Alguns Aspectos Da MPB, De Euclides Amaral, Me- Rece Lugar De Destaque Nessa Nova Produção
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ORELHAS É verdade que a literatura sobre música popular vem se enriquecendo nos últimos anos com estudos de gran- de relevância. Eles têm contribuído de forma expres- siva para a divulgação deste segmento tão importan- te da nossa cultura e tão revelador da nossa identidade. O livro Alguns Aspectos da MPB, de Euclides Amaral, me- rece lugar de destaque nessa nova produção. Pesquisador atento, interessado e curioso como devem ser os verdadeiros pesquisadores, reúne, nesta obra panorâmica, ensaios que cobrem a diversidade dos nossos ritmos desde a tradição do choro ao funk e ao hip-hop da contemporaneidade urbana. Além da qualidade dos ensaios que, insisto, trazem infor- mações bastante precisas, o que revela o cuidado do pes- quisador, vale observar-se a sintaxe organizacional do li- vro. Talvez seja ai onde Amaral imprima sua marca com maior evidência. Orquestra com habilidade o diálogo en- tre a prosa e os textos poéticos que precedem os ensaios, o que dá ao conjunto da obra um ritmo singular. Importante também ressaltar o fato de que o autor dirige sua atenção tanto para a música (melodia, harmonia e ritmo) quanto para o texto poético, para a letra da canção, contemplan- do assim os dois códigos fundadores da canção popular. Outro dado que merece destaque é a utilização de um regis- tro de linguagem leve, usual, sem, no entanto, cair nas arma- dilhas da vulgaridade. Este aspecto vale ser sublinhado uma vez que, muitas vezes publicam-se pesquisas, muitas delas valiosas sobre a MPB, originalmente, dissertações e teses aca- dêmicas, cuja leitura se torna árdua para o leitor comum face à utilização de um registro beletrista, dépassé e enfadonho. A rica bibliografi a utilizada pelo autor e apresenta- da ao fi m do livro não deve passar despercebida pelo lei- tor. Parafraseando Dorival Caymmi, o livro de Eucli- des Amaral é recomendado para quem gosta de samba, é bom sujeito, não é ruim da cabeça, nem doente do pé. Fred Góes (Letrista, ensaísta e doutor em Teoria da Literatura da Faculdade de Letras da UFRJ, onde atua na graduação e pós-graduação) Euclides Amaral Alguns aspectos da MPB 1ª edição: Edição do Autor, 2008 2ª edição: Esteio Editora - revista e ampliada, 2010 3ª ed. EAS EDITORA, 2014 Rio de Janeiro - 3ª edição: 2014 Capa e projeto gráfi co: Euclides Amaral e Eduardo Ribeiro Imagens da capa: Carmen Miranda e O Bando da Lua/Os Batutas (Arquivo Funarte) Fotos das estátuas de Otto Dumovich: Pixinguinha, Noel Rosa, Ma- nuel Bandeira e Cartola (por Rubens Cardoso) Foto da 4ª capa: Camila Senna Ficha catalográfi ca: Lioara Mandoju CRB-75331 DADOS INTERNACIONAIS PARA CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) A465a Amaral, Euclides, 1958- Alguns aspectos da MPB / Euclides Amaral. – 3. ed. – Rio de Janeiro : E. Amaral da Silva, 2014. 318 p. ; 21 cm. ISBN 978-85-916330-2-9 1. Música popular – Brasil – História e crítica. I. Título. CDD - 782.421640981 Agradecimentos especiais aos poetas Sergio Natureza e Paulo César Pinheiro pela gentileza dos poemas; ao Júlio Diniz pela orientação em “O Hip-hop” e “O Funk”; ao Victor Biglione pela sugestão de “A contri- buição estrangeira na MPB”; ao Fred Góes, cozinheiro da amizade, que preparou uma orelha no capricho, ao Ricardo Cravo Albin pelas suges- tões de pesquisas e ao Eduardo Ribeiro pela cumplicidade na tramoia. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS À EAS EDITORA Rua Guaíba, 428 c/ 09 Bairro: Brás de Pina Rio de Janeiro – RJ Cep: 21.215-070 Tel: (21) 3381-4662 Logo EAS Editora: Derrepentes Design (Paula Guimarães) [email protected] APOIO: baratocultural.com.br baixadafacil.com.br SUMÁRIO Abertura poética (Compasso Brasileiro: Euclides Amaral) 5 Apresentação (Júlio Diniz) 7 Introdução poética (O Choro: Paulo César Pinheiro) 9 O Choro 11 Introdução poética (Só o samba: Euclides Amaral) 41 O Samba 43 O Hip Hop 95 O Funk 133 Introcitações (Karl-Heinz Schäfer, David W. Griffi th, Antônio Carlos Jobim e Remo Usai) 173 A MPB no Cinema Nacional 175 Introdução poética (Profi ssão: poeta: Sergio Natureza) 227 Os Letristas e a Herança do Provençal 229 Introcitação poética (Paratodos – trecho: Chico Buarque) 257 A Nova Geração da MPB no Século XXI 259 A Contribuição Estrangeira na MPB do Século XVI ao XXI 280 Glossário 310 Bibliografi a 310 Bibliografi a crítica sobre o autor 317 O autor 318 6 - Alguns aspectos da MPB Cartola e Paulinho da Viola Ismael Silva Arquivo Arquivo Abril Press Revista Manchete Dorival Caymmi Arquivo Museu da Imagem e do Som Guilherme de Brito e Nelson Cavaquinho Foto Paulo Henrique Arquivo ABI Elza Soares Foto Greg Vanderlans Arquivo Maianga Discos Jovelina Pérola Negra Acervo ICCA Martinho da Vila Abertura poética Compasso brasileiro No compasso brasileiro estão presentes a sanfona e o pandeiro a modinha, o chorinho, a música de barbeiro. Pro compasso brasileiro o índio trouxe o caxixi, o