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Ministério Da Educação Secretaria De Educação

Ministério Da Educação Secretaria De Educação

IPP439

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR Public Disclosure Authorized

Plano dos Povos Indígenas

PROJETO DE REVITALIZAÇÃO DOS HOSPITAIS Public Disclosure Authorized UNIVERSITÁRIOS FEDERAIS

Public Disclosure Authorized

Public Disclosure Authorized

Brasília, junho de 2010

IPP439

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Sumário

1. Contextualização...... 3

2. DESCRIÇÃO DO PROJETO ...... 5

2.1 OBJETIVOS ...... 5

2.1.1 OBJETIVO GERAL ...... 5

2.1.2 OBJETIVO A LONGO PRAZO ...... 5

2.2 RESULTADOS ESPERADOS...... 5

2.2.1 MÉDIO PRAZO ...... 5

3.2.2 LONGO PRAZO ...... 6

2.3 COMPONENTES E ATIVIDADES ...... 6

2.3.1 COMPONENTE 1 – REVITALIZAÇÃO DOS HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS FEDERAIS .. 6

2.3.2 COMPONENTE 2 – FORTALECIMENTOS INSTITUCIONAL DO REHUF ...... 8

3 POLÍTICAS DE SALVAGUARDAS SOCIAIS E AMBIENTAIS DO BANCO MUNDIAL ...... 12 3.1 Política Operacional do Banco Mundial OP 4.01 – Avaliação Ambiental ...... 12 3.2 Política Operacional do Banco Mundial 4.10 – Povos Indígenas ...... 13 3.3 Política Operacional do Banco Mundial OP 4.11 – Recursos Físico-Culturais . 13 3.4 Política Operacional do Banco Mundial OP 4.12 – Reassentamento Involuntário...... 14

4 PLANO DOS POVOS INDÍGENAS ...... 15

4.1 BREVE RELATO SOBRE OS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL ...... 15

4.2 ENQUADRAMENTO JURÍDICO E ADMINISTRATIVO DAS POLÍTICAS ...... 27

4.3 DIRETRIZES ESTRATÉGICAS DAS POLÍTICAS DE SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS NO

BRASIL ...... 29

4.4 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO À SAÚDE AOS POVOS INDÍGENAS ...... 34

4.5 POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO ...... 37

4.6 OS HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS FEDERAIS E O ATENDIMENTO À POPULAÇÃO

INDÍGENA ...... 41

4.7 DESENVOLVIMENTO DE AÇÕES VOLTADAS A POPULAÇÃO INDÍGENA NA REDE DE

HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS FEDERAIS ...... 43

4.7.1 AÇÕES DE AMBIÊNCIA E ACOLHIMENTO NOS HUS LOCALIZADOS ZONAS COM

GRANDE CONCENTRAÇÃO POPULACIONAL INDIGENA ...... 43

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Plano dos Povos Indígenas

PROJETO DE REVITALIZAÇÃO DOS HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS FEDERAIS

1. Contextualização

Existem atualmente 46 Hospitais Universitários Federais (HUs), localizados nos diferentes estados da União, vinculados a 32 das 59 Instituições Federais de Ensino Superior (IFES). Esses hospitais têm um importante papel social, atuando de forma significativa na consolidação do Sistema Único de Saúde, na medida em que respondem por parte significativa da formação e capacitação de profissionais de saúde, se caracterizam por serem hospitais de grande porte sendo, muitas vezes, a unidade hospitalar mais importante do serviço público no estado. Apenas os estados do , , Rondônia, Amapá e não possuem HUs.

Os Hospitais Universitários Federais, vem enfrentando diversos problemas, oriundos da falta de definições relacionadas à estrutura institucional (personalidade jurídica) e às formas de custeio das atividades assistenciais, de ensino

4 e de pesquisa neles desenvolvidas, associada ao sub-financiamento e ao insuficiente investimento na atualização dos seus parques tecnológicos e das suas estruturas físicas, além da progressiva redução do quadro de recursos humanos, sem adequada reposição por meio de concursos públicos.

Assim, visando à superação destes problemas, o Ministério da Educação criou o Programa de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (REHUF), instituído pelo Decreto nº. 7.082, de 27 de janeiro de 2010 e, que será efetivado por meio da parceria entre os Ministérios da Educação, da Saúde e do Planejamento, Orçamento e Gestão.

O REHUF tem como objetivo criar condições materiais e institucionais para que os Hospitais Universitários Federais (HUs) possam desempenhar plenamente suas funções em relação às dimensões de ensino, pesquisa e extensão e à dimensão da assistência à saúde.

Outra ação desencadeada pelo MEC foi a elaboração de projeto de empréstimo junto ao Banco Mundial para a realização de investimentos para revitalização da estrutura física e parque tecnológico dos HUs; melhoria de processos clínicos, educativos e de pesquisa; implantação de gestão por resultados; qualificação dos recursos humanos; fortalecimento Institucional para a Implementação do REHUF.

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2. DESCRIÇÃO DO PROJETO

2.1 OBJETIVOS

2.1.1 OBJETIVO GERAL

O projeto visa melhorar o desempenho dos HUs através de: (i) Estabelecimento da gestão hospitalar por resultados. (ii) Modernização da estrutura física e tecnológica dos hospitais; (iii) Melhoria dos processos assistenciais, de pesquisa e educativos. .

2.1.2 OBJETIVO A LONGO PRAZO

O Projeto visa qualificar a formação de profissionais de saúde de modo a contribuir para a melhoria da assistência de saúde da população e a educação técnica e superior em saúde no Brasil.

2.2 RESULTADOS ESPERADOS

2.2.1 MÉDIO PRAZO

a) Fluxos e acesso de pacientes, alunos e docentes nos 46 HUs da rede qualificados; b) Oferta de serviços qualificados à população ampliada; c) Parque tecnológico e mobiliário dos HUs renovado, garantindo a realização de procedimentos com precisão e segurança, abrangendo a assistência a população, o ensino e a pesquisa na área da saúde; d) Área física dos 46 HUs adequada às normas da ANVISA e as necessidades de ensino e pesquisa; e) Implantação de todos os módulos do Aplicativo de Gestão dos Hospitais Universitários (AGHU) em todos os HUs.

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3.2.2 LONGO PRAZO

a) Processos de trabalho qualificados, fundamentando no uso racional da infraestrutura do HU para melhorar a assistência prestada à população e o ensino em saúde; b) Práticas modernas de gestão instituídas, implementadas e monitoradas; c) Padronização de insumos por meio da implantação de protocolos clínicos.

2.3 COMPONENTES E ATIVIDADES

Os componentes do projeto foram estruturados em eixos, cujas atividades passam a ser detalhadas:

2.3.1 COMPONENTE 1 – REVITALIZAÇÃO DOS HOSPITAIS

UNIVERSITÁRIOS FEDERAIS

Este componente financiará as ações dos Programas de Despesas Elegíveis (PDE) visando o cumprimento do Decreto 7082, de 27 de Janeiro de 2010, e de seu respetivo regulamento. Ele envolve o desempenho de atividades organizadas em quatro eixos básicos:

Componente 1 - Revitalização dos Hospitais Universitários Federais (399 milhões) – Este componente financiará as ações dos Programas de Despesas Elegíveis (PDE) visando o cumprimento do Decreto 7082, de 27 de Janeiro de 2010, e de seu respetivo regulamento. Ele envolve a implementação de atividades organizadas em quatro eixos básicos:

Eixo 1 – Revitalização da estrutura física e parque tecnológico dos HUFs – Este eixo envolve a conformação das áreas físicas dos HUFs de acordo com a legislação vigente, em especial a RDC-50 da ANVISA e estará organizado para o financiamento de obras de construção, ampliação e de reforma nos HUFs, na renovação tecnológica dos equipamentos de apoio diagnóstico e

7 terapêutico existentes e nas adaptações de infra-estrutura necessárias para a instalação e operação destes equipamentos. Envolve ainda a implementação do Marco Ambiental para o funcionamento dos HUFs de acordo com as normas da ANVISA e a preparação e implementação dos Planos de Ação para a Gestão de Resíduos produzidos nos HUFs. Estão previstas construções nos HUFs de Manaus, Pelotas, Uberlândia e Juiz de Fora, reformas nos demais 42 HUFs e renovação tecnológica para o suporte às atividades de diagnóstico e tratamento, tais como equipamentos de imagem gráfica e ótica, sistemas de suporte à vida, tecnologia para melhorar as atividades de treinamento, ensino e prática clínica.

Eixo 2 – Melhoria de processos clínicos, educativos e de pesquisa – Este eixo contempla os investimentos necessários para a padronização de atividades, procedimentos, uso de insumos e tecnologias associadas às ações prestadas pelos hospitais, por meio do desenvolvimento e implantação de protocolos clínicos, da qualificação dos processos de trabalho do hospital visando a segurança dos pacientes e funcionários, do uso racional da infra- estrutura e dos equipamentos do hospital, da melhoria dos processos de organização do ensino e da pesquisa, entre outras atividades. Também inclui os processos de especialização dos HUs de acordo com sua vocação técnica e capacidade de resposta aos desafios epidemiológicos regionais; a promoção de pesquisas em áreas prioritárias para o SUS; a realização de pesquisas de satisfação dos pacientes, o desenvolvimento da cooperação com outras agências públicas e privadas de pesquisa; a publicação e disseminação dos resultados de pesquisas e o monitoramento e avaliação da qualidade técnica das pesquisas, e outras atividades correlatas.

Eixo 3 – Implantação de gestão por resultados – Este eixo visa a preparação e implementação do sistema AGHU nos 46 HUs, através de: (a) conversão progressiva de todos os módulos deste aplicativo de um sistema proprietário para um sistema aberto, construído em software livre e Web, sendo priorizados inicialmente os módulos essenciais para o atendimento do paciente; (b) preparação de atividades de planejamento para a implementação dos módulos de gestão do AGHU nos HUs; (c) realização de diagnóstico da rede de HUs para identificar as necessidades e realizar investimentos em equipamentos de informática, para suportar o novo aplicativo; (d) capacitação das equipes técnicas, corpo funcional e dirigentes das instituições para a

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utilização do AGHU; (e) implementação de processos onde seja mais custo- efetivo a terceirização de serviços do hospital; (f) implantação de processos de gestão de mudança para a criação de uma cultura de administração baseada em resultados e em processos contínuos de monitoramento e avaliação; (g) implementação de novos modelos de contratação de serviços que permitam uma maior autonomia financeira, flexibilidade orçamentária e eficiência no uso dos recursos; (h) implementação de sistemas de contabilidade de custos e orçamentos e; (i) inclusão dos HUs nos processos de regulação e contratualização da demanda das redes de saúde operadas pelas esferas estaduais e regionais.

