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Modern Family Origem: Wikipédia, a Enciclopédia Livre

Modern Family Origem: Wikipédia, a Enciclopédia Livre

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA

A FAMÍLIA PÓS-MODERNA E O PENSAMENTO SISTÊMICO

Sandra Oliveira Ferrão

Orientador Prof. Fabiane Muniz

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

Rio de Janeiro 2016

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA

A FAMÍLIA PÓS-MODERNA E O PENSAMENTO SISTÊMICO

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Terapia de Família. Por: Sandra Oliveira Ferrão

Rio de Janeiro 2016

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AGRADECIMENTOS

À Rozeny Seixas, que muito me incentivou, aos meus clientes e, especificamente, à Anadia Bienhachewski e à família Varela Mello, que me motivaram a buscar mais conhecimento para melhor exercer minha profissão.

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DEDICATÓRIA

Dedico este estudo a meu pai, Walter Ferrão, in memoriam, e a minha mãe Arlette Oliveira Ferrão, por tudo o que me ofereceram em meu caminho de vida, e a meu marido, Miguel Vicente, pela paciência e cumplicidade.

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RESUMO

Este trabalho tem por objetivo propiciar a reflexão sobre a importância da abordagem sistêmica no trabalho clínico com famílias pós-modernas no contexto da realidade brasileira, especificamente, a carioca. Na introdução, apresentaremos a síntese do conteúdo a ser desenvolvido, demonstrando a importância do pensamento sistêmico no trabalho clínico do psicoterapeuta com as famílias pós-modernas. No desenvolvimento, analisaremos, em princípio, a evolução histórica do conceito de família, da tradicional à pós-moderna, considerando que tais composições coexistem na atualidade do país Brasil. Em seguida, verificaremos os antecessores que possibilitaram o novo paradigma sistêmico para uma visão mais dinâmica das dificuldades existenciais das famílias pós- modernas. Finalmente, abordaremos como o psicoterapeuta pode apropriar-se do pensamento sistêmico em seu setting profissional diante da realidade social do Rio de Janeiro, a “Cidade Maravilhosa”. Na conclusão, verificaremos, portanto, que a visão sistêmica, no trabalho clínico do psicoterapeuta possibilita maior compreensão das dificuldades vivenciadas pelas famílias pós-modernas no contexto social brasileiro do século XXI. Assim sendo, pretendemos contribuir para facilitar o auxílio terapêutico às famílias que necessitarem de ajuda. Para a realização deste trabalho, foi utilizada extensa bibliografia de pesquisa, tendo sempre por base a adequação da teoria à possibilidade de nossa experiência prática.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada para a elaboração deste estudo consistiu em leitura crítica da bibliografia citada, associando o material teórico à experiência clínica vivenciada no setting terapêutico carioca. Os autores que poderíamos considerar como orientadores das ideias contidas nesta monografia são AUN, JG; VASCONCELLOS, MJE de; COELHO, SV. In Atendimento sistêmico de famílias e redes sociais. Vol. 1. Fundamentos teóricos e epistemológicos (2012), GOMES, Lauren Beltrão et al, no artigo As origens do pensamento sistêmico: das partes para o todo., In Pensando famílias (vol. 18, nº 2, 2014) e DEL PRETTE, Almir e DEL PRETTE, Zilda AP, In Psicologia das relações interpessoais. Vivências para o trabalho de grupo (2014), dentre outros mencionados na bibliografia. Contribuímos com conclusões sobre o assunto estudado. . Toda a pesquisa foi realizada com vistas a facilitar o cotidiano de psicoterapeutas no auxílio às dificuldades familiares. Concluímos que o pensamento sistêmico propicia uma visão de mundo mais abrangente, possibilitando a observação da problemática das famílias no contexto social em que estão inseridas: um sistema dentro de subsistemas.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I – Famílias: 10

1.1. Tradicional. 1.1.1. Família Monogâmica.

1.2. Moderna.

1.3. Pós-moderna.

CAPÍTULO II – Pensamento Sistêmico: 21

2.1. Antecessores da Teoria Sistêmica.

2.2. Paradigma sistêmico.

2.3. Paradigma sistêmico e famílias pós-modernas.

CAPÍTULO III – Pensamento Sistêmico e Psicologia Clínica: 33

3.1. Pensamento Sistêmico e Psicologia.

3.2. Contexto brasileiro.

CONCLUSÃO 45

BIBLIOGRAFIA 47

ÍNDICE 50

ANEXOS 52

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INTRODUÇÃO

Todas as épocas históricas viveram conflitos e conquistas. Dificuldades sempre ocorrem e a capacidade de superar problemas eventuais determina o bem viver. Todos nós, humanos, precisamos sentir o pertencimento a um grupo social. Somos frágeis, pois temos necessidade de ter valor para alguém, de amar e sermos amados. Somos fortes, porque conseguimos lidar com adversidades naturais e sociais. Sobrevivemos à evolução da nossa humanidade. E é na família, o primeiro núcleo de convívio social, que iremos aprender - consciente e inconscientemente - as regras e os valores que serão determinantes em nosso caminho de vida. E este caminho, cada vez mais, se faz ao caminhar, no cotidiano imprevisível em que todos vivemos neste século XXI. O século XXI é a era dos computadores e dos celulares que, cada vez mais, isolam o ser humano em sua individualidade ao mesmo tempo em que permitem a comunicação em qualquer parte do planeta. Contudo, o olho no olho, o desenvolvimento de habilidades sociais que possibilitem o indivíduo a se relacionar melhor consigo mesmo e com o seu próximo é um desafio a ser superado com o auxílio da Psicologia. O terapeuta, em seu trabalho clínico, será o facilitador da convivência humana. O pensamento sistêmico, um novo paradigma para um novo tempo, transforma-se em um recurso para que possamos habitar este universo técnico, dinâmico e – muitas vezes – insensível e inseguro. Este estudo tem por objetivo fundamental possibilitar a reflexão de terapeutas e de todos os interessados a aprofundar o autoconhecimento e a compreensão dos contextos sociais em que estão inseridos. O pensamento sistêmico e as famílias pós-modernas estão intimamente relacionados, pois absolutamente nada ocorre na produção da cultura humana sem que haja, direta ou indiretamente, algum tipo de relação entre as pessoas. No primeiro capítulo, analisaremos a evolução histórica do conceito de família, abordando as formações familiares tradicional, moderna e pós- moderna. A família também evoluiu no decorrer da História humana. As

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relações afetivas sofreram transformações diversas no passar dos tempos. O núcleo tradicional, pai-mãe-filhos-parentes, adquiriu as mais diversas composições familiares, admitindo mudanças no conceito de gêneros e nas funções sociais de homens e de mulheres. As famílias moderna e pós- moderna, nesta época tecnológica e intensa, embora admitam múltiplas interpretações, permanecem em seu papel de manutenção de valores humanos imprescindíveis à continuidade de nossa espécie. Os valores se transformaram, tornaram-se mais flexíveis, mas ainda precisamos de alguém que cuide de nossa infância e que nos ajude a compreender que mundo é este em que teremos que viver. No segundo capítulo, faremos um estudo relativo ao pensamento sistêmico: seus antecessores, seu paradigma e as modificações que a abordagem sistêmica pode ocasionar na visão do terapeuta em seu trabalho clínico com as famílias pós-modernas. A visão sistêmica, flexível e holística, compreende a inserção do indivíduo em contextos mais amplos de relacionamento social, possibilitando que terapeuta e cliente procurem solucionar impasses existenciais. Contribui, assim, para a criação de um mundo, em que a técnica e os novos conhecimentos nas diversas áreas científicas estejam a serviço de melhores condições emocionais para o surgimento de uma sociedade mais igualitária e justa. E, finalmente, no terceiro capítulo, aprofundaremos a relação entre o pensamento sistêmico e a psicologia, enquanto ciência que se propõe a auxiliar o conhecimento existencial de cada indivíduo para construir uma vida mais saudável e, podemos dizer, mais feliz e plena. Verificaremos, também, a importância do papel do terapeuta clínico em seu setting, conscientizando-se do contexto social em que se insere, no caso, o brasileiro – mais especificamente, o carioca. Sistema dentro de subsistemas. Uma visão de mundo liberta de julgamentos antecipados e de estereótipos castradores.

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CAPÍTULO I

FAMÍLIAS

Este capítulo tem por objetivo analisar o conceito de família na sociedade brasileira, reconhecendo as diversas transformações ocorridas ao longo do tempo. Não se pretende “julgar” o certo e o errado na constituição de núcleos familiares. Constataremos as mudanças sociais e afetivas que produziram diferentes grupos familiares. A palavra família é derivada do latim “famulus”, que significa “escravo doméstico”. Este termo foi criado na Roma Antiga para designar um grupo social que surgiu entre tribos latinas com a introdução da agricultura e da escravidão legalizada. No direito romano clássico, “família natural” é a baseada no casamento e em vínculos de sangue. A própria palavra casamento é derivada de casa, indicando que este é um momento em que se procura criar vínculos com alguém e manter um convívio com esta pessoa. A “família natural” é o agrupamento constituído apenas dos cônjuges e de seus filhos. Contudo, entendida como fenômeno complexo e dinâmico, a família assume diferentes configurações, estruturais ou relacionais, que dificultam a elaboração de um conceito único que contemple as diferentes realidades das famílias. Para fins deste estudo, analisaremos as formações familiares mais generalizadas em nosso país. No Brasil, a formação de famílias passou por situações diversas. Os habitantes primitivos, os indígenas, possuíam núcleos familiares que foram desvalorizados pelo colonizador português. Os portugueses, por sua vez, deixaram seus afetos na terra que abandonaram: Portugal, criando outros vínculos no Brasil. Os africanos foram trazidos à força para o território brasileiro. Seus familiares, pessoas que amavam, ficaram na África ou foram separados e vendidos no Brasil, como mercadoria sem direitos de pensar ou de sentir. Portanto, a família nuclear ou tradicional brasileira constitui-se em adequação ao contexto social do novo país que estava se formando.

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1.1. Tradicional

Família, em sua formação tradicional, é composta por um homem e uma mulher, ou seja, após o matrimônio, os cônjuges formam uma família, que será pai, mãe e futuros filhos. As pessoas se casam por diversas razões, mas normalmente o fazem para dar visibilidade à sua relação afetiva, para buscar estabilidade econômica e social, para formar família, procriar e educar seus filhos e legitimar o relacionamento sexual.

Segundo ATKINSON; MURRAY (apud VARA, 1996), a família é um sistema social uno, composto por um grupo de indivíduos, cada um com papéis atribuídos, que - embora diferenciados - consubstanciam o funcionamento do sistema social como um todo.

As características da família tradicional são: papéis e funções bem definidos de seus membros, os pais são heterossexuais, o pai é o chefe e o principal provedor do sustento da família, a mãe é a responsável por cuidar dos filhos e manter a casa, sem trabalhar fora do lar, a criação e a manutenção do casamento é de acordo com regras e diretrizes católicas, predominantes no mundo ocidental.

DUVALL; MILLER (apud STANHOPE, 1999) identificaram algumas funções da família, como: asseguradora de segurança, da continuidade das relações e de estabilidade e socialização, de satisfação e sentimento de utilidade, geradora de afeto e de aceitação social, impondo a autoridade e o sentimento do que é correto (aprendizagem das regras e normas, direitos e obrigações características das sociedades humanas).

A família assume uma estrutura própria. Por estrutura entende-se “uma forma de organização ou disposição de um número de componentes que se inter-relacionam de maneira específica e recorrente”, segundo WHALEY; WONG (1989, p. 21). Desse modo, a estrutura familiar compõe-se de um conjunto de indivíduos com condições e em posições, socialmente reconhecidas, e com uma interação regular e recorrente.

