Fiéis Descendentes: Redes-Irmandades Na Pós-Abolição Entre As Comunidades Negras Rurais Sul-Mato-Grossenses
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL FIÉIS DESCENDENTES: REDES-IRMANDADES NA PÓS-ABOLIÇÃO ENTRE AS COMUNIDADES NEGRAS RURAIS SUL-MATO-GROSSENSES Carlos Alexandre Barboza Plínio dos Santos Setembro de 2010 1 UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL FIÉIS DESCENDENTES: REDES-IRMANDADES NA PÓS-ABOLIÇÃO ENTRE AS COMUNIDADES NEGRAS RURAIS SUL-MATO-GROSSENSES1 Carlos Alexandre Barboza Plínio dos Santos Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Antropologia Social da Universidade de Brasília como requisito parcial para obtenção do título de Doutor. Orientadora: Professora Doutora Ellen Fensterseifer Woortmann Setembro de 2010 1 Foto da capa: Igrejinha de São Benedito. À esquerda busto de tia Eva e, à direita, Seu Otávio Gomes de Araújo (bisneto de Tia Eva) - fev/2007. 2 Banca Examinadora: - Profa. Dra. Ellen F. Woortmann (Presidente) - Departamento de Antropologia/UnB - Prof. Dr. Klaas Woortmann - Departamento de Antropologia/UnB - Prof. Dr. Roque de Barros Laraia - Departamento de Antropologia/UnB - Profa. Dra. Eliane Cantarino O’Dwyer - Departamento de Antropologia/UFF - Prof. Dr. Jaime de Almeida - Departamento de História/UnB - Profa. Dra. Eurípedes da Cunha Dias (Suplente) - Departamento de Antropologia/UnB 3 A Juliana e Alexandre, com carinho. Ao Movimento Quilombola e ao Movimento Negro do Estado de Mato Grosso do Sul. 4 “Não dispomos de nenhum documento de confronto dos fatos relatados que pudessem servir de modelo, a partir do qual se analisassem distorções e lacunas. Os livros de história que registram esses fatos são também um ponto de vista, uma versão do acontecido, não raro desmentidos por outros livros com outros pontos de vista. A veracidade do narrador não nos preocupou: com certeza seus erros e lapsos são menos graves em suas conseqüências que as omissões da história oficial. Nosso interesse está no que foi lembrado, no que foi escolhido para perpetuar- se na história de sua vida.” (BOSI, 2004: 37) 5 Agradecimentos Esta tese não existiria sem a dedicação de minha orientadora, professora Ellen Fensterseifer Woortmann que, mesmo com todas as suas diversas atribuições, sempre me orientou, por meio de inúmeras reuniões ou mesmo por meio de mensagens eletrônicas. Suas preciosas sugestões, sempre reveladoras, me transmitiram confiança em todas as etapas de escrita desta tese. Por isso, agradeço imensamente seu acompanhamento e sua paciência, fundamentais nesse percurso acadêmico. Muitas outras pessoas também contribuíram, de forma direta ou indireta, para a realização deste trabalho. Agradeço nominalmente aqui apenas a alguns poucos, ante a dificuldade, ou mesmo a impossibilidade, de mencionar todos. Agradeço, de uma maneira geral, aos professores do Departamento de Antropologia da UnB e aos funcionários, pelo apoio sempre preciso, e mais especificamente, a Rosa Venina Macedo Cordeiro, Adriana Rodrigues Sacramento, Cristiane Costa Romão, Paulo Gomes de Souza, Fernando Antônio Souto e Antonia Herculano da Silva. À minha companheira Juliana Sarkis Costa, que esteve presente, com amor, carinho e paciência, em todos os momentos desta tese. Ao nosso filho Alexandre Sarkis B. Plínio dos Santos, que sempre me recebeu com alegria e sorrisos, mesmo me encontrando temporariamente distante, devido à pesquisa de campo e à escrita desta tese. Aos meus pais, Manoel Plínio dos Santos e Julieta Barboza dos Santos, e às minhas irmãs – Sandra Helena Barboza Plínio dos Santos, Sônia Regina Barboza Plínio dos Santos, Simone Michele Barboza Plínio dos Santos – e irmãos – Fabrício Fábio Barboza Plínio dos Santos e Carlos Magno Barboza Plínio dos Santos –, que na vida têm sido os impulsionadores do meu caminhar. À minha sogra Sálua Sarkis, por toda a ajuda que prestou no período de produção desta tese, e aos meus amigos Rodrigo Sarkis e Cássio Costa, por toda a força que também me deram nesses quatro anos de doutorado. Aos meus companheiros de jornada, pela alegria de tê-los encontrado e por terem me apoiado nesse processo: Milton Nascimento (que me revelou o universo quilombola), Leslye Bombonatto Ursini, Danieli Jatobá França, Klinton Senra, Luciana Senra, Héber Rogério Grácio, Ricardo Calaça Manoel, Ricardo Batista Antunes de 6 Carvalho, Cloude de Souza Correia, José Antônio Vieira Pimenta, Paulo Marcelo Marques Fonseca, Ney Maciel Brito, Ronaldo Lobão, Sílvia Monroy Alvarez, Luana Lazzeri Arantes, Adailton da Silva, Odilon Rodrigues de Morais, Thais Teixeira de Siqueira, Waldemir Rosa, Iara Monteiro Attuch, João Miguel Sautchuk, Carlos Emanuel Sautchuk, Leonardo Santana, Sônia Cristina Hamid, André Gondim do Rego, Ricardo Neves Romcy, Martina Ahlert, Patrícia