Eixo 4 – Qualificação dos recursos humanos – Este eixo tem por objetivo implantar processos de administração de pessoal que fortaleçam e adeqüem as carreiras funcionais para o trabalho nos HUs e utilizem processos que permitam progressivamente incentivos de carreira associados aos resultados; aumentem a capacitação para gestão nestes hospitais e nos municípios onde eles se inserem para as novas funções a serem assumidas pelos HUs, incluindo os temas associados a disposição apropriada dos resíduos hospitalares. Inclui também estratégias de capacitação dos residentes associados aos programas de residência médica nas novas funções a serem assumidas e em áreas prioritárias do SUS. Também se encontra em negociação com o Ministério da Saúde, a possibilidade de que a rede de HUs seja referência para prover assistência de média e alta complexidade para as populações indígenas, o que exigirá a atualização das equipes profissionais dos HUs para o desempenho destas funções. A forma de operação deste processo de qualificação será definida a partir das reuniões do Conselho Gestor do Programa REHUF.

2.3.2 COMPONENTE 2 – FORTALECIMENTOS INSTITUCIONAL DO REHUF Componente 2 – Fortalecimento Institucional do REHUF (US$ 19,95 milhões) – Este Componente visa apoiar o fortalecimento institucional do MEC e dos HUFs para o desempenho das novas funções associadas ao Componente 1 do Projeto. Envolve três eixos onde são propostas as seguintes atividades:

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Eixo 1 – Fortalecimento Institucional para a Implementação do REHUF (US$ 9,95 milhões) – Este eixo financiará as seguintes atividades de consultoria, capacitação, treinamento e aquisição de bens:

(i) Estudo de processos que aprimorem a governança dos HUFs; (ii) Consolidação e aperfeiçoamento dos processos e práticas de gestão da rede de HUFs ao nível do MEC; (iii) Integração com as políticas e processos regulatórios para a inclusão dos HUFs em redes de saúde; (iv) Desenvolvimento de processos que permitam a participação em processos de acreditação dos HUFs, incluindo os aspectos associados a segurança dos pacientes. (v) Assistência técnica para o treinamento e criação de competências, quando houver necessidade, nas áreas de planejamento estratégico, orçamento, gestão, monitoramento e avaliação de projetos no MEC e nos HUFs; (vi) Desenvolvimento de estudos, diagnósticos, metodologias, processos, técnicas e bases organizacionais que fortaleçam os processos de tecnologia da informação da rede de hospitais universitários federais; (vii) Desenvolvimento de webpages e portais que permitam a disseminação das informações sobre o desempenho dos HUFs, contribuindo para aumentar a comunicação, transparência e participação da comunidade na gestão do hospital; (viii) Desenvolvimento de processos que permitam a criação de instrumentos para a avaliação de desempenho dos HUFs; (ix) Desenvolvimento e implementação de protocolos clínicos baseados em evidência nos HUFs; (x) Estudos sobre prática clínica, como a incidência de cesariana desnecessária e suas causas e consequências; (xi) Estudos para otimizar o uso da rede e reduzir listas de espera entre os pacientes em casos específicos, como cirurgias eletivas, transplantes, etc. (xii) Seleção e realização de programas-piloto para testar novos procedimentos, processos de trabalho e soluções tecnológicas associadas ao AGHU; (xiii) Desenvolvimento de sistemas de orçamento e contabilidade de custo baseados em resultados nos HUFs;

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(xiv) Estudos que permitam aperfeiçoar os processos de administração de contratos realizados pelos HUFs; (xv) Estudos que permitam o desenvolvimento de sistemas de incentivos na gestão de recursos humanos nos HUFs; (xvi) Aprimoramento dos indicadores de gestão e de produção de assistência, ensino e pesquisa presentes no sistema REHUF; (xvii) Avaliação da segurança dos pacientes e qualidade do cuidado (infecção hospitalar, erros de prescrição, etc.); (xviii) Desenvolvimento de sistemas de gestão de tecnologia hospitalar nos HUFs; (xix) Processos de gestão de mudança; (xx) Implementação de planos para assistência médica de média e alta complexidade às populações indígenas; (xxi) Implementação de planos de gestão de resíduos e impactos ambientais dos HUFs; (xxii) Melhoria dos processos de monitoramento e avaliação do impacto dos hospitais na assistência à saúde da população; (xxiii) Realização de pesquisas e inventários sobre a estrutura física dos HUFs; (xxiv) Implementação dos planos de contabilidade de custos e gestão financeira e orçamentária dos HUFs; (xxv) Implementação do Plano de Ação e de Aquisições do Projeto e dos HUFs no que couber (customização do COMPRASNET, capacitação em aquisições, sistemas de TI para o monitoramento e avaliação de licitações de obras civis e contratos); (xxvi) Implementação do Plano de Ação de Administração Financeira do Projeto e dos HUFs, no que couber; (xxvii) Desenvolvimento de estudos e pesquisas que aprimorem a avaliação sócio-econômica e epidemiológica com vista a estabelecer e atender adequadamente ao perfil de risco dos pacientes no entorno geográfico do hospital; (xxviii) Auditoria técnica e financeira do projeto; (xxix) Estabelecimento de diagnósticos e proposta de planos e modernização dos processos de licitação nos HUFs; (xxx) Capacitar diretores e técnicos dos HUs para o atendimento adequado às necessidades da população indígena;

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(xxxi) Realizar oficinas para a troca de experiências entre os HUs que realizam atendimento a população indígena.

Eixo 2 - Fundo Concursável para Iniciativa dos HUFs (US$ 10 milhões) - O Fundo Concursável tem por objetivo apoiar o desenho de projetos para a implantação de atividades críticas desenvolvidas pelos HUFs nas áreas de (i) ensino, pesquisa e extensão; (ii) assistência à saúde; e (iii) modernização da gestão dos hospitais, incluindo recursos humanos Este fundo financiará atividades relacionadas à implementação do REHUF que sejam de interesse dos hospitais e que permitam apoiar o desenvolvimento de áreas estratégicas do Projeto. As atividades elegíveis para tal finalidade seriam submetidas ao MEC pela Direção de cada HUF e julgadas para aprovação, através de um processo competitivo, por uma Comissão a ser constituída pelo MEC, segundo critérios de elegibilidade a ser estabelecidos que evitem conflitos de interesses. Haveria duas oportunidades para realizar o concurso a cada ano (primeiro e segundo semestre) e o valor individual dos projetos não poderia ultrapassar os US$ 200 mil.

Eixo 3- Fundos de contingenciamento (US$3,6 milhões). O projeto que serão utilizados para financiar atividades adicionais de consultoria, treinamento ou equipamentos necessárias ao adequado desempenho do Projeto.

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3 POLÍTICAS DE SALVAGUARDAS SOCIAIS E AMBIENTAIS DO BANCO

MUNDIAL

Para o Projeto REHUF devem ser acionadas as seguintes salvaguardas ambientais do Banco Mundial:

• OP 4.01 Avaliação Ambiental;

• OP 4.10 - Povos Indígenas;

• OP 4.11 – Recursos Físico-Culturais; e

• OP 4.12 Reassentamento involuntário.

3.1 Política Operacional do Banco Mundial OP 4.01 – Avaliação Ambiental

Essa política de salvaguarda prevê que sejam realizadas análises prévias dos impactos potenciais das intervenções do Projeto. Também prevê a definição de medidas mitigadoras para prevenir, minimizar ou compensar os efeitos negativos, além de potencializar os impactos positivos, avaliando os instrumentos mais apropriados para essa atividade. Inclui a necessidade de preparação de Planos de Gestão Ambiental, avaliando a capacidade institucional dos executores para a gestão do conjunto de medidas propostas nos programas do PGA. Além disso, as salvaguardas ambientais da OP 4.01 estabelecem a necessidade de consulta pública (neste caso, para os projetos nas categorias A e B).

A Avaliação Ambiental (AA), de que trata a OP 4.01, é parte integrante dos requisitos necessários para o licenciamento de edificações de estabelecimentos de saúde em áreas, cuja dimensão, profundidade e tipo de análise são condicionados pela natureza da escala e dos impactos ambientais

13 potenciais, inerentes aos projetos a serem submetidos à apreciação do órgão ambiental competente.

A Avaliação Ambiental deverá contemplar a análise dos potenciais riscos ambientais das edificações a serem implantadas, bem como deverá estabelecer procedimentos para a concepção dos projetos, considerando a análise de alternativas; a seleção, localização, planejamento, concepção e execução do projeto; a concepção de medidas para evitar, minimizar, mitigar ou compensar os efeitos ambientais adversos; o realce nos seus impactos positivos; e a inclusão de processo de mitigação e gestão dos impactos ambientais adversos durante a execução do Projeto.

3.2 Política Operacional do Banco Mundial 4.10 – Povos Indígenas

Essa política contribui com a missão do Banco de reduzir a pobreza e promover o desenvolvimento sustentável, assegurando que o processo de desenvolvimento respeite plenamente a dignidade, os direitos humanos, as economias e as culturas dos Povos Indígenas. Em todas as propostas de financiamento de projetos apresentadas ao Banco que afetem os Povos Indígenas, é exigido que o mutuário realize um processo de consulta livre, prévia e informada. O financiamento do Projeto dependerá do resultado positivo dessa consulta em termos de apoio significativo por parte da comunidade.

Para que os projetos sejam financiados pelo Banco, deverão ser consideradas as seguintes medidas: • evitar potenciais efetivos negativos nas comunidades de Povos Indígenas; • quando esses efeitos negativos não puderem ser evitados, deverão ser minimizados, mitigados ou compensados; • garantir que os Povos Indígenas recebam benefícios sociais e econômicos culturalmente adequados e que incluam a questão do gênero e da intergeração.

3.3 Política Operacional do Banco Mundial OP 4.11 – Recursos Físico-Culturais

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Esta política define recursos físico-culturais como objetos móveis ou imóveis, instalações, estruturas, grupos de estruturas e recursos naturais e paisagens que têm significado arqueológicos, paleontológicos, históricos, arquitetônicos, religioso, estético, cultural ou outras. Os recursos físico-culturais podem estar localizados em áreas urbanas ou rurais, e pode estar acima ou abaixo do solo, ou sob a água. Seu interesse cultural pode ser a nível local, provincial ou nacional, ou no seio da comunidade internacional. Esses recursos são importantes como fontes de informação científica e histórica, como recursos para o desenvolvimento econômico e social, e como parte integrante da identidade de um povo e práticas culturais. No caso de haver impactos sobre recursos físico-culturais resultantes das atividades do projeto, deverão ser incluídas medidas de mitigação de acordo com a legislação nacional vigente.

3.4 Política Operacional do Banco Mundial OP 4.12 – Reassentamento Involuntário

A Política de Reassentamento Involuntário é constituída por diretrizes e procedimentos que devem ser seguidos para que o processo de reassentamento seja o mais adequado possível, reduzindo ao máximo os possíveis transtornos gerados à vida das pessoas afetadas. Esta salvaguarda é acionada sempre que houver a necessidade de aquisição de territórios ou de reassentar população situada em áreas requeridas para implantação das obras do Projeto. Neste projeto, esta salvaguarda não será acionada, pois as construções que serão realizadas em Manaus, Pelotas, Juiz de Fora e Uberlândia estão situadas em terrenos de propriedade da Universidade ou do próprio HU.