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A família se transformou através dos tempos, acompanhando mudanças religiosas, econômicas e socioculturais do contexto em que se insere. E, no contexto brasileiro, a formação familiar reflete o processo de colonização do país. No Brasil, descoberto em 1500, a poligamia, união reprodutiva entre mais de dois indivíduos de uma espécie, era habitual entre os indígenas que aqui viviam. O colonizador português, que deixou sua família constituída no seu país de origem, formou nova família em território brasileiro. A Igreja católica portuguesa, ao enviar os jesuítas para catequizar os indígenas, buscou instituir valores morais monogâmicos. A monogamia foi estabelecida como uma maneira de preservar a posse de terras e a continuidade de bens materiais dentro um mesmo núcleo familiar. Porém, um país com áreas territoriais imensas a serem povoadas, propiciava a miscigenação de raças – o indígena primitivo, o português colonizador e o negro escravo – surgindo um país “mulato” e “irreverente”. A monogamia era imposta à mulher, visto que o senhor, dono de terras, era livre para usufruir de seus subordinados, surgindo filhos bastardos e famílias não reconhecidas pela igreja.

1.1.1. Família Monogâmica

A família monogâmica baseia-se no predomínio do homem, tendo a finalidade de procriar filhos, cuja paternidade não pode ser questionada, pois seus filhos serão herdeiros de seus bens e posses. Os laços conjugais só podiam ser rompidos pelo homem e os dois cônjuges possuíam funções sociais bem definidas na educação dos filhos: o pai era o provedor econômico do núcleo familiar e mãe era a “rainha do lar”. É direito do homem a infidelidade conjugal contanto que não traga outra mulher para dentro de casa. Para ENGELS (1974), a família monogâmica:

“... foi a primeira forma de família que não se baseava em condições naturais, mas econômicas, e concretamente no

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triunfo da propriedade privada sobre a propriedade comum primitiva, originada espontaneamente. O surgimento da monogamia nada mais é que uma sujeição de um sexo pelo outro”. (p. 82).

Repetindo a ideia de Marx, o autor reforça que “a primeira divisão de trabalho é a que se fez entre homem e a mulher para a procriação dos filhos”, e ainda acrescenta, afirmando que “o primeiro antagonismo de classes que apareceu na história coincide com o desenvolvimento do antagonismo entre homem e a mulher na monogamia”. O princípio da monogamia está diretamente vinculado à distinção entre família legítima e família ilegítima, a família formada pelo casamento e o concubinato. Esse princípio é adequado à tutela da família transmissora do patrimônio, pois era necessário assegurar a paternidade do marido em relação aos filhos nascidos de sua mulher. Vinculada a esta ideia está o tabu da virgindade e, também, a punição do adultério da mulher. O controle da sexualidade feminina constituía instrumento de garantia da prole do marido. O papel da família patriarcal monogâmica é conhecido através de estudos históricos e sociológicos da civilização brasileira. Os cronistas, historiadores, demógrafos, os cientistas naturais ou simples viajantes que visitaram o país desde o período colonial deixaram-nos informes e observações sobre esse tipo de família. GILBERTO FREYRE (1933) analisou a família monogâmica desde os seus primórdios até os mais avançados estágios da sua decadência na obra cíclica que à mesma consagrou, Casa Grande e Senzala, referente ao período da predominância da plantação açucareira e do patriarcado rural; Sobrados e Mocambos, relativa à época da diversificação da sociedade colonial com o crescimento e ascensão política e social das populações urbanas, e, por último, Ordem e Progresso, em que encontramos uma análise das mudanças ligadas à desintegração do sistema escravagista desde a Lei do Ventre Livre, de 28 de setembro de 1871, aos primórdios da República de 1889. FREYRE chamou atenção para a influência desse padrão fundamental sobre outros tipos de família ainda existentes na sociedade brasileira.

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No Brasil, o concubinato, desde os primeiros dias da Colônia, sempre esteve à marginalidade jurídica no sistema social. Num país em que a dominação masculina e o desprezo em relação à mulher indígena, negra e mestiça foram sempre predominantes, a monogamia se prestou como um instrumento perfeito para a desqualificação de inúmeras famílias formadas à margem da família reconhecida oficialmente, ou seja, a surgida do casamento civil. Os colonos portugueses, durante as primeiras décadas após a Descoberta do Brasil e ainda por muitos anos, eram solteiros ou casados que migravam sem suas famílias e que frequentemente esqueciam ou não podiam voltar a juntar-se às mesmas na Metrópole ou na colônia. Aqueles que FREYRE (1933) chama de fundadores e colonizadores verticais do novo país, os altos burocratas, os governadores gerais e vice-reis, os brigadeiros e capitães mores, os senhores de engenho, particularmente, traziam consigo suas famílias de Portugal para seus novos lares nas grandes fazendas, nas fortalezas, nos palácios e mansões das cidades litorâneas. Mas nem todos assim procediam. E diferentes formas de família surgiram no Brasil, promovendo a mistura de raças, característica de nosso povo.

1.2. Moderna

O conceito de família mudou ao longo do tempo. O Brasil, país agrícola, foi se transformando gradativamente em industrial, mantendo regiões de economia agrícola. Embora mudanças tenham ocorrido para definirmos uma família moderna, o núcleo familiar composto de pai, mãe e filhos ainda é a estrutura social mais comum em nossa sociedade. E a mudança mais importante que se constatou na família está baseada na migração das áreas rurais para as grandes cidades ou centros urbanos da era industrial brasileira. As funções da família mudaram, a composição familiar mudou, os ciclos de vida e o papel dos pais mudaram. Na modernidade, as funções de educação, que cumpriam as famílias rurais, agora são realizadas por instituições especializadas (escolas) e o papel de socialização das crianças é compartilhado com outros grupos sociais (amigos, parentes, etc.). Em relação

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a emprego, o trabalho é feito fora da família e as mulheres passam a exercer diversas profissões, não somente a considerada doméstica. A economia familiar carece do trabalho feminino, mas a mulher ainda está sobrecarregada com jornada dupla, em geral, em casa – como mãe e esposa - e na rua – como profissional. Outro fato importante da família moderna tem a ver com casamentos feitos pela segunda vez, quer dizer, pessoas que estão separadas de seus antigos cônjuges e se casam novamente para formar nova família, mantendo relações com sua antiga família ou integrando-a à nova. Também cabe mencionar que, na família moderna, muitos casais não se casam, mas vivem juntos e têm filhos. A velocidade da época modernista imprime modificações nas estruturas familiares. Porém, a família continua a ter fundamental importância na preparação das gerações futuras, refletindo a sociedade em que está inserida. Apesar de tantas transformações, no Brasil, a constituição familiar ainda vivencia alguns preconceitos e o patriarcalismo se encontra arraigado em determinados grupos sociais, principalmente nas cidades do interior do Brasil. País de imensas proporções, coexistem variadas formas de organização da família. Neste trabalho, estaremos analisando a família nos grandes centros urbanos brasileiros, especificamente no Rio de Janeiro, nossa área de trabalho clínico. O “pater familias”, o homem cabeça do casal, era o provedor da família tradicional, pois a ele cabia o dever e a obrigação de sustentar a prole. A emancipação feminina, sua independência e profissionalização, por necessidades também sociais, fez com que o patriarca deixasse de ser a única fonte de sustentação da família. Laços de afeto e de solidariedade derivam da convivência e não mais de vínculos sanguíneos. A origem biológica era indispensável à família patriarcal. O estilo de vida moderno surge da fragmentação e efemeridade que caracterizam as mudanças da sociedade. O casamento tornou-se uma escolha exclusiva dos envolvidos na instituição. “Infinito enquanto dure” (VINICIUS DE MORAES, 1960, p. 96), o casamento enfatiza a felicidade de todos os seus membros e os vínculos

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afetivos são preponderantes a interesses econômicos de posses e bens. A mulher influenciou positivamente o mercado de trabalho, a política, a educação e o próprio homem. Surgiram famílias de pais únicos ou monoparentais, tratando-se de uma variação da estrutura familiar tradicional devido a fenômenos sociais, como divórcio, óbito, abandono de lar, ilegitimidade ou adoção de crianças por uma só pessoa. BIASOLI; ALVES (1999) aponta evidências de grande impacto do desenvolvimento tecnológico do século XX sobre a família, acarretando mudanças estruturais, funcionais e de relacionamento. As variáveis ambientais, sociais, econômicas, culturais, históricas, políticas e religiosas determinam as diferentes composições familiares no Brasil.

1.3. Pós-moderna

Segundo NIETZSCHE (1844-1900), valores como o bem e a verdade não são absolutos, eternos, universais ou imutáveis; ao contrário, são socialmente e historicamente construídos e, portanto, tão contingentes quanto a vida humana:

“(...) as verdades são ilusões cuja origem está esquecida, metáforas que se tornaram gastas e sem força sensível, moedas que perderam sua efígie e agora só entram em consideração como metal, não mais como moedas”. (NIETZSCHE, 2007, pp. 36-37).

NIETZSCHE insere problemáticas que seriam trabalhadas pelos pós- modernos, como a relativização dos valores. Se não há mais bens últimos e supremos que determinem nossas ações, só resta ao ser humano aceitar o aspecto provisório da existência. Não há mais, portanto, um ponto de vista privilegiado do qual seja possível fazer julgamentos. A maior igualdade entre os sexos levou à instabilidade do casamento e da família e ao surgimento de modelos alternativos de relacionamento, à medida que as pessoas procuram reconstruir suas vidas afetivo-sexuais.

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De acordo com VIEIRA (1995), em circunstâncias pós-modernas, os discursos sobre o casamento e a família não têm mais a pretensão de validade universal. Em um contexto de fragmentação social e individual, as escolhas tornaram-se flexíveis e plurais. O que se apresenta como instável, caótico e desordenado na família – separações, novos casamentos, filhos morando com o pai ou com a mãe e convivendo com meio irmãos – nada mais é que a emergência de novos padrões, estruturalmente instáveis, contextuais, marcados pela contingência e pela heterogeneidade. O caos, o acaso e a aleatoriedade também se instauram no universo das relações interpessoais. A pós-modernidade está firmada sobre o tripé: pluralização, privatização e secularização. A pluralização diz que há muitas ideias, muitos valores, muitas crenças. Não existe uma verdade absoluta; tudo é relativo. A privatização afirma que nossas escolhas são soberanas e cada um tem a sua própria verdade. A secularização, por sua vez, coloca Deus na lateral da vida e o reduz aos recintos sagrados. Não há como evitar a evolução do pensamento e do comportamento humano. Hoje, vivemos na geração da convivência com outras formas de família, inclusive no contexto de proteção constitucional, segundo a mais atual interpretação dos legisladores. Em 5 de maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a família homoafetiva, conferindo aos casais homossexuais o direito à união estável. Esta decisão foi proferida no julgamento da ADI 4277-DF e ADF 132- RJ. Antes, a união estável era um direito apenas do homem e da mulher, em razão do que dispunha o artigo 1723 do Código Civil. O STF afastou a expressão “homem e mulher” da lei e permitiu a interpretação extensiva aos casais de mesmo sexo. O parágrafo terceiro do artigo 226 da Constituição Federal reconhece a união estável e determina que a lei deva "facilitar sua conversão em casamento". Assim, não há razão para se negar a conversão da união estável homoafetiva em casamento, em obediência ao determinado pelo STF. Desta forma, diversos casais homoafetivos começaram a requerer a conversão de suas uniões estáveis em casamento. E, ainda, após a decisão do STJ no julgamento do RESP 1.183.378-RS, que reconheceu o direito a um casal homossexual a requerer a habilitação direta para casamento, a

