Pequenos E Grandes Dias
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UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS PEQUENOS E GRANDES DIAS OS RITUAIS NA CONSTRUÇ‹O DA FAM¸LIA CONTEMPOR˜NEA Rosalina Pisco Costa DOUTORAMENTO EM CIÊNCIAS SOCIAIS Especialidade: Sociologia Geral MMXI UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS PEQUENOS E GRANDES DIAS OS RITUAIS NA CONSTRUÇ‹O DA FAM¸LIA CONTEMPOR˜NEA Rosalina Pisco Costa Orientação Científica: Prof.ª Doutora Ana Nunes de Almeida DOUTORAMENTO EM CIÊNCIAS SOCIAIS Especialidade: Sociologia Geral MMXI · Esta tese foi realizada com o apoio financeiro da Fundação para a Ciência e a Tecnologia através da concessão de uma Bolsa de Doutoramento (Ref.ª: SFRH/BD/38679/2007). Aos náufragos. E às ilhas de bruma. Ru Ying Sui Xing · Esta tese não adopta a grafia do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Lisboa em 1990, e em vigor na ordem jurídica interna desde 2009. Resumo Suscitada pela teorização sociológica recente em torno da desinstitucionalização, individualização e risco, esta tese questiona o que constrói a família contemporânea mais do que aquilo que a torna «efémera», «fluida» e «frágil». Num cenário «fragmentado», de famílias dotadas de «incerteza» e «instabilidade», guiadas por um tempo escasso e ritmo acelerado, menos numerosas, atravessadas pelos processos de privatização, sentimentalização e democratização, aspirando à autonomia e desvalorizando a perenidade em função das experiências do hic et nunc , como captar, hoje, a família? Das várias portas de entrada possíveis, e a partir dos contributos teóricos de David Morgan (1996; 1999), reconhecemos nas «práticas familiares», em concreto nos «rituais familiares», instrumentos teórico- conceptuais ao serviço da imaginação sociológica e capazes de captar os fluxos, a fluidez e o sentido da família contemporânea simultaneamente construídos pelo observador e protagonistas da acção. Retratar e compreender, por dentro e na sua diversidade, o lugar dos rituais familiares na construção da família contemporânea é o objectivo geral a que nos propomos. De modo específico e complementar, constituem ainda objectivos de investigação a inventariação e caracterização dos principais rituais familiares, e a revelação das relações ocultas e modos de articulação com estruturas e dinâmicas familiares, contextos sociais de pertença e dinâmicas de género. Metodologicamente, foi empreendida uma investigação de tipo qualitativo, intensivo e em profundidade com o objectivo de captar experiências e significados associados a práticas e representações pluridimensionais dos rituais familiares enquanto processos interactivos e significantes, simultaneamente localizados na cultura, história e biografia pessoal. Com recurso a entrevistas qualitativas de episódio (Flick, 1997) foram reunidas e analisadas em profundidade as narrativas contextualizadas de homens e mulheres a viver em contextos familiares diversificados e numa fase particular do curso de vida familiar, a de famílias com filhos pequenos. A partir da discussão teórica e empírica dos dados recolhidos, explorados com recurso a técnicas de análise de conteúdo qualitativa, conclui-se sobre a validade dos rituais familiares para captar a textura policromática da vida familiar e, ao mesmo tempo, a sua afirmação enquanto lugar de construção – para dentro e para fora – da família contemporânea, espaço simultaneamente físico, relacional e simbólico. É num puzzle complexo, cujas peças principais são as do tempo, espaço e emoção que temos, afinal, de procurar a resposta para o que confere o significado «especial» ao ritual familiar. Palavras-Chave: Família; Rituais Familiares; Desinstitucionalização; Quotidiano; Construção Social da Família. v Abstract Raised by recent sociological theorization on deinstitutionalization, individualization and risk, this thesis addresses to answer the question of what constructs contemporary family rather than what makes it a ‘ephemeral’, ‘fluid’ and ‘fragile’ reality. In a ‘fragmented’ landscape of families endowed with ‘uncertainty’ and ‘instability’, guided by a limited time, fast-paced, smaller, reshaped by the processes of privatization, sentimentalization and democratization, aspiring to autonomy and devaluing continuity before hic et nunc experiences, how to capture, nowadays, the family? Among several possible starting points, and inspired by the work of David Morgan (1996; 1999), we recognize in ‘family practices’, specifically in ‘family rituals’ a powerful theoretical and conceptual tool working for sociological imagination and able to capture the flow, fluidity and meaning of contemporary family, simultaneously constructed by the observer and actors themselves. To portray and understand, inside and on its diversity, the place of family rituals in the