Fenologia De Floração E Sistema Reprodutivo De Três Espécies De Ruellia (Acanthaceae) Em Fragmento Florestal De Viçosa, Sudeste Brasileiro1 NATÁLIA A
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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/250984920 Fenologia de floração e sistema reprodutivo de três espécies de Ruellia (Acanthaceae) em fragmento florestal de Viçosa, Sudeste brasileiro Article in Brazilian Journal of Botany · December 2006 DOI: 10.1590/S0100-84042006000400017 CITATIONS READS 10 160 2 authors, including: Milene Faria Vieira Universidade Federal de Viçosa (UFV) 73 PUBLICATIONS 639 CITATIONS SEE PROFILE Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Fenologia de Piper gaudichaudianum Kunth e P. vicosanum Yunck. (Piperaceae) em fragmento de Floresta Atlântica, com enfoque na biologia floral de P. vicosanum View project All content following this page was uploaded by Milene Faria Vieira on 27 June 2016. The user has requested enhancement of the downloaded file. Revista Brasil. Bot., V.29, n.4, p.681-687, out.-dez. 2006 Fenologia de floração e sistema reprodutivo de três espécies de Ruellia (Acanthaceae) em fragmento florestal de Viçosa, Sudeste brasileiro1 NATÁLIA A. SOUZA LIMA2 e MILENE FARIA VIEIRA3,4 (recebido: 17 de novembro de 2005; aceito: 16 de novembro de 2006) ABSTRACT – (Flowering phenology and breeding system of three species of Ruellia (Acanthaceae) in a forest fragment in Viçosa, southeastern Brazil). This work is a continuation of studies on the reproductive biology of angiosperm species in the municipality of Viçosa, “Zona da Mata”, Minas Gerais State, Brazil. The aim of this work was to analyze the flowering phenology and the breeding system of three co-occurring species of Ruellia: R. brevifolia (Pohl) C. Ezcurra and R. menthoides (Nees) Hiern, both cleistogamous, and R. subsessilis (Nees) Lindau. Seed germination was tested and the occurrence of vegetative propagation verified. Ruellia subsessilis flowered throughout the year, with a peak in October. Ruellia brevifolia produced flowers mainly from February to July, with a flowering peak in March. Ruellia menthoides produced flowers from August to December with a flowering peak in September. All species are self-compatible; Ruellia brevifolia and R. menthoides are facultative autogamous species and R. subsessilis is a facultative xenogamous species. High percentages of normal seedlings (from 67% up to 83%) were obtained from seeds produced through selfing. Besides sexual reproduction, the species showed vegetative propagation, i.e., branch fragments segregated from the motherplant, which develop adventitious roots. The species, therefore, showed sexual and asexual reproductive strategies. The former are distinct flowering peak, autogamous or allogamous flowers as well as ornitophilous or mellittophilous ones, and cleistogamous flowers. However, the result of sexual strategies was common to all of them, i.e., production of fruits with viable seeds during the entire year. The balance among the various reproductive mechanisms seems to confer to these species a high degree of adaptation in altered environments as shown in areas of their occurrence at the forest fragment studied. Key words - flowering phenology, Ruellia brevifolia, Ruellia menthoides, Ruellia subsessilis, self-compatibility RESUMO – (Fenologia de floração e sistema reprodutivo de três espécies de Ruellia (Acanthaceae) em fragmento florestal de Viçosa, Sudeste brasileiro). Este trabalho é uma continuação de estudos sobre a biologia reprodutiva de espécies de angiospermas do Município de Viçosa, Zona da Mata de Minas Gerais, Brasil. Objetivou-se analisar a fenologia de floração e o sistema reprodutivo das três espécies co-ocorrentes de Ruellia observadas nesse município: R. brevifolia (Pohl) C. Ezcurra e R. menthoides (Nees) Hiern, ambas cleistógamas, e R. subsessilis (Nees) Lindau. Testou-se a germinação de suas sementes e verificou-se a ocorrência de propagação vegetativa. A floração de Ruellia subsessilis ocorreu durante todo o ano, sendo o pico de floração em outubro. Ruellia brevifolia produziu flores, principalmente, de fevereiro a julho, com o pico em março. Ruellia menthoides produziu flores de agosto a dezembro, com o pico em setembro. As espécies são autocompatíveis; Ruellia brevifolia e R. menthoides autógamas facultativas e R. subsessilis xenógama facultativa. Obtiveram-se altas porcentagens de plântulas normais (de 67% a 83%), de sementes originadas de autopolinizações. Além da reprodução sexuada, as espécies apresentaram propagação vegetativa, ou seja, pedaços de ramos separam-se das plantas-mãe e desenvolvem raízes adventícias. As espécies estudadas, portanto, apresentaram estratégias reprodutivas sexuadas e assexuadas. As sexuadas consistem de períodos distintos de picos de floração, flores casmógamas autógamas