Exílio, Literatura, Intelectuais E Política Em Mariel – Revista De Literatura Y Arte (1983-1985)
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA Caroline Maria Ferreira Drummond Exílio, literatura, intelectuais e política em Mariel – Revista de Literatura y Arte (1983-1985) Belo Horizonte 2018 Caroline Maria Ferreira Drummond Exílio, literatura, intelectuais e política em Mariel – Revista de Literatura y Arte (1983-1985) Dissertação apresentada ao Programa de Pós- graduação em História da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito para a obtenção do título de Mestre em História. Área de Concentração: História, Tradição e Modernidade Linha de Pesquisa: História e Culturas Políticas Orientadora: Prof.ª Dr.ª Adriane Vidal Costa Belo Horizonte Dezembro de 2018 Drummond, Caroline Maria Ferreira 972.91064 Exílio, literatura, intelectuais e política em "Mariel - D795e Revista de Literatura y Arte" (1983-1985) [manuscrito] / 2018 Caroline Maria Ferreira Drummond. - 2018. 203 f. Orientadora: Adriane Aparecida Vidal Costa. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Inclui bibliografia. 1.História – Teses. 2. Cuba – Exílio – Teses. 3.Marie : Revista de Literatura y Arte. l. 4.Intelectuais - Teses. I. Costa, Adriane Aparecida Vidal . II. Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. III. Título. Resumo Mariel – Revista de Literatura y Arte foi fundada em 1983, em Miami, por escritores cubanos exilados nos Estados Unidos durante o exílio massivo de Mariel (1980), e circulou até 1985 nos Estados Unidos, América Latina e Europa. Seu Conselho de Direção foi composto pelos escritores Reinaldo Arenas, Reinaldo García Ramos, e pelo artista plástico e escritor Juan Abreu. Como revista literária, um de seus principais objetivos foi divulgar a literatura e a arte cubanas, principalmente a produzida por escritores da autodenominada “geração de Mariel”, colocando-se como elo identitário entre esses artistas. A publicação congregou também dissidentes que deixaram a ilha nas décadas de 1960 e 1970, como a reconhecida antropóloga cubana Lydia Cabrera e participantes do projeto editorial El Puente. O projeto editorial coletivo era oposicionista ao regime revolucionário cubano, e declarava-se anticomunista, antitotalitário, defensor da democracia e das liberdades individuais, possuindo pujante caráter de denúncia. Em nosso estudo, analisamos como os intelectuais que colaboraram com a revista debateram o exílio, a função do intelectual e da literatura, o regime revolucionário cubano e a identidade nacional. Nossa proposta central é compreender a trajetória do projeto editorial coletivo e como esse constituiu uma oposição política ao governo revolucionário cubano durante o exílio nos Estados Unidos. Dessa forma, reconstituímos as formas de financiamento da revista, as redes de sociabilidade estabelecidas e como seus colaboradores dialogaram com o editorialismo programático do projeto. Palavras-chave: Revolução Cubana; exílio; Revista Mariel; intelectuais. Abstract Mariel – Revista de Literatura y Arte was founded in 1983 in Miami by Cuban writers exiled in the United States after the massive exile of Mariel (1980), and circulated until 1985 in the United States, Latin America and Europe. Its Board of Directors was composed by the writers Reinaldo Arenas, Reinaldo García Ramos, and by the plastic artist and writer Juan Abreu. As a literary magazine, one of its main objectives was to divulge Cuban literature and art, especially the one produced by writers of the self- proclaimed Mariel generation, placing itself as an identity link between these artists. The publication also brought together dissidents who left the island in the 1960s and 1970s, such as the renowned Cuban anthropologist Lydia Cabrera and participants in the El Puente editorial project. The collective editorial project was opposed to the Cuban revolutionary regime, and declared itself anti-communist, anti-totalitarian, defender of democracy and individual liberties, possessing strong character of denunciation. In our study, we aimed to analyze how the intellectuals that colaborated in the magazine debated the exile, the function of the intelectual and literature, the Cuban revolutionary regime and the national identity. Our central proposal is to understand the trajectory of the collective editorial project and how it constituted a political opposition to the Cuban revolutionary government during exile in the United States. In this way, we reconstituted the funding forms of the magazine, the sociability networks established and how its collaborators dialogued with the programmatic editorialism of the project. Keywords: Cuban Revolution; exile; Mariel magazine; intellectuals. Agradecimentos A conclusão deste