semanario angolense mesmo que 1S condições básicas não tenha sido garanti- 05 de Novembro de 2011 das. Isso inclui, claro, o acesso à água através da canali zação devida e a sua distribuição. Prece ser uma das maiores preocupações do governo – e deveria mesmo ser – pelo alarde que se faz em torno da A orientação do governo é que as infra-estruturas, como questão, de um lado, e do outro, pela necessidade pri- a rede de abastecimento do preciso líquido, sejam feitas mária que constitui o acesso ao produto – a água. Mas o gradualmente, depois de «instalar» as pessoas nas casas. resultado do estudo recentemente divulgado pela orga- Por isso, nessas regiões, a falta de água é crónica e a bata nização não-governamental internacional Development lha para se conseguir «cartá-la» é heróica. São longas Workshop (DW) só veio praticamente confirmar de caminhas com bacias, baldes e bidões «na cabeça» para maneira mais formalizada aquilo que a população já vive «estocar» às vezes apenas 10 litros de água por dia. e constata na prática. A recomendação da Organização Mundial da Saúde, Saiu desse estudo a conclusão de que os cidadãos pobres segundo o dirigente da DW, é de que, por dia, em con- pagam aproximadamente 20 dólares por cada metro dições normais, uma pessoa consuma 60 litros e, em cúbico de água, ao passo que, para usufruírem da mesma situações de emergência, no mínimo 20 litros, nas mais quantidade do precioso líquido, os cidadãos mais ricos diversas actividades. Isto quer dizer que além de pouca, pagam apenas um mísero dólar. Isto é: os que ganham a quantidade de água consumida por cada cidadão entre pouco ou quase nada, que são a maioria, pagam dois nós, nos termos de uma vida salutar, é um atentado. mil kwanzas (pelo actual câmbio das kinguilas) por mil «Isto não é bom para a saúde humana», diz Allain Cain. litros de água. E os que ganham muito ou quase tudo pagam somente 100 kwanzas pela mesma quantidade Se para as camadas mais pobres as infra-estruturas de água. para o acesso condigno à agua podem ser feitas paula- tinamente, uma vez que não se tem outra opção, senão Como grande parte dos cidadãos da faixa dos mais aceitar o destino que lhes é imposto, para as camadas «balados» é • constituída por pessoas ligadas ao poder mais abastecidas, o próprio governo faz questão que e logo abaixo deles vem a faixa dos funcionários públi- a coisa seja diferente. O maior exemplo desse critério cos privilegiados, o pacote das suas benesses não poucas segregacionista é-nos dado pelos apartamentos de classe vezes inclui a isenção do pagamento da conta de água, média/ alta da cidade de Kilamba Kiaxi. sendo isto feito pelo Estado. Mesmo quando o liquido não chega, ou vive a secar nas torneiras, os camiões-cis- Há a impressão de que, neste caso, não houve pressa de ternas, em muitos casos, são subsidiados para encherem se terminaram as residências da cidade do Kilamba, já os tanques dos «chefes». Eis a extensão do desequilíbrio que aí estão todas as condições criadas para oferecer água total. suficiente a quem lá for morar. Longe da realidade dos que «cartam» água todos os dias pelos «zangos» da vida, O director-geral da DW, Allain Caiu, citado pela revista são os cidadãos de classe média e classe média alta é que «Economia & Mercado», na sua análise diz que se a água vão ocupar aquelas casas. É a consumação da injustiça continuar a ser distribuída gratuitamente aos ricos não social promovida entre nós. haverá fundos para o Estado recuperar os investimen- tos, garantir a manutenção das condutas que estão a ser Haverá tempo de refazer qualquer mal entendido que instaladas, nem meios para alargar a rede às zonas ainda supostamente poderá existir na leitura que se faz dessa não beneficiadas. conjuntura? O «homem-cabela» da DW é de opinião que o Estado deve permitir a entrada de operadores pri- Mas, parece que o juízo do Estado segue outras direc- vados neste nicho do mercado, sem se abdicar do com- ções e estabelece as prioridades de acordo com as neces- promisso de subvencionar o consumo da água. «Se o sidades da elite, cuja nata está enlaçada ao poder. valor gasto pelos pobres na aquisição da água pudesse ser recuperado pelas autoridades, daria para estender a Um exemplo dessa observação são os critérios levados rede até às zonas suburbanas», anota. a cabo na construção das casas ditas sociais, localiza- das nas periferias das grandes cidades, particularmente, Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 118
Há um dia de dinheiro que corre nas regiões periféricas Foi igualmente construído um reservatório de distri- de Luanda, cuja fonte são os pobres, e que dá um banho buição semienterrado, com capacidade para cinco mil frio na EPAL. Um mercado avaliado em 250 milhões metros cúbicos de água, e concluída a rede geral de de dólares em cada, em todas as formas de consumo distribuição. O governo gastou 10 milhões e 350 mil de água praticadas por esse mundo «desgraçado». dólares. Enquanto a EPAL, conforme o documento elaborado pela DW, arrecada apenas 17 milhões de dólares anuais Com a conclusão do segundo lote do projecto, que con- em cobranças pelo fornecimento do serviço. sistiu na distribuição de água ao domicílio bem como da construção de 93 fontenários nas zonas suburbanas, os Assim, mais ou menos 233 milhões de dólares passam habitantes sentem-se agora mais folgados. por baixo da ponte da informalidade. Mas longe de ser um vilão para a população, a «candonga» da água Esta empreitada esteve a cargo da empresa “Abrantina é a única saída visível no universo das necessidades dos Construtora”, e custou aos cofres do Estado oito pobres, onde o Estado, sejamos realistas, ainda não é milhões, 414 mil e 793 mil dólares. Actualmente, com capaz de lá chegar. Perde o Estado, sim. Mas, os cida- mais de 150 habitantes, para além da nova conduta dãos, pelo menos, não morrem de sede. adutora do rio Mucari, Ndalatando possui mais duas condutas erguidas na década de 50, sendo uma de água mineral, a partir da fonte da “Santa Isabel”, e outra do 8.2 Abastecimento de água chega ás “Monte Redondo”, que produzem cinco e 20 litros por aldeias segundo, respectivamente. jornal de Angola 11 de Novembro de 2011 População aplaude Anteriormente, com a escassez que se fazia sentir um O programa “Água para Todos” melhorou este ano a pouco por toda a cidade e arredores, era possível assis- vida das populações do Kwanza-Norte, elevando para tir a distribuição da água a ser feita por camiões cister- aproximadamente 200 mil o número de pessoas com nas adquiridos pelo Governo da província do Kwanza- acesso directo à água potável com a Instalação de sistemas Norte, visando atenuar a carência no fornecimento do no Mussabo, Tango, Lulnga (Ambaca) e Samba-Caju. referido líquido às p6pulações, contribuindo também para a prevenção de doenças causadas pelo consumo de A par destas localidades, todas as vilas municipais da água imprópria. província já possuem água potável a jorrar nas torneiras, bem como a maioria das comunas e aldeias da província As cisternas circulavam todos os dias nas redondezas dos dispõem igualmente de novos sistemas de abastecimento bairros Ndalatando, 28 de Agosto, 11 de Novembro, e tratamento de água. dentre outros. Apesar disso registavam-se grandes alvo roços para cada pessoa conseguir encher o seu recipiente, Os habitantes da cidade de Ndalatando já respiram dado o pouco tempo que as viaturas, insuficientes para a de alívio, agora que está concluído o novo sistema de demanda, permaneciam nessas zonas. captação e distribuição de água, entretanto erguido na área, identificado na década de oitenta na represa do rio Actualmente, com a água a jorrar nas torneiras das ruas Mucari, localizada a 17 quilómetros a Leste da cidade. da cidade, bem como dos fontenários espalhados pelos O sistema tem capacidade para bombear 90 litros por bairros periféricos, é já notável a satisfação das popu segundo. lações que há muito almejavam este benefício.
As obras incluíram duas fases: a primeira teve a ver com A reportagem do Jornal de Angola ouviu alguns bene- a captação e tratamento da água e consequente acumu- ficiários, os quais congratularam-se com o esforço feito lação nos reservatórios. Tais trabalhos terminaram em para a melhoria do abastecimento de água, tendo alguns Março de 2009. A segunda fase consistiu na reabilitação deles solicitado o reforço do trabalho realizado no da captação a partir do Mucari e terminou com a distri- tocante às ligações domiciliares, uma vez que as novas buição às residências. canalizações fixam-se apenas até aos contadores de cada residência. A cargo da empresa chinesa Sino-Hydro, os trabalhos envolveram a reabilitação de 7,5 quilómetros de tubagem A senhora Constância Francisco, moradora há mais de em “PVC” e ferragem para adução de 9,3 quilómetros, 10 anos no bairro Sambizanga, referiu que a sua família para além da nova captação, conduta adutora e estação deixou agora de percorrer longas distâncias para conse de tratamento. guir água, tendo sugerido um aumento do número de Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 119 fontenários no seu bairro, para poder diminuir o fluxo lidade. A equipa de reportagem deste jornal visitou os de pessoas. Municípios do Rangel e Kilamba Kiaxi para ver de “Estamos muito contentes, é um passo bastante louvá- perto, como as pessoas fazem para conseguir líquido vel. Nós desde sempre consumimos água das cacimbas. precioso. Tínhamos de andar longas distâncias para conseguir boa água, agora já não, só pedimos que acrescentem mais Pela ausência da água corrente nas torneiras de casa, o fontenários para nos ajudar, porque devido às enchentes negócio da água, nos bairros Sapú e Nelito Soares zona a confusão também aumenta. Somos muitos e a água é da Cs, na periferia de Luanda, ganha corpo. Muitas pouca”, referiu. famílias têm a grande dificuldade de conseguir o líquido que consideram até mesmo ser mais valioso que o ouro. Por outro lado, Helena Zamuna, doméstica e mora- dora na rua da emissora há mais de 30 anos, frisa que o Na comuna do Nelito Soares, zona da Cs as dificuldades número de cidadãos na cidade cresce todos os dias, pois são ainda maiores, porque grande parte dos moradores, a procura do precioso líquido era urna das maiores dores precisam se deslocar até a zona da Precol ou até mesmo a de cabeça na circunscrição. Salienta que o novo sistema zona do mercado do Tunga para conseguir água potável. que todos os dias leva a água à comunidade tranquiliza de que maneira os moradores da área. Aumentaram os Numa breve ronda efectuada pela nossa equipa de repor- níveis de oferta e diminuiu a procura. tagem ao interior do bairro Rangel constatou-se que há mais de oito anos que os moradores da comuna com o mesmo nome estão sem água nas torneiras. Filomena 8.3 Água dificil para todos Manuel, 49 anos moradora na rua da C10, contou que Jornal a capital quase todas as casas da sua rua tinham água canali- 12 de Novembro de 2011 zada, mas que desde o ano de 2002 que são obrigados a comprar em camiões cisternas 1000 litros de água por Numa altura em que o Chefe de Estado, José Eduardo 4 mil kwanzas. “Para quem, como eu, tem seis pessoas dos Santos, proferiu na Assembleia Nacional, no passado em casa sou obrigada a gastar, de duas em duas semanas, dia 22 de Outubro, um discurso sobre o estado da 4 mil kwanzas, o que arromba com o orçamento fami- Nação. Discurso, que foi aguardado com muita expec- liar”, lamentou. tativa, por todos os cidadãos nacionais e não só. Segundo ela, já foram feitas várias solicitações, junto às Durante o discurso, o Presidente da República fez administrações comunal e municipal, para encontrar uma pormenorizada radiografia de todos os sectores da uma solução, mas o que é verdade, volvidos quatro anos, governação. Assim, todos os angolanos tomaram conhe- “nem água vai, nem água vem”. Marisa Solange, outra cimento, do que está a ser feito em cada sector, dentre moradora ouvida pela reportagem do Jornal A Capital, eles estava o sector da Energia e Água. revelou que, não acredita que o Rangel volte a ter água como antigamente. Apontou os lençóis freáticos que Para melhor orientação de todos os cidadãos, o Chefe de ameaçam engolir o bairro e as obras inacabadas nas Estado garantiu que já se pensou vários projectos de média estradas como factores de impedimento. Declarou ainda e grande envergadura, para assegurar o abastecimento que, existe muita gente a ganhar fortunas com o negócio de água a muitos centros urbanos, mas não existe por dos camiões cisternas que vendem a água no bairro. Por enquanto uma carteira nacional de projectos estruturantes, isso, sentenciou que, “não vai ser tão cedo a reposição que resolvam, satisfatoriamente, o problema da água. da água, no bairro Rangel”, frisou, sublinhando mais adiante que o negócio dá de comer a muita gente e nós No sector da Energia e Aguas destaca-se o facto do Chefe que compramos somos, os mais prejudicados em termos de Estado ter frisado a importância do programa “Água de gastos”. para Todos”, que na sua óptica 1,2 milhão de pessoas já beneficia com água potável. Assim, o consumo de água Dona Quina Francisco, moradora no bairro Nelito passou de 67 litros por habitante, isto é, por dia, em Soares, disse à nossa equipa de reportagem que, 2008, para 101 litros por habitante por dia em 2011, num antigamente no bairro saía água, mas com o passar do crescimento de 51 por cento. Até ao ano de 2012, este tempo tudo foi mudando e desde o não de 2003 que não programa tem como objectivo assegurar o acesso à água têm água, a jorrar das torneiras e por vezes. potável, a pelo menos 80 por cento da população rural. “Estamos há mais de oito anos sem água corrente e Mas, isto não se vê em vários pontos da cidade capital, ninguém diz nada sobre o assunto”, disse, acrescen água potável para todos está muito longe da nossa rea tando que os jovens que acarretam a água, em bidões, Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 120 cobram muito caro. “chegamos a pagar muitas vezes 250 e «HDA». Nesse bairro, algumas moradias, próximas da kwanzas(kz) por bidão”. Para a moradora, nem sempre estrada, têm energia eléctrica, mas noutras (distantes da há bolso para aguentar a situação. Por isso, opta por pro- estrada), há cidadãos que não beneficiam desse bem há curar ela mesma, a água gastando somente 20 kz, econo- mais de 30 anos, segundo constatou este jornal. mizando o máximo possível. O nosso primeiro entrevistado foi Venâncio Tchivinda, Já Garcia Leandro, 37 anos, morador do bairro Sapú, o mais antigo morador da comuna do Ngulo, localizada revelou que no seu bairro nunca houve água nas tor- no referido bairro, que aí reside desde o ano de 1981. neiras e esta situação, é um dos muitos problemas que Segundo ele, desde então, o maior problema sempre o bairro enfrenta e por este motivo, as pessoas vivem foi a falta de energia eléctrica e água canalizada. «Para prevenidas, construindo tanques ou até mesmo acumu falar verdade, nunca tivemos em momento algum estes lam bidões em casa. dois bens, desde que se começou a erguer casas nesta circunscrição.» “Para o meu caso, eu tenho em casa vários bidões para transportar a água sempre que haver necessidade”, A falta destes dois recursos tornou-se numa praga para salientou, aludindo que a água para o banho deve ser a os moradores, disse, explicando que alguns até têm conta gotas. energia, mas não é da rede da EDEL e, sim, de pequenos «puxa-puxa» que os vizinhos criaram, e também não é Em tom de desabafo explicou ainda que chega a ser energia com que possam contar, porque «mais vai do que cansativo, os vai e vem com o carro de mão “É abor- vem»).Para se ter a casa iluminada, só com gerador, cujo recido, por vezes chego no local de trabalho rebentado, barulho é benéfico para os assaltantes praticarem as suas mas para satisfazer a minha necessidade tenho mesmo acções sem que sejam notados. «A casa de uma antiga que me sacrificar,” salientou. vizinha foi assaltada, ela clamava por socorro, mas não foi possível socorrê-la, porque devido ao barulho dos José Benedito disse, à reportagem do Jornal a capital, geradores, ninguém ouviu nada», contou Lito Francisco, que tem uma carrinha, uma forma que encontrou para morador do Ngulo, ajudar os seus vizinhos. Está neste negócio há quatro anos. Conta que, o seu ganha-pão começa com a recolha A nossa fonte perdeu a conta de quantos geradores já de bidões à porta do cliente, enche-os no fontanário da comprou, tendo criado em sua casa uma oficina para Calemba II e a seguir faz a entrega, a cada um dos clien- reparação das máquinas. tes. E que não se pense, que o trabalho de José Benedito é feito de forma desorganizada. A situação em que se encontra o bairro mencionado é lastimável, principalmente pelo facto de ser considerado de baixa renda, por isso, muitos residentes só podem 8.4 Bairros de Luanda sem energia melhorar as suas condições de vida em sonhos. Para há 30 anos agravar a desgraça dos cidadãos, além da energia e água, Semanário Angolese não existe sequer um hospital público ou uma escola 12 de Novembro de 2011 estatal, falando-se somente em clínicas e colégios.