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4 PLANO DOS POVOS INDÍGENAS

4.1 BREVE RELATO SOBRE OS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL

Na época da chegada dos europeus aos Brasil, estima-se que eram mais de 1.000 povos, somando entre 2 e 4 milhões de pessoas. Atualmente encontramos no território brasileiro 233 povos, falantes de mais de 180 línguas diferentes. A maior parte dessa população distribui-se por milhares de aldeias, situadas no interior de 655 Terras Indígenas, de norte a sul do território nacional.

A população indígena total tem crescido nos últimos 28 anos, embora povos específicos tenham diminuído demograficamente e alguns estejam até ameaçados de extinção. Na listagem de povos indígenas no Brasil elaborada pelo ISA, sete deles têm populações entre 5 e 40 indivíduos.

Após um longo período de perda populacional, a população indígena brasileira está crescendo (em uma taxa estimada de 3,5% ao ano), ao contrário do que acontece com outros povos indígenas ao redor do mundo. Na última década houve níveis elevados de fertilidade, junto com uma queda – embora lenta – de mortalidade. Esse fenômeno tem sido definido como “recuperação demográfica”. A população indígena brasileira está estimada em 530.000 pessoas, sendo composta por 225 grupos étnicos diferentes, distribuídos entre 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI), que falam 180 línguas distintas. Entre 100.000 e 190.000 moram fora das terras indígenas, em capitais de estado e outras áreas metropolitanas, e há grupos com os quais ainda não houve contato. A população indígena representa 0,25% da população brasileira e 2% da população indígena das Américas.

Os povos indígenas contemporâneos estão espalhados por todo o território brasileiro. Vários desses povos também habitam países vizinhos. No Brasil, a grande maioria das comunidades indígenas vive em terras coletivas, declaradas pelo governo federal para seu usufruto exclusivo. Foram reconhecidas oficialmente 633 terras indígenas, correspondentes a 14% do território nacional. A maioria dessas terras concentra-se na Amazônia; 405 delas representam 21% da Amazônia e 99% das terras indígenas.

Na Amazônia Legal - que é composta pelos estados do Amazonas, Acre, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, e parte oeste do Maranhão – onde estão localizadas 99% das terras indígenas, vive 60% da população

16 indígena, os 40% restantes estão distribuídos nas demais regiões do país. É possível estimar em cerca de 10 a 15% os índios que vivem em cidades, mas ainda não existe um censo confiável a esse respeito.

Figura 1 – Disposição geográfica das terras indígenas no Brasil

As comunidades indígenas são pequenas - 28% delas compreendem até 200 pessoas, 40% têm entre 200 e 1.000 pessoas, e apenas três comunidades têm mais de 20.000 pessoas. Além da desigualdade socioeconômica generalizada entre as populações indígenas e as não-indígenas, também há desigualdades significativas entre a própria população indígena.

Figura 2. População indígena por região em 2007

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Fonte: SIASI/FUNASA Estudos sobre a transição demográfica de diferentes povos do mundo inteiro dão conta de que depois da queda da mortalidade, acentuadamente da mortalidade infantil, devida à transição epidemiológica que ocorre com a vacinação dessas populações e com o atendimento mais eficaz e moderno à sua saúde, existe um incremento populacional durante um certo período, que varia de acordo com componentes estruturais de cada sociedade.

Na tabela 1 estão dispostos os povos indígenas existentes no Brasil, divididos por localização, língua e população segundo censo:

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Tabela 1. Povos Indígenas brasileiros localização, língua e população.

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# Nomes Outros nomes ou grafias Família/Língua UF (Brasil) ou Países Limitrofes População Censo/Estimativa Massaca, Tubarão, Columbiara, 1 Aikanã Aikaná RO 180 (Vasconcelos, 2005) Mundé, Huari, Cassupá, Aikaná 2 Aikewara Suruí, Sororós, Aikewara Tupi-Guarani PA 264 (Funasa, 2006) 3 Akunt'su Tupari RO 5 (Funai, 2009) 4 Amanayé Amanaié, Araradeua Tupi-Guarani PA 87 (Correia de Assis, 2002) 5 Amondawa Tupi-Guarani RO 83 (Kanindé, 2003) 6 Anacé CE 7 Anambé Tupi-Guarani PA 182 (2000) Apalai, Apalay, Appirois, Aparathy, 8 Aparai Karib AP, PA 317 (Funasa, 2006) Apareilles, Aparai 9 Apiaká Apiacá Tupi-Guarani AM, MT, PA 1.000 (Tempesta, 2009) 10 Apinajé Apinaié, Apinajés, Apinayé Jê TO 1.525 (Funasa, 2006) 11 Apurinã Ipurina, Popukare Aruak-maipure AM, MT, RO 3.256 (Funasa, 2006) 12 Aranã MG 54 (Funasa, 2006) 13 Arapaso Arapasso, Arapaço Tukano AM 569 (Dsei/Foirn, 2005) 14 Arapiuns PA 15 Arara do Pará, Ukaragma Karib PA 271 (Funasa, 2006) 16 Arara do Rio Amônia Apolima-Arara, Arara Apolima AC 278 (GT Funai, 2003) Arara do Beiradão, Arara do 17 Arara do Rio Branco MT 209 (Cimi, 2005) Aripuanã 18 Arara Shawãdawa Arara do Acre, Shawanaua Pano AC 332 (CPI/AC, 2004) 19 Araweté Araueté, Bïde Tupi-Guarani PA 339 (Funasa, 2006) 20 Arikapu Jabuti RO 32 (Funasa, 2009) 21 Aruá Mondé RO 92 (Funasa, 2009) 869 (CPI/Acre, 2004) 55000 22 Ashaninka Kampa, Ashenika Aruak AC, (1993) 23 Asurini do Tocantins Akuawa, Asurini Tupi-Guarani PA 384 (Funasa, 2006) 24 Asurini do Xingu Assurini, Awaete Tupi-Guarani PA 124 (2006) 25 Aticum BA, PE 5.852 (Funasa, 2006) 26 Avá-Canoeiro Canoeiro, Cara-Preta, Carijó Tupi-Guarani GO, MG, TO 16 (Funasa, 2006) Awytyza, Enumaniá, Anumaniá, 27 Aweti MT 140 (2006) Auetö 28 Bakairi Bacairi, Kurã, Kurâ Karib MT 950 (Taukane, 1999) 29 Banawá Arawá AM 101 (Funasa, 2006) 5.811 (Dsei/Foirn, 2005) 30 Baniva, Baniua, Curipaco, Walimanai Aruak AM, , 7.000(2000) 1.192 (1992) 31 Bará Bara tukano, Waípinõmakã Tukano AM, Colombia 21 (Dsei/Foirn, 2005) 296 (1988) 939 (1998) 34 (Dsei/Foir n, 32 Panenoá Tukano AM, Colombia 2005) 10.275 (Dsei/Foirn, 2005) 2.790 33 Baré Hanera Aruak AM, Venezuela (1998) 34 Borari PA Coxiponé, Araripoconé, Araés, 35 Bororo MT 1.392 (Funasa, 2006) Cuiabá, Coroados, Porrudos, Boe 36 Canela Ramkokamekrá, Apanyekrá Jê MA 2.502 (Funasa, 2008) 40 (Grumberg, 1994) 1.571 37 Samuko MS, Paraguai (2002) 40 (Prêmio Culturas Indígenas, 38 Charrua RS, Argentina 2007) 676 (INAI, 2004) 737 (Funasa, 2006) 55.000 39 Chiquito Chiquito MT, (1995) 40 Matetamãe Mondé MT, RO 1.440 (Funasa, 2006) 41 Coripaco Curipaco, Curripaco, Kuripako Aruak AM 1.332 (Dsei/Foirn, 2005) 42 Deni Arawá AM 875 (Funasa, 2006) 2.204 (Dsei/Foirn, 2005) 2.036 43 Desana Desano, Dessano Tukano AM, Colombia (1998) 44 Djeoromitxí Jaboti Jabuti RO 187 (Funansa, 2009) Enauenê nauê, Salumã, Enawenê- 45 Enawenê-nawê Aruak MT 540 (Opan/Funasa, 2009) nawê 46 Fulni-ô Ia-tê PE 3.659 (Funasa, 2006) 47 Galibi do Oiapoque Galibi, Kalinã Karib AP, Guiana Francesa 66 (Funasa, 2006) 2.000 (1982) 48 Galibi-Marworno Galibi do Uaçá, Aruá Creoulo AP 2.177 (Funasa, 2006) Gavião do Mãe Maria, Gavião 49 Gavião Parkatêjê Parakatejê, Gavião do Oeste, Jê PA 476 (Funasa, 2006) Parkatejê Gavião do Maranhão, Gavião 50 Gavião Pykopjê Pukobiê, Gavião do Leste, Jê MA 494 (Funasa, 2006) Pykopcatejê 51 Guajá Avá, Awá Tupi-Guarani MA, PA 283 (Funasa, 2005) 52 Guajajara, Tenetehara Tupi-Guarani MA 19.471 (Funasa, 2006) 31.000 (CTI, 2008) 13.000 (CTI, 53 Guarani Kaiowá Pai-Tavyterã, Tembekuára Tupi-Guarani MS, Paraguai 2008) ES, PA, PR, RJ, RS, SC, SP, TO, 15.000 (CTI, 2008) 5.500 (CTI, 54 Guarani Mbya Guarani M'byá Tupi-Guarani Paraguai, Argentina 2008) 7.000 (CTI, 2008) Ava-Chiripa, Ava-Guarani, Xiripa, MS, PR, RS, SC, SP, Paraguai, 1.000 (CTI, 2008) 13.000 (CTI, 55 Guarani Ñandeva Tupi-Guarani Tupi-Guarani Argentina 2008) 13.200 (CTI, 2008) 56 Guató Guató MT, MS 370 (Funasa, 2008) 57 Hixkaryana Hixkariana Karib AM, PA, RR 631 (Funasa, 2006) Gavião de Rondônia, Gavião Ikolen, 58 Ikolen Mondé RO 523 (Kanindé, 2004) Digut 59 Txicão, Ikpeng Karib MT 342 (Funasa, 2006) 1.170 (Coping, 2007) 4.000 60 Ingarikó Akawaio, Kapon Karib RR, Guiana Equatorial, Venezuela (1990) 728 (1992) 61 Iranxe Manoki Irantxe, Manoki Iranxe MT 356 (Funasa, 2006)