Carvalho Rosa, Lilian Leite Chaves, Gonzalo Díaz Crovetto, Julia Dias Escobar Brussi, Josué Tomasini Castro, Aina Guimarães Azevedo, Elena Nava Morales, Maria Soledad Maroca de Castro, Luís Guilherme Resende de Assis, Waldemir Rosa, Marcus Vinícius Carvalho Garcia, Karenina Vieira de Andrade, Alessandro Roberto de Oliveira e a todos da Katacumba (Centro de Pós-Graduação em Antropologia), onde muito aprendi. Em especial gostaria de agradecer aos meus amigos Luiz Abraham Cayón Duran e Márcia Leila de Castro Pereira, pelo privilégio em tê-los nessa jornada de seis anos (mestrado e doutorado). À comunidade negra rural Tapuio, sempre presente em minha vida, principalmente Oswaldina Rosalina dos Santos, Maria Rosalina dos Santos, Edson Torres e Ozenalia Tereza da Silva. Quero expressar também meus agradecimentos ao meu amigo e companheiro de jornada no Piauí e no Mato Grosso do Sul Dr. José Roberto Camargo de Souza (Zezão). E aos amigos de Mato Grosso do Sul, Antônio Borges dos Santos (Borginho), Marlene Theodora Siqueira, Dona Neuza Rosa dos Santos, Sandra Martins dos Santos, Vânia Lúcia Baptista Duarte, Ramão Castro de Oliveira, Clodoaldo Braga, Seu Antônio Braga, Sílvia Regina Zacharias, Edson Silva, Caroline Ayala e Cíndia Brustolin. Agradeço também ao apoio prestado pelo Instituto de Pesquisa e Documentação Etnográfica – Olhar Etnográfico, pelo Movimento Negro, pelo Movimento Quilombola e pelas comunidades negras rurais e rurbanas do estado de Mato Grosso do Sul. Ao Programa de Financiamento do Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Tecnológica – CNPq, pela bolsa de estudos atribuída entre abril de 2006 e março de 2010. 7 Resumo: Nessa tese abordo parte da história das comunidades negras rurais e rurbanas quilombolas do Mato Grosso do Sul, sob a perspectiva do campesinato e da memória dos idosos dessas comunidades. Demonstro as interações que ocorreram entre ex-escravos da região sul de Mato Grosso (atual Mato Grosso do Sul) com ex-escravos migrantes das fazendas escravocratas do Triângulo Mineiro e do sul do estado de Goiás. Essas interações provocaram o nascimento do que denomino de Irmandade, que uniu seus membros com o objetivo comum de realizar o “projeto camponês” e que pode ser resumido na tríade terra, família e trabalho. Essas categorias nucleantes, centrais para o campesinato, estão diretamente conectadas à reprodução social do campesinato. Procuro evidenciar também que os membros das Irmandades formaram intrínsecas interações (políticas, socioeconômicas e culturais), as quais denominei de rede-irmandade. O foco dessa rede era o de ajuda e apoio mútuo, além da preservação e acesso à terra, ou seja, o projeto de reprodução social camponês. A constituição das redes-irmandades possibilitou que uma família pudesse, por meio de seus descendentes, fundar e/ou ajudar a fundar outras comunidades negras rurais. Trabalho com a ideia de que essas redes estão centradas no movimento e na conexão, interligando territorialidades espacialmente descontínuas, porém intensamente conectadas e articuladas entre si. As migrações de ex-escravos, a formação de suas redes-irmandades e a luta atual das comunidades negras rurais e rurbanas quilombolas estão inteiramente atreladas ao “projeto camponês”. A terra, enquanto categoria nucleante, continua a organizar as comunidades negras rurais, porém ela resignificou a luta, que era baseada somente no parentesco e no compadrio, e atualmente está baseada também no campo político, representada pelo Movimento Quilombola e pelo Movimento Negro. Atualmente, como foi no passado, as comunidades negras rurais quilombolas, ao reivindicarem a regularização fundiária de suas terras, têm, como foco principal, a concretização do “projeto camponês”. 8 Abstract: In this thesis I discuss part of the history of rural black communities and maroon rurban of Mato Grosso do Sul, from the perspective of the peasantry and the memory of the elderly in these communities. Here I demonstrate the interactions that occurred among former slaves in the southern region of Mato Grosso (currently named Mato Grosso do Sul) with migrant ex-slaves of the slave plantations of Minas Triangle and the southern state of Goias. These interactions led to the birth of what I call “Brotherhood”, which united its members with the common goal of achieving the “peasant project”; such a project can be summarized in the triad, land, family and work. These nucleant categories, central to the peasantry, are directly connected to the social reproduction of the peasantry. I also look for evidence that members of the Brotherhood formed intrinsic interactions (political, socioeconomic and cultural), which I termed “network-fellowship”. The focus of this network was help and mutual support, preservation and