A responsabilidade de distribuição de água canalizada e Para que explicasse os motivos desse exagerado tempo energia eléctrica à população tem sido uma tremenda dor sem energia, contactámos o presidente da comissão dos de cabeça para aqueles que se comprometem fazê-lo, o moradores local, Adelino Laurindo, o qual adiantou GPL, pois, ainda se encontram, em alguns municípios da que, dentro de poucos meses, provavelmente ainda este cidade capital, populares que, desde a fundação dos bairros, ano, o bairro todo vai beneficiar de energia eléctrica e nunca viram a «cor» da energia da rede, muito menos água água canalizada. canalizada. O Semanário Angolense conta a história de três «guetos» luandenses, nomeadamente, Os Ossos, muni- Acrescentou que será erguida uma escola estatal, que cípio do Sambizanga, Curtume (Cazenga) e Morro Bento leccionará, pelo menos, até ao ensino médio. «São as três lI, Samba, considerados como os líderes da escuridão, a coisas que estão no programa para este ano para o bairro começar pelo último, uma vez que esse conglomerado Morro Bento II que posso adiantar», precisou. lidera a lista, com 30 anos sem água nem luz. A nossa equipa de reportagem tentou conversar com o O bairro Morro Bento II é visto como um dos bairros administrador do município da Samba, Pedro Fançony, de alto risco desta cidade, tendo gerado grupos de delin- mas, infelizmente, como já se tornou habitual no exercí- quentes altamente perigosos, nomeadamente «Babilónia» cio da nossa função, os nossos esforços foram por «água Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 121 abaixo». Inclusive, marcámos uma audiência com o edil, quem tinha a responsabilização de concluir o trabalho mas até ao fecho desta edição, e apesar de ter prometido, e também pela própria acção erosiva do tempo. «Hoje, não nos contactou. Entretanto, Pedro Fançony foi exo- nada lá figura sequer para contar a história», frisou o mais nerado quarta-feira, 22, do cargo, tendo para o lugar velho com um semblante triste Em 2008, na sequência sido nomeado Pedro Mal UIígo. Oxalá o seu substituto de reclamações feitas por um grupo bem organizado de consiga pôr fim ao sofrimento de 30 anos dos moradores moradores do bairro, a EDEL, em suposta colaboração do Morro Bento II. com a administração comunal do Ngola Kiluanje, terá orientado para que se fizesse uma colecta popular para Enquanto isso... ajudar nos gastos que a edificação do posto de transfor- «Ossos» completou 30 anos às escuras! mação que deve servir a zona há veria de requerer. «Cada O chamado Bairro dos Ossos, que se situa nas proximi- casa deu três mil Kwanzas e comprámos brita e areia, dades da Cadeia Central de Luanda, vulgo Comarca, no mas a obra não avançou, por falta de interesse da EDEL Sambizanga, é outro dos bairros completamente esque- e da própria administração comunal», diz outro idoso da cido pela EDEL: está, passe, há 29 anos sem energia área, onde mora há mais de 40 anos. eléctrica, depois de, em 1982, se ter ensaiado a monta- gem de um posto de transformação, que nunca chegou a Isaac Lucombo, 71 anos, acrescenta que quase todos os funcionar em 1 pleno. dias úteis faz um «vai e vem» entre a EDEL e a adminis- tração comunal do Ngola Kiluanje para pressioná-las a Desde então, a Empresa de Distribuição de Electricidade darem solução a este problema capital, mas o certo é que (EDEL) não parece nada interessada em solucionar o o seu esforço, que até não é isolado, tem sido em vão. problema da cabine eléctrica que lá estava a montar, «Prometem que vão aparecer, mas nunca surgem», diz, não se tendo dignado a justificar os motivos de tão pro desolado, o velhote. «É demais», indigna-se. longado descaso. Os moradores interrogam-se se isto decorrerá de simples má fé das diversas direcções que Como uma desgraça nunca vem só, os moradores do pela EDEL já passaram ao longo de todo este tempo ou Bairro dos Ossos ainda têm outro problema bicudo: por nesse musseque morarem pessoas que para as auto- falta de água potável, cuja distribuição, em chafarizes, ridades não «contam». é deveras irregular. Segundo uma das nossas fontes, o precioso líquido só jorra por alguns instantes a partir São centenas de famílias a viverem às escuras, literal- das três da manhã: «A essa hora, com estes bandidos aí, mente, sem vislumbrarem a mais pequena luz no fundo quem tem coragem de sair de casa para acarretar água? do túnel, o que deve deixar qualquer mortal permanen- quase ninguém», expressou. temente com os nervos em carne viva. «É inacreditável», diz, em conversa com o SA, um ancião dos seus 80 anos, Além disso, os munícipes queixam se do mau desempe- dos primeiros moradores que o bairro tem, desde que a nho da polícia local. «Ela nunca aparece quando o povo zona era mais mata que outra coisa, isto ainda ao tempo precisa, a única preocupação dos agentes é mandar parar da outra senhora. carros para pedirem gasosas, mais nada. Aos bandidos da zona, eles deixam praticamente em paz», lamenta Segundo o velhote, identificado apenas por Miguel, a outro morador. falta de energia, além de complicar a vida dos moradores do Bairro dos Ossos, dada a importância que a «luz» tem Segundo a esposa do velho Miguel, avó Nazaré, que no dia-a-dia das pessoas, nos tempos que correm, acaba resolveu embrenhar-nos um bocado pela história, o por facilitar a acção dos grupos de bandidos locais, que Bairro dos Ossos ganhou esta denominação ainda ao fazem das suas, particularmente na calada da noite. tempo do colono, por ter sido erguido num descampado Acompanhado de sua esposa de sempre, ancião conta onde os matadouros de Luanda iam depositar os restos que nos primeiros tempos da conglomeração, nos idos dos animais que comercializavam. «Na altura, havia de 60, os moradores do bairro consumiam energia for- poucas casas, mas depois alguém, desenrascado, resolveu necida por uma empresa de sapatos, que lhes oferecia a construir a sua a partir dos ossos dos animais que eram luz sem exigir qualquer contrapartida. aqui depositados. E, de repente, começou a ser chamado Bairro dos Ossos’, Bairro dos Ossos’ e assim ficou até Anos mais tarde, segundo ele, já depois da indepen- hoje», conta a velhota, a fechar a nossa conversa: dência e com a paralisação da beneficente empresa de sapatos, foi então que a EDEL deu os primeiros passos Para finalizar, Cazenga para a edificação do posto de transformação, que nunca Bairro Curtume há 27 anos... foi concluído até hoje. Tanto assim foi que o esqueleto da Depois deter passado pelos municípios da Samba e o cabine acabou por desaparecer, engolido pelo descaso de Sambizanga, a nossa equipa de reportagem fez mais Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 122 uma paragem. Desta feita, no município mais populoso, 8.5 Uma”dor de cabeça” sempiterna o Cazenga, concretamente no bairro Curtume, que jornal semanario factual também desenrola uma história idêntica à dos outros 12 a 19 de Novembro de 2011 supracitados, onde os munícipes reclamam a falta de energia há 27 anos. Com o surgimento da água na Terra, surgiram, igual mente, os seres vivos que dela dependem para sobreviver. Segundo os residentes, a história é sempre a mesma, Assim, vem sendo desde que o Homem veio ao mundo, todos os anos, em tempos, apareceram agentes da pois, sem a qual, ele não poderia resistir. EDEL, na possibilidade de se construir uma nova Foi por isso que, com o desenvolvimento das sociedades, cabine, infelizmente, até hoje, não vêem nada, apenas a questão da água sempre foi motivo de discórdia, quer criaram expectativas. para a sua navegabilidade nos mares e rios, como para a sua utilização doméstica. Quando os repórteres se deslocaram ao bairro, eram pre- Mas, para que a água chegasse aos domicílios, os homens cisamente 18:30m, a área estava completamente escura, criaram as condições, a fim de que ela estivesse à mão de notava-se nas paragens habituais de táxi ausência de semear dos cidadãos. pessoas, porque o perigo tem sido eminente no calar da noite. «A estas horas, aqui já não pára táxi, por causa da E, deste modo, na maioria dos países do mundo, a água delinquência e os inúmeros casos de roubos que se tem disponível aos seus habitantes é potável, sou seja, saudá- constatado», disse um dos munícipes, que não se quis vel para o consumo, no geral. identificar, acrescentando que, desde a sua nascença, naquele bairro, nunca viu um sinal da energia da rede, E, por mais incrível que pareça, a água, tal como a roda acostumando-se assim com o barulho de geradores. e a electricidade, sempre andaram de mãos dadas, pois, sem a qual, não há barragens e sem barragens não há Januário Sebastião, residente há 24 anos e presidente da energia que possa abastecer os milhões de cidadãos do comissão de moradores do sector 17, reafirmou que o mundo, o que implica que esse trinómio deve ser sempre bairro já se encontra nestas condições desde então, por levado em conta quando se pensa em desenvolver esta razão, decidiram criar uma comissão. Tal comissão cidades, vilas, aldeias ou povoações. já realizou vários encontro.s com a administração muni- cipal do Cazenga, no sentido de se criar um programa A nível dos grandes países industrializados, a canaliza- de implementação de cabinas, mas desde que foi acor- ção de água potável para as várias comunidades já não dado, em 2008, até à data presente, não vemos qualquer apresenta qualquer impedimento, quiçá há séculos, pelo resultado positivo.» aproveitamento racional dos seus rios e mares, ao contrá- rio dos países do Terceiro Mundo, onde o acesso à agua Os munícipes explicam também que os enfermeiros potável, pelas populações, ainda é difícil, por diversas do centro de saúde do Cazenga, localizado no bairro razões, muitas das quais podem ter a ver com o fraco Curtume, no período nocturno atendem os pacientes à investimento no sector e à não manutenção das redes luz de velas. Há poucos meses, a administração ofereceu instaladas e que se deterioram ao longo do tempo. um gerador ao centro, mas quando não há combustível, Aliás, o acesso à água potável é uma das “dores de ou se o gerador apresenta dificuldades, o clima que se cabeça” constante na Declaração Universal dos Direitos vive é o mesmo. Humanos, já que o uso desta é um direito humano de dignidade. Importa realçar que este é apenas um ínfimo retrato dos bairros luandenses que se encontram nesta situação Porém, nos países, particularmente os desérticos, onde crítica, que não mais deveria se prevalecer nesta cidade, a falta de chuva é quase permanente, a carência de água por se tratar da capital do país e ser considerada a mais tem contribuído para a mortalidade infantil, a fome e cara do mundo. Já está mais do que na hora de o governo a pobreza, recorrendo, quando isso acontece, à ajuda provincial pensar numa rápida solução, exigindo mais internacional. trabalho às empresas vocacionadas para tal, para que o nosso país possa começar a mostrar, pelo menos, indí- Ademais, por falta de recursos financeiros, muitos países cios de desenvolvimento.• se vêem e se desejam para levar a água a todos os aglome rados populacionais que, nesses casos, sobrevivem com água bruta de rios, de lagoas e de lagos, com as con- sequências previsíveis, nomeadamente diarreias agudas, problemas da pele e cegueira, causados por parasitas aquáticos. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 123
PNUD leva em conta IDH Mesmo assim, a energia fornecida pelas barragens e cen- Por isso é que, no quadro do PNUD, um país, para trais térmicas ao país é ainda insuficiente, agora que as se dizer desenvolvido, tem de melhorar o Indice de cidades, as vilas, as comunas e as povoações se desenvol- Desenvolvimento Humano (IDH) dos seus cidadãos, vem, tendo sido já avançada pelas autoridades a neces pois o ID H passa pelo acesso à água potável e à energia sidade de construção de mais cinco barragens, para que eléctrica satisfatória. a energia eléctrica chegue ao mais recôndito canto de Angola. Sem esses dois “itens”, com o agravamento das condi- ções sociais, com o desemprego, o fraco apoio estatal A ser assim, e com os investimentos de peso, ver-se-á que e sem um salário condigno, jamais as populações dos quão necessário é fornecer melhor energia eléctrica, pois países em desenvolvimento verão o seu IDH justificado. as necessidades do dia-a-dia não se compadecem com Para que a água potável e a energia eléctrica de qualidade lamparinas e velas, que são a solução inteligente sempre estejam disponíveis às populações, é preciso que inves- a escuridão surge. timentos avultados sejam aplicados nesses dois sectores, pois, sem rede instalada e a sua ligação às residências, um longo percurso tem de ser executado. Relativamente 8.6 Um chafariz ao deus dará no a Angola, que assinalou a 11 de Novembro o seu 36° ani kilamba kiaxi versário da independência, a questão da água potável e Jornal a capital da energia eléctrica de qualidade tem estado nas preocu- 12 de Novembro de 2011 pações do Executivo que vem trabalhando para a imple- mentação do programa “Agua (potável) para todos”, que O Governo Provincial de Luanda construiu vários fon- até hoje beneficiou já um milhão de habitantes. tanários m bairros periféricos da capital. Um desses fon- tanários foi instalado no bairro Calemba II, município Claro que, com o fim do conflito, em 2002, o Executivo do Kilamba Kiaxi. Hoje, o local é um autêntico pôs mãos à obra para a reabilitação das canalizações mercado de água. As filas começam a formar-se logo obsoletas, à renovação da tubagem nas cidades e vilas pela manhã. Para muitos cidadãos, no encher e acar e, acima de tudo, aumentou, para níveis superiores, o retar o maior número de baldes, banheiras e tambores abastecimento de água potável a uma maior franja de água está o lucro. Constatamos que, há um grande populacional. desperdício de água nos vários fontanários, instalados um pouco por todos os bairros periféricos da cidade No entanto, o acesso à água potável ainda é uma capital. As mangueiras são muitas vezes deixadas no miragem para a maioria dos cidadãos angolanos, dada chão, com muita água a jorrar por todos os lados. Crian a extensão territorial (um milhão, 246 mil e 700 quiló- ças, jovens e adultos dão-se ao luxo de se banharem no metros quadrados), embora o país seja rico hidrografica- local, deixando tudo à volta em autênticas lagoas. Lito mente, ou seja, tem um grande potencial hídrico, com Simão é um dos muitos jovens, que gerem o fontanário centenas de rios e de riachos, sem contar com um litoral da Calemba II. Ele conta que, a sua função é cobrar a de Cabinda ao Namibe. água aos consumidores e, de quando em vez, orientar a limpeza do lugar, porque à volta do fontanário pára Deste modo, não há razões para que a água potável não muito lixo. venha a abranger todos os habitantes até 20015, meta preconizada pelo Executivo, num esforço financeiro O jovem responsável pelo fontanário da Calemba II, gigantesco. disse que tem sido muito difícil, convencer os consu- midores a não desperdiçarem a água. “Eles não querem No tocante à energia eléctrica, a situação é menos boa, saber”, disse resignado. Questionado sobre o destino do devido ao crescimento das cidades, aos obsoletos cabos dinheiro arrecadado no local, justificou que a admi- de transportação e ao uso indevido da energia eléctrica nistração já não mostra interesse em recolher o refe- pelos beneficiários, pesem os milhões de dólares que rido dinheiro, por isso ele em companhia dos amigos foram e vêm sendo investidos pelo Executivo. dividem entre si.
Daí que seja interrompido, quase sempre, o forneci- Nisso tudo quem mais sofre são as donas de casa. Adelina mento de energia aos vários municípios de Luanda, por Rosalina é uma dona de casa, que gasta todos os dias exemplo, para trabalhos de manutenção para a instala- 200 kwanzas para ter água em casa. Quando há falha de ção de novos cabos e, igualmente, a retirada de cabos água, no fontanário então gasta 500 kwanzas ou mais. A ligados ilegalmente e que contribuem para os apagões dona de casa disse ainda que, nos últimos dias têm tido que, às vezes, se prolongam mais de um mês. muitas dificuldades para conseguir o líquido, porque o Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 124 pessoal que está a gerir não pertence a administração acertada. Não estaríamos a viver os problemas que atra- municipal. “Tudo está abandonado, os jovens que vivem vessamos actualmente”. no bairro é que estão a gerir e subiram a tarifa”, explicou. O administrador comunal do Neves Bendinha, Manuel Muitas pessoas optaram, por fazer do negócio da venda Feliciano, afirmou à Angop que a reabilitação da refe- de água, como a principal fonte de rendimentos e sobre- rida via é da responsabilidade do governo provincial de vivem somente disso. O negócio remonta há anos, Luanda. alguns bairros não possuem água canalizada e esta é dis- tribuída ao domicílio. Com 9,50 metros de largura e uma extensão de cerca de três quilómetros, a rua Olímpio Macuéria começa Lito Simão, reconheceu também que o lixo e as águas junto ao Hospital Sanatório, no Palanca, e desemboca paradas são prejudiciais à saúde, razão pela qual, sempre na Machado Saldanha, no Neves Bendinha. que pode, ele e outros jovens fazem limpeza ao redor do fontanário. Explica que, os valores arrecadados diaria- mente grande parte gastam em bebida alcoólica. Contou 8.8 Água chega a calonda que o único senão, nessa empreitada, são as pessoas que Jornal de Angola sabotam o material, com areia e pedras, utilizam varões 17 de Novembro de 2011 para quebrar as torneiras e fazem buracos, para dificul- tarem a passagem das pessoas até ao local. Um novo sistema de abastecimento e distribuição de água potável à população da localidade de Calonda, município O jovem reconhece que é cansativo, mas que pouco tem de Lucapa (Lunda-Norte) encontra-se em funcionamento a fazer por estar desempregado neste momento, aos 24 desde o princípio da semana. Inaugurado pela adminis- anos, revelou que não tem outra forma de ganhar a vida. tradora municipal, Isabel Gregório, a infra-estrutura vai “Prefiro ficar a cobrar água, do que tirar o que é dos contribuir para o bem estar da população que, durante 20 outros”, disse consciente que aquilo não é um emprego anos, esteve privada de água. fixo. O fontanário da Calemba 11 abastece os bairros do Golfe, Sapu, Kimbango, Palanca e outros pequenos O sistema possui duas bombas, com capacidade para 90 bairros limítrofes, pertencentes ao município de Viana. e 45 metros cúbicos, que vão produzir 135 mil litros de água por hora. O sistema está ainda equipado com uma rede de distribuição de seis chafarizes, com seis torneiras 8.7 Solicitada reabilitação do Olímpio cada, para além das ligações domiciliárias. Macuéria Jornal de Angola O soba Bemardo Caquece reconheceu que a água 12 de Novembro de 2011 potável fazia muita falta às comunidades de Calonda e disse esperar que as autoridades administrativas con- Munícipes do Kilamba Kiaxi, em Luanda, pediram tinuem a desenvolver programas de extensão dos prin- à administração local que recupere a rua Olímpio cipais serviços básicos, como a água, energia eléctrica, Macuéria, que se encontra em avançado estado de saúde e educação. degradação. A administradora municipal do Lucapa, Isabel Gregório, Os moradores lamentaram o facto da rua, que atravessa aconselhou as populações a colaborarem na preservação as comunas do Neves Bendinha e do Palanca, municí- das infra-estruturas que o Estado coloca à disposição das pio do Kilamba Kiaxi, e dá acesso ao bairro do Golfe, comunidades. “A população pediu água e nós, com muito se encontrar degradada, depois de recentemente ter sido esforço, conseguimos satisfazer o pedido. E importante reabilitada por uma empresa estrangeira. que todos nós cuidemos deste bem precioso, que faz tanta falta no nosso dia-a-dia”, reafirmou Isabel Gregório. De acordo com o morador Jorge Fernando, quando chove, a rua fica inundada, a circulação das pessoas é limitada e as viaturas correm o risco de ficar enterra- das. “No tempo seco produz-se muita poeira, porque o asfalto já desapareceu”, lamentou.