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62 Jamamadi Yamamadi, Kanamanti Arawá AM 884 (Funasa, 2006) 63 Jarawara Jarauara Arawá AM 180 (Funasa, 2006) 64 Javaé Karajá/Javaé, Itya Mahãdu Karajá GO, TO 1.456 (Funasa, 2009) 65 Jenipapo-Kanindé Payaku CE 272 (Funasa, 2006) Jahoi, Diarroi, Djarroi, Parintintin, 66 Jiahui Tupi-Guarani AM 88 (Funasa, 2006) Diahoi, Diahui, Kagwaniwa 67 Jiripancó Jeripancó, Geripancó AL 1.307 (Funasa, 2006) 68 Juma Yuma Tupi-Guarani AM 5 (Peggion, 2002) 69 Ka'apor Urubu Kaapor, Kaapor Tupi-Guarani MA, PA 991 (Funasa, 2006) Kaduveo, Caduveo, Kadivéu, 70 Kadiwéu Guaikuru MS 1.629 (Funasa, 2006) Kadiveo 71 Kaiabi Kayabi, Caiabi, Kaiaby, Kajabi, Cajabi Tupi-Guarani MT, PA 1.619 (Funasa, 2006) 72 Kaimbé BA 710 (Funasa, 2006) 73 Guayanás Jê PR, RS, SC, SP 33.064 (Funasa, 2009) 74 Kaixana Caixana AM 505 (Funasa, 2006) 75 Kalabaça 76 Kalankó Cacalancó AL 390 (Funasa, 2009) 77 Karib MT 504 (Funasa, 2006) 78 Kamaiurá Kamayurá Tupi-Guarani MT 492 (Funasa, 2006) 79 Kamba MS 80 Kambeba Cambemba, Omaguá Tupi-Guarani AM 347 (Funasa, 2006) 81 Kambiwá Cambiua PE 2.820 (Funasa, 2006) 82 Kanamari Canamari, Tukuna Katukina AM 1.654 (Funasa, 2006) 83 Kanindé 84 Kanoê Canoe, Kapixaná, Kapixanã Kanoe RO 95 (2002) 85 Kantaruré Cantaruré, Pankararu BA 493 (Funasa, 2006) 86 Kapinawa Capinawa PE 3.294 (Funasa, 2006) 87 Karajá Caraiauna, Iny Karajá GO, MT, PA, TO 2.532 (Funasa, 2006) Xambioá, Ixybiowa, Iraru Mahãndu, 88 Karajá do Norte Karajá TO 269 (Funasa, 2006) Karajá do Norte 89Karapanã Muteamasa, Ukopinõpõna Tukano AM, Colombia 63 (Dsei/Foirn, 2005) 412 (1988) 90 Karapotó AL 2.189 (Funasa, 2006) 91 Karipuna de Rondônia Ahé, Karipuna, Ahé Tupi-Guarani RO 14 (Azanha, 2004) 92 Karipuna do Amapá Creoulo AP 2.235 (Funasa, 2006) 93 Kariri CE 94 Kariri-Xokó Cariri-xocó AL 2.311 (Funasa, 2009) 95 Caritiana, Yjxa Arikén RO 320 (2005) Arara de rondônia, arara karo, arara 96 Karo tupi, ntogapíd, ramaráma, urukú, e Ramarama RO 208 (Kanindé, 2006) urumí, Il´târap 97 Karuazu AL 336 (Funasa, 2006) 98 Katuena Waiwai Karib AM, PA, RR 136 (Funasa, 2006) 99 Katukina do Rio Biá Tukuna Katukina AM 450 (2007) 100 Katukina Pano Pano AC 585 (Funasa, 2008) 101 Kaxarari Caxarari Pano AM, RO 322 (Funasa, 2009) Cashinauá, Caxinauá, , 102 Kaxinawá Pano AC 4.500 (CPI/AC, 2004) huni kuin 103 Kaxixó MG 256 (Funasa, 2006) 350 (João do Valle Kaxuyana, 104Kaxuyana Caxuiana, Katxuyana Karib AP, AM, PA 2009) Kaiapó, Caiapó, Gorotire, A'ukre, Kikretum, , Makragnotire, Kuben- 105 Kayapó Jê MT, PA 5.923 (Funasa, 2006) Kran-Ken, Kokraimoro, Metuktire, Xikrin, Kararaô, Mebengokre 106 Kinikinau Kinikinao, Guaná Aruak MS 250 (2005) 107 Kiriri Kariri BA 1.612 (Funasa, 2006) 108 Kisêdjê Suiá, Kisidjê Jê MT 351 (Funasa, 2006) 109 Koiupanká AL 1.263 (Funasa, 2009) 9.000 (CGTT, 2003) 10.705 110Kokama Cocama, Kocama Tupi-Guarani AM, Peru, Colombia (1993) 236 (1988) 111 Pano AM 26 (FPEVJ, 2007) 735 (Dsei/Foirn, 2005) 1.113 112Kotiria Wanana Tukano AM, Colombia (1988) 113 Krahô Craô, Kraô, Mehin Jê TO 2.184 (Funasa, 2006) 114 Krahô-Kanela Jê TO 83 (Funasa, 2006) Crenaque, Crenac, Krenac, 115 Krenak Krenák MG, SP 204 (Funasa, 2006) Botocudos, Aimorés, Krén 116Krikati Kricati, Kricatijê, Põcatêjê, Kricatijê Jê MA 682 (Funasa, 2005) 381 (Dsei/Foirn, 2005) 4.238 117Kubeo Cubeo, Cobewa, Kubéwa, Pamíwa Tukano AM, Colombia (1988) 118 Kuikuru Karib MT 509 (Funasa, 2006) 119 Kujubim Kuyubi Txapacura RO 55 (Funasa, 2006) 120Kulina Culina, Madiha, Madija Arawa AC, AM, Peru 3.500 (Dienst, 2006) 450 (1998) 121 Kulina Pano Culina Pano AM 125 (Funasa, 2006) 122 Kuntanawa Kontanawa, Contanawa Pano AC 400 (Pantoja, 2008) 123 Kuruaya Xipáia-Kuruáia, Kuruaia PA 129 (Funasa, 2006) 124 Kwazá Coaiá, Koaiá Koazá RO 40 (Van der Voort, 2008) Macu, Yuhupde, Dow, Nadob, 2.603 (Dsei/Foirn, 2005) 678 125 Maku Makú AM, Colombia Hupda. Bara, Kakwa, Kabori, (1995) 32 (Dsei/Foirn, 2005) 528 126Makuna Yeba-masã Tukano AM, Colombia (Colombia, 1988) 127 Makurap Macurap Tupari RO 381 (Funasa, 2006)

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23.433 (Funasa, 2006) 9.500 128 Makuxi Macuxi, , Karib RR, Guiana Equatorial (Guiana, 2001) 129 Manchineri Machineri Aruak AC 937 (CPI/AC, 2004) 130 Marubo Pano AM 1.252 (Funasa, 2006) 131 Karib MT 103 (Funasa, 2006) 132 Mushabo, Deshan Mikitbo Pano AM 338 (Funasa, 2009) 1.592 (Funasa, 2006) 1.000 133 Matsés Mayoruna Pano AM, Peru (1988) Maxacalis, Monacó, Kumanuxú, 134 Maxakali Maxakali MG 1.271 (Funasa, 2006) Tikmuún, Kumanaxú - tikmu'ún 135 Mehinako Meinaco, Meinacu, Meinaku Aruak MT 227 (Funasa, 2006) 136 Menky Manoki Munku, Menku, Myky, Manoki Iranxe MT 356 (Funasa, 2006) 137 Migueleno Miqueleno RO 836 (Funasa, 2006) 445 138 Miranha Mirana Bora AM, Colombia (Colombia, 1988) 139 Mirity-tapuya Buia-tapuya Tukano AM 75 (Dsei/Foirn, 2005) 140 Munduruku Mundurucu Munduruku AM, MT, PA 10.896 (Funasa, 2009) 141 Mura Mura AM 9.299 (2006) Nafukwá, Nahkwá, Nafuquá, 142 Nahukuá Karib MT 124 (Funasa, 2006) Nahukwá Nambiquara, Anunsu, Halotesu, Kithaulu, Wakalitesu, Sawentesu, Negarotê, Mamaindê, Latundê, 143 Sabanê, Manduka, Tawandê, Nambikwára MT, RO 1.682 (Renisi, 2008) Hahaintesu, Alantesu, Waikisu, Alaketesu, Wasusu, Sararé, Waikatesu 144 Naruvôtu Karib MT 78 (2003) 145 Nawa Náua AC 423 (Correia, 2005) 146 Nukini Nuquini Pano AC 600 (Correia, 2003) 147 Ofaié Ofaié- Ofayé MS 61 (Funasa, 2006) 148 Oro Win Txapacura RO 56 (Funasa, 2006) Paricuria, Paricores, Palincur, 1.293 (Iepé, 2010) 950 (Iepé, 149 Parikurene, Parinkur-Iéne, Païkwené, Aruak AP, Guiana Francesa 2010) Pa?ikwené Kreen-Akarore, Krenhakore, 150 Panará Jê MT, PA 374 (Yakiô, 2008) Krenakore, Índios Gigantes 151 Pankaiuká PE 152 Pankará PE 2.702 (Funasa, 2006) 153 Pankararé BA 1.562 (Funasa, 2006) 154 Pankararu MG, PE 6.515 (Funasa, 2006) 155 Pankaru Pankararu-Salambaia BA 179 (Funasa, 2006) 156 Parakanã Tupi-Guarani PA 900 (Fausto, 2004) 2.005 (AER Tangará da Serra, 157 Paresí Pareci, Halíti, Arití Aruak MT 2008) 158 Parintintin Cabahyba Tupi-Guarani AM 284 (Funasa, 2006) 159 Patamona Ingarikó, Kapon Karib RR, Guiana Equatorial 87 (Funasa, 2006) 5.500 (1990) 160 Pataxó Maxacali BA, MG 10.897 (Funasa, 2006) 161 Pataxó Hã-Hã-Hãe Maxakali BA 2.219 (Carvalho, 2005) 162 Paumari Pamoari Arawá AM 892 (Funasa, 2006) 163 Pipipã PE 1.640 (Funasa, 2006) 164 Pirahã Mura Pirahã Mura AM 389 (Funasa, 2006) Piratapuya, Piratapuyo, Piratuapuia, 1.433 (Dsei/Foirn, 2005) 400 165 Pira-tapuya Tukano AM, Colombia Pira-Tapuya (1988) 166 Pitaguary , Pitaguari CE 2.351 (Funasa, 2006) 167 Potiguara CE, PB 11.424 (Funasa, 2006) 168 Poyanawa Poianaua Pano AC 403 (CPI/AC, 2004) 169 Puroborá RO 62 (Funasa, 2006) Erigbaktsa, Canoeiros, Orelhas de 170 Rikbaktsá MT 1.117 (Funasa, 2006) Pau, Rikbaktsá 171 Sakurabiat Sakiriabar, Mequéns, Sakurabiat Tupari RO 84 (Funasa, 2006) 172 Sateré Mawé Sateré-Maué Mawé AM, PA 9.156 (Funasa, 2008) 173 Shanenawa Katukina Shanenawa, Shanenawa Pano AC 358 (Funasa, 2009) 174 Tukano AM, Colombia 71 (Dsei/Foirn, 2005) 665 (1988) 175 Suruí Paiter, Paiter Mondé MT, RO 1.007 (Funasa, 2006) 176 CE, MA 177 Tapayuna Beiço de pau Jê MT 58 (1995) 178 Tapebano, Perna-de-pau CE 5.741 (Funasa, 2006) 179 Tapirapé Tupi-Guarani MT, TO 564 (Projeto Aranowayão, 2006) 180 Tapuio Tapuya, Tapuia GO 180 (Funai/GO, 2006) 1.914 (PRN/ISA, 2002) 205 181 Tariana Aruak AM, Colombia (1988) Taulipang, Taurepangue, 586 (Funasa, 2009) 20.607 182 Taurepang Karib RR, Venezuela Taulipangue, Pemon (1992) 183 Tembé Tenetehara Tupi-Guarani MA, PA 1.425 (Funasa, 2006) 184 Kagwahiva Tupi-Guarani AM 699 (Funasa, 2006) 185 Terena Aruak MT, MS, SP 24.776 (Funasa, 2009) 4.535 (1988) 4.200 (1988) 186 Tikuna, Tukuna, Maguta Tikuna AM, Peru, Colombia 30.000 (CGTT, 2003) 187 Tingui Botó AL 302 (Funasa, 2006) Tirió, Trio, Tarona, Yawi, Pianokoto, 1.156 (Funasa, 2006) 1.400 188 Tiriyó Piano, Wü tarëno, Txukuyana, Karib AP, PA, Suriname (2001) Ewarhuyana, Akuriyó 189 Torá Txapacura AM 312 (Funasa, 2006) 190 Tremembé CE 2.049 (Funasa, 2006)

