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ASPECTOS FENOLÓGICOS DE (MART.) BURRET EM FLORESTA HIGRÓFILA EM SISTEMA DE VEREDAS, NORTE DE MINAS GERAIS

Autores: JOICY RUAS ANTUNES, MARLY ANTONIELLE DE ÁVILA, JOICY RUAS ANTUNES, ADRIANA OLIVEIRA MACHADO, ISLAINE FRANCIELY PINHEIRO DE AZEVEDO, RUBENS MANOEL DOS SANTOS, YULE ROBERTA FERREIRA NUNES

Introdução

A fenologia estuda os eventos do ciclo de vida das plantas e os relaciona com variáveis ambientais, buscando compreender as mudanças temporais ocorridas (Schwartz, 2013). A variação fenológica é de grande importância por ser um indicador das respostas dos organismos vegetais às condições climáticas e edáficas de uma determinada região (Fournier 1974). A fenologia dispõe de informações temporais, coletadas ao longo de um determinado período de tempo (Mariano et al., 2016), sendo que, análises fenológicas são importantes ferramentas para prever a resposta da comunidade vegetal em relação às alterações climáticas e as consequências para os processos do ecossistema (Singh e Kushwaha, 2005), bem como definir estratégias sustentáveis de uso de uma determinada espécie (Tonini, 2011). Desta forma, este trabalho tem como objetivo relacionar as fenofases da palmeira Mauritiella armata (Mart.) Burret com as variáveis ambientais em floresta higrófila, no norte de Minas Gerais.

Material e métodos

A espécie Mauritiella armata é conhecida popularmente por caraná, caranã, buritirana e buriti-mirim, entre outros (Martins, 2012). Na região do rio Pandeiros é popularmente chamada de xiriri ou buriti-bravo. Esta espécie, que ocorre nos estados do Acre, Amazonas, Bahia, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Pernambuco, Piauí e Roraima (Lorenzi et al., 2010), pode ser encontrada em formações brasileiras de Mata Atlântica, cerrado e caatinga. Possui associação com solos úmidos e saturados em água, podendo formar povoamentos densos e extensos, em forma de touceiras nas áreas onde ocorre. Além disso, a espécie, geralmente, apresenta caules múltiplos cobertos por espinhos, inflorescências interfoliares e frutos globosos cobertos por escamas (Lorenzi et al., 2010).

Este estudo foi desenvolvido na Área de Proteção Ambiental do Rio Pandeiros (APA do Rio Pandeiros), norte de Minas Gerais, em uma área de vegetação higrófila associada à vereda. Foram acompanhados, mensalmente (de outubro de 2016 a agosto de 2017), as fases vegetativas (folha flecha, recém-formadas; folhas verdes, jovens; e folhas velhas) e reprodutivas (botão floral; antese ou flores abertas; frutos imaturos; e frutos maduros) de 25 indivíduos da espécie estudada (15 femininos e 10 masculinos). As variáveis climáticas (média de temperatura e precipitação total) foram coletadas de uma estação meteorológica localizada na área. Os eventos fenológicos foram avaliados a partir da atividade, considerada como presença ou ausência da fenofase nos indivíduos em um dado intervalo de tempo (%). Para verificar os efeitos das variáveis climáticas na fenologia da espécie foi utilizada a análise de correlação de Spearman. Para isso, valores mensais dos índices de atividade foram correlacionados com os valores das variáveis climáticas.

Resultados e discussão

As fenofases vegetativas se mantiveram regulares ao longo do período avaliado, ou seja, de outubro de 2016 a agosto de 2017, os indivíduos sempre apresentaram folhas flechas, verdes e velhas (Fig. 1). Essa regularidade é considerada um padrão recorrente da família (Scariot et al., 1991). As folhas verdes mostraram correlação negativa tanto com a temperatura quanto com a precipitação, indicando que na presença de chuva e de temperaturas elevadas, as folhas verdes diminuem. Já as folhas velhas se correlacionaram positivamente com a temperatura (Tab. 1), ou seja, em temperaturas mais elevadas, o número de folhas velhas aumentam.

