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1 2 Línguas Ameríndias ontem, hoje e amanhã

São Paulo 2020 Foto: Renato Soares

Línguas Ameríndias Marcelo Knobel Centro Brasileiros de Foto da capa ontem, hoje e amanhã Reitor da Universidade Estadual de Estudos da América Renato Soares Campinas – Unicamp Latina (CBEAL) Agradecimentos João Doria Sandro Roberto Valentin Aliança Universidade e Povos Governador do Estado de São Paulo Alexandre Barbosa Reitor da Universidade Estadual Gerente de assuntos acadêmicos Indígenas - AUPI, Consulados do Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Equador, Paraguai e México, Instituto Sérgio Sá Leitão Filho – Unesp Eduardo Rascov Socioambiental e Nexo Jornal Secretário de Estado de Cultura e Economia Criativa Redator e editor de publicações Marco Antonio Zago Adrián Ilave Inca, Adriana Beretta, Presidente da Fundação de Amparo Rafael Bezerra Ana Lídia Schroeder Santana, Angel Fundação Memorial da à Pesquisa do Estado de São Paulo Designer gráfico Corbera Mori, Aparecida da Graça América Latina – FAPESP Guimarães, Beto Ricardo, Carlos Papá Mirim Poty, Cristine Takuá, Conselho Curador Maristela Debenest Ruy Martins Altenfelder Silva Redatora e preparadora de texto Eduardo Natalino dos Santos, Karai Jekupe, Karina Vieira dos Santos, Almino Monteiro Matheus Gregorini Costa Beatriz Soares Benedito Lei Xiao, Marina Gugliotti Pestana, Álvares Afonso Assessora Maureen Bisilliat, Renata Portella e Presidente do Conselho Diretoria Executiva Renato Soares Sérgio Sá Leitão Línguas Ameríndias - ontem, hoje e amanhã / organização do Secretário de Estado de Cultura e Jorge Damião de Almeida Centro Brasileiro de Estudos da América Latina. – São Paulo : Economia Criativa Diretor-Presidente Fundação Memorial da América Latina, 2020. 156 p. : il. Patrícia Ellen da Silva Luciana Latarini Ginezi Secretária de Estado de Diretora do Centro Brasileiro de Desenvolvimento Econômico, Estudos da América Latina ISBN: 978-65-992157-2-8 Ciência e Tecnologia e Inovação Fabrício Raveli 1. Línguas Indígenas 2. Linguística 3. Literatura 4. Antropologia Vahan Agopyan Diretor de Atividades Culturais 5. Cultura 6. Civilização I. Centro Brasileiro de Estudos da América Reitor da Universidade de Latina, org. São Paulo – USP Antônio Eduardo Colturato CDD – 498 Diretor Administrativo e Financeiro Ficha Catalográfica elaborada por Rejane do Desterro de Moura Alves CRB8ª-6169 Sumário

07 Prefácio Jorge Damião de Almeida

Parte 1 | Línguas em risco nas Américas 12 Fotógrafo do Xingu Parte 4 | Línguas da Mesoamérica

14 Capítulo 1 Falar a própria língua: direito humano 96 Capítulo 14 Mesoamérica: sistemas de escritura em perigo pré-hispânica Ana Cristina de Vasconcelos Lima

Parte 2 | Línguas das Terras Baixas 100 Capítulo 15 O mundo maia 24 Capítulo 2 Mosaico de Línguas Ameríndias 114 Capítulo 16 O Popol Vuh e a língua quiché como 36 Capítulo 3 Yawalapíti vai à escola elementos de resistência Daniel Grecco Pacheco 42 Capítulo 4 Onhombo’e guarani na metrópole Karai Jekupe 118 Capítulo 17 Popol Vuh, esplendor da palavra antiga dos maia-quiché 46 Capítulo 5 “O que manda na gente é o tempo” Carlos Papá Mirim Poty 122 Capítulo 18 A preservação da palavra antiga (obertzih) e o Popol Vuh 51 Capítulo 6 Teko porã, teko vaí – o bem viver em Fernando Torres Londoño tempos sombrios Cristine Takuá 126 Capítulo 19 A volta da Serpente Emplumada

59 Capítulo 7 Uma casa de culturas indígenas na USP 132 Capítulo 20 Sob o quinto sol Danilo Silva Guimarães 134 Capítulo 21 O exuberante Códice Borbónico 63 Capítulo 8 “A ideia de ter uma Casa de Reza é dos próprios Guarani” 136 Capítulo 22 A língua nahuatl e a conquista espanhola Briseida Dogo de Resende Eduardo Henrique Gorobets Martins

67 Capítulo 9 A captura do invisível 139 Capítulo 23 A língua nahuatl hoje Yanet Aguilera Ana Cristina de Vasconcelos Lima Eduardo Henrique Gorobets Martins

Parte 3 |Línguas das Terras Altas Parte 5 | Revitalização linguística e cultural 78 Capítulo 10 Quéchua, a bela língua dos Andes 144 Capítulo 24 O Ano Internacional das Línguas Indígenas 82 Capítulo 11 Em busca do quipo perdido e a diversidade linguística brasileira Angel Corbera Mori 84 Capítulo 12 O passado andino também é o passado dos brasileiros” Adrián Ilave Inca

90 Capítulo 13 Regadio nas montanhas 6

Foto: Renato Soares 7

- - Línguas Presidente da Fundação Memorial da América Latina Jorge Damião de Almeida . Renato Soares, imagens e objetos das culturas asteca, maiaRenato Soares, imagens e objetos das não explicativos, textos por amarrado tudo isso e inca, apresentações programamos Para ocupá-la, acadêmicos. debates, seminários e de cantos, danças e rituais guarani, exibições de filmes.Organizada pelo Centro Brasileiro de essa do Memorial, (CBEAL), Latina Estudos da América – Ameríndias Línguas do livro base é a cultural ação ontem, hoje e amanhã Além do contentamento de lançar um livro com tema tão objeto um o torna que ilustrado, e belamente importante e cultura, tenho a alegria adicional arte de conhecimento, de abordar um dos temas mais caros ao grande estudioso escri educador, do Brasil e dos brasileiros – o antropólogo, sua paixão maistor e gestor Darcy Ribeiro. Como se sabe, antiga, ao lado da literatura, eram as culturas ancestrais dos indígenas. Seu grito de alerta ecoa até hoje. amanhã é uma prova disso. e ontem,hoje Ameríndias– e efetivar parcerias. A Fundação Memorial da América La América da Memorial Fundação A parcerias. e efetivar ação da meio por planetária iniciativa essa a juntou-se tina que – ontem, hoje e amanhã, Ameríndias cultural Línguas ocorreu em setembro Em dezembro de desse 2019. ano, a Indígenas Línguas das Internacional Década a declara ONU a partir de 2022. foi montada uma bela exposição, Na Galeria Marta Traba da qual fizeram parte fotos do povo yawalapíti, feitas por - -

s indígenas viveram em equilíbrio com a natureza por milhares de anos. E muitos deles Não vivem. ainda florestas das guardiões verdadeiros os enganem, se da Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou 2019 de Havia-se Indígenas. o Ano Internacional das Línguas a atenção luz e chamar lançar ações mundiais para articular novos autóctones ameaçados por os idiomas dos povos para Unidas Nações das Organização à Coube perigos. e grandes Educação e Cultura (Unesco) conectar açõespara a Ciência, tempo que, há milhares de anos, explicam o mundo aos seus o mundo explicam de anos, há milhares que, tempo gerações. novas as com responsabilidade nossa a sabe filhos Não foi a Assembleia por outra razão que, em 2016, Geral a morte. É um livro sobre a felicidade de vivermos em um e tudo línguas país no qual são faladas mais de o que 200 influenciando convivendo, culturas diversas significa: isso -se e atualizando um legado multifacetado de milhares de Não Qual outro lugar tem tal patrimônio imaterial? anos. um tesouro guarda mas a América Latina cujo só o Brasil, é incomensurável. Quemvalor se dá conta da diversidade de línguas da nossa região e as percebe como viajantes do ter vivas línguas – cuja riqueza paradoxalmente faltariam paradoxalmente línguas – cuja riqueza ter vivas para expressar – ameaçadas de desaparecimento. palavras Notou que usei no primeiro parágrafo sete vezes a palavra e apenas duas vezes o e nominal, verbal nas formas vida, este é Sim, um sobre a livro e não sobrevida morrer? verbo e do planeta são eles. O conhecimento acumulado sobre a e do planeta são eles. O conhecimento e sobrevive, vive invisível dimensão e a vivos os seres terra, por meio deles, nas línguas indígenas isso, vivas. Por quando ele com morre uma o último falante de uma língua, morre parte insubstituível da humanidade e do mundo. Nós, do Memorial da América Latina, sabemos a urgência de man

Prefácio O 8

Foto: Renato Soares 9 10

Reprodução: Acervo do Ministério de Relações Exteriores do Equador 11 Falar a própria língua: direito humano em Falar a própria língua: direito humano Fotógrafo do Xingu Capítulo 1 perigo 12 14 12 onde sepodeconhecermaisdeseutrabalho. Brasil do Imagens site o internet na mantém Soares Renato Artes, 2013),emparceriacomFabioKnoll. Senac, 1996) eUniverso amazônico no Brasil (Editora das 2013. Publicou oslivros Krahô - Os filhos da terra 12capitaisentre2008ee objetos,comaqualpercorreu fotos filmes, de mostra e palestra incluía que Villas-Bôas, Orlando de Viagem Última A itinerante cenográfica gem amonta a exposiçãoOÚltimoQuarup(Masp,2006)e país. Homenageou osertanista Orlando Villas-Bôas com 300 da Beleza,quefotografaasquasenaçõesindígenasdo é AmeríndiosdoBrasil–Antropologia por ele tocado jeto especial pela revista Scientific American Brasil. Outro pro desenvolveu oprojetoXingu50anos,publicadoemedição 2011 Em biodiversidade. e arte, cultura nossa tografando fo- país do rincões os percorre Soares 1986 Renato Desde do Brasilpublicadasnestelivro. indígenas dos as fotos todas São dele Xingu. Indígena do documentou avida cotidianadosYawalapítidoParque Soares Renato indigenista e documentarista fotógrafo, O do Xingu Fotógrafo (Editora (Editora - - Foto: Renato Soares 13 14 H de Pimenteiras, emRondônia. de Por viverem na divisacom ré (tupi-guarani):Primeira linguística.Liames descrição 1 RAMIRES, H.; VEGINI, V; FRANÇA, M.C.V. de. OwarázudoGuapo Línguas Ameríndias—ontem, hojeeamanhã,escritosporEduardoRascov. Este eoscapítulos2, 3, 10, 11, 13, 15,17, 19, 20e21sãoostextosdaexposição * aspróximassabe Quem estudando. de Rondôniaaestão Por meiodeles,antropólogosdaUniversidadeFederal preservar sualínguanativa. Só KänätsieHíwa. conseguiu porém, Rondônia. incerto. Nenhumdeles, de O número é “índios bolivianos”,masboapartedelesviveemmunicípios do agronegócio.Osbrasileirosdafronteiraoschamam de foramexpulsos doseuterritório originalcapitães pelos 1960, anos Nos envolvente. sociedade pela epistêmico cio ao silên- povo origináriosubmetido para omesmo nomes Vários extintos. estarem a Bolívia diz que os ou são osmesmos Guarasugwe. Também são osGuaraiutá extinção” de em “avançadoestágio hoje e gua dafamíliaTupi-Guarani dopovo ameríndio Känätsi eHíwasãoosúltimosfalantesativos deWarázu, lín mundo falamoutros idiomas, somente elesfalamWarázu. têm vergonha deusá-la. Sim, todas as outras pessoas do porém, esqueceram-na, não quiseram aprendê-la ou Warázu, línguadeseuspaiseavós.Seusfilhosnetos, o usar de é mesmo Gostam gosto. sem e dificuldade com Mas dointerlocutor. doladodafronteira dependendo a Bolívia, podem seexpressar emportuguês eespanhol, humano emperigo Falar apróprialíngua:direito Capítulo 1 tem 78 anos. Híwa, 76. Eles moram anos. no município Híwa, 76.Eles tem 78 entendem. Känätsi entre siumalínguaquesóeles á noBrasilumhomemeumamulherquefalam 1 . Os Warazúkwe. Os

– Línguas In- Warazúkwe Warazúkwe - - É de se imaginar a sobriedade, a seriedade e a solenidade e a seriedade imaginar asobriedade, se de É deus criadordeseupovo. seus ancestraise, pormeiodela, reverenciar Yaneramai, a línguade waranzúkwe nãopossam“despertar” gerações espiritualidade, a comunicação, a integraçãosocial,edu espiritualidade, xas implicações para a identidade, a diversidade cultural, a mundo”.Segundo aUnesco, “aslínguas,comple com suas no indígenas línguas promover as preservar, revitalizare se de urgente danecessidade a “conscientização fortalecer – IYIL 2019, eminglês)econferiuàUnescoamissãode Indígenas (InternationalYear ofIndigenous Languages 2016,proclamou2019oAnoInternacionaldasLínguas em de todos. Épor essarazão que a Assembleia Geral da ONU, àvista aberto, acéu morrendo estão originais Línguas hoje. umcasoexemplaré Esse quedoacontecendoestá nomundo em 2017 Unicamp, da Liames, narevista escreveram ressuscitar”, nuncapoderão eles ummundoque de outroplaneta, de de estranheza, como seocasalidosoquevive nela viesse incômoda para quementranela,umasensação desperta, sociável dela, o seumundo, oseucosmos. “Aquela casa e Híwa, que lhesapresentavam alínguawarázue, indis Cristina Victorino deFrança aoentraremnacasadeKänätsi Maria e Vegini Valdir Ramirez, Henri dos pesquisadores 2 Ibidem. view/8647468. Acessadoem5deagosto2019. //periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/liames/article/ em:https: dígenas Ameríndias 2 . * , Campinas,v17,n2,p.411-506, 2017. Disponível - - -

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Relações Exteriores do Equador do Exteriores Relações Reprodução: Acervo do Ministério de de Ministério do Acervo Reprodução: 16 Ontem, hoje, amanhã livro (co-edição Memorial/Edusp), intitulado O índio – palestras eseminários.Essasatividadesresultaramemum fotos, vídeos, mostrade exibição de incluía brasileira, que indígena aquestão sobre cincosemanas de jornada uma Bisilliatorganizou no PavilhãodaCriatividadeMaureen Tassara, então professora doInstituto dePsicologia daUSP, 2010. até Memorial, do DarcyRibeiro, Popular Criatividade da Bisilliat. Esta última, aliás, formou edirigiu oPavilhão Maureenra, comoSebastiãoSalgado,CláudiaAndujare brasilei- fotografia da nomes maiores dos alguns de gena sobre otemaindí- exposições da AméricaLatina recebeu Memorial aFundação vida, anosde um e trinta seus Em governança, apazereconciliação” aboa sustentável, odesenvolvimento para essencial é e básico dosdireitoshumanosedasliberdadesfundamentais e oplaneta.Por as pessoasisso, a línguaéumcomponente crucialimportânciapara sãode odesenvolvimento cação e Nos primórdios do Memorial, em parceria com Edna Nos primórdiosdoMemorial,emparceriacomEdna

– Dossiê do I Ciclo. Inspirado 3 . “Fracassei comoantropólogonopropósitomaisgeneroso desafiou asgeraçõesseguintesafazerdiferente. miu osfracassos doBrasil como sendodelee, aofazerisso, Paris,de em 1978. Nessaocasião, capciosamente, eleassu título deDoutorHonoris CausadaSorbonne, Universidade bastava lembrar o discursodeDarcyRibeiroaoreceber problema daslínguassilenciadas. Sefaltassemotivação, parao aatenção chamassem que atividades promover e produzir fomentar, de noesforço 2019àUnesco em tou-se América Latinajun- da Memorial (CBEAL) –aFundação conceito do Centro Brasileiro deEstudos da América Latina antropólogoetnólogoe Darcy Ribeiro queformulou– o do generoso e fecundo no espírito principalmente e nele suas terras, da contaminação desuas águas eda dizimação um totalde230, nesteséculo.Salvá-losdaexpropriaçãode tantos povos indígenasaoextermínio: maisde80, sobre anos. Semêxito.Salvá-losdasatrocidadesqueconduziram há trinta o quetento o quequis.Istoé salvá-los. Istofoi te mepropus:salvarosíndiosdoBrasil.Sim,simplesmen que - - 17 - - - - O 5 . Dis- Povos indí Povos (Fundação Darcy Ribeiro, 6 Testemunho . Disponível em: https://en.unesco.org/cou- , de Oscar Niemeyer, e reproduzido sob o título “De fra- – 2011/2016. Instituto Socioambiental, São Paulo, 2017. 2019 - Ano Internacional das Línguas Indígenas Línguas das 2019 - Ano Internacional

uma definição que convença falantes, ‘supostos não falantes’ não ‘supostos falantes, convença que definição uma – que passaram a se apresentar como falantes de línguas lin- como bem –, ‘adormecidas’ ou ‘extintas’ consideradas Estado responsáveis guistas, não linguistas e agentes do por ‘patrimonializar línguas’[...]” fa que assumir vamos nessa discussão, não entrarmos Para lantes de diferentes dialetos que se entendem entre si falam a mesma língua. A Unesco calcula que existam atualmente número um por e entendidas faladas línguas 6 e 7 mil entre extremamente variável de pessoas; no entanto, “cerca de 4% dessas línguas,97% da população mundial fala somente falam 96% de todas ase somente 3% das pessoas do mundo línguas existentes. A grande maioria dessas línguas, faladas sobretudo por povos indígenas, continuarão a desaparecer em Sem ritmo alarmante. a medida adequada para tratar dessa questão mais línguas irão se perder, e a história, as 3 UNESCO. ponível em: https://en.iyil2019.org/. 4 Trecho do discurso de publicado Darcy Ribeiro, originalmente em 1979 na revista Módulo casso em fracasso”, na publicação Rio de Janeiro, s/d, p. 10-14). 5 UNESCO. Revista Courier rier/2019-1/indigenous-languages-knowledge-and-hope. Acessado em 13 de junho de 2019. Línguas silenciadas, novas línguas. 6 FRANCHETTO, Bruna. e, eventualmente, na língua. Os Inuítes, por exemplo, pos por exemplo, Os Inuítes, na língua. eventualmente, e, suem mais de 50 termos para neve, cada um descrevendo em diferentes neve, tipos de os diferentes apropriadamente os Inuí o qual com elemento é o principal neve A situações. eles tes e, portanto, a conhecem vivem intimamente.” questão “o que é língua e que o é dialeto” permanece em a linguista Bruna brasileiro, contexto Pensando no debate. as sobre do alerta Museu Nacional (da Franchetto, UFRJ), “dificuldades de compreender oque é‘língua’ e chegara genas no Brasil que Minnie Degawan está dizendo é que defender que Minnie Degawan língua a indígena viva é também defender o território e a natureza econômica desmedida. contra a exploração é impreciso, pois a no mundo O número de línguas vivas Relações Exteriores do Equador do Exteriores Relações

4 Reprodução: Acervo do Ministério de de Ministério do Acervo Reprodução: Indígenas waorani, que vivem na Amazônia vivem que Indígenas waorani, falam a língua waotededo equatoriana, suas tentativas de descrever seu entorno que formam as as formam seu entorno que de descrever suas tentativas bases de suas línguas Dessa únicas. forma, quando o ter- ritório é alterado, também ocorrem mudanças na cultura de origem. Este é o ponto destacado pela especialista e destacado pela especialista e Este é o ponto de origem. defensora dos direitos indígenas Minnie Degawan, uma indígenas obtêm “Os povos Filipinas. das Kankanaey-Igorot seus sistemas de identidades, valores e conhecimentos de ou florestas estes sejam territórios, seus com interação sua Suas línguas são moldadas por seu ambiente – são mares. dos direitos: o de serem e permanecerem tal qual eles são.” eles são.” tal qual e permanecerem o de serem dos direitos: Há uma correspondência entre o desaparecimento do último dele do seu território expulsão e a língua de uma falante da fauna e da flora que compunham o quadro de vida dentro vida de quadro o compunham que flora da e fauna da desapropriação cujo saqueio, mas eles sabiam viver; do qual e corrupção convertem a eles também em mortos viventes. suas às levados e do desengano, amargura da Salvá-los pelos pelos da civilização, aldeias, em nome missionários, protetores oficiais, pelos cientistas e, sobretudo, pelos fa- mil modos lhes zendeiros, que de o mais elementar negam 18 “É possível existir o pensamento sem a linguagem?”,per- sem existir opensamento possível “É É precisoteradimensãodessatragédia. de idiomas que surgiu aoredor domundo. Cadaidioma diversidade enorme a é flexibilidade dessa consequência a seadequar àsmudançasdemetaseambientes. Uma de inventar e reorganizar do mundodemodo os conceitos a capacidade humana é asuaadaptabilidade, inteligência todas asoutraslínguas.“Umacaracterísticamarcante da Brasil, colocaemperspectiva oWarázu e American tific O textodeLera Boroditsky, publicadonarevista Scien infinitas possibilidadeslinguísticas. que permitem universais linguísticaserecursosinerentes choque comracionalistas comoNoamChomsky, que propõe falante deoutralíngua. É umateoriaradicalqueentraem do pensar a formade conhecer tradução. Seriaimpossível qualquer de a possibilidade teoria colocaemxeque dessa mil!” (umparacadalíngua).Aversãomaisdura mas sete “a mentehumananãoinventou umuniversocognitivo, mentos eobservações, Boroditsky procura demonstrar que quase oito milhõesdevisualizações. Por meio deexperi nossa formapensar” de a linguagemmodela “Como oTED gravou que daStanfordUniversity cognitiva Relatividade Linguística. Elaéaprofessoradepsicologia Teoria da da a divulgação e desenvolvimento para o buído contri- tem cognitiva que cientista uma é Lera Boroditsky imagens mentaiseporabstrações. o constitui. Essalinguageméformada por palavras, por interior que emumdiálogo por meiodalinguagem, pensa Ohomem linguagem”. da ohomem desvincular “impossível é paraconcluirque arrazoaela, nomear?”, deixar ria semse sensações, uma nebulosa indecomponível, que nos inquieta [o pensamento] não seria, então, uma massa homogênea de na escrita publicado a e gunta-se ConceiçãoAparecida Bento, emartigo sobre Lacan guística emtodoomundo” da rica considerável reduçãotapeçariadediversidadelin- provocarão umaelas eamemóriaassociadas tradições da USP da Psicologia de Revista 7 . 9 , que játem 8 . “Ele “Ele . - - - Segundo dadosdaUnesco, épossível que maisdameta essência daquiloquenosfazhumanos.” essa percepção ajuda-nos a compreender exatamente a E sofisticados. e inteligentes tão ser conseguimos como e e construímosarealidade como criamosoconhecimento a desvendaromodo ajudando oscientistas pensar está de a forma comooidiomaquefalamosmoldaanossaforma aperfeiçoado pornossosantepassados. Ainvestigação sobre sentido no mundo, um guia inestimável desenvolvido e Cada idioma tem uma forma de perceber, classificar e fazer dos aolongodemilharesanosdentroumacultura. mundo desenvolvi- a visãode e o conhecimento engloba e ferramentas cognitivas próprio conjuntode o seu oferece Lacan. de à luz uma leitura sujeito: o e Aparecida. Aescrita BENTO. Conceição 8 nível em: https://tinyurl.com/y36bwbag. Acessadoem21dejunho2019. UNESCO. 7 indígenas tambémestão.” próprios povosameaça, os estão sob indígenas línguas culturas, visõesdemundoeautodeterminação.Quando identidade dospovosindígenas,apreservaçãodesuas volveram aolongodemilênios. Elessãocentraisparaa desen se que conhecimento de complexos e extensos sistemas comunicação,mastambém de métodos apenas sãonão indígenas línguas As mundo. do línguas das mil menos de6%dapopulaçãoglobal, elesfalammaisde4 sejam indígenas ospovos 2100.“Embora em extintos de doscerca7milidiomasvivosatualmenteestejam ponível em: https://tinyurl.com/y36bwbag. Acessadoem21dejunho 2019. UNESCO. 11 22 dejunho2019. em Acessado ufrgs.br/~viali/estatistica/estatistica/outros/Linguagem.pdf. Brasil American tific pensamento. o modela 10 BORODITSKY,Lera.alinguagem Como Acessado em21dejunho2019. boroditsky_how_language_shapes_the_way_we_think?language=pt-br. em: https://www.ted.com/talks/lera_ Talks. Disponível TED em Publicado think. way we the 2017, shapes 1 vídeo.TraduçãodooriginalHowlanguage 9 COMOalinguagemmodelanossaforma de pensar. Lera Boroditsky. 21 dejunho2019. em: https://www.scielo.br/pdf/pusp/v15n1-2/a20v1512.pdf. em Acessado Psicologia USP 2019 –AnoInternacional dasLínguas Indígenas. Dispo- 2019 –AnoInternacional dasLínguas Indígenas. Dis - , ed. 106, em: http://www.mat. 2011. , ed. Disponível , SãoPaulo,2004, 15(1/2), p.195-214. Disponível 11 10 Scien - - - 19 Reprodução: Acervo The Cleveland Museum of Art Prato de cerâmica maia retrata a onça (o jaguar), personagem central na mitologia de norte a sul do Entre os Maia, como em outroscontinente americano. em onças nos rituais os xamãs se transmutavam povos, Origem:800 d.C. c. Período: cm. x 41,5 6,5 Dimensões: Campeche, México 20 mecidas”. Algumas línguas tinham menos que 10 falantes, que tinham menos Algumas línguas mecidas”. usadas emdomínios restritos oueram consideradas “ador havia emmédia250falantesporlíngua,emboravárias eram davamcontaque anos,estimativas Háalguns fora delas. 16,2% contra originário, oidioma dominam 59,1% TIs, das de seuspaiseavós. Entre ascrianças de 5a14 anos dentro as línguas (TI), uma pequenaparte(12,7%)sabe somente de seusancestrais.que Dosnãovivem emTerrasIndígenas 37,4% falam oidioma apenas e áreas indígenas vivem em 42,3% não declararam indígenas, se que 896.917 pessoas permanece eégravíssimo. SegundoBrunaFranchetto, das No entanto, aanálise doCenso2010 demonstra que orisco a existência evitalidade das línguas indígenas no Brasil” propósitoavaliar de quantitativamentequalitativamente e de seu ‘idioma’ ou ‘língua’, uma inovação introduzida com o autodeclararam ‘indígenas’ acessavam perguntas a respeito se que os ‘raciais’, opções das “Diante indígenas. línguas certo potencial de aumento no Brasil da identificação com da operação censitária”. Parece que oCenso 2010 indica sentações –comforça evalor políticos–por parte dosalvos apropriações, repre- um númeroporsisó,mastraduções, a conclusões instigantes [...] já que ele não expressa tanto quem o“equívoco”doCenso“deveserinterpretadoeleva para BrunaFranchetto, analisaalinguista mais generosas”, as mesmo suas estimativas, linguistas porcolidircomas os alarme entre “gerou resultado originárias. Este línguas que significa estãoseidentificandocom quemais pessoas o indígenas, línguas 274 2010registrou de brasileiro Censo maior.O pouco um número trabalham comum instituições o que éconsideradolínguaoudialetovaria, por issooutras a 160línguasvivasemnossopaísatualmente. Sabe-seque Instituto Socioambiental(ISA)apontampara apenas 150 cuja última edição éde2010. Já antropólogos ligados ao ( perigo em domundo Atlasdaslínguas pelo publicado volta de190 línguas originais vivas. Isso nolevantamento por colonização,restam anosde 500 poucomaisde Em tes. falan 1.100línguas.Elasviviamnasbocasdeseus de cerca território que hojeconstituioEstadobrasileiro eram faladas Calcula-se que, à época da tomada pelosportugueses, sóno ) daUnesco,Atlas delaslenguasdelmundoenpeligro 12 - - .

gos, sociólogos, políticos e comunicadores para enfrentar comunicadores e políticos gos, sociólogos, elas redutíveis uma à outra [...] –, não há dúvida quanto dúvida há não –, [...] outra à uma redutíveis elas –nãosendo política culturale étnica, identidade tica e linguís- identidade a relaçãoentre complexa é sitiadas. Se linguística para as populaçõesindígenas, minoritárias e gravesmaise complexas sãoconsequências as daperda Mais criatividade poética. e expressão comunicativo oude em termos deestrutura como em termos decomportamento e oslimitesdaspossibilidadeslinguísticas humanas, tanto e determinaranatureza, o leque a pré-histórialinguística os linguistas, essa perda significa não conseguir reconstruir Para irreversível. aperda torna que diversidade agrande “É totalmente desconhecidas. crever, de línguaspoucoou apresentar eensinarcentenas estudar, pesquisar, analisar, entender, documentar, des um trabalho gigantesco àfrente. Elesprecisam recolher, o problema. Oslinguistas dasAméricas especialmente têm nente em nosso conti- ocidental comentado dogenocídio pouco investigação daslínguasameríndias.Esseéumaspecto formar recursos humanosparaa tão, masprincipalmente Por tudoisso, éurgente não apenas dar visibilidade à ques humanidade.” a perda linguística éumacatástrofe localepara todaa sentido, ser equacionadase,nesse cultural podem sidade cosmológicas. Certamente, diversidade linguísticaediver oratória), deconhecimentos, deperspectivas ontológicas e cantos, formas artísticas(poéticas, orais, de das tradições povo, do seu intelectual gua comrelaçãoàperdadasaúde às consequências da agonia edesaparecimento deuma lín as artesverbaisnempartedoléxico. não dominavam que isolados, apenas semifalantes outras 14 . Faltam filósofos, linguistas, antropólogos,- etnólo 13 - - - -