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191 Truká BA, PE 4.169 (Funasa, 2006) 192 Trumai Trumái MT 147 (Funasa, 2006) 193 Tsohom Djapá Tucano Katukina AM 100 (1985) 6.241 (Dsei/Foirn, 2005) 6.330 194 Tukano Tucano Tukano AM, Colombia (1988) 195 Tumbalalá BA 1.469 (Funasa, 2006) 196 Tupari Tupari RO 433 (Funasa, 2006) 197 Tupinambá Tupinambá de Olivença BA 4.729 (FUNASA, 2009) 198 ES 1.950 (Funasa, 2006) 199 Turiwara PA 60 (1998) 200 Tuxá BA, PE 3.927 (Funasa, 2006) 825 (Dsei/Foirn, 2005) 570 201 Tuyuka Tuiuca Tukano AM, Colombia (1988) 445 (Associação Indígena 202 Barbados, Omotina Bororo MT Umutina Otoparé, 2009) Bocas-negras, Bocas-pretas, Cautários, Sotérios, Cabeça- 203 Uru-Eu-Wau-Wau vermelha, Urupain, Jupaú, Tupi-Guarani RO 100 (Funasa, 2006) Amondawa, Urupain, Parakuara, Jurureís 204 Waimiri Atroari Kinja, Kiña, Uaimiry, Crichaná Karib AM, RR 1.120 (PWA, 2005) Hixkaryana, Mawayana, Karapayana, 205 Waiwai Karib AM, PA, RR 2.914 (Zea, 2005) Katuena, Xerew 412 (1992) 905 (Apina/Funai, 206 Wajãpi Wayapi, Wajapi, Oiampi Tupi-Guarani AP, PA, Guiana Francesa 2008) 207 Wajuru Tupari RO 183 (Funasa, 2009) 7.000 (Funasa, 2008) 6.000 208 Wapixana Aruak RR, Guiana Equatorial (forte, 1990) 209 Warekena Werekena Aruak AM, Venezuela 806 (Funasa, 2006) 491 (1988) 210 Wari' Uari, Wari, Pakaá Nova Txapacura RO 2.721 (Funasa, 2006) 211 Wassu AL 1.560 (Funasa, 2003) 212 Waujá Waurá Aruak MT 410 (Funasa, 2006) Upurui, Roucouyen, Orkokoyana, AP, PA, Guiana Francesa, 288 (Funasa, 2006) 400 (1999) 213 Urucuiana, Urukuyana, Alucuyana, Karib Suriname 800 (1999) Wayana 5.939 (1988) 42 (Funasa, 2008) 214 Uitoto Witoto AM, Peru, Colombia 2.775 (1988) 215 Xakriabá Jê MG 7.665 (Funasa, 2006) 216 Xavante Akwe, A´uwe Jê MT 13.303 (Funasa, 2007) 217 Acuen, Akwen, Akwê Jê TO 2.569 (Funasa, 2006) 218 Xetá héta, chetá, setá Tupi-Guarani PR 86 (da Silva, 2006) 219 Xikrin Kayapó Jê PA 1.343 (Funasa, 2006) 220 Xipaya Xipáya Juruna PA 595 (Funasa, 2002) bugres, botocudos, Aweikoma, 221 Xokleng Xokrén, Kaingang de Santa Catarina, Jê SC 887 (Funasa, 2004) Aweikoma-Kaingang, Laklanõ 222 Xokó Chocó, Xocó SE 364 (Funasa, 2006) 223 Xukuru Xucuru PE 10.536 (Funasa, 2007) 224 Xukuru-Kariri Xucuru AL, BA 2.652 (Funasa, 2006) 855 (Funasa, 2006) 324 (1993) 225 Yaminawá Iaminaua, Jaminawa Pano AC, AM, Peru, Bolivia 630 (1997) 17.000 (Distrito Sanitário 226 Yanoama, Yanomani, Ianomami Yanomami AM, RR, Venezuela Yanomami, 2010) 16.000 (2009) 227 Aruak MT 222 (Funasa, 2006) 519 (Funasa, 2006) 324 (1993) 228 Yawanawá Iauanaua Pano AC, Peru, Bolivia 630 (1993) 430 (Moreira-Lauriola, 2000) 229 Ye'kuana Yekuana Karib AM, RR, Venezuela 4.800 (Rodriguz e Sarmiento, 2000) 230 Yudjá Yuruna, Juruna, Yudjá Juruna MT, PA 362 (Funasa, 2006) 231 Zo'é Poturu Tupi-Guarani PA 177 (2003) 232 Zoró Pangyjej Mondé MT 599 (Funai/Ji-Paraná, 2008) 233 Zuruahã Índios do Coxodoá Arawá AM 136 (Funai, 2007)

Antes do contato com os colonizadores, os povos indígenas viviam em áreas onde os limites eram dados pelo próprio meio ambiente e pelos outros povos nativos que habitavam áreas contíguas, com os quais faziam guerra ou comércio. Com

23 a presença do estado brasileiro, são demarcados territórios, colocando-os em uma nova situação: a de terem que viver nessa área, com limites conhecidos e demarcados. A partir desse momento, para algumas populações indígenas que tiveram apenas os núcleos habitacionais demarcados como T.I.s (como as que habitam o sul do Brasil) se coloca a questão de como sobreviverem em uma área diminuta com a tecnologia tradicional e um crescente contingente populacional. Já para os povos indígenas da Amazônia, que têm seus territórios demarcados incluindo áreas de exploração dos recursos naturais é preciso pensar o crescimento populacional (que ocorre, em geral, após um decréscimo, logo antes, e após o contato) junto com a tecnologia e o meio ambiente que ocupam, elementos estruturadores de suas culturas.

A ocupação do Centro-Oeste e do Norte do país por europeus e outros, bem como o avanço da fronteira agrícola e da mineração, têm resultado em transformações profundas nas culturas indígenas, tal impacto pode ser medido pelo aumento de doenças e mortalidade nas terras indígenas, e pelos conflitos que têm surgido entre populações indígenas e não-indígenas devido à expansão agrícola. Contudo, as sociedades indígenas nunca existiram em um estado de isolamento total. Antes do contato com a sociedade brasileira mais ampla, os grupos indígenas sempre mantinham relações entre si. Em várias regiões, e de várias formas, povos diferentes são ligados em decorrência de guerras, troca de objetos, casamentos, convites para participar de celebrações, rituais etc. Embora tenham se transformado com o passar do tempo, essas redes continuam a existir até hoje. Tais redes podem incluir apenas um grupo pequeno de comunidades vizinhas, ou podem abranger uma região inteira. Em alguns casos, são redes muito complexas de intercâmbio, nas quais cada grupo tem um papel especial.

A Constituição Brasileira estabelece o dever do governo de definir e delimitar as terras indígenas, e de protegê-las. Para os povos indígenas, as terras tradicionais significam mais do que o sustento, um meio de subsistência ou um fator de produção – a terra serve como um mundo simbólico de referência. Para as pessoas indígenas, todas as dimensões da vida baseiam-se em seu território físico. Por meio do conhecimento e domínio de uma área, os grupos indígenas estabelecem e mantêm relações, idéias, crenças e produtos de sua vida sociocultural.

Uma parcela da população indígena tem se mudado para centros urbanos em busca de uma melhor qualidade de vida, oportunidades de estudo e/ou serviços de saúde. Contudo, não perdem sua identidade, e estabelecem espaços comunitários para a realização de rituais, além da manutenção de vínculos de

24 parentesco e contatos com suas comunidades originais. Determinados grupos têm organizado associações étnicas em algumas cidades maiores – como São Paulo e Campo Grande, por exemplo – ou centros comunitários nos quais podem se reunir famílias recém chegadas de terras indígenas. Tais equipamentos geralmente estão localizados nos centros urbanos mais pobres. Nas terras indígenas, a sensação de marginalização, exacerbada por conflitos frequentes entre os interesses econômicos das elites locais e os direitos territoriais indígenas, contribui muito para a resistência indígena a qualquer proposta de "municipalização" das funções atualmente atribuídas ao governo federal, e essa resistência está muito marcada no setor saúde.

A mortalidade infantil entre os povos indígenas diminuiu de 57,3 para 48,6 por 1.000 nascidos vivos entre 2000 e 2006, enquanto a mortalidade infantil total diminuiu de 26,7 para 21,7 no Brasil, no mesmo período. Em todos os continentes, os indicadores de saúde dos povos indígenas são piores que os da população em geral; e na América Latina, as taxas de mortalidade entre as populações indígenas são de 3 a quatro vezes maiores que as respectivas taxas médias nacionais.

Alguns grupos indígenas já têm prevalência significativa de morbidade e mortalidade relativa a doenças degenerativas crônicas associadas a violência e a doenças infecciosas. Essa tendência afeta sobretudo os homens, devido à disseminação do estilo de vida sedentário. Outros povos indígenas ainda estão em uma situação de transição típica de deficiência no acesso a bens e serviços públicos. Entre outras coisas, isso é caracterizado pela alta prevalência de subnutrição entre crianças com menos de 5 anos de idade, malária, tuberculose e leishmaniose. A saúde mental, o infanticídio, o alcoolismo e o suicídio entre os grupos indígenas são questões importantes e complexas, para as quais o governo tem grande dificuldade em encontrar soluções.