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possibilidade de casamento entre pessoas do mesmo sexo foi se tornando uma realidade. O conceito de família, seja estruturada pelo casal heterossexual ou homossexual, permanece no ideal do ser humano. A família traz os limites do espaço mediado por relações afetivas, capazes de propiciar a seus membros o espaço mental necessário para o desenvolvimento do pensamento, capacidade para delimitar fronteiras adequadas, entre a falta e o excesso, de forma que exista possibilidade de manter trocas afetivas que contenham funções de ouvir e de ser ouvido, sem ceder à ânsia de eliminar conflitos. TARTUCE (2009), em seu artigo, no Manual de Direito das Famílias e das Sucessões, elenca vários princípios relativos ao Direito de Família brasileiro, todos justificados na Constituição Federal e Código Civil: “1) Princípio de proteção da dignidade da pessoa humana; 2) Princípio da solidariedade familiar; 3) Princípio da igualdade entre filhos; 4) Princípio da igualdade entre cônjuges e companheiros; 5) Princípio da igualdade da chefia familiar; 6) Princípio da não intervenção ou da liberdade; 7) Princípio do melhor interesse da criança; 8) Princípio da afetividade; 9) Princípio da função social da família. Estes princípios são adaptados de acordo com as possibilidades existenciais das famílias pós-modernas. Na atualidade, o tempo é escasso, os níveis de afetividade no seio da família sofrem diversos constrangimentos (divórcios, famílias ampliadas, redução do número de filhos), ocasionando mudanças na relação do indivíduo com o mundo. A família pós-moderna, para cumprir exigências sociais e econômicas de nossa sociedade, precisa terceirizar algumas de suas funções, como – por exemplo - a educação dos filhos. É cada vez mais comum as crianças acumularem atividades extraescolares (cursos de inglês, futebol, balé, escotismo), enquanto os pais acumulam horas de trabalho. A falta de contato, de diálogo, de interação é preocupante. A cultura pós-moderna promoveu uma ausência de sensibilização, prevalecendo o individualismo, como conduta de vida em todas as esferas sociais. A crescente economia capitalista impôs a predominância do “ter” em relação ao “ser”. Nesse contexto de desumanização progressiva valoriza-se

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mais o que se pode ganhar do que o que se pode fazer para melhorar a vida de todos. Assim sendo, surgem novas patologias, como bulimias, anorexias, obesidade, compulsões e até suicídios e violência no universo familiar. Ganha- se maior liberdade para escolhas afetivas. Perde-se qualidade de vida. Nos grandes centros urbanos brasileiros, como a cidade do Rio de Janeiro, várias estruturas familiares pós-modernas podem ser encontradas. Porém, as novas e surpreendentes exigências sociais provocam reações nem sempre saudáveis nos membros da família, que precisam exercer diversas funções com rapidez e eficiência. As relações humanas tornam-se cada vez mais superficiais e imediatas: cada pessoa é considerada como um “objeto” a ser usado e descartado conforme as necessidades do momento. As classes sociais cariocas apresentam divergências econômicas imensas e buscam auxílio para enfrentar suas dificuldades com base em seus valores e de acordo com suas possibilidades. Os tratamentos psicológicos, realizados de maneira particular ou pública, podem ser produtivos se o terapeuta orientar sua abordagem de trabalho considerando o cliente em sua realidade social. Em um mesmo contexto, podemos encontrar diferentes composições familiares com diversas funções socioeconômicas. À psicologia e aos psicólogos, em geral, cabe entender as transformações da época e buscar dar apoio aos familiares que sofrem. Os membros da família pós-moderna precisam de um acolhimento que permita a construção de uma pessoa que consiga superar os problemas cotidianos.

“Reforçam-se as ideias de que pensar sistemicamente implica reconhecer o sujeito em seu contexto, de que os fatos não são previsíveis e de que o terapeuta/pesquisador faz parte do sistema no qual intervém/estuda. Assim, ao fazer uso do Pensamento Sistêmico, o profissional amplia seu olhar sobre a situação, questiona a problemática apresentada, e trabalha com as pessoas envolvidas alternativas de modos mais funcionais de relacionamento”. (GOMES, LB et al., 2014).

O Pensamento Sistêmico possibilita que o terapeuta clínico busque a compreensão dos fenômenos psíquicos em uma rede de relações

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interpessoais, ou seja, a adoção de uma perspectiva sistêmica implica em entender a família como um sistema complexo, composto por vários subsistemas que se influenciam. Assim sendo, a realidade social pós- moderna, imprevisível e dinâmica, em que se inserem o terapeuta e o cliente, adquire importância em um tratamento que propicie equilíbrio emocional para conviver e superar as rápidas transformações de um cotidiano não presumível. A Teoria Sistêmica propõe a mudança no foco das teorias clínicas do indivíduo para os sistemas humanos: do intrapsíquico para o inter-relacional. Pois, segundo VAITSMAN (1994), as transformações ocorridas nas famílias pós-modernas refletem as mudanças no contexto social do nosso século XXI.

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CAPÍTULO II PENSAMENTO SISTÊMICO

A palavra sistema deriva do grego synhistanai que significa “colocar junto”. A compreensão sistêmica da realidade consiste em entender um acontecimento dentro de um sistema, a fim de estabelecer a natureza das relações possíveis em determinado contexto em que o fato ocorrido se insere. Esta forma de pensar a existência constituiu um novo paradigma para a visão de mundo do século XX. Paradigma significa modelo padrão. O pensamento sistêmico consiste em um paradigma novo que contradiz o paradigma anterior, efetivando-se como um entendimento dos fatos reais segundo a Teoria Geral dos Sistemas e propiciando uma diferente prática diante da vida. A partir da ideia de que a principal característica da organização dos seres vivos é a natureza hierárquica, quer dizer, a tendência para formar estruturas multiniveladas de sistemas dentro de sistemas, compreende-se que cada um dos sistemas forma um todo com relação as suas partes e também é parte de um todo. O pensamento é contextual, pois a análise das propriedades das partes não explica o todo, e é ambientalista, porque considera o contexto. De acordo com VASCONCELLOS (2010), a ênfase está nas relações e não nos objetos. Os próprios objetos são redes de relações, embutidas em redes maiores. O mundo vivo é visto como uma rede de relações. O conhecimento científico é tido como uma rede de concepções sem fundamentos fixos e sem que um deles seja mais importante que os outros. O mundo material é entendido como uma teia dinâmica de eventos inter- relacionados. “Para falar hoje de pensamento sistêmico e para considerá-lo o novo paradigma da ciência, eu não precisaria adjetivá-lo e, a meu ver, constitui de fato uma redundância essa adjetivação, uma vez que o pensamento sistêmico e o novo paradigma da ciência são hoje, para mim, uma coisa só”. (p. 97).

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Fundamental será analisar os antecessores históricos da Teoria Sistêmica, que possibilitaram o desenvolvimento do pensamento sistêmico.

2.1. Antecessores da teoria sistêmica

Na Idade Antiga, predominou o paradigma religioso até o fim da Idade Média. A verdade existia em um plano superior, divino. O conhecimento era limitado e acessível a poucos “iluminados”, daí conhecer era entrar em contato com o plano divino, superior ao simples mortal. O método era o aperfeiçoamento pessoal: a meditação e a dedicação religiosa. A filosofia grega de Aristóteles, que acreditava que a matéria continha a natureza essencial de todas as coisas, de forma que a essência somente poderia se tornar real através da forma, dominou o pensamento ocidental durante toda a Idade Média. Nos séculos XVI e XVII, devido à revolução científica proporcionada pelas descobertas da Física, Astronomia e Matemática, a visão medieval cedeu espaço ao entendimento de que o mundo seria como uma máquina, regido por leis matemáticas exatas: o paradigma tornou-se científico. A verdade reside no mundo e é possível um conhecimento total. Este conhecimento é acessível a quem estudar as leis científicas e é a representação do mundo, um espelho da natureza. Conhecer é ser especialista, saber tudo sobre algo. Este momento, chamado de Mecanicismo Cartesiano, teve representantes notáveis como Galileu, Copérnico, Descartes e Newton. O método era o analítico, criado por Descartes, e consistia no pressuposto de que, “quebrando fenômenos complexos em partes, poder-se-ia compreender o comportamento do todo a partir das propriedades das partes”. (GOMES et al., 2014). Em oposição ao Mecanicismo Cartesiano, surge o Movimento Romântico, do final do século XVIII até o término do XIX. Houve um retorno às ideias aristotélicas, em função das produções de poetas e de filósofos – como Kant – que voltaram a se concentrar na natureza de forma orgânica. A natureza teria

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uma forma móvel e seguiria um padrão de relações dentro de um todo harmonioso. Na segunda metade do século XIX, o aperfeiçoamento do microscópio possibilita avanços na Biologia, resgatando o pensamento Mecanicista. O foco de estudo biológico foi deslocado do organismo para as células. Neste contexto, Pasteur formula a teoria microbiana de acordo com a qual as bactérias seriam a única causa das doenças. No entanto, embora a biologia celular tivesse avançado na compreensão das estruturas e das funções de muitas das subunidades, ainda não se explicava as atividades coordenadoras que integram essas operações no funcionamento da célula como um todo. Esta compreensão tornou-se possível no século XX, com o surgimento da Biologia Organísmica ou Organicismo, em oposição ao Mecanicismo, já delineando certa influência na construção do Pensamento Sistêmico. Segundo a concepção Organísmica, as propriedades essenciais de um organismo pertencem ao todo, de maneira que nenhuma das partes as possui, pois tais propriedades surgem das interações entre as partes. A Ecologia, uma das vertentes do Pensamento Sistêmico, emerge da Escola Organísmica da Biologia, quando os biólogos começaram a estudar comunidades de organismos. O foco foi estabelecido no estudo das relações que interligam os organismos. A concepção de ecossistema determinou o pensamento ecológico, promovendo uma abordagem sistêmica da Ecologia: não existe hierarquia na natureza, mas redes que se estabelecem dentro de outras redes. Paralelamente ao surgimento da Ecologia, teremos a Física Quântica, formulada por Werner Heisenberg, na década de 20. Tal teoria demonstra que os objetos materiais sólidos da Física clássica se dissolvem, em nível subatômico, em padrões semelhantes a ondas, representando probabilidades de interconexões: o mundo só poderia ser compreendido em inter-relações, daí o todo é que determina o comportamento das partes. Ainda na década de 20, surge a Psicologia da Gestalt que reconhece a existência de totalidades irredutíveis como aspecto chave da percepção. Totalidades que exibem qualidades ausentes em suas partes. O filósofo

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Christian Von Ehrenfels afirma que o todo é maior que a soma das partes, princípio central da Teoria Sistêmica. Na década de 30, o biólogo austríaco Ludwig Von Bertalanffy apresenta a Teoria Geral dos Sistemas, propondo uma ciência da totalidade e da integridade. Em 1940, o matemático norte-americano inicia a elaboração da Cibernética. Estas teorias configuram os limites paradigmáticos para a Teoria Sistêmica.

2.2. Paradigma sistêmico

O paradigma sistêmico, consequentemente, mais divulgado nos anos 50, reconhece que a verdade absoluta não existe, pois o observador interfere no fenômeno observado. O conhecimento é construído na relação social intermediado pela linguagem e está acessível a quem se dispuser à intersubjetividade. Conhecer será buscar compreender como os significados foram construídos e não é mais possível um conhecimento que seja espelho da natureza. O método sistêmico é dialógico, conversacional, reflexivo, holístico. A visão de mundo, neste século XXI, entende a complexidade e a interligação de todas as áreas do conhecimento, propondo uma análise que propicie uma abordagem dinâmica da existência.

“Em outras palavras, a visão sistêmica não se propõe como alternativa irreconciliável a outras formas de compreensão do mundo. A relação entre esses modelos, como a entendemos, não se assenta na dicotomia do isto ou aquilo, porém na posição conciliável do isto e também aquilo”. (DEL PRETTE, A. 2014, p. 25).