21 Reprodução: Acervo The Cleveland Museum of Art of Museum Cleveland The Acervo Reprodução: - - e sua cultura estavam sendo obliterados; Origem: Palenque, Chiapas, México Palenque, Origem: Incensário maia em cerâmica com pigmentos Dimensões: 92,1 x 48,3 x 24,8 cm. Período: 600-900 d.C. Período: cm. x 24,8 x 48,3 92,1 Dimensões: , na página do Instituto do Instituto Socioambiental (https://covid19.socioambiental. na página , nas isolados e os que vivem em meio urbano. Conforme a Articulação dos em meio urbano. nas isolados e os que vivem calcula-se que a taxa de letalidade Povos Indígenas do Brasil – APIB. do enquanto no restante da população de 9,6%, entre os indígenas seja vírus é de quem está 4%. E o que é pior, morrendo são os velhos, o que em alguns caso pode significar o extermínio de uma cultura. “Os anciãos que estão de saparecendo são as bibliotecas de todo esse vivas conhecimento tradicional Esse da música. conhecimento se – da língua, dos costumes, das danças, preserva nos mais velhos, e é através deles que chega aos jovens e se - repro duz”, explica Angel Corbera Mori, um dos autores deste em livro, matéria (https://www.bbc.com/ pela BBC Brasil publicada de de 2020 em 29 agosto história continua. portuguese/brasil-53914416). Como se vê, a 12 FRANCHETTO, Bruna. O trabalho dos 12 FRANCHETTO, Bruna. linguistas. Disponível em: ht- tps://pib.socioambiental.org/pt/O_trabalho_dos_linguistas. Acessado em 22 de junho de 2019. 13 Ibidem. 14 Há quase 530 anos começou uma guerra biológica no Novo Mundo que não cessou os europeus Quando no que é hoje a Amé- até agora. aportaram povoado por dezenas o território encontraram de rica, milhões de pessoas (as estimativas são objeto de ame- disputa, na qual não interessa Os entrar). contato ríndios entravam em pela primeira vez com doenças eurasianas, como varíola, sarampo, peste bubônica, influenza, difteria... Tinhauma hecatombe até 90% de sua po- populacional: alguns grupos perderam início epidemias séculos, pulação! Ao longo dos os a devastar várias continuaram ameríndios. Mas a adoecer não foram só causas naturais os povos originais. ocasiões, roupas e Não raras objetos contaminados foram deixados pelos colonizadores próximas às aldeias. Aldeamentos, reduções nos e reservas, quais foram historicamente concentrados os indígenas, reuniam condições ideais para surtos epidêmicos. O indígena não podia recorrer a sua medi- pois seu habitat cina tradicional, tampouco o cuidado médico surge branco aparecia. Em 2020, o Sars-CoV-2, vírus que, em tese, atingiria igualmente indígenas e não-indígenas. Não é o fatais vítimas mil 143 de mais havia 2020, de setembro de final No vê. se que da Covid-19 no segundo Brasil, a Universidade Johns Hopkins – média de 67,8 mortos a cada cem mil pessoas. Já a Plataforma de monitoramento da situação indígena na pandemia do novo coronavírus (Covid-19) no Bra- sil cem por 120 de média – indígenas de notificadas mortes 833 indicava org/), em um universo de mil, 817 mil autodeclarados indígenas (Censo de 2010). O número pode ser pois maior, é difícil obter informações sobre os indíge 22

Foto: Renato Soares 23

“A ideia de ter uma Casa de Reza é dos Onhombo’e guarani na metrópole A captura do invisível Mosaico de Línguas Ameríndias Yawalapíti vai à escola Uma casa de culturas indígenas na USP Teko porã, teko vaí – o bem viver em “O que manda na gente é o tempo” Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Karai Jekupe Capítulo 5 Carlos Papá Mirim Poty Capítulo 6 tempos sombrios Cristine Takuá Capítulo 7 Danilo Silva Guimarães Capítulo 8 próprios Guarani” Briseida Dogo de Resende Capítulo 9 Yanet Aguilera 24 36 42 46 51 59 63 67 24 N se for preciso, matar nunca”. Entre 1947 e 1956, Darcy e 1947 matarnunca”.Entre forpreciso, se o lema sagrado doMarechal Cândido Rondon –“morrer seguiam eles tratocomosindígenas, posterior contato e anos1940.Noprimeiro dos Roncador-Xingu, a Expedição desde naárea atuavam que Villas-Bôas, Orlando e Cláudio O movimentoirmãos emproldareserva foi lideradopelos por colonosvindosdosul. levada adiante governos e pelos Goiás,apoiada e Grosso Mato de estados dos ocerrado sobre nos anos1950 achamadafronteiraagrícolaavançava pois urgente, culturas. Jáeraumaquestão convivência entre e queno paraíso terrestre, milagre depreservação ambiental oquefazercomaquelepe brasileira discutiu a sociedade 10anos, de cerca por 1961.Antes, em foihomologado O PIX de rios, hidrelétricas,barragens…). madeira, agrotóxicos,garimpo,mineração,envenenamento roubo dedesmatamento,soja,gado,iminentes (invasão, e frágil, seuequilíbrio éprecário eosperigossãoconhecidos sercuidadopermanentemente.ComoaTerra,eleéprecisa da nossanaçãoedomundo.ComooplanetaTerra, oPIX viver. EsteéoParqueIndígenadoXingu(PIX), tesouro pararegião a escolheram quecontinente, originários do povos dezesseis por preservada é biodiversidade Essa riquíssimas. flora e Fauna peixes. e aves de espécies de jacarés, entreoutrosanimais, incluindograndenúmero -do-mato,cutias,jacus,macacos-prego,macacos-aranha, km mil 27 Alagoas(quase de aoestado tamanhoequivalente de Ameríndias Mosaico deLínguas Capítulo 2 2 ). porcos- pacas, antas, capivaras, onças,vivem Nela do emuma biental única. O centro geográfico do país está situa o coraçãodoBrasilexisteumaexperiência socioam ilha de florestas, matas, campos e rios - - - agrupamento urbano, áreasdepastagemboieplantio ou Macro-Jê; usualmente são classificadas como “outras como classificadas são usualmente Macro-Jê; ou aos troncosTupi associá-las família Aruak;possível não é PIX, em colaboração com o médico Noel Nutels e o etnólogo PIX, emcolaboraçãocomomédicoNoelNutelseetnólogo criação do de projeto o redigiu e elaboração da participou de Estudos.Nessaposição, dirigiu aSeção órgão doqual aoÍndio(SPI), Proteção de trabalhounoServiço Ribeiro Acessado em5deagosto2019. http://www.centrogeografico.com.br/impressoes.htm. em: Disponível 1 WauraeYawalapíti tronco Tupi);osMehinako, (família , Aweti família Juruna, tronco Tupi),os do família Tupi-Guarani (tronco Tupi); osYudja(língua da os Kamaiurá e Kawaiweté(Kaiabi), cujaslínguassãoda Médio Xingu. Sãoeles, segundoasfamíliaslinguísticas, etnias oupovos, que vivem em aldeias no Alto, Baixo e Os mais de8mil ameríndios doPIX sedividem em 16 desmatados eabandonados. de sojaaperdervista,alémextensossolosexpostos, Norte, SãoJosé doXingu e Confresa doBoa, Querência,RibeirãoCascalheira,PortoAlegre Norte;do margemGaúcha nadireita, Canarana,Água dia, Sinop,Sorriso, SãoJosédoRioClaro,FelizNatale rio XinguestãoPeixotodeAzevedo,Colider,Marcelân por várias cidadeseestradas. Namargem esquerda do cercado oParqueIndígenadoXinguestá nia), atualmente florestatropical (nordestedo , sulda Amazô Situado naregiãoemqueocerradovaicedendolugarà Eduardo Galvão,entreoutros.

Foto aolado:RenatoSoares 1 . Entreumeoutro (línguas da (línguas da - - 25 A aldeia yawalapíti homenageia seus mortos ilustres com um quarup, cerimônia que encerra o período do luto Foto: Renato Soares O quarup costuma se realizar durante o período da seca, para que os convidados possam chegar sem dificuldades ao Território Indígena do Xingu Foto: Renato Soares 30 mente pelos jovens indígenas é, ao final do xinguanos, principal- pelos Um momentomuitoesperado (Quarup aosmortos homenagem em festa kánuká (imprevisível eviolento) típicodoswarayonaw pessoas são Yawalapíti, dos homem. Porisso,nocaso pelo criados osobjetos entre inclusive, e, osanimais,asplantas homens, transitam entre todasascoisas–os qual osespíritos e oespiritual,umaespéciedegraduaçãoontológicapela há umcontinuum línguas. Paraeles, demodoúnicoporsuas cultural,expresso universo lógico e cosmo repertório ummesmo Os xinguanoscompartilham que falamatécincolínguas. os eles Há entre português. o aprendem mãe. E a da e pai do língua a falam filhos os casos, vários em Atualmente, e Yudja,porexemplo,facilitamomultilinguismo. Kisêdje os Kawaiweté, entre interétnicos os casamentos vivência e idioma, com plenacompreensão. A seculareintensacon- língua dovizinho.dialogamcadaumnoseu Nãoraro eles da acompreensão comum é especialmente, Xingu, Alto esportivos,comércio.nastrocasno e Entrepovosdo os vivem intensamentenosrituais, nasfestas, nosfestivais não podesequerserclassificadaemqualquerfamília do troncoMacro-Jê) e, finalmente, os Trumai, cuja língua “outras famílias”); osKisêdje(Suiá) como classificados igualmente Karib, (família Naruvôtu e ,Nafukuá , , famílias”); osIkpeng, honra dessamulherquesecelebrouaprimeiraItsatí ao soprar fumaça detabacoemtorasmadeiras. Foi em Yawalapíti) (em Kwamuty demiurgo criadaspelo mulheres gêmeos SoleLua. Esses, por sua vez, nasceram deuma das difíceis detraduzir parikú, (indígenas que não são doXingu). Mañukawã evitam aparikú a naturezae e mika Apesar dessa babel linguística, osameríndiosdoPIXcon- linguística, babel Apesar dessa Na cosmogonia xinguana, a humanidade atual é filha dos filha é atual humanidade a xinguana, cosmogonia Na (comportamento respeitoso) para comosemelhante (mansas, calmas) que cultivam oka mañukawã (mansas,calmas)que kánuká e 3 warayonaw . (vergonha) do modo de ser de modo (vergonha) do são conceitosyawalapíti e Tapayuna entre o mundo físico o mundo entre , em Kamaiurá). Kamaiurá). , em Quarup (família Jê, (família Jê, , kamika , o das 2 . ou ou - - , 31 - - 4 . São Paulo: Cia. das Letras, 2012, p. 147. –, sua mãe correu sobre ele, o fez –, sua mãe correu sobre ele, o fez Almanaque Socioambiental Parque Indígena Socioambiental Almanaque Confissões , publicado pelo Instituto No Socioambiental, em 2011. , cujo objetivo é derrubar o oponente. Darcy huka-huka Foto: Renato Soares os homens pintam seus corpos comAntes da cerimônia, com óleo de pequi pigmentos de urucum e de carvão deitar-se outra vez na terra para colocar seu pé nas costas mãe a ‘Sou gritando: todos, a exibir se e abrir-se rapaz, do dele! Ele saiu de mim. Eu o pari!’.” 2 A grafia das etnias difere nos variados registros. Na maioria das vezes, adotamos a usada pelo 50 anos do Xingu entanto, respeitamos grafias divergentes usadas por outros autores neste livro. 3 Disponível em: https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Yawalapiti. Acessado em 6 de agosto de 2019. 4 RIBEIRO, Darcy. lutas marciais ou jogos esportivos indígenas, entre eles, o Ribeiro assistiu Uma a vários. cena para o marcou sempre: das Liga de sorte uma estabeleceram “Esses xinguanos Pe a guerra por prélios esportivos. Nações, substituindo riodicamente, se juntam os índios das várias tribos na mes ma aldeia para realizar grandes curso cerimoniais, no dos de de lançamento competições esportivas armam-se quais ou de dardos ou lanças lutas que põem corpo a corpo, em toda ali, quando Um dia, torcida fervorosa.a alma, numa [ou Iwalapiti os – débil e pequena tribo uma de jovem um mais grupo do campeão o vencer conseguiu – Yawalapíti] poderoso – os Waurá Homens yawalapíti e seus parentes convidados, na abertura do quarup, cerimônia fundamental para os povos do Alto Xingu Foto: Renato Soares 34

35 Foto: Renato Soares Renato Foto: 36 causa dela, de sua açãosobreoquenãoexistia,tudo causa dela,de ela, apalavra, quando somenteexistia.Efoipor tempos, incentivaram a recorrer a uma prática antiga na região:os antiga prática recorrer auma incentivaram a os ForamosirmãosVillas-Bôasque território. do perda à e adoenças devido desapareceram quase os Yawalapíti XX do século ao fatoquenaprimeirametade Isso sedeve de cerca200habitantes. nativa, poissóexistemmaistrês falantesdeYawalapítinaaldeia língua sua na alguém com conversar consegue raramente que é português. Conheceaindamaiscincolínguaslocais.Oproblema Aritana fala fluentemente Kalapalo, Kuikuro, Kamaiuráe, claro, de MatoGrosso, naAmazôniaLegal. Alémda línguayawalapíti, doEstado nonorte mosaicolinguístico (PIX), doXingu Indígena Yawalapíti Aritana cacique do filho é Ele linguista. tornou se isso por e Tapi Yawalapítitambémcultiva apalavraancestraldeseupovo Tupã MirimeJeguakáMirim.TodosfalamGuarani. Mirim, Kerexu filhos os e Kerexu, mulher, sua com vive Billings. Láele da Represa uma daspontas de Paulo, perto guarani Krucutu, nobairro deParelheiros, zonasuldeSão A obrafoiescritaporOlívio Jekupé, quemoranaaldeia de histórias tador se fez”. Essas palavras estão na contracapa deVerá, o con- tudo pronto… e… flauta, uma de sonoro sopro o ou passa passou aexistir. Foicomoumencantamento,vento que “ vai àescola Yawalapíti Capítulo 3 coordenada pelo escritor Daniel Munduruku. munduruku Daniel escritor pelo coordenada A

mitos – palavras que encantam e dão direção, pro- dão encantam e palavrasque – mitos dos poesia sãomovidaspela indígenas s sociedades vocam e evocam os acontecimentos dos primeiros vocam eevocamosacontecimentos 2 , de 71 anos, um líder muito respeitado no Parque , de71 anos, um líder muito respeitado no Parque , livro da coleção Memórias Ancestrais , livro da coleção 1 ,

Ele sabia que ativar a sua língua é fundamental para manter fundamentalparamanter ativar asualínguaé Ele sabiaque desaparecimento. do absorção e da povo seu defender de a necessidade deles irmãos Villas-Bôas.Assimilou com os Filho docaciqueParu, Aritana a infância conviveu desde Yawalapíti foramdecrescendonaturalmente. de falantes pai, os a do que mais do mãe da a língua falem filhos os que é tendência a Como Xingu. Alto no Culuene, e Tuatuari rios dos confluência da proximidades nas ti, que seformaram deram origem àatualaldeiayawalapí familiares tilhavam avisãocosmológica.Osnovosgrupos povos quehabitavamamesmaregiãoecomquemcompar se uniramprincipalmenteafalantesdeKuikuroeKamaiurá, então sobreviventes OsYawalapíti interetnias. casamentos em 27desetembro2020. Acesso -covid-cacique-aritana--ativista-de-direitos-indige.shtml. com.br/app/noticia/brasil/2020/08/05/interna-brasil,878682/morre-de- Braziliense direitos”. nossos dos defesa 1980, pela de a década desde mente, de juventude,Aritana os seus tempos (71 anos)lutoubrava “Cacique desde da Amazônia Brasileira – Coiab, que resumiuassimatrajetóriadeAritana: Indígenas Organizações das Coordenação da nota integra declaração Sua do Xingu,daAssociação Terra–ATIX. Indígena doXingu mento Mulheres povos origináriosdasuaregião. Watatakalu YawalapíticoordenaoMovi- os novo coronavírusentre do pandemia vítimas da mal assistidas as atender para campanha noAltoXingu de construir umhospital tempos nos últimos ela, Aritanatentava da nossalíngua”.Segundo 98% de é a perda Aritana é covid-19. Para sua sobrinha, Watatakalu Yawalapíti,“aperda domeutio em 5deagosto2020, 2 OcaciqueAritana faleceu Yawalapíti vítima de Editora FundaçãoPeirópolis,2003 crianças guarani.ColeçãoMemóriasAncestrais:PovoGuarani.SãoPaulo: 1 JEKUPÉ,Olívio.Verá,ocontadordehistórias a metáforado“mármore Antonio Vieira e da desenvolveu presente. No“SermãodoEspíritoSanto”, de1657, oPadre Mas, deuma forma oudeoutra, aresistência sempre esteve do recentereflorescimentodasidentidadesameríndias. orienta mais17indígenasdeoutrasetnias.Sãoexemplos Brasília. Tapi, ela de Além de Indígenas, daUniversidade Ana SuellyCabral, doLaboratório deLínguas eLiteraturas píti entrounomestradosobaorientaçãodaprofessora (os brancos)naescoladeles. Noanopassado, TapiYawala filho – e futuro cacique – a aprender a ciência dos seu incentivou Porisso Yawalapíti. dos viva aidentidade , 5/8/2020. em: https://www.correiobraziliense. Disponível . Comilustraçõesdas caraíba Correio - - - -

37 Foto: Renato Soares Renato Foto: 38 Para ele, os povos ameríndios das terras baixas da América América baixasda terras das ameríndios povos os Para ele, Castro extrai as consequências filosóficas dessa constatação. voltava “inconstante almaselvagem” a vicejar. Viveiros de a viravam costas, arbusto. Mal as aparar o conseguiram só pedra de mármore, como fizeramem outrasparagens, mas dores tentaram comtodaaforça inscrever ocristianismo na sãoincrédulos.” crer, de depois brasis, ainda crer; os até são incrédulos gentios “Outros Vieira desiste. desafia odesencantadoVieira.” e desfia mundo’, no há quantas de ensinar de trabalhosa a maisingrata,inconstante,avessa, bruta, mais a é terras destas gente ‘a olvido: indiferença, indiferença aodogma, umarecusadeescolher. Inconstância, masuma umdogmadiferente, outro. Oinimigoaquinãoera pelo por umouvidoeignoradacomdisplicência cremente ala acolhida era Deus de palavra a troca, em Brasil, “No tempo percebiamquenãoerabemassim. Aparentemente, erafácilcatequizá-los. Masdepoisdealgum cristã. a mensagem receptiva forma surpreendentemente tiveram umapercepçãoparecida. Osindígenasrecebiamde italianos eespanhóis,todosdosséculosXVIXVII, que franceses, Vieira, portugueses, menciona, alémdeautores alma selvagem”, oantropólogo Eduardo Viveiros deCastro a murta: sobreainconstânciada mármore e No artigo“O nela, paraqueseconserve.” mas énecessárioandar sempre reformando etrabalhando ramos,os dobram se que com facilidade pela formar, de e sustenta a mesma figura; a estátua de murta é mais fácil conserva ponham maisamão:sempre que lhe necessário uma vez,nãoé feita de da matéria;mas, depois resistência e dureza a fazer,pela muito mármore custa de estátua “A virar, viva por exemplo,umaescultura na forma humana. mãos deumjardineirohabilidoso,opémurtapodia usado nos jardinsbarrocos europeus da sua época. Nas Mundo, ditosselvagens. Amurta era umarbusto muito das selvasdoNovo plantar ocristianismonoshabitantes im de dificuldades as sobre falando estava Ele murta”. 3 4 5 Os conquista Os - - - da língua yawalapíti.precisamda Esses resgatarpalavras que lembram se que aldeia sua anciãos da falar dos de modo o casa por sua avó. Agora eleestá registrando eestudando e oKamaiurá, que lheémaisfamiliar, pois eraausadaem Tapi falacincolínguas, entreelas,oportuguês,Yawalapíti desempenha umgrandepapelcosmológico.” a espiritualidadeartefatos em áreascomooAltoXingudos quanto adosanimais;ser aomenostãosaliente e parece que fazem uso de alucinógenos, a personificação das plantas naquelas especial em Amazôniaocidental, da “Nas culturas compreender. de longe que estamos graduação ontológica pode ser subsumido na visão demundo ocidental. Há uma que não do Sulcompartilhamumrepertóriocosmológico 6 Ibidem,p.357. 5 Ibidem,p.185. 4 VIVEIROSDECASTRO,op.cit.,.p.185. Paulo: CosacNaify,2006,p.183(Originalpublicadoem2002) ROS DECASTRO, inconstância E. A da alma selvagem 3 VIEIRA, Santo. Sermões.CitadoporVIVEI Antonio. SermãodoEspírito primeiras palavras ouvidas por Cristóvão Colombo, em 1492. tabaco. Aliás, é bemprovável queforamaruák (e karib) as res comocanoa, goiaba, furacão, iguana, cacique, batatae origem aruákpalavrastãofamilia- ilhas doCaribe.Sãode como Peru,Venezuela,Suriname, Guianas eas por países se espalham pelosestados da Amazônia, eseestendem línguas da grande família Aruák ouAruaque, cujos falantes que falamumadas vão descobrircomorgulho yawalapíti aprendam naancestrais. As crianças escola afaladeseus livros didáticos. Aideiaéqueasnovas yawalapíti gerações píti, elaborar uma gramática eum dicionário, bem como o idiomayawala- para descrever ferramentas linguísticas fora docontrolejardineiro. Tapiestáaprendendoausar tudar sua língua na capitaldoBrasil éobroto demurta enviar Tapi paraes de Aritana Yawalapíti A iniciativade do mundodascoisascontemporâneas. aquilo queénovo Yawalapíti para a suaculturaeprovém em nomear é desenvolvidoTapi porlinguístico trabalho do aspecto palavras. Outro de diferente mória umrepertório assim comoemportuguês,cadafalanteguardasuame não usammais.Comosãopoucos,muitoseperdeu, porque, 6 . (2ª Ed.). São Ed.). (2ª . - - -

39 Foto: Renato Soares Renato Foto: 40

41 Fotos: Renato Soares Renato Fotos: 42 da aldeia. Nesses momentos eunão usava da aldeia.Nesses muito oidioma fora trabalhei e estudei indígena, então escola não existia não tinha especialidade legal, comecei a falarnapopo-hy comecei legal, não tinhaespecialidade minha mulhernaaula,mas,como fui substituir Então, eu Depois percebiqueensinaréissoemuitomais. era fácildar aula, seria sóusar minha experiência devida... samos. Como osalunosgostaram, comeceiapensarque e conver- Represa Billings.Láborboletas saímos atrásde da levar pra perto e sala crianças da resolvi tiraras então pra dare conteúdo não tinhaoutro Eu aí ganhaliberdade. contar: nasce deumalarva, fazocasulo,vira borboleta e (borboleta), porque elatemumavidamuitobonitadese terras, éumaliderançamuitoforte Ela sempre lutoupela cultura guarani, pela demarcação das dias”. viajar por uns que ter Vou me substituir? você como “Tem pediu: me diaela Um professora. era a minhaesposa onde SãoPaulo), de cidade da (distrito Parelheiros em Sul, tekoá morarnumaoutra fui e casei me eu Depois muita genteantesdemim. com e comigo aconteceu Isso ancestrais. dos parentes, Assim, agenteperdemuitodocontatocomlínguados ia praescola... também, àsvezestinhahoraextra,ànoite sábadono os dias, todos todo, o dia Trabalhava guarani. tinha outrasatividades.Naminhaépoca eu ser professor cidade, numametrópolecomoSãoPaulo. Bem,antesde Depoimento deKaraiJekupe na metrópole Onhombo’e Capítulo 4 A minhalínguamaterna. Isso vivendonumagrande escola ecomoéseronhombo’e lguns juruá juruá 1 me perguntam o que eu ensino na perguntamoqueeuensino me 5 . 2 deGuarani Mbya, guarani 4 , na Zona , naZona 3

deles oqueachavamdesistematizaralgodocotidiano, garam idioma guarani foram osantigos portugueses que aqui che 50 anos.Emboraasprimeiraspessoasqueescreveramo Por exemplo, seeuelaborarumplano deaula, passar o complexa... é da cultura.Porquetemmuitacoisaque com aslideranças,juntoosxeramõi ta pesquisa, muitas conversas, muitas reuniões junto sistematizar paraummododeensino. Foiprecisomui- ecotidiano nosso do algo pegar simples tão é não Mas com quepudéssemostrabalhar. justamente para produzir material didático específico nosso, Indígenas Saberes os anos 2012e 2013 entramos numprograma chamado chama se que didático material um fizemos nós todos ex-esposa, minha e irmã amigo ecomoutros professores indígenas, como minha textos paraascriançasestudaremalíngua. Junto comesse Nãotínhamoscomopassaresses acadêmicos... textos eram da USP–mas por pessoas mos eraummaterialelaborado para facilitar o ensino das crianças. Porque oque nós tínha aprendeu a falar Guarani, epensamos juntos num material Tempos depoisconversei comumrapaz, umcatalãoque que servisseparausarnasaulascomascrianças. falada eapalavraescrita.Enãoexistiaummaterialescrito a palavra entre correspondência tradição, nãotinhamuita nosso povo. Então,aescritaeraalgoque nãofaziaparteda nosanos1930ou1940,umalemão mais tarde, A escritaguaraninãoéantiga,algonovo, uns 40ou tem * 6 , durante séculos isso nunca mais foi feito. Só muito

9 , que acontece no Brasil inteiro e existe no Brasilinteiroe , queacontece Ayvu Petei Ayvu e e Ayvu Mokõi Ayvu 10 , parasaber 7 estudou estudou 8 . Entre . - - 43 - - - nimue- tekoá . O que que O . . É ali que a que É ali . sufixo nominalizador de muena [muenda] ‘fazer assenta- . Por isso, para uma uma para isso, Por . a~ - av - vêm uma apresentação de nosso então não é mais tekoá então (tema descritivo que, metaforicamente, pa-

não tiver opy, tiver não ju (dzu) ‘amarelo’ nimuena [nimuenda] ‘fazer assentamento para si mesmo’, tekoá circunstância; saudável, a opy é fundamental. o Guarani é uma Em relação à defesa do nosso idioma, árvore com vários galhos: tem o Guarani Nhandeva, o dos alomorfes do verbo ‘estar sentado’, Tudo o que a gente Tudo o que olha, toca, tudo é o povo sagrado para guarani. Quando os juruá grupo de música, quem não conhece povo nosso pode pen eles estão esfumaçando os instrumentos que por “Mas sar: Por a rabeca? três no sentido o violão, vezes, anti-horário, quê?”. Porque, para nós, é como se estivéssemos abençoan na nossa vida é sagrado. do. Tudo o que usamos chamamos de opy que de reza, Nós temos a casa como tanto politicamente coletivamente, gente se organiza espiritualmente, é onde acontecem os eventos, as reuniões, Se guarani. Novo o Ano os rituais – como o de Ara Pyau, uma é opy a existir guarani o povo faz naju [nimuendadzu] ‘o que fez seu assento, o que se estabeleceu’.” - Biblio teca Digital Curt Nimuendajú. Disponível em: http://www.etnolinguistica. de junho de 2019. org/autor:curt-nimuendaju. Acessado em 29 8 Nossa Língua 1 e Nossa Língua 2. 9 O projeto Saberes Indígenas na Escola, do Ministério da Educação, “busca promover a formação continuada de professores da educação escolar in- dígena, especialmente daqueles que atuam nos anos iniciais da educação básica nas escolas indígenas; oferecer recursos didáticos e pedagógicos que atendam às especificidades da organização comunitária, do multilinguismo e da interculturalidade que fundamentam os projetos educativos nas comu- nidades indígenas; oferecer subsídios à elaboração de currículos, definição de metodologias e processos de avaliação que atendam às especificidades dos processos de letramento, numeramento e conhecimentos dos povos in- dígenas; pesquisas fomentar que resultem na elaboração de materiais di- dáticos e paradidáticos em diversas linguagens, bilíngues e monolíngues, conforme a situação sociolinguística e de acordo com as especificidades da educação escolar indígena”. Disponível Acessa em: https://bit.ly/31xfwaB. rece significar também ‘brilhante’, ‘respeitável’ e que é acrescentado a nome a acrescentado é que e ‘respeitável’ ‘brilhante’, também significar rece de pessoas). A ordem das derivações é a seguinte: -ena (v) ‘lugar de estar sentado, ou estabelecido, assentamento’, mento’, do em 28 de junho de 2019. exerce certa liderança por ter mais expe- que 10 Xeramõi é o ancião da aldeia, responsável pela Pode ser o pajé, riência e conhecimento das esferas da vida. dá nome aos re- É quem transmissão da cultura e da tradição aos mais jovens. cém-nascidos. 11 Casa de reza.