Nesse contexto, o Brasil envidado esforços para reverter tais desigualdades, e para resgatar a dívida histórica para com os povos indígenas por meio da adoção de uma política nacional. A legislação aprovada desde 1999 atesta o enorme esforço realizado durante os últimos nove anos para a construção de uma estrutura legal e institucional para o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena. A origem dessa política é a Constituição de 1988, que reconhece e respeita as organizações culturais dos povos indígenas, garantindo-lhes direitos civis plenos, tornando obsoletas instituições de tutela e outorgando ao governo o poder exclusivo de legislar sobre questões relacionadas aos povos indígenas. A Constituição também definiu os princípios gerais do Sistema Único de Saúde (SUS), reconhecendo o direito à saúde e garantindo a equidade dos serviços para as populações vulneráveis. Por

25 outro lado, países com renda per capita maior que o Brasil têm enfrentando grandes dificuldades em estruturar sistemas capazes de reverter as desigualdades de saúde entre pessoas indígenas e não-indígenas (ex.: Austrália, Canadá e os EUA).

A consolidação de um Subsistema de Atenção à Saúde Indígena foi alcançada com a adoção, em 1999, da Lei Arouca, que estabeleceu os Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) baseados em territórios sob a responsabilidade da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA). O subsistema funciona com os mesmos princípios promovidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), baseados na equidade e na integralidade, para garantir aos povos indígenas o direito ao acesso universal, baseado em necessidades de saúde identificadas pelas comunidades, e envolvendo as populações indígenas em todas as etapas do planejamento, implementação e avaliação das ações. O subsistema proporciona a promoção da saúde, a prevenção de doenças e atenção à saúde para os grupos indígenas.

Gráfico 1. Distribuição da População Indígena por DSEI em 2007

Fonte: Siasi/FUNASA

No Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, os DSEI são organizações voltadas para serviços, que realizam atividades técnicas, promovem a organização da rede de saúde, e realizam as atividades gerenciais e administrativas necessárias para a prestação dos serviços de atenção à saúde, com a participação da

26 comunidade indígena e com controle social. Os DSEI possuem profissionais técnicos e outros profissionais, como gestores, pessoal administrativo, motoristas e assim por diante. As equipes multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI) que atuam nos DSEI são o equivalente às equipes do Programa Saúde da Família, que também atuam baseadas em territórios. As EMSI são contratadas ou pela FUNASA, por meio de convênios com OSC, ou pelo respectivo município, e prestam serviços que são específicos aos DSEI.

Em 2009, um Decreto Presidencial determinou que a capacidade dos DSEI deve ser construída até dezembro de 2010, de modo que estes se tornem autônomos. Isso capacitará os DSEI para coordenar, supervisionar e implementar as atividades do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena no contexto do SUS.

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4.2 ENQUADRAMENTO JURÍDICO E ADMINISTRATIVO DAS

POLÍTICAS

a) Constituição Federal da República Federativa do Brasil: Reconhece aos povos indígenas suas especificidades étnicas e culturais bem como estabelece seus direitos sociais, sendo principais os artigos 231 e 232 do capítulo VIII (Dos Índios) do Título VIII (Da ordem social). Estes direitos são reafirmados pela Convenção no. 169 da Organização Internacional do Trabalho - OIT, ratificada pelo Brasil em 2003. b) Decreto Nº 3.156, de 27 de agosto de 1999: Dispõe sobre as condições para a prestação de assistência à saúde dos povos indígenas, no âmbito do Sistema Único de Saúde, pelo Ministério da Saúde, altera dispositivos dos Decretos nºs 564, de 8 de junho de 1992, e 1.141, de 19 de maio de 1994, e dá outras providências. Art. 1º A atenção à saúde indígena é dever da União e será prestada de acordo com a Constituição e com a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, objetivando a universidade, a integralidade e a equanimidade dos serviços de saúde. c) Portaria MS Nº 1.163, de 14 de setembro de 1999: Dispõe sobre as responsabilidades na prestação de assistência à saúde dos povos indígenas, no Ministério da Saúde e dá outras providências. d) Lei Nº 9.836, de 23 de setembro de 1999 – Também conhecidas como Lei Arouca: Acrescenta dispositivo à Lei nº 8080, de 19 de setembro de 1990, que "dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências", instituindo o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena. e) Portaria Nº 254, de 31 de janeiro de 2002: Aprova a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas.

28 f) Portaria Nº 70/GM, de 20 de janeiro de 2004: Aprova as Diretrizes da Gestão da Política Nacional de Atenção à Saúde Indígena. g) Decreto n° 6.878, de 18 de junho de 2009: que aprova o Estatuto e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas da Fundação Nacional de Saúde – FUNASA. h) Medida Provisória 483, de 24 de março de 20010: redefine a estrutura organizacional do Ministério da Saúde.

DEMAIS PORTARIAS RELEVANTES:

i) Portaria Nº 399/GM, de 22 de fevereiro de 2006: Divulga o Pacto pela Saúde 2006 – Consolidação do SUS e aprova as Diretrizes Operacionais do Referido Pacto. j) Portaria Nº 645/GM, de 27 de março de 2006: Institui o Certificado Hospital Amigo do Índio, a ser oferecido aos estabelecimentos de saúde que fazem parte da rede do Sistema Único de Saúde (SUS). k) Portaria Nº 648, de 28 de março de 2006 - Política Nacional de Atenção Básica: Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica para o Programa Saúde da Família (PSF) e o Programa Agentes Comunitários de Saúde (PACS). O Piso da Atenção Básica - PAB recursos financeiros federais destinados à viabilização de ações de Atenção Básica à saúde compõe o Teto Financeiro do Bloco Atenção Básico. Composição: Parte Fixa (PAB fixo) destinada a todos os municípios; Parte variável (PAB variável) destinada a estimular a implantação das seguintes estratégias nacionais de reorganização do modelo de atenção à saúde: Saúde da Família – SF; Agentes Comunitários de Saúde – ACS; Saúde Bucal – SB; Compensação de Especificidades Regionais; Saúde Indígena – SI; e Saúde no Sistema Penitenciário. Transferência dos recursos financeiros que compõem os incentivos relacionados ao PAB variável da Saúde Indígena – SI será regulamentada em portaria específica. l) Portaria Nº 204/GM, de 29 de janeiro de 2007: Regulamenta o financiamento e a transferência dos recursos federais para as ações e os serviços de saúde, na forma de blocos de financiamento, com o respectivo monitoramento e controle.

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4.3 DIRETRIZES ESTRATÉGICAS DAS POLÍTICAS DE SAÚDE DOS

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL

Foi publicada a Medida Provisória n° 483, de 24 de março de 2010, que redefine a estrutura do Ministério da Saúde por meio da criação de sua sexta secretaria – Secretaria Especial de Saúde Indígena. Nessa nova estrutura caberá à União, com seus recursos próprios, ordenar e financiar o Subsistema de Saúde Indígena em parceria com os órgãos responsáveis pela Política Indigenista do País. Está previsto, ainda, que as ações levem em consideração a realidade local e as especificidades da cultura dos povos indígenas para implementação do modelo de atenção à saúde dos povos indígenas, que deve se pautar por uma abordagem diferenciada e global, contemplando os aspectos de assistência à saúde, saneamento básico, nutrição, habitação, meio ambiente, demarcação de terras, educação sanitária e integração interinstitucional.

Até que seja publicado o regulamento da MP, ainda estão valendo as diretrizes da Politica de Saúde Indigena definidas pelo Ministerio da Saúde por meio da FUNASA.

1. Estruturação de Unidades de Saúde: Os Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dseis)

O Distrito Sanitário é um modelo de organização de serviços orientado para um ser um espaço etno-cultural dinâmico, geográfico, populacional e administrativo delimitado. O DSEI é responsável pelo conjunto de atividades técnicas, medidas racionalizadas e qualificadas de atenção à saúde, para promover a reordenação da rede de saúde e das práticas sanitárias e organizar as atividades administrativo/gerenciais necessárias à prestação da assistência, estimulando o controle social.

Para a definição e organização dos DSEI foram realizadas discussões e debates com a participação de lideranças e organizações indígenas, do órgão indigenista oficial, de antropólogos, universidades e instituições governamentais e não- governamentais que prestam serviços às comunidades indígenas, além de secretarias municipais e estaduais de Saúde.

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Entre as atribuições do DSEI destacam-se a preparação dos recursos humanos para atuação no âmbito intercultural, monitoramento das ações de saúde dirigidas aos indígenas, articulação dos sistemas tradicionais indígenas de saúde, promoção do uso adequado e racional de medicamentos, promoção de ambientes saudáveis e proteção da saúde indígena e o controle social.

Cada Distrito Sanitário é responsável também pelas ações que envolvem, direta ou indiretamente, a assistência farmacêutica no contexto da atenção à saúde indígena, tais como seleção, programação, aquisição, acondicionamento, estoque, distribuição, controle e vigilância, inclusive a dispensação e a prescrição de medicamentos. Essas ações consideram sempre, em primeiro lugar, as necessidades e a realidade epidemiológica local.

2. Os Pólos Base

Na organização dos serviços de saúde, outra instância de atendimento, é o Pólo Base. Eles são a primeira referência para os Agentes Indígenas de Saúde(AIS) que atuam nas aldeias, no nível local, para a atenção primária e os serviços de referência. Podem estar localizados numa comunidade indígena ou num município de referência. Neste último caso, correspondem a uma unidade básica de saúde, já existente na rede de serviços daquele município.

Os agravos à saúde que não forem, ou não puderem ser atendidos, em função do grau de resolutividade, nos Pólos Base são encaminhados para a rede de serviços do SUS, de acordo com a realidade de cada Dsei. Essa rede já tem sua localização geográfica definida e é articulada e incentivada a atender os índios, levando em consideração a realidade sócio-econômica e a cultura de cada povo indígena, por intermédio de diferenciação de financiamento.

3. Postos de Saúde

Os 751 Postos de Saúde são unidades de saúde avançadas, que servem de apoio aos Pólos, prestando os serviços básicos de saúde e atendendo em caráter emergencial.

4. As Casas de Apoio à Saúde do Índio

Os serviços de apoio aos pacientes indígenas encaminhados à rede do Sistema Único de Saúde são prestados pelas Casas de Apoio à Saúde do Índio. As

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Casai foram instaladas a partir da readequação das antigas Casas do Índio. Elas possuem condições de receber, alojar e alimentar pacientes encaminhados e acompanhantes, prestar assistência de enfermagem 24 horas por dia, marcar consultas, exames complementares ou internação hospitalar, providenciar o acompanhamento dos pacientes nessas ocasiões e o seu retorno às comunidades de origem, acompanhados das informações sobre o caso.

Além disso, as Casai promovem atividades de educação em saúde, produção artesanal, lazer e demais atividades para os acompanhantes e mesmo para os pacientes em condições para essas atividades.

5. As Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena

As equipes de saúde dos Dsei são compostas por médicos, enfermeiros, odontólogos, auxiliares de enfermagem e agentes indígenas de saúde, contando com a participação sistemática de antropólogos, educadores, engenheiros sanitaristas e outros especialistas e técnicos considerados necessários.