Na opinião de João Manuel, a administração municipal devia ter resolvido a situação na época seca. “Entulhar com brita os buracos existentes na rua era a medida mais Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 125
8.9 Governador pede apoio dos De acordo com o governador, bem pagas, as operadoras cidadãos para resolver os também podem ser bem acompanhadas, penalizando problemas de Luanda os incumprimentos. “Quando não se paga, não se pode Jornal de Angola exigir”, sublinhou, mas garantiu que vai corrigir as dis- 17 de Novembro de 2011 torções no sector e fazer com que as empresas de recolha de resíduos sólidos possam trabalhar de acordo com os O novo governador de Luanda, Bento Sebastião Francisco desejos do Executivo e, em especial, do Presidente da Bento, tomou ontem posse no Palácio da Cidade Alta, República que, frisou o governador, “quer, cada vez mais, que lhe foi conferida pelo Presidente da República e Chefe uma cidade limpa, arrumada e aprazível para todos, que do Executivo, José Eduardo dos Santos. seja uma referência na região e no mundo”.
Bento Bento pediu colaboração na solução dos prin- Bento Bento, que acumula as funções de primeiro secre- cipais problemas que afligem os munícipes. O gover- tário de Luanda do MPLA, disse que a sua experiência nador de Luanda garantiu que “fez o diagnóstico dos no domínio do acompanhamento político do Governo problemas que assolam a província e particularmente a Provincial vai servir de base à governação, respeitando cidade de Luanda”, destacando entre os mais prementes “cada vez mais os interesses dos cidadãos”. os da energia eléctrica, abastecimento de água potável e saneamento básico. Construções anárquicas “Temos consciência de quanto é difícil governar Luanda, Em relação às construções anárquicas, Bento Bento mas com I a colaboração de todos, sem excepção, disse que uma das soluções para o problema é continuar podemos realizar, com algum sucesso, muitas tarefas com o processo de Saneamento de terrenos para serem que se colocam ao governo de Luanda”, disse Bento distribuídos às pessoas que precisam e têm capacidade Bento, que reconheceu as dificuldades da sua missão. de construir, uma experiência que já foi feita no passado.
Com o governador Bento Bento tomaram igualmente posse O novo governador de Luanda pediu aos luandenses os vice-governadores para os sectores Económico, Manuel para respeitarem as regras estabelecidas para quem quer Ventura Catraio, para a Organização Administrativa, construir uma casa, nomeadamente a concessão do Graciano Francisco Domingos, e para o sector Político terreno e a licença de construção. e Social, Jovelina Alfredo António Imperial. O Chefe de Estado felicitou os empossados e desejou que cumpram O governador de Luanda disse que é contrário às demo- “com muito êxito” a missão que lhes foi confiada. lições, que considerou apenas necessárias quando visam retirar pessoas que constroem em zonas de perigo, como Reorganização do governo Bento Bento apontou como linhas de água. tarefa prioritária a reorganização do Governo Provincial e das Administrações Municipais. O governador garan- A cerimónia, que decorreu no salão nobre do Palácio tiu “afinarias à altura de Luanda” para prestarem servi- Presidencial, foi testemunhada pelo Vice-Presidente da ços de qualidade. – República, Fernando da Piedade Dias dos Santos, pelos ministros de Estado, ministros e altos funcionários da “Os administradores e governantes da província de Presidência da República. Luanda devem estar mais próximos dos problemas dos cidadãos”, sublinhou o governador Bento Sebastião Francisco Bento, advogando a necessidade de haver uma 8.10 Elisal com dificuldades de pagar governação dialogante e participativa. operadoras jornal semanario continente Em relação à venda informal, Bento Bento referiu que 18 de Novembro de 2011 o Governo Provincial e as Administrações Municipais devem encontrar uma solução que permita ás pessoas O lixo em Luanda aumentou de forma exponencial, que actualmente vendem nas ruas continuem a ganhar nos seis últimos meses, numa altura em que a edilidade o seu sustento, mas em locais adequados. conhece o seu novo timoneiro, Bento Bento.
‘Recolha de lixo Fontes bem colocadas e conhecedoras do dossiê, atri- Referindo-se ao trabalho das operadoras de recolha de buem à Elisal alguma incapacidade em poder cumprir lixo, o governador informou que a maioria está há sete com o contrato que mantém com as cerca de uma dezena ou oito meses sem receber pagamentos pelos serviços, o de operadoras, encarregues de limpar o lixo produzido que pode condicionar negativamente o seu desempenho. nos municípios da capital. Com a nova configuração Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 126 administrativa – inclusão de Icolo e Bengo e Quiçama, 8.11 Politicas de saneamento em e a criação do município de Luanda, espera-se que a discussão Empresa de Limpeza e Saneamento de Luanda vem a Jornal de Angola repensar a forma de abordagem de limpeza da capital, 18 de novembreo de 2011 quanto mais não seja, por que grande parte das operado- ras não dispõem de um parque técnico-operativo capaz Angola vai em 2012 desenvolver uma Política Nacional de responder à demanda. de Saneamento Ambiental que visa fortalecer a gestão de resíduos sólidos e a expansão das redes de esgotos, anun- O recurso, segundo se sabe, é a tercerização desses servi- ciou a ministra do Ambiente, Fátima Jardim, quando ços a pequenas operadoras detentoras de meios, que têm discursava na abertura da primeira conferência sobre estado a actuar na periferia da província. Face a avultada saneamento denominada ‘’Angolasan1’’. dívida da Elisal para com as operadoras de limpeza, com as quais tem contrato firmado, muitas delas se viram Os trabalhos decorrem sob o lema “Garantir o sane- forçadas a reduzir o ritmo de trabalho, pois estão com amento e melhorar a qualidade de vida”. O objectivo dificuldades de manter a frota em bom estado de fun- principal é recolher contributos para a definição da cionamento. O aumento significativo de montanhas de Política Nacional de Saneamento Ambiental em Angola. alho, isto é, só está no seu gabinete à I lixo por tudo A ministra disse que as estratégias recomendadas podem quanto é canto da capital partir das dezassete horas em ser alcançadas com a revisão do actual sistema do uso da diante. (excepção ao centro da cidade onde a Elisal é água, recolha e tratamento do lixo, sistemas de drena- permanente) ilustra bem o quadro crítico da situação gem e com inovações tecnológicas nas áreas de engenha- ria, arquitectura e estudos sociológicos. Como que sem saber o que dizer aos aumento com os seus colaboradores seus parceiros, algumas fontes dizem Fátima Jardim sublinhou a necessidade de unir esforços mais próximos, e ainda, pelo facto de I que o director para que o saneamento ambiental acompanhe o cresci- geral da Elisal, Antas ter promovido uma autêntica mento e desenvolvimento sustentável em Angola, para caça às Miguel, evita o contacto com as bruxas, o que bem-estar das populações. permitiu à deserção de quadros de reconhecida compe- tência para outras áreas, como é o caso do Eng. Lucas, Fátima Jardim realçou que as diarreias, cólera, tétano agora confinado a um espaço cedido pelo arquitecto e outras doenças “têm a ver com a falta de saneamento Bento Soito, no gabinete de requalificação do Cazenga e consumo de água imprópria”. Podem ser reduzidas, e Sambizanga, enquanto outro, Eng. Gourgel está na sobretudo nas zonas rurais, caso sejam concretizadas Direcção Provincial de Energia. A agravar a sua situ- as acções inseridas na Política Nacional de Saneamento ação dizem as nossas fontes, está agora acumulado de Ambiental. dívidas para com as operadoras de limpeza de Luanda. Há sete meses que a Elisal não paga a recolha de lixo “O Executivo está a dar os primeiros passos, no quadro em Luanda O dossier “lixo”, será certamente um dos da melhoria do saneamento ambiental, particularmente temas com que Bento Bento terá na sua mesa de tra- no que diz respeito à contenção da proliferação da cons- balho, além de proceder à uma profunda “faxina” na trução de casas próximas dos rios, da zona costeira, de Elisal, cuja gestão tem sido posta em causa por pessoas condutas de água e centrais de tratamento de água”, conhecedores do processo que levará à uma mudança da explicou Fátima Jardim. imagem da nossa capital. A direcção de Antas Miguel é, igualmente, acusada de ter “torrado” milhões de dólares O Ministério do Ambiente desenvolveu nos últimos para a compra de viaturas de luxo para os membros de três anos programas sustentáveis como o Programa direcção, enquanto os trabalhadores continuam a se Municipal Rural de Desenvolvimento Integrado de deparar com inúmeras dificuldades para o desempenho Combate à Pobreza, de Auto-suficiência Alimentar e o das suas actividades. O CONTINENTE trará nas pró- programa de reabilitação e construção de infra-estrutu ximas edições uma reportagem profunda sobre a proble- ras e de melhoria da rede sanitária. mática da recolha de lixo em Luanda. Fátima Jardim anunciou que todos têm contribuído para melhorar os Índices de desenvolvimento humano.
A conferência termina hoje e é uma iniciativa do Ministério do Ambiente, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e UNICEF. Participam membros do Executivo, deputados à Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 127
Assembleia Nacional, governadores e vice-governadores, 8.12 GPL Gasta 18 milhões de dólares/ corpo diplomático acreditado em Angola, parceiros mês nacionais e estrangeiros e representantes das agências jornal o pais das Nações Unidas. 18 de Novembro de 2011
Conferência Numa conferência de imprensa que dirigiu no dia 28 de O empenho do Executivo nas acções destinadas a Junho deste ano, Antas Miguel disse que a empresa que melhorar as condições sanitárias da população das áreas dirige paga actualmente cerca de 18 milhões de dólares/ urbanas e rurais foi ontem reafirmado pela secretária da mês às operadoras. Presidência da República para os Assuntos Sociais, Rosa Pacavira. O montante avançado pelo director da EUSAL está longe do que esta instituição pagava entre os anos de Falando sobre o programa integrado de combate à 2004 e 2005, altura em que os custos da recolha de resí- pobreza e saneamento na primeira Conferência Nacional duos sólidos estavam cifrados em apenas seis milhões de Sobre Saneamento, Rosa Pacavira. dólares/mês.
Apesar da diferença, o responsável da ELISAL conside- Rosa Pacavira frisou que o Executivo tudo tem feito para rava que os cerca de 18 milhões de dólares que se paga aumentar a cobertura – deste serviço básico nas áreas mensalmente não estavam “fora dos padrões estabeleci- rurais, suburbanas e urbanas do país. Rosa Pacavira dos em cidades como a nossa”. afirmou que a questão é um desafio permanente, acres- centando que o acesso aos serviços de saneamento é um De qualquer modo, a relação custo-benefício ainda dos indicadores básicos que serve para aferir os dife- é discutível, de acordo com os pronunciamentos do rentes níveis de pobreza existentes numa determinada engenheiro porque os montantes que têm sido pagos sociedade. Considerou ainda que o aumento dos inves- pela limpeza da cidade foi aumentando e a qualidade timentos no sector da água e saneamento contribui, por do serviço prestado ainda não é dos melhores. Por esta outro lado, para a redução da pobreza, devendo por isso razão, na aludida conferência de imprensa realizada a serem direccionados para as zonas rurais e suburbanas cerca de cinco meses, anunciou-se uma mudança no das grandes cidades. modelo de limpeza devido aos constrangimentos regis tados, as debilidades nos cadernos de encargos e o cres- Administrações municipais Como práticas e estratégias cimento exponencial da cidade. que contribuem para a melhoria do saneamento básico rural, apontou o compromisso público das administra- O responsável da Elisal assegurou ainda que tinha ções municipais. Nesse sentido, frisou ser necessário for- notado apenas uma tentativa de cumprimento do con- talecer a participação comunitária e o desenvolvimento trato só na zona baixa da cidade. de um plano estratégico para a criação de latrinas comunitárias, com a mobilização de recursos e apoio Nas zonas periféricas havia uma fraca operacionali- técnico, aproveitamento dos recursos do ecossistema e a dade por parte das operadoras que não cumpriam inte combinação de metodologias, boas práticas e políticas, gralmente com o que tinham estipulado no caderno de que tenham em consideração as necessidades locais e o encargos. trabalho comunitário. “Contrariamente ao modelo anterior que não tinha um Relativamente às áreas rurais, indicou a eliminação plano de comunicação viável e que a fiscalização era de águas residuais a nível domiciliar e a qualidade de realizada de uma maneira débil, o novo programa será consumo das populações, para se reduzir as taxas de monitorado 24/24 horas através do sistema de GPS”, morbimortalidade por doenças de transmissão hídrica e salientou Antas Miguel, quando anunciou o novo manuseamento sanitário e tratamento dos dejectos e de modelo de limpeza da capital, onde o lixo deixaria de ser águas residuais. depositado em espaços públicos mas sim nos privados. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 128
8.13 Lixo obriga GPL a dívida de cerca A sugestão de que limparia a cidade com apenas 15 de usd 90 milhões milhões de dólares terá sido anunciada pela próprio jornal o pais director da Empresa de Limpeza e Saneamento Urbana 18 de Novembro de 2011 de Luanda (ELISAL), Antas Miguel, mas o parta – voz da referida empresa desmentiu a informação. As dívidas do Governo Provincial de Luanda, que conhece esta semana Bento Sebastião Bento «Bento Mesma assim fontes das operadoras garantem que o Bento» como novo governador, para com as operadoras engenheiro ter-se-á apercebida posteriormente que difi- de resíduos sólidos atingiram os 90 milhões de dólares, cilmente faria um trabalha em prol da limpeza da cidade segundo apurou O PAÍS junto de empresários do sector. capital com os referidas montantes sugeridas.
As empresas ligadas ao ramo, que ultrapassam mais de Outro casa que chamou a atenção das empresas de uma dezena, encontram-se há mais de seis meses sem limpeza que actuam há mais tempo no negócio é que receber os respectivos pagamentos. mesmo após se ter anunciada que os valores pagos às firmas já existentes eram irrisórias, notaram que ainda A situação obrigou a que muitas destas firmas não foram introduzidas novas operadoras de limpeza a partir paguem os salários aos seus funcionários, entre técni- do própria Governa de Luanda, então dirigida par José cos administrativos e brigadistas de limpeza. Outras Maria de Sousa. tiveram que utilizar os recursos que mantinham guar- dados em algumas instituições bancárias para outros “Como é que se pode fazer isso. Se nem mesmo para investimentos para efectuarem o pagamento dos orde- as operadoras existentes havia dinheiro, parque razão nados atrasados. foram introduzidas novas empresas?”, questionou um empresário. “Actualmente existem mesmo muitas empresas de limpeza cujos funcionários estão sem salários há mais Par falta de uma reacção oficial do Governo Provincial de quatro meses. Eles não conseguem pagar as rendas de Luanda, uma fonte do Ministério das Finanças de casa, os colégios dos filhos e cumprirem com outros realçou que é necessária apurar-se se é a sua instituição compromissos”, alertou um empresário do sector que que não alocou as verbas ou se trata de um atraso da preferiu o anonimato. parte das entidades agora comandadas por Bento Bento.
O PAIS apurou junto de fonte ligada ao conhecido Segunda ainda a fonte das Finanças, quando a sua insti- “negócio do lixo” que recentemente os trabalhadores de tuição envia o dinheiro ao GPL cabe a esta a escolha do uma empresa situada no município do Kilamba Kiaxi destino que deverá dar ao montante cabimentado. pretendiam desencadear uma greve, o que não veio a “A questão ou o pagamento das operadoras de lixo é acontecer apesar de uma pequena manifestação que foi feita directamente pelo Governo Provincial de Luanda. realizada à entrada do estaleiro principal. A empresa Quando o Ministério das Finanças envia a dinheiro, tem sido citada como sendo propriedade de um antigo entrega o bolo todo, compete ao GPL repartir o mon- governador da província de Luanda. tante aos beneficiários, não decidimos nada sabre quem deve receber ou não.”, realçou a fonte. Há cerca de três semanas, o Governo Provincial de Luanda, que ainda não tinha um governador, havia Do Governa Provincial de Luanda recebemos apenas a dado garantias a alguns responsáveis e proprietários de seguinte resposta, que foi avançada por um dos sobrevi- empresas de limpeza que a situação podia ser resolvida ventes da última remodelação do Chefe da Executivo: no mais curto espaço de tempo. “não posso confirmar estas suspeitas do não pagamento das operadoras de limpeza. Quem pode fornecer uma Segundo apurámos, haveria no Ministério das Finanças resposta concreta é o Gabinete de Estudos e Planeamento uma tranche de cerca de 2S milhões de dólares norte- ou a Empresa de Limpeza de Luanda, que distribui os -americanos que seriam utilizados para o pagamento das montantes às operadoras”. operadoras. Contactado por este jornal, o porta – voz do GPL, Os operadores garantem que a situação começou a Ladislau Silva, também desconhecia qualquer informa- tornar-se insuportável para as suas instituições após à ção sobre o assunto em causa. entrada em cena do engenheiro Antas Miguel que anun- ciou que podia limpar a capital do país com menos 10 milhões de dólares da que a valar inicialmente atribuída. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 129
8.14 BB «Herda» pesada dívida realidade não estão, havendo casos em que já se está há Jornal semanario angolense vários e longos dias sem ela. 19 de Novembro de 2011 O cidadão, mesmo que queira, não consegue contrariar Vinte e quatro horas depois de ter tomado posse como a informação falsa por impossibilidade de entrar em sin- governador provincial de Luanda, Bento Bento foi, na tonia com a emissora em que o homem esteja a falar. quinta-feira, 17, confrontado com uma greve de uma das Também o número de telefone do porta-voz da Epal que operadoras do lixo, cujos trabalhadores paralisaram as ele disponibiliza na comunicação social para qualquer suas actividades, devido à falta de pagamento de salários. informação está sempre desligado.