A fim de maiores esclarecimentos, para uma melhor compreensão da importância da Teoria Sistêmica na reflexão e na prática deste nosso atual século, vamos refletir sobre os pressupostos que caracterizaram o Pensamento Mecanicista e o Pensamento Sistêmico, de acordo com a análise

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de VASCONCELLOS, MJE de, 2010. Poderemos observar com mais atenção as diferenças existentes entre essas duas visões de mundo. No Pensamento Mecanicista, três pressupostos podem ser estabelecidos: simplicidade, estabilidade e objetividade. O pressuposto da simplicidade baseia-se na crença em que, separando- se o mundo complexo em partes, encontram-se elementos simples que possibilitarão a imediata apreensão do todo. Daí decorrem a atitude de análise e a busca de relações causais lineares. Este pressuposto retira o objeto de estudo de seu contexto, prejudicando o entendimento das relações entre o objeto e o todo. Esse paradigma também promove a separação dos fenômenos: os físicos dos biológicos, estes dos psicológicos, dos culturais, etc., numa atitude de atomização científica. Esta perspectiva, de acordo com a lógica, não permite que um objeto pertença a duas categorias diferentes, portanto favorecendo a compartimentalização do saber, fragmentando o conhecimento em diversas disciplinas científicas. Daí o surgimento de especialistas, estabelecendo-se uma hierarquia do saber. O pressuposto da estabilidade defende a crença de que o mundo é estável, determinando-se a previsibilidade dos fenômenos e acreditando que possam ser controlados. Este pressuposto faz com que o cientista estude os fenômenos em laboratório, variando os fatores um de cada vez e exercendo controle sobre possíveis variáveis. Assim, provoca a natureza para que explicite, sem ambiguidade, as leis a que está submetida, confirmando ou não hipóteses. Desta forma, excluindo o contexto e a complexidade, ocorre a exclusão da história do fenômeno estudado. A ideia de “leis da natureza” da ciência pressupõe que a natureza seja obrigada a “seguir leis” e o mundo é concebido como “aquilo que é” e não um “processo de ser”. A instabilidade de um sistema é um desvio a ser corrigido e poderá ser controlado e previsível. O pressuposto da objetividade acredita que é possível conhecer objetivamente o mundo tal como ele é na realidade e exige que essa objetividade seja um critério científico. O cientista deve se posicionar “fora” da natureza, em posição privilegiada, com visão abrangente, discriminando o objetivo do ilusório. Daí advém a crença no realismo do universo: o mundo e

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o que nele acontece independem de quem os vê e os descreve. O critério e a certeza originam-se de observações conjuntas e reproduzíveis: coincidindo os registros de observações independentes, as afirmações tornar-se-ão mais confiáveis e objetivas. A Estatística possui, assim, um grande campo de atuação, delimitando “verdades” quantificadas. Neste pressuposto, o relatório impessoal e as normas do trabalho científico orientam uma linguagem imparcial, visando a dar a impressão da ausência do sujeito que pesquisa, a fim de mascarar uma opinião pessoal. A ciência Mecanicista, em síntese, procurou simplificar o universo (pressuposto da simplicidade) para conhecê-lo ou saber como funciona (pressuposto da estabilidade), tal como ele é na realidade (pressuposto da objetividade). O Pensamento Sistêmico não nega o paradigma científico: ele o abarca, colocando-o em confronto com os paradigmas opostos e propondo uma ampliação dos paradigmas existentes. Propõe os pressupostos da complexidade, da instabilidade e da intersubjetividade. O pressuposto da complexidade reconhece que a simplificação obscurece as inter-relações dos fenômenos do universo e de que é imprescindível ver e lidar com a complexidade do mundo em todos os seus níveis. Uma descrição baseada nesse pressuposto apresenta sincronicidade, que prevê outras relações, que não são causais, para os eventos do universo. O pressuposto da instabilidade verifica que o mundo está em processo de “vir a ser” constante. Portanto, os fenômenos são indeterminados, imprevisíveis, instáveis e incontroláveis. A abordagem orgânica, a homeostase psíquica e a noção de inconsciente, com componentes arquetípicos e complexos são exemplos de abordagem sistêmica da psicologia analítica. O pressuposto da intersubjetividade acredita que não existe uma realidade independente de um observador e que o conhecimento científico é uma construção social, em espaços consensuais, por diferentes sujeitos. O cientista trabalha com múltiplas versões da realidade, em diferentes domínios linguísticos de explicações.

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O Pensamento Sistêmico admite que as perguntas não possuam apenas UMA resposta. Geralmente, possuem várias respostas e, por vezes, até contraditórias. Uma decisão, na época pós-moderna, sem a visão do todo, pode gerar posicionamentos unilaterais, isolados e pouco efetivos. Precisaremos melhorar nossa capacidade de compreender o encadeamento das ações e dos elementos dentro de um contexto, treinando nossa habilidade de observar e gerando uma visão sistêmica. Principalmente, em relação à visão política, os líderes mundiais cada vez mais necessitam perceber as implicações e consequências de suas ações para o bem-estar da vida no planeta. Ao pensarmos de forma sistêmica, várias possibilidades podem ser observadas, tais como: levar em consideração múltiplos focos, aspectos, variáveis e relações; buscar múltiplas soluções combinadas para resolver um problema e aprender algo com a situação; gerar diversas interpretações, sem julgamentos antecipados; buscar alternativas impensadas; analisar consequências que podem ser provocadas por uma decisão; desenvolver a habilidade de percepção e permitir-se ser constantemente “aprendiz” da vida, em um tempo histórico de mudanças constantes e de sensações imprevistas: a sociedade pós-moderna. Até mesmo porque “a realidade pode ser objetiva, mas a percepção dela é sempre subjetiva”. (DEL PRETTE, A. 2014, p. 28).

“Os sistemas humanos são determinados pela forma como seus componentes se relacionam entre si e isto lhe confere a estrutura. Pode-se dizer, nessa perspectiva, que as estruturas sempre se diferenciam, porque seus componentes possuem uma dinâmica própria (forma de relação, normas e regras). Por isso uma determinada realidade pode ser percebida de maneira diferente em diferentes momentos e por diferentes pessoas”.

O risco do pensamento linear, aplicado ao contexto terapêutico, é o de tornar o outro responsável pelas dificuldades do cliente que apresenta a queixa, supondo-se que caberia ao processo desenvolver habilidades deste para lidar com aquele. Tender-se-ia a cair na lógica da organização social capitalista, que é a de preparar um para vencer o outro, numa análise de quem

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seria o mais competente. Uma visão sistêmica implica em considerar ambos como necessitados de ajuda. O outro, de quem o cliente se queixa, é participante ativo da relação, tanto em pensamento como em sentimentos e comportamentos. Na perspectiva sistêmica, o cliente e seu entorno (mãe, pai ou outras pessoas envolvidas) são considerados integrantes de um sistema mais amplo e alterações positivas em um subsistema geram uma realimentação (feedback) para o próprio e produzem mudanças em outros subsistemas. A família a ser atendida não é mais a família nuclear definida por limites legais institucionais ou consanguíneos, mas a constituída pelo problema a ser tratado, que não é mais diagnosticado pelo terapeuta, mas aquele co- construído na conversação terapêutica, da qual participam todos os que constituem o sistema determinado pelo problema: hospital, escola, família, vizinhança, terapeuta, cliente, etc. são incluídos no sistema terapêutico e vistos como corresponsáveis pela identificação e definição do problema. (GOOLISHIAN; WINDERMAN. 1988/1989).

2.3. Paradigma sistêmico e famílias pós-modernas

Ao utilizarmos o referencial sistêmico, o verbo estar adquire predominância sobre o verbo ser: o cliente a ser orientado pode estar violento, por exemplo, mas não é violento. O pensamento terapêutico passa a ser em termos de contextos, relações e significados com validade estrutural e com foco na análise de comportamentos em um contexto cultural que define tal comportamento. Não se considerando mais a ideia de SER, de essência, ocorre a possibilidade de o terapeuta encontrar novos caminhos para a compreensão e a busca de solução para os problemas humanos, no caso, das famílias pós-modernas em nosso atual momento histórico brasileiro. O paradigma sistêmico sugere que diante da diversidade de aspectos que envolvem o fenômeno família no século XXI, é fundamental levar em conta a complexidade, através da contextualização, social, histórica e cultural. E, no universo brasileiro, diferentes estruturas familiares coexistem em determinada

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realidade social. O terapeuta terá a necessidade de permitir-se a flexibilidade de sua visão de mundo, bem como considerar aspectos de sua própria história de vida a fim de não se impregnar de conceitos rígidos e convencionais. Será importantíssimo acrescentar que a atualização de novos estudos, para compreensão do aqui e agora e para depreender a dinâmica específica das relações afetivas das famílias na pós-modernidade, sempre deverá ser enfatizada e realizada a cada dia na adequação teórica à prática clínica, visando ao melhor relacionamento dos indivíduos envolvidos. O paradigma sistêmico possibilita a transformação de verdades absolutas e de certezas derradeiras para um contexto de múltiplos significados e de incertezas constantes. De um uni-verso, de uma única versão da história, verificaremos multi-versos. Os critérios de validação do conhecimento psicológico passam a se apoiar no diálogo, no consenso e na Ética, valores que se encontram meio distorcidos em nosso momento histórico brasileiro. Ética vem do grego ethos, que significa comportamento, atitude, e de óikos, que se refere à morada, local habitado pelo homem. Ética situa-se acima da Moral. Moral vem do latim mores, que fala dos costumes. Os costumes são mais locais e temporários. A Ética é mais abrangente e duradoura. Os costumes se modificam, como a moral sexual, mas os valores éticos permanecem, como os que dizem respeito à dignidade humana. A visão negativa de “doença”, que deveria ser “curada”, e de um terapeuta quase onisciente e observador externo de problemas de relacionamento familiar, evoluiu para uma atitude de reconhecimento de que não há uma “realidade” das famílias a ser descoberta e que o espaço clínico inclui terapeuta e cliente em uma construção social de múltiplas versões da realidade, visando ao viver bem e de forma saudável. Porém, a visão sistêmica não se apresenta como a única possível para um auxílio às dificuldades familiares e não significa, em absoluto, o abandono de métodos tradicionais, mas apresenta a necessidade de uso adequado e combinado de diferentes abordagens e estratégias metodológicas. O conhecimento sistêmico representa uma possibilidade diante da complexidade das famílias pós- modernas, com tantas variantes e diversos papéis sociais. O terapeuta, cabe

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sempre ressaltar, precisa ter a disponibilidade de se integrar ao contexto a ser analisado, se relacionando da maneira mais comprometida, ética e próxima possível dos membros familiares. Assim sendo, os estudos científicos possibilitariam a problematização teórica de vários aspectos e situações, permitindo o desenvolvimento de uma visão crítica de pré-conceitos, crenças e representações dos profissionais sobre as famílias.

“As transformações nas famílias brasileiras, trazidas pelas modificações das condições de trabalho; pela redistribuição dos papéis de gênero, conjugais e parentais; pela indefinição, mudança e permanência de valores; pelo prolongamento da vida e pela existência de desigualdades sociais e étnicas, suscitam negociações nos novos estilos e arranjos familiares e nas redefinições de identidade”. (COELHO, SV. 2012. In: Atendimento Sistêmico de Famílias e Redes Sociais, p. 199).