De acordo com dados do início de 2008 atuam na área indígena 12.895 profissionais de saúde. Desses profissionais e técnicos, 1681 são de nível superior e 11.214 de nível médio:

6. Os Agentes Indígenas de Saúde e sua capacitação:

Nas aldeias, a atenção básica é realizada pelos Agentes Indígenas de Saúde (AIS), nos postos de saúde, e pelas equipes multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI) periodicamente, de acordo com o planejamento das suas ações.

Atualmente estão em processo de formação pela Funasa 3.463 AIS, em diversos estágios dos seis módulos que capacitam:

- AIS formados e certificados: 414

- AIS que já concluiram todos os módulos: 25

- EMSI envolvidos: 959 profissionais capacitam os Ais

A Formação de Agentes Indígenas de Saúde foi definida conforme a diretriz específica da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas.

A Preparação desses recursos humanos para atuação em contexto intercultural exigiu a formação e a capacitação de indígenas como agentes de saúde, e é uma estratégia que visa favorecer a apropriação, pelos povos indígenas, de

32 conhecimentos e recursos técnicos da medicina ocidental, não de modo a substituir, mas de somar ao conhecimento de terapias e outras práticas culturais próprias, tradicionais ou não.

O Programa de Formação de Agentes Indígenas de Saúde foi concebido como parte do processo de construção dos Dsei. Foi desenvolvido em serviço e de forma continuada, sob a responsabilidade de Instrutores/Supervisores, devidamente capacitados, com a colaboração de outros profissionais de serviço de saúde e das lideranças e organizações indígenas.

O processo de formação dos agentes indígenas de saúde foi elaborado dentro dos marcos preconizados pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB (Lei nº 9.394/96), no que diz respeito ao ensino básico, direcionado para a construção de competências/habilidades, visando facilitar o prosseguimento da profissionalização nos níveis médio (técnico) e superior (tecnológico).

Nesse sentido, a Funasa, órgão responsável pela execução das ações de atenção à saúde dos povos indígenas fez gestões, junto aos órgãos e instituições competentes no campo da educação, no sentido de obter a certificação de competências para os agentes que seguirem o processo de formação, inclusive aqueles já capacitados, de acordo com o que faculta a Lei nº 9.394/96.

O modelo prevê também a promoção de cursos de atualização, aperfeiçoamento, especialização para gestores, profissionais de saúde e assessores técnicos (indígenas e não-indígenas) das várias instituições que atuam no sistema.

7. Ações e atividades da saúde indígena

O quadro da saúde dos povos indígenas é o reflexo de de descaso, que só começou a ser revertida nas duas última décadas. A população indígena brasileira, no Século XVI, é estimada em cerca de 5 milhões de pessoas, de diversas etnias. Dessas muitas foram totalmente dizimadas pelas expedições punitivas contrárias as suas crenças, culturas e a sua resistência.

Porém, o principal agente da mortandade foram as epidemias de doenças infecciosas, que tinham a sua virulência e letalidade favorecidas pelas alterações no seu modo de vida impostas pela colonização e cristianização (escravidão, trabalho forçado, maus tratos, confinamento e fixação compulsória em aldeamentos e internatos).

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Ao longo de mais de 500 anos como até hoje houve conflitos de interesses econômicos e sociais entre os povos indígenas e os diversos segmentos da sociedade, especialmente nas questões relacionadas à posse da terra, exploração de recursos naturais e implantação de grandes projetos de desenvolvimento.

Essa realidade também marcou as diversas fases e órgãos que foram anteriormente responsáveis pela saúde dos indígenas, que começou oficialmente com a criação em 1910, do Serviço de Proteção ao Índio e Trabalhadores Nacionais (SPI). O órgão era vinculado ao Ministério da Agricultura, e destinava-se a proteger os índios, procurando o seu enquadramento progressivo na sociedade e o de suas terras no sistema produtivo nacional.

A Constituição de 1988 definiu os princípios gerais do Sistema Único de Saúde (SUS), e estabeleceu a responsabilidade pelo Sistema para o Ministério da Saúde.

Para debater a saúde indígena, especificamente, foram realizadas, em 1986 e 1993, a I Conferência Nacional de Proteção à Saúde do Índio e a II Conferência Nacional de Saúde para os Povos Indígenas, por indicação das VIII e IX Conferências Nacionais de Saúde, respectivamente. Essas duas Conferências propuseram a estruturação de um modelo de atenção diferenciada, baseado na estratégia de Distritos Sanitários Especiais Indígenas, como forma de garantir a esses povos o direito ao acesso universal e integral à saúde, atendendo às necessidades percebidas pelas comunidades e envolvendo a população indígena em todas as etapas do processo de planejamento, execução e avaliação das ações.

Atualmente a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas é regulamentada pela Portaria do Ministério da Saúde nº 254, de 31 de janeiro de 2002. Ela faz parte da Política Nacional de Saúde, de acordo com as determinações das Leis Orgânicas da Saúde com as da Constituição Federal, que reconhecem aos povos indígenas suas especificidades étnicas e culturais e seus direitos territoriais.

Esta proposta foi regulamentada pelo Decreto n.º 3.156, de 27 de agosto de 1999, que dispõe sobre as condições de assistência à saúde dos povos indígenas, e pela Medida Provisória n.º 1.911-8, que trata da organização da Presidência da República e dos Ministérios, onde foi incluída a transferência de recursos humanos e outros bens destinados às atividades de assistência à saúde da Funai para a Funasa, e pela Lei nº 9.836/99, de 23 de setembro de 1999, que estabeleceu o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena no âmbito do SUS.

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A implementação da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas exigiu a adoção de um modelo complementar e diferenciado de organização dos serviços - voltados para a proteção, promoção e recuperação da saúde -, que assegurasse aos índios o exercício de sua cidadania.

Para a efetivação dessa Política, desde 1999, a Funasa teve de criar uma imensa rede de serviços nas terras indígenas, de forma a superar as deficiências de cobertura, acesso e aceitabilidade do Sistema Único de Saúde (SUS) pelos índios. Tudo para possibilitar a descentralização, universalidade, eqüidade, participação comunitária e controle social.

Para que esses princípios pudessem ser efetivados, era necessário que a atenção à saúde se desse de forma diferenciada, levando-se em consideração as especificidades culturais e epidemiológicas desses povos.

Com base nesses preceitos, foi formulada a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, cuja elaboração contou com a participação de representantes dos órgãos responsáveis pelas políticas de saúde e pela política e ação indigenista do governo, bem como de organizações da sociedade civil com trajetória reconhecida no campo da atenção e da formação de recursos humanos para a saúde dos povos indígenas. Para assegurar a participação indígena em todas as etapas da formulação, implantação, avaliação e aperfeiçoamento da Política, a elaboração desta proposta teve a participação de representantes das organizações indígenas, com experiência na execução de projetos de atenção à saúde dessas comunidades.

4.4 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO À SAÚDE AOS POVOS

INDÍGENAS

1. A Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas integra a Política Nacional de Saúde

A Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas integra a Política Nacional de Saúde, compatibilizou as determinações da Lei Orgânica da Saúde com as da Constituição Federal. Ela prevê, dentre outras coisas, o direito das populações a um atendimento diferenciado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que respeite suas especificidades culturais.

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Desde agosto de 1999, o Ministério da Saúde, por intermédio da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), assumiu a responsabilidade de estruturar o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS.

2. Caracterização dos DSEI

O Subsistema de Saúde Indígena do Sistema Único de Saúde (SUS) está organizado em 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas – DSEI. È um espaço étnico-cultural dinâmico, geográfico, populacional e administrativo bem delimitado, que não guarda relação direta com os limites dos estados e municípios onde estão localizadas as terras indígenas.

O território que delimita estes distritos respeita a distribuição geográfica, antropológica e de acesso aos serviços de saúde pelos povos indígenas.

Visa a promover a reordenação da rede de saúde e das práticas sanitárias, e desenvolver atividades administrativo-gerenciais necessárias à prestação da assistência com controle social.

Localização no mapa do Brasil de cada um dos 34 DSEIs:

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Os DSEI devem prestar atenção básica à população indígena aldeada, mediante atuação de Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI), nos moldes do Programa Saúde da Família (PSF), compostas por médicos, enfermeiros, odontólogos, auxiliares de enfermagem e Agentes Indígenas de Saúde.

Esses serviços devem ser integrados e articulados à rede do SUS, de forma hierarquizada, tendo como instância regional os Pólos-base.

As Casas de Saúde do Índio, sob responsabilidade da FUNASA, também integram a rede de referência do SASI, servindo para abrigar e cuidar dos pacientes e seus acompanhantes, durante períodos de tratamento em serviços de referência fora das aldeias.

O modelo de organização dos serviços de saúde para as áreas indígenas, com os Distritos Sanitários, diz respeito a implantação de um modelo de saúde adequado às áreas indígenas, inserido em um subsistema de atenção à saúde ligada ao Sistema Único de Saúde (SUS).

A constituição da rede de serviços leva em conta a estrutura de serviços de saúde já existentes nas terras indígenas, sendo adequada e ampliada de acordo com as necessidades de cada local. A atenção à saúde dos povos indígenas poderá ser realizada de forma complementar por Estados e Municípios sem prejuízo da mesma.

Organização interna de um DSEI e Fluxo de Atenção à Saúde:

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4.5 POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO

Instituída pelo Ministério da Saúde em 2003, a Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS (HumanizaSUS) foi formulada a partir da sistematização de experiências do chamado "SUS que dá certo". Ela reconhece que estados, municípios e serviços de saúde estão implantando práticas de humanização nas ações de atenção e gestão com bons resultados, o que contribui para a legitimação do SUS como política pública.

O HumanizaSUS tem o objetivo de efetivar os princípios do Sistema Único de Saúde no cotidiano das práticas de atenção e de gestão, assim como estimular trocas solidárias entre gestores, trabalhadores e usuários para a produção de saúde e a produção de sujeitos. Queremos um SUS humanizado, comprometido com a defesa da vida e fortalecido em seu processo de pactuação democrática e coletiva.

A humanização do SUS é entendida como:

- Valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde: usuários, trabalhadores e gestores, considerando e valorizando as diversidades; - Fomento da autonomia e do protagonismo desses sujeitos e dos coletivos; - Aumento do grau de co-responsabilidade na produção de saúde e de sujeitos; - Estabelecimento de vínculos solidários e de participação coletiva no processo de gestão; - Mapeamento e interação com as demandas sociais, coletivas e subjetivas de saúde; - Defesa de um SUS que reconhece a diversidade do povo brasileiro e a todos oferece a mesma atenção à saúde, sem distinção de idade, etnia, origem, gênero e orientação sexual; - Mudança nos modelos de atenção e gestão em sua indissociabilidade, tendo como foco as necessidades dos cidadãos , a produção de saúde e o próprio processo de trabalho em saúde, valorizando os trabalhadores e as relações sociais no trabalho; - Proposta de um trabalho coletivo para que o SUS seja mais acolhedor, mais ágil e mais resolutivo; - Compromisso com a qualificação da ambiência, melhorando as condições de trabalho e de atendimento; - Compromisso com a articulação dos processos de formação com os serviços e práticas de saúde;

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- Luta por um SUS mais humano, porque construído com a participação de todos e comprometido com a qualidade dos seus serviços e com a saúde integral para todos e qualquer um.