Os trabalhadores afectos à empresa «West Kiaxi», cuja Na realidade, não se sabe que se passa com o forneci titularidade tem sido associada ao deputado do MPLA mento de água, porque as justificações são as mais e antigo governador de Luanda, Job Kapapinha, parali- diversas. Sequer através da comunicação social se tem saram as suas actividades, devido ao não pagamento de conhecimento das interrupções de fornecimento de salários que se regista há 3 meses. água.
Esta empresa, uma das mais antigas a operar neste seg- Curioso também é saber como é possível, na mesma mento do mercado, tinha a seu cargo a responsabilidade rua, um lado ter água e outro não? Algum tempo pela recolha de lixo numa área considerável do municí depois é o inverso. Jamais isso ocorrera na minha zona, pio do Kilamba Kiaxi. mas agora sim!
Segundo dados apurados por este jornal, a «West Kiaxi» O que também é verdade é que é impossível viver-se sem emprega cerca de 800 trabalhadores. O Semanário água. Se deve cada um fazer a sua parte, que o faça, mas Angolense apurou de boa fonte que o Governo de Luanda com responsabilidade e seriedade, porque, conforme se não honra há mais de seis meses os seus compromissos diz, «todos juntos, é possível». financeiros com as operadoras do lixo; um passivo que já se arrasta desde o tempo em que José Maria dos Santos foi governador desta província. 8.16 Pango-aluquém sem agua potavel Jornal de Angola Bento Bento, indicado para ocupar o cadeirão máximo 19 de Novembro de 2011 do Palácio da Mutamba, foi deste modo apanhado no meio de um turbilhão que já dura há alguns meses. O sector das Águas no município do Pango-Aluquém reclama por um sistema de captação, tratamento e dis- Espera-se que o novel edil provincial consiga, o mais tribuição. Actualmente, a população é obrigada a con- rápido possível, contornar esta situação, embora se sumir água não tratada proveniente de furos. Segundo trate de um passivo que já vem de duas anteriores apurou a reportagem do Jornal de Angola, a falta de água administrações. potável sem causado sérios problemas à saúde pública dos munícipes, que se debatem com doenças diarreicas agudas, sarnas e infecções urinárias. 8.15 Baldas da epal Jornal semanario angolense Para ultrapassar esta situação, está em estudo um pro- 19 de Novembro de 2011 grama no domínio da saúde pública, que vai promover campanhas de sensibilização porta a porta e palestras A zona da Ingombota abastecida de água pelo reservató- nos locais de trabalho e escolas do município. rio da Maianga esteve duas semanas sem água, sem que Na Saúde, está já concluído, apetrechado e em pleno se soubesse as razões. Não se conseguia obter nenhuma funcionamento o hospital municipal, com os serviços de informação através do piquete desse reservatório, porque pediatria, ginecologia, análises clínicas e farmácia. os dois telefones à disposição do consumidor estiveram As grandes dificuldades residem na falta de médicos e sempre desligados. enfermeiros para atender a população que procura assis- tência médica, assim como de residências para acomo- É curioso que sempre que o porta-voz da Epal aborda dar os funcionários. na rádio a situação do abastecimento de água à capital a dado dia nem sempre corresponde à verdade, porque O hospital tem ainda uma maternidade, área adminis- muitas vezes ele refere certas zonas como estando a ser trativa e sala de internamento com uma capacidade para abastecidas e em funcionamento normal, quando na 50 pacientes. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 130
O sector da saúde dispõe também de um hospital regio- da situação. De acordo com Domingos Paciência, Chefe nal, devidamente apetrechado e equipado, na região dos do departamento de Comunicação e Imagem da EPAL, Dembos-Kibaxe e que cobre todo o município. A tuber- têm conhecimento do problema sendo que estão a gerir a culose, tripanossomíase e malária são as doenças mais situação. Explicou que nas ruas do Petrofe, Simione até frequentes em Pango-Aluquém. ao lote 22,estavam a ser feitas manutenções num dispo- sitivo. Quanto ao corte de água na rua Simione Mucune, deve-se a pressão por se tratar de uma parte alta. Disse 8.17 300 Mil localidades do pais serão ainda que foi colocada uma conduta de 200ml na rua do alcançadas até 2012 Laboratório da Engenharia, que servirá para aumentar a Jornal angolense capacidade de distribuição “ dentro em breve estaremos 26 de Novembro de 2011 a fazer as ligações “, explicou.
Estimativas do executivo apontam que 300 mil locali- dades do país sejam alcançadas, até 2012, porque até 8.19 Falhas constantes de água ofuscam este ano vão ser construídos mil novos sistemas de greve da epal abastecimento de água e igual quantidade de furos Jornal folha 8 em zonas rurais, onde ainda é deficitário, garantiu, 26 de Novembro de 2011 em Março último, na Huíla, a ministra da Energia e Águas, Emanuela Vieira Lopes. Conforme ainda dados Os funcionários da empresa de distribuição de água de estatísticos, desde o seu lançamento em 2007 até a pre- Luanda, EPAL, paralisaram as actividades, entre os dias sente data, pelo menos dois milhões de habitantes do 21 e 22 de Novembro, para protestar melhores condi- país beneficiaram do programa, que prevê uma taxa de ções salariais e de trabalho, contrariando o argumento cobertura de cerca de 80 porcento da população do país do PCA da empresa, segundo o qual, as reivindicações e a absorver um fundo global orçado em mais de 100 dos trabalhadores já tinham sido satisfeitas. milhões de dólares americanos. “As reivindicações que o sindicato colocou, todas elas foram resolvidas e era momento de nos sentarmos”, 8.18 Munípes do prenda clamam por argumentou, na véspera do dia marcado para a greve, agua há um ano acrescentando que as condições dos trabalhadores jornal angolense actuais são bem melhores que as dos funcionários do 26 de Novembro de 2011 passado que, no entanto, nunca optaram pela greve.
Desde que foi lançado em 2007 o projecto denominado “Hoje estamos em melhores condições, os nossos traba- “água para todos” foram colocados quatro fontanários lhadores têm um vencimento base de 500 dólares, um nos quais os moradores teriam de pagar cinco kwanzas canalizador de terceira setecentos (700) dólares, têm por cada recipiente, sendo que o montante serviria para seguro de saúde, estamos a tratar com o Executivo e os a manutenção dos mesmos. Disseram os munícipes bancos a possibilidade de financiamento para a casa dos que também foram canalizados água nas residências, nossos funcionários e melhorar as dos trabalhadores, regem os factos que desde a altura da sua implemen- mas pensamos que alguém quer fazer história, sendo o tação até então os cortes têm sido imutáveis. “ Desde o primeiro a fazer greve na EPAL”, argumentou Lionídio princípio do ano que estamos com falha de água”, frisou Ceita. Continuando, atribuiu a aderência à greve dos Antónia Cerqueira, munícipe. Os chafarizes já não fun trabalhadores, à elevada juventude da empresa e garan- cionam. Dentre eles apenas dois funcionam, mas com tiu que, durante os doze anos que trabalha na EPAL, irregularidade. nenhuma outra administração fez tanto pelos adminis- tradores como a administração que preside e tem cerca Soube-se ainda que muitos dos moradores saem a rua de um ano de mandato. “Fizemos aprovar o classificador para procurar o liquido precioso a partir das cinco da de funções que permitiu fazer promoções, e criamos uma manha, isto é, nas imediações do município da Samba, área de carreira”, justificou. Facto, no entanto, é que os Cassenda, Nzamba Dois, a fim de conseguir adquirir trabalhadores paralisaram a actividade como estava pre- a água a preço de dez a vinte kwanzas o bidão de vinte vista e voltaram ao trabalho depois da intervenção do cinco litros, pois outro meio são os tanques de água que ministério da Energia e Agua e, consequentemente, a comercializam a cinquenta kwanzas o bidão e setenta administração da empresa e a comissão sindical remar- kwanzas a banheira, já outros vendem três cem o bidão. carem as negociações que devem retomar no próximo De acordo com os munícipes estão agastados com a situ- dia 28.11 como ficou acordado. ação porque até então a EPAL não se manifesta diante Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 131
A EPAL tem cerca de 1500 trabalhadores que, segundo a maior parte da população ainda consome água impró a comissão sindical, reclama por aumento salarial na pria, que coloca em risco a vida de muitas pessoas. ordem dos 600%, argumentando ser possível em virtude de os administradores da empresa esbanjarem dinheiro Luís Filipe da Silva trabalhou no Kuando-Kubango, com a compra de carros top de gama, entre outras des- com o objectivo de se inteirar do grau de execução do pesas consideradas desnecessárias. abastecimento de água potável na região, com realce para o Programa Agua para Todos que prevê beneficiar Greve sem consequência 80 por cento da população rural até ao ano de 20 12. No entanto, a referida paralisação, segundo apurou o Folha8, passou despercebida à maioria dos luandenses Logo após a sua chegada ao Aeroporto Comandante não tanto pelo tempo que durou mas, sobretudo por Kwenha, o secretário de Estado das Aguas teve um tratar-se de uma situação normal as falhas constantes encontro com a vice-governadora para o sector eco- no abastecimento do líquido precioso. “Não apercebi- nómico, Verónica Mutango Adolfo, de quem recebeu -me de nada, agora que me dizes, lembro-me que essa informações detalhadas sobre a situação socioeconó- semana terá faltado água, mas quando é que saberemos mica da província, com realce para o fornecimento de se é resultado de uma greve quando é recorrente a falta água potável à população. de água”, desabafou um dos munícipes da Samba. - Luís Filipe da Silva admitiu que o sector deve redo- Segundo apurou ainda a reportagem grande parte das brar esforços para melhor o actual quadro do Kuando- pessoas que se apercebeu da greve foi graças aos meios de Kubango. Sublinhou que, dos nove municípios da pro- comunicação social. Mas, mesmo assim, muitos destes, víncia, apenas, quatro beneficiaram do Programa Agua não sentiram qualquer diferença no abastecimento da para Todos. Estes municípios são Menongue, Cuito água nos dias de greve comparativamente com os res- Cuanavale, Cuangar e Dirico, cujos níveis de abaste tantes dias. cimento, ainda assim, são insatisfatórios. Citou como exemplo a capital da província, Menongue, que ainda Outras semelhanças enfrenta muitas dificuldades em termo de abastecimento Assim como a greve na EPAL passou despercebida pelo e distribuição de água potável à população, apesar dos défice no abastecimento ou prestação no serviço, acre- últimos tempos beneficiar de investimentos. dita-se, aconteceria com uma greve em outras empre- sas públicas como são os casos da EDEL, TAAG e a “Os serviços prestados à população neste domínio ainda Telecom, embora, as duas últimas com menos acentu- são irrisórios”, admitiu Luís Filipe da Silva, para quem ação. Ou seja, embora, no caso da companhia aérea, a situação pode ser resolvida a curto prazo, se todos os pudesse (o dia de greve) parecer apenas mais um dia esforços forem dirigidos para a construção de mais sis- de cancelamento dos voos, facto é que mais facilmente temas de abastecimento e a abertura de furos de água: os potenciais passageiros se aperceberiam, por exemplo “a província é rica em termo de recursos hídricos. O com a ausência dos serviços pré-embarque. No caso que falta apenas é mais investimentos”. Luís Filipe da da Telecom, por sua vez, as consequências da greve Silva indic9u que, a nível do país, o Programa Agua poderiam ser confundidas com os normais défices nos para Todos tem estado a contribuir para atenuar as difi serviços de telecomunicações, mas pela importância e culdades das comunidades que vivem no meio rural, influências destes serviços em diversos sectores precipi mas reconheceu que ainda é necessário redobrar esforços taria a verdade. Aliás, é por saber disso que, há cerca para atingir a meta de atender 80 por cento da popula- de um mês, a administração da Telecom dobrou-se às ção até 20 12. exigências da comissão sindical, algumas horas depois, de decretar greve. A vice-governadora para o sector económico conside- rou que ~ visita do secretário do Estado das Aguas é oportuna, pois o Governo Provincial está a trabalhar 8.20 Abastecimento de água potável afincadamente para encontrar soluções viáveis e susten- preocupa o secretário de estado táveis que permitam a melhoria das condições de vida da jornal de Angola população. Verónica Mutango Adolfo disse que o abas- 26 de Novembro de 2011 tecimento de água potável na província “é crítico.
O secretário de Estado das Águas, Luís Filipe da Silva, O secretário de Estado das Aguas terminou ontem a garantiu, na cidade de Menongue, que vai prestar uma visita ao Kuando – Kubango. Estava acompanhado de atenção especial ao fornecimento e distribuição de água uma comissão integrada por representantes da Casa potável na província do Kuando-Kubango, uma vez que Civil da Presidência da República e dos ministérios Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 132 da Energia e Aguas, da Administração do Território, “É verdade, a luz aqui é uma maka, já fomos à EDEL, Finanças e do Planeamento. mas nada, tudo se mantém na mesma, sempre à espera”, referiu Antónica Matilde, de 60 anos, e a viver na Calemba desde 2001. 8.21 Água e energia são carências notáveis Para ela, somente a requalificação da Calemba pode Jornal semanario factual melhorar a vivência dos moradores, pois o lixo cumu- 26 de Novembro a 03 de dezembro de 2011 lado no bairro é o pior mal, devido à falta de recolha pelas empresas de limpeza. Os moradores do bairro Calemba, nas imediações da Mesmo assim, as pessoas insistem em atirar o lixo para Tourada, na Maianga, em Luanda, atravessam momen- a rua, empestando a área onde crianças brincam sem se tos difíceis no que toca ao abastecimento de água potável preocuparem com as doenças daí originadas. e ao fornecimento de energia eléctrica que tem resultado na procura do preciso líquido e na “puxada” de luz, a fim Por isso, moradores propuseram a intervenção da de poderem satisfazer as suas necessidades diárias. Administração Comunal do Kassequel, a fim de melho- rar o abastecimento da água potável e o fornecimento O Factual efectuou um périplo pela Calemba, tendo de energia, cuja ausência tem atraído marginais que per- notado dezenas de mulheres e de menores com baldes seguem alunas que frequentam o ensino nocturno nas e banheiras sobre a cabeça, à procura de água potável, imediações da Calemba. apesar de algumas residências terem reservatórios nem sempre recomendados, pois a água aí colocada é de pouca fiabilidade. 8.22 PCA Da epal terá desviado através de `pombos correios` 1 milhão de Joana Francisco, moradora no bairro da Calemba, dólares afirmou que a falta de água potável já dura pelo menos Jornal agora três meses, altura em que algumas obras no pavimento 26 de Novembro de 2011 rodoviário ocorreram. O nome do presidente do conselho de administração Em contrapartida, a fonte deixou claro que a maioria da Empresa Pública de Aguas de Luanda (Epal) circu- das casas da Calemba, feitas de blocos de cimento e lou, esta semana, nos meios jornalísticos e não só, como cobertas com chapas de zinco, não possuem sistema de estando na origem do desvio de 1 milhão de dólares que canalização interior ou exterior, dada à forma desorde- terão sido apreendidos pela polícia fiscal no aeroporto 4 nada com a “urbe” cresceu. de Fevereiro. “Hoje, a Calemba já é um bairro grande que nasceu em 2001, sem um plano director, pois, cada um cons- De acordo com as fontes do AGORA, Leonildo Seitas truiu a sua moradia como pôde, isto é, de qualquer (1.5.) teria distribuído o valor em pequenas tranches a modo, havendo casas de chapas, de tijolo e de blocos de vários intermediários que o levariam para o estrangeiro. cimento, todas cobertas por chapas de zinco, mas o pior é a sua desordenação”, vincou Joana Francisco. O ‘mujimbo’ espalhou-se pela capital, provocando equí- vocos a uns e indignação a outros. Mas, dentro do bairro, Factual verificou que manguei- “Soube também por portas travessas que o Pca estaria ras de plástico de diversos cumprimentos se estendiam por detrás do dinheiro encontrado nas bolsas de indiví- de algumas casas para outras, na perspectiva de busca- duos que evocaram o seu nome no aeroporto internacio- rem água de tanques com o apoio de electrobombas. nal de Luanda”, contou um antigo funcionário da Epal. o bairro possuía um fontanário, mas acabou por ser Para este operador de rede, não estranha o sucedido já desactivado pelos seus responsáveis, fazendo que os seus que após a sua ascensão L.S. ‘puxou’ indivíduos ‘dóceis’ habitantes tenham de percorrer por distâncias para con- que mais pudessem se identificar com a sua estratégia seguir alguma água para consumo. de gestão.