- - - e Há 11 . en- um Tekoá Yyty - prefixo causativo; mu Atualmente na vive . prefixo reflexivo; tekoás no Jaraguá quando é justamente o contrário, queremos é quando é justamente o contrário, queremos é da aldeia como Karai Jekupe. , como é como é , Xeramõi “ : xeramõi ao diretamente perguntar * Professor da Escola Estadual Indígena Djekupe Amba Arandy, da aldeia * Professor da Escola Estadual Indígena Djekupe em São Paulo, capital. Tekoá Ytu, localizada no Parque do Jaraguá, usa- expressão era cabelo”. A com “boca significa palavra a Literalmente, 1 europeus, designar os primeiros e bigode. Em da para barba que tinham extensão, todo não-índio. seguida passou a denotar pessoa branca e, por 2 Professor. da Mata Nas franjas 3 Ele próximo ao Pico do Jaraguá. nasceu em 1976, Atlântica, a região é um território indígena dentro do município de São Pau- lo. Registrado no cartório como Jurandir Augusto Martim, foi batizado pelo xeramõi de reza, participar dos rituais e naturalmente fazer as de reza, participar dos rituais e naturalmente fazer as É nessas ocasiões que o xeramõi perguntas espontâneas. A escola é importante, muito importante – é algo irre no próprio idio- escola é pra se aprofundar mais versível, o com deixar que tem gente a coisas muitas Só que ma. natural para a gente ir à casa xeramõi. Pois é bem mais ele que tem a sabedoria de ensinar porque é vai orientar, de passar as coisas que nós não temos responsabilidade mais valorizada a para as crianças. Desse modo, quanto cultura, mais rica será a aprendizagem. caderno para um aluno e este aluno levar para a opy para este aluno levar para um aluno e caderno pare Podia estranho... soar iria Isso cultura?” nossa a dos estava querendo tomar o lugar cer que o professor xeramõi, valorizá-los. outras cinco seu modo de ser. Aldeia. lugar onde os Garani Mbya vivem 4 Tekoá: 5 Trata-se de Jera Poty, moradora da Terra Indígena Tenonde Porã, - em Pare Eles não estão mais juntos. lheiros, São Paulo. 6 Karai se refere aos jesuítas que, nos séculos atuaram XVII e XVI, XVIII, nas colônias portuguesas e espanholas as Missões das Américas até criarem ou Reduções. Antonio Ruiz de Montoya (1585–1652), jesuíta nascido em um dicionário da língua gua- foi o primeiro a publicar, em 1640, Peru, Lima, rani chamado Tesoro de la lengua Guarany. 7 referência Provável ao alemão Curt Unckel (1883–1945), que chegou ao e Brasil em 1903 por 40 anos percorreu o país fazendo estudos etnológicos. Adotou durante um ritual apokokúva o nome Curt Nimuendaju em 1906, Conviveu por 2 anos com esse -guarani (Nhandeva). povo no interior de São Paulo. Em 1921, ao naturalizar-se brasileiro, assumiu oficialmente o nome Curt Nimuendaju. O linguista Aryon Rodrigues descreve a composição e o significado de Nimuendaju: “No dialeto guarani dos Apapokúva,mesmo mais recentemente (desde chamado no Brasil os trabalhos de Egon que é o Schaden) de o nome Nimuendajú Nhandéva (no Paraguai é Chiripá), a tem seguinte constituição: ni- 44 e orientaçõesdos com conversas sempre soluções, nas melhores que pensar temos – braços cruzar os não podemos Mas grande. muito que amodernidadenão prejudique, emborasejaumaluta atrás. O quesepensaéadaptar as coisas, fazer demaneira mudar deumahorapraoutra,porquenãotemcomovoltar algodifícilde sãomuitas.Eissoé Asameaças resistir. nossaformade nossaculturaé Valorizar nossalínguae porque dependedepesquisasematerial. é difícil. Épreciso demuito apoiodogoverno, deONGs, jovens secomuniquemcomaescritaguaranimbya. Mas planejamentos noSaberesIndígenaséfazercomqueos nossos umdos Tantoque nospreocupa. que algo Isso é em português. escrevem lar comoutroguaranimbya,eles exemplo, quando umguarani mbyasecomunicapelocelu são tempos mais obscuros para o nosso idioma porque, por hoje de mais. Dizem queostempos cada vezdecrescendo 6milpessoas, por faladosomente é vulnerável, situação em está Guarani Mbya Guarani Mbya.O o e Guarani Kaiowá Dentro da grande maloca, os homens se preparam para a Dentro dagrandemaloca, oshomens sepreparamparaa xeramõi. abertura doquarup -

Foto: Renato Soares 45 46 E E aíapessoanãoconsegue dormir, fica exausta, tenta nesse diatemqueserentreguealgo, porqueéoprazo. dade tem mania dedizer “vamos marcar um dia”–e momento certo, que existeomomentocerto. Asocie- sem sepreocupar, porque acredita que vai chegar o peitando aenergiadotempo, agentevaicaminhando para nós, uma tekoá. Circulando, caminhando, oures- pai,avó,avô–umamorada minhafamília –mãe, de preender osentidodocódigotempo. Pedi,através com- a leva que tradição uma de e família uma de Sou como anaturezaoferece.Boanoitetodos. serena, formatranquilae de venha sentimento esse que dialogar. E sem julgar; é precisosentirooutroparapoder parachegar aoentendimento, temos que entender ooutro, –porque, aoentendimento tranquilo,parachegar nós seja diálogoentre esse que espero e noite, aquiesta estar por gar. Agradeço pelo convite do Memorial da América Latina, “chamamento” para odiálogo, estamos prontos para dialo caminhar... Nessespassosdocaminharsemprehaverá um passos, ouvir nossos possa a gente Que estamos. que por o sorriso ou, até mesmo falar, sem saber onde estamos e CarlosPapá MirimPoty Depoimento de gente éotempo” “O quemandana Capítulo 5 cem; agradeço por acordar de dia paracaminhar, por acordarde mostrar cem; agradeço busca de manter esse diálogo que muitos desconhe muitos que diálogo esse manter de busca por estar aqui, a convite das pessoas que estão em Agradeço guarani. língua na noite, boa a todos disse u

Porã eteAguyjevete!” “Nhane pytundju. * - - dorme tranquilo. não envelhece rápido, nem tem depressão, preocupação, tranquilo vocêé,sefazascoisascomcalma,serenidade, com depressão, por correr contra otempo. Quantomais com avelocidade.Porissohojeohumanosofre muito preocupa se vaidurar;você ela quanto tempo vão caber, quantas pessoaster, precisa que força a detalhamento, rápido, emtrês dias.Enãotemotempoparafazerum casa uma fazer vai querer Você depois. sofrer pode se que gente a fazer coisas rápido, sem pensar nas consequências tranquilas. Oespírito davelocidade, que éoAnhã do tempo, easenergiasdotemponãosãomenores, são energias lunares. Entãotemosquerespeitaraenergia Por queaformigaestáatacando? Issoéotempo, são chão, depoiscolocadenovoevaipesquisandootempo. não estáindobem,amarelada?Vocêtiraaplantado que respeitar. Você plantou mas, porqueaquela planta mbeguei eanhã. otemponós temos Então, velocidade. de são energias diabo,anhã do afigura mente figura dodiabo. Masanhã nanossalínguanãoéexata- essa figura. Anhã éumnome, umsimbolismoparaessa xeram odiabo, porque atéentãoagentenãoconhecia trou- que europeus os foram “diabo”, existe não nós Para estamos muitoligadosaotempo. Mas saudável. ser saúde, anossavida,ter preservar minhar contraotempo.Etempoéumamaneirade terminar omaisrápidopossível, eassimcomeçaaca- Mbeguei éotempocerto, que você tem é uma energia verossímil, umaenergia é , leva a 47 ”. xeramõi é “pessoa que me coloca no . As pessoas me dizem: “você é um xeramõi é um encantamento, como a gente lê nos livros. livros. lê nos gente a como encantamento, é um xeramõi * Um dos primeiros cineastas mbya guarani do Estado de São Paulo, líder espiritual de sua comunidade (aldeia Rio Silveira) e coordenador no litoral norte da Comissão Guarani Yvy rupa. do tipo: “trabalhe no Banco do Brasil pra ter um salário um salário “trabalhe no Banco do Brasil pra ter do tipo: um tenha depois e gerente; subgerente a depois passe bom; carro de luxo...”. Todas essas coisas são o encantamento da esquece – e a gente aceita, produz o que capitalismo paisnossa família. Mandamos nossos e avós para o asilo Deixamos modo de viver. nosso eles atrapalham porque tempo, temos não porque filho nosso de cuidar pessoa outra e não percebemos que esse filho cresce com outra pessoa filho Aquele é. quem direito sabemos não vezes, muitas que, direto criado fora do afeto, do acompanhamento da mãe e do pai vai reproduzir a mesma coisa quando crescer e seus pais forem velhos. E sociedade assim a está caminhando. Eu, que trabalho em paralelo, em dois mundos, percebo para onde a sociedade está indo. Na minha cultura é diferente: entro na minha aldeia, vem eu me sento falando, rezando, ou um velhinho uma velhinha É tão gostoso, porque eles têm uma linguagem para ouvir. Hoje se fala muito no cotidiano... não é a que na rua, falada do Não, não sou, porque xeramõi é um sábio, um ancião. Mas o significado real de lugar, pessoa que orienta, que mostra”, pessoa conselheira. Jepota que o conhecem aquele mito da sereia, Não sei se vocês canto faz os marinheiros esquecerem devida e sua irem pro mar. É mais ou menos isso. No mato, na floresta, na com uma cobra ou com o índio se encantava quando selva, esta uma bela a onça, se tornava mulher, uma bela índia. É assim: algo se transforma, alguém acaba se perdendo, se desse envolvendo e, a partir envolvimento, esquece tudo, outro A onça mostra outro mundo, seus parentes, a vida. universo, o dos felinos, onde o índio encantado encontra com o seu espírito trocar poder para Ele morre a morte. da onça – e então voltar e se tornar onça. Isso acontece na faz o é o capitalismo que na cidade é diferente, Hoje, selva. encantamento de toda a sociedade. Ele faz encantamentos - . São São . , não é mais índio, não é mais Gua- não é mais índio, não , sociedade, na cidade, muitas pessoas pensam no dinheiro: no dinheiro: muitas pessoas pensam na cidade, sociedade, trabalhar pra construir casa ou casar ou ter em trabalhar, sobrando. grana uma e ter bem viver pra do ano, um carro de mundo sonha isso. E isso é uma forma desejo Todo que chamo de jepota: hoje estamos todos deportados. Esse do próximo ano vai falar disso. filme seminário na USP e vi os jovens falando de jepota falando os jovens vi e USP na seminário coisas de anos atrás, quatro coisas de que ninguém falava agora que todo mundo tinha medo. Hoje falamos nisso, que jepota também é uma forma de Vejo é o momento. de criar capacidade tem O humano desejo. um exercer Na se prender nesse desejo e ser escravo dele. um desejo, monstrar, perceber, o tempo é o que torna possível. No que torna possível. No monstrar, perceber, o tempo é o ano que vem vou realizar um filmeque vai se chamar escrevendo, fazendo, anos: doze tem já filme Esse Jepota. Eu percebo que está percebendo – e está vindo agora. num Estive dizer. me vai é que tempo o certa, hora na dormir, e não conseguem perceber a importância da dormir, e não conseguem perceber a importânciada nossa Mãe. “você alguns dizerem: Eu vim desse universo – apesar de tech já se tornou high olho e dorme, a energia vai sendo carregada, vai carregar olho e dorme, a energia vai sendo carregada, vai carregar bem carregada, nossa bateria perdida. Quando estiver a Mãe diz: “pode levantar filho”. Acordamos e estamos pessoas com muita dificuldade Mas existem dispostos. sem e a noite inteira ficam o dia inteiro dormir, pra os dois mundos ao mesmo Mas eu consigo levar rani...”. tempo, porque quando se quer fazer algo, seja falar, de- Todos somos assim, mas não percebemos, nunca pa não percebemos, mas somos assim, Todos e tem como o escuro é importante – ramos pra pensar alma, não descansa sua dorme com luz acesa, gente que A energia do escuro perdeu. que não restaura a energia fecha o quando a gente respira, também é importante: Para nós, além do tempo, o escuro é tão importante! Todo alémPara nós, do tempo, o escuro é tão importante! Todo nome. – e até a mídia usa esse mundo fala “Terra-Mãe” inclusive todo o Universo, para os Guarani Mbyá, Mas, de ver Antes Mãe. nossa do escuro, nasce celestial, Deus olhos no escuro, quando fecha os o mundo você estava você para descansar escuro – ele vai pra dormir está no trabalhar. tomar café, possa acordar, no outro dia, que, Uma das grandes malocas da aldeia yawalapíti no Território Indígena do Xingu Foto: Renato Soares 50 . ÑandeRekoArandu CDchamado um de Lembrei Por issonãofazemosmanifestação. muitotrabalhoso,difícil. saber,é não vaiafundo,quer “não quero, não é pra mim”. A gente fica reclamando, mas dizer de guerreiro, de oespírito Nãotemos acaba aceitando. faz, agente e governo decide o que o tudo a política: com ao outro, e acabamos aceitando.Amesmacoisaacontece dade, padrãoque oshumanoscriaramparaprenderemum tempo? sótem 2019anos?... Evimfalartambémdaveloci nesse omundocomeçou 2019mesmo? em estamos que será tempo, não podemos estar contra otempo. Eme pergunto: É dissoquevim falar, do tempo.Oquemanda é o na gente melhor, prasempreteresseacompanhamento. “guaranitólogo”, setornaria“branconólogo”. Praentender cidade?” Porqueassimvocênãosetornaria“xingunólogo”, na moram que dos sociedade, da antropologia a faz não você de fazer com seupróprio parente, sua própria comunidade, vez Por que,em antropologia. fazendo está “Você parente: para um o padrãoquehumanocriou.Fizumapergunta acompanhar para mudarnossocomportamento pessoas, de aceitação. Então, somosobrigadosaacompanharmudança guém estáforadopadrão,osoutrosvãoestranhar,nãotêm A sociedadetemcarência deconhecerquem équem. Seal coreano, estátudocerto… coreano... sou sou Então, se Guarani Mbyá,falamque sou forma estrangeira, porque assim aspessoasnão dizem que português. Então tenho que me adaptar, me camuflar numa me tratar diferente, falar como seeunão compreendesse o vão Amazônia?”.E da veio “Você jáperguntam: olharem me ou quevimládaAmazônia. quando mais cedoE começou o carnaval que dizendo apontado, me ficar vão isso, fizer eu se porque, pintura com cocar, de ando não cidade Na “olha primeiroemvoltadatuasombra”–umametáfora. dizemos nós próprio umbigo”; seu “olhe diz-se cidade, Na simesma. olharpara que tem apessoa criticar alguém, julgar, a suaprópriasombra.Antesdefalarmalalguém, nifica sombra e ser traduzidocomosabedoria,masnãoé:ansig- costuma du é sentir, ou seja, aquela pessoa que sente sente pessoaque é sentir,ouseja,aquela Arandu - -

sua cerveja, comem carne. É meio oposto, não? Quando se não? Quando oposto, sua cerveja,comemcarne.Émeio notebooks,celulares, tomam mento, etodaselastêmseus desmata o contra Paulista Avenida na reunidas pessoas certa a maneira que estamos vivendo na cidade? Vejo muitas fazendo: seráqueé pensarnoqueestamos momento de é Sem carne,semaçúcar,agentenãoconsegueviver.Mas estamos acabandocomafloresta. daAmazônia,amartudoaquilo,masnósmesmos gostar Dizemos preocupados. muito não estamos fato Então, de transgênico. milho de cerveja tomando soja, comendo hora, continuamos cortandoárvores,celular atoda trocandode fazer protesto contra as queimadas na Amazônia”, mas na energiadavelocidade. modo de viver, não ficar com o tempo consumindo a gente, use aliança de coquinho, não de ouro. Isso significa mudaro casar, se for aqui quem reflitam: que para isso tudo Digo isso temquemorrerpraconseguirmosessasoutrascoisas. existirem, algotemquemorrer: inseto, peixe.Tudo gente, coisas essas pra – sofisticados celulares preciosas, Pedras no dentistaaspessoascolocamseudentinhodeouro… água, nossa Amazônia, dizem ser contra amineração –mas as pessoas ficam tristes,dizem queé preciso proteger nossa que estiverdentroenabeiradaágua. Quandoissoacontece, toda aágua,matartodosospeixes,jacarés,lontrasetudoo A mineração vai usarmercúrio pra tirar o ouro, vai poluir sobre o que, de fato, se está fazendo para proteger a floresta. pensa na Amazônia, no desmatamento, é necessário refletir Todo mundo fala a favor de proteger a Amazônia, proteger Todo mundofalaafavor “vamos de - 51 - - de verdade: de verdade: tekó porã, que é o tekó vaí. – o bem – o bem * gião Sul e Sudeste gião Sul e Sudeste sofrem essa seja no Nordeste Brasil, do pressão da perda dos territórios. E a perda dos territórios * Graduada em Filosofia, artesã indígena e educadora na comunidade guarani do Rio Silveira (Bertioga, São Paulo), fundadora e diretora do Instituto Maracá. significa a morte da alma (o etnocídio que diversas religiões diversas que etnocídio (o alma da morte a significa silenciando línguas, silenciando hoje, até fazem e fizeram, nossas espiritualidades, em diversas partes Es do país). ses processos fazem com que hoje a gente esteja, de certa de vivendo o contrário forma, Essa é outra forma, ruim e triste, de estar e ser no território, não têm um tekoá territórios muitos porque mesmo. rios, água, floresta, alegria de viver de viver a alegria manter por Essa luta de muitos povos inclui hoje processos de criativos e o cinema é resistência, em meio ao de sobreviver criativas Pensar formas um deles. caos desta sociedade, desta política que estamos situação se o próprio conceitovivendo, em que se coloca em questão de democracia existe Vejo ou não... que os processos criati vos que estamos desenvolvendo ao longo de muito tempo ninguém atrás, tempo um Até evidentes. mais ficam agora sabia que existia cinema indígena. Em 2016 aconteceu a 1ª Bienal do Cinema Indígena em São Paulo, foi bem im- portante, reuniu vários cineastas de várias regiões, muitos deles focados em documentários. Aprendi com Papá o gosto pela arte do cinema, pela ficção – e estamos tentando ver não se resume à perda física da terra (que é o genocídio é o genocídio (que não se resume à perda física da terra que aconteceu com muitos povos indígenas), mas também - - tekó vaí. tekó porã e

tekó vaí são dois conceitos profundos do mun

oa noite a todos e todas. Meu nome é Cristine Takuá. é Cristine nome Meu e todas. todos a noite oa uns há criamos que Maracá, do Instituto diretora Sou de diver indígenas lideranças algumas com anos dois e bela forma de você ser e Só que, para estar no território. ser e estar dessaé preciso forma boa e bela no território, ter território. E o conceito de é território uma coisa muito complexa e sensível, nos tempos de hoje. Na verdade, há mais de cinco séculos, tanto o meu povo maxacalí quanto o guarani mbyá e diversos povos parentes, seja aqui na re- pensam sobre esses conceitos. Existe gente que traduz tekó porã como “bem mas viver”, tem O próprio bem viver é muito mais do que “bem viver”. no bem é Não viver bem. viver com confunde que gente porã é a boa mas tekó bens materiais, sentido de acumular Tekó porã e do guarani que venho aprendendo, vivenciando ao longo esses o quanto sobre muito pensando E venho dos anos. outras sociedades, conceitos são importantes – várias do também da Bolívia e de outros lugares da América, Equador, Poty. Na verdade, venho dialogando mais profundamente Poty. Na verdade, venho dialogando sobre as epistemologias indígenas, o que inclui o campo, forma, ocultadas pelasas línguas, a arte – que são, de certa escolas, pelas universidades, pelos diversos meios onde se falar, quero É disso que de saberes. de transmissão trata embora o tema seja sas regiões. Também sou educadora, professora da Escola comunidade. nossa da Kuaí, Ba’e Txeru Indígena Estadual Estudei filosofia na Unesp de Marília venhoe há alguns com Papá sobre arte Mirimanos cinema, dialogando sobre viver em tempos sombrios em tempos viver Takuá de Cristine Depoimento Teko porã, teko vaí porã, teko Teko Capítulo 6 Capítulo B 52 de o Brasil ter hoje 280 línguas faladas fluentemente, com admirada deverqueopovobrasileirodesconhece ofato Belo Horizonte, São Paulo, que é muito grande, fico muito RiodeJaneiro,Quando andopelascapitaisdoSudeste, continuar praticandoessessaberes. tão difícilqueestamosvivendo,existeapossibilidade de tempo nesse resistência. Mesmo ouvir ashistórias.Issoé pracantar,conversar, de rezapradialogarcomNhanderú, encontram nacasa velhinhos se os dias,jovens,criançase muito forte com osseres divinos emque acreditamos. Todos e mulheresseencontram, estabelecendoumacomunicação de reza, em que ossons produzidos pelocoletivo dehomens faz nacasa do somtarova,ocantosempalavrasquese potência da relato o bonito muito canto. Achei do sentido motiva acontinuarvivendoéo nos que canto. O do lidade nem relata –mantêmalínguafortemente viva na espiritua amídia riozinhosque outros muitos e do RioParaopeba ambientais que aconteceram–comoamortedoRioDoce, crimes esses desastres, esses por todos água de com afalta Krenak e Maxakalí, difíceis parentes que vivem situações no diaadia, na escola, na presente está grande, alíngua muito uma população tem resistência. Mas,mesmoassim, ainda há. No Jaraguá, que difíceis, sem água, sem rio, sem possibilidade derecriar essa um floresta, muitos animais, muita água, muita vida. Lá existe a Terra Indígena doRioSilveira é umaáreaquetemmuita que oterritório seja pequeno,somosprivilegiadosporque criativo que nosmotivaacadadia.Pormais impulso esse não perder os jovenseascriançassobreaimportânciade Como educadora, na minhaescolavenho tentando falar com e belaspalavras. boas transmitir as criar formasde consiga, coletivamente, gente a que fazem criativos processos esses caminhos, Esses no país. literária indígena produção muita existe saberes, embora asescolasdoBrasil nãocostumemacessar esses tomando corpo–e, e desenvolvendo se que está sistência com suasdiversasnarrativas, também éumaforma de re- isso comoumaforma deresistência. Aliteraturaindígena, tekó porã tekó . Mas temos parentes que vivem em situações .parentes que Mastemos vivem emsituações opy, a casade reza; também os - velhos, comascrianças. a aprender essalínguaviva, para conversar comosmais dispõem nãose mas nahistória, naantropologia, botânica, na outro povo,seja avidade estudar querem universidade não aprende alíngua dessepovo? Muitospesquisadores da que quando quer estudar um povo indígena, oantropólogo ler algumescritorfrancês, vão aprenderofrancês... Por plo, ospesquisadores vão aprender alemão, quando querem Tucano. Por quê? Quandoquerem ler Nietzsche, por exem italiano, mas não seaprende oTupi-Guarani, oMaxakalí, o universidades seaprende oalemão, oespanhol, ofrancês, o trás decadaumadelas.Nãosãodialetos,línguas.Nas uma gramática, uma história, toda uma espiritualidade por se desconhece. Tenho percebido que muitosacadêmicos, Tenho percebido se desconhece. que saber inferioriza um inferiorização?Isso essa Por que não línguas. e são dialetos indígenas dizer queaslínguas filosofia, a nossa é “mito”. Existem até os que se atrevem a é arte, a nossaé“artesanato”, a filosofia do não-indígena é saberes comoprimitivos, inferiores: aarte donão-indígena filosofia da linguagem, sempre se remete à visão de nossos há diálogocomnossossaberes. Estudandohistória daarte, não nasuniversidades que muitoaosaber assustei Então me os seresdivinos,asdivindades. com sãocontatos sagrados cantos nossos os todos e vários, deuses deus, têm os povosindígenas no latim.Mastodos Deus: sem significa pra boidormir. Índio papo nasÍndiasé estavam chegando índio poracharemque chamou de que se história de Essa deus”? “índio”?É“sem é o que noschamam“índios”.E que – tantoé não existe como mito.Nossareligião nas, vistas saberes que vêm de fora. Não se admitem filosofias indíge com só dialoga universal, porqueela nada de que nãotem filosofia sofri muito quando deparei com uma universidade Quandoestudava asepistemologias. sobre Por issofalei Em muitas coisas que falamos e fazemos não está presen não está fazemos Em muitascoisasquefalamos e conhecimento,esse por não conseguir dialogar comele. porele.Portanto, é melhornegar desconhecida talmente do que éessa outra cultura,queperpassalínguato- nãoalcançamo entendimento docentes livres doutores, in é prefixo de negação e negação de prefixo é dio é deus, - - - 53 nossa própria terra – sendo que estrangeiro mesmo é quem mesmo estrangeiro que – sendo terra própria nossa pergunta, não nós, povos originários. centenas de línguas indígenas foram silenciadas, muitos muitos silenciadas, foram de línguas indígenas centenas muitos parentes e exilados, torturados indígenas foram indígenas foram colocados em campos de concentração, e até hoje muitos deles estão vagando por aí, em algum sua tendo consciência de não é o seu de origem, Estado que essência indígena, mas numa vivendo cidade sem aosaber, certo, por que estão perdidos ali. Essas remoções forçadas e deixaram militar a ditadura durante aconteceram que de quem dentro silenciosamente guardadas deixam sequelas de quem as viveu as sentiu,ou de quem é neto ou bisneto não é contada, poucos na época. A história do nosso país dá a nem “universidade” do a história Brasil, conhecem não dialoga com história porque essa conta de entender quem realmente sentiu na pele o que ela foi e é. Agradeço novamente pelo fato de estar aqui e penso que poderia ter mais gente penso caminhando, que mais indígenas, mais pessoas deveriam percorrer esses lugares e participar dis- Paulo. de São dentro acontecendo isto está que saber to, não pessoas as por se dá do pré-conceito muito Porque saberem nos reconhecer que é – como no relato do Papá, visto como coreano, boliviano ou paraguaio quando anda na cidade. Às vezes entramos num ônibus e as pessoas nos como se não fôssemos brasileiros... pedem um passaporte, Nunca alguém vai olhar e Maxa- dizer: “Você é Guarani? calí? De que povo você é?”. Somos estrangeiros dentro da – embora muitos nem consigam nessa vida. muitos nem consigam – embora línguas numa exposição sobre hoje, aqui estar por Agradeço a pensar alguém se propôs porque ocorre que indígenas sobre elas no ano de 2019. Mesmo antes de a Unesco propor o uns tema, três atrás já estávamos anos dialogando sobre línguas indígenas é Falar sobre Maracá. isso no Instituto todos séculos, Há mais de cinco falar sobre resistência. sabemos dessa a história violência vergonhosa contra os as línguas se conservaram. indígenas e mesmo assim povos Uma alta resistência desses povos, diante de um processo de catequese, de uma escola muito impositivo de missões, quanto do período da ditadura. tanto dos jesuítas violenta, a ditadura militar Não sei se vocês sabem, mas durante - - que cada um vem para esta Terra com uma missão, e começamos engatinhar, a an ficamos errado, tudo fazer a Começamos esquecemos. e dar mais velhos e com doenças, o médico o plano de não cura, saúde não dá conta de resolver o problema. Então alguns fazer aqui realmente vieram do que começam a se lembrar o que fazem. Enxergar para além da visão, conseguir fazer além da visão, Enxergar para o que fazem. um sopro é a princípio, da nossa fala – que, o sopro com que de caminhe amor –, no mesmo compasso que nossos epés, esses são grandes falamos: o que de fazermos conta darmos desafios hoje. Não existe crise política, econômica, social, não existem crises; o que existem é esse descompasso no Aprendi com o xeramõi caminhar. anos, e tentando encontrar caminhos de conscientizar a a de conscientizar caminhos encontrar e tentando anos, população e os seres todos de que é necessário e urgente começarmos a pensar para além do que enxergamos. Por o que sempre nem enganam, olhos nos nossos vezes, às que, vemos é o que é de fato; e nem sempre o muitos que falam é para com a formiga, a lontra, a cotia e a paca – e não só só – e não paca e a cotia a lontra, a formiga, a com para a nós humanos, porque não somos só nós ‘humanos’ que pisamos nessa terra”? Isso é tão simples não e tão óbvio, é? Faz parte na nossa essência como seres criados dentro de uma grande teia que é neste a nossa vida aqui, planeta. Venho refletindo sobre todas essas coisas aolongo desses estudam, estudam para criar bomba nuclear, para fazer lixo, para fazer guerra, para fazer que tantas coisas não são úteis para nossa vida. Para que serve a escola na nossa vida? Por se não a escola é tão importante está ensinando o óbvioque que é o respeito para as crianças, à diversidade, o respeito Ao longo de toda a evolução da ciência moderna muita coisa da ciência moderna evolução Ao longo de toda a se e essa descobriu; descoberta grande projeto, tinha um de “o projeto chama Krenak amigo Ailton o querido que – ou pensamos ser. a gente sonha ser” de humanidade que Que projeto de humanidade é esse? com um Conversando senhor de idade, ele um sabedor, me disse: “Eu agradeço e sou feliz por nunca ter estudado, porque vocês estudam, te só o a matéria, também visível; dialogamos com coisas o mundo espiritual. que perpassam imateriais e invisíveis, “meta-metafísica”,eu chamo de epistemologia ou uma Isso para além da compreensão. Foto: Renato Soares Foto: Renato Soares 56 deus, éselvagem,silvícola. o outro”porqueoutroéfeio,menor, não pensa, ésem matar “posso que de matando –noentendimento estamos própria terra. A Terra vai nos deixarórfãosporquenósa nos dada quando chegamos aqui, ou vamos ficar órfãos da descobrir amissão quefoi e o outro,aentender a respeitar nós, humanos,aprendemos Ou afundando! afundar, está vai humanidade” de “projeto todoesse direção, mesma no mesmobarco. estamos Esenãoremarmos o barcona se vocêénegro,amarelo, vermelho, verde,roxo, nós todos advogado. Nãoimporta ou professor é dinheiro, se tem se –nãovaiimportar se vocêtemcarro, a gente se andaapé, espíritos da florestaestão muito bravos, muito bravos com a florestase revoltar –e ospajés vêmfalando muito que os quando Porque direção. nossobarquinhonamesma remar tuações, épensar, dialogando, deque formavamos conseguir temos que fazer agora, nesta exposiçãoeemvárias outras si que O jáaconteceu. violência orio,essa limpar para mágica fazer como mortos, nãotem rios estão os hibernando, mas ser o que eram, morreram. Oespírito delesestá lá, vivo, o RioParaopebaeDocenuncamaisvão aconteceu, como corrigirnão há violênciafeita: a oestuproda Terra já repensarhistória,é maisde essa O momentojánão porque portante. im muito coisa uma é território o meu é qual Entender - - significa “que está ou é da Terra”, alienígena. “que está “que alienígena. Terra”, da é ou está “que significa Aurélio, alienígena éo contrário deindígena; indígena parecem umpoucoalienígenas.Nodicionário do porque sentin nãoestão ainda Sim,alguns dor. essa sentindo está mundo mastodo nãosomosmaisnós,indígenas, sentindo estruturou. Equemestá eurocêntrico quese pensamento Agora estamossentindoasconsequências detodoesse avançar eremarnossacanoinhanamesmadireção. consiga agente que espero e muito o amanhã.Agradeço e poderosanosentidodedespertar,plantarsementespara criativa uma iniciativamuito é encontro este acabar, e que Esse negacionismodaexistênciaedosaber deumpovo tem é possívelquesónóshabitemosessemundo. estar, não além, masdevem por láou que estejam negam Muitosaté Júpiter... em vivem que são nossosparentes espaço, compartilhamosdomesmoterritório.Alienígenas a ummesmo pertencemos na Terra e fora”. Nósestamos Foto aolado:RenatoSoares - 57 58

Foto: Renato Soares 59 *

xejary’i são termos guarani utilizados para se a pessoas referir parte de do Laboratório e Interação Verbal Construção de no campo de uma Conhecimento, construindo pesquisas área de conhecimento denominada psicologia cultural. Minha inserção nesse campo de pesquisas se a uma articula vertente de estudos construtivismo semióti- que se chama co-cultural do aprofundamento Foi a partir em psicologia. comecei que cultural da psicologia dessa vertente dentro a entrar em contato, desde ponto um de vista acadêmico, com as tradições indígenas. A aproximação com os povos indígenas que tenho feito a pelo reconhecimento partir da universidade é motivada ligada é de também indígena, que minha ancestralidade Contudo, norte de . do ao povo maxakali, cresci numa cidade próxima às comunidades maxakali e não tive a oportunidade de ter um contato mais apro- Foi fundado com as aldeias ao longo da minha vida. que universidade, como docente na somente depois, de minhas reaproximar de me a oportunidade passei a ter de reaproximação, Nesse movimento raízes ancestrais. * Professor do Instituto de Psicologia da USP. Desenvolve o projeto “No- ções de perspectiva construtivismo semiótico-cultural no em psicologia e no perspectivismo ameríndio em antropologia: possíveis articulações e impli- cações para a compreensão das relações eu–outro”. 1 Xeramõi e que possuem grande sabedoria, em geral as mais velhas da comunidade e aquelas que são consideradas lideranças espirituais, pajés ou xamãs. compreender as contas do colar amarrado por um fio como fio um por amarrado colar do contas as compreender no caso dos quipos. conhecimentos trançados, tal como da USP, ondeSou professor do Instituto de Psicologia faço