ou alógamas, ornitófilas ou melitófilas e flores cleistógamas. Entretanto, o resultado das estratégias sexuadas foi comum a todas elas, ou seja, produção de frutos com sementes viáveis durante todo o ano. O balanço entre os mecanismos variados de reprodução parece conferir a essas espécies elevado grau de adaptação a ambientes alterados, como é o caso das áreas de sua ocorrência, no fragmento florestal do presente estudo. Palavras-chave - autocompatibilidade, fenologia de floração, Ruellia brevifolia, Ruellia menthoides, Ruellia subsessilis Introdução espécies, amplamente distribuídas nas regiões tropicais e subtropicais, especialmente do Novo Mundo, seu O gênero Ruellia, um dos maiores da família principal centro de diversidade (Ezcurra 1993). No Acanthaceae, compreende aproximadamente 250 Município de Viçosa, Zona da Mata do Estado de Minas Gerais, local do presente estudo, foram reconhecidas 1. Parte da dissertação de mestrado da primeira autora, Programa três espécies de Ruellia: R. brevifolia (Pohl) C. de Pós-Graduação em Botânica, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, Brasil. Ezcurra, R. menthoides (Nees) Hiern e R. subsessilis 2. Escritório Regional do Ibama de Parintins, Rua Paes de Andrade (Nees) Lindau (Braz et al. 2002). A primeira é 747, Centro, 69151-200 Parintins, AM, Brasil. amplamente distribuída na América do Sul (Ezcurra 3. Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Biologia Vegetal, 36570-000 Viçosa, MG, Brasil. 1993) e as outras duas têm distribuição restrita ao 4. Autor para correspondência: [email protected] território nacional (Nees 1847, Braz et al. 2002). Ruellia 682 N.A.S. Lima & M.F. Vieira: Fenologia de floração e sistema reprodutivo de espécies de Ruellia subsessilis foi originalmente citada para o Estado de pelo seu caráter de pesquisa básica, subsidia futuras Minas Gerais (Nees 1847). estratégias para a conservação da vegetação local, que A vegetação original de Viçosa era constituída por é fragmentária. florestas contínuas, inseridas nos domínios da Floresta Atlântica (Rizzini 1992). Atualmente, é composta de Material e métodos pastagens e poucos fragmentos florestais, em diversos estádios sucessionais e, por isso, tem sido considerada Local de estudo – O presente trabalho foi realizado na Estação prioritária para investigação científica. Apesar do de Pesquisa, Treinamento e Educação Ambiental Mata do elevado grau de devastação da flora local, estudos Paraíso (EPTEAMP), maior fragmento do Município de Viçosa realizados sobre a biologia reprodutiva de espécies (20º48’07” S e 42º51’31” W), com aproximadamente 195 ha. remanescentes têm contribuído para o conhecimento Sua vegetação pertence aos domínios da Floresta Atlântica, da flora brasileira, com informações relevantes sobre sendo classificada por Veloso et al. (1991) como Floresta morfologia floral (Vieira & Shepherd 2002), Estacional Semidecidual Submontana. No século XIX, a área dessa reserva foi desmatada e utilizada para cultivos e polinizadores (Vieira & Carvalho-Okano 1996, Vieira pastagens (Leal Filho 1992). Atualmente, a mata existente é & Lima 1997) e sistemas reprodutivos (Vieira & Lima de regeneração secundária (Castro 1980). 1997, Vieira & Grabalos 2003). O clima de Viçosa caracteriza-se por apresentar verões As três espécies de Ruellia, em Viçosa, habitam o quentes e úmidos e invernos frios e secos (Leal Filho 1992). sub-bosque e R. brevifolia e R. menthoides são A média pluviométrica, nos anos de 1991 a 1999, foi de cleistógamas, mecanismo reprodutivo verificado em, pelo 1248,7 mm ano-1, a temperatura média de 20 ºC e a umidade menos, 15 espécies desse gênero (Lima et al. 2005). relativa do ar de aproximadamente 81% (Soares Júnior 2000). Além das espécies de Ruellia, a maioria das espécies Para estudos complementares, indivíduos das três herbáceas e lenhosas de sub-bosque tem apresentado espécies, oriundos da EPTEAMP, foram cultivados no Horto autocompatibilidade (MacDade 1985, Kress & Beach Botânico da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Espécies estudadas – Ruellia brevifolia (Pohl) C. Ezcurra é 1994). ornitófila (Piovano et al. 1995, Braz et al. 2000, Sigrist & Sazima Diversas Acanthaceae são ornitófilas, incluindo 2002, Abreu & Vieira 2004), herbácea, com cerca de 1,0 m de espécies de Ruellia (Machado & Sazima 1995, Piovano altura, e suas inflorescências são axilares e sustentam flores et al. 1995, Braz et al. 2000, Sigrist & Sazima 2002, vermelhas casmógamas (CA) e flores brancas cleistógamas Abreu & Vieira 2004). Em Viçosa, essa família (CL) (Piovano et al. 1995, Sigrist & Sazima 2002, Lima et al. contribui, dentre as espécies ornitófilas conhecidas, com 2005). Na EPTEAMP, foi encontrada principalmente em locais o maior número de espécies (5) visitadas por beija-flores, abertos a parcialmente sombreados e os indivíduos, sendo R. brevifolia