Quanto à energia eléctrica, ela não existe, pois o bairro “Desde que foi investido, o chefe viaja frequentemente, cresceu sem ordem e o resultado são as noites escuras, levando consigo muito dinheiro da tesouraria para além onde velas e candeeiros são vistos através das saliências das ajudas de custo. Se, desta vez, tentou esticar as mãos dos tectos das casas. muito mais do que elas permitem é seu problema”, referiu o mesmo contacto, admitindo ainda que “s6 não Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 133 acontece nada porque o Pca é de boa família e está bem tardam a ser sentidos pelos populares Luanda está feio, protegido”. pois, num deserto.
As nossas fontes revelaram, ainda, que uma boa gestão poderia tornar a empresa financeiramente forte, melho- 8.24 Há falta de consciência na rando também a situação salarial dos trabalhadores. deposição do lixo As tentativas de ouvir a versão de L.S. foram, porém, Jornal de Angola mal sucedidas até ao fecho da desta edição, nesta 28 de Novembro de 2011 quinta-feira. No caos da movimentação das ruas de Luanda é neces- Água rara. A Epal é, a par da Edel, uma empresa com sário um olhar atento para perceber a circulação de planos ambiciosos mas longe de beneficiarem os consu- carrinhas carregadas com pilhas de papelão ou grandes midores de Luanda. Este ano terá arrancado a instalação sacos plásticos de cor cinza.. Essas carrinhas têm impor- de 700 mil ligações domiciliárias em várias zonas urba tância vital na cidade capital, que conta com cerca de nas da capital. Com a execução desse projecto, espera-se sete milhões de habitantes. Elas transportam grande pelo aumento do número de beneficiários, de 140 mil quantidade do lixo produzido na cidade para o aterro para mais de 700. sanitário, nos Mulenvos, Cacuaco.
Entre 2000 a 2010, a Epal investiu 560 milhões de Papéis, embalagens de chiclete, tampinhas de garrafa, dólares na produção, distribuição e aumento da rede, casca de ovo, latinhas, copos e garrafas de plástico são estando prevista a construção de dois grandes sistemas os resíduos que mais formam o lixo que muitos teimam de abastecimento de água com capacidade de seis metros em jogar nas ruas, principalmente as vendedoras cúbicos por segundo. Foi ainda elaborado um plano ambulantes. para aumentar a taxa de cobertura do serviço de abaste- cimento de água em, pelo menos, 80%. O lixo, que muitas vezes é acumulado nos esgotos, fica molhado depois das chuvas e toma-se um “hospedeiro” Pensa-se igualmente na reorganização e reestruturação de mosquitos. da empresa e a criação de uma nova cultura empresa- rial, incluindo o controlo dos investimentos, mas tudo Devido as festividades de fim de ano, que se aproxima, isso ainda não passa do papel. A água potável há muito aumenta a importação de mercadorias e o lixo, como deixou de jorrar nas torneiras de grande parte da cidade sempre, também aumenta. O lixo é também produzido e nos bairros é mesmo uma miragem. por muitos automobilistas e pedestres, que atiram os objectos para o chão, sem qualquer respeito pela “nossa casa comum”, Luanda José Quintino, que reside no 8.23 Sejam bem-vindos ao deserto, Rangel há mais de 20 anos, disse à reportagem do Jornal meus senhores! de Angola que muitas vezes vê automobilistas e não só Jornal a capital a jogarem lixo para o chão, mesmo em zonas onde há 26 de Novembro de 2011 contentores. “As pessoas depositam o lixo onde bem lhes apetece. Esse reprovável comportamento verifica-se mais Naves fora a greve que se instalou na Empresa Pública em certos automobilistas que não têm paciência de parar de Aguas de Luanda (EPAL), entretanto já levantada, a um minuto num local onde há contentores para depo- capital do país vê-se a braços com uma gritante falta de sitar o lixo. fornecimento do precioso líquida Eles preocupam-se mais em manter o seu carro limpo e Há já algumas semanas que os luandenses se vêem obri- esquecem que essa atitude é má”, referiu. Há oito dias gados, cada um à sua maneira, a percorrer longas distân- que José Quintino convive com o mau cheiro provocado cias com pesados alguidares à cabeça, além de terem que pelo lixo acumulado em frente a sua casa. desembolsar os já de si parcos recursos para adquirirem água, onde quer que a encontrem. O morador de um dos prédios no Rangel é um dos muitos moradores prejudicados pelo lixo acumulado em Trata-se de ma situação, deveras lamentável. E pouco frente à sua moradia. “Além do mau cheiro, também confortante ver mulheres, crianças e até idosos em exer- enfrento o problema dos cães, que são atraídos pelo lixo. cícios hercúleos para obterem um bem que lhes deveria Eles vêm aqui, mexem e fazem muita sujeira”, reclama ser facilitado, no âmbito dos vários programas conce- José Quintino. bidos para a melhoria do sector, mas cujos benefícios Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 134
Segunda-feira passada, no período da manhã, a repor- Parece que o carro do lixo ali não passa. Até ao final tagem do Jornal Angola passou por diversos bairros da manhã de segunda-feira passada, disse a moradora para verificar a situação da recolha. Em toda a extensão Isaura Madalena, a recolha do lixo não tinha sido feita das ruas das B, C e Terra Nova constatou a presença havia uma semana. dos carros de recolha do lixo a fazerem o trabalho. A reportagem deparou com um senão: não retiravam 9lixo Isaura Madalena apela às pessoas a fazerem o seu papel. espalhado nas ruas. Amarildo Elise, que também reside “Nós temos um dever cívico como cidadãos. Vamos no Rangel, revelou que naquela área a operadora não faz manter a nossa cidade limpa, só assim mudamos a imagem o trabalho desde a semana passada. da nossa capital, cuidamos da nossa saúde e evitamos doenças infecciosas pelo lixo que nós mesmos fazemos.” “Em quase todas as ruas do bairro há lixo em frente às casas. Nós ficamos à espera que os carros das operadoras Acumulação do lixo de recolha de lixo passem, mas nada e ninguém fala. E À medida que a população cresce, com ela cresce o triste”, afirmou. consumo e a quantidade de lixo na cidade. Apesar de todos saberem o que é correcto fazer, há cidadão que não Triângulo dos Congoleses cumprem a sua parte. No Triângulo dos Congoleses também é visível a acumu- lação de lixo. Em frente ao mercado, o lixo já tinha sido Para ver como o lixo se acumula, ficámos três horas de recolhido, mas só na via principal. Nas transversais, divi- “plantão” próximo aos armazéns situados na praça das sámos sacolas contendo lixo, nas portas das casas. Pedrinhas, nos Congoleses. A viatura de recolha do lixo passa depois das lojas fecharem. Na via principal do Marçal em direcção à antiga DNIC, o cenário é “penoso” porque mesmo que os carros das De manhã, as ruas estão limpas. operadoras passem duas vezes por dia o lixo parece Mas, aos poucos, aparece um saco de lixo aqui, outro ali. nunca terminar. Quatro horas depois, a lixeira já toma conta de vários Alguns moradores dessa área alegam que a operadora “se lugares. esqueceu de que aqui vivem pessoas e que naturalmente produzem lixo”. No local reparámos que quem contribui para a sujeira são, na sua maioria, mulheres e crianças, que vasculham Mas a reportagem do Jornal de Angola deparou-se com o lixo à procura de bidões e garrafas para revender com contentores meio vazios e pessoas, principalmente crian- bustível. Questionada pela nossa reportagem do porquê ças, a deitarem o lixo para o chão. Marlene Leandra foi de vasculhar um monte de lixo, uma mulher que aparen- apanhada em flagrante pela reportagem do Jornal de tava mais de 50 anos respondeu, “o lixo não é só meu”. Angola a deitar lixo no chão. Questionada, respondeu: Naquela zona, o lixo fica por cima de águas estagnada”s e os mosquitos e moscas poisam nos produtos perecí- “O contentor está cheio e tenho de atravessar a rua.” veis que são vendidos a retalho. A área do São Paulo é Envergonhada por ver um rapaz com idade inferior à sua conhecida como zona comercial, pelo avultado número depositar o lixo no contentor, pegou no “seu lixo” e com de lojas, armazéns e o próprio mercado, sem esquecer os um sorriso falso foi depositar no contentor. A situação vendedores informais. repete-se na rua do Beiral. Próximo à linha-férrea, no sentido do município do Cazenga, existe uma vala que Apesar de já não se fazer sentir montanhas de lixo, são se tomou no maior depósito de lixo dos moradores. Os visíveis os objectos espalhados pelas ruas e que pro- mosquitos e as moscas fazem ali morada. O”que mais vocam mau cheiro. Segunda-feira, como constatou a comoveu a reportagem do Jornal de Angola foi o facto reportagem do Jornal de Angola, os contentores estavam de crianças inocentes brincarem na lixeira sob o olhar superlotados. Os armazéns encerram as portas depois complacente de muitos adultos. das 15”horas.
Linha férrea As empresas das operadoras começam as suas actividades a Saindo da linha-férrea e em direcção à comuna do Hoji- partir das 18 horas e estendem-se até as as cinco da manhã. Ya-Henda, na paragem da Cuca, existem outros amon- “Temos vistos os carros que levam lixo as 18,20, meia toados de lixo, que dificultam a passagem dos carros e noite e as cinco a passarem. Só que muitos de nós dei dos pedestres. E muito lixo junto. Junta-se a poeira e cães xamos o lixo em locais não apropriado e é triste”, disse rafeiros, que procuram alimentação. Perto dos armazéns João Francisco. daquela comuna a imagem é toma-se pior. A mesma opinião foi corrobada por outros citadinos ouvidos pela reportagem do Jornal de Angola. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 135
8.25 Quando o abuso passa dos limites António Morais “Toy” é um pacato citadino, merece Jornal folha 8 todo o respeito. Ou talvez, seja uma forma astuta de 26 de Novembro de 2011 alguém querer expulsar o jovem da habitação. Porque nenhuma empresa idónea de limpeza e saneamento A Empresa de limpeza e Saneamento “Vista” colocou, básico aceitaria atentar contra a vida de qualquer cidadão, há mais de quatro meses, um contentor comunitário de independentemente da condição social e económica. lixo escassos metros da porta da residência do munícipe, António Morais “Toy”, sito na rua Mira Flor, Camuxíba, bairro Samba, província de Luanda. 8.26 Edel á luz de velas… Jornal semanario angolense O contentor foi colado numa altura em que o munícipe 26 de Novembro de 2011 estava ausente de Luanda por razões profissionais. Ao constatar a situação, dirigiu-se à direcção da empresa Os últimos meses têm sido catastróficos para os habi- acima referenciada para a remoção do respectivo depó- tantes de Luanda e para a economia do país, devido à sito de resíduos sólidos, mas foi pura e simplesmente forma como se vem processando o abastecimento de ignorado, apenas faltou ser cuspido na cara. energia eléctrica à cidade capital de Angola. As econo- mias domésticas estão a ressentir-se sobremaneira da Aborrecido com o procedimento dos funcionários e da distribuição de energia a conta-gotas e sem o mínimo de direcção da “Vista”, empresa responsável pela recolha de planificação e de respeito pelos direitos do consumidor. lixo e resíduos sólidos no município da Samba, dirigiu- E o que dizer dos projectos de relançamento da indústria e -se à administração, mais propriamente à Fiscalização das novas centralidades? Vamos comprometer estes projectos local, onde apresentou a queixa. Foi aconselhado a fazer à partida, por continuarmos a ter problemas básicos como uma exposição escrita a fim de facilitar o esclarecimento; este, de distribuição de energia eléctrica a conta-gotas? tempo perdido porque também resultou em fracasso. O munícipe levou um baile dos grandes! Foi com espanto que, há pouco mais de 2 meses, ouvimos dizer que haveria sérias restrições no abastecimento de Se a Administração Municipal do Samba, através da energia eléctrica à cidade capital por um período de um Fiscalização, sente-se incapaz de resolver o problema, em mês. O motivo tinha a ver com trabalhos de manutenção que organismo António Morais irá recorrer para resol- em Kapanda. Lá ficámos estupefactos, perguntando-nos ver o diferendo? Face à presença do contentor a escassos como era possível acontecer algo do género em pleno metros da residência é obrigado a suportar o cheiro nau- ano de 2011, depois de durante décadas termos ouvido seabundo e está sujeito a contrair doenças. das mais esfarrapadas desculpas em relação à não resolu- ção deste problema, que já passou a ser um dos maiores “Sou obrigado a abandonar a minha casa porque é inva- empecilhos para o governo do nosso país e para os ango- dida por grandes quantidades de ratos, moscas, mosqui lanos residentes em meio urbano. tos, baratas e outros insectos nocivos à saúde humana. Não estou contra a existência de contentores nesta área, Mas lá fomos aguentando, até porque «um mês passa mas que deve ser posto num local seguro e longe de pre- depressa» (como erradamente se ouvia dizer). Mas não, judicar os moradores da rua Mira Flor”. já que, afinal, de contas não era nada um mês: o assunto não estaria resolvido em Outubro – apenas lá para Quando a Vista atrasa em recolher o lixo, Toy Morais Novembro, ou seja, mais um mês de espera, acreditando é obrigado a varrer a parte frontal da residência porque nas «autoridades da luz», em quem nunca o deveríamos alguns moradores depositam os detritos no chão. “Houve ter feito. momentos que tive de dormir fora”, desabafou o muní- cipe, residente na rua Mira Flor, Camuxiba, município Decorria o início de Novembro, quando ouvi dizer pela da Samba, província de Luanda. rádio que, afinal de contas, só em Dezembro estaria reposta a normalidade. E perguntei-me como é possível A empresa em questão teria a coragem de fazer o alguém andar a enganar-nos tanto tempo e manter-se mesmo na residência de um general das Forças Armadas impunemente no seu poleiro... Angolanas? Oficial superior da Polícia Nacional? Altos funcionários de Estado? Parentes de Ministros? Com que então os senhores engenheiros deixaram de Governadores? Se tem força, vai colocar defronte a porta saber fazer contas? Deixaram de saber fazer peque- da vivenda de uma das filhas do Presidência da nas projecções? Eu ainda estudei engenharia durante República, José Eduardo, da Corimba. Não se aprovei- um ano e meio, até comprovar que nada tenho a ver tem da modéstia do autóctone faltar ao respeito. com máquinas. Portanto, recordo-me bem das análises Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 136 matemáticas, das álgebras e das geometrias descritivas. Comentários Parece-me, pois, não ser preciso ter formação em enge- Nos últimos tempos, têm-se ouvido muitos comentários nharia para saber que 8+8 são 16, mas 8x8 já passam a respeito da EDEL. Mas não me parece que, neste caso, a ser 64. Ou seja, qualquer estudante da 6ª Classe a culpa seja da EDEL. Atribuir à EDEL a culpa do que saberá contabilizar devidamente o tempo que durará a está a suceder é o mesmo que atribuir a culpa da falta manutenção do equipamento. de leite ao leiteiro, quando a verdade é que se as vacas não produzem leite, o leiteiro nada pode fazer. Portanto, Só que isso não é tudo. Em finais de Outubro, ouvi a responsabilidade deve ser atribuída ao Ministério da na TPA um dos governantes do sector da energia dizer Energia e Água e, eventualmente, ás empresas produto- que o problema não estaria resolvido em Dezembro, ras de electricidade. Até porque não me soa nada bem coisa alguma. A previsão seria talvez lá para Março do o argumento segundo o qual a albufeira está sem água, próximo ano, na melhor das hipóteses. Aí, então, fiquei quando se sabe que isso pode (e deve) ser prevenido. chocado. Recordei-me da década de 1980, em que toda a gente enganava toda a gente com números bonitos, mas Mas a verdade é que a empresa de electricidade que lida os estômagos dos angolanos roncavam a bom roncar com o público é a distribuidora (não as produtoras), de (alguns, até, rosnavam a bom rosnar). Estaremos a regres modo que é a EDEL que arca com todas as culpas. Eis sar a esse tempo, em que os relatórios eram tão bonitos, alguns dos comentários que ouvi recentemente: «Já não que chegavam a impressionar de tão longe da realidade que ficávamos 2 dias sem luz em casa, desde os tempos da estavam? guerra»; Voltámos à década de 90»; «Que manutenção é essa, que não estava programada?». E, agora, vem esta semana a senhora Ministra dizer que afinal o problema estará resolvido em Dezembro. A respeito de comentários ouvidos, há mais alguns que Portanto, falaram-nos em Novembro, em Dezembro, não posso deixar de partilhar com os leitores. Alguns Março do próximo ano e, novamente, Dezembro deste têm a ver com a ânsia que os cidadãos têm de punição ano. Só não disse a senhora Ministra por quanto tempo exemplar em relação aos culpados desta situação, que o problema ficará resolvido ou, por outras palavras, há décadas prometem resolver o problema, mas ele daqui a quanto tempo voltaremos a passar pela penum- vai-se agudizando ano após ano: «Isso só pode ser bra por que passamos agora e por todos os martírios daí sabotagem...»; «Ai, que saudades do tempo de partido decorrentes. único...»; «Lembram-se do que nessa altura se fazia aos Como se tudo isso não bastasse, vêm responsáveis do sabotadores?». sector da energia atirar-nos mentirinhas, demons- Tem também havido comentários relacionados com trando que pretendem apenas manter os seus tachos. as cobranças normalmente arbitrárias (muitas vezes, Esquecem-se do ditado que diz que e a mentira tem mesmo com contador) que a EDEL pratica. As pessoas pernas curtas. Ou h será que anunciarmos um mês de perguntam-se se neste período de sérias restrições, as restrições e, depois, dois sucessivos incrementos de um cobranças vão ser processadas tendo em conta isso: mês não fazem com que fiquemos na penumbra durante «Quero ver quanto a EDEL vai cobrar agora...». três meses? o Não teria sido melhor anunciar p logo de início os tais 3 meses de CI sofrimento? É que, se Um amigo do sector do marketing foi um pouco mais assim se E tivesse agido, poderiam os cidadãos reclamar longe, tendo-me recordado a recente nomeação do (com todo o direito q que lhes assiste), mas ao menos te Governador da província de Luanda. Amado por uns, ninguém vos acusaria de estarem a mentir apenas para detestado por outros, a verdade é que todos devemos dar tentarem manter os tachos. a mão ao novo Governador, desejando-lhe sucessos na sua empreitada, pois o seu sucesso resulta em benefício E há mais: onde estarão as chamadas fontes alternativas, para todos nós, citadinos. Durante a «esfrega» de mais de nas quais se tem gasto tanto, mas tanto dinheiro? Será 2 dias sem energia que a EDEL nos aplicou esta semana, admissível que, havendo manutenção do equipamento, o meu amigo perguntou-me: «Será que estão assim a se continue ainda hoje a fazer cortes e restrições, prejudi dar as boas-vindas ao novo Governador?». Bem, não cando as pessoas e a economia? Por que razão não se faz me parece que seja isso. Mas se assim for, até parecem como em todo o lado, onde as manutenções não chegam os jogadores do FC Porto, que deixaram de saber jogar sequer ao conhecimento do consumidor? Será que não apenas porque querem tramar a vida ao treinador... se faz manutenção de equipamento nos outros países? Faz-se, sim. Mas ninguém sabe disso, porque isso não é E, já agora, por que razão continuamos a ter em Luanda assunto de domínio público. Em caso de manutenção, há um Director da EDEL que é figura pública? Enquanto soluções. É assim em todo o lado. Por que razão não há-de isso acontecer e enquanto tal entidade tiver o poder de ser também assim por cá? decidir sobre a vida das pessoas (quanto tempo as pesso Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 137 as trabalham e quanto ganham), quer dizer que estamos trução de três outros nos bairros Cabaça e Comandante mal, muito mal em relação a uma matéria elementar Ataque. como é a da produção e distribuição de energia eléctrica. A Administração Municipal do tal, Lucala construiu e Negócio dos geradores apetrechou uma cozinha e uma lavandaria no hospital Um último aspecto que tem de ser referido tem a ver municipal, um depósito de medicamentos, além de ter com os geradores, que fazem com que os últimos dias reabilitado e apetrechado quatro postos médicos, dois tenham sido de grande calor em Luanda. Infelizmente, dispensários de tuberculose, quatro escolas do ensino não temos por cá o hábito de colocar termómetros nas primário e uma do primeiro ciclo do ensino secundário. janelas, de modo que não sei qual a temperatura dos Também foram construídas casas para o administrador últimos dias. Mas que tenho visto toda a gente trans- municipal e seu adjunto. pirar, Sobretudo quando surge a tesoura da EDEL, de forma inesperada e implacável, sem aviso. No sector da agricultura, a Administração Municipal adquiriu uma carrinha e dois tractores, com reboques Há uns anos atrás, quando se dizia que o problema da para apoiar o sector agrário. Há falta de sementes e ferra- distribuição de energia eléctrica estaria resolvido lá para mentas para desenvolver a actividade no campo. O ano 2008-2010, vimos vendedores de geradores dirigirem-se agrícola no município do Lucala estará melhor servido, à Muxima, com rezas, preces e promessas. Parece que com a disponibilidade de 166 hectares de terras, mas os pedidos destes vendedores à Virgem continuam a o grande problema, segundos os agricultores, prende-se vingar, enquanto os lamentos dos cidadãos não têm tido com a falta de inputs e sementes. força suficiente para se fazerem ouvir. Os camponeses associados tudo estão a fazer para ultra- Mas a verdade é que, graças à «competência» dos funcio- passar a situação ainda nos próximos tempos. nários públicos do sector da energia, a venda de gerado- res é negócio que continua a prosperar por estas bandas – o que é, no mínimo, inadmissível.