, Timóteo da Silva 1

comparou o processo de cons- Mbya Guarani

gradeço ao convite para participar desta mesa e e mesa desta participar para convite ao gradeço de com- a todos os presentes, pela oportunidade partilhar algumas reflexões, ouvindo também os A diversos diversos conhecimentos. O fio,que articula as diversas contas de indica a existência um colar, de um fundamento prévio aos conhecimentos diferencialmente construídos. Assim, os quipos dos antigos incas me fizeram lembrar o fazendo os colares, sobre pelo xeramõi foi expresso que trução de conhecimentos com o processo de construção trução de conhecimentos com o processo de construção um significaria colar do contas das uma Cada colar. um de de um produção na reunidas, contas e essas conhecimento, colar, são amarradas por um fio. No meu entendimento, a partir da fala dele, o fio é a base da articulação entre os os conhecimentos que são produzidos segundo a maneira guarani de dar sentido às experiências vividas e os conhe- cimentos construídos em ambiente acadêmico. Entendi, a conhecimentos diferentes esses que reflexão, sua de partir não tinham articulação direta possível. Adicionalmente, o xeramõi Verá Tupã Popygua que, a nosso convite, veio em 2017 à Casa de Culturas Indígenas Instituto no de Psicologia (USP) e se pronunciou sobre o que ele considerava ser uma dicotomia para diferenciar do conhecimento. Usou essa expressão colegas que trouxeram importantes conhecimentos sobre e do planalto andinos dos povos cosmologia e a língua a mesoamericano. me recordei da ex- A partir das falas que me precederam, pressão de um xeramõi indígenas na USP na indígenas Silva Guimarães de Danilo Depoimento Uma casa de culturas casa de Uma Capítulo 7 Capítulo 60 das comunidades. Para manter a língua viva é preciso que as as que preciso vivaé a língua manter Para das comunidades. concreta, transmitidaatravésdousoedaspráticas ativas por umapessoa viva, veiculada sempre permaneça língua culturais no tempo. A inscrição corporal demanda que a produções suas de vestígios dos observação de ficuldade indígenas sul-americanostemcomoconsequência adi os entre corporais inscrições em registro pelo A opção uma linguageminscritanocorpo. opção deresistênciacultivadanessassociedades, estaria uma Como expressivas. formas das diversificação pela dígenas dessaregião, uma riqueza cultural que seexpressa in- povos pelos falados dialetos e línguas de a diversidade melhor estudadoecompreendido. Por outro lado, énotável linguística eaosregistros escritos também, aspectoaser padronização às formasde resistência um movimentode sociedades, há, nessas Por umlado Estado. governo, de de estável forma uma de configuração à e política tralização temos sociedadesque dediversas maneiras resistemàcen NasTerrasBaixas, segmentadas. são predominantemente indígenas ospovosandinos, as sociedades situados estão Baixas sul-americanas, em oposiçãoàsTerras Altas onde Terras nas que de compreensão uma foi pesquisa, dessa Algo que considero importante enfatizar, que pôdeemergir tal comominhapesquisadedoutorado. conhecimento, outras áreasdo em elaboradas vem sendo aproximações e naantropologia desenvolvidos sido têm Castro eTânia StolzeLima. Apartir deles, muitostrabalhos Viveiros de Eduardo antropólogos Janeiro (UFRJ),pelos foi proposta, inicialmente, no MuseuNacional doRio de antropologia. Operspectivismo ameríndio éuma teoria que em ameríndio perspectivismo do dateoria apartir indígena dialógica, meaproximeidanoçãodeperspectivanocontexto cultural àpsicologia Comocontraponto dialógica. vertente articula à tradição da filosofia da linguagem russa, em sua se que cultural, psicologia da dentro perspectiva de noção a Inicialmente, nodoutorado,propusumprojetoteóricosobre um poucoaseguir. comecei aproporprojetos, dealgunsdosquais falarei - - e como compreendem as suasidentidades, aquilo que é outrospovos a relação diferençasem suas concebem como suas sociedades, oque pensam a respeito doque fazem, concepções, reflexões a respeito de como eles compreendem informantes,dos expressões das partir desdobrando, a emerge uma proposta dediálogo eescuta dos indígenas, interdisciplinares, que incluíram o diálogo com a psicologia, com ascomunidadesearticulações teórico-metodológicas sócio-histórica no campodapsicologia refletidas e elaboradas previamente propostas com lógico metodo alinhamento seu explicitam também ameríndio ao perspectivismo da antropologialigados Pesquisadores comunidades tenhamcondiçõesconcretas deperpetuá-la. 2006. (Originalpublicadoem2002). e outrosensaiosdeantropologia ver: VIVEIROSDECASTRO,E.B. 3 Paraumaprofundamentodanoçãodecorpocomofeixeafecções, Hucitec, 1978. sistema funerárioedanoçãodepessoaentreosíndiosKrahó.São Paulo: 2 CARNEIRODACUNHA,M.Osmortoseosoutros atividade deculturaeextensãojuntoàscomunidades de AtençãoàPessoaIndígena. Aopçãoporiniciaruma comunidades indígenasdeSãoPaulo, denominadoRede um projetodeculturaeextensãouniversitáriajunto a nados depsicologiaeantropologia,acabeiporiniciar Inicialmente baseadoem leituras detextosselecio e não-humanos,substânciaspráticascorporais. comoutroscorposhumanos pinturas,adornos,relações de feitas nos corpos, segundo uma sofisticação muito grande que conta commarcações,inscrições por umalinguagem dos afetossubjetivossãomediadascomunicativamente fisiológico dessubjetivado. Concebemos que as objetivações afecções de como feixe entendido tomando comocentralocorpo, construção dapessoaaqui na grande muito investimento háum Baixas sul-americanas dasTerras osindígenas entre que de reconhecimento ge Dessa novaformadedialogarcomospovosindígenasemer próprio desi. A inconstânciadaalmaselvagem (2ªEd.).SãoPaulo:CosacNaify, 3 e não como um sistema enãocomoumsistema 2 . Das experiências : umaanálisedo - - -

61 Reprodução: Acervo Instituto de Psicologia/USP de Instituto Acervo Reprodução: A Casa de Culturas Indígenas contruída no Instituto de na Cidade Universitária Psicologia da USP, 62 deranças das comunidades, com as famílias, com os jovens, dascomunidades,comasfamílias, comosjovens, deranças trabalho quecomeçamosapensarjuntocomasli- tipo de a partirdesse Foi indígenas. as pessoas com um trabalho é Enfatizo, então,quenossotrabalho, a partir da psicologia, indígenas édiferente detrabalhar com a questão indígena”. Lima de Veríssimo Roberto que significativas mais reflexões das à Universidade,uma convites paraavindadosindígenas Com a continuidade dosencontros nas aldeias ecom meus troca deexperiênciashumanas. uma por desse se que a corpo,umarelação corpo contato muito grandeparaoconvívio, para o uma disponibilidade Apesar disso,havia deles. a respeito que eradocumentado conhecimento do como coautores indígenas dos nhecimento ao nãoreco- e elas sobre eram feitos que escritos registros percebi tambémumacrítica depessoasdacomunidadeaos e corriqueiro. mais evidente Paulatinamente, sentido seu em do queseriaumapesquisa uma formadistinta buir de contri poderia osquaisauniversidade sobre comunidades nas nas conversasquehavia uma sériedetemaspresentes A visita foi positiva, conversamos bastante, e pude identificar proposta academicamenteorientada. uma previamente estruturar sem aspessoas a conhecer iraberto comunitários. Assim,resolvi conhecimentos de expropriaçãoou exploração extração, como entendida fosse marcada por uma prática depesquisa científica construída,ser por estava que relação, a que gostaria de estavaabertaàminhavisitacomopessoa,masnão aqui fazer pesquisa não, né?”. Entendi que acomunida nitidamente, comumapergunta:“Masvocênãovem se expressou,ao telefone atendeu que fessor indígena me identificandocomoprofessoruniversitário. Opro- conversaa comecei Paulo, São de guarani comunidades de Educação eCultura Indígena (CECI) deuma das comoCentro portelefone, fiz,inicialmente contato que comunidades àpresença depesquisadores. Noprimeiro se deuapósternotadoumaresistênciadepessoasdas tras áreas, foi expressa assim: “Trabalhar com aspessoas expressa tras áreas,foi ou- de e psicologia alunos docursode envolvendo alguns 4 fez para o nosso grupo de cultura e extensão, já extensão, e cultura de para onossogrupo fez - - na emplenocampusuniversitário. Passamosaaprender o espaçoacadêmico, comaconstrução deuma casaindíge creto, apalavra dosoutrosnostransformou etransformou da presençaindígenaemSãoPaulo. No diálogovivo, con- de todosospovosindígenas,visando a maior visibilidade a comunidadeacadêmica. Umespaçoaberto àparticipação mais adequadoaodiálogodascomunidadesindígenascom ser pudesse que Universidade deSãoPaulo.Umespaço da campus do dentro Indígenas Culturas uma Casade de construção encontros foiade desses cativas queemergiu signifi muito propostas das uma tempo, do decorrer No num processodialógicoqueimplicacoautoria. as iniciativas que poderíamos construir em colaboração, Casa deCulturasIndígenas(IP-USP) de CulturasIndígenasqueconstruímosnoInstitutoPsicologiadaUSP. Liderança guaranique, posteriormente, foiumadasproponentesdaCasa 4 a compreensãomútuaeaçõescolaborativas. propícia queviabiliza háumasituação termos expressos, que, paraalémdos do outro,reconhecendo entendimento quais sãoascondiçõesmaisadequadas paraaescutaeo - -

Reprodução: Acervo Instituto de Psicologia/USP 63 - - - da USP e mem- * * Professora-doutora do Instituto de Psicologia da USP (na graduação e na pós-graduação), editora-chefe de Psicologia da Revista bro da Rede de Atenção à Pessoa Indígena. serviço do Instituto, que inclui a escuta das demandas dessas a escuta das demandas inclui que do Instituto, serviço ações e reflexões construir tentamos juntos comunidades, na atenção na luta e também ajudem na resistência, que psicossocial, que é nosso ponto principal. Assim ajudamos na promoção de nossos alunos da Psicologia, que vão a campo e se capazes tornam de lidar com essas ques às vezes são difíceis de lidar– sempre que tões interculturais, sabe. a gente não sabe mais do que porque juntos, aprendendo Nesse serviço, o que pode ser enquadrado no quesito pesqui verba para darsa – porque de fato a gente precisa conseguir conta dessas demandas – a gente chama de pesquisa-ação. se chega com o seu método em que Não é uma pesquisa científico, se realiza o trabalho de campo e se vai embora. Conforme vamos entrando no campo e travando esse conta to, sentamos e avaliamos, em conversas com a comunidade, quanto de nossos objetivos estão sendo atingidos. A ideia de ter uma Casa de Reza surgiu dos próprios Gua- eram as atividades eles iam à USP, quando Porque rani. Quando o professor Danilo começou a visitar a aldeia, Quando o professor Danilo começou a visitar a aldeia, perguntaram a ele: “Vocês não vieram fazer pesquisa com a gente, não? Porque estamos cansados de pesquisador que vêm até aqui, coleta seus dados, e ficamos aqui, com nossas Precisamos lutas... de alguém compor”. Então, pra entendemos que nosso papel é justamente esse. Com esse - -

onsidero fundamental a valorização das línguas, onsidero fundamental a valorização das línguas, que vivemos. tão importante nestes tempos em do povo, A língua tem tudo a ver com a cultura (cultural, ambiental, da aprendizagem, etologia) e as (cultural, ambiental, da aprendizagem, etologia) e as fi contribuições de áreas afins (como a antropologia, as comunidades ouvir os saberes que e vamos losofia), é uma que esse diálogo, realizando indígenas nos trazem, o objetivo com aldeia à vamos Não conjunta. construção de “analisá-los”. Na psicologia clássica, o que talvez esteja no imaginá Na psicologia clássica, rio das pessoas é que o psicólogo vá “atender”, “fazer clínica”, mas não é assim que trabalhamos – embora isso também possa acontecer, se houver uma demanda. levamos nossa bagagem É um trabalho muito coletivo: ocidental, de saberes das diversas áreas da psicologia Henriete Morato, entre outros, temos trabalhado junto junto trabalhado temos outros, entre Morato, Henriete especialmente Guarani – às comunidades indígenas, distância da USP em relação às pela menor inclusive na própria são desenvolvidas atividades Várias aldeias. feitas na aldeia. universidade, outras em visitas comecei a participar, ela já tinha caminhado bastante ela já tinha caminhado bastante comecei a participar, é uma rede e se estendido por vários departamentos, mas estou formação, interdisciplinar. Sou bióloga de os outros no nosso grupo, na psicologia há 24 anos e, áreas diferentes. professores são psicólogos de várias da professora Ao lado do professor Gustavo Massola, com o jeito como a sociedade vive e pensa. No Instituto com o jeito como a sociedade vive e pensa. No Instituto Rede chamado serviço um temos USP da de Psicologia A Rede foi criada pelo de Atenção à Pessoa Indígena. quando 2017, Em 2012. em Guimarães Danilo professor Depoimento de Briseida Dogo de Resende de Briseida Depoimento “A ideia de ter uma Casa de Reza de Reza uma Casa de ter “A ideia Guarani” próprios é dos Capítulo 8 Capítulo C 64

Reprodução: Acervo Instituto de Psicologia/USP orientação dosGuarani Casa deCulturasIndígenas(IP-USP), construídasob 65 - - fizemos uma parte das brincadeiras, que chamamos de fizemos parte das uma de chamamos brincadeiras, que encontros para brincar. Guara- dos autorização a com tudo, registra filma, gente A estudando e vamos o que mais faz sentido ni, ou funciona voluntárias. Tem sido voluntárias. muito enriquecedor porque apren- demos, cantamos juntos, dançamos… No curso de Guarani já tivemos sessões de vídeos, filmes com a temática indígena, com discussão depois. Também a deman responder para às comunidades, fazemos visitas que comunitária de base de turismo o projeto como das, de Itanhaém, Mirim, Tangará com a Tekoá realizamos quando ajudamos, por exemplo, a resgatar os saberes sobre Mais recen contato... no surgindo as coisas vão as plantas; temente promovemos uma oficina de artesanato guarani, E pretendemos novas . realizar Mirim uma ideia da Tekoá oficinas de artesanato. recebe é aberta, Indígenas a Pessoas de Atenção Rede A Como a demanda é grande, participar. queiram pessoas que vamos nos organizando aos poucos e vamos construindo uma forma de Sempre trabalhar... tem atividades na Casa pra Facebook no página uma com e contamos de Reza Gostamos muito da dessas atividades. a divulgação fazer participação de muitas pessoas. melhor. Estamos aprendendo muito – mas temos muito muito – mas temos muito Estamos aprendendo melhor. com esse povo. mais que aprender surgiu a ideia na Casa, do Em meio atividades às várias uma proposta Curso de da co- Língua e Cultura Guarani, munidade e do coletivo de alunos que se dedicam a essa atualmente surge lá, questão. E como a Casa acolhe o que todas temos as quintas-feiras, das 14h às 16h, esse curso, que é gratuito – mas aceita de bom grado colaborações - - - - - . (espaços (espaços em não-indígenas): juruá xeramõi Quando os alunos da turma do professor Jurandir Kakupe Kakupe Jurandir do professor da turma Quando os alunos foram à Casa de Reza na Universidade, eles se encon traram com os alunos da Escola de Aplicação da USP e se conhecem pessoalmente nos “encontros para brincar”, se conhecem pessoalmente nos “encontros para brincar”, se realizam no que é como chamamos as atividades que e juruá se encontram. guarani as crianças dia em que é “aumentar a visibilidade dos indígenas guarani”. Por Por guarani”. é “aumentar a visibilidade dos indígenas A isso estamos trabalhando nesse sentido com escolas. gente vai a escolas interessadas e inicialmente promove uma troca de cartas entre crianças guarani e crianças depois juruá; uma troca de vídeos para que as crianças elas Posteriormente, se conheçam pelas cartas e vídeos. Logo no início, nós realizamos rodas de conversa com mu de conversa rodas nós realizamos no início, Logo ajudamos na em Parelheiros, Krukutu, na Tekoá lheres, lideranças, realizados promoção de encontros com jovens trabalhou com teatro… na USP; já houve uma equipe que Nas conversas com a comunidade, uma das demandas também nos sentimos fortalecidos lá. A Casa tem uma for lá. também nos sentimos fortalecidos ça especial, nos sentamos em roda, o chão é de terra, tem um cheiro característico que remete às casas de reza das E assim vamos a música... o coral, o som, aldeias guarani, realizar coisas. aprendendo com eles como construir, Todas as atividades passaram a se realizar predominan temente de na Casa Reza do Instituto de Psicologia, com O bom é que nós com cachimbo – que é sagrado. fumaça, , um projeto junto com o xeramõi melhor. Daí foi feito o líder espiritual, explicou que nos uma casa como devia ser de reza: sua configuração, a janela virada para o Sol, todo o seu significado.Além disso, tínhamosque atender às especificidades arquitetônicas da Universidade: foi feita o pessoal uma planta com da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP pra depois construirmos, em mutirão, com a orientação do realizadas realizadas em espaços mesas e cadeiras, chão de cimento, sem que pudessem pitar seus cachimbos das dentro salas. Então, veio a ideia: por que não fazer uma casa de reza? Assim eles se sen tirão mais à vontade e poderemos realizar um trabalho 66 prepara paraaaberturado quarup Adornos epinturacorporaldejovemyawalapítique se Foto: RenatoSoares 67 - . Ainda com ela no . , de modo que a fumaça , petynguá planos se intercalam imagens de plantações e de árvores imagens de plantações e de árvores planos se intercalam durante toda a O canto que se ouve varridas pelo vento. sequência começa com o volume baixo e vai subindo até se espalha e cobre seu rosto. Ela se detém se espalha e cobre seu rosto. diante do rosto baixinho, bem pintado de vermelho na parede. Ouvimos, seus e as tragadas no petynguá passos * Yanet Aguilera Viruez Franklin de Matos. Boliviana radicada em São Paulo, é doutora em Filosofia pela USP, professora de História do Cinema do curso Federal de São Paulo – Unifesp. de História da Arte da Universidade o canto. O quadro final da sequência é uma pintura da de verme- colorido, parte superior do rosto de um índio, lho, com seus grandes olhos encarando o espectador. Um seja substituído corte seco faz com que o rosto pintado sem transição pelo de um bebê, que gesticula e balbucia algo incompreensível para a câmera. O nome do , filme Tekowe Nnepyrun – A origem da alma, surge sobre o rostinho da criança. saindo de vermelho vestida mulher uma de geral Plano de Os desenhos uma casa de madeira. pintados no rosto, fumando a está as tranças e o petynguá (cachimbo) que identificam comoindígena. Num certomomento, ela es timula as brasas de seu não é a mesma do masculina, escutamos uma voz plano, sem vivíamos “Antigamente em Guarani: diz que início, violência, vivíamos assim porque tínhamos de tudo na mata, e o remédio mesmo era nossa comida, o almoço e o nosso as crianças traziam na mata tinha tudo. Primeiro, jantar, a fruta do cipó-imbé…”. se tornar bastante presente. Desta vez o diálogo musical se dá entre masculina e uma voz solo várias vozes femininas, acompanham os instrumentos musicais já mencionados - i, do No fundo, No fundo, * (do chocalho, do tambor, do tambor, (do chocalho,

tela preta e o som monocórdico e rápido de um monocórdico etela preta e o som de um rápido usado mbaraka (violão), como percussão, prolon- silêncio No curtíssimo segundos. vários por gam-se

. Os jovens cantam em Guarani, segundos ravé . Os jovens cantam em Guarani, depois a A de Alberto Alvares”. As letras desaparecem e a tela vai cla vai tela e a desaparecem letras As Alvares”. de Alberto de uma aldeia com a porteira a entrada até mostrar reando aberta. A câmera baixa destaca o chão, que ocupa quase a algumas apresenta de cortes Uma série metade da imagem. A esses com a terra vermelha na frente. casas ao fundo, voz aguda da menina responde num tom mais alto, criandovoz aguda da menina responde num uma espécie de diálogo musical. O nome de Nhanderú é repetido várias vezes. As mãos da moça apontam para o alto e as dos meninos têm as palmas voltadas para cima, numa atitude de espera e súplica. Tela preta, sem som, texto em letras brancas: “Um filme ao som da música. O movimento revela que a tela preta a tela preta que revela O movimento ao som da música. era formada pela blusa de uma adolescente, que agora está diante de um grupo de jovens enfileirados, um deles tocando o mbaraka e outro o mbaraká miri. sentados, uma mulher e um homem que está dedilhando o buscar a sua força na vida”. Esta fala é substituída pelos acordes do mbaraká mir e do ravé do mbaraka anguapú, do violão e do A câmera se violino). desloca da direita para a esquerda, fazendo um percurso circular como se dançasse que se segue, ainda no escuro, ouvimos uma voz masculina “Nossa que diz, em Guarani: alma é origem da nossa vida. É o que dá alegria e movimento a nosso corpo. Com ela, contemplamos a sabedoria do mundo espiritual. E tudo espírito o nosso que mas ver, podemos não que aquilo sente. luz e sabedoria para cada pessoa Nhanderú dá alma, Yanet Aguilera A captura do invisível do A captura Capítulo 9 Capítulo 68 por todaumanoite morto homenageado,osxinguanoschorameselamentam À luzdofogo, juntoaoquarup, troncoque representao

Foto: Renato Soares 69 - A origem da alma se relaciona (branco) que domina o assunto. domina que (branco) Para esses espectadores-ouvintes Alberto tenta capturar do som, através principalmente do espírito”, o “invisível como se pode constatar na descrição do filme. constante sobreposição de sons e pelas defasagens entre áudio e imagens: escutamos falas e ruídos (da água, da roupa sendo batida etc.) antes de ver de onde eles provêm. pelos a divisão do som realizada estudiosos, Porém, como áudio do complexo o sentido simplifica estratificação, toda palavras, que sinestésico aspecto o esquece que já filmes, nos ruídos e músicas produzem na escuta do espectador tanto experimental. no cinema convencional como no inicio “Quando conversa: me disse numa Alberto Além disso, o som com a tela preta, no meu pensamento, quero levar aparecer depois. que irão as imagens o público a imaginar as que cinema do diferente filme o fazer em penso Sempre parentes os que quero que Penso realizando. estão pessoas guarani se identifiquem com o filme, a montagem... por isso que todos os filmes têm essa maneira de narrar e até filmagem”. na espírito do invisível o capturar tentar mesmo uso no identificamos que complexa função a confirmar Ao –, diferenças as marcar e imaginar fazer – filme no áudio do o cineasta sugere ainda que ela se dirige a um público gua- juruá ao apenas e não rani marcação de ritmo para despertar despertar diversos sentimentos para de ritmo e marcação pro de som, A este tipo dramática. carga a potencializar criado “convencional”, opõe-se aquele duzido pelo cinema uma narrativa à impunham que experimentais filmes pelos defasagem temporal e espacial entre imagem e som. De estaria mais subordinado à primeira. modo que este não Gilles Deleuze cria o conceito de “imagem sonora” para desse uso do som. marcar a diferença Assim, poderíamos dizer que já que a ausência com o cinema experimental, de imagem seu início, no pelo menos fosse visto, o som que evitaria A tela como um meio que ajuda no conhecimento do real. preta também nos impediria de selecionar um único tipo de escuta possível do som ser atributo dos elementos – a visuais. A “imagem sonora” também seria construída pela - - O fenômeno acústico relacionado às imagens num filme à acréscimo um como de cinema pelos estudiosos é lido sensação de realidade que as fotografias em movimento os diálogos Claramente, cum supostamente provocam. pririam esta função e a música estaria a serviço de uma A descrição dos primeiros minutos do filme, na qual se permite colocar a importância do áudio, percebe claramente uma série de questões fundamentais respeito a do som no cinema indígena. biente para, só depois de um corte, mostrar uma criança criança uma mostrar corte, de um só depois para, biente sentada e uma mulher batendo a roupa que está lavando Um coro de vozes se sobrepõe no rio. ao som das batidas. No plano seguinte, várias pessoas cantam e em dançam ao se sobrepor terra na dos pés batendo do som Além roda. mencionado homem do voz a acrescenta-se final, no coro, será uma constante. há pouco. A sobreposição de sons brepõe-se à fala acima. Nos próximos planos, enquadra-se delas água em velhas bacias e dentro que jorra a torneira crianças pequenas se banham. Logo em seguida, e vemos nadando ou se jogando crianças e adolescentes ouvimos am ao som acrescentadas são Batidas de um rio. dentro também. Esse tipo de alimento é todo natural. Este alimento é todo natural. Esse tipo de alimento também. não é produto dos brancos, é nosso produto, alimentávamos remé- o comíamos Antigamente isso. com filhos nossos os dio, antes de nossa mata. Assim, os mais velhos acabar a está se acabando.” tratavam a gente e hoje isso quase Antes de a imagem o som de mudar, água escorrendo so- O cipó-imbé é muito bom para todos os tipos de doença, mosquito Nem ferida. para e também verme para serve Assim dessa fruta. come muito você quando te morder quer Depoisantigamente. o pindó e disso pegávamos vivíamos a fruta madura dele, pegávamos umas três frutas maduras bebida para minha avó fazer fermentada, isso tomávamos Depois de um corte, identifica-se o homem que profere essas profere que homem o identifica-se corte, um de Depois o seu rosto está palavras, enquadrado de baixo para cima. Ele continua traziam como dizendo: “... se fosse mandioca e milho no saco junto com os mais velhos, traziam a fruta madura do cipó-imbé verdinha. no saco e também a fruta 70

Foto: Renato Soares 71 - - opy (casa Ivy marã e’y (terra sem mal). , fora do ambiente ritual, acabem tomados por uma fora do ambiente ritual, , função do som nos filmes segundo os estudiosos de cinema. de estudiosos os segundo filmes nos som do função O áudio, neste caso, ambiciona capturar a presença daquilo que “não vemos, mas que nosso espírito sente”. Assim, a fala, o canto e a dança parecem se inserir na pedagogia mnemônica da reza guarani que, segundo Pierre Clastres, é súplica-interpelação a Nhanderú para que este cumpra a à promessa do retorno A divina. a sua origem a este povo lembram onisciente, marcado pelo origem da alma recria todo um cotidiano As Falas Sagradas, que no filme são reproduzidas pela voz pela reproduzidas são filme no que Sagradas, Falas As seus deuses falam através deles. O filme também investe numa espécie de embriaguez sonora que pode ser aproxima da à dos mestres da palavra descritos por Clastres. O canto, principalmente com o acontecimento do nascimento da do nascimento da com o acontecimento principalmente criança, precedido pelo deambular das pessoas pela al deia para reunir aqueles grávida a ter um que ajudarão a parto sem dor, que a ligação com os deuses se manifesta. As crianças recebem uma alma divina que permitirá que conheçam as Belas Palavras proferidas e cantadas para lembrar a Nhanderú a promessa que fez ao povo guarani. é o fazer coletivo, que será O importante no Nhandereko final no ápice seu encontra que e mostrado reiteradamente da espaço no apinhados todos, quando filme, do festejando o e freneticamente cantam dançam de reza), mongaray (batismo). Neste ritual, as de crianças mais ou menos dois anos o receberão esperado nome que a elas atribuirá o pajé depois de consultar Nhanderú. Quando a criança aprende a falar ela toma posse, por assim dizer, do conhecidas como assentos da alma. Elas são presente divino. filme. um vendo e ouvindo apenas estamos que Obviamente Há uma distância enorme entre o acontecimento - da litur gia guarani e o que se coloca nesta obra cinematográfica. os informantes que é raro não Clastres, Segundo Pierre guarani, quando solicitados a contar seus mitos para os juruá embriaguez verbal que aquele que os ouve imagina que os (modo de ser guarani), que levará à terra (modo de ser Nhandereko que levará guarani), à terra fim a comunidade da reunião a disso parte Faz prometida. de alimentos cozinhar da tradicional dieta guarani. Mas é - - - - é bastante clara, é bastante , estaríamos incapacitados, assim, para ouvir e decifrar ouvir para assim, incapacitados, estaríamos , over voz sem imagens iniciam o filme.Isto se con de que, apesar da mediação do dispositivo cinema, ela ela tem do da cinema, mediação dispositivo apesar de que, a pretensão de estar incorporando a voz de Deus – neste do legitimadora assunção A Nhanderú. de específico, caso alma da origem A em , over voz da discurso não se esconde enquanto tal. O som não pretende reproduzir ou destruir a sensação de realidade, atributo primeiro da que são proferidas em um ritmo lento e solene. A força força A e solene. lento ritmo um em proferidas são que da sonoridade da fala não pode ser ignorada no caso do se que guarani, dos no especificamente e indígena cinema a filme, No Palavras. Belas das Senhores autodenominam a fala e exacerba a tal ponto a assimetria entre poesia vocal a hipótese aventar poderíamos que os espectadores-ouvintes ser simplesmente classificada como de hábito se faz: mera faz: se hábito de como classificada simplesmente ser exposição de uma transmissão de na qual o informação, som está subordinado a uma narrativa. da música e da fala, a centralidade exacerba A tela preta ainda mais por das palavras, destacando a poesia vocal firma porque ele termina com outra tela preta e a mesma voz do começo falando também em “Nada Guarani: pode destruir a alma, nem nem a injustiça, a covardia, nem a corpo o nosso que Ainda é imortal. alma Nossa ignorância. A eternidade”. para viva continuará alma nossa a morra, poderia não filme, o fecha e abre que voz, desta onisciência ainda mais do som que quase sempre se concretiza na re- e ruídos. produção de cantos, músicas, falas o ci pensar para fundamental questão A representação, nema, parece não ter importância quando uma música e uma para entender o acontecimento sonoro dos filmes realiza- dos pelos Uma das preocupações ameríndios? básicas da etnomusicologia é saber “o que o som é para o outro”. Nós, juruá este tipo de áudio? Todo cuidado é pouco para falar deste acontecimento contemporâneo que é o cinema indígena, Em quase toda a produção cinematográfica ameríndia, tem um papel o áudio Baixas, Terras pelo menos a das espec esse outro a também se dirige fundamental e ela categorias que geralmente aplicamos tador-parente. As ao estudo do som no cinema seriam, então, insuficientes 72 que eleenãoombarakámiri(chocalho)ouanguapú deste instrumento no início do filme é surpreendente. Por repetitivo osolopercussivo musicais.Daíque elementos da colônia, serve deapoioeacompanhamentoaosoutros aépoca desde introduzido ocidental, corda de instrumento dizer queo acordes.Pode-se semmudançasde um pedal sublinhar asubdivisão docompassobinário, comosefosse função percussiva, marca opulsodeforma regular para umaestranha geral, O violãotocadopelosGuaranitem,em dá algumas pinceladas sobre a música do começo do filme. executa merecem um estudomais detido. Esteartigo apenas inúmeros cantos que ogrupo YyHovy (Água Cristalina) A música parece ainda mais difícil deser analisada. Os uma instituiçãoocidentalimpostaaospovosameríndios? escola, da fala Xakriabá Célia que sentido , nomesmo juruá portanto, umaindigenizaçãodocinema, dispositivo técnico Sagrada para além da mediação cinematográfica. Haveria, áudio que fica evidente a função que ele tem: destacar a Fala o forma tal de potencializam constantemente sobrepõem quese ambiente som de profusãodepoimentos, a sábios os dos rezadores,sechegarem aofim,estaremosperdidos”. tardes. Depoisdisso, seum dia acabar ocantoeadança diz opajé:“Nósemnossaaldeiaainda cantamos todasas Nhanderú, e que o filme insiste em transmitir. Afinal, como e agradam cial dosomedasBelasPalavras que entretêm oessen damediaçãodocinema, disponha acaptar,apesar se que espectador-ouvinte um solicita que admirável, fica uma obracinematográ - vez, é sua da alma,por A origem em nossavisãoeentendimentodocinema. transformaçãouma provocar podem indígenas cineastas ameríndias, mas também para perceber que os filmes dos compreensão doqueimplicaocinemaparaascomunidades de necessidade a para aponta filme, o iniciar instrumento do osom de fato pelo autorizados eles, criarentre podemos da mesma forma como fizeram com o violão? A analogia que Guarani poderá talvezser apropriadopelos modo queeste equiparam, de se cinema violão e ocidentais, tecnológicos namitologiaguarani? Comodispositivospeso enorme umtêm que indígenas musicais instrumentos (tambor), -