português o cavaquinho, o negro trouxe o agogô, tudo música que cura feito boticário ou doutor. Tem na fl auta de bambu, no tambor de caxambu. até na caixa-de-fósforos tem compasso brasileiro. Tirado com muita manha tem o corte do bumbo tocado na lata de banha. Falando de tambor temos tudo quanto é tamanho: o candongueiro e o batá-cotô vindos de Angola e do Congo com os ancestrais do meu avô. O cavaco de cinco cordas e a viola de arame, o violão de sete cordas em andamento bem certeiro ponteia novo compasso alinhavado no pandeiro, esse é o compasso brasileiro. Euclides Amaral 8 - Alguns aspectos da MPB Sinval Silva Arquivo Projeto Brahma Extra O som do meio-dia Capa do CD de Vinicius de Moraes, de Elifas Andreato Rildo Hora - Foto Lívio Campos Dorina Capa Felício Torres - Foto Ierê Ferreira Mauro Duarte Arquivo Projeto Brahma Extra O som do meio-dia Capa do CD Clara Nunes com vida. Foto de Wilton Montenegro Algumas palavras sobre o livro Euclides Amaral é um ser inquieto por defi nição. Poeta, letrista, pes- quisador na área da música popular, agitador cultural, produtor, estas são algumas faces desse irrequieto e criativo carioca que nos apre- senta agora o seu mais recente trabalho, o livro de ensaios Alguns Aspectos da MPB. A leitura dos textos revela-nos o estilo original que caracteriza a es- crita do autor. A linguagem empregada oscila entre o tom jornalístico e o historiográfi co, às vezes até poético, possibilitando ao leitor entrar em contato com as centenas de informações levantadas, as análises propostas e as conclusões de inúmeras pesquisas que Euclides Ama- ral realizou nos últimos anos. O livro é dividido em oito blocos dedicados a temas importantes que têm a música popular brasileira como eixo de articulação. A relação entre a poética da palavra cantada e a da palavra escrita predomi- na nos capítulos Os Letristas e A Herança do Provençal e A Nova Gera ção da MPB no Séc. XXI. A leitura crítica dessa relação é muito bem realizada, potencializando a fi gura do letrista da poética popular 10 - Alguns aspectos da MPB como um poeta tão sofi sticado e histórica e esteticamente importante quanto os artistas do campo erudito. Outro ensaio de peso é o que discute criticamente a presença da MPB no cinema nacional. O levantamento de dados elaborado por Amaral é surpreendente, mostrando como essas duas formas artísticas dia- logam, dialogaram e serão parceiras para sempre. Alguns fi lmes que permanecem em nossa memória afetiva têm, na sua trilha sonora, um suporte estético e afetivo de imprescindível importância. Há um bloco de textos que possui como centro dois aspectos impor- tantes: a questão histórica ligada à constituição de movimentos cul- turais e a discussão sobre gêneros e formas na MPB. Os dois primei- ros ensaios tematizam o choro e o samba. O Hip-Hop e o Funk são refl exões mais recentes, ainda em estado de constituição. O ensaio A Nova Geração da MPB no Século XXI, com as novíssimas promes- sas da nossa cultura musical, nos aponta para um futuro de qualidade. Por fi m, A Contribuição Estrangeira na MPB do Século XVI ao XXI enumera, através de micro verbetes, os principais músicos, letristas, intérpretes e editores musicais que de alguma forma infl uenciaram e infl uenciam a MPB. Estas são algumas palavras de um leitor sobre alguns aspectos do livro de um pesquisador apaixonado pelo que faz. Assim foi, é e sem- pre será Euclides Amaral: provocador de conversas, produtor de sur- presas, parceiro harmônico de nossa cultura. Rio de Janeiro, outubro de 2008 Júlio Diniz Diretor do Departamento de Letras da PUC-Rio. Ensaísta, crítico e pesquisador do CNPq. Introdução poética Roda de choro O choro é como um vestido de roda que não segue a moda, que moda não dura. O seu tecido é de fi no novelo, parece um modelo de alta costura. O cavaquinho pesponta por dentro, alinhava no centro o bordado da fl auta, e o sete cordas, exímio na linha, remata a bainha da barra da pauta. Os violões vão tecendo a fazenda com tramas de renda feito um trancelim, enquanto o molde do choro é cortado pelo dedilhado de um bandolim. O alto-relevo suave do pano quem faz é o piano com a ponta do fi o, e o acordeom recorta a silhueta quando a clarineta desenha o feitio. Trombone chega trazendo os enfeites, botões e colchetes e uma pala nova, depois o sax ajeita o bordado e ajusta do lado pra última prova. É o pandeiro que dá o caimento, faz o acabamento com fecho de ouro. E não tem moda que faça um vestido de fi no tecido mais lindo que o choro. Paulo César Pinheiro 12 - Alguns aspectos da MPB A Cor do Som Água de Moringa Joel Nascimento Anacleto de Medeiros LP Entra na Rosa, Arquivo Funarte de Elza Maria Foto Edson Meirelles Nó em Pingo D’água BeatChoro Galo Preto Ernesto Nazareth Arquivo Instituto Cultural Cravo Albin CD Caminhos do Choro Arquivo ICCA Joaquim Callado Arquivo Instituto Cultural Cravo Albin Época de Ouro Arquivo ICCA O Choro A história do choro começa remotamente em 1808, com a chegada da Família Real ao Brasil.