Para já, temos é de garantir que nenhum funcionário do sector da energia tenha qualquer negócio de gerado- res. Porque de contrário, poderemos esperar pelo menos outros 36 anos pela resolução deste problema básico que nos continua a afligir e a remeter para baixos níveis de desenvolvimento.
8.27 Redes de água e energia são reforçadas no lucala jornal de Angola 30 de Novembro de 2011
A sede do município do Lucala, o Kwanza – Norte, é abastecida de energia eléctrica através de uma linha de baixa tensão de 30 KVA, proveniente da subestação de Ndalatando que é alimentada pelas barragens de Cambambe e Capanda. No casco urbano, oito dos 11 bairros já consomem energia eléctrica. Em carteira está a extensão da corrente eléctrica para os três bairro sem falta.
Relativamente ao abastecimento de água potável, cerca de 85 porcento da população já tem acesso à de e estão a ser construídos charizes e lavandarias.
Em Kiangombe, única comuna e município, foram construí dos chafarizes e quatro lavandarias nos bairros de Matamba, Coio e Dualumbi. Está em curso a cons- Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 138
9 GENERO E VIOLENCIA liberalização do comércio tenha resultado na criação de mais formas de emprego remunerado para as mulheres nos ofícios industriais.
9.1 Empoderamento economico da Mesmo com estes resultados, disse, não se registou mulher é importante no contexto nenhuma mudança significativa em termos de elimina- da sadc ção da desigualdade salarial, de autoridade e de progres- Jornal o independente são na carreira, porquanto continuam a assumir respon- 12 de Novembro de 2011 sabilidades primárias no lar e na prestação de cuidados infantis. A ministra da Família e Promoção da Mulher, Genoveva da Conceição Lino, disse terça-feira, em Luanda, que o De acordo com a titular da pasta do Ministério da empoderamento económico da mulher é muito impor- Mulher, é preciso adoptar instrumentos jurídico-legal e tante no contexto do desenvolvimento sustentável e da de política que resolva os problemas da mulher empre- integração na região da SADC. saria e nos países onde já existem políticas e legislação sobre o empoderamento. Genoveva Lino, que falava na abertura da VI Feira Regional das Mulheres de Negócios da SADC, fez saber que um dos principais objectivos da comunidade é 9.2 É cultura do angolano bater na alcançar o desenvolvimento e o crescimento económico, mulher? o alívio da pobreza, a melhor ia dos padrões e da quali- Jornal semanario continente dade de vida das populações da África Austral. 18 de Novembro de 2011
Consta ainda deste objectiva o apoio aos grupos social- Acho que sim! Até porque é uma prática que já encon- mente desfavorecidos, através da integração regional. trei, o meu avô o meu pai já batia nas mulheres Aprendi SADC, acrescentou, assinou e ratificou declarações e com eles! Não fui eu que inventei! Sabia que algumas protocolos destinados a proporcionar a erradicação da mulheres gostam! Até acham que devem ser surradas! pobreza e da fome exacerbada pelas disparidades do Foi assim que muitos homens responderam ao meu género. pequeno inquérito.
A mulher constitui o grupo populacional da região da A lei contra violência doméstica é persuasiva? Não! Porquê? comunidade e estudos indicam também que as mulhe- Porque não combate as causas, é pouco abrangente, não irá res representam metade da população pobre em África e de modo nenhum extinguir, inibir, conter com esta prática que a pobreza na SADC é exacerbada por diversos fac- cultural e secular. Porquê? tores tais como a epidemia do Vih e Sida e as desigual dades do género, entre outros. A lei é oportunista, falaciosa, sem nenhum conteúdo instrutivo nem pedagógico. O/A legisladora (copy paste “A mulher suporta o maior fardo de todas estas condi- da lei Portuguesa) e o forcing exercido pelas mulheres na ções sociais e económicas devido ao seu estatuto social Assembleia Nacional preocupou-se em defender a pele e económico. Em todo os Estados membros a mulher das mulheres, única e exclusivamente estavam fartas de continua a enfrentar dificuldades de natureza especí- levar “porrada” dos homens com indulgência da justiça, fica ao género, com destaque para o limitado acesso e por falta de legislação criminal e penal. Todavia foi controlo dos recursos produtivos nas nossas sociedades”, um passo dado. Mas será que foi dado o passo civili explicou. zacional com a criação da lei, contra violência domés- tica? O homem angolano deixará de bater na mulher? Embora seja um facto indiscutível, acrescentou, que a Estará regenerado? Ou teremos muitos homens presos sociedade beneficiária bastante da integração da mulher por este tipo de crime? Penso que não é esta a finalidade, no sector económico, em muitas zonas do mundo e, até porque aí, as mulheres ficariam sem os preciosos em particular, na África Austral, a mulher continua homens, que são poucos, passariam “fome e frio”! a enfrentar imensos constrangimentos nos domínios empresarial e comercial. Um da móbiles deste tipo de crime é o ciúme, traição, que espelha pouca instrução, civismo, e desenvolvi- Com o aumento da força de trabalho flexível e even- mento humano por parte do homem p angolano em não tual e do trabalho irregular, as mulheres, mais do que perceber, admitir d que a traição faz parte do compor- os homens, continuam sem emprego seguro, embora a tamento humano, independentemente VI da fidelidade Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 139 exigida. Todos os humanos traem! É uma questão de A lei contra a violência doméstica deve passar pela ver- tempo, portanto, devemos saber conviver, tente educacional, ou seja, deve constar nos manuais escolares de ensino básico, todo o repúdio de qualquer É conceber, anuir, com este tipo de comportamento, violência incluindo a doméstica, deve ser instruída nas prática humana, sem violência alguma. Todos nós crianças, a lei devia ter o punho de obrigatoriedade traímos, m homens e mulheres, aliás a nossa vida e é de instrução social, a lida familiar, logo nos primeiros feita de traições! Se é que podemos chamar de traição. sinais de violência. Com estes mecanismos poderemos ter melhores relacionamentos passionais. A “desacultu- O egoísmo ilusório das mulheres em auto protegerem-se ração” do Homem Angolano talvez seja o caminho para com a lei, demonstra, a primazia delas, antes e sobre- a inibição destas práticas criminais. tudo, deixando de fora o mais importante que são os filhos, (crianças) que não têm e representatividade de “género” na Assembleia Nacional, por isso não conse- 9.3 Os moradores admitem sono guem influenciar leis para se protegerem e favorecer, de tranquilo maneira a impor juridicamente aos pais o cumprimento, Jornal angolense obrigatoriedade dos deveres, para que consigam obter 19 de Novembro de 2011 melhor educação, civismo e desenvolvimento humano para que no futuro estejam instruídos e cultos, saibam, Os moradores do Sambizanga admitiram a diminui- compreendam, que não devem praticar este tipo de ção da criminalidade naquela circunscrição de Luanda, atrocidades. pois desde a retirada do mercado Roque Santeiro já se consegue dormir tranquilamente. Se a delinquência já É tão agressor, violento, criminoso, um pai, que pratica não assusta tanto, o mesmo não se pode dizer da falta violência contra a mulher, como faltar ao compromisso de água potável, energia eléctrica, do desemprego, da e o dever com o filho. prostituição e do alcoolismo o Bairro Morro dos Bois situa-se por detrás do campo que outrora era o mercado Os filhos de hoje poderão ser os agressores de amanhã, Roque Santeiro o É assim designando pelos moradores se não forem bem instruídos, porque não acautelaram porque existia um morro de areia vermelha onde foram na lei, (violência doméstica) a responsabilização criminal enterrados cadáveres. penal, (crime público), dos pais (pai e mãe), no incum- primento dos deveres e obrigatoriedade dos filhos, ex.: Há dois anos estivemos neste local e naquela altura os Deve ser crime público (prisão efectiva) em Angola uma munícipes disseram que os jovens na sua maioria se mãe ou pai que não assuma a paternidade ou materni- dedicavam ao alcoolismo e a criminalidade. A partir das dade do filho, (processo judicial simplificado, priori- dezanove horas já ninguém poderia passar, caso o fizesse tário, rápido), deve ser penalizada a mãe que de má fé seria assaltado e por vezes morto. engana, oculta, falseia a paternidade do filho, causando seríssimos problemas a este filho posteriormente, que A rua 200 era ti da como área reservada para a pros- não matricula no ensino obrigatório (escolar), que não tituição, designavam-na assim porque as trabalhadoras assume a responsabilidade económica do filho menor. de sexo “prostitutas” cobravam duzentos Kwanzas por cliente. A obrigatoriedade nos registos de nascimento, a inclusão dos nomes dos progenitores. É violento um filho saber Esta semana voltamos a mesma paragem para obser- que não consta no seu registo de nascimento o nome do var as mudanças que ocorreram durante este período. pai, ou da mãe, por divergência de situações. O relógio marcava dez horas quando chegamos a rua 200, a primeira vista o ambiente parecia calmo e seguro, Estes são basicamente os pressupostos que deviam incluir estacionamos o carro numa zona estratégica, pois que na lei da violência doméstica. Não é sonegando estes temíamos sofrer algum tipo de represália por parte dos assuntos que as mulheres terão sossego na relação com meliantes, porque segundo informações, a área outrora os homens, pelo contrário, estes presuntivos influenciam era tida como “escritório de alguns marginais”. outros, também é violência doméstica. Começamos a nossa caminhada e num olhar minu- Quem pensa que combate o crime com mão pesada, cioso constatámos, que as residências na sua maioria só com a lei, está enganado. A vertente sócio-cultural são de chapas, o saneamento básico é péssimo, possui devia ser entendida, compreendida de maneira que a sua um número elevado de oficinas, mas estas, funcionam abrangência fosse transversal. em condições desfavoráveis. Segundo os moradores têm enfrentado muitos problemas, o principal é a falta de Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 140
água potável, o chafariz que existe esta estragado há já Branca Neto, outra activista, disse também que o tra- muito tempo, por essa razão muitos dos munícipes têm balho de aconselhamento tem surtido muitos efeitos, de se deslocar em áreas como na 80avista para conseguir porque muitas adolescentes saíram desta vida e tem adquirir o líquido precioso, mas há outros que preferem incentivado outras para também o fazerem, tendo real comprar o mesmo aos vizinhos que possuem tanques de çado que as que ainda permanecem apontam o desem- água, sessenta Kwanzas o bidon de vinte cinco litros e prego como a principal causa. Branca, explicou que elas um balde de cinco litros custa vinte cinco Kwanzas. ficavam no ponto a partir das seis horas da manhã e na medida que os homens vão passando chamamos e Já os chamados “roboteiros” que são contratados para entravam com os mesmos iam em casas, onde também acarretar água cobram quinhentos Kwanzas para trans- comercializavam bebidas alcoólicas.” Mas agora esta portar seis bidons, chegando a fazer por dia dois mil e prática diminui muito”, frisou. quinhentos Kz. Procuramos saber onde ficava a ponte onde as chamadas trabalhadoras de sexo ficam, um dos João Francisco, munícipe que trabalha numa oficina moradores deu-nos a indicação, mais alertou-nos sobre improvisada do seu pai, durante o dia, e no período noc- os perigos que corríamos ao chegar no local. “Cuidado, turno vai a escola disse-nos que o dinheiro que ganha já guardem bem os telefones, a área onde vocês vão é mais ajuda a pagar os seus estudos. “Os marginais por perigosa”, alertou um dos moradores. Prosseguimos; ecos marginais por vezes assaltam os carros dos clientes encontramos dois rapazes que mostraram-nos a casa e nós somos obrigados a pagar os prejuízos. onde é feita a prostituição. Era uma residência de chapa e o chão de terra abatida. Telemóveis e dinheiro são coisas que os bandidos têm como preferência” vezes assaltam as viaturas dos clientes e nós Disse ainda que actualmente já não cobram duzen- somos obrigados a pagar os prejuízos. Telemóveis e dinheiro tos Kwanzas, agora varia de mil a mil e quinhentos são coisas que os bandidos têm como preferência”, realçou. Kwanzas. “Duzentos Kwanzas era no tempo do mercado Roque Santeiro, porque havia muitos clientes, agora os Já Adelina Teresa, moradora disse que, com a retirada clientes reduziram”, explicou. do mercado Roque Santeiro, a delinquência diminui, mas enfatizou que o problema cinge-se na falta de água Quanto a criminal idade, o jovem disse que os assaltos canalizada e a energia eléctrica no bairro. Quanto ao são feitos a qualquer hora do dia. “A presença da polícia problema da prostituição na zona, disse que as jovens não se faz sentir no bairro, porque eles também ficam estão a enveredar neste caminho por falta de apoio por com medo de sofrer represálias”, disse. parte dos familiares. Nos momentos que falávamos com um dos rapazes o ambiente mudou, e o medo se instalou sobre nós, porque algumas pessoas que lá se encontravam começaram a se 9.4 A criminalidade está demais aproximar e a suspeitar da nossa presença. Jornal semanario angolense 19 de Novembro de 2011 Antónia uma das prostitutas revoltou-se com a nossa presença chegando a pegar num balde para atacar-nos. Não quero falar na criminalidade de escalão alto, como Começou a gritar “não quero falar vocês, não ajudam em desvios de verbas públicas e coisas do género. Não! nada, é m’e1’hor saírem daqui agora”, gritava. Segundo Gostava que vocês, os media, que têm poder de persu- informações, a mesma tem quatro filhos e está nesta asão pública, atacassem o problema que vai crescendo a vida há muito tempo. No bairro existe um projecto cada semana que passa, que são os assaltos constantes. denominado ABC, que proporciona cursos de pastela- ria, culinária e decoração tendo como objectivo ajudar Trata-se de uma situação que parece fugir do controlo da as pessoas que estão caídas no alcoolismo, drogas e na nossa polícia. Os ladroes andam por ai impunes e já não prostituição. Batem nas portas das casas e sensibilizam são só os pobres que andam a roubar os nossos cidadãos. as pessoas aparecerem nos encontros que são realizados São também os filhos de famílias de classe média que todos os dias. agora roubam, alguns por puro desporto, de maneira a ganharem respeito nos seus gangs. Andam por aí nas Carla Manuel, activista do projecto disse que desde que suas matas e armados. Um autêntico cenário de filmes o projecto começou muitas raparigas já deixaram a vida do antigo Oeste americano. da prostituição, tendo recebido ajuda espiritual e mate- rial. Contou que a maioria das mulheres entram na má Estamos a chegar a uma realidade absurda em que ser vida por falta de emprego e estudo na sua maioria são assaltado já faz parte do nosso dia-a-dia e ninguém reage mães solteiras. verdadeiramente para combater esta peste. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 141