construction of contemporary family is the overall aim of our study. Specific and complementary, further research objectives consist in inventory and characterize family rituals, and unveil hidden relationships with family structures and dynamics, social contexts and gender dynamics behind it. From a methodological point of view, a qualitative, intensive and in-depth research was undertaken aiming to capture experiences and meanings related with multidimensional practices and representations of family rituals, here perceived as interactive and meaningful processes, both located in culture, history and personal biography. Using the episodic qualitative interview (Flick, 1997) contextualized narratives of men and women living in diverse family contexts and in a particular stage of the family course life, the one of families with small children, were gathered and subjected to an in-depth analysis. Anchored on the theoretical and empirical discussion of collected data, explored using qualitative content analysis techniques, one must conclude on, first, the power of family rituals to capture the polychromatic texture of family life; second, its acknowledgment as places of contemporary inside and outside family construction, both physical, relational and symbolic places. By the end, it’s in a complex puzzle , which main pieces are time, space and emotion, one must seek for the answer on what gives the ‘special’ meaning to family rituals. Keywords: Family, Family Rituals; Deinstitutionalization; Everyday-Life; Social Construction of Reality. vi Agradecimentos O dia em que escrevo estas linhas é um «pequeno dia» condenado ao esquecimento. Mas o esquecimento é condição de memória, razão pela qual se impõe uma referência àqueles que me acompanharam ao longo do tempo e dos dias de elaboração deste trabalho. Dias feitos de muitas pessoas e instituições; leituras, lugares e viagens; rostos, gestos e emoções. No plano institucional, quero agradecer às várias universidades em cujo terreno fértil este trabalho se desenvolveu: o Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa que me acolheu como estudante de doutoramento; a Universidade de Évora e, em particular, o Departamento de Sociologia, em cujo quotidiano organizacional e académico esta tese se teceu; e à Universidade de Manchester onde, em Maio de 2009 e com o apoio de uma Bolsa Gulbenkian, tive o privilégio de realizar uma estada como visiting PhD student. A Carol Smart, Co-Directora do Morgan Centre for the Study of Relationships and Personal Life , devo o estímulo constante a olhar e captar sociologicamente as ‘texturas’ policromáticas da vida familiar. Agradeço ainda à Fundação para a Ciência e a Tecnologia que através da concessão de uma Bolsa de Doutoramento apoiou financeiramente a realização desta tese. No plano pessoal, a primeira palavra de agradecimento é dirigida à minha Orientadora, a Doutora Ana Nunes de Almeida, investigadora coordenadora no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, pelo acompanhamento constante e atento, rigoroso e exigente nas discussões e sugestões partilhadas. É um agradecimento que vai muito para além da circunstância a que o momento ‘obriga’. É um privilégio enorme poder trabalhar e aprender com alguém que concilia, desafia e enriquece o modelo profissional de «business as usual » com o estímulo e a inspiração científica que é e que representa enquanto Investigadora, Professora e Orientadora. Outras pessoas leram e comentaram esboços anteriores desta tese. Procurei sempre incorporar as observações que sabiamente me fizeram. Refiro-me, em especial, a Alexandra G., Alexandra R., Cláudia C.C., Fátima F., Ludmila F., Teresa L.M., Verónica P. e, mais recentemente, Luena M.. Com Ana Nunes de Almeida acompanharam como ninguém os pequenos e grandes desenvolvimentos da tese: do projecto ao trabalho de campo e à redacção do texto final. Pela dedicação, olhar atento e exigente com que leram e comentaram drafts , prints e papers , mas também pelo rigor das críticas, a riqueza das sugestões e o estímulo para a sua concretização, esta tese deve-lhes muito. vii Agradeço também a todos os meus entrevistados. Sem a generosidade e disponibilidade para me concederem as entrevistas esta tese não seria possível. A minha dívida para com eles é, por isso, enorme. Como também o é para com todos os interlocutores privilegiados que me cederam os seus contactos, e que para não comprometer a confidencialidade dos dados não posso aqui nomear. Apesar de permanecerem no anonimato, quer uns, quer outros ganham rosto nas linhas e entrelinhas desta tese. Esta é a forma de que disponho para lhes agradecer, devolver o tempo que me despenderam e as narrativas que comigo partilharam. Não posso deixar de mencionar também colegas e amigos que entre pequenos (grandes) gestos, silêncios, palavras