Fatores externos como o clima, estão relacionados com o início e a duração das alterações visíveis no ciclo de vida das plantas, inferindo que a temperatura e a precipitação, dentre outros, encontram-se diretamente relacionados com as épocas de floração, frutificação, queda e brotamento foliar (Pedroni et al., 2002). Desta forma, a precipitação e a temperatura parecem influenciar na produção e na queda de folhas de M. armata na área estudada. Porém, além da influência do clima, as plantas estão sujeitas às variações edáficas de uma região (Fournier, 1974), sendo assim, a ausência de sincronismo entre os indivíduos pode ter influência de alguma variável local que não foi avaliada. Vale lembrar que em florestas higrófilas a disponibilidade de água é constante e, de acordo com Borchett (1999), a disponibilidade de água no solo permite às fenofases vegetativas ter seu comportamento independente da sazonalidade.

Ao longo da avaliação, os botões florais tiveram pico em outubro de 2016 e em abril e julho de 2017, seguida da fenofase de antese (Fig. 1). Apenas a fenofase botões florais se correlacionou negativamente com a precipitação (Tab. 1), indicando que em períodos de chuva a quantidade de botões florais diminuem. A ocorrência da floração antes ou no início da estação chuvosa é uma estratégia para aumentar a assimilação de fotossintatos, durante a estação chuvosa, permitindo o armazenamento de reservas, que podem ser destinadas à produção de flores e frutos (Felfili et al., 1999).

A presença de frutos imaturos foi observada ao longo de toda a avaliação, sendo mais pronunciada em novembro de 2016 e junho e agosto de 2017. Os frutos maduros não foram observados devido ao tempo de maturação, que ainda não ocorreu. Ressalta-se que as plantas também estão sujeitas às variações ambientais locais (Fournier, 1974), por isso, a partir do período de avaliação, que pode ser considerado curto para palmeiras arbóreas, não se pode inferir um padrão das fenofases da espécie estudada e indicar, principalmente, a época de produção e maturação de frutos. Conclusões A partir do período avaliado, foi possível observar as fenofases vegetativas e reprodutivas de M. armata, com exceção de frutos maduros. O comportamento fenológico da espécie apresentou poucas correlações com as variáveis ambientais testadas. Por se tratar de curto período de avaliação, não foi possível observar um padrão para as fenofases.

Agradecimentos

À FAPEMIG pelo financiamento do projeto (CRA-APQ-00468-15); à FAPEMIG, CNPq e CAPES pelas bolsas de pesquisa e de iniciação científica; e à Unimontes pelo apoio logístico.

Referências bibliográficas

BORCHERT, R. 1999. Climatic periodicity, phenology, and cambium activity in tropical dry forest trees.Iawa J, vol 20, p. 239-247.

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LORENZI, H.; NOBLICK, L.R.; KAHN F.; FERREIRA, E. 2010. Flora Brasileira Lorenzi: Arecaceae (Palmeiras). Plantarum, Nova Odessa.

MARIANO, G.C.; MORELLATO, L.P.C.; ALMEIDA, J.; ALBERTON, B.; CAMARGO, M.G.G.; TORRES, R.S. 2016. Modeling phenology database: Blending near-surface remote phenology with on-the-ground observations. Ecological Engineering 91:396–408.

MARTINS, R.C.; FILGUEIRAS, T.S.; ALBUQUERQUE, U.P. 2012. Ethnobotany of flexuosa (Arecaceae) in a Maroon Community in Central . Economic Bot 66(1):91 –98.

PEDRONI, F.; SANCHEZ, M,; SANTOS, F. Fenologia de Copaíba (Copaifera langsdorffii Desf. Leguminosae). Revista Brasileira de Botânica, v. 25, n.2, p.183-194. 2002.

SCARIOT, A O., LLERAS, E. e HAY, J. D., 1991. Reproductive biology of the palm Acrocomia aculeata in Central Brazil.Biotr, vol. 23, nº 1, p. 12-22.

SCHWARTZ, M.D., 2013. Phenology: An Integrative Environmental Science. Springer, Netherlands.

SINGH, K.P. & KUSHWAHA, C.P. 2005. Emerging paradigms of tree phenology in dry tropics. Current Science 89:964–975.

TONINI, H. 2011. Fenologia da castanheira-do-brasil (Bertholletia excelsa Humb. & Bonpl., Lecythidaceae) no sul do estado de Roraima. CERNE, vol. 17: (1).

Tabela 1. Correlação de Spearman dos índices de atividade mensais das diferentes fases fenológicas deMauritiella armata, na área estudada e as variáveis climáticas (médias de temperatura e precipitação total) na APA do Rio Pandeiros, norte de Minas Gerais. * Valores significativos a 5% de probabilidade.

Figura 1. Índice de atividade das fenofases vegetativas e reprodutivas de Mauritiella armata, na APA do Rio Pandeiros, norte de Minas Gerais.