Só no meu seio familiar e social, no espaço de uma tendo assim forças suficientes para se auto-defender, semana, foram assaltadas 8 pessoas, incluindo eu próprio. tinha a cabeça a sangrar por todo lado como causa dos Foi no trânsito, outros a porta de casa, a caminho de ferimentos. casa e dentro de estabelecimentos públicos! E só estou a falar de mim e dos que me estão próximos. Imaginem Depois de a desgraça ter acontecido e os marginais o número de cidadãos que são assaltados diariamente... terem fugido, levaram o jovem no hospital e chamaram a polícia. Quando esta chegou, apenas perguntaram o Aonde vamos parar assim? Acho que chega a ser que ocorreu e foram-se embora. vergonhoso para uma cidade que se quer mostrar ao mundo como sendo uma urbe do futuro, lidar com Para os demais moradores do bairro Kauelele, Comuna do situações destas diariamente. Kicolo no município do Cacuaco, há muito não conhe- cem os meios humanos e técnicos da Polícia Nacional Criminalidade do género sempre existiu em todo o (PN), que por sinal, segundo nossos entrevistados “estes mundo e em todas as cidades, mas, no nosso caso, o meios conhecemos pela Televisão nos desfiles festivos e nível de criminalidade disparou escandalosamente. quando o Governo quiser reprimir uma manifestação ou defender seus negócios”desabafou “Tio Verdade”. Gostava que vocês publicassem uma matéria a chamar Segundo apuramos, os meliantes têm um comodismo a atenção ao governo e principalmente à polícia, para de se tirar o chapéu porque nem de dia como de noite, acordarem e decidirem fazer alguma coisa, porque assim não se vê nenhum agente da ordem. não vamos conseguir atrair a confiança de investidores estrangeiros para a nossa economia nacional. Pessoas são assaltadas na luz do dia com meios bélicos e letais mas,” ficamos de bicos fechados porque todos nós Como se não bastassem os problemas da má distribui- precisamos a vida mesmo na miséria”_ sentenciou dona ção da riqueza nacional, da falta de água, energia eléc- Teresa Soares que, por sinal, já foi assaltada por mais de trica e saneamento básico, parece que ainda temos que 3 vezes num intervalo de 60 dias, mas que nunca viu os lidar com uma polícia passiva aos assaltos em Luanda. malfeitores por trás das grades mesmo com as devidas participações das ocorrências a tempo e hora, --segun Será que agora se tornou cultura ser-se gatuno? do Ela, “já não sabemos quem é o verdadeiro policia ou Por favor, pelo nosso bem, pelo bem comum, por quem é o gatuno” porque, rematou, “‘todos no Kauelele Angola, façam alguma coisa. Por uma Angola limpa, têm armas de fogo e as exibem sem receios, em fim, justa e segura. somos prisioneiros dentro das nossas próprias casas. Os que nos atacam, estão bem localizados e bem identifi- cados pela própria Polícia” adiantando, “senão vejamos: 9.5 Kaulele, a capital da delinquência Como se percebe que um verdadeiro agente da Ordem, Jornal angolense passa o tempo todo, ou quase todo, nos alambiques de 19 de Novembro de 2011 bebidas fermentadas e roulottes como nas maratonas no meio dos mais perigosos marginais todos no Kauelele Até que ponto a delinquência quer chegar? Pergunta têm armas de fogo e as exibem sem receios, em fim, difícil de responder a qualquer pacato cidadão. Eram somos prisioneiros dentro das nossas próprias casas, os cerca das 17h e 30m do dia 9 do corrente, que por sinal que nos atacam, estão bem localizados e bem identifica- nas vésperas do dia da Independência Nacional, quando dos pela própria Polícia que por sinal os conhecem? Por um estudante saia da escola e deparou – se com cinco não terem peso de consciência na hora em que deviam marginais armados. Mandaram-lhe parar e como diz o agir contra e repor a legalidade perguntamos, se vivem velho ditado que; “quem não deve, não teme”, parou, de favores dos meliantes? Perguntas que ficam no ar e quando para seu espanto, pediram-lhe 50 kz, respon- que merecem resposta para quem de direito. Devido dendo que não os tinha porque acabava de sair da escola, o elevado número de armazéns dos expatriados que um dos marginais bateu-lhe com uma garrafa na cabeça atraem os amigos do alheio, hoje, Kauelele e em particu- e, atordoado pedia socorro e ninguém interessou-se lar o Kicolo em geral, tornaram-se numa Ilha de tesouro em lhe ajudar, limitando-se a olhar num sentimento aonde todos Piratas fazem moradas. de medo de retaliação, enquanto outros marginais do mesmo grupo, pegavam nas suas pertenças e batiam Os alunos, são assaltados os seus haveres em plena luz do com mais força. dia e, para aqueles que pensam em laser noutros recintos da urbe, sofrem a humilhações de toda índole perante Tentou defender-se mas, sem sucessos pois, tivera seus cônjuges. Não se pode andar com um par de calça- apanhado com uma coronhada de uma pistola, não dos de marca. Se fores a uma lanchonete e ou roulotte, Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 142
és abordado com a petição de apenas kzs; 50.00 como Como é nosso dever e obrigação, pautando pelo rigor pontapé de saída das suas acções. e isenção, cumprindo a nossa deontologia profissio- “ Não temos sono, até gerador em pleno funcionamento nal, sobre a matéria em causa, tentamos para melhor é levado a partir das 19 horas e, porque têm protecção nos situar, contactar a Unidade Policial local mas, sem não sei de quem”…disse-nos a nossa interlocutora, que sucesso alegando falta de autorização superior. só se identificou de Mingota com muita nostalgia.
Cauelele, tornou-se num novo Hollywood aonde con- 9.6 Assaltos á luz do sol tracenam os verdadeiros Gringos. São afirmações dos Jornal a capital nossos entrevistados de que as ruas mais perigosas do 26 de Novembro de 2011 cauelele são: A rua Branca, que parte da entrada do regi- mento de transportes militares das FAA, vulgo 08, na Se os anteriores moradores viram-se a braços, com os estrada principal de Cacuaco e desemboca defronte a marginais nas suas residências, cantinas ou próximo de empresa “sovinagres” estrada direita da Cuca e ou Ngola casa, Afonso Alves Pedra, 30 anos, foi assaltado na via Kiluange, junto ao Instituto Médio de Economia do pública, por volta das 16 horas, quando saia do serviço. Kikolo. Teve surripiado 12 mil kwanzas do salário e foi ainda brutalmente agredido com blocos e paus”, contou, apon- Nesta mesma rua, está a famosa “canjala”, nome dado tando o dedo acusador ao grupo marginal ‘Os Rebenta’. por razões óbvias, aonde são vítimas todas as pessoas que exibem algo que chame a atenção do meliante. Pedra não foi a única vítima daquele dia A única dife- Existe ainda ao longo da mesma rua, a Cafilda, pois, rença é que, as outras pessoas conseguiram apanhar um ali desemboca a famosa rua da “Pensão Gaby”a qual é dos assaltantes, conhecido por ‘Sicossa’, que foi levado à chamada de “Cafunfo” porque, é lá onde todos grupos 15” esquadra da Polícia. rivais de malfeitores ganham o pão a qualquer preço nas suas emboscadas, vezes há em que entram em Referiu ainda, por outra lado, que no dia em que as rixas sangrentas por causa das ocupações de lideranças. vítimas foram chamadas na esquadra, para reconhe- Também, não é menos perigosa a rua do Kussanguluca, cerem o jovem, o mesmo foi colocado no quintal e, agora Instituto Politécnico “Formiguinhas”, onde até surpreendentemente, saiu como se não tivesse feito 18 horas, não passa ninguém a pé com algo importante nada “Chamamos os agentes, mas apenas um simulou ou abraçados, quando casais. Neste lugar, até aparecem que corria atrás dele, mas não passou disso mesmo. Ele homens fardados e ninguém os detém. (o marginal), inclusive, foi a caminhar lentamente”, denunciou. Dona Laura, lamenta o facto destes lugares todos estarem a menos de 500 metros da Unidade Comunal da E, segundo os moradores, o tal de Sicossa é já um rein- polícia Nacional no Kikolo. “Sofremos muitas das vezes cidente, alguém que já esteve várias vezes detido, mas violência verbal por parte de alguns policias, quando onde também não demora muito. Um ou dois dias participamos ocorrências mais de duas vezes porque depois, ele sai e regressa no seio dos seus comparsas do pensam que estamos a lhes acusar, isso, nos desenco- grupo ‘Os Rebenta’. raja a denunciar os malfeitores porque muitas vezes os meliantes dão conta dos nossos nomes por quebra Numa briga entre os grupos marginais naquela área, de sigilo da própria polícia, que acabam de revelar os nomeadamente, ‘Os Rebenta’, ‘Cadeia’ e ‘Os Mini nomes dos denunciantes e, com isso, sofremos retalia- Diabos’, ocorrida na, vulgarmente, conhecida rua do ções directas, ou nossos filhos a caminho da escola, são Matondo, palco de autênticas batalhas campais entre os molestados”-concluiu. Tomamos conhecimento de que referidos grupos, o cidadão Abel Morais, um morador certos camiões que tomam estas ruas citadas como esca- das redondezas, viu a sua viatura danificada Os faróis patória dos engarrafamentos, são assaltados porque o foram totalmente quebrados. estado das mesmas favorece os intrusos a fazerem aquilo que só eles Sofremos muitas das vezes violência verbal Ela, por exemplo, há pouco mais de uma semana, viu a por parte de alguns policias, quando participamos ocor- casa assaltada por volta da meia noite, por um grupo de rências mais de duas vezes porque pensam que estamos oito elementos, dois dos quais apresentavam-se munidos a lhes acusar, isso, nos desencoraja a denunciar os mal- de armas de fogo e os restantes com facas e ferros que feitores porque muitas das vezes os meliantes dão conta foram usados para deitar a porta abaixo e facilitar a dos nossos nomes por quebra de sigilo da própria polícia invasão à residência. sabem fazer porque estão esburacadas e nenhum carro pode andar no máximo mais de 20 kms/hora. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 143
Já no interior, os marginais fizeram reféns duas filhas lia E que, segundo disse, sempre que acções do género suas, de 13 e 14 anos, respectivamente, que os mesmos acontecem e as V10mas apresentam queixas, os margi- pretendiam violar, caso as suas exigências não fossem nais, curiosamente, não demoram na cadeia e aparecem satisfeitas. “Eles chegaram, bateram a porta, mas como mais furiosos. “Caso descubram que você apresentou não estávamos a abrir, começaram a partir a parede, nas queixa, serás sempre vítima deles. Agridem-te com facas proximidades do aro, até que a porta caiu. Entraram, e outros objectos contundentes ou mesmo matam-te. apontaram-nos as armas e exigiram dinheiro”, contou. Por isso, muitos de nós, os estrangeiros, evitamos dar participação à Polícia Salvo erro, se forem apanhados em A senhora disse que não tinha, pelo que os assaltantes flagrante delito”, notou. ameaçaram violar as filhas. Mostravam-se com ares de poucos amigos. “Tive que entregar 13 mil kwanzas, Tal como Mohamed a jovem Isabel corrobora com mesmo não sendo meus, a botija de gás e os nossos a asserção, de que o “crime está demais” por aquelas telefones”. bandas. Ela, por exemplo, recorda um episódio vívido por uma amiga sua, que, após de violada, apresentou Apresentou queixas à Polícia? Respondeu que não. queixa à Polícia, que, de imediato prendeu os autores Porquê? “No dia seguinte, o meu estado de saúde agra do crime. vou-se com o choque daquela situação e tive que ser levada de emergência ao hospital”, onde diz ter perma- Mas, para o seu espanto e dos seus familiares, duas necido durante mais de dois dias. semanas depois os seus a1gozes já estavam livres para E é assim todas as noites na área em que vive Esperança outras empreitadas criminosas. Começaram a ameaçá-la Adão: há sempre um assalto e os tiroteios são frequentes. de uma nova violação e se possível fosse, matá-la Dadas “Acho que a falta de energia eléctrica e o fraco patrulha- as constantes ameaças e, porque a Polícia nada fazia, o mento da Polícia tem facilitado a tarefa dos meliantes”, pai da mesma resolveu mudar-se daqui para Cacuaco, vaticinou. onde vivem até ao momento.
“Por exemplo, após assaltarem a minha casa, tentaram, As mudanças forçadas de residências são uma constante. no dia seguinte, entrar numa outra casa. Os bandidos Os municípios de Cacuaco e Viana são apontados como só não conseguiram, porque o dono da casa tem arma portos seguros, para esta imigração de antigos morado- e fez disparos. Se fosse em casa de alguém que não tem res do bairro da Terra Vermelha Já no bairro Kalawenda. defesa, eles entravam mesmo e faziam o que queriam”, Também na zona 18, é a partir das 18 horas que começa reconheceu. o calvário para os moradores daquela circunscrição do município mais populoso de Luanda Contam, por exemplo que todas as noites têm de lidar com uma 9.7 Desgraça com sabor oeste-africano ‘saraivada de tiros`, geralmente provocada pelos margi- Jornal a capital nais, o que; diariamente; os obriga a manterem-se no 26 de Novembro de 2011 interior das suas residências ou a refugiarem-se noutras.
Os moradores de Terra Vermelha, ao que disseram a este jornal, têm a impressão que a criminalidade no bairro 9.8 A “Faixa de gaza” de Luanda apenas cresce. Nunca diminui. Nos tempos que correm, Jornal a capital todos os dias, um cidadão ou uma residência é assaltada 26 de Novembro de 2011
Um cidadão equanto-guineense que lamentou este Afonso Manuel, residente na rua do ‘Show Man’, é a facto à nossa reportagem, afirmando não saber mais mais fresca vítima da onda da criminalidade que volta a se ri ou chora A sua cantina, por exemplo, localizada fazer morada em vários bairros de Luanda. Tem uma his- na zona 18, do quarteirão 11, não passou despercebida tória para contar e dores para alimentar. Recentemente, das acções dos meliantes. Em plena madrugada, conta, foi esfaqueado no abdómen, após ter sido surpreendido um grupo de oito delinquentes armados com armas de por elementos pertencentes a um grupo marginal deno- fogo e picaretas, arrombaram a porta da cantina neu- minado ‘Os Rebenta’. tralizaram e amarraram-no para que não gritasse. Da cantina levaram vários produtos ali comercializados Interpelaram-no quando regressava da. Os quatro incluindo o dinheiro do dia anterior. Mohamed referiu biltres, munidos de facas, cercaram-no e obrigaram a que, embora se tenha visto apontado com uma arma de tirar tudo que trazia nos bolsos julgando-se homem de fogo e amarrado, bem como ver a sua cantina esvaziada, fé e conhecido na rua, Manuel resistiu à exigência dos não apresentou queixa à Polícia por medo de represá- marginais. Se mala pensou, pior o fez. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 144
Afrontados, dois dos seus algozes partiram ao ataque. Apresentou queixas à Polícia? Respondeu que não. “Agarram-me por trás e desferiram dois golpes de faca, Porquê? “No dia seguinte, o meu estado de saúde agra um do lado direito e outro na barriga”, lembrou. A única vou-se com o choque daquela situação e tive que ser imagem que tem daquele momento é de ter visto parte levada de emergência ao hospital”, onde diz ter perma- das suas ‘vísceras’ a sair do corpo. O resto esfumou-se da necido durante mais de dois dias. memória, pois caiu inanimado. E é assim todas as noites na área em que vive Esperança Ainda com dificuldades em falar, diz que os seus car- Adão: há sempre um assalto e os tiroteios são frequentes. rascos apenas levaram a Bíblia que trazia nas mãos, “Acho que a falta de energia eléctrica e o fraco patrulha- enquanto único artigo de valor que transportava. Foi mento da Polícia tem facilitado a tarefa dos meliantes”, socorrido por familiares e vizinhos para o hospital dos vaticinou. Cajueiros, onde, segundo disse, viu negada assistência médica. “Por exemplo, após assaltarem a minha casa, tentaram, no dia seguinte, entrar numa outra casa. Os bandidos “Não sei se era por causa da gravidade do ferimento só não conseguiram, porque o dono da casa tem arma ou se não tinham mesmo medicamentos”, questionou, e fez disparos. Se fosse em casa de alguém que não tem sublinhando que foi, imediatamente, conduzido ao hos- defesa, eles entravam mesmo e faziam o que queriam”, pital Américo Boavida, onde, aliás, o encontrámos sobre reconheceu. o leito daquela unidade hospitalar de referência.
De acordo com os moradores, no mesmo dia em que Manuel foi esfaqueado, outras duas pessoas tiveram a mesma ‘sorte’, saindo apenas ilesa uma terceira, por se tratar de um agente da Polícia. Este, ao ser abordado pelos marginais, disparou, facto que precipitou a fuga dos amigos do alheio.