trabalho só foi possível devido à colaboração e ao auxílio de várias pessoas. Agradeço à minha orientadora, Adriane Vidal Costa, pelas ótimas aulas, sugestões, críticas e imensas generosidade e paciência. Aos meus pais, Maria do Carmo e José Marcos, pelo apoio e carinho. Aos queridos e queridas Caio Souza, Francisco Ferreira, Gis Vilas Boas, Kayane Zanini, Lara Sousa e Rafael Magalhães. Obrigada pelo bom humor, leveza e lucidez. À minha sobrinha, Clarinha, pelos maravilhosos diálogos e momentos de descontração em meio ao caos. Aos colegas da UFMG, do grupo de pesquisa “Dimensões culturais e políticas do exílio latino-americano” e do Núcleo de Pesquisa em História das Américas (NUPHA) pelos debates e trocas de ideias. Em especial, a Thiago Henrique Oliveira Prates, que me ajudou a acessar parte das fontes documentais para esta pesquisa. Aos professores Giliard Prado e Kátia Gerab Baggio pelas valiosas colaborações ao meu trabalho durante a banca de qualificação. Ao professor Jesús J. Barquet pelas indicações bibliográficas e disponibilidade em colaborar com a minha pesquisa. À Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa concedida. Por fim, agradeço à minha avó Clarice, a quem dedico este trabalho. Sumário Introdução........................................................................................................................1 Capítulo 1: O exílio e a criação da revista Mariel.........................................................19 1.1 – O exílio cubano: das guerras de Independência no século XIX à invasão da Embaixada do Peru em 1980......................................................................................19 1.2 - A criação de Mariel – Revista de Literatura y Arte...................................................34 1.3 – As críticas ao regime revolucionário cubano...........................................................56 Capítulo 2: Exílio, intelectuais e dissidência política...................................................78 2.1 – Condição exílica e fragmentação da identidade.....................................................78 2.2 – A ressignificação do exílio massivo de Mariel.........................................................88 2.3 – Os debates sobre a função do intelectual e da literatura..........................................113 Capítulo 3: Confluencias: o “contra-cânone” da literatura cubana.........................134 3 – Confluencias: memórias e identidade nacional em disputa.......................................134 3.1 – José Martí e a literatura do século XIX..................................................................138 3.2 – José Lezama Lima,Virgilio Piñera e o “insílio” cubano.........................................151 3.2.1 – Lezama Lima e a autenticidade intelectual.........................................................152 3.2.2 – Virgilio Piñera: o anti-herói tropical...................................................................160 3.3 – “Esquecidos” pela Revolução: Gastón Baquero e Carlos Montenegro..................168 3.3.1 – Carlos Montenegro e a “literatura da marginalidade”.........................................169 3.3.2 – A “cubanía criolla” de Gastón Baquero .............................................................175 Considerações finais....................................................................................................186 Anexos...........................................................................................................................188 Referências documentais e bibliográficas..................................................................189 Introdução Em janeiro de 2017, a administração Barack Obama, durante o processo de aproximação entre Cuba e os Estados Unidos, revogou a política de “pés secos e pés molhados”. Adotada em 1995, durante a crise dos balseros, a política concedia asilo automático a todos os cubanos que, não sendo encontrados em alto-mar, alcançassem terras norte-americanas. A revogação foi um passo importante em direção ao arrefecimento da imigração ilegal cubana através do estreito da Flórida. Desde a década de 1960, as políticas migratórias dos Estados Unidos em relação à Cuba foram marcadas pelo viés anticomunista, de modo a conceder asilo político, indiscriminadamente, a todos aqueles que o requeriam. Por sua vez, o regime revolucionário cubano, ao longo dos anos, utilizou-se dos exílios massivos1 como válvulas de escape para os insatisfeitos com o governo. Entre abril e setembro de 1980, cerca de 125.000 cubanos deixaram a ilha rumo aos Estados Unidos, durante o exílio massivo de Mariel, entre os quais havia jovens escritores, artistas plásticos e poetas que não se enquadravam na restritiva política cultural adotada pela Revolução