PRINCÍPIOS NORTEADORES

Destacamos, então, os princípios norteadores da Política de Humanização:  Valorização da dimensão subjetiva, coletiva e social em todas as práticas de atenção e gestão no SUS, fortalecendo o compromisso com os direitos do cidadão, destacando-se o respeito às reivindicações de gênero, cor/etnia, orientação/expressão sexual e de segmentos específicos (populações negras, do campo, extrativistas, povos indígenas, remanescentes de quilombos, ciganos, ribeirinhos, assentados, etc.);  Fortalecimento de trabalho em equipe multiprofissional, fomentando a transversalidade e a grupalidade;  Apoio à construção de redes cooperativas, solidárias e comprometidas com a produção de saúde e com a produção de sujeitos;  Construção de autonomia e protagonismo dos sujeitos e coletivos implicados na rede do SUS;  Co-responsabilidade desses sujeitos nos processos de gestão e atenção;  Fortalecimento do controle social, com caráter participativo, em todas as instâncias gestoras do SUS;  Compromisso com a democratização das relações de trabalho e valorização dos trabalhadores da saúde, estimulando processos de educação permanente;  Valorização da ambiência, com organização de espaços de trabalho saudáveis e acolhedores.

DISPOSITIVOS DA PNH

Para a viabilização dos princípios e alcance dos resultados esperados com a implantação do HumanizaSUS, a PNH opera com os seguintes dispositivos, entendidos como “tecnologias” ou “modos de fazer”:

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 Ambiência - refere-se ao tratamento dado ao espaço físico entendido como espaço social, profissional e de relações interpessoais que deve proporcionar atenção acolhedora, resolutiva e humana. Ao adotar o conceito de Ambiência para a arquitetura nos espaços da Saúde, atinge-se um avanço qualitativo no debate da humanização dos territórios de encontros do SUS. Vai-se além da composição técnica, simples e formal dos ambientes, passando a considerar as situações que são construídas. Essas situações são construídas em determinados espaços e num determinado tempo, e vivenciadas por uma grupalidade, um grupo de pessoas com seus valores culturais e relações sociais.  Respeito à cultura e às diferenças – os espaços de saúde têm peculiaridades que se dão pelas rotinas ali estabelecidas pelo usuário e trabalhador, as diferentes redes sociais que acolhem, as diferenças regionais, religiosas e étnicas. Todas elas devem ser consideradas. É preciso considerar a importância de se conhecer os valores e costumes da comunidade em que se está atuando. Vale lembrar que existem preconceitos referentes à concepção dos espaços da saúde que muitas vezes refletem uma cultura social dominante, em que o arquiteto e um pequeno grupo dirigente intervêm e decidem sobre a configuração espacial de um edifício pautando-se muito mais em seus próprios conceitos, nas regras e normas padronizadas, do que no estudo do cotidiano da Instituição.  Acolhimento - O acolhimento é um modo de operar os processos de trabalho em saúde de forma a atender a todos que procuram os serviços de saúde, ouvindo seus pedidos e assumindo uma postura capaz de acolher, escutar e dar respostas adequadas aos usuários.  Acolhimento com classificação de risco – consiste numa ferramenta para proporcionar a atenção por nível de gravidade. A Classificação de Risco considera minimamente as seguintes áreas de atendimento: área de emergência e área de pronto atendimento.  Equipes de referência e de apoio matricial;  Projeto terapêutico singular e projeto de saúde coletiva;  Projetos de construção coletiva da ambiência;  Colegiados de gestão;  Contratos de gestão;  Sistemas de escuta qualificada para usuários e trabalhadores da saúde: gerência de “porta aberta”, ouvidorias, grupos focais e pesquisas de satisfação;

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 Programa de Formação em Saúde e Trabalho e Comunidade Ampliada de Pesquisa;  Programas de qualidade de vida e saúde para os trabalhadores da saúde;  Visita aberta e direito a acompanhante.

Abaixo, transcrevemos o exemplo de uma atitude acolhedora, que é uma atitude atenta e porosa à diversidade cultural, racial e étnica:

“Uma usuária indígena recorre a uma unidade de saúde por conta de um agudo mal-estar. Realizado o atendimento e o diagnóstico, é indicada uma cirurgia urgente, a ser realizada pelo umbigo (laparoscopia). Ao ser comunicada sobre o procedimento indicado, a usuária se recusa a realizar a cirurgia. Argumenta que não pode deixar que mexam no seu umbigo, pois este é “a fonte de onde brota a vida” e, se assim o fizesse, sua alma seria maculada. Diante da recusa e em face da urgência para a realização do procedimento, a equipe entra em contato com o cacique da tribo onde a usuária vive. Juntos, decidem que a usuária seria levada para uma unidade mais perto de sua tribo e que, antes do procedimento, o pajé da tribo realizaria um ritual que garantiria a preservação de sua alma. Sua crença foi considerada pela equipe que, posteriormente, teve sucesso na realização da cirurgia”.

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4.6 OS HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS FEDERAIS E O ATENDIMENTO À

POPULAÇÃO INDÍGENA

Segundo levantamento realizado pela Coordenação Geral dos Hospitais Universitários Federais/DHR/SESu/MEC, no mês de maio de 2010, junto a rede de Hospitais Universitários Federais, cerca de 28% dos hospitais prestam algum atendimento a população indígena cujo acesso se dá por demanda espontânea, complexo regulador ou encaminhamento pelas CASAI.

Dos hospitais que declararam atender a esta população, apenas 37% realizam ações de acolhimento e ambiência, nos demais HUs a população indígena é atendida da mesma forma como são atendidos os demais cidadãos.

De acordo com a Portaria Interministerial nº. 883, de 05 de julho de 2010, que regulamenta o Dec. 7082/10 que prevê a criação de um comitê gestor que tem como competências:

i. analisar e aprovar as ações propostas no âmbito do REHUF e o respectivo Pacto Global de Desempenho; ii. definir metas adicionais, além daquelas publicadas como anexo da portaria, e monitorar os resultados do Pacto Global de Desempenho dos Hospitais Universitários; iii. monitorar a implementação do REHUF; iv. avaliar, aprovar e monitorar os recursos transferidos aos HUs, no escopo do financiamento global; v. definir os parâmetros de desempenho para o conjunto dos hospitais universitários e diretrizes para negociação dos Pactos Globais com cada HU; e vi. manifestar-se sobre os parâmetros propostos pela Unidade Executiva do Programa para definição do quantitativo de pessoal dos HUs e encaminhá-los para apreciação do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.

Assim, todas as ações de ambiência e acolhimento à população indígena nos Hospitais Universitários Federais, que vierem a ser realizadas no âmbito do REHUF serão definidas e priorizadas no âmbito do Comitê Gestor que analisará e consolidará os Planos Diretores elaborados e enviados à Diretoria de Hospitais

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Universitários Federais e Residências em Saúde (DHR/SESu/MEC) pelos HUs, constituindo no Plano Diretor da Rede de Hospitais Universitários Federais.

Cabe destacar que todas as ações realizadas no âmbito do projeto para o atendimento à população indígena estarão em consonância com as Políticas de Saúde em especial a Política de Saúde Indígena do Ministério da Saúde.

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4.7 DESENVOLVIMENTO DE AÇÕES VOLTADAS A POPULAÇÃO

INDÍGENA NA REDE DE HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS FEDERAIS

O desenvolvimento de ações voltadas à qualificação da prestação de serviços a população indígena terá inicio terá inicio antes da efetivação do Projeto. Em agosto de 2010 será realizada em Brasília uma reunião com os diretores dos hospitais localizados em áreas de concentração indígena, para um alinhamento conceitual sobre os princípios, diretrizes e ações a serem desenvolvidas para o atendimento a população indígena, promovendo a troca de experiências e o desenho de um modelo de atenção que atenda as especificidades daquela população.

4.7.1 AÇÕES DE AMBIÊNCIA E ACOLHIMENTO NOS HUS LOCALIZADOS ZONAS COM GRANDE CONCENTRAÇÃO POPULACIONAL INDIGENA

O desenvolvimento das ações terá um custo de US$ 200,000 e será custeado por meio do Componente 2 – Fortalecimento Institucional do REHUF.

Aproximadamente um terço dos HUs está situado em áreas de grande concentração indígena, por esse motivo, serão realizadas, no decorrer do projeto uma série de ações, visando qualificar o atendimento realizado a esta população, conforme tabela abaixo: # AÇÕES 2010 2011 2012 2013 2014 Responsável 1 Oficina para alinhamento conceitual e troca de experiências sobre o X DHR/MEC/SESu atendimento a população indígena. 2 Sensibilizar os dirigentes dos HUs para prestar atendimento X DHR/MEC/SESu humanizado à população indígena; 3 Inserir campo no sistema REHUF para monitoramento dos X DHR/MEC/SESu e DTI/SE/MEC atendimentos realizados a população indígena; 4 Capacitar os trabalhadores da saúde para o atendimento a população X DHR/MEC/SESu e diretores e técnicos indígena e demais populações vulneráveis; dos HUs que possuem experiências exitosas no atendimento a população indígena 5 Ampliar o diálogo entre os trabalhadores, entre os trabalhadores e a X DHR/MEC/SESu e diretores de HUs população e entre os trabalhadores e a administração dos HUs, promovendo a gestão participativa, colegiada, e a gestão compartilhada dos cuidados/atenção à saúde da população indígena; 6 Adequar os serviços ao ambiente e à cultura indígena, respeitando a X DHR/MEC/SESu e HUs privacidade e promovendo a ambiência acolhedora e confortável; 7 Implantar o sistema de atendimento por classificação de risco, X DHR/MEC/SESu e HUs (*) considerando as especificidades e características da população indígena; 8 Apoiar o gestor local na organização da rede de atenção a saúde da X DHR/MEC/SESu e HUs (*) população indígena; 9 Qualificar o hospital para a referência da rede de atenção a saúde, X DHR/MEC/SESu e HUs (*) considerando a oferta especializada de procedimentos de media e alta complexidade; 10 Desenvolver pesquisas clinicas com foco no perfil da população X DHR/MEC/SESu, IFES e HUs (*) indígena, assegurando a construção de conhecimento a luz das diferentes realidades locorregionais; 11 Servir de local de ensino, aprendizagem e treinamento em serviço para X DHR/MEC/SESu, IFES e HUs (*) a formação de integrantes da população indígena; (*) Para a realização destas ações será necessária a interlocução com o órgão responsável pela saúde indígena no Ministério da Saúde.