A família é uma instituição social e podemos considerá-la como o lugar onde o indivíduo aprende a perceber o mundo e a se situar nele, em um processo individual e coletivo. A família possibilita a seus membros referências de proteção, afeto e autoridade, valores que lhes permitem reconhecerem-se como indivíduos no mundo, pertencentes a um determinado grupo, em momentos diferentes de sua trajetória pessoal. O projeto de socialização se dá na interação social. O indivíduo, diante dos costumes sociais, recebe e integra valores, transformando-se em um ser social, em qualquer situação familiar, visto que todos os humanos carecem de cuidados e de atenção para poderem sobreviver desde o seu nascimento. Somos frágeis e fortes, mas precisamos que alguém cuide de nossa subsistência nas fases iniciais da vida. A meta de todos nós é a autonomia, em que possamos fazer escolhas e responder por elas, interiorizando normas sociais e adquirindo consciência dos conceitos de justiça e de solidariedade. O processo de socialização revela formas de orientação social. As mudanças nas relações familiares levaram à revisão dos lugares do homem e da mulher, seja nas relações heterossexuais ou homoafetivas. Práticas novas e negociações se incorporam ao cotidiano das famílias, que

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buscam alternativas de vida diferenciadas das tradicionais. E novos significados vão sendo construídos sobre a parentalidade, ou seja, sobre o fenômeno de geração e educação dos filhos, sejam eles consanguíneos ou adotados. Na sociedade contemporânea, o desenvolvimento tecnocientífico sobre a reprodução humana vem produzindo diferentes modificações nas estruturas familiares: inseminação artificial, concepção in vitro, “barrigas” de aluguel, congelamento de óvulos são possibilidades de produzir uma nova vida, quando se quiser e puder. Consequentemente, alterações vêm ocorrendo na constituição das novas famílias pós-modernas. A modificação dos papéis tradicionais na família, pelo acesso e permanência da mulher no mercado de trabalho, no mundo público, pela liberação da sexualidade, desvinculou a reprodução do prazer, permitindo que a maternidade seja uma opção feminina. As mulheres “podem” ser mães, mas sua realização pessoal independe de pressões sociais. Estando a reprodução desligada da sexualidade e do amor no casamento ou em uma relação de “morar juntos”, independentemente do valor à família como projeto coletivo, ser mãe é uma opção entre as muitas às quais a mulher tem direito. E os homens também sofrem as transformações necessárias ao contexto do século XXI. A questão da paternidade está em mutação. Por exemplo, em casos de separação de um casal, os homens passaram a reivindicar direitos de igualdade em estar com os filhos, de passar mais tempo com eles, de conviver no cotidiano da família e de compartilhar a guarda e a educação. Paralelamente, pais omissos e ausentes continuam a existir, sobrecarregando as mulheres em suas funções na sociedade. Portanto, o terapeuta - que pretenda realizar o seu trabalho clínico utilizando-se de uma visão sistêmica – terá a extrema urgência de flexibilizar seus conhecimentos e suas atuações terapêuticas diante da grande diversidade de inúmeros conflitos e situações de dúvidas e incertezas de nossa sociedade contemporânea. A família e o terapeuta inserem-se em uma região, de um Estado, de um País, de um Continente e de múltiplas relações estabelecidas nas instituições sociais. O desafio de um posicionamento holístico neste mundo de rápidas mudanças e de perplexidades diárias é um

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estímulo para o terapeuta consciente de seu papel para facilitar a saúde da sociedade pós-moderna.

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CAPÍTULO III PENSAMENTO SISTÊMICO E PSICOLOGIA CLÍNICA

Até a década de 40, a prática da Psicologia Clínica orientava-se pela Psicanálise. A ideia fundamental era a de que o comportamento humano se determinava por forças intrapsíquicas. A partir da Segunda Guerra Mundial, ocorre uma maior união das famílias por necessidades de sobrevivência em tempos difíceis e a Psicanálise apresenta certas limitações no tratamento emocional dos indivíduos por não enfatizar os contextos ambientais. Dessa maneira, nas décadas de 50 e 60, a perspectiva sistêmica possibilita a mudança de foco das teorias clínicas do indivíduo para os sistemas psíquicos, ou seja, do intrapsíquico para o inter-relacional. Pensar sistemicamente, no entanto, não significa negar os fenômenos intrapsíquicos, mas compreender e trabalhar os fenômenos psíquicos de uma complexa rede de relações interpessoais. “A visão sistêmica constitui uma tentativa de compreender a influência recíproca entre as partes de um sistema (seus subsistemas) e entre sistemas e seu entorno”, segundo DEL PRETTE (2014, p. 25). Desde a década de 1920, ao iniciar sua carreira como biólogo em Viena, LUDWIG VON BERTALANFFY critica a predominância do enfoque mecanicista tanto na teoria quanto na pesquisa científica. A partir dos anos 30, o autor apresenta sua teoria do organismo considerado como sistema aberto: organismos vivos são sistemas abertos que não podem ser descritos pela termodinâmica clássica, que trata de sistemas fechados em estado de equilíbrio térmico ou próximo dele. Os sistemas abertos podem se alimentar de um contínuo fluxo de matéria e de energia extraídas e devolvidas ao meio ambiente. Portanto, mantêm-se afastados do equilíbrio quase estacionário, evidenciando-se um equilíbrio dinâmico (CAPRA, 2006). A Teoria Geral dos Sistemas abarca todas as áreas do conhecimento (Química, Física, Biologia, entre outras). A Teoria Sistêmica está mais relacionada à Psicologia. Porém, a questão é mais terminológica que conceitual. Em uma sociedade pós- guerra, as transformações nas estruturas familiares se acentuaram e a Teoria

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Sistêmica vai se tornando mais adequada à compreensão dinâmica das relações sociais e, consequentemente, possibilitando uma visão de mundo mais abrangente. Conforme TONDO (1998):

“(...) pode-se dizer que tudo começou quando alguns corajosos pioneiros ampliaram a visão sobre a doença mental. Eles se contrapunham à ênfase que focava unicamente o indivíduo como sendo aquele que desenvolve e mantém sua psicopatologia. Esta mudança propiciou o reforço da ideia de que o contexto também influencia de maneira significativa a formação do sujeito”. (p. 39).

Fundamental mencionar que compreendemos o conceito de família como “(...) um sistema ativo em constante transformação, ou seja, um organismo complexo que se altera com o passar do tempo para assegurar a continuidade e o crescimento psicossocial de seus membros componentes”. (ANDOLFI, 1984 apud CERVENY; BERTHOUD, 2002, p. 18). Portanto, as características e atributos da família estão de acordo com o contexto, que é dinâmico. Pensando a família a partir da Teoria Sistêmica, CERVENY (1994) diz que em uma dada família o comportamento de cada componente é interdependente de comportamento relacional dos outros membros. A família, nessa concepção, é capaz de desenvolver padrões e modelos próprios de expressões sociais. Cada membro familiar atribui a si mesmo um significado para suas interações e possui um modo singular de transmiti-lo no âmbito da família. E esse ”modo singular” está de acordo com o aprendido no contexto familiar. Podemos depreender que existe um sistema de interações. O que acontece no seio da família e aquilo que venha a ser expresso através de seus componentes é resultado desta realidade inter-relacional. Portanto, não é mais possível entender partes do todo como entidades isoladas ou exclusivas de processos intrapsíquicos e sim a partir de teias interacionais que se articulam no todo, como um sistema.

3.1. Pensamento Sistêmico e Psicologia

Em relação à Psicologia, o Pensamento Sistêmico pode ser utilizado para o embasamento teórico de pesquisas e na intervenção clínica com indivíduos,

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famílias e grupos sociais. A Terapia Sistêmica foca nas relações, compreendendo o indivíduo integrado ao seu contexto familiar e sociocultural, bem como realçando a complementaridade entre os seres humanos. O terapeuta pode ser considerado como um agente de mudança social para a qual contribui sua experiência pessoal, profissional e posicionamento político, implicando uma ética das relações, cujos traços mais significativos são a consciência e a autorreflexividade, nos dizeres de GERGEN (1998), e a consciência de que práticas e métodos terapêuticos não são ideologicamente neutros. A atuação do terapeuta contribui para a construção de certa forma de existência, legitimando um determinado conjunto de relações sociais e valorização pessoal. Por praticar uma abordagem relacional, o terapeuta sistêmico interage com o cliente – entendendo-se por cliente a família, o casal ou o cliente individual – numa postura de proximidade e sintonia. É essencial que o terapeuta tenha consciência de si mesmo e de como sua história pessoal e familiar interferem em seu modo de entender a realidade e de relacionar-se com ela. A terapia sistêmica baseia-se num processo integrado da pessoa do terapeuta e de suas habilidades técnicas. O terapeuta precisa voltar-se para o seu genograma examinando como seus modelos relacionais e o lugar que ocupou em sua família de origem interferem no posicionamento frente a cada família e a cada cliente que atende. O genograma é a representação gráfica da família. Nele estão demonstrados os diferentes membros da família, o padrão de relacionamento entre eles e as suas principais morbidades. Podem ser acrescentados dados como ocupação, hábitos, grau de escolaridade e dados relevantes da família, entre outros, de acordo com o objetivo do profissional. Enfim, é um diagrama que explicita a estrutura familiar. A demonstração gráfica da situação permite que o indivíduo reflita sobre a dinâmica familiar, os problemas mais comuns que a afligem e o enfrentamento do problema pelos membros da família. Na terceira edição do livro Genogramas. Avaliação e Intervenção Clínica, McGOLDRICK, M. et al (2011) refletem o uso crescente e disseminado dos genogramas para intervenção clínica e oferecem um método de referência para construir genogramas, realizando entrevistas e

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interpretando resultados. MONICA McGOLDRICK e seus colaboradores fornecem um valioso guia clínico para traçar com precisão a estrutura de uma família, o que facilita a identificação de possíveis problemas e a tomada de medidas proativas para utilizar recursos quando necessários. O genograma é uma maneira visual de organizar informações reunidas durante uma avaliação familiar e identificar padrões para um tratamento mais específico. BOWEN (1967), em Congresso realizado na Filadélfia, apresentou um trabalho a respeito da própria família de origem, surpreendendo a comunidade científica. Ele verificou que os terapeutas que tinham mais êxito na clínica eram os que haviam trabalhado as próprias famílias, pois se encontravam mais diferenciados das histórias das famílias dos clientes. Questiona-se a ideia de “saúde mental perfeita” do terapeuta, reconhecendo-se a importância de seus problemas emocionais não resolvidos em sua clínica cotidiana, principalmente quando pensamos na imprevisibilidade de nossos tempos atuais: a sociedade considerada pós-moderna mundial e brasileira, especificamente. Mudanças são processos, em geral, lentos. Uma visão sistêmica ou holística do mundo em que vivemos ainda é extremamente difícil. Um grande problema da sociedade pós-moderna é que ela se tornou tão complexa, abarrotada de tantas e diversas informações, que criou a necessidade de formar “especialistas”. Escolas formam especialistas, esquecendo-se do ser humano integral. De fato, será preciso nos concentrar em uma especialidade para não nos perdermos nas infinitas opções que existem na atualidade. Mas, mesmo tendo que ser “especialistas”, não se pode perder a noção do “todo”, do contexto em que estivermos inseridos. Afinal, existem diferentes visões sobre o mesmo assunto ou problema. Evitar generalizações, que redundem em um reducionismo de uma situação, tipo “político é tudo ladrão”, permitirá que se observem as particularidades, verificando as diferenças individuais e sociais. Nos dias atuais, alguns problemas são comuns a diversas pessoas, como doenças, desemprego e aposentadoria, dependendo do contexto socioeconômico. O mundo pós-moderno é mutável e, cada vez mais, é necessário considerar toda a complexidade da vida e do universo, em todas as áreas do conhecimento humano. Um pensamento holístico é não perder de

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vista os outros pontos de vista, pois toda realidade depende do ponto em que é vista. O foco da terapia sistêmica é possibilitar a autonomia do sujeito, despertar a consciência acerca das responsabilidades e das escolhas, e estimular a transformações de aspectos disfuncionais. Contudo, apesar das idiossincrasias de cada terapeuta em seu particular setting, alguns aspectos são comuns para efetivar um trabalho consciente: a crença de que toda mudança só pode se dar a partir da própria pessoa e da sua organização sistêmica social; a importância da autorreflexão e da automudança, sendo o cliente protagonista de sua história, sentindo-se competente para a ação; a consciência de que o terapeuta co-constrói o sistema terapêutico; a mobilização dos recursos da família, da comunidade, das redes de pertencimento, legitimando o saber local de pessoas e de contextos; a crença de que o diálogo, definido como um cruzamento de perspectivas, é uma prática transformadora para todos os nele envolvidos, independentemente do lugar de terapeuta e de cliente. A terapia é uma prática social transformadora, a ser entendida a partir dos contextos locais e das histórias culturais de suas distintas comunidades linguísticas. A História tem ilustrado que, como parte dos sistemas de saúde mental, as práticas terapêuticas – em geral – têm veiculado os discursos dominantes com seus respectivos padrões morais a serviço de manter o status quo. Muitas vezes, o trabalho do terapeuta está relacionado a serviço do controle e da normatização dos sistemas e instituições, esquecendo-se a mudança social. Em um país como o Brasil, um enorme território com grande miscigenação cultural, étnica, religiosa e social, cabe aos terapeutas verificar a complexidade dos contextos da sociedade. Os modelos tradicionais de família não foram extintos e, em um mesmo contexto, podem coexistir inúmeros modelos familiares, arcaicos e contemporâneos. Os desafios que se apresentam para o terapeuta, no campo da saúde mental e das instituições voltadas para o cuidado e tratamento da pessoa, dentro de uma perspectiva pós-moderna, propiciam a reflexão para uma humildade na construção do conhecimento, sem egos extremados e soluções pré-estabelecidas, e conduzem para a transdisciplinaridade de trocas colaborativas entre os domínios do saber e a construção de um terapeuta