Foto: Renato Soares 73 74

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Quéchua, a bela língua dos Andes “O passado andino também é o passado dos “O passado andino também é o passado Regadio nas montanhas Em busca do quipo perdido Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 brasileiros” Adrián Ilave Inca Capítulo 13 78 82 84 90 Ruínas de Machu Picchu, cidade do Império Inca que por séculos se manteve escondida entre as escarpas dos altos picos, na zona de transição entre os Andes e a Amazônia Reprodução: Freepik 78 L castelhano se pede amor com umaforma castelhano sepede verbal imutável: namorado perderam:“Em seu demonstra oqueRosinhae Cochabamba de Inca).Opoeta (Império Tawantinsuyu como oventodosvales eamplosuntuosocomoopróprio des, fluido como os rios que descem da cordilheira, sonoro evigorosocomoasmontanhas dosAn- idioma éplástico o grandeescritorboliviano, Jesús Lara Lara, para quemo aos amantescomonenhumaoutra. Pelo menoséoquediz É uma pena, poisoQuéchuaéumalínguaque sepresta em espanhol,concluiuocasal. do queamãedeRosinha falava. Era melhornamorarem do argentinoeramuitodiferente era esquisita.OQuéchua Rosinha rir.de morriade fala ele Quéchua, A mas nicarem comu- tentavam se engraçado, pois namoro foi de começo controu umargentinoquefalava Quéchua, comoamãe. O dominava No Bom pouco oQuéchua. Retiro, Rosinha en- espanhol, naturalmente, masnãoemAimará. Também e português em fluente tornou se e cresceu Rosinha mãe. no salãoda também écabeleireira Rosa, hoje nasceu que e grávida ficou Tônia Titicaca. lago do margens às rurais usar oespanhol,queamboshaviam aprendido emescolas foi Aimará. jeito O e nativas, Quéchua línguas respectivas comunicarnas dizia”.Issoquando tentavamse eu o que falava”, confessa, “nemele nadadoqueele “Não entendia aimará. origem rapaz, boliviano comoela,masde um belo por apaixonou se Paulo São Em Brasil. o para jovem migrou dos Andes Quéchua, abelalíngua Capítulo 10 proprietária, Tônia Blanco Carvajal, fala Quéchua. Ela Ela Quéchua. fala Carvajal, Blanco Tônia proprietária, na rua Javaés, no Bom Retiro, capital paulista,cuja a BelleCabeleireiros éum salãodebelezasituado boliviano, emseusalãodebeleza, emSãoPaulo Tônia BlancoCarvajal,que falaquéchua comsotaque

Foto: Carine Santos 79 - - - . . Lima: Edito (1961), obra citada . Calcula-se que os 3 . 2 Literatura Quéchua Clasica América Latina en sus lenguas indígenas De la literatura de los Quéchuas várias outras, que simplesmente desapareceram. Segundo simplesmente desapareceram. que outras, várias Garcilaso de la Vega, “cada digo, província, cada nação, e em muitas partes cada povoado, tinha sua própria língua, diferente da dos seus vizinhos; os que se entendiam em uma e assim eram amigos elinguagem, tinham-se por parentes: não se entendiam devido à variedade os que confederados; e se fa- e contrários de línguas, tinham-se como inimigos como uns aos outros, até comerem-se ziam cruéis guerras, se fossem feras de diversas espécies” povos conquistados pelo Inca falavam cerca de 700 línguas. Esse foi o panorama encontrado pelos espanhóis quando Pizarro, Francisco por comandados deles, centenas duas 1532, com a ajuda de conquistaram o Império Inca, em milhares de rebelados diante de mo- si um locais. Tinham os conquistadores No princípio, e linguístico. saico cultural línguas as aprender em dificuldade muita experimentaram autóctones, o contrário parecia ser mais fácil. Há uma Garcilaso de la Vega sobre história saborosa contada por ninguém que sem língua a “aprendeu que Felipillo, índio o o ensinasse, só deespanhóis; ouvir falar os as palavras que 1 LARA, Jesús. por CARRILLO, Francisco. rial Horizonte, 1986, p. 155-156. 2 POTTIER, Bernard. Caracas: Unesco/Monte Avila Editores, 1983, p. 25. 3 Ibidem, p. 24. charchas e charchas assim como são outros; diferentes nos nomes, nas línguas” assim também são militarmentenas conquistava grandes territórios, como os procurava assimilar povos vencidos de todas as formas sua religião, sua economia, sua cultura, impor – seja por seja por impor sua língua, o Quéchua. Rapidamente, o Im pério Inca conseguiu organizar e padronizar social e a vida ao lado região muito extensa ao longo e econômica de uma da Cordilheira, que incluía os vales e o Altiplano a andino, oeste. a Amazônica Região da franjas as e Pacífico do costa foi a custa de A língua imposta pelos novos dominantes No século XV o Estado criado pelos ím- incas ganhou um Ele ape não história mundial. na peto raro expansionista - - - - - . 1 ” munalláway. Se . Insistir no rogo: mu rogo: no Insistir . . Para pedir muna- com doçura: munaririkulláway mamakúway Arte y gramática muy copiosa de la Lengua Aymara: muy copiosa de la Lengua gramática Arte y pelo quinto Inca Capac Yupanqui (1300–1350). Seus habi tantes como atesta falavam diversos dialetoso do Aimará, autor (1557–1625), Bertônio italiano Ludovico missionário de os são como can aimarás, de nações índios muitas “Há chis, canas, collas, collaguas, lupacas, pacases, carancas, foi declarado língua oficial. Aliás, a relação entre o Quéchua o entre relação a Aliás, oficial. língua declarado foi nos dois semelhantes há palavras é milenar, e o Aimará idiomas, embora seja evidente que se trata de matrizes di- ferentes. Segundo o grande escritor mestiço Inca Garcilaso a região dos Aimará foi conquistada (1539–1616), de la Vega cos, como Inca, Chanca, Huanca e Cañari. Fontes apontam Fontes e Cañari. Huanca Chanca, Inca, como cos, 13 dialetos Quéchua contemporâneos, alguns bem diferentes entre si; por isso se usa a expressão família linguística para se referir a eles. e Bolívia da Peru, do oficiais línguas das uma é Quéchua O primeiros países também Nos dois do Equador. o Aimará ou acrescentando significados. O Quéchua (ou Quíchua) é Quíchua) (ou Quéchua O significados. acrescentando ou de 10 mais por falado aglutinante ameríndio idioma um milhões de pessoas, espalhadas pela região andina, do sul da Colômbia ao norte do Chile, e pela diáspora boliviana. Também é conhecido como Runasimi, Gheswa, Runakuna, grupos étni Os falantes são de diferentes Kichwas ou Ingas. Essa é uma característica das línguas aglutinadoras ou o Ma como – além do Quéchua – o Nahuatl, aglutinantes, finlandês, húngaro, malaio, zulu, o (Mapuche), pudungun é simples, De modo outras. entre japonês, turco, estoniano, (menor junta (aglutina) morfemas que uma língua regular unidade semântica na mesma da língua) palavra, alterando insinuante: riway. Se houver uma profunda ternura para demonstrar: munarikúway. Se for o caso de insistir: munakulláway rogar: necessário for narikulláway. Implorar: ámame. O estado de ânimo estará no acento e no gesto com no acento de ânimo estará O estado ámame. que se formula a demanda, pois se a palavra manterá em todo momento sua estrutura única. No Runasimi é diferente. Munáway é o equivalente do espanhol; mas é demasiado duro, descortês, ineficaz. Háque suavizá-lo, fazê-lo mais 80 4 Ibidem,p.27. morte detantosoutrosfalares. se desenvolveu eseexpandiu. Masacentuouoprocessode essa língua não sónão regrediu, iguala várias outras, como o usodalíngua geral doImpério Inca, oQuéchua. Com isso, incentivando e mantendo era osíndios comocatequizar bem crível estruturaadministrativa incaaoVice-reino doPeru, que amelhorformadeincorporar haviam a in- entendido quanto osmissionárioscatólicos Tanto acoroaespanhola instituição aterumacátedradeensinodoQuéchua. San Pablo deLima. Logo em seguida setornaria a primeira Colegio fundaram o jesuítas os 1568 trinta anosantes.Em Domingo deSantoThomás, quehavia vindo com Pizarro frei dominicano gramática dalínguaquéchua,escritapelo Perú del Reynos los de índios los de general lengua la de a Arte publicada sido havia antes, anos Dez intérpretes. cem já contavacom maisde Quito de a cidade que de há registros 1570 em colonizadores, mas aos pretes seguinte, haviasomentetrêsindígenasservindocomointér porPizarro 1535. Noano fundada Limaem foi de A cidade para dar-seentender”... números quatro”, somandoos são uno e três “Deus disse Uno”, Trino e Para dizer“Deus dizia comoumpapagaio. e interpretava oque nãoentendia porque senão ciosamente, mali fazer quisesse sentidocontrário,nãoporque de mal e a fez saber que de é interpretação a sua o Peru.Sobre teve que intérprete oprimeiro foi venturoso tão e tal piores… ou semelhantes outras e qual e tal juro tal, prometo bisonhos, ordinário ouvia mais de eram asqueusavam os soldados platôs artificiais criados para suportar as construções em platôs artificiaiscriadospara suportarasconstruçõesem A apurada tecnologia urbanística dos incas, nos vários A apuradatecnologiaurbanísticadosincas, nosvários 4 pedra graníticadeMachuPicchu Reprodução: Freepik , aprimeira - - 81 82 O sidade de Michigan,de sidade porexemplo, propuseram umaou RobertoOs pesquisadoresMarciae Ascher,Univer da totalmente aceita. as unidades.Masessaformadecontarosquipos nãoé seguida, viriam as centenas, depois as dezenas epor fim em milhares; dos acasa representavam principal cordão entendem queosgruposdenóspróximosàatadura no ções. Usava-seosistemadecimal.Intérpretesmodernos por umjogodeváriostiposnósemdiferentes posi- feita era ela números, de ànotação Quanto específico. pigmentações coloridaseacadacorseatribuíaumsentido organismo deanimais. Essescordõeseramtingidospor de fiosalgodão. Havia tambémastirasdefibrasdo cordões eramfeitosdelãlhamaoualpaca, outros com materiaisdeorigensdiversas.Porexemplo, alguns metros dos cordões. Um quipo podia ser construído significado,inclusivediferentes os comprimentos e diâ um tinham quipo do constitutivos oselementos Todos o tatoeavisãoparalê-la. usava visual, ointérprete tridimensionale tempo mesmo da produção agrícola, entre outros. Por ser uma “escrita” ao e (censo) exército, dapopulação engenharia, do de dados os tributação, a inventários, os contabilizava quipos) dos cordas, responsávelpelanotação, leituraeinterpretação o a umacordaprincipal, atados cordões, um conjuntode de quasetodaasuaextensão.Pormeio lados dacordilheira,em império gigantesco, como oInca, que seestendia pelosdois de computardadosrelevantes para aadministração deum Em buscadoquipoperdido Capítulo 11 quipomayuq quistadores espanhóis no século XVI. Era uma forma quistadores espanhóisnoséculoXVI. Eraumaforma con- dos da chegada antes andinas muito culturas sistema quipo decomputaçãofoidesenvolvido pelas (espécie de escriba, que sabia atar e ler as ler sabia atare escriba, que de (espécie - - - ). Por fim, o zero seria um espaço espaço um seria zero o fim, Por umL). por representado até 9(eseria um nóvale umaunidade E), ecadavoltade em forma deoitovale um(eseria representado porum por um S voltaumasó valeseriade nó (erepresentadodezque o quipos sobreviventes (hácerca de900), elesconcluíram muitos Apósanalisarcuidadosamente tra interpretação. os quiposandinos” Oaxaca,mastambém de e central manuscritos doMéxico os só não envolver deva escrita de ampla mais definição região andina.Pensandonisso, Boone“propõequeuma caldeirões deculturaselínguascomoaMesoamérica ea a apropriado muito sistema um seria semasiografia A (como asnotaçõesmusicalematemática, osemojisetc.). comunicar, semousodapalavradedeterminada língua de escrita semasiográfica, umatécnica não fonéticapara conceitoo ela trabalha parecida: mas direção, outra em dos códicespré-colombianos, ElizabethHillBoone, vai a especialista em arte latino-americana enas pinturas Santos,dos o historiadormostraformeNatalino Eduardo comparável aousadonoscódicesmesoamericanos.Con- Harvard Antropologiade de Departamento do Urton, Gary explica significados”, conter para nados determinado conjuntodesinaisvisuais(outáteis)orde- sistema deescritanosentidomaisamplodapalavra: um além dosnúmeros. “Oquipo poderiaserconsideradoum na verdade, umalinguagem abrangenteque vai muito Uma corrente depesquisadores defende que oquipo é, Sistema Ascherseria5 A notaçãono maior sem nóetrêsnóssobrepostos. espaço um de volta, seguido uma só teria cinconósde cordão que 503, por exemplo,seriaescrito X um por nó,representado maior sem no que eleschamam deSistema Ascher); onó 3 . S, X3 L

1 no quipo por meio de um noquipopormeiode . . Assim, o número onúmero . Assim, 2 –umsistema

83 Foto: Renata Portella Renata Foto: : o calendário, a : : A Study in Media, A Study in : : o calendário, a cosmografia e a cos- a e cosmografia a calendário, o : Code of the Quipu the Code of . Austin: University Austin: . black and red in Stories . Santiago: Museu Santiago: Chileno de Arte Precolombino/ . , 26/9/2018. Disponível em: Newscientist, 26/9/2018. Revista Quipu 1 ASCHER, Marcia & Robert. ASCHER, 1 c. Arbor, Ann Press: Mathematics, and Culture. University of Michigan Citado 1981. ISBN 0-472-09325-8. em https://pt.wikipedia.org/wiki/Qui- 2019. po#cite_note-3. Acessado em 19 de julho de Gary. URTON, 2 Universidad p. 19. Citado de por 2003. SANTOS, Eduardo Harvard, Nata- na Mesoamérica e passado espaço lino dos. Tempo, cosmografia e a cosmogonia nos códices e textos nahuas. São Paulo:meda Casa Editorial, 2009, p. 92. Ala- BOONE, Elizabeth Hill. 3 Eduardo Natalino dos. Tempo, Citado por SANTOS, of Texas Press, 2000. Mesoamérica na passado e espaço mogonia nos códices Alameda Casa Editorial, e textos São Paulo: nahuas. 2009, p. 92, nota 115. 4 COSSINS, Daniel. We thought change everything. the Incas couldn’t write. These knots https://www.newscientist.com/article/mg23931972-600-we-thought-the- -incas-couldnt-write-these-knots-change-everything/. Acessado em 19 de julho de 2019.

4 - peruano Adrián Ilave Inca peruano Adrián Ilave Quipo ilustrativo, elaborado pelo artista elaborado Quipo ilustrativo, do fascinante mundo andino pré-colombiano. andinas, o contábil e o narrativo. Este último provavelmente Este último o narrativo. e o contábil andinas, incluía as histórias dos povos, as crônicas das guerras, os mitos fundadores, os cantos e calendários religiosos, os poemas contemplativos e espécie muito mais. Numa de excitante corrida, eles estão atrás do “quipo de Roseta” per dido, que quebrará o código e revelará detalhes insuspeitos que tenham sido influenciados pelo alfabeto, é perturbador é alfabeto, pelo influenciados sido tenham que uma forma tátil de que essas pessoas tenham inventado escrita”, conclui Hyland. acredita contemporâneos de etnógrafos grupo um fato, De que existiam dois tipos de quipos circulando nas culturas clãs envolvidos numa revolta inca do século Seriam XVIII. cartas ou documentos secretos da rebelião? quipos aqueles mas não tem o resto, Ela ainda não conseguiu decifrar dúvida de que a arte do quipo foi preservada de alguma forma nos primeiros séculos de dominação espanhola. E “Ainda colonizador. o com contato no evoluído ter pode que Collata, um esquecido vilarejo dos Andes centrais peruanos. dos Andes centrais vilarejo um esquecido Collata, Percebeu que eles “vieram em 95 combinações diferentes de tipo cor, de fibra e direção de camada. Isso está dentro da faixa de símbolos tipicamente encontrados em sistemas de A partir dessa escrita silábica”. constatação e por meio de tentativas e erros, Hyland identificou o nome de dois Recentemente Sabine Hyland, da Universidade St. Andrews, St. da Universidade Hyland, Recentemente Sabine do Reino descobriu Unido, o que ela chamou de uma com- dois estudou Ela ideográfico. com fonético quipo de binação quipos encontrados em igreja uma antiga de Juan de San 84 O Depoimento deAdriánIlaveInca princípios dasduassociedades eramdiferentes. Quando lhos, poderiam levar todoouro que havia”. Isso porque os espe- e tesouras somente trazido tivessem europeus os “se Pizarro noséculoXVI, teriacomentadocomseusecretário: europeus. Diz-seque, quando Ataualpafoicapturado por princípios. Osprincípios dosandinos eram diferentes dos Para entender uma sociedade temos que entender seus tipos desistemascomunicaçãoandinos. diferentes: oquipo, ayupana na América doSultivemos algunssistemasdecomunicação ção sedápormeiodaescrita,masnãoébemassim.Aqui que muitas sociedades acham que osistema decomunica lembrar quero Mas quipo. do falarprincipalmente Quero ganhamos outras. alguma maneira nos uniu. Perdemos muitas coisas, mas se acolonização das ideiasfoimuitochocante,tambémde para mimporque a raizcultural.Issoémuitointeressante não conhecemos vezes muitas que palavras de charque – Quéchua, vêm doAimara–comopampa, gaúcho, chácara, Vejo algumas palavras dalínguaaqui doBrasil que vêm do alguma maneira, houve uma influência dos Andes no Brasil. O passadodaAméricaéonossocomumporque,de do Sul,esomostodosherdeirosdessepassado. só, América continente um de parte fazemos porque leiros dosbrasi opassado é também andino Opassado também. o passadodosbrasileiros” “O passadoandinotambémé Capítulo 12 minha identidade–edadosbrasileiros É umprazer falar sobreeles,porfazerempartede parafalardessestemas. brigado atodospeloconvite , otokapu eaquillca –quatro - - os Ayalaretratou GuamánPomade artistaindígena cronista e Na famosaobra representar situações. alfanumérico, para um sistema abreviatura de de espécie dos quipos, disse que se tratava de um sistema gráfico, uma cemos. Oengenheiro britânico William Burns, estudioso diferente dosistemadecomunicaçãoque usamoseconhe tempo –acor, a corda, a forma e posiçãodosnós. É bem ao mesmo conjuntamente, detudo é feita outras. Aleitura possível pendurar cores.em umacordasempreera Ouseja, pendiam outras, secundárias, comdiferentestorções, nós, nós, cores e significados próprios. Dessas cordas primárias amarradas outrascordasprimárias,comdiferentestorções, na qualsão uma corda-mãe por composta é estrutura Sua muitosdetalhes. de dependia sualeitura tatoe cor, formae sistema decomunicaçãoandina que envolvematemática, um É “nó”). significa quéchua língua em (que quipo o foi Com otecidosecomunicaram muitascoisas–eumexemplo que nosidentificacomonação. o tecido valor mágico, é seu a pratativessem que oouroe andina. Ainda mais preciosonacultura o objeto é O tecido é para que saibam que otecido éoDNA da gente dosAndes. Isso, que aparentemente não tem a ver com o tema central, não tinhamomesmovalorquepodiatertecido. muito facilmente–porqueparaosincasoouroeaprata e todaaprataemtrocadesualiberdade, oIncaconcorda Pizarro ameaçaAtaualpaepropõequeeledêtodooouro (leitores de quipo) em diferentes dese de quipo)emdiferentes (leitores quipokamayoc * , o ybuengobierno,o nuevacorónica Primer - - 85

. 4 - . . Crónicas del Perú , obra em 7 volumes em que abor , uma tábua com divisões internas divisões tábua com uma , 1520–1554), autor de c. , tecido fino e precioso que só imperadores só que precioso e fino tecido , ). Comentarios reales de los incas (ou Primera parte de los Ritual formulário – e instrução de padres,Ritual formulário o 1 José de Acosta (1540–1600) jesuíta espanhol que realizou importantes missões na América a partir de 1571, quando chegou ao Peru. É autor da Historia natural y moral de las Indias também conhecido por Garcilaso de 4 O peruano Inca la Vega (1539–1616), escreveu El Inca, comentarios reales nas mãos dos indígenas quando eles iam se confessar. Os Os se confessar. eles iam quando mãos dos indígenas nas eles com seus quipos: pecadores iam ao confessionário cordas e os nós com seus dedos e, liam as os pegavam, diziam o seu pecado. então, Além dessa forma de comunicação dos quipos, também quadrados, desenhos existiam os tokapos – que eram multicoloridos, formando fileiras e colunas, tecidas em teares de kumbi e membros das famílias reais usavam. Nesses tokapos * Historiador e artista plástico peruano radicado em São Paulo dou tanto a natureza como os costumes dos povos originários. 2 Pedro Cieza de León ( 3 Francisco Álvarez de Toledo (1515–1584). de toda a região, chamada pelos europeus de Império da Nova Castilha. o proibiu de Lima Concílio o Terceiro Mas em 1583, religiosos católicos afir- muitos porque uso dos quipos, que os como instrumento mavam os usavam indígenas E e rituais. histórias eles guardavam pois de idolatria, para mandassem quipos os indígenas até temiam que sendo estavam denunciando os abusos que Espanha, livro no entretanto, 1622, Em América. na aqui cometidos chamado de São Pedro da Igreja Bocanegra, Pérez Juan pároco que, escreveu de Cusco, na periferia Andahuaylillas, mesmo proibidos desde 1583, os quipos continuavam escreviam-se escreviam-se lavores com um tipo de codificação para muitos deles, o tecido feito em tear. Têm se encontrado - como os famosos unkus, como eram chamadas as cami setas incaicas clássicas. a yupana também Existia uma espécie e pontos, que era a calculadora inca, de ábaco Garcilaso de chinês, como dizia o conhecido Inca la Vega - lia uma série lia uma série chegou ao Peru, em 1570, viu 3 , quando conheceu , quando conheceu , os quipokamayoc 1 , o famoso como o cha- cronista peregrino, 2 dedicação que espanta”. Outra anedota vem do espanhol Cieza de León como o quipokamayoc ver ao Ele, mamos. diversas. É incrível o que eles conseguem fazer com esse fazemos instrumento. Porque assim como eles nos livros, e até cantos cerimônias, leis, histórias, descrever podem tanta com isso substitui o livro, Tudo de negócios. rodas vice-rei Francisco de Toledo política economia da oficiais grandes os e indígenas os que imperial inca usavam o quipo para tudo. Então ele pediu aos cantos canções, cordas incluíssem nas que evangelizadores e orações; também ordenou que o sistema continuasse a ser usado, para garantir o controle econômico e político cento rápida nem drástica. A transição entre a invasão e a e a entre a invasão A transição cento rápida nem drástica. não espanhóis Os anos. 100 a 50 de durou final conquista todo o sistema político desfazer tudo, tirar podiam chegar, e milhões governar 12 de pessoas, desde a Colômbia até o Chile; eles o sistema inca de mantiveram alfabetização, de produção econômica e o sistema político. Quando o famoso meu”. Ele tentou explicar para o cronista como se lia, mas época qualquer nada mais – naquela saber este não quis coisa que não se baseasse bem na Bíblia não era vista, era considerada heresia. Mas saibam que a conquista dos incas não foi cem por de coisas, pergunta: “O que está fazendo, bruxaria?”. Ao Ao bruxaria?”. fazendo, está “O que pergunta: de coisas, estou “Não é bruxaria, responde: o leitor de quipo que lendo. Você fala com seu objeto [o livro] e eu falo com o Tenho aqui anedotas de alguns cronistas coloniais que tenteique coloniais de cronistas alguns anedotas aqui Tenho eram quipos os como de entender fácil tornar para traduzir vistos naqueles tempos do espanhol – é difícil traduzir do o português século para do contemporâneo. Falemos XVI Frei José de Acosta nhos muito interessantes. interessantes. nhos muito Segundo ele, os quipokamayoc astronômi históricas, matemáticas, funções: várias tinham cas, aritméticas e geográficas. Estamos falando, portanto, comunicar podia que multifacetado, instrumento de um coisa. qualquer tipo de em 1590. Ele em 1590. escreveu: “Os ou regis- quipos são memórias coisas significam que cores, em nós e cordas de feitos tros 86 Origem: sul doatualPeru. Dimensões: 92,7 x72,1 cm. Período: séculoXVI. tocapos pintadosnacerâmicaeemobjetosdemadeira um sistemadecomunicaçãográfica perdido. Hátambém quadros, nocentrodestapeça)erauma formadeescrita, por tocapo(decoraçãogeométrica, tecida empequenos Para algunspesquisadores, apadronagem conhecida sofisticada artedatecelagemnasculturas andinas. Túnica incaemfios dealgodãoelã, exemploda

Reprodução: Acervo The Cleveland Museum of Art 87 - que significa “sagrado”. huaca Por isso é difícil entender ou decifrar um quipo usando as línguas originárias tal como são faladas hoje. Naquela época Naquela línguas originárias tal como são faladas hoje. de pensar diferente, de uma maneira uma maneira havia É preciso considerar também que há misturas mais an tigas, pois o Quéchua não foi a língua original dos incas, então Cusco era a Cusco falando Pukina. chegaram que uma pequena aimara, palavra cidade chamada Acamama, língua que nasceuAndes e depois se espalhou nos por Peru e Quando Bolívia. conquistaram Cusco, os incas começa- fora – como eu, que em casa e Aimara a falar Pukina ram falo espanhol em e, casa quando estou fora de casa, falo a conquistar o resto da América Quando saíram português. do que Sul, viram o Quéchua e era uma língua majoritária, começaram a misturar o Quéchua com o Aimara e o Puki- em Quéchua do Até hoje há palavras que se originam na. “pukina quechuizado”, do “aimara quechuizado”, todas juntou-se os espanhóis, chegaram E quando misturas. essas a língua espanhola... Os espanhóis tentaram alfabetizar em Quéchua, mas usando a estrutura gramatical espanhola – o que provocou muitas duplicações espanhol–quéchua. Assim, até hoje temos muitos problemas para decifrar e entender a cosmovisão andina. Nela, por exemplo, o con- ceito de Deus de todas as coisas não existe, o que criador existe Deus palavra a Nem vivificadores. deuses são existe nos Andes, lá há a palavra lã de alpaca ou de outro animal mais comum, se referia se referia animal mais comum, ou de outro lã de alpaca as saem Da corda-mãe importância. de menor a gente sendo possí- as secundárias, e, destas, cordas primárias vel sempre pendurar outras. Então, segundo os estudos até oito milhões de um quipo podia conter dos cientistas, linguísticas. misturas e conjunções Por que a gente não consegue decifrar esse tipo de comu- por que ela é difícil de nicação andina, o entender? Porque que falamos atual- língua ou qualquer Quéchua, o Aimara da Argentina no norte no Chile, Bolívia, na Peru, no mente não é mais cem por cento indígena. O que ou no Equador, mistura de a gente fala é o “quechanhol”, uma Quéchua e Aimara com o espanhol. - - - che (que significa seria “contador”). “Essa “contador”). seria É uma corda-mãe, horizontal e principal que, dependendo dependendo que, e principal horizontal É uma corda-mãe, siste ou a um nobre um a equivalia torção, e da cor da ma notável ou a uma história. Estamos diante de uma a matéria-prima. Se a corda era feita primeira diferença: de se era imperador; ao se referia ela de vicunha, de lã do quipo. Estamos diante de objetos que comunicavam não só histórias ou comunicação verbal, também eram parte do sistema econômico do Estado. Estamos falando não ainda que de comunicação, universal sistema de um deciframos, não sabemos o que é. O quipo é como um resumo de vários tipos de registros... gava a um povoado que tinha uma língua completamente a um povoado que tinha uma língua completamente gava diferente do Quéchua, ele conseguia se através comunicar com um só instrumento, globalizar sua comunicação com diferentes línguas. Segundo os espanhóis, quando um quipokamayoh qualquer tipo de língua – e quando os espanhóisqualquer tipo de língua – e quando chegaram, Ter uma línguas no império incaico. existiam mais de 300 boa comunicação era necessário para o domínio de todo enorme como aquele Estado; se e fazer para comunicar línguas? de diversidade tal com império um unificar tentar e de cordas através conseguiam, os Incas Com o quipo só consegue com pluma. Se este não é um engenho desses referiam se colonizadores os [como bestas são que homens, julgo eu mas quiserem, como julgar podem indígenas], aos e vejo é que eles têm grandes vantagens”. Pelas crônicas sabe-se que os quipos podiam ser lidos por em que usam grãos de milho, é coisa que é coisa que milho, de grãos usam em que de yupanas sorte nor que embaraçada muito conta de uma porque, espanta malmente faria um contador de eles pluma, pegam, tiram o para trocam lá, para daqui grãos tantos uns e colocam erram não de erro, margem sem E, três... trocam lado, outro a gente que e pontualíssima coisa exata É uma vírgula. uma Com esse instrumento eles conseguiam fazer todo tipo todo tipo fazer eles conseguiam esse instrumento Com de soma, subtração, multiplicação, cálculo, até O divisão. de cronista Frei José Acosta também escreveu sobre esse ele chamou de yupana que tipo de ábaco, yupanakamayoh – então “contar” 88 continua sendoummistério. hoje, e que,até entender nunca conseguiram os europeus e no tecido, uma cultura com princípios diferentes, que enraizada nacor umacultura de falando mundo. Estamos cores possíveisporqueessaeraumamaneiradedominaro borla de lã vermelha tecida com fiosde ouro, tinha todas as rica uma oIncausava, , acoroaque amaskaypacha que Dizia-se dosséculos. comocorrer aperfeiçoando foise que ancestral, antigo, muito realmente comunicação de e guagem lin- nós, apenas cores.Estamosfalandodeumsistema há quiposdeoutrasculturasquenãousavam o sistemade 6 milanos. Também palha, commaisde de um quipofeito no sítioarqueológico deCaral, pertodeLima, foiencontrado Para finalizar, saibam que o quipo não é uma invenção inca: junto comele,massóparaocasodamatemática. a yupana – e baixo paracima milhares, de os até unidades a partirdas que umacordacomeça quipos numéricos.Sabemos são os tamente diferente.Oqueagentepodedecifraratualmente gramatical comple uma estrutura expressar diferente, se funciona no mesmo sistema, possivelmente sistema, funcionanomesmo - Dimensões: 85,1x76,2 cm. Período: c. treinados emoficinasemantidospeloEstado específicos, eramcultivadasporartesãos escolhidos, eram muitovalorizadaspelosnobrese, comseuspadrões Inca, eracomumnoImpério.Astécnicas detecelagem (lhama ealpaca). Estapadronagem, chamadadeChave Túnica incatecidaemfibra dealgodãoecamelídeo 1400-1540d.C.