Assaltada por oito pessoas Residente no bairro Terra Vermelha, na chamada Zona do Buraco, Esperança Adão, foi também vítima da subida em espiral da criminalidade nos bairros periféri- cos, que regressa com contornos mais violentos, mesmo após uma limpeza de balneário’ realizada pela Polícia.
Ela, por exemplo, há pouco mais de uma semana, viu a casa assaltada por volta da meia noite, por um grupo de oito elementos, dois dos quais apresentavam-se munidos de armas de fogo e os restantes com facas e ferros que foram usados para deitar a porta abaixo e facilitar a invasão à residência.
Já no interior, os marginais fizeram reféns duas filhas suas, de 13 e 14 anos, respectivamente, que os mesmos pretendiam violar, caso as suas exigências não fossem satisfeitas. “Eles chegaram, bateram a porta, mas como não estávamos a abrir, começaram a partir a parede, nas proximidades do aro, até que a porta caiu. Entraram, apontaram-nos as armas e exigiram dinheiro”, contou.
A senhora disse que não tinha, pelo que os assaltantes ameaçaram violar as filhas. Mostravam-se com ares de poucos amigos. “Tive que entregar 13 mil kwanzas, mesmo não sendo meus, a botija de gás e os nossos telefones”. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 145
10. AMBIENTE 10.2 Fiscalização florestal reclama por técnicos Jornal de Angola 11 de Novembro de 2011 10.1 Legislação minimiza impacto sobre o meio ambiente no país A falta de fiscais florestais, a nível do Departamento Jornal de Angola Provincial do Instituto de Desenvolvimento Florestal 10 de Novembro de 2011 do Kwanza-Norte, contribui negativamente para o con- trolo da flora local, situação que facilita o abate desorde- O administrador adjunto do Sambizanga disse, na nado e queimadas anárquicas das espécies vegetais. Em segunda-feira, à Angop, que os efeitos da construção civil entrevista ao Jornal de Angola o responsável da referida no ambiente têm merecido a atenção das autoridades, Instituição, Guilherme Sebastião, aborda a situação com a aplicação de leis para minimizar o seu impacto actual do sector. negativo. Agostinho da Silva, que é engenheiro, frisou que, à Jornal de Angola – Como tem sido feito a fiscalização das semelhança de outros países, em Angola o impacto da florestas da província? construção sobre o ambiente tem sido combatido com a Guilherme Sebastião – Em termos de fiscalização, nos publicação de leis sobre o assunto. últimos quatro anos temos tido dificuldades para con- “O ambiente e o bem-estar dos cidadãos são aspec- trolar os índices de transgressões florestais, em função tos de inegável relevância a nível mundial, daí que os do défice de pessoal qualificado para o efeito, visto que efeitos negativos da actividade da construção mereçam dos treze fiscais que a brigada possui, apenas quatro estão a atenção dos Governos de muitos países que fomentam em condições de operar, situação que garante um campo a investigação e procuram desenvolver medidas para os fértil para os transgressores. Apesar desta situação, con- minimizar”, referiu. tinuamos a realizar acções de sensibilização junto das comunidades, através de palestras e debates, mas que a Em Angola, afirmou, a maior relevância dos efeitos meu ver não têm sido suficientes para consciencializar negativos regista-se mais nos centros urbanos, com a a população no sentido de reduzir as acções contra as criação de alguns estaleiros de construção. florestas. Além disso, declarou, existem restrições frequentes e significativas quanto ao espaço disponível, o que acar- JA – O que é que a população alega em relação a prática de reta dificuldades acrescidas, pelo que a instalação de desmatação e queimadas desordenadas? estaleiros nesses locais, pela sua especificidade, requer GS – As alegações mais constantes têm sido a procura atenção especial dos intervenientes no sector da cons- de solos férteis para a prática de uma agricultura itine- trução para se minimizaremos impactos. “A actividade rante rentável, visto que nas áreas tradicionais os solos dos estaleiros de construção nos centros urbanos causa apresentam-se em certa medida já cansados, daí que os agressões ao meio ambiente, interferindo com o dia-a- detritos dos tecidos vegetais queimados ou apodrecidos, dia dos cidadãos, que, com frequência, protestam contra garantem maior consistência de húmus aos solos durante a poeira, a lama, o ruído, os atrasos no tráfego, a redução um período de produção de dois anos, o que depois do do espaço e os materiais ou entulho depositados no tempo em referência obriga à procura de outras zonas espaço público”, disse. de produção. E de realçar que as queimadas podem também contribuir de forma negativa para o aumento A nova legislação, salientou, vai pôr cobro a esta prática, do dióxido -de carbono na atmosfera, situação que pode mas é preciso que haja maior divulgação entre as levar ao aumento do aquecimento global, assim como construtoras.. das doenças respiratórias agudas.
JA – Há registo de algum caso de realização de queimadas que tenha sido levado à justiça? GS – Em relação a este problema é quase impossível chamar os responsáveis à justiça por se tratar de comu- nidades com centenas de habitantes. Temos sim registos de casos singulares por prática de caça, exploração de madeira e carvão de forma ilegal. Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 146
JA – vos primeiros finalistas do Instituto Médio Agrário, específicas em termos de qualidade ronda os 500 mil saíram técnicos preparados para o sector? kwanzas por ano, isto é, num perímetro de 500 metros GS – Nós estamos conscientes das responsabilidades cúbicos. do Instituto Médio Agrário em relação a formação de quadros especializados para o nosso sector, mas o pro- JA – Que responsabilidades sociais acarretam as concessioná blema é que a admissão do pessoal é através de concurso rias junto das comunidades onde exploram a madeira? público, onde no presente ano tivemos somente a possi GS – Na maioria dos casos tem sido o arranjo das bilidade de receber um especialista, dos tantos formados picadas de acesso, contratação e formação de jovens pela instituição de ensino em causa. locais, bem como a venda do produto a nível da região de forma facilitada. Uma outra responsabilidade não A – Como caracteriza a situação de produção de plantas e menos importante é a criação de serrações como o caso exploração florestal a nível da província? das existentes a nível dos municípios do Bolongongo e GS – Podemos considerar a situação de produção e Kikulungo, cujas capacidades de produção rondam os exploração florestal como estável, tendo em conta que 80 metros cúbicos por dia. a nível da província não há excesso de exploração de madeira. Pelo contrário, precisamos que mais empre- JA – Duas serrações para uma província como o Kwanza- sários do ramo invistam na região para que possamos Norte são suficientes? angariar mais receitas para os cofres do Estado, tendo GS – Digo que não, a verdade é que no passado a pro- em conta os desafios do Executivo em relação a mate- víncia contava com várias serrações. Hoje a maior parte rialização dos vários projectos sociais e económicos com delas encontram-se obsoletas. A título de exemplo cito vista a melhoria da qualidade de vida da população duas de grande porte no município de Cazengo, uma nacional. em Cambambe e Lucala, para além de Ambaca e Golungo-Alto, das quais algumas deixaram mesmo de JA – Quais são as espécies de árvores mais exploradas? existir na totalidade. A recuperação das existentes está GS – A província do Kwanza-Norte possui espécies de condicionada pela falta de financiamentos bancários árvores que produzem madeiras cujas qualidades são das com que se deparam alguns dos proprietários, tendo em mais concorridas a nível do mercado nacional e inter- conta o elevado índice de degradação dos imóveis que nacional. Refiro-me concretamente à moreira, kibaba, actualmente exigem renovação total das suas estruturas. tacula e ndulo. Podemos encontrá-las nos municípios de Golungo-Alto, Cazengo, Ngonguembo, Bolongongo, J A – A nível das áreas de exploração está a ser aplicado o Banga e Kiculungo. princípio de repovoamento florestal? GS – O repovoamento nestas áreas está a ser feito de JA – Em média qual é a capacidade anual de exploração forma natural através dos rebentos das sementes primá- dos recursos florestais? rias. A repovoação florestal está concebida para aquelas GS – Durante o ano em curso a província contou com áreas vulneráveis à desmatação por causa de queimadas cinco concessionárias licenciadas para a exploração e agricultura itinerante, onde por causa da grande inci- da madeira em toro e três para a produção de carvão dência dos fenómenos em causa haja dificuldades de vegetal, que em média exploram três mil metro cúbicos germinação, espontânea das espécies locais. E impor- de áreas florestais, cada. Estas são exploradas de forma tante referir que este projecto é de âmbito nacional e selectiva por cada empresa, situação que pode acautelar prevê a intervenção de vários actores-chave da vida social a extinção das mesmas. e económica do país, como o caso das administrações municipais, instituições bancárias, organizações não JA – Quais os requisitos necessários para o acesso à licença governamentais, bem como outras concessionárias do de exploração de madeira em toro? ramo florestal. GS – Para tal, é necessário que primeiramente o inte- ressado constitua um processo onde estejam patentes J A – Qual é a área total disponível para a exploração dos dados como o croquis de localização da zona onde pre- recursos florestais a nível da província? tende intervir, parecer da administração local e vistoria. GS – O Ministério da Agricultura, junto dos seus par- Depois da conclusão processual a documentação é reme- ceiros sociais, está a realizar um inventário, desde o ano tida ao governo provincial, encaminhada à direcção pro- de 2009, com o objectivo de diagnosticar as áreas dis- vincial da agricultura para efeito de homologação. poníveis para a exploração da madeira em toro, mor- mente aquelas mais vulneráveis a queimadas e desmata- As licenças são cedidas em função da requisição das ção. O mesmo foi interrompido durante o ano passado espécies pretendidas, por exemplo uma licença de explo- por razões financeiras, mas tudo está a ser feito para que ração da madeira kibaba ou moreira, tidas como as mais ainda no decurso deste ano possamos retornar os traba Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 147 lhos, tanto mais que já realizamos algumas acções de 10.3 Uso de materiais naturais evita formação ao pessoal local durante o primeiro trimestre danos ao ambiente do ano em curso. Após a conclusão do projecto em causa Jornal de Angola vamos ter dados fiáveis em relação a zona total para a 12 de Novembro de 2011 exploração da madeira em toro no Kwanza-Norte. O aproveitamento de matérias-primas naturais como JA – Qual é situação actual do chamado pulmão florestal a luz solar e a topografia original, deve fazer parte das do Morro do Binda? opções do estudo para a construção de qualquer estru- GS – A pureza do oxigénio da cidade de Ndalatando tura, para se evitarem as agressões ao meio ambiente, depende em grande medida do pulmão florestal do segundo o biólogo Maquemba dos Santos. Morro do Binda, situação que nos últimos tempos tem O especialista disse à Angop que a construção sustentá- obrigado o executivo local a acautelar várias medidas vel “é um produto da moderna sociedade tecnológica e de segurança, como a patrulha do corpo da Polícia visa causar o menor impacto, tanto na construção como Nacional, administração municipal de Cazengo e auto- na manutenção dos empreendimentos, utilizando-se os ridades tradicionais junto das veredas da mesa com o recursos naturais locais do e forma integrada no meio objectivo principal de deter as acções de vandalismo ambiente”. protagonizadas por quem quer que seja. As medidas em causa estão a surtir efeito e acreditamos que pouco Segundo ele, a escolha dos materiais deve ser orientada a pouco a população vai ganhando consciência da para a preservação e recuperação do meio ambiente e importância que ela representa para a vida das comuni- apontou os resíduos sólidos das indústrias como “bas- dades do município de Cazengo, principalmente aquelas tante apropriados como substitutos da areia e da brita”. situadas ao Norte. “É preciso que cada um faça a sua parte, mesmo que pareça pouco”, disse, sublinhando que atitudes como JA – O que pode avançar sobre a produção de plantas reciclar o lixo, utilizar produtos inteligentes para reduzir ornamentais? o consumo de água além do uso de madeira certifi- GS – Durante o ano passado produzimos mais de quatro cada ou de origem legal e o paisagismo funcional, que mil plantas a nível de viveiros, das quais dois mil de ajuda na manutenção do equilíbrio da temperatura e da carácter ornamental, com maior destaque para as acácias humidade do ambiente, são algumas das soluções que rubras e a do tipo americano, com o objectivo de assegu- podemos adoptar no lugar onde vivemos. rar as actividades de arborização, quebra ventos e melhor Para o biólogo, é importante que a sociedade tenha em paisagem das cidades e vilas da província. De Janeiro a mente que a sustentabilidade na construção civil é de Junho do ano em curso produzimos mais de mil. vital importância não só para o planeta, como para a manutenção da nossa saúde, bem-estar e conforto, JA – Durante o primeiro semestre do ano em curso que receitas foram arrecadadas para os cofres do Estado? GS – Durante o ano em curso o IDF no Kwanza-Norte 10.4 Ambientalistas buscam formas para emitiu quatro licenças para a exploração de madeira em a csptção de novos fundos toro, num volume de 2.500 metros cúbicos, que resulta Jornal de economia e finanças ram na arrecadação de dois milhões, 451 mil e 680 22 de Novembro de 2011 kwanzas. Em relação ao carvão vegetal temos quatro licenças e um volume de 592 toneladas e valores estima- O saneamento ambiental, com particular realce ao dos em 38 mil e 796 kwanzas, para além da aplicação acesso populacional à agua potável, recolha e tratamento de uma multa que possibilitou a arrecadação de 36 mil e aos resíduos sólidos e líquidos é um factor crucial para a 105 kwanzas. A venda de plantas ornamentais possibili- melhoria da qualidade de vida das populações. tou a entrada de 266 mil e 968 kwanzas, perfazendo um Não exactamente nova, esta é uma das conclusões a que total de dois milhões, 793 mil 549 Kwanzas. chegaram os participantes da I conferência Nacional sobre o saneamento ambiental, realizada em Luanda, nos dias 17 e 18 de Novembro, numa organização do Executivo, através do Ministério do Ambiente.
A conclusão, se não tiver nada de inovador, merece, no entanto, uma profunda reflexão, se tivermos em conta que, apesar dos esforços do Executivo no sentido de se melhorarem as implicações ambientais, apenas 25 por cento da população angolana de baixos rendimentos Development Workshop — CEDOC 11/2011 — 148 têm acesso ao saneamento básico, contra 75 por cento Num outro sentido, a ministra chamou atenção para a da população com maiores posses, concentrada maiori- proliferação de habitações irregulares na zona costeira e tariamente nos meios urbanos. nas proximidades de leitos de Êxodo populacional
Dados divulga aos no evento indicam que, em Angola, Os actuais problemas de saneamento ambiental que se 75,5 por cento de famílias nas áreas urbanas contam registam, em Angola, devem-se em muito ao elevado com urna instalação sanitária em casa, comparativa- fluxo demográfico das zonas rurais para as urbanas. Esta mente aos agregados familiares na periferia das cidades, situação, segundo o arquitecto e consultor do Ministério onde 49 por cento estão ligados ao sistema de esgotos, do Urbanismo e Construção, António Cameiro, só será contra apenas oito, nas zonas rurais. ultrapassada com a institucionalização de um programa nacional de saneamento urbano, que coordene as acções “A falta de saneamento é frequente e é um sinal de de saneamento e assista os municípios nesta empreitada. pobreza, podendo provocar doenças às pessoas, redu- zindo a sua produtividade e capacidade de trabalho”, “Deve-se criar um sistema e c instrumentos de infor- constataram os participantes da conferência. mação de v apoio ao planeamento e uso do A solo E assim que, perante um quadro nada animador, o urbano, elaborar planos p municipais de intervenções evento recomendou ao Executivo o estabelecimento de d imediatas com custos mínimos, d bem como intro- um mecanismo de financiamento, através da a locação duzir abordagens distintas, mas inter-relacionadas, para directa de fundos aos municípios, bem como a aplica- as zonas urbana, peri-urbanas e semi-rural, num pro- ção de uma taxa de saneamento, como forma de mobili cesso municipal de planeamento integrado, dinâmico e zação de fundos locais. progressivo, que visa impulsionar a subida da escada do A reunião defendeu também a criação de um programa saneamento, a nível individual e colectivo”, defendeu. profissionalizado de advocacia que acompanhe esta matéria, bem como o surgimento de um órgão de sane Segundo o arquitecto, o êxodo da população do campo amento ambiental junto do Ministério do Ambiente, para as Cidades tem corno consequência principal o que, a nível nacional, coordenará todas as acções relacio- crescimento descontrolado da construção, baixa quali- nados com este segmento e prestará assistência e capaci- dade do ambiente urbano, elevados índices de carência tação aos municípios. de infra-estruturas, equipamentos, serviços e perda total da estrutura urbana. Sendo que, na sua opinião, O imperativo da participação das empresas produtoras os actuais investimentos no saneamento estão muito de resíduos nos programas de recolha, processamento e aquém das necessidades para se atingirem os Objectivos acondicionamento de lixos é outra das recomendações de Desenvolvimento do Milénio (ODM), António saídas da reunião. Gameiro defende, a participação nos prog14mas ao sector privado nacional e das comunidades. 10.5 Plano de saneamento contrubui para o desenvolvimento Jornal de economia e finanças 22 de Novembro de 2011
A ministra do Ambiente, Fátima Jardim, defendeu a urgência de adopção de um plano nacional de sane- amento ambiental, que preveja as acções a serem tomadas com vista à melhoria das condições de vida das populações e ao desenvolvimento sustentável do país.
“Há necessidade de definirmos modelos, clarificar os arranjos institucionais e criar um sistema nacional 9,ue integre e consolide as estratégias, os planos e os progra- mas de saneamento”, salientou a ministra. Fátima Jardim destacou que os modelos de gestão de infra-estruturas envolvem acções que visam a expansão do fornecimento de água e esgotos, bem como planos de gestão e regulamentos de combate à pobreza e de desenvolvimento comunitário.