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engajado em seu tempo e sua história e comprometido com os macros contextos políticos e sociais que afetam a vida das pessoas e as fazem procurar uma terapia. Sendo o mesmo contexto social em que o terapeuta vive, a reflexividade da terapia sistêmica para a sociedade pós-moderna, desafia o terapeuta a explicitar seus pré-juízos, seus valores, suas opções ideológicas, quer dizer, os limites da sua subjetividade que estabelece os parâmetros da clínica que pratica. A realidade e o conceito do que é verdade dependem do contexto do observador. O terapeuta que pensa sistematicamente, apesar de sua formação e de sua experiência profissional, legitimará a verdade do outro e, conversando, possibilitará emergir uma realidade pela qual terapeuta e cliente serão responsáveis. Alternativas de comportamento serão analisadas para uma mudança existencial e melhor convivência com uma vida em constante e rápida transformação. Rótulos e julgamentos serão evitados, principalmente levando-se em conta as diversas estruturações da família pós-moderna, pois novos modelos surgiram na sociedade contemporânea, tais como famílias monoparentais, famílias homoparentais, famílias recasadas com filhos apenas de um dos cônjuges, ou de ambos e famílias com apenas um indivíduo divorciado. “(...) as famílias desenvolvem uma estrutura característica, um padrão bem definido e repetitivo de papéis e regras, dentro dos quais os seus membros funcionam. Os valores e normas familiares são derivados das experiências de crescimento dos pais, em suas famílias de origem, dos derivativos internalizados dessas experiências, da influência atual da sociedade na qual estão vivendo e de suas histórias desde que se uniram para criar uma nova família”. (WERLANG, 2000, p. 141).

Toda família transmite um modelo, mesmo aquelas que cuidam para não o fazer, e assim certos modelos podem passar a geração seguinte ou até pular uma geração, construindo-se subjetivamente padrões de comportamento e acordos explícitos e implícitos que fazem parte da história da família e se mantém por meio do uso. Segredos familiares são sustentados, muitas vezes acontecimentos desagradáveis que foram mantidos como segredos, tornando-

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se algo característico do grupo familiar. O reenquadre de mágoas e de sentimentos infantis, a reformulação da ira e das imagens negativas, a revisão das expectativas irrealistas, o libertar-se do aprisionamento a lealdades invisíveis e a possibilidade do perdão, são alguns dos objetivos da terapia sistêmica. A meta é liberar o indivíduo de seus aprisionamentos passados, para que deixe de reagir à sua história e passe a agir dentro de uma proposta relacional atualizada e pessoal com sua família de origem e com sua vida. Através da compreensão intergeracional, o cliente alcança maior integridade, que se traduz por vínculos mais saudáveis com cônjuges e filhos, interrompendo a repetição de condutas que o convertem em vítima de sua história e de si mesmo. Ver a própria família com outros olhos, rever regras, entraves e riquezas, facilita renunciar às delegações que ela transmitiu a cada um de seus membros, favorecendo que a nova geração esteja liberada de repetir comportamentos destrutivos. O crescimento e o aprendizado da família pós-moderna, de acordo com a visão sistêmica, amadurecem através do ciclo vital, que são fases, em que crises previsíveis podem ocorrer, tais como: a decisão de tornar-se um casal, ter ou adotar um filho ou não ter nenhum filho, o segundo e outros filhos, escola, adolescência e saída dos filhos da casa familiar divórcios, novos casamentos e diversas alternativas de constituição de família. A família pós- moderna funciona como organismo vivo e as prováveis crises podem ser detectadas pelo estudo do genograma. As estratégias de registros são fundamentais nas terapias familiares sistêmicas, principalmente em famílias extensas, e têm por finalidade compreender até a terceira geração acima, para o terapeuta reconhecer as interferências diretas no sistema familiar. O genograma é de grande importância para a compreensão dos membros familiares, possibilitando – através de símbolos significativos – a compreensão de como cada relação de um subsistema funciona dentro do sistema familiar extenso. Mesmo em casos de famílias reduzidas, em suas grandes variações na sociedade pós-moderna, as relações interpessoais pressupõem algumas leis implícitas que favoreçam a comunicação harmoniosa na família. E o terapeuta necessitará ter consciência dos processos de construção e de

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desconstrução na família que se propõe a auxiliar através do tratamento sistêmico. Afinal, concordamos com VASCONCELLOS, MJE de (2012, p. 92):

“Ver sistematicamente o mundo é ver e pensar a complexidade do mundo. É ver e pensar as relações existentes em todos os níveis da natureza e buscar sempre a compreensão dos acontecimentos – sejam físicos, biológicos ou sociais – em relação aos contextos em que ocorrem. É reconhecer a complexidade organizada do universo”.

O conhecimento psicológico, na atualidade, propõe novas vertentes para o estudo das relações interpessoais, tais como: a Teoria das Inteligências Múltiplas, de GARDNER, H. (1995), ao apresentar a existência de vários tipos de inteligência, e a Teoria da Inteligência Emocional, de GOLEMAN, D (1995), em que o autor enfatiza as questões inerentes ao sentimento e à emoção em suas ligações com a cognição e o comportamento. Tais estudos configuram- se de extrema importância no auxílio às dificuldades familiares por valorizar as possibilidades de competências específicas a um indivíduo, sem a “obrigação” de ser perfeito em todas as situações e sem a pressão da sociedade para o sucesso. Competência social, habilidades sociais e resiliência – reação adaptativa a fatores de risco no sentido de superar as adversidades encontradas, tanto do ponto de vista biológico como psicológico – expressam- se através de escolhas adequadas à capacidade de cada pessoa, à sua inteligência emocional. Interações sociais têm sido compreendidas como fator de desenvolvimento cognitivo e do desenvolvimento socioemocional dos indivíduos.

3.2. Contexto brasileiro

O Brasil é um país enorme, com dificuldades econômicas e áreas de pobreza extrema. O terapeuta de família, principalmente em uma visão sistêmica, precisa de muita criatividade e de muito estudo para dar conta da diversidade de valores e diferentes modos de organização que o país possui

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em função de sua área geográfica e de sua situação socioeconômica. Saúde e Educação são campos de trabalho que carecem de incentivos financeiros e de financiamentos para pesquisas. O terapeuta necessita adaptar seus conhecimentos às nossas realidades sociais e oferecer um tratamento clínico às famílias que possuem grandes diferenças em suas necessidades e características. Um enorme desafio é atuar considerando a família em dependência e/ou vinculação com sistemas mais amplos da sociedade brasileira, como leis jurídicas de proteção à infância, à mulher e ao idoso, e uma educação e recursos para manutenção da saúde que respeitem às condições de cada indivíduo em seu contexto familiar.

“No contexto da terapia de casal, os terapeutas que trabalham para “eliminar uma patologia”, fazem-no de modo muito diferente daqueles que agem segundo o princípio - vamos acrescentar o que vocês precisam para viver bem”. (SATIR, Virginia, 1995, p. 37).

A pobreza estrutural causa exclusão, pois fragiliza as redes de afeto e de sociabilidade, corrói os valores culturais, fragiliza o grupo familiar e as subjetividades de seus membros, provocando privação e dificuldade de acesso aos bens e serviços sociais. É verdade que pais negligentes são encontrados em qualquer classe social, mas a situação de pobreza promove vulnerabilidade nas famílias, sujeitando-as às instabilidades psicossociais de seus membros bem como às do sistema social, tornando mais visíveis suas dificuldades. A família necessita, para melhor desempenho de suas funções afetivas e de referência de pertencimento, da participação de outras instituições no processo de socialização de seus membros, dividindo entre o Estado brasileiro e a sociedade a responsabilidade pelo bem-estar social. É nesse contexto que o terapeuta precisa compreender a realidade das famílias pobres, articulando variáveis econômicas, sociais e culturais como o momento do ciclo de vida familiar e as condições de sobrevivência às quais estão submetidas a fim de garantir os direitos civis de dignidade humana. Na opinião de COELHO, Sônia Vieira (In: AUN, JG. 2012):

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“As transformações nas famílias brasileiras, trazidas pelas modificações das condições de trabalho; pela redistribuição dos papéis de gênero, conjugais e parentais; pela indefinição, mudança e permanência de valores; pelo prolongamento da vida e pela existência de desigualdades sociais e étnicas, suscitam negociações nos novos estilos e arranjos familiares e nas redefinições de identidade”. (p. 199).

Em síntese, um sistema pode ser entendido como uma combinação ordenada de partes que interagem. A visão sistêmica constitui uma tentativa de compreender a influência recíproca entre as partes de um sistema, seus subsistemas, e entre sistemas e seu entorno. A decomposição de um sistema em subsistemas ou a recomposição destes em sistemas mais amplos depende da perspectiva de investigação do observador, no caso, o terapeuta. A família, como grupo humano, caracteriza-se pela união, por laços de afeto e referência de pertencimento. Avaliar a família exige a inclusão dela em uma rede social que possa oferecer recursos para a sobrevivência digna dos membros familiares. Família, Estado e sociedade são corresponsáveis pelo direito à convivência familiar e comunitária. Nesse processo coparticipativo, é preciso uma oferta de serviços de apoio à família, mediante políticas sociais, para que ela tenha condições de exercer suas funções privadas e participar da rede social. Infelizmente, no Brasil, e – no caso – no Rio de Janeiro, há famílias excluídas da apropriação da riqueza gerada e desassistidas pelos órgãos públicos. O terapeuta terá o desafio de exercer sua profissão no contexto social em que estiver inserido, procurando facilitar o direito à vida e à dignidade humana, na busca pelo exercício da cidadania na sociedade brasileira. Poderemos, agora, sugerir algumas estratégias para a prática clínica de uma visão sistêmica na terapia familiar no contexto social carioca, neste início de século XXI. As propostas de trabalho de DEL PRETTE, A. e DEL PRETTE, ZAP (2014) são pertinentes ao desenvolvimento de habilidades sociais necessárias ao desempenho adequado ás solicitações cotidianas do mundo pós-moderno. Decodificar sinais sociais, explícitos ou sutis, ter a capacidade de selecioná-los

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e aperfeiçoá-los e decidir se irá interagir em uma determinada demanda de situações sociais, avaliando nossa competência para isso, são exemplos de habilidades constantemente utilizadas em qualquer ambiente social. “O termo demanda pode ser compreendido como ocasião ou oportunidade diante da qual se espera um determinado desempenho social em relação a uma ou mais pessoas”. (DEL PRETTE, A. et al. 2014, p. 45). Nem sempre conseguiremos identificar os sinais para produzirmos respostas satisfatórias. O sentimento de inadequação pode provocar angústias ou ansiedades que prejudiquem a saúde física e psicológica do indivíduo. A vida familiar se estrutura sobre diversos tipos de relações (marido- mulher, pais-filhos, irmãos-parentes, amigos-colegas de trabalho e de estudo, enfim, diferentes pessoas em infinitas redes de relacionamento que interem nos afetos familiares) com ampla diversidade de demandas interpessoais. DEL PRETTE, A. (2014) esclarece que o desempenho de habilidades sociais para lidar com tais demandas pode ser fonte de satisfação ou de conflitos no ambiente familiar. Em razão da inevitabilidade de conflitos, a forma de abordá- los e de resolvê-los dependerá da competência social dos envolvidos, ou seja, da inteligência emocional de cada indivíduo. E habilidades sociais podem ser vivenciadas e desenvolvidas no setting terapêutico.