Reprodução: Acervo The Cleveland Museum of Art 89 90 U estimada doImpérioIncanoinícioséculoXVI. apopulação pessoas, de 20milhões de cerca alimentar solo” o revolviam arados e afiadas sendo osprimeirosaadotarosistemadeirrigação. Varas ços, ondeusavam aadiantadatécnicadascurvas denível, terra em feito era plantio O zonasecológicas. de variedade umagrande de aexistência e acidentada extremamente climática, num território caracterizado por uma geografia abastecimento deágua,erosãodossoloseainstabilidade criar áreas decultivo que superassem osproblemas de de danecessidade incassurgiram pelos desenvolvidas agrícolas “astécnicas Bermann, Célio oarquiteto Segundo vegetais emumterrenoque nãoeradosmaisfavoráveis. espécies 700 de andinoscultivavamcerca Os camponeses batatas andinas. ceram esesubdividiram, comonocasodos240tiposde tornaram-se maisresistentesàvariaçãoclimática, cres- agricultores doaltiplano,asplantasforamaprimoradas, um poucoantes, masquandoassementeschegaramaos Amazônia, outros foram domesticados na Mesoamérica alimentosseoriginaramnares deanos).Algunsdesses algodão (muitousadonasAméricasenaÁsiahámilha- o cacau, aquinoa, alémdo urucu,dacoca, dotabacoe o feijão, amandioca,oamendoim, aabóbora, otomate, mundo todo,taiscomoabatata,batata-doce,omilho, hojeraramentefaltamnasmesasdaspessoasnoque cultivaram edesenvolveram alguns dositens alimentícios domesticaram,Andes Cordilheirados da intermontanhas ser exagero, masosantigospovos habitantes dosplanaltos Regadio nasmontanhas Capítulo 13 foi desenvolvida peloscamponeses andinos”. Pode dos alimentosqueatualmenteomundoconsome m ditopopularperuanodizque “maisdametade 1 . Afinal, era preciso era Afinal, . - 91 - - , 20/12/2016. Disponível em: https://casa.abril. , 20/12/2016. , o Império Inca está , o Império Inca na mesma categoria das Casa Abril Casa BERMANN, Célio. Mundo a beleza Inca: e a inteligência sustentável des

sa civilização. - com.br/bem-estar/mundo-inca-a-beleza-e-a-inteligencia-sustentavel-des sa-civilizacao/. Acessado em 20 de julho de 2019. Reprodução: Pixabay do lado oposto à áreaA área reservada para a agricultura, urbana de Machu Picchu, foi construída em curvas de nível com grandes armazéns para guardar os alimentos depois da colheita metalurgia do cobre e do bronze e técnica a de construção por meio do corte e deslocamento de pedras, além da in- venção de um sistema de notação próprio (o quipo). Pela O processo no livro Ribeiro Darcy por tipologia criada civilizatório antigas civilizações da Mesoamérica, da Mesopotâmia, da Índia e da China, pois, como elas, respondeu aos desafios políticos e culturais da melhorsociais, econômicos, técnicos, período histórico. maneira que lhe era possível naquele 1 Darcy Ribeiro, em seu monumental estudo da “antropologiaDarcy Ribeiro, em inca experiência a classifica volumes), (cinco civilização” da de controle padrão alto o agricultura, de sua exuberância (a teo de “império e cultura) arte sua social, e organização de uma formação imperial, Trata-se crático do regadio”. irrigação (regadio) que caracterizada pela tecnologia de desenvolve, além de sofisticada engenharia hidráulica, a A Pirâmide do Intihuatana, no centro da foto, ao fundo, construída em degraus na encosta íngreme, possivelmente era usada como observatório astronômico e local de culto às montanhas sagradas que circundam Machu Picchu Reprodução: Freepik 94

Reprodução: Acervo The Cleveland Museum of Art 95

obertzih)

Códice Borbónico

Sob o quinto sol A língua nahuatl hoje A volta da Serpente Emplumada O Popol Vuh e a língua quiché como O exuberante O mundo maia Popol Vuh, esplendor da palavra antiga dos A preservação da palavra antiga ( de escritura sistemas Mesoamérica: Popol Vuh Ana Cristina de Vasconcelos Lima Eduardo Henrique Gorobets Martins e o Fernando Torres Londoño Capítulo 19 Capítulo 20 Capítulo 21 Capítulo 22 A língua nahuatl e a conquista espanhola Eduardo Henrique Gorobets Martins Capítulo 23 maia-quiché Capítulo 18 pré-hispânica Ana Cristina de Vasconcelos Lima Capítulo 15 Capítulo 16 elementos de resistência Daniel Grecco Pacheco Capítulo 17 Capítulo 14 96 100 114 118 122 126 132 134 136 139 96 E em locais públicos e de destaque de centros urbanosda centros de destaque de locaispúblicos e em posicionados pedra, em monumentos grandes em dos representa foram notação de antigos exemplares Esses poder, tais como bastões demando, toucados esandálias. e senhoresgovernantesinvestidoscomsuasinsígnias de representavam, principalmente, cenasdecativos deguerra mostrasprimeirasescritura. Essas e notação exemplos de formativo médio (1200–400 a.C.), surgiram osprimeiros período conhecido como pré-clássico intermediário ou região olmeca, deVeracruz–Tabasco. Nessasregiões,no Oaxaca, passandopeloistmodeTehuantepec, etambéma de Vale do sul: região da provêm mesoamericanos notação Os exemplos mais antigos conhecidos dossistemas de de notaçãoeescrita. destacava-se ousodecicloscalendários edesistemas características de série dessa obsidiana. Aindadentro mides escalonadaseousodearmasconfeccionadascom jogo depelota, ocultivodecacau,aconstruçãopirâ- as práticasdeautoflagelaçãoesacrifícioshumanos, o fermentada), pulque(umabebida e papel de a produção elas estãoocultivodemilhocomobasedaalimentação, compartilhada entre suas antigaspopulações. Dentre a umasériedecaracterísticasculturaisehistória mais doqueumadelimitaçãogeográfica, fazreferência Nicarágua, HonduraseCostaRica. OtermoMesoamérica, de ocidentais porções e Belize, Salvadore El Guatemala, deterritórios atuais pelos estendia-se sul, ao e, Sinaloa, e Ana CristinadeVasconcelosLima escritura pré-hispânica Mesoamérica: sistemasde Capítulo 14 era limitada ao norte doMéxico pelosrios Pánuco macrorregião daMesoamérica. Talmacrorregião da adelimitação propôs Kirchhoff 1943, Paul m - de escritura mesoamericanos é o maia. Esse sistemade Alguns dosexemplosmaisconhecidosentreossistemas particularidades históricas. durante certo período detempo, guardando assimsuas ou seja, cada um deles foi utilizado em regiões específicas tiveram nemamesmaabrangênciaespacialetemporal, sentidos deleituradistintos.Essessistemastambém não plasmados foram onde suportes diferentes escrita, sua para de notação. Esses sistemaspossuíamformatosparticulares cenário muitodiversodopontodevistaseussistemas diversidade política,culturalelinguística,foitambémum tinguiam entresi. AregiãodaMesoamérica, devidoasua de escrituratinhamgrandesparticularidadesqueosdis- terísticas comuns,comoasacimacitadas,taissistemas É importante salientar que, apesar depossuírem carac Tabasco (circa500–400a.C.). ( época, como oMonumento 3 deSan José Mogote, Oaxaca produção daescrituraeaselitesdirigentes da contagemdotempoemciclos; arelaçãoestreitaentre e nomesdepessoas; aimportânciadosistemacalendárioe que representavam ideias, sons, palavras, nomesdelugares terísticas comunssão: acombinaçãoentrepinturaeglifos, colonial eàchegadadoscastelhanos.Algumasdessascarac e notaçãomesoamericanos desdeseusprimórdios atéaépoca às características que seriam comuns aos sistemas deescritura importância dosachadosarqueológicos desseperíodo deve-se Apesar donúmero reduzido dessesexemplosmaisantigos, a circa 600–500a.C.), oudoMonumento13deLa Venta, * 1 . - - 97 - - - - - . Propaganda, myth Princeton: Princeton University Princeton: para os estudiosos para os estudiosos dessa abandono do siste região que o ma da conta longa e da confecção de estelas na área maia entre 700 e 900 d.C. marcou, para os especialistas, o fim apesar desse clássico, do chamado período sistema de es uniformizadas, para receberem a pintura. Possuíam formas a pintura. receberem para uniformizadas, códices aos se refere que no comuns, mais as mas diversas, ou de biombo maneira à dobradas eram pré-hispânicos, sanfona, com folhas quadrangulares. e a utilização do siste A produção desses manuscritos ma de escritura pictoglífico,que explicaremos a seguir, são algumas das produções distintivas mais do perío- sobretudo da região de do pós-clássico (900–1521 d.C.), Mixteca–Puebla, atuais estados de Puebla e Oaxaca, no México. O sistema de escrita pictoglífico combinavare presentações pictóricas ou figurativas (ou seja, pintura) glifos e ideias) representavam (que ideográficos glifos com combinação essa Com sons). representavam (que fonéticos informações de entre pintura e glifos eram conformadas toponímico e antroponímico. numérico, tipo calendário, Tal sistema de notação também é conhecido como mix- teco-nahua, pois diversos povos de região da Mixteca, em nahuatl, da de língua bem como diversos povos Oaxaca, região do Centro do México, utilizaram-se amplamente desse sistema no período pós-clássico. * Mestre em História Social pela coordena o Centro de USP, Estudos Me soamericanos e Andinos da Universidade de São Paulo (CEMA/USP). systems writing 1 MARCUS, Joyce. Mesoamerican and history in four ancient civilizations. Press, 1992. crita ter se mantido vivo até a época colonial. Durante o Durante o vivo até a época colonial. crita ter se mantido à chegada imediatamente anterior pós-clássico, período foi transcrito esse sistema de escrita dos espanhóis à região, também em códices. de vários meio por produzidos manuscritos eram Os códices segmentos, de peles de animais ou em papel amatl (material processado a partir da casca de do árvore uma tipo fícus e Esses segmentos de pelede unidos. outras plantas nativas) eram superfícies e suas estuque com cobertos eram papel ou - - Entre os maias, esse sistema de notação foi plasmado sobre plasmado foi de notação esse sistema os maias, Entre estelas (grandes monumentos em pedra posicionados em locais públicos), edifícios, cerâmicas, combinando repre A fonéticos. ou logográficos glifos aos pictóricas sentações importância desse sistema de escritura é tão fundamental estipulava uma data específica à qual todos os outros ciclos outros os todos qual à específica data uma estipulava se relacionavam. No caso da região maia, essa data seria no calendário gregoriano a 11 de agosto de o equivalente todas as contagens e, assim, eram feitas a.C. a partir 3114 desse marco inicial temporal. lendário era fundamental nos registros mesoamericanos. lendário era fundamental nos registros além No dos caso maia, ciclos que comuns eram a outros sistemas, tais como a contagem de ciclos de 260 dias (mais também solar), (ciclo dias e de 365 agrícola), ciclo ao ligado longa, utilizado um sistema conhecido como conta era que vigorou sobretudo durante o período clássico. A conta longa era um sistema de contagem vigesimal dos dias, que representada de diversas Tais glifos, formas. por sua vez, de ordem e sua de colunas pares em organizados eram e a direita, para feita da esquerda era geralmente leitura de cima para baixo. de tipo ca a notação anteriormente, Como mencionado Dentre os sistemas de notação mesoamericanos, o sistema maia é conhecido pelo amplo uso de glifos logográficos e majoritariamente representavam signos que isto é, fonéticos, geralmente ou fonemas, completa palavra de uma o som sons de sílabas. Dessa maneira, uma palavra poderia ser tempos coloniais. Os maias, apesar de serem conhecidos por conhecidos de serem apesar maias, Os coloniais. tempos alguns traços culturais e arquitetura bem característicos, durante mas politicamente, unificados povos foram nunca alguns períodos a competição entre as cidades maias gerou chegaram que suas elites governantes, muitos textos sobre até os dias atuais por meio de seus monumentos e objetos. escritura distribuiu-se pela região sudeste mesoamericana sudeste mesoamericana pela região distribuiu-se escritura (atuais estados mexicanos de Chiapas, Campeche, Tabasco, hoje que região a como bem Yucantán, e Roo Quintana e Belize e porções de Honduras corresponde a Guatemala, El Salvador) durante o período clássico (200–900 d.C.) até 98 instituído pela Unesco, e os esforços para avalorização Unesco,eosesforços e pela instituído Celebrando oAnoInternacionaldasLínguas Indígenas, escrituraacomo zapoteca, olmeca,ñuine, entre outros. outros sistemas deescritura em diferentes tempos eregiões, possuiu cultural, aMesoamérica diversidade a suagrande devido apresentados, brevemente sistemas dois dos Além políticos esociaisespecíficos. contextos de através explicados são que sociais, convenções por próprias, estabelecidas e estruturas leitura de sentido comunicação com gramática, vocabulários, significadores, de asistemas refere-se escritura ousodotermo ensaio, do entendimentodessacategoriadecomunicação.Neste aampliação defendemos fonética, da comoestritamente ríndios mesoamericanos na categoria deescrita, entendi ame notação de sistemas os classificar tentar de Longe Conclusões de pensamento,históriaeescrita. suastradições dotempo histórias, transformandoaolongo próprias contar suas e poder seu de a antiguidade atestar para indígenas elites pelas como umaferramentapolítica novocontexto foiutilizadonesse coloniaise tempos em perdurou escritura de sistema Esse como vasos-códice. cerâmicas, conhecidas e baixosrelevos entalhados, ossos pregava aindaoutros suportes, taiscomopinturas murais, em escrita tradiçãode essa códices, próprios dos Além também eramorientadasporlinhasvermelhas. narrativas as códices, dos dias; nocaso 365 de calendário dociclo contagem pela guiado sendo aesquerda, para direita iniciava-se da pré-hispânico, geralmente mas, no período variava leitura de sentido Seu sistema. do as convenções e leitura princípios de seus conhecidos que fossem desde permitia que povos dedistintaslínguaspudessemutilizá-lo um sistema que, por não representar uma língua específica, turas e glifos ideográficos eram predominantes. Ou seja, era específica, no sistema pictoglífico, ou mixteco-nahua, as pin uma língua e, portanto,representavam fonéticos glifos os maia, do sistema em quepredominavam Diferentemente - - - - na culturaenaslínguasdaspopulaçõesindígenasatuais. ricanos, valorizando essaherança histórica –que segueviva mesoame escritura e notação de sistemas antigos dos meio cultural indígenapor uma breveintroduçãoàdiversidade apresentou ensaio este ameríndios, idiomas dos preservação (200 a.C.-1000 d.C.). Origem: Petén, Guatemala Dimensões: 274,4 x 182,3 cm.Período: clássico conquistas, dinastiaseapassagemdo tempo hieroglífica marcosdomundomaia, festasreligiosas, centrais, asestelasregistravamcomimagens eescrita chamada deWaka’. Situadasemlugares públicose da cidademaiadeElPerú(250-900d.C.), também Estela emcalcárioquecelebraumamulherdanobreza

Reprodução: Acervo The Cleveland Museum of Art - 99 100 E para os homens) descendente de “um tronco ameríndio de de “umtroncoameríndio de descendente oshomens) para 155 cm (média de baixa estatura como umpovode mente atual osapresenta exemplo, por osmaias, sobre literatura ameríndias. A nas populações puxados) (olhos epicântica que chegavam daSibéria. Daíopredomínio atualdadobra aspectos mongolóides(da Mongólia),com pessoas por africana. foram substituídos Mas comopassar dotempo – comoafamosaLuzia–tinhammorfologia mais antigos era bom.Ossítiosarqueológicosrevelamqueoscrânios tório, explorando-o comopodiameseestabelecendoonde provavelmente durantemilênios,foramchegandoao terri tica donossocontinente.Levaselevasde linguís- original dasAméricas, que dirádamultiplicidade Se há uma diversidade dehipóteses sobre opovoamento uma partedacomunidadecientífica. por aceito completamente dataçãonãoé de método seu mar, da Oceania.Importadizerque vindo daÁfricae pelo da Capivara, no Piauí. Para também ela, ohomemchegou controu artefatos humanos demais de40 mil anos na Serra que en- do HomemAmericano, defende Fundação Museu Guidon, da Niède Já aantropóloga genéticos. estudos em Humanos daUSP,dizemquefoihá15milanos,baseados Ecológicos e Evolutivos Estudos Laboratório de do Neves, Walter rias divergem.Háosque,comoobio-antropólogo as teo ao certo,e sabe nosso continente.Quando,nãose por essa ponte que chegaram os primeiros habitantes do cientistas,foi maioria dos a de Bering).Para (atual Estreito de 1.800quilômetrosextensão,denominadaBeríngia terra a Ásiaumafaixade as Américase entre descoberta do em média 100 metros – eisso durou milênios – deixando O mundomaia Capítulo 15 anos. Anteriormente, onível dosoceanos havia baixa Gelo: aproximadamente11mil Era do nou aúltima termi que faz muitotempo geológicos,não termos m 1 homo sapiens, - - - - -

Reprodução: Pixabay 101 - - - . . 2 Além do sacrifício do sacrifício Além 3 . El pueblo de los sacerdotes sabios. La civilización de los antiguos mayas a veneração por meio dos sacerdotes, o cumprimento do o cumprimento do dos sacerdotes, por meio a veneração ritual, as ofertas e eram então os sacrifícios os meios para e felicidade”, emse obter dos deuses vida e saúde, sustento que “todas uma cultura na qual se acreditava as forças da natureza, personificadas em deuses, combatiam entre si, o resultado umas aliadas e outras inimigas; desse antago- nismo – que se resolvia e se voltava a colocar eternamente os ajudar portanto, preciso, Era do homem. o destino – era deuses bons para que saíssem vitoriosos etratar de aplacar benignos.” fossem que para os maus humano, que podia ser de um nobre prisioneiro de guerra ao reservada escrava, de origem órfã ou de uma criança em autossacrifício, o comum era seu tutor, por sacrifício que se fazia sangrar partes do corpo. da na elementares só as forças não Os Maias adoravam vegetais, animais, humanos, mas também seres tureza, como fenômenos celestes e até conceitos abstratos, astros, divisões arbitrárias do tempo. Na mitologia maia, cada 1 LOPES, Reinaldo José. 1499: o Brasil antes de Cabral. São Paulo: Edito forte influência asiática: assim sugerem os olhos rasgados, olhos os sugerem assim asiática: influência forte de pelo facial a escassez liso, e o cabelo negro da pele, a cor na base da coluna vertebral” e a “mancha mongólica” Teotihuacanos, Zapotecas, ToltecasMais que seus vizinhos mistérios guarda Maias dos histórico processo o e Astecas, que confundem, instigam e encantam gerações após gera- ções. Sua escrita hieroglífica até hoje não foi totalmente decifrada, centros cerimoniais feitos de templos piramidais abandonados, repentinamente foram suntuosos e palácios pela dos espanhóis, e retomados muito antes da chegada cujo ela maia, religião da falar sem Isso tropical… selva em o sacerdote, quando clímax ao chegava ritual borado datas especiais, extraia o coração de um peito humano e o oferecia ainda palpitante aos deuses petrifica- sob o olhar construção de templos, do do povaréu de agricultores. “A ra Harper Collins, 2019. cap. 1: Quem é você, Luzia? 2 CIUDAD, Andrés. Los Mayas Biblioteca Iberoamericana. Madri, Ediciones Anaya, 1988, p. 14. 3 LHUILLIER, Alberto Ruz. Fondo de Cultura Económica, Cidade do México, 1991, p. 52. O Templo de Kukulcán (Serpente Emplumada, na língua na (Serpente Emplumada, O Templo de Kukulcán no século XII. É parte das ruínasmaia) foi construído patrimônio cultural da humanidade,de Chichen Itzá, México situado em Yucatán, 102 catalogadas em dez grupos etrês divisões principais. A pri mexicano). Veracruz ser de “Asoutras23 (estado podem norte do o Huasteco maia, incluindo origem de 24 línguas de continuam vivos falantes e descendentes seus de lhões a história dosMaias não seencerrou, pois mais dedoismi verdade, da Abem espanhola). aconquista até XIII séc. do meados X ameadosdoséc.XIIIde d.C.; decadente, e fase emfasetolteca,doséc. (subdividido tardia) epós-clássico séc. Xd.C., subdividido, porsuavez,inicialefase em fase ou formativo (1000a.C. a300d.C.), clássico (séc. IV ao pré-clássico A históriadosMaiasfoidivididaemperíodos: científica dopovomaia. ofícios, enfim, todo o modo de vida, a expressão artística e Eles condicionamasatividades cotidianasedomésticas, os maias. comerciantes edasartes.Hámuitosoutrosdeuses do amanhecer, doplanetaVênus, doconhecimento, dos do Quetzalcátl, éaSerpenteEmplumadadosAstecas, deus mau agouro);Kukulcán,nomemaia de eles Moan (todos acompanhado deumcão, deumacorujaedaave mitológica semidescarnado, corpo um por representada amorte, é Puch Ah e, maisimportante,acolheita. mundo do estabilidade Kax, senhor dosbosques edoscampos. Juntos garantem a sempre uma espiga na cabeça. Ele e identificado com Yum tem suarepresentação tura, associadoaomilho,poisem da agricul- o céu.AhMunédeus cardeais quesustentam aos Chaques, são quatro irmãos, demiurgos dospontos gro aoOesteeamareloSul);osBacabes, ao Norte,ne- Leste, branco ao vermelho – cardeal ponto a um relacionado aumacore (os Chaques,cadaumdeles quatrodivindades em divide se e dorelâmpago, trovão e doraio, símbolodovento, dachuva,étambém deus medicina, doarco-írisedasinundações;Chaac,popular parto, da Lua, do da mulher, Ixchel,deusa escrita; sua à e à linguagem ao fogo, um heróicultural,associado sido ter dos céus, dodiaedanoite, divindade benevolente que pode maia panteão do alguns destaques Eis de20 os 13 períodos anos, bem comoaserasmaislongas. do ano, cada mês,os19meses cronológicos: os20 dias de possuía suaprópria divindade, assim comoosperíodos um dostrezecéusecadanovemundosinferiores 4 : Itzamaná, senhor associados - - fonética maia marcou com seu acento peculiar a pronúncia apronúncia peculiar acento maiamarcoucomseu fonética espanhol compreende inumeráveis ‘maianismos’, e onde a ovocabulário Yucatán,onde em deu se inverso o fenômeno foram incorporadasaoMaia, porémétambémverdade que 4.500 anos. “Naatualidade, numerosas palavras castelhanas menos pelo há ramificar-se a começou que – proto-maia –o troncocomum um saíramde divisões essas indicam que ocupam orestodaGuatemala.” divisão, a leste, inclui osgrandes ramos Mam eQuiché, que a terceira Guatemala; da oeste do Kanhobal e Chol grupos Tabasco, ChortísdeHonduras, Tzeltal-tzotzildeChiapase de Chol dasplanícies grupos inclui afalade divisão oeste e nasplaníciesdeChiapas,Petén(Guatemala)Belize;a Yucatán pratica naprovínciade meira éaYucateca,quese tocrata, o guerreiro, a mulher, o prisioneiro ou o escravo. o prisioneiroou tocrata, oguerreiro,amulher, pinturas eatédaescritamaia, o sacerdote,aris- seja ele das desenhos, dos estátuas, baixos-relevos, das turas, dos oprincipalmotivo dasescul humanoé maia.Oser arte formasda de asensibilidade e a delicadeza movimento, doelegância traço,a do sutileza e liberdade a alcançou origem religiosa.Masnenhuma artísticade rica expressão Todas ascivilizações mesoamericanas desenvolveram uma de HonduraseElSalvador. parte deChiapas,bemcomoGuatemala,Belizeetrechos xicanos deYucatán,Campeche,QuintanaRoo, Tabasco e me aosatuaisestados corresponde território Esse hoje. maior populacional que ade Mayab tinhaumadensidade o apogeu, em seu séculos, por Mayab.Hádoze conhecida extensão quadradosdaMesoamérica, 325 milquilômetros por espalharam se Maias impérios. Os até e dades-estados ci- urbana, vida intensa de meio por forma complexa, de desenvolveram se que váriaspré-colombianas civilizações na Mesoamérica Rica. É Costa Nicarágua, Hondurase da El Salvador incluirterritórios ocidentais e Belize,alémde Guatemala, à México do sul do vai que cultural afinidade com macrorregião uma Descreve XIX. século do final no criado pelopesquisador alemãoEduardSeler(1849–1922), O termo Mesoamérica (algocomo América intermédia) foi do castelhano.” 6 5 As pesquisas linguísticas Aspesquisaslinguísticas - - 103 - - . . El pueblo de los sacerdotes sabios. La civilización de los antiguos mayas . 7 Los Mayas (raiz conhecida como nabo mexicano), conhecida como nabo mexicano), jícama (raiz Fondo de Cultura Económica, Cidade do México, 1991, p. 42. 7 Ibidem, p. 78. Biblioteca Iberoamericana. Madri, Ediciones Anaya, 1988, p. 14. Biblioteca Iberoamericana. Madri, Ediciones 6 LHUILLIER, Alberto Ruz. não late. Também dominavam a arte de produzir mel de de produzir mel de não late. Também dominavam a arte abelha. Entre os itens que produziam de maneira artesanal borracha para papel para os códices, tecidos, estão cordas, sal extraído das salinas costeiras.as bolas dos jogos rituais, Esses produtos eram usados no comércio. Por exemplo, os cera, sal, de os Tabasco Nahuas para exportavam Maias mel, roupa de algodão e escravos. E recebiam em troca usadas eram estradas Extensas de jade. cacau e adornos várias Os mercados locais de bem como os rios. isso, para os conquistadores impressionaram maia mundo do cidades pela limpeza, organização e pela quantidade e variedade de produtos. 4 Ibidem, p. 50. 5 CIUDAD, Andrés. nam as tumbas egípcias e os templos budistas das cavernas cavernas das budistas e os templos egípcias tumbas as nam de Ajantã (Índia)” co ricos e dos dos palácios da aristocracia sacerdotes, Produtos da realeza. públicos e dos prédios merciantes, de representavam pelo menos 75% derivados do milho abóbora, feijão, se cultivava mas também sua alimentação, pimentão, mandioca, tomate, Além tabaco... de comer animais sel eventualmente caçavam, a carne vinha dos que vagens, únicos bichos que domesticaram – o peru e um cão que A economia dos era basicamente povos maias Os agrária. choças simples, que contrastavam agricultores habitavam dos requintada dos centros cerimoniais com a arquitetura - - - - arte maia, cuja composição, traço, movimento e cores, “por sua qualidade artística se situa à altura de outros murais ador tal como os que universal, da arte famosos na história tocando instrumentos de percussão e sopro e pessoas pres e pessoas e sopro de percussão instrumentos tocando tes uma dança. Alguns a iniciar usam elmos e máscaras de animais, como caranguejos e lagartos, penachos com capas peles de jaguar, colorido), (pássaro penas de quetzal de algodão branco e tangas bordadas. No segundo quarto há a batalha em si. Lá estão os guerreiros maias, com suas lanças e escudos, apoderando-se de homens desnudos. A pintura do terceiro cômodo descreve o sacrifício humano com riqueza de detalhes. revela a maestria da O conjunto Somente em 1946 se descobriu uma acrópole maia cujas Foi um a pintura original. conservavam interiores paredes nas de Bonampak, perdida cidade na se viu que o assombro cômodo revelaram Os painéis do primeiro de Chiapas. selvas músicos notam se qual no triunfal, desfile de espécie uma superior, completam-se 365 degraus, o mesmo número superior, completam-se 365 degraus, o mesmo número fachada da pirâmide tem 9 níveis, Cada dos dias do ano. divididos pelas escadas, chegando-se a 18, o mesmo número de meses do calendário maia… arquitetônicos foram abandonados em algum momento pela população maia e hoje estão cercadospela selva úmida por Tomemos Central. América da impenetrável e quase construção A Chichén-Itzá. de Castelo magnífico o exemplo de Trata-se o tempo. cultuavam como os maias demonstra uma majestosa pirâmide sobre um a qual havia templo a que se escadarias laterais. Como cada chegava por quatro escada tem 91 degraus, Com a plataforma 364. a soma dá cios, templos, de adoratórios, quadras jogo de bola ritual, e plataformas para rituais observatórios astronômicos, danças, pontes, aquedutos, tumbas, terraços e pirâmides escalonadas, em cidades como Tikal, Palenque, Yaxchilán, Chichén Bonampak, Calakmul, Quiriguá, Piedras Negras, Sayil -Itzá, Uxmal, Kabah, e Vários desses Labná. centros Mesmo quando a mensagem é mitológica ou filosófica, ela filosófica, ou mitológica é mensagem a quando Mesmo é expressa por meio da figura humana, reproduzida com realismo estilizado. palá Eles construíram exímios arquitetos. Os Maias foram 104 250-900 d.C. Origem: Vale doChamá,Guatemala Dimensões: 15,5x16,5 cm(diâmetrodaboca).Período: do chamadoestiloChamádeKixpek identidade. Haviarivalidadeentreelas.Ovasoacimaé estilos depinturaemcerâmica, quelhesdavam As cidades-estadosmaiasdesenvolveram diferentes

105 Reproduções: Acervo The Cleveland Museum of Art of Museum Cleveland The Acervo Reproduções: Vasilha maia de cerâmica faiança, provavelmente maia de cerâmica faiança, Vasilha Ornada no estiloutilizada em um rito de passagem. e uma vaga-lumes traz esculpidos dois Chocholá, inscrição que menciona um jovem 600-1000 d.C. c. cm. Período: x 16,3 12,1 Dimensões: México Chiapas, Campeche, Origem: ornamentado em baixo maia de mármore branco, Vaso com cabeças de animal. relevo d.C. 600-1000 Período: x 10,1 cm. 9,5 x 13,5 Dimensões: Honduras região de Ulúa, Origem: 106

107 Reproduções: Acervo The Cleveland Museum of Art of Museum Cleveland The Acervo Reproduções: Escultura da cabeça de um jovem nobre demonstra aEscultura da cabeça A peça e a elegância da arte maia. o equilíbrio maestria, fachada de um prédio público daestava chumbada na A mão que envolve o queixocidade-estado de Copán. conjunto parece sustentar o 250-900 cm. Período: x 35,6 x 52,1 53,3 Dimensões: Honduras Copán, Origem: d.C. 108

109 Reproduções: Acervo The Cleveland Museum of Art of Museum Cleveland The Acervo Reproduções: Vasilhame com cena que retrata a apresentação deVasilhame O recipiente era usadoprisioneiros após uma batalha. para beber uma espécie de achocolatado picante muito feito à base de cacau e pimentaapreciado pelos maias, malagueta 600-900 d.C. Período: 16,9 x 15,3 cm. Dimensões: Guatemala Nebaj, Origem: Ao lado, pintores-escribas maias em cerâmica. Hun Batz (Um Macaco) e seu irmão Hun Chuen (Um Artesão) Segundosão os patronos das artes visuais e da escrita. as narrativas mitológicas maias, apesar de artistas os dois atormentavam seus irmãos maisrefinados, que se vingaram transformando-os em macacos novos, 250 a.C.-600 Período: x 22 x 35,5 cm. 56,5 Dimensões: Guatemala Petén, Origem: d.C. 110

