Arllete Montenegro

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Arllete Montenegro Arllete Montenegro Fé, Amor e Emoção Arllete Montenegro miolo.indd 1 16/10/2008 17:35:37 Arllete Montenegro miolo.indd 2 16/10/2008 17:35:39 Arllete Montenegro Fé, Amor e Emoção Alfredo Sternheim São Paulo, 2008 Arllete Montenegro miolo.indd 3 16/10/2008 17:35:40 Governador José Serra Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Diretor-presidente Hubert Alquéres Coleção Aplauso Coordenador Geral Rubens Ewald Filho Arllete Montenegro miolo.indd 4 16/10/2008 17:35:40 Apresentação Segundo o catalão Gaudí, não se deve erguer monumentos aos artistas porque eles já o fize- ram com suas obras. De fato, muitos artistas são imortalizados e reverenciados diariamente por meio de suas obras eternas. Mas como reconhecer o trabalho de artistas ge niais de outrora, que para exercer seu ofício muniram- se simplesmente de suas próprias emoções, de seu próprio corpo? Como manter vivo o nome daque- les que se dedicaram à mais volátil das artes, es- crevendo, dirigindo e interpretando obras-primas, que têm a efêmera duração de um ato? Mesmo artistas da TV pós-videoteipe seguem esquecidos, quando os registros de seu trabalho ou se perderam ou são muitas vezes inacessíveis ao grande público. A Coleção Aplauso, de iniciativa da Imprensa Oficial, pretende resgatar um pouco da memória de figuras do Teatro, TV e Cinema que tiveram participação na história recente do País, tanto dentro quanto fora de cena. Ao contar suas histórias pessoais, esses artistas dão-nos a conhecer o meio em que vivia toda Arllete Montenegro miolo.indd 5 16/10/2008 17:35:41 uma classe que representa a consciência crítica da sociedade. Suas histórias tratam do contexto social no qual estavam inseridos e seu inevitá- vel reflexo na arte. Falam do seu engajamento político em épocas adversas à livre expressão e as conseqüências disso em suas próprias vidas e no destino da nação. Paralelamente, as histórias de seus familiares se entre la çam, quase que invariavelmente, à saga dos milhares de imigrantes do começo do século pas sado no Brasil, vindos das mais varia- das origens. En fim, o mosaico formado pelos depoimentos com põe um quadro que reflete a identidade e a imagem nacional, bem como o processo político e cultural pelo qual passou o país nas últimas décadas. Ao perpetuar a voz daqueles que já foram a pró- pria voz da sociedade, a Coleção Aplauso cumpre um dever de gratidão a esses grandes símbolos da cultura nacional. Publicar suas histórias e per- sonagens, trazendo-os de volta à cena, também cumpre função social, pois garante a preservação de parte de uma memória artística genuinamente brasileira, e constitui mais que justa homenagem àqueles que merecem ser aplaudidos de pé. José Serra Governador do Estado de São Paulo Arllete Montenegro miolo.indd 6 16/10/2008 17:35:42 Coleção Aplauso O que lembro, tenho. Guimarães Rosa A Coleção Aplauso, concebida pela Imprensa Oficial, visa a resgatar a memória da cultura nacio nal, biografando atores, atrizes e diretores que compõem a cena brasileira nas áreas de cine ma, teatro e televisão. Foram selecionados escri tores com largo currículo em jornalismo cul- tural para esse trabalho em que a história cênica e audiovisual brasileira vem sendo re constituída de ma nei ra singular. Em entrevistas e encontros sucessivos estreita-se o contato entre biógrafos e bio gra fados. Arquivos de documentos e imagens são pesquisados, e o universo que se reconstitui a partir do cotidiano e do fazer dessas persona- lidades permite reconstruir sua trajetória. A decisão sobre o depoimento de cada um na pri- meira pessoa mantém o aspecto de tradição oral dos relatos, tornando o texto coloquial, como se o biografado falasse diretamente ao leitor . Um aspecto importante da Coleção é que os resul- tados obtidos ultrapassam simples registros bio- grá ficos, revelando ao leitor facetas que também caracterizam o artista e seu ofício. Biógrafo e bio- gra fado se colocaram em reflexões que se esten de- ram sobre a formação intelectual e ideoló gica do artista, contex tuali zada na história brasileira , no tempo e espaço da narrativa de cada biogra fado. Arllete Montenegro miolo.indd 7 16/10/2008 17:35:42 São inúmeros os artistas a apontar o importante papel que tiveram os livros e a leitura em sua vida, deixando transparecer a firmeza do pensamento crítico ou denunciando preconceitos seculares que atrasaram e continuam atrasando nosso país. Mui- tos mostraram a importância para a sua formação terem atuado tanto no teatro quanto no cinema e na televisão, adquirindo, linguagens diferencia- das – analisando-as com suas particularidades. Muitos títulos extrapolam os simples relatos bio - gráficos, explorando – quando o artista permite – seu universo íntimo e psicológico , reve lando