“Vivência pode ser entendida, então, como uma atividade, estruturada de modo análogo ou simbólico a situações cotidianas de interação social dos participantes, que mobiliza sentimentos, pensamentos e ações, com o objetivo de suprir déficits e maximizar habilidades sociais em programas de THS (Treinamento de Habilidades Sociais) em grupo”. (DEL PRETTE, A. et al. 2014, p. 106).

As vivências devem, portanto, tanto pelo conteúdo quanto pela forma, propiciar experiências pessoais significativas que articulem demandas cognitivas, emocionais e comportamentais, criando oportunidades de observação, descrição e feedback por parte do terapeuta e dos demais participantes. As principais habilidades sociais a serem vivenciadas podem ser

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distintas em três estágios de desenvolvimento com objetivos diferenciados: inicial, intermediário e final. No período inicial, as habilidades de processo, imprescindíveis para a constituição do grupo terapêutico, são: observar e descrever comportamentos, prover feedback positivo, elogiar, fazer/responder perguntas e desenvolver sentimentos positivos em relação aos demais participantes. Na etapa intermediária, novas habilidades serão aprendidas: dar feedback, fazer leitura do ambiente e automonitorar seu desempenho. É o momento de observar dificuldades, expondo problemas pessoais específicos e treinando habilidades deficitárias. Na fase final, consideraremos habilidades mais complexas, como as de enfrentamento, falar em público, lidar com críticas, coordenar grupos, resolver problemas, tomar decisões e expressar empatia. O detalhamento das vivências para atingir os objetivos acima mencionados pode ser encontrado em DEL PRETTE, A. et al., 2014, a partir da página 116 até a página 204, de Psicologia das relações interpessoais. Vivências para o trabalho de grupo. O desenvolvimento das relações entre as pessoas pode ser estabelecido como meta para a efetivação do pensamento sistêmico no trabalho clínico com as famílias pós-modernas. Uma nova visão de mundo, um paradigma dinâmico e flexível, implica em novos relacionamentos entre as pessoas, evitando julgamentos e preconceitos na análise das dificuldades familiares. Cabe ao terapeuta buscar conhecimento e estratégias de facilitação para efetivar a saúde física e psicológica das famílias e do próprio terapeuta em sua família específica.

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CONCLUSÃO

Simples assim: tudo o que ocorre interfere em tudo, nada é isolado, não há ilhas desertas e nem paraísos tropicais. Construímos o nosso caminho e fazemos escolhas que irão determinar nossa existência. Grande parte de nossa vida ocorre nas interações com outros indivíduos. A busca de novos padrões relacionais constitui um empreendimento atual das ciências. A Psicologia, cujo objeto de estudo é o homem em suas relações com outros homens e o ambiente físico, compreende que o homem está em constante aprendizagem e necessita se adaptar a condições favoráveis à sua sobrevivência ou procurando alterá-las quando desfavoráveis. A sobrevivência está associada à relação com o outro, a começar pela procriação – a perpetuação da espécie – seguida pela tarefa de cuidar da prole e prepará-la para a vida: função da família, com qualquer constituição e em qualquer época. O psicoterapeuta tem a função de auxiliar o indivíduo em seu processo de crescimento emocional. A terapia familiar é extremamente necessária neste tempo histórico em que as famílias passam por mudanças em sua formação e em sua convivência. As informações científicas são rápidas e o tempo urge e ruge, mas mudanças são difíceis e, até, dolorosas. Todos querem viver bem, nascemos para a felicidade. Nem sempre conseguimos nos sentir como membros pertencentes a um grupo familiar, que apoie e assegure o afeto que precisamos para superar nossas dificuldades. Viver tem o significado de preservar e de modificar. Conviver – viver com – é um processo de agregação de todos os seres vivos. O planeta Terra é um sistema composto de subsistemas e inserido em outros sistemas e subsistemas. A visão sistêmica no trabalho clínico do psicoterapeuta possibilita uma maior compreensão dos problemas individuais e familiares daqueles que procuram o setting terapêutico. Terapeuta e cliente estabelecem uma relação de confiança e interação para o desenvolvimento de habilidades sociais mais saudáveis e criativas. Homens e mulheres estão reconstruindo os seus papéis na formação das famílias: mulheres que saem de casa para o trabalho, homens que ficam em casa e cuidam dos filhos, relações homoafetivas,

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divórcios e novos casamentos, adoção de crianças e opção por não ter filhos, são muitas as opções de famílias consideradas pós-modernas. O Brasil possui um imenso território. Há famílias diversas e sentimentos inúmeros na vida dessas famílias. Podemos encontrar, em um mesmo contexto social, diferentes composições familiares. O terapeuta sistêmico considera que não existe nenhum critério objetivo para validar experiências de mundo, que serão sempre subjetivas. Assim sendo, estimula a expressão de opiniões pessoais e divergentes, numa atitude de respeito pelo outro e por suas diferenças. Atua eticamente, assumindo responsabilidade social. Compreende o contexto brasileiro, procurando auxiliar o cliente a superar dificuldades, sem rotular a pessoa humana e sem estabelecer metas a partir de sua própria visão de mundo: o caminho se constrói ao caminhar, terapeuta e cliente, na construção de mais adequadas habilidades sociais para uma vida saudável no construir de uma sociedade dinâmica e flexível. O profissional, que possui uma visão sistêmica, acredita que qualquer problema se localiza nas relações e que os recursos para a solução advêm dessas mesmas relações, ou seja, da existência de vínculos afetivo-sociais entre os membros do sistema e dos subsistemas. Como foi dito: simples assim. Mas muito complexo. Como a vida.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTO 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I 10 FAMÍLIAS: 1.1. Tradicional. 1.1.1. Família Monogâmica. 1.2. Moderna. 1.3. Pós-moderna.

CAPÍTULO II 21 PENSAMENTO SISTÊMICO: 2.1. Antecessores da teoria sistêmica. 2.2. Paradigma sistêmico. 2.3. Paradigma sistêmico e famílias pós-modernas.

CAPÍTULO III 33 PENSAMENTO SISTÊMICO E PSICOLOGIA CLÍNICA 3.1. Pensamento sistêmicos e Psicologia. 3.2. Contexto brasileiro.

CONCLUSÃO 45

BIBLIOGRAFIA 47

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ÍNDICE 50 ANEXOS 52

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ANEXOS

Anexo 1 - Gráfico de genograma;

Anexo 2 – Filmes e séries que abordam diferentes famílias.

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ANEXO 1 GRÁFICO DE GENOGRAMA

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https://www.google.com.br/search?q=imagens+de+genograma&tbm=isch &tbo=u&source=univ&sa=X&ved=0ahUKEwi6qaWmkI7LAhVEVhoKHfoTA 5UQ7AkIMQ&biw=1280&bih=699

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ANEXO 2 FILMES E SÉRIES QUE ABORDAM DIFERENTES FAMÍLIAS Filme Os Simpsons: o Filme, uma família tradicional, mas “esquisita”, em um mundo contemporâneo. https://pt.wikipedia.org/wiki/Homer_Simpson Os Simpsons: o Filme The Simpsons Movie (no Brasil, Os Simpsons: o Filme; em Portugal, Os Simpson: o Filme) é um filme cômico de animação norte-americano de 2007, da série de televisão Os Simpsons. O filme foi dirigido por David Silverman e os personagens deste foram dublados pelos atores originais da série: Dan Castellaneta, Julie Kavner, Nancy Cartwright, Yeardley Smith, Hank Azaria, Harry Shearer, Tress MacNeille e Pamela Hayden.

Caracterizando Albert Brooks como Russ Cargill, o malvado chefe da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, que tem a intenção de destruir Springfield depois que Homer poluiu o lago da cidade. As pessoas de Springfield acabam exiladas, assim como a família Simpson, e Homer trabalha no sentido de desfazer o seu erro, impedindo o plano de Cargill.

As tentativas anteriores de criar uma versão do filme Os Simpsons fracassaram devido à falta de um script de duração adequada e à equipe apropriada de produção. Eventualmente, os produtores James L. Brooks, Matt Groening, Al Jean, Mike Scully e Richard Sakai iniciaram o desenvolvimento do filme em 2001. Uma equipe de escritores constituída por Scully, Jean, Brooks, Groening, George Meyer, David Mirkin, Mike Reiss, John Swartzwelder, Jon Vitti, Ian Maxtone-Graham e Matt Selman foi montada. Eles criaram inúmeras histórias, com Groening desenvolvendo uma a uma para o filme. O script foi re-escrito mais de uma centena de vezes, a criatividade e a animação continuaram após terem iniciado em 2006. Isto significou horas de material acabado cortado do filme, que incluiu papéis cameo de Erin Brockovich, Minnie Driver, Isla Fisher, Kelsey Grammer e Edward Norton. Tom Hanks e Green Day no desenrolar da história como eles mesmos.

Várias promoções foram feitas com várias empresas, incluindo o Burger King e 7- Eleven, que os transformou em lojas selecionadas Kwik-E-Mart. O filme estreou em Springfield, Vermont, que havia ganho o direito de realizá-la através de um concurso organizado pela Fox. O filme foi um sucesso bilheteria, arrecadando a bagatela de US$ 526 milhões e recebeu avaliações positivas generalizadas. Enredo

A banda estadunidense Green Day participa de uma apresentação no Lago Springfield. Nela, a banda falha em convencer a plateia a escutar considerações a respeito do meio

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ambiente e seus integrantes terminam por falecer quando a poluição presente no lago corrói e afunda a barcaça na qual se apresentavam. Durante o funeral, Vovô Simpson tem uma visão de uma grande catástrofe a acontecer, mas apenas Marge lhe dá ouvidos. Segundo o personagem: "Uma criatura de mil olhos, rabinho encaracolado e dentes de fera trará o terror a Springfield. Cuidado: Springfield!". Lisa e um garoto irlandês chamado Colin apresentam um seminário intitulado "Uma Verdade Irritante", com o qual eles conseguem convencer a cidade a limpar o lago.

Enquanto isto, Homer e Bart desafiam um ao outro a realizarem feitos audaciosos até que Homer desafia Bart a ir pelado de skate até o Krusty Burger, onde ele é pego pelo Chefe Wiggum. Ned Flanders conforta Bart após esta humilhação, mas Homer o ignora, e acaba adotando um porco que era usado nas filmagens de um comercial na lanchonete. Homer mantém os dejetos do porco em um silo transbordando (Homer ajudou a enchê- lo), o que deixa Marge horrorizada, e ela pede para Homer se livrar dele com cuidado. Enquanto espera na fila do lixão, Homer decide se livrar logo do silo no lago para poder ir a uma distribuição grátis de rosquinhas, poluindo o lago severamente. Momentos depois, um esquilo pula no lago, e sofre uma mutação, sendo descoberto por Flanders e Bart fazendo uma caminhada e logo em seguida capturado pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA, a APA.

Russ Cargill, chefe da APA, diz ao Presidente Schwarzenegger que Springfield é o local mais poluído da América e que o governo precisa tomar uma providência. Como resultado da escolha aleatória de Schwarzenegger por um plano de ação, a APA coloca uma cúpula gigante de um material quase inquebrável em cima de Springfield.

A polícia descobre o silo de Homer no lago, e uma furiosa multidão se aproxima da casa dos Simpsons, tentando colocá-los na forca. A família escapa por um buraco no chão, que acaba expandindo e sugando a casa inteira. Enquanto fogem, Homer decide levar a família para o Alasca. Vendo que a população de Springfield está ficando enlouquecida, Cargill manipula o Presidente em decidir destruir a cidade. Os Simpsons aproveitam sua nova vida no Alasca, mas após verem um comercial apresentado por Tom Hanks anunciando um novo Grand Canyon na atual locação de Springfield, Marge e as crianças decidem que eles precisam ir salvar a cidade.