111 Reproduções: Acervo The Cleveland Museum of Art of Museum Cleveland The Acervo Reproduções: Honduras; e a da terceira é um local não determinadoHonduras; da Mesoamérica Enfeites talhados em jade; pedra mais valorizada do queEnfeites talhados em jade; A origem da primeira cabeçao ouro no mundo maia. em a da segunda é Copán, no México; é Chichén Itzá, 112

113 Reproduções: Acervo The Cleveland Museum of Art of Museum Cleveland The Acervo Reproduções: Estatueta de guerreiro em cerâmica pigmentada, Trata-se de umaencontrada em um túmulo maia. o cocaroferenda. A estatueta tem duas peculiaridades: e a barriguinha proeminente removível Ilha Origem: 600-900 d.C. Período: cm. 26,1 Altura: México Yucatán, Jaina, Campeche, 114 tância da língua como o resultado da interação humana, um tância dalínguacomooresultado dainteraçãohumana,um Da mesmaforma,anarrativadoPopolVuh todo o significante e o significado presentes em uma língua. indígenas docontinente americano. Apalavra que expressa 31 línguas maiasmodernas,bemcomoatodasas ser associada à língua quiché contemporânea etambém às lavra e aformaçãodeumpovo. Essa palavra antiga pode uma associaçãoentreapalavra e aidentidade,entrepa- povo, domundoedosseres quiché. Comisso, seestabelece a criaçãodo narrativo é texto esse destaca que o tária, pois ànoçãoidenti cosmogonia da estende se criaçãoque Uma a característicadivinadapalavra. serescriados,aos denotando passada criadoresé entes dos e como atocriacional. Um atoemquealínguadosdeuses vivos, exaltaaimportânciadofalar,daexpressãoverbal a origemdavida, e dosseres dos humanos, das paisagens Vuhnarrativa , ouLivro Popol Conselho,comsua sobre do criadores domundo. O entes oralidade pronunciadapelos uma palavra, da de criado apartirapenas quiché. Tudofoi vra, da vida se deu,ealuziluminou omundo o esplendor pessoas, nãohavia vida. E foientãoque, a partirdapala- havia água, não havia animais, não havia plantas, não havia No início dostempos não havia nada, não havia Terra, não grandes montanhas. nhas despontaramdaágua, enuminstantesetornaram a terrafoisurgindo, desdobrando-se, eentãoasmonta- Daniel GreccoPacheco como elementosderesistência O PopolVuhealínguaquiché Capítulo 16 A mesmo instante. Assimcomonuvem, comonévoa, nascer, disseram apenas: Terra!, ea terra surgiu no terraa Para apenas. palavra, sua com criou se terra 1 exalta aimpor * - - gua expressa cada detalhe, cada elemento constituinte da constituinte elemento cada detalhe, cada expressa gua com seussemelhantes, com os animais ea paisagem. A lín humano relacionamento o para central elemento é língua A povos. diferentes dos acosmologia e comoaontologia bem sentimentos, e pensamentos sãotransmitidos qual pelo meio A defesa por uma língua é a defesa pela própriahumani- porumalínguaéadefesa A defesa hegemônicas. línguas contrapartida das minorias em das vez mais intensos, acabam por deixar delado as línguas que, cada globalização de processos vai nacontramãodos Esse resgate daslínguasoriginárias docontinenteamericano e deresgateumtraçoidentitário. motivo devergonhasegregação,orgulho motivo e de hojeé antes ofalarera antiga.Se umalínguaindígena pela língua originária, língua pela orgulho do o resgate vetores cipais prin- e aAméricaCentraltemcomoumdosseus México identidade dosdiversos povosda maiasque habitamo umresgate de Aimportânciarecente desaparecer. morrer, pode também e nutrido, ser necessita que adapta, se fica, modi- como umservivo, ativo quese é um ser Uma língua identidade deumpovo. a própria abarca também memória históricae pela passa que conjunto um todo reúne humano, ela pensamento o pessoa humana. Nela se identificam as regras que ordenam crítica enotas:JoselyVianna Baptista. São Paulo: Ubu Editora,2018, p. 121. Quauhtlemallan: aurora sangrenta, história emito. Organização, tradução 1 por FernandoT.Londoño,tambémautordestelivro. orientado Palenque, México”, da Cruzde Templo do das inscrições e glifos dos “Estudo o projeto a Mesoamérica. Desenvolveu tória (PUC-SP)estuda a graduaçãoemHis- Unicamp,desde pela mestre e UFMG * Doutorpela . – O esplendor da palavra antiga dos Maias-Quiché de Maias-Quiché dos palavra antiga da esplendor Popol O Vuh. – -

115 Reprodução: Acervo The Cleveland Museum of Art of Museum Cleveland The Acervo Reprodução: descendentes dos sobreviventes. Por fim, os criadores Por fim, descendentes dos sobreviventes. Assimdecidem usar o milho para criar a humanidade. dá certo 600-1000 d.C. Período: cm. 16,3 x 25,5 Dimensões: Guatemala San Juan Cotzal, Quiché, Origem: (Este objeto pode ser visto em outros ângulos nas 121 e 125) páginas 117, o macaco aparece de forma curiosa. O livro narra as sucessivas tentativas de criação tentativas narra as sucessivas O livro curiosa. Os deuses criadores tentam primeiroda humanidade. mas não dá certo e o mundo é destruído.com o barro, Depois, resolvem usar a madeira, mas suas criaturas os animais domésticos e Por isso, carecem de alma. até os utensílios da casa se revoltam contra o homem Os macacos são os Quase todos morrem. e a mulher. Incensário zoomórfico em cerâmica, com figuras em cerâmica, Incensário zoomórfico de macacos. No Popol Vuh 116 um processo de interculturalidade, noqualoscidadãos interculturalidade, de um processo práticasculturaisancestrais, tambémmasestimularam que reconheceram odireitoaoexercíciodaslínguas edas resultarampaz numaacordos sérieaçõesde des.Os de indígenas eodireitoàeducaçãobilínguenascomunida assim como o reconhecimento da co-oficialidade das línguas dos povos indígenas como sujeitoscoletivos dedireitos, afirmação a com cultural, pluralismo do reconhecimento de caminhocrescente um –propiciaram guatemalteco foram massacradosporcampanhasgenocidasdo Estado indígenas uma sangrentaguerracivil, quando milharesde de décadas após 1990 – anos nos país redemocratizaçãodo da resultantes Guatemala da constitucionais As reformas sua língua,memóriaeidentidade. lonialcontemporâneo. e Quiché resistiramOs assim como tentativas deaculturaçãoocorridas durante operíodoco- Uma históriaqueresistiuàinvasão espanhola eatodasas luta. uma históriade é Quiché 1250 d.C.. A trajetóriados ano de volta do por sido teria a Guatemala hoje é que do povo quichénaregiãocentral do o iníciodoassentamento noPopolVuh,apontaque relatados eventos de A sequência idiomas, o próprio Quiché, o Kaqchikel, Tz’utujil e o Achi. tenango. Ogrupodalínguaquichéécompostoporquatro Huehuetenango, Quetzaltenango, SanMarcoseChimal Quiché, Retalhuleu,Sololá,Suchitepéquez,Totonicapán, 65 municípios denove departamentos guatemaltecos: El emde EstatísticaGuatemala)falantesconcentrados (censo realizado noanode2002 peloInstituto Nacional sul doMéxico. Estima-sequeexistammaisde1.200 mil no falantes mascontacomalgunspoucos na Guatemala, língua quiché éfaladapor povos que vivem majoritariamente Parte deumadas31línguaspresentesnotroncomaia,a uma línguaéaimportânciadapreservaçãodeumpovo. se empobrece” humano, e quando morre uma línguaahumanidadetoda computador comascaracterísticas próprias dopensamento degrande Miguel León-Portilla,“cadalínguaéumaespécie segundo que já existência, de direito pelo defesa uma dade, 2 . Por isso, a importância de preservação de Porisso, aimportânciadepreservação - - idiomas naGuatemala. este querepresentouumgrandemarconadefesadesses originárias, conduzidaspelosprópriospovosmaias, fato daslínguas alfabética naescrita reformas de uma série disso,foiinstituída públicasdopaís.Além nas escolas luta pela introdução da leitura eescrita das línguas maias Lenguas Mayas deGuatemala, com uma ampla atuação na maias quefundaram, noanode1988, aAcademiadelas sultado dalutadeprofessores, estudanteseintelectuais Esses instrumentoslegaissurgiramtambémcomore indígena faladanopaís. língua alguma aprender e conhecer deveriam não-indígenas vivos epulsantes. serve paramanteromundoindígenae quiché o mundoquiché eosseusseres, hojeamesmapalavra criar para serviram alíngua e apalavra nopassado, Se, verte numaferramentadeautodefesaatravésdasideias. que permanece existindo –para oqual a língua secon povocada e língua cada ressaltar se que há Unesco, pela No AnoInternacionaldasLínguasIndígenas, em todaaAméricaLatina. indígenas às mobilizações apoiofundamental tuíram em consti- que se elementos autodeterminação, de direito do da próprialínguaecultura,bemcomooreconhecimento em particular odireito àmanutençãoeaodesenvolvimento indígenas, povos dos direitos os favorecer para fundamental povos indígenas etribais. Essa convenção foi um ponto Internacional doTrabalho, aOIT, no anode1989, sobre Organização 169da Convenção da aaprovação externo: ator Todo esseprocessotambémcontoucomumimportante nas deMéxico(Ediciónespecial),p.10e12. cer milenio. 2 LEÓN-PORTILLA, Miguel. Confira alegendadapágina115. Ao lado,incensáriomaia-quichédoperíodoclássico. Revista Arqueología Mexicana

El destino de las lenguas indígenas en el ter- indígenas enel las lenguas de El destino , nº85,LasLenguasIndíge-

instituído - -

117 Reprodução: Acervo The Cleveland Museum of Art of Museum Cleveland The Acervo Reprodução: 118 L número delivrosdestas suas letras; como nãotinhaum grande ‘Encontramos escreve: Landa de Diego bispo O sacerdotes maias foram perseguidos, torturados emortos. – destruíramtodososlivros quepuderamencontrareos comunitário ser seu de identidade de princípio o e vida normadesituar-seneles,paraa e tempo o e espaço o o sagradoedignoderespeito,achaveparacompreender todode símbolo o eram – tradições suas e conhecimentos seus deconservar omeio para osmaiasalgomaisque ‘desterrar a idolatria’ e sabendo talvez que os códices eram la Garza, “os padres espanhóis,emseuafãdogmáticode maias? SegundoahistoriadoramexicanaMercedesde os únicosleitores, e importância paraosseusautores Por que nãoseconservouessaliteraturaequaleraasua de eclipsessolares. e observaçõesastronômicas, entreasquais, umquadro horóscopocalendário,mitológicas, cenas religiosas, nias saber sobreseuconteúdoéquetrataderituaisecerimô- pode se . Oque deDresden oCódice é conservado bem códices –odeDresden, odePariseMadri. Omais conta deregistrarenarraromundomaia. Sobraramtrês dava que milenar escritura uma comesmero, os glifos uma auma, feitoumbiombo.Eranelasque sepintavam outras detalmodoqueaspáginaspodiamserdobradas nas umas amarradas eram tiras As cal. de camada fina tiras de papel de fibra vegetal, nas quais se aplicava uma eram poucos. Umcódiceeraformadoporumaouvárias palavra antigadosMaia-Quiché Popol Vuh,oesplendorda Capítulo 17 mentos maiasqueencontrava pelafrente. Enão Landa mandava queimar todososlivros edocu de Diego obispo aconquistaespanhola, após ogo - deu muitapena’ ” queimamos todos, oquecausouterríveldornelesenos que nãotivessesuperstiçõesefalsidadesdodemônio, -quiché podia ler oPopolVuh -quiché podia Durante maisde150anos, apenasquemdominavaomaia espada eacruzdeCristo. da fio pelo foram que forçados conquistador, do idioma pouco tempo de colonização, já haviam sidoversados no do Apesar oespanhol. dominavam e hieróglifos, de feita reino maia-quiché.Dominavamamilenarescrita maia, do nobresousacerdotes, letrados, autor) eramhomens que sido elaboradopelostrêsMestresdaPalavra (Nim-Chocoh virando cinzas” sendo proscrita, suavoz colonizada eseuslivros antigos entre 1554 e1558, “em meio à tragédia dever sua língua to, estudos indicamque oPopolVuh quando o PopolVuh incorporaram à mitologiaprincipal. Não sesabeaocerto que circulavam emsuacultura hácentenas deanos, eas hieroglíficopré-hispânico, como coletaram histórias orais, livro –um latino –usandooalfabeto não sócopiaram fonética deum povo estranho. EssesMestres da Palavra os pictogramas (notação a partir dedesenhos) na escrita transformar precisaram eles sofisticadíssima: linguística dido dospadresespanhóis. Trata-sedeumaoperação haviam apren que latinos, caracteres os hieróglifos para (ou autor) verteram essecódicesagrado maiaescrito em O é um caso único no século XVI. Popol Vuh éumcasoúniconoséculo Seus autores assinam o último capítulo do livro. Os autores (ouo livro.Osautores do oúltimocapítulo 2 . Pode ser obra de um único autor ou ter um únicoautorou obra de ser . Pode 1 . foiescrito,nemporquem. No entan- . Nãohaviaumaversãoem teria sidoredigido - - ) 119 - - - (Portador

inframundo, inframundo,

. Biblioteca Ayacucho, 3 os poderosos Senhores (Demônio da Sordidez), (Demônio da Sordidez), (Fazedor de Edema), Chamia de Edema), (Fazedor Literatura maia (Recolhedor de Sangue), Ahalpuh 4 – O esplendor da palavra antiga dos Maias-Quiché de (Demônio Apunhalador), Xic e (fazedores Patán 1 GARZA, Mercedes de la (org.). Caracas, 1980, p. 10. Prólogo. 2 Ibidem, p. 9. 3 Popol Vuh tradução Organização, história e mito. aurora sangrenta, Quauhtlemallan: 150. p. 2019, Editora Ubu, Baptista. São Paulo: Josely Vianna crítica e notas: 4 Ibidem, p. 150. maias, a saber, o Criador, o Formador, Tepeu, Gucumatz Tepeu, Gucumatz o Formador, o Criador, a saber, maias, (a Serpente A-que-Concebe, O-que-Gera, o Emplumada), preci- Mas ainda era noite e muita coisa Coração do Céu. Eram os heróis culturais maia, os gêmeos Hun-Hunahpú e Hun-Hunahpú os gêmeos maia, culturais os heróis Eram zaraba com “caçador significa (Hunahpú Vucub-Hunahpú tana”) jogando bola na superfície terrestre justamente “no caminho de os Grandes Juízes do mundo Xibalbá”. Então, subterrâneo ordenaram a seu Conselho: iremos e aqui, bola jogar venham Que chamá-los! lá Vá “― nós nem consideração pois eles não têm por derrotá-los, nem respeito, nem temor, e ainda se atrevem a se enfrentar sobre nossas cabeças.” Se pelos sombrios formado O Conselho de Xibalbá era nhores da Noite, os demiurgos Xiquiripat (Escamador de Crostas), Cuchumaquic Ahalganá de Pus), (Fazedor Chamiaholom de Osso), do Bastão bac (Portador Ahalmez do Bastão de Crânio), Ahaltocob do sangue aflorar na boca até a morte). “Foram esses que de Xibalbá, das entranhas de seu reino do de seu reino entranhas das de Xibalbá, estranho e dizem: ouvem um barulho ouvem se Só terra? da leito no lá acontecendo está que O “― os golpes de seus pés, só seus gritos…” sava acontecer antes de se fazer O ser luz. propriamente humano só será depois criado desses jogos a primordiais, milho. partir da espiga de quando os demiurgos O entrecho começa (Um Hun-Camé Morte) e Vucub-Camé (Sete Morte), o relato é para o castelhano. Em linguagem poética, - Manuscrito de Chichicastenan é a descrição cosmogonia maia, dos da mitos Popol Vuh vicissitudes dos Senhores da Morte e a jornada dos heróis culturais da sua civilização. fracasso, ingenuidade, esperança, aventura, de ação, repleto ilusão, tragédia, burla, embuste, malandragem e humor. O livro se inicia quando a Terra e seus seres já haviam sido criados do nada pela das entidades palavra criadoras fazia parte de um ritual, que podia incluir o sacrifício de de o sacrifício podia incluir que de um ritual, fazia parte sangue humano, para aplacar demiurgos vorazes e manter o frágil equilíbrio do universo. Os Maias colocavam o Jogo de Bola no centro da sua cos- mogonia. No Popol Vuh, é em torno da pelota que se dão as por homens, mulheres e até crianças. Mas, principalmente, Mas, crianças. e até mulheres homens, por eventos que deram existência de ao mundo. Há milhares anos os povos mesoamericanos já haviam desenvolvido a a partir local e, técnica de extrair o látex de uma seringueira com dura e saltitante, fabricar uma bola de borracha, dele, se espalhou A atividade a qual se jogava o Jogo de Bola. por todas as grandes cidades da Mesoamérica, de culturas e línguas diferentes. Era jogada numa espécie de quadra. ficava que arco, um de através bola a lançar era objetivo O fixo no alto. Os jogadores usavam adereços, apetrechos e usar as mãos e os Durante a peleja, era proibido máscaras. pés. O Jogo de ser apenas recreação, praticada Bola podia conflituoso, mas coeso, que se inicia no inframundo e sobe e inframundo no inicia se que coeso, mas conflituoso, aos céus, aos astros. A obra se estrutura em torno do Jogo de Bola que, para os Maias, assim como para os Astecas, Olmecas e Zapotecas, dos simbólica de recriação espécie uma era outros, entre de origem, da criação do homem e da mulher, das histórias das mulher, da e do homem da criação de origem, fabulosas de seus deuses e semideuses, de seus heróis e dos natureza, a divindades, as Nele, maias-quiché. primeiros – da animais e os humana a criatura o meio ambiente, pequenina pulga ao temível jaguar – um formam universo espanhol. Somente no início do século Somente no início espanhol. XVIII, o frei linguista traduziu o Popol Vuh Francisco Ximénez O resultado é o chamado go, que deu a conhecer ao mundo a fascinante narrativa do Conselho Livro Comunidade, da mítica maia. ou Livro o 120 conseguem sair delas vivos. Para isso, trapaceiam, mentem, ridão, doFrio, Escu da tio. EntramnasCasas seu e pai foram seu como Dessa vez, os gêmeos ficam alertas para não serem mortos terra ejogarbolacomosSenhoresSombrios. da as profundezas penetrar teriam que gêmeos do tio,os e pai do maia. Paravingaramorte heróis culturais de dupla segunda a Ixbalanqué, e Hunahpú gêmeos aos luz dá fim, Por CorujasMensageiras. pelas daterra àsuperfície levada é e safa a mocinha se da Noite, Senhores outros a ajudade com e artimanhas de meio Por sacrificial. altar ao pai seu por oferecida é punição,ela Em grávida, háumarevolta. cabaça/cabeça deHun-Hunahpú. Quandodescobrem Ixquic magicamente, apósreceber napalmadamãoasaliva da filha de Cuchumaquic (o Recolhedor de Sangue), fica grávida uma mocinhavirgem, chamadaIxquic (Jovem SangueLua), Hun-Hunahpú.Emseguida, de comacabeça confundem se Milagrosamente,porém, árvorede cabaças,que a enche se árvore quenãodáfrutos. ecolocadanacopadeuma Hun-Hunahpú édecepada de Bola. Acabeça de Jogo do Sacrifício do Pátio cbal-Chah, o ludibriados logo no início, sacrificados e enterrados no Pu são, porém, e daCasadasFacas.Eles Casa dosMorcegos haverá asprovas daCasadoFrio, daCasados Jaguares, da primeira delas na Casa da Escuridão. Caso passem por essa, Xibalbá” ossos, quase seacabaram detantorir, todososSenhores de serpente dorisoemsuasentranhas, emseusangue, emseus caem na risada e“morrendo derir, secontorciam com a Senhores deXibalbá.Seusalgozes dos portrêsvezespelos duranteaqualsãoengana- peripécias, de heroica repleta ao inframundo, numa jornada aceitam descer Os gêmeos de Vucub-Hunahpu.” suas máscaras, todaaindumentária deHun-Hunahpúe seus jugos, seusbraceletes protetores, seuspenachos e eram osapetrechos dejogoHun-Hunahpú, seuscouros, nahpú eVucub-Hunahpú. Oque osdeXibalbá queriam Hun-Hu atormentar para perseguir, para confabularam 6 . Dificílimasprovas esperam osgêmeos maias.A dos Jaguares , 5 das Corujas e das Facas e - - - derrotados por Hunahpú derrotados ram Xibalbá. os de disse – isso? veio onde De isso? conseguiu você Como ― frente deles,trazendoàluzsuassementes. na bem jogo de no campo no chão arrebentou abóbora se empatados quando Ixbalanqué arremessou aabóbora. A estavam lados dois começaram ajogarnovamente.Os “E melhor queasprópriaspalavrasdo isso éimpossível, epara saborear oestilodanarrativa, nada língua eàcultura maiaantes dachegada doscristãos. Como à acesso ter necessário seria mudança, dessa significado bola deborrachaporumaabóbora. Paraentendermoso potência deseusopositores; masàsescondidastrocama a pre inflar e confiança a ganhar para partida, primeira a propósito de artimanhaaoperder de Usam enganam. Senhores doDiaqueamanhece: do autores os seguida, Em os desgraçados,perversos. Só ospecadores,violentos, Só osdesprezíveisserãoseus. “[...] Nãoserãosuasasnascidasnaluz, osnascidosnaluz. seguinte vaticínio: ouviram o e heróis dos prostraram diante inframundo se e não osressuscitaram. Com isso, todos os demais seres do nahpú e Ixbalanqué sacrificaram Hun-Camé e Vucup-Camé homem ecom ospróprios estrangeiros. Éclaro que Hu com umcão, assimcomoviramfeito seguida, ser em ressuscitados e mortos seriam aoexperimento: riamente volunta- submeteram e se Vucub-Camé acreditaramneles maravilhas, Hun-Camé e até mesmoressuscitardefunto. morrido ereapareceram disfarçados demágicos. Faziam todos oshabitantesdeXibalbá enganar osSenhoresdaNoite. Deramumjeitodefazer Os gêmeoscontinuaramusandodeartesilusóriaspara que lhesfizeram.” por durasprovações,masnãomorreram, apesar detudo 7 E assim os Senhores de Xibalbá foram E assimosSenhoresde e Ixbalanqué e Popol Vuh Popol 8

acreditarem que tinham Popol Vuh: anunciam os novos anunciam os . Lá eles passaram Lá eles - - -

121 Reprodução: Acervo The Cleveland Museum of Art of Museum Cleveland The Acervo Reprodução: 10 Incensário maia-quiché do período clássico visto de trás. visto Incensário maia-quiché do período clássico 115. mais na legenda da página Leia 5 Ibidem, p. 151. 6 Ibidem, p. 155. 7 Ibidem, p. 191. 8 Ibidem, p. 199. 9 Ibidem, p. 200, 201. 10 Ibidem, p. 269. Palavra. Eles Eles Palavra. eram os engendradores, as Mães da Palavra, os Pais da Palavra. Grande como poucas era a natureza a natureza como poucas era Grande os Pais da Palavra. da Palavra”. desses três Mestres a “Aqui está, pois, essência dos Quiché, porque não há já onde Houve, no princípio. Antigamente vê-la. estava com se perdeu. os Senhores, mas está Isso é tudo. Já tudo aca- que agora se chama Santa Cruz”. bado sobre os Quiché, Popol Vuh. Não era nadar num rio semântico que lhe só poderia ter um final triste. São dois pequenos dois São triste. final um ter poderia só 9

Popol Vuh O parágrafos que resumem o fim de uma era eanunciam o início de outra que não pertence aos autores. “Havia três Nim-Chocoh, que pais eram como para todos os três Mestres juntos os Senhores do Quiché. Vieram da rico em matizes que se expandiam como ondas. Para o o Para ondas. como se expandiam que matizes em rico maia-quiché, assim como um peixe na água, ler ou a ouvir leitura do Popol Vuh era familiar, natural e necessário. E que se perdeu. é possível acessar a riqueza completa do nos é dado conhecer um mundo de significados aninhado em em cada em cada cada metáfora, associação palavra, de animal, mulher, homemideias – em cada nome próprio de ou deus. No idioma quiché cada justaposição de palavras, significado um com vinha gratuita, parecer pode nós a que céu todo se iluminou sobre o leito da terra; eles estavam da terra; eles estavam céu todo se iluminou sobre o leito lá no céu.” o homem Será preciso criar dos tempos terminava. A aurora para jogar o Jogo de Bola. Evidentemente, ao homem contemporâneo – a nós – não Foi essa sua palavra, após terem derrotado todos os de todos os de derrotado após terem Foi essa sua palavra, Xibalbá. instante e num de luz, rodeados subiram, os jovens E então ascenderam se ao céu. Um O o Sol, o outro a Lua. tornou esquecidos. Assim seja! a seus – disseram consolar pais, ao seus corações. somos os vingadores – Nós de sua morte, causaram. lhes que infortúnio do aflição, da perda, sua de “E então eles reverenciaram coração de o seus pais, que permaneceram o Pátio do Sacrifício do no Pucbal-Chah, Jogo de Bola: Assim será – disseram-lhes vocês serão invocados. – Aqui seus filhos, ao consolar seus corações – a vocês virão pri- meiro, vocês os serão primeiros a ser adorados pelas nas- cidas na luz, pelos nascidos na luz. Seus nomes não serão 122 U a palavraantigadopovomaia. palavrapreservaçãoda maia,da de e transmissora vontade da enfim, tratar, Vou quiché. povo do memória de umanarrativa que, adaptada,conseguiumanter-sena silêncios eanonimatos. Abordarei mudanças nos registros tada, estáaqui umaaproximaçãoahistóriacheiade nas montanhasdosuldaatualGuatemala. Mesmolimi- quichés, habitantes dos primordiais histórias e origem o grande livro emque foram consignadas narrativas de “livro quemais”.se entende nãoVou tratar doPopolVuh e empenhosdeescribassábiosquichésemmanterum Abordoaquiasdecisões doesquecimento. suas memórias existência delivroseasestratégiasutilizadasparasalvar e sucessãodelinhagens. Forma parte dessahistória a senhores, paranarraraorigemdomundo, aconstituição e utilizaçãodesistemasregistropara lembrardereise constituiumpontoaltoainvençãoNa históriadoQuiché, em incontáveisnarrativas. pode realizarcombrilhoeencantoaelaboraçãodomundo centenárias, milenares. Através daslínguas, a linguagem povos àsinvasõesedomínios.Línguasacumulamhistórias de resistênciados cula costumafazerpartedasestratégias vernádeterminaçãolíngua dosquea falam.pela Mantera ela sobrevive subordinações, de derrotas, deimposições, de culturais, e políticos conflitos de situações Em mundo. me. Elaconfere identidadeeforma particular deser no Fernando TorresLondoño (obertzih) eo A preservaçãodapalavraantiga Capítulo 18 de falantes que a utilize, a mantenha e a transfor- a mantenhae a utilize, que falantes de viva contanto queexista umacomunidade manece ma língua surge deprocessos decomunicação. Per obertzih Popol Vuh - - , , ** ticos, e os semasiográficos, compostos de breves anotações que sãofoné- escrita: oslogosilábicos, de dois sistemas de seria aexistência Mesoamérica da traços culturais um dos Segundo apontadopor estudiososdesdeadécadade1940, e tambémempapel cerâmica, diversosanimais, vasos deemcouroseossos templos etúmulos, empainéisdemadeira, desenhadosem lavradosnosmurosde textos foramredigidos sistema, a escrita.Comesse e a oralidade rituais, transitandoentre e emcelebrações nas cortesdascidades em público textos além deregistrar, leraperfeiçoar e osistema, recitariam os escribas, dapalavra(Baptista,2019,p.8).Esses mestres de chamados seriam eles quiché âmbito No governantes. dos familiares fossem talvez função, sua de poder nobres e,pelo escribas. Pertenceriamàslinhagens desenvolvidos porestudiosos conhecidosnaliteratura como e 200entre a.C.. 300 sistemas deregistroforamsendo Tais descobertas deSan Bartolo no Petén apontam para registros temas deregistro escrito. Naslínguas detronco maia, as línguas deOaxaca, que começaram a desenvolver-se sis nasculturase também de Tabasco,fazendo-sepresente mexicano noatualestado comhipercentro cultural olmeca, com logogramas. Provavelmente foi no âmbito dohorizonte forças do bem e do mal e também sobreasguerrasprota - do male forças dobeme as entre combates os culturais, heróis e deuses mundo, os Yucatan, eramtransmitidasnarrativas a origemdo sobre Ao mesmotempo, nasselvas deGuatemala, Chiapas, Petén, formando bibliotecas. tipo deescrita, produziram livros sobre diversos temas, folhas e comessas Os Maia, região. na presente fícus de amate extraídodecortiçaumtipo * Nim-Chocoh, - 123 - - - - * Agradeço a Daniel Grecco Pacheco por sua qualificada leitura e seus co- mentários. Lon o historiador Fernando Torres ** Colombiano radicado em São Paulo, doño é professor do Departamento de História da PUC-SP. Eles apontam para um competente esforço de produtores grupos étnicos e de conhecimento e sábios de diversos e memórias sentidos preservar em empenhados línguas, ameaçadas de desaparecer. Entre 1550 e 1560, depois de a antiga cidade quiché de um grupo de Utatlán ter sido destruída pelos espanhóis, resolveu registrar sábios e escribas, “mestres da palavra”, lín na sua história contavam de textos que conjunto um gua quiché, caracteres latinos. Segundo usando porém León-Portilla, esse novo texto seria o resultado da leitu- ra ou de transcrição um ou códices vários bem antigos, como de um conjunto de relatos orais conservados pelas Baptista o livro comunidades Josely Vianna quichés. Para de base mnemônica para este novo teria servido original O autor ou autores teriam p. 8). (Baptista, 2018, texto. consignado o seguinte nesse novo livro: de Deus, pela palavra isso permeados “Agora escreveremos da Cristandade, agora. E o revelaremos porque não existe mais onde ver, o instrumento o Popol Vuh da claridade – que veio lá dos lados do mar – com o relato de nossas sombras, o instrumento sobre assim se a aurora da vida, diz. Existe da alfabetização da alfabetização a passar os mais começaram dos padres, os caracteres utilizando línguas suas nas textos variados latinos. Fazer isso significava realizar uma operação mais complexa que passar da imagem a tradução. Era e da ora- de sistema, de mudar Tratava-se letramento. o para lidade diferentes Textos símbolos. os e significados os mantendo Sig trânsito. nesse produzidos sido ter devem dos originais nos e símbolos devem ter-se perdido para sempre por não ter contexto que os explicasse. No entanto, a continuidade e a preservação de memórias e sentidos foram conseguidos, reali Novos registros foram igualmente chegando até nós. zados, incluindo-se, Segundo ainda, novos temas. Miguel León-Portilla, devem ter produzidos 948 livros em sido línguas nativas que faziam referência ao mundo antigo. - Para preservar o saber antigo registrado nos livros e que e que nos livros registrado antigo o saber preservar Para frutos escribas, novos sentido, e fazia utilidade tinha ainda a língua de Castela, aprendendo estes a escrever e a ler e a ler a estes língua a de escrever aprendendo Castela, em espanhol. Um novo saber afirmava-seno âmbito dos tanto de diversas formas sobreviveram, saberes antigos que partindo para o segredo que circulava entre poucos, como filtrando-os nas doutrinas erituais aprendidos com os padres. Em tempos de perseguições, esquecer é dobrar-se ao perseguidor e aprender a lógica dos dominadores; para estratégia eficiente é antigos, sentidos e saberes os manter de continuidade e transformação. ropas y libros y atavios idolátricos que se los quemaron los Frayles” (Baptista, 2019, p. 9). Centenas de conhecimentos sido perdidos. e anos de preservação devem tem e administrar os sacramentos, depois de catequizar Também os a jovens das missionários ensinaram linhagens nobres mesmo aos rituais a que estavam associadas. Bispos e pa- bem de livros, o recolhimento também, promoveram, dres como sua queima. Temos dessa queima uma eloquente ima que XVI, século do tlaxcalteca picográfico códice num gem enquanto as chamas consomem frades com tochas mostra de las anotando-se “Incendio ornamentos antigos e livros, Quando Quando chegam os espanhóis, textos hieroglíficos com histórias dos deuses, dos reis, das linhagens e também ca- Maia. Zapoteca, Mixteca, Nahuatl, em circulavam lendários e autoridadesmissionários Mesmo admirando estes livros, através deles, temiam que, a idolatria fosse preservada. A acontecendo o foi proibida, recitação das antigas verdades sociedade onde poucos escreviam e liam, tais registros, registros, tais e liam, poucos escreviam sociedade onde ao associados estavam solenes, momentos em recitados poder de reis e à senhores, continuidade de suas linhagens, e adivinhações às territoriais, de direitos manutenção à predições futuras. gonizadas entre os povos da região. Com os sistemas de registros, essas e narrativas foram lavradas desenhadas nos diversos suportes. Variados textos foram consignados, de surgindo gênerosreis, de próprios, narrativas - conquis tas, observações de astronômicas, formas Em curar. uma 124 criam aTerra nela:rios, plantas, animais. e quantoexiste criadores na escuridão danoite Na primeiraparte,deuses seções oupartes,queresumimosaqui,antesdeterminar. quatro e umpreâmbulo nele livrodistinguem do tradutores um texto corrido sem interrupção do início ao fim. Editorese queestánaBibliotecadeChicago,é O originaldeXiménez, no texto.Remetooleitoraela a poesis e universo simbólico para mantero ela realizadas por opções difíceis das e diversas traduções das primorosa aolivro, emque serefere àsparticularidades introdução fez Medeiros, Sergio de tradução jáexistente tradução que competemaravilhosamente comapoética para oportuguês. Josely Vianna Baptista, autora destarica traduçãocompleta até nós.Em2019foipublicadaasegunda edifusõesquechega para iniciarumcaminhodetraduções Guatemala jáindependente, suscitaram denovo aatenção coma doséculoXIX, metade nasegunda bliotecas atéque, bi- armários de anos em cinquenta e cento mais de outros passado ter devem a tradução e A cópia perdeu-se. copiou tempo traduzi-lo para oespanhol. Oexemplar que Ximénez suscitado interesse,eofraderesolveucopiá-loaomesmo ter deve obra A 178). p. 1992, (León-Portilla, sacristia da que ofradeencontrouemumvelhoarmário(alacena) antigas. León-Portilladiz histórias das e antiga língua da e conservados por religiosos,curiosidade como ouregistro adquiridos sido tivessem que taisescritos estranhamento causa Não perigosos. ser de deixado tinham tores indígenas au- livros de desses da conquista,muitos anos cinquenta e culavam ainda no séculoXVIII; transcorridos mais decento XVII cir- XVI e séculos indígenas dos povo quiché.Textos interessava tantopelalínguamaiacomohistória do às mãos deFrancisco Ximénez, frade dominicano que se chegou XVIII,Chichicastenango de Cruz Santa em quando até oiníciodoséculo percorreu caminhosdesconhecidos latinos, com caracteres em Quiché novo texto,escrito Este Vuh (Popol oculta”. face o interpreta,mantémsua que aquele o livro original, escrito antigamente,masaquelequeovê, , 2018,p.116). 1 . presente frentam osSenhores deXibalbá. Caem nas armadilhas en dosmortos,onde aoinframundoouregião descem primordiais.Os heróistambémé perpassadoporlutas ser soberbo.Ummundoemcriação dos paradestruiresse Aparecem osheróis Hunahpu eIxbalanque, que são envia ser oSol. pretende Guacamaya quearrogantemente deus do presença pela tomada é narrativa da parte A segunda aos deuses,porquenãofalavam. mulher. Mas essa terceira geração também não agradou do tzite, semente fizeram a carne do homem e depois a da Naterceiracriação, que nãoagradaram com a aos deuses. madeira, de barro, primeiros homens,primeirode depois Depois deumaconsulta, oscriadoresteriamcriado até achegadadosespanhóis. defendido e governado conquistado, umterritório sobre rica. Elesatravessam a narrativa dosquichés eseusdireitos dantes doentendimentomundoetemponaMesoamé Foram plasmadasassim, comdramaepoesia, tópicosfun diversas geraçõesdelinhagens. ritórios, atéque seinstaleosenhorioquiché comsuas primeiros casais, linhagens, ritos, guerras, costumes,ter- micas dopovo quiché,pordiversas peregrinações, pelos narrativa A quarta parte estátomadapela cós- das idades perto, sempoderverbemorestante. um limite para que sóenxergem claramente oque estivesse colocam ver tudo.Osdeuses tudo ecompreender seguem muitosábios,poiscon- comomilho–sendoestes homens criando os primordiais, são novamenteapresentados que deuses dos novo narra-seapresença Na terceiraparte,de de ondeveioamãedosgêmeosvencedores. e naLua. inframundo, O equilíbriodomundopassapelo noSol transformando-se e ressuscitando senhores, aqueles como bem esperta, forma de amorte vencem Inframundo, pais, vão enfrentar osSenhoresdo a mesmasagadeseus em uma virgem deXibalbádoisgêmeos que, empreendendo vai engendrar Hunahpu de decepada reviravolta, a cabeça uma Em executados. são e senhores esses por preparadas - - - -