sua autodeterminação e quase nunca a casua lidade por ter se tornado artista – como se carregasse desde sempre, seus princípios, sua vocação, a complexidade dos personagens que abrigou ao longo de sua carreira. São livros que, além de atrair o grande público, inte ressarão igualmente a nossos estudantes, pois na Coleção Aplauso foi discutido o processo de criação que concerne ao teatro, ao cinema e à televisão. Desenvolveram-se te mas como a cons- trução dos personagens inter pretados, a análise, a história, a importância e a atualidade de alguns dos perso nagens vividos pelos biografados. Foram examinados o relacionamento dos artistas com seus pares e diretores, os processos e as possibili- dades de correção de erros no exercício do teatro e do cinema, a diferença entre esses veículos e a expressão de suas linguagens. Arllete Montenegro miolo.indd 8 16/10/2008 17:35:42 Gostaria de ressaltar o projeto gráfico da Coleção e a opção por seu formato de bolso, a facilidade para ler esses livros em qualquer parte, a clareza de suas fontes, a iconografia farta e o registro cronológico de cada biografado. Se algum fator específico conduziu ao sucesso da Coleção Aplauso – e merece ser destacado –, é o interesse do leitor brasileiro em conhecer o percurso cultural de seu país. À Imprensa Oficial e sua equipe coube reunir um bom time de jornalistas, organizar com efi- cácia a pesquisa documental e iconográfica e contar com a disposição e o empenho dos artis- tas, diretores, dramaturgos e roteiris tas. Com a Coleção em curso, configurada e com identida- de consolidada, constatamos que os sorti légios que envolvem palco, cenas, coxias, sets de filma- gem, textos, imagens e pala vras conjugados, e todos esses seres especiais – que nesse universo transi tam, transmutam e vivem – também nos tomaram e sensibilizaram. É esse material cultural e de reflexão que pode ser agora compartilhado com os leitores de to- do o Brasil. Hubert Alquéres Diretor-presidente da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Arllete Montenegro miolo.indd 9 16/10/2008 17:35:43 Arllete Montenegro miolo.indd 10 16/10/2008 17:35:43 Para Arllete Montenegro, pela sua arte e afeto, e Antônio Carlos Contrera, minha razão principal Alfredo Sternheim Arllete Montenegro miolo.indd 11 16/10/2008 17:35:43 Arllete Montenegro miolo.indd 12 16/10/2008 17:35:43 Introdução Houve um tempo em que a maior diversão do povo, a fonte das emoções de inúmeras pessoas era o rádio. Claro, existia o cinema que exigia todo um ritual para ser freqüentado, um movi- mento de idas e vindas que tinha o seu glamour e que, por cerca de duas horas, com os seus recur- sos visuais preenchia o imaginário das pessoas. Mas com um simples toque de mão e apenas por meio do som, o rádio fazia isso, transmitia a vida como ela é ou poderia ser. Em diversos horários e com conforto, no aconchego do lar, sentado em sua poltrona ou cozinhando ou durante uma das refeições, e depois nos veí culos, os homens e, de 13 preferência, as mulheres podiam ouvir histórias em capítulos, abordando amores impossíveis, conflitos familiares ou tramas rocambolescas de diversos gêneros. Era a radionovela, cuja popularidade foi intensa nas décadas de 40 e 50. Chamada de soap opera (ópera de sabão) nos Estados Unidos, já foi presença marcante em alguns filmes. Como A Era do Rádio, a bela e sensível evocação dirigida em 1987 por Woody Allen. Ou A Hora Mágica, realizado em São Pau- lo, por Guilherme de Almeida Prado, em 1998. E existe o livro A Ópera de Sabão, de Marcos Rey, que ressalta o imenso alcance desse meio no Brasil. A radionovela tinha uma comunicação Arllete Montenegro miolo.indd 13 16/10/2008 17:35:43 notável perante à nossa população de diversas classes sociais. Esse alcance ainda está à espera de uma análise mais profunda por parte de nossos intelectuais. Nesse mundo, surgiu o talento de Arllete Monte- negro. Foi por meio de um concurso da extinta, e outrora popular, Rádio São Paulo que ela desco- briu o potencial de sua voz. Quando a cidade de São Paulo festejava, em 1954, os seus 400 anos, essa garota de origem humilde e que, como muitas, sonhava em ser estrela de Hollywood, tornava-se de fato uma estrela e logo ganhou o título de Heroína do 4o Centenário. No início, ela fazia sucesso apenas diante do microfone, sem 14 se mostrar ao público. Não demorou muito para ficar claro que a sua arte não dependia apenas da emissão de sua voz. Foi quando passou a atuar na televisão, que tinha começado a funcionar no Brasil exatamente naquela década, de 1950. E que, paradoxalmente, pouco a pouco tornou-se o meio de comunicação que substituiu a radio- novela nos lares brasileiros. O curioso é que Arllete vinha de um passado simi- lar aos dos folhetins que interpretava nos dois veículos.
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