Homer se recusa a ir junto, devido a população da cidade ter tentado o matar. Ele vai a um bar e descobre depois que Marge e as crianças o abandonaram e foram ajudar a cidade. Após receber a visita de uma Xamã, Homer tem uma visão e percebe que não pode sobreviver sem companhia e ele precisa salvar Springfield e sua família.

Enquanto isto, Marge, Lisa, Maggie e Bart são capturados por Cargill e retornados para Springfield. Cargill aparece e diz ao povo da cidade que esta será destruída. Um helicóptero chega e abre um buraco no topo do domo, descendo uma bomba. Homer sobe no topo da cúpula e desce, derrubando as pessoas que estavam tentando deixar a cidade pela corda. Com uma motocicleta, Homer pega Bart e gira pelo domo. Bart consegue jogar a bomba para fora do domo pelo buraco, e a detonação destrói a cúpula. Ao aterrissarem no solo, Homer e Bart são surpreendidos por Cargill armado com um rifle, Mas antes de atirar, ele é golpeado e atordoado por Maggie. A cidade saúda

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Homer, que viaja ao entardecer com Marge. O filme termina com todos reconstruindo Springfield, incluindo a casa dos Simpsons, como tudo era antes.

The Simpsons Movie Os Simpsons: O Filme (PT/BR)

Estados Unidos 2007 • cor • 83 min Direção David Silverman Produção James L. Brooks Matt Groening Al Jean Mike Scully Richard Sakai Roteiro James L. Brooks Matt Groening Al Jean Ian Maxtone-Grahan George Meyer David Mirkin Mike Reiss Mike Scully Matt Selman John Swartzwelder Jon Vitti Elenco Dan Castellaneta Julie Kavner Nancy Cartwright Yeardley Smith Hank Azaria Harry Shearer

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Albert Brooks Tress MacNeille Gênero Animação Aventura Comédia Música Hans Zimmer Tema Por: Danny Elfman Edição John Carnochan

Distribuição 20th Century Fox Lançamento 26 de Julho de 2007 27 de Julho de 2007 17 de Agosto de 2007

Idioma Inglês Orçamento US$ 75 milhões Receita US$ 527.071.022 Site oficial Página no IMDb (em inglês)

Um filme brasileiro que apresenta a relação monoparental (família moderna). www.adorocinema.com/filmes/filme - 231230/#

Que Horas Ela Volta?

Lançamento 27 de agosto de 2015 (1h51min) Dirigido por Anna Muylaert Com Regina Casé, Camila Márdila, Michel Joelsas mais

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Gênero Drama Nacionalidade Brasil

AdoroCinema

Sinopse e detalhes Não recomendado para menores de 12 anos.

A pernambucana Val (Regina Casé) se mudou para São Paulo a fim de dar melhores condições de vida para sua filha Jéssica. Com muito receio, ela deixou a menina no interior de Pernambuco para ser babá de Fabinho, morando integralmente na casa de seus patrões. Treze anos depois, quando o menino (Michel Joelsas) vai prestar vestibular, Jéssica (Camila Márdila) lhe telefona, pedindo ajuda para ir à São Paulo, no intuito de prestar a mesma prova. Os chefes de Val recebem a menina de braços abertos, só que quando ela deixa de seguir certo protocolo, circulando livremente, como não deveria, a situação se complica. PANDORA

Distribuidor Curiosidades 2 curiosidades

FILMES Bilheterias 454.717

Ano de produção 2015

Brasil ingressos Data de lançamento em - Orçamento - VOD

Uma série da Netflix, que apresenta uma família pós-moderna. https://pt.wikipedia,org/wiki/Modern_Family Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Modern Family (no Brasil, Família Moderna e em Portugal, Uma Família Muito Moderna) é uma série de TV de comédia americana . A série tem duração em média de 22 minutos cada episódio. Criada por Christopher Lloyd e , é produzido pela ABC. Em 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014, ganhou o Emmy de Melhor Série de Comédia, assim como outros 14 Emmys.

A série segue as famílias de Jay Pritchett (Ed O'Neill), sua filha Claire Dunphy (Julie Bowen), e seu filho Mitchell Pritchett (Jesse Tyler Ferguson) que vivem em Los Angeles. Claire é uma mãe e dona de casa casada com Phil Dunphy () e o casal têm três filhos. Jay é casado com uma mulher colombiana muito mais jovem que ele chamada Gloria (Sofía Vergara), que é ajudada por Jay a criar seu filho pré- adolescente, Manny (Rico Rodriguez). Mitchell é casado com Cameron Tucker (Eric

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Stonestreet), e eles adotaram uma bebê vietnamita chamada Lily. A série estreou na ABC em 23 de setembro de 2009 sendo aclamada pela crítica.

Seu episódio piloto foi visto por 12,61 milhões de telespectadores. Logo após, a série foi confirmada para ter uma temporada completa em 8 de outubro de 2009. Em 12 de janeiro de 2010, Modern Family foi renovada para uma segunda temporada. Os direitos da série também foram vendidos para USA Network. Os produtores teriam vendido os direitos da série por cerca de $1,5 milhão cada episódio.

Dia 26 de Setembro de 2012, a quarta temporada da série começou a ser exibida. Sinopse

A série foca-se nos relacionamentos entre uma família liderada por Jay Pritchett (Ed O'Neil), que após divorciar-se, casou-se com a jovem colombiana Gloria Delgado (Sofia Vergara), mãe do pré-adolescente Manny Delgado (Rico Rodriguez). O pai da família tem dificuldade em adaptar sua família à chegada de novas pessoas. Enquanto isso, Gloria lida com o machismo, a xenofobia e lidar com a adolescência do filho, o atípico Manny. Enquanto Luke (Nolan Gould), Alex (Ariel Winter) e Haley (Sarah Hyland) se preocupam com questões típicas da juventude, Delgado é um menino romântico, poético e intelectual. A filha de Jay, Claire Dunphy (Julie Bowen) e o esposo que o pai detesta, Phil (Ty Burrell), pais de Haley, Alex e Luke preocupam-se com o stress cotidiano, com a escola, o trabalho e a rebeldia e o filho Mitchell (Jesse Tyler), casado com seu marido Cameron () vivem situações humorísticas diariamente. A série aborda diversos pontos das famílias atuais, como a homossexualidade, a adoção e o divórcio.

Produção Concepção Lloyd e Levitan sempre contavam um para o outro as histórias sobre suas famílias, foi então que ocorreu-lhes que isso poderia ser a base para um show de TV. Eles começaram a trabalhar na ideia de uma família num estilo de Pseudodocumentário. Mais tarde, eles decidiram que poderia ser uma história sobre três famílias e as suas experiências. A série foi originalmente chamada de "My American Family". Os criadores levaram a ideia para três das quatro grandes redes (Eles não mostraram a ideia da série para a Fox por causa de problemas que Lloyd teve com a rede sobre sua antiga série "Back to You"). A CBS não aceitou o projeto pelo estilo de filmagem ser Found Footage. A NBC, já tendo dois shows com um formato Pseudodocumentário (The Office e Parks and Recreation) decidiu não aceitar temendo que as séries já em exibição perdessem audiência. A ABC aceitou o projeto e assinou contrato para uma temporada inteira. Captura A série tornou-se rapidamente uma prioridade para a ABC, após o episódio piloto ter tido grande audiência, a rede encomendou mais 16 episódios para adicioná-los logo

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após o hiato de 2009-2010 e anunciaram oficialmente no calendário oficial da rede. A série foi logo renovada para uma temporada completa em 8 de outubro de 2009. Em 12 de janeiro de 2010, o presidente da ABC Entertainment Stephen McPherson anunciou que Modern Family havia sido renovada para uma segunda temporada. A terceira temporada foi encomendada pela ABC dia 10 de janeiro de 2011. A série também foi comprada para ser distribuída pelos EUA durante a primeira temporada por 1,5 milhões de dólares e para 10 afiliadas da Fox durante a segunda temporada. A série vai ao ar no Reino Unido e Irlanda através do canal Sky1. Filmagens As filmagens principais acontece em Los Angeles, Califórnia. os Criadores, Christopher Lloyd e Steven Levitan, cujos créditos incluem tanto o , Wings e Just Shoot Me são os produtores executivos da série, servindo como escritores principais sob o rótulo Lloyd-Levitan Productions em associação com a Twentieth Century Fox Television. Os outros produtores da equipe são Paul Corrigan, Sameer Gardezi, Joe Lawson, Dan O'Shannon, Brad Walsh, Caroline Williams, Bill Wrubel, Danny Zuker e Jeff Morton. A primeira equipe de diretores incluem Jason Winer, , Randall Einhorn e Chris Koch. Jason Winer já dirigiu 19 episódios da série, fazendo dele o mais prolífico diretor da série. Processo Como resultado do sucesso da série, o elenco tentou, no verão de 2012 renegociar seus contratos existentes para obter maiores porcentagens em seus salários por episódios. No entanto, as negociações fracassaram e a primeira leitura de mesa da quarta temporada teve de ser adiada. Cinco dos membros do elenco (Ty Burrell, Julie Bowen, Jesse Tyler Ferguson, Eric Stonestreet e Sofia Vergara) contrataram o escritório de advocacia Quinn Emanuel Urquhart & Sullivan e processaram a 20th Century Fox Television no Superior Tribunal em Los Angeles dia 24 de julho de 2012.

Embora não faça parte do processo, Ed O'Neill (que recebe mais por episódio do que os outros cinco) se juntou a seus colegas de elenco em busca de aumentos para cada um, cerca de US $ 200.000 por episódio. Sua queixa apelou para a "regra de sete anos" que está vigente no Código de Trabalho da Califórnia, Seção 2855, pois, o contrato dos atores é para nove temporadas que corresponde a nove anos e solicitou uma declaração de que seus contratos eram nulos, porque tal como foi redigido, os contratos violavam essa regra.

Embora o processo ainda esteja pendente, os artistas concordaram em continuar com a série e voltaram a trabalhar nela dia 26 de julho de 2012, com a condição de que os produtores renegociem seus contratos de boa-fé.

Elenco e Personagens

O espetáculo gira em torno de três famílias que são interligadas através de Jay Prichett e seus filhos, Claire e Mitchell. Jay Prichett (Ed O'Neill), o patriarca, é casado com uma

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mulher muito mais jovem, Gloria (Sofía Vergara), uma apaixonada mãe, que, sempre apoia o filho dela, Manny (Rico Rodriguez). Claire (Julie Bowen) é uma dona de casa e mãe que se casou com Phil (Ty Burrell), um agente imobiliário e autoproclamado "pai legal". Eles têm três filhos: Haley (Sarah Hyland), a adolescente estereotipada, Alex (Ariel Winter), a filha do meio inteligente e Luke (Nolan Gould), o filho mais novo. Mitchell (Jesse Tyler Ferguson), um advogado, e seu parceiro Cameron (Eric Stonestreet) adotaram uma bebê vietnamita, Lily (Aubrey Anderson-Emmons). Na primeira temporada, o salário do elenco adulto variou entre US $ 30.000 e US $ 90.000 por episódio.

A série também teve vários personagens recorrentes. Reid Ewing apareceu em vários episódios como o namorado de Haley, Dylan. Fred Willard estrelou como o pai de Phil, Frank Dunphy, e mais tarde foi indicado como 62 Primetime para Melhor Ator Convidado em Série de Comédia, mas perdeu para Neil Patrick Harris e seu desempenho em Glee. Shelley Long apareceu em ambas as temporadas como a ex- mulher de Jay e mãe biológica de Claire e Mitchell, DeDe Pritchett. Nathan Lane apareceu duas vezes durante a segunda temporada como amigo de Cameron e um colega de Mitchell, Pepper Saltzman.

Também aparece em alguns episódios o cão de Jay e Gloria, Stella. Stella foi interpretada por , mas agora está sendo interpretada por Beatrice.