125 Reprodução: Acervo The Cleveland Museum of Art of Museum Cleveland The Acervo Reprodução: - - - - foram registradas com expectativas de permanecer de permanecer com expectativas registradas foram Incensário maia-quiché do período clássico visto de cimaIncensário maia-quiché do período clássico visto mais na legenda da página 115. Leia e por dentro. 1 Popol Vuh – O esplendor da palavra antiga dos Maias-Quiché de tradução Organização, história e mito. sangrenta, Quauhtlemallan: aurora p. 121. Ubu Editora, 2018, São Paulo: Baptista. crítica e notas: Josely Vianna e comunidades. Esses mestres quiché, da palavra diante de mudanças, invasões, destruições, afirmaram, com sua capacidade de dizer e de transmitir, o desejo e a vontade de sentidos fazer perdurarem os de seu existir no mundo. Dessa forma, fizeram jus à dignidade de sua humanidade e da nossa. mesmo tempo, uniu-os a veneração por aquela narrativa narrativa aquela por uniu-os a veneração mesmo tempo, e a convicção de que deveria ser maior sua permanência, foram Registros preservação. sua para dificuldades as que alterados, transitando do oral para a imagem, da imagem e do oral para o letramento, para que os sentidos vitais de povos continuassem iluminando a vida dessas narrativas no tempo. Cada esforço de registro, tradução e circulação, man visando realizado foi significados, diversos seus com uma um princípio, ter um relato fundante, indispensável, Aqueles conjuntos de raiz da qual não se podia abdicar. escribas e os destinatários sepa de histórias viveram suas a brava vontade das culturas ameríndias de perdurarem, e ao mesmomudando, adaptando-se tempo preservando-se. quiché grupos de mestres Em dois momentos, da palavra em sua história e se empenharam fazer circular quiseram no Popol contidas que ela pudesse As narrativas perdurar. Vuh rados por séculos e por práticas de registro diferentes. Ao Finalizando, mais queFinalizando, o desaparecimento de línguas in dígenas, a exposição Ameríndias – ontem, hoje, Línguas revela Latina, realizada pelo Memorial da América amanhã, colo narrativas, suas manter em dos quichés o esforço registros cando-as em diversos e Aponta para momentos. 126 E e vidaurbana culturas,línguas de fervilhante numcaldeirão pessoas, de milhões 25 por habitadaàépoca Mesoamérica, pela mente, anotíciadessesestranhosvisitantes seespalhou tral eodeltado rio Orinoco, naatualVenezuela. Provavel AméricaCen da atlântica percorreriacosta Antilhas,a as quaisas duranteregião, à viagens três mais faria 1503 Até aCastela. voltar de Dominicana)–antes aRepública e mar –CubaeHispaniola(ondeatualmenteestão o Haiti exploratórias pelas costas das duas grandes ilhas daquele Nos mesesseguintes, Colombofezalgumasexcursões a nossalíngua.” Suas Altezasquandoeupartir, para quepossamaprender de deles nosso Senhor, vou tomarseis Se fordoagradode cristãos, porque elesparecem nãoter nenhuma religião. serem podem muitofacilmente dizemos.Achoqueeles lhes e qualificados, pois eles repetem muito rapidamente o que Colombo emseudiário. “Devem servir comoajudantesbons anotou escravos”, como tomá-los para aqui vêm continente responderam gesticulando. “Acredito que aspessoasdo cicatrizes que elestinhamnocorpo. Osnativos também deviam as se a que sinais, perguntou e gestos de meio por comum. Colombo,noentanto, em não tinhamumalíngua porque Nãotrocarampalavras aruaques). caianos, tainose lu (ou Aruakes e Taínos Lucaians, pacíficos e amigáveis locais, os habitantes com os primeiros contatos os silêncio – almiranteCristóvãoColombotravouem da expedição Emplumada A voltadaSerpente Capítulo 19 ilha doarquipélagodasBahamas. Ocomandante caravelas Pinta e Niñaancoraram em umapequena m 12 deoutubro de1492 anauSantaMaría eas 2 . 1 - - - Fernando e Isabel eram os “Reis Católicos”, oficialmente Católicos”, “Reis os eram Isabel e Fernando impuseram seu deus cristão aos moradores originais. Afinal, nhas, tomaram possedosterritórios, erigiram povoações e invadiramasilhascaribe osespanhóis Nos anosseguintes, desenvolta e audaciosa”, segundo o cronistadaexpedição, e audaciosa”,segundo desenvolta para si,aíndiaMalintzin, mulher “bonita, uma delas lheu esco vinte jovensescravas.Cortés de um grupo eles entre e mudaram detática. Ofereceram presentes aosinvasores, armas eram relâmpagos, estrangeiros, cujas com aqueles chefes locaislogoperceberamque nãopodiammedirforças cia oterreno eseenfrentavam escaramuças esporádicas. Os No princípiooavançoespanholfoilento,poisnãoseconhe a começar. O maior choque entre civilizações da história estava prestes rio Grijalva. O homem aprendera a falar Maia fluentemente. do foz na estabelecido se e antes anos naufragado havia que castelhano Aguilar, um Jerónimo de resgatar foi Cortés de providência Aprimeira posteriormente. queimados seriam 11 naviosque em veio exército pequeno artilharia. Esse de várias peças homens, 16cavalose 508 de à frente México de 1519, o fidalgo HernánCortés desembarcasse noGolfo do fatídico 1492. Passam-se 27 anos atéque, em19 defevereiro do janeiro issoem Ibérica, Península mouroda rei o último Papa AlexandreVI por expulsarem pelo assim designados 2 FUENTES,Carlos. www.franciscan-archive.org/columbus/opera/excerpts.html. 1492. Publicado porTheFranciscan Archive de outubro 12 de em Cristóvão Colombo,anotado diário de do 1 Trecho Rocco, 2001,p.126.

O espelhoenterrado . RiodeJaneiro:Editora . Disponível em: http:// - - -

127 Reprodução: Acervo The Cleveland Museum of Art of Museum Cleveland The Acervo Reprodução: Escultura em pedra de Quetzalcóatl, a Serpente Emplumada,Escultura em pedra de Quetzalcóatl, do matutina Vênus, da estrela deus do vento, da aurora, das artes, dos mercadores, da aprendizagem, conhecimento, Podia aparecer na forma de do artesanato, dos sacerdotes. do próprio vento ou macaco-aranha, , corvo, cascavel, é claro, na forma humana também, E, de Vênus. 1325-1521 d.C. Período: cm. x 22 x 20,1 27,7 Dimensões: México central Origem: 128 da expansão de seu povo. Ele comandava um altépetl um comandava Ele povo. seu de expansão da o Tlatoani, “o dagrandevoz”,oreidosastecas, noauge Montezuma (tambémchamadoMoctezumaII)tornou-se 1502 Em México. do acidade é hoje –onde local sagrado aojornada épica na protegê-lo orientá-lo e iria guerra, Aztlan (daí“asteca”)paralá. Huitzilopochtli, odeusda ilha deumlago.Eraprecisoconduziropovo damítica rando umaserpentesobreumcacto, issonumadistante devo águia uma avistou profética: visão uma teve Tenoch Conta omito fundador da cultura mexica que osacerdote que construíramoImpérioAsteca. e se diversifica. Um dos ramos é justamente o dos Mexicas, contato comosdiversos idiomaseculturas mesoamericanas família uto-astecaque,porvoltaano 500 do d.C., entraem da é eles por Arizona. falada A língua atual o até chegava eram nahuas, povonômadedaAméricadoNortecujorastro México centralàdivisa com aatualGuatemala.Osastecas ia do território, que vastíssimo um de –, senhores Mexicas autodenominavam se –que alínguadosAstecas Nahuatl era assuntos lácomaajudadecentoetrintaintérpretes” nossos “Nósresolvemos linguisticamente): interessantes mundo commaior variedade deidiomaseéumadasmais Cáucaso (queaindahojerepresentaumadasregiõesdo romanas ao legiões das uma expedição assim Plínio relata piciaramcontato o entre inúmerospovos. O historiador conquistadoras como adosromanos que “expedições pro- Störig, por exemplo, nolivro Aaventura, daslínguas conta Joachim Hans alemão filólogo O antigo. expediente um é sua vez, vertia ao Nahuatl para quem preciso fosse. Esse traduzia paraoMaiaaMalinche;ela,por Aguilar, que de a Jerónimo espanhol falava em era básico:ele continente parainiciaraconquistadomunicação usadoporCortés do conquistador etraidora dosíndios”. Osistema deco de Malinche,“mulher e nahuatl.Osnativosaapelidaram lengua”, anunciouCortés,poisdominava os idiomasmaia Bernal Díaz deCastillo 1325. Tenochtitlan se aliou às cidades-estado de Texcoco de àscidades-estado aliou se Tenochtitlan 1325. titlan, suaexuberante capital, havia sidofundadaem novo. Tenoch relativamente administrativa) (região 3 . Além deamante, ela seria “mi 4 . - - -

Origem: Méxicocentral Dimensão: 7x3,5cm.Período:c.1200-1519d.C. borlas decadaladodorosto Pode seridentificadapelafaixanacabeçaepelas de água.ElaeracasadacomopoderosodeusTlaloc. Chalchiutlicue, deusaastecadoslagosedascorrentes Pequeno pendenteemjadeítaquerepresenta

Reprodução: Acervo The Cleveland Museum of Art 129 5 - - - - - . São Paulo: Compa- Tempo, espaço e passado na Mesoa A aventura das línguas ), os pactos e laços políticos e laços os pactos ), altépetl de (plural : o calendário, a cosmografia e a cosmogonia nos códices e textos altepeme altepeme escrita pictoglífica, as quais eram fundamentais na produção na fundamentais eram quais as pictoglífica, escrita coisas.” das futura e atual ordem a sobre justificativas de Montezuma era um homem apegado a essa tradição, voltado aos estudos dos livros sagrados e proféticos, à vida espiritual, Supersti piedoso. Era Não à era um religião. rei guerreiro. cioso. Acreditava piamente nos presságios funestos que o o céu; no vista fora de fogo gigante espiga uma contava: povo incêndio no Templo de Huitzilopochtli era mau agouro; um caiu em outro templo; uma chuva de fogo sem trovão raio a mulher que ferveu no lago central; a água em pleno dia; lon para ir que temos meus, “filhinhos noite pela gritando os ge!”; disformes, homens de duas que cabeças, apareciam era que anunciando sinais todos eram Não e desapareciam. chegado o momento, previsto nos códices, do regresso de Quetzalcóatl, a Serpente Quetzalcóatl Emplumada? era o do Vênus, matutina da estrela aurora, da deus do vento, conhecimento, da aprendizagem, dos mercadores, das artes, do artesanato, dos sacerdotes. Podia aparecer na forma de cascavel, corvo, arara, macaco-aranha, do próprio vento ou de Vênus. E também, é claro, na forma humana. 3 Ibidem, p. 111. 4 STÖRIG, Hans Joachim. nhia Melhoramentos, 1990, p. 37. 5 SANTOS, Eduardo Natalino. mérica nahuas. São Paulo: Alameda Casa Editorial, 2009. e Tlacopan para formar a Tríplice Aliança e comandar e comandar Aliança Tríplice a formar para e Tlacopan um grande território. Eduar explica o historiador esse mosaico”, completar “Para passado e espaço Tempo, de autor dos Santos, do Natalino , “se na Mesoamérica regiões falavam diversas línguas nas tributárias da Tríplice Aliança, entre as quais estavam o o Zapoteco, o Mazahua, o Matlatzinca, Nahuatl, o Otomie, heteroge relativa dessa Diante [...] Chocho. o e Mixteco o à autonomia e da tendência neidade linguística-cultural dos ancoravam-se, entre outros elementos, nas explicações sobre o passado e em outras explicações comparti- amplamente lhadas, tais como o sistema calendário, a cosmografia e a . 1200-1519 d.C..

Escultura em pedra de Tlaloc, o deus asteca da chuva, Escultura em pedra de Tlaloc, senhor do Tlalocan, trovões e relâmpagos, dos raios, dos mortos.um dos lugares para onde iam as almas da agricultura, por isso era patrono Provedor da água, Era casado mãos. segura um talo de milho em uma das com a deusa Chalchiutlicue c Período: cm. x 13,5 29 x 19,5 Dimensão: México central Origem: Reprodução: Acervo The Cleveland Museum of Art of Museum Cleveland The Acervo Reprodução: 130 nhol deMiguelLeón-Portilla.CitadoporLEÓN-PORTILLA,op.cit., p.18. para oespa Sahagún. TraduçãodoNahuatl Frei Bernardino de rado pelo 8 Librodeloscoloquiosdoce [sábios nahuas]. zes, 1991,p.17. Vo Zanatta. Editora Petrópolis: Ângelo Augusto incas. Tradução de maias e A conquista da América Latina vista pelos índios Miguel. por LEÓN-PORTILLA, Citado 33. fl. 1945. Copenhague, Mengin. Manuscrito E. 7 Anónimo de fac-símile de Tlatelolco(1528). Edição 6 FUENTES,op.cit.,p.110. pois nossosdeusesjáestãomortos!” deixem-nos perecer, “Deixem-nos, pois,morrer e asparedesestãomanchadasdemiolosarrebentados.” Vermes abundamporruasepraças, incandescentes estãoseusmuros. Destelhadas estãoascasas, os cabelosestãoespalhados. “Nos caminhosjazemdardosquebrados; fim deumaera: criou, noséculoXVI, umdosmaisbelospoemassobreo latino paraescreveremNahuatl.Énessalínguaquese como ausaroalfabeto bem espanhol, em e aescrever ler a mexica elite tarefa, ensinarammembrosda facilitar essa administrativa asteca, que funcionava muito bem. Para estruturaa manter em preocuparam se castelhanos Os meses oImpérioAstecacaiu. seis crença. Em iria questionaressa que Montezuma seria azuis, lourosealtos” de quatro patas; homensbrancos, barbados, algunsde olhos do homensvestidosdeouroeprata,montadosemanimais flutuantes haviam se aproximado vindas do Oriente, trazen que “casas de as primeirasnotícias isso, quandovieram Por

6 , o povo acreditou serem deuses. Não , opovoacreditouseremdeuses.Não

8

1524. Resumo prepa- –relatosastecas, 7 - - -

131 Reproduções: Acervo The Cleveland Museum of Art of Museum Cleveland The Acervo Reproduções:

como jogos, danças e sexo. como jogos, à dança, à festa, aos jogos e ao sexo à dança, à festa, aos 1325-1521 d.C. Origem: México central México d.C. Origem: 1325-1521 Teotihuacan, perto da Cidade do México Teotihuacan, Dimensões: 31,1 x 24,1 x 30,5 cm. Período: cm. x 30,5 x 24,1 31,1 Dimensões: 1350-1519 d.C. Origem: próximo ao sítio de1350-1519 d.C. Origem: Dimensões: 37,5 x 20,3 x 24,8 cm. Período: cm. x 24,8 37,5 x 20,3 Dimensões: (Cinco Flor), divindade associada à música, (Cinco Flor), divindade pois, o deus da beleza, das artes e dos prazeres,pois, o deus da beleza, As espigas de milho que leva nas costas também fertilidade em geral e sexualidade em particular. os astecas, flores significam beleza, refinamento, beleza, os astecas, flores significam crista com borlas, seja de um dos cinco deuses do crista com borlas, cinza com pigmento vermelho, devido ao cocar de cinza com pigmento Xochipilli, outra acepção de Macuilxochitl – ambosXochipilli, Especula-se que esta escultura em pedra vulcânica em pedra vulcânica que esta escultura Especula-se prazer dos astecas. Estes relacionavam o número 5 prazer dos astecas. das mãos a divindade segura um cone de flores. Para segura um cone de flores. das mãos a divindade simbolizam as energias criativas. Possivelmente seja, Possivelmente simbolizam as energias criativas. os nomes incluem a palavra asteca para flor. Em umaos nomes incluem a palavra asteca para flor. ao excesso. A figura sentada parece ser Macuilxochitl sentada parece ser Macuilxochitl ao excesso. A figura Estatueta feminina asteca, esculpida em jadeíta. Os em jadeíta. esculpida Estatueta feminina asteca, permitiram apoucos detalhes de sua vestimenta não clara identificação sobre quem representa México central Origem: 1325-1529 d.C. Período: 132 tituído de dois ciclos não excludentes – a“contadosdias” tituído dedoisciclosnão excludentes temporal cons- sistema usavam umcomplexo Os astecas do ciclo de 260 dias, cada Senhor da Noite teria regido 29 regido teria Noite Senhor da 260 dias,cada ciclo de do por onde o Sol passava quando não estava no céu. No final relacionava com oinframundo, subdividido em nove regiões, tecuhtin Havia também ociclodenoveSenhoresdaNoite(Yoalte- produto dasculturasmesoamericanas. milho, principal do colheita e plantação de completo ciclo mana (9meseslunaresde29diassomam261dias) edo nem lunar), mas seaproxima hu- do períododegestação conhecessem, o também os astecas solar, embora é (não a nenhumcicloastronômico x 20=260)nãocorresponde vigesimal. Ociclotonalpohualli era numérica abase Mesoamérica Na a13números. nados dias (tonalpohualli) coincidiam acadaperíodode52anos.Elescontavamos ( homens emulheres” os o sacrifíciodascriaturasdosdeuses, lhando mediante nascido dosacrifíciodosdeuseseque sócontinuarábri do grandedilúvio. Atualmente, vivemos sob oquinto Sol, terceiro, porumachuvaincessante;oquarto, águas pelas por ventos ferozes; o por umjaguar;osegundo, destruído mundo eas catástrofes que sofreram. Oprimeiro Solfoi que indicam as quatro tro direções criações anterioresdo qua- “dominado pelas que naPedradoSoloastro-reiestá explica universo. OescritormexicanoCarlosFuentes pelo o Solmostra alínguacomoseespalhasseseusraiossolares Sob oquintosol Capítulo 20 A tonalpohualli) tonalpohualli) mogônicas daTerra. No centrododisco,soberano, Cos CincoIdades CincoSóisoudas dos fala códice, Pedra do Sol, como outros registros em pedra ou ), usados para contar e qualificar as noites. Ele se Ele noites. as qualificar e contar para usados ), e a “conta dos anos”(xiuhpohualli dos a“conta e por meiode20signos(tonalli)combi 1 . completo de 260 dias (13 completo ), que - - - ações cerimoniaisnahuas” as e o passado sobre as explicações determinava parte, em e, influenciava emoldurava, que epistemológica base de funcionava comoumaespécie para contabilizarotempo, servir de além sistema, “esse Santos, Natalino Eduardo noites (menos oúltimo, Tlaloc 2 SANTOS, Eduardo Natalino. 2 SANTOS,Eduardo co, 2001,p.94. Carlos.O espelho 1 FUENTES, Janeiro: . Riode enterrado Editora Roc - instrumento depoder. era tempo o Controlar futuro. no e presente no influência calcular, prevereimporasua propício. Eraumaformade ou desfavorável destino um confirmar ou corrigir para O sacerdote tambémanunciava asoferendas necessárias recentes. comacontecimentos vínculos estabelecia que em que governamotempo.” ciclos e entes trazidas por noite, cada de e dia cada de tes o tonalamatl,livro, um mapadascargascomponen- e é Borbónico. “O no vê se que o É umaborboleta. e aves doze de tuídos do Dia(Tonaltetecuhtin Senhores Veneráveis treze os são que pordeidades, tutelada dividido em trezenas (período de13 dias). Cada trezena era sub calendário o (tonalamatl),quetrazia dias registrodos (tonalpouhque) abria Nos rituaisosacerdotecódicede 3 Ibidem,p.320. nahuas. SãoPaulo:AlamedaCasaEditorial,2009,p.129. mérica episódios e personagens cosmogônicos, aomesmotempo e personagens episódios : o calendário, a cosmografia e a cosmogonia nos códices e textos e códices nos cosmogonia a e cosmografia a calendário, o : tonalpohualli ) eosVoadores (Quecholli), consti Tempo, espaço e passado na Mesoa 3 O sacerdote se punha aevocar se Osacerdote 2 .

era mais que a conta dos dias dos a conta que mais era ). Segundo ohistoriador Códice Códice - - -

133 Reprodução: Freepik Reprodução: agrícola tinha 365 dias divididos em 18 meses de 20 diasagrícola tinha 365 dias divididos aos quais se adicionava um período extra de cincocada, dias de azar. Mede 358 cm de diâmetro por 98 cm de espessura e indicam que foi As pesquisas pesa quase 22 toneladas. Está no Museu Nacional deesculpida entre 1502 e 1521. na Cidade do México Antropologia, A famosa Pedra do Sol, também conhecida como Calendário Asteca, é um disco em basalto que tem esculpidos em sua superfície os dois ciclos do calendário Ao o ritual (ou religioso) e o agrícola (ou civil). asteca: O ciclo do deus Tonatiuh, o Deus Sol. centro está a figura dias divididos em 20 tinha 260 Tonalpohualli, ritual, símbolos divinos contendo 13 dias cada um. Já o ciclo 134 O liberal, aSantaAliançainterveio naEspanha.Foramos cias políticasde1823, quando, parareprimiromovimento sumiram em meioàsturbulên duas últimasfolhas.Estas XVIII oCódice eraaresidênciadoReideEspanha.Noséculo que à época Europa. Écertoquefoiparar Códice o como sabe Também nãose privilégios nonovosistemacolonial. mereciam alguns e dirigente à antiga elite que pertenciam der, respeitar epreservar a memória, bem como demonstrar sobre seumundoantigo. Eraumaformadesefazerenten redigir no próprio códice pictográfico algumas explicações da nobreza nahua já alfabetizados em espanhol resolveram havia mudado radicalmente,membros Como arealidade estava lendonoCódice,duranteacerimôniatradicional. oque complementar queria quando falava osacerdote que É provável que essas glosas substituíssem a mensagem oral romano. comoalfabeto escrita nahuatl, nalíngua servações ob- algumas foram acrescentadas lhe que posteriormente é O certo depois. ou logo da invasão dos castelhanos antes foi criado se ele ou nosseusarredores.Atéhojesediscute México) do cidade (atual Tenochtitlan XVI, em século do do da casca de alguns tipos de ficus, nasprimeiras décadas deriva ), produto (ouamatl amate papel em confeccionado e dobradascomoumbiombo, olivroancestralastecafoi 390 Unesco. Formadopor36folhasdex395mm, coladas pela Língua Indígena,decretado no AnoInternacionalda Borbónico O exuberante Capítulo 21 amanhã, realizada no Memorial da América Latina Latina América da noMemorial amanhã, realizada da exposiçãoLínguas Ameríndias–ontem,hojee fac-símile aindaapresentava asduasprimeiras eas do CódiceBorbónico no Monasterio de El Escorial, Monasterio deElEscorial, Borbónico foi um dos destaques destaques dos um foi chegou à chegou Códice - - - fibra de fibra da AssembleiaNacionalFrancesa. teca doPalácio Bourbon. Hoje encontra-se na Biblioteca biblio- histórico foiadquiridopela Em 1826 o documento interventores franceses que levaram oCódice comerciantes, tinham que secomunicar com falantes de e dominadores como astecas, os pois logográficos, mais efonéticos glifos menos empregavamaia, do contrário mixteco-nahuasistemaescritaque, aprendiao de aose cipais templos. Eram ascalmeca ao ladodosprin- educação de tinham centros Os astecas a “terradoslivros”. antiga Mesoamérica poderia ser chamada deAmoxtlalpan de papel amate exemplo, um registro oficial do recebimento de 8 mil folhas tributo. Há, produto àguisadepor esse podiam entregar que osreinosvassalos(eram30soboreiastecaMontezuma) Mesoamérica na intensa tão comércio dopapelamateera o e minerais. Aprodução e orgânicos crevia compigmentos o amoxtli Sobre pele demamífero (veado), usadoàmaneira depergaminho. nome pintado-escrito. ou escrita-pintura dizer quer e pictoglífico de sinônimo é A palavranahuatlacuilolli espanhóis. XVI pelos no século pintura”, comoeramchamados ou “livrosde nos códices da vida.Aconsciênciahistóricadosastecaserapreservada o escriba-pintor, estava presenteemtodasasdimensões Os mesoamericanos amavam suaescrita. Aarte dotlacuilo, amoxtli maguey , livro ou códice para uso em rituais enos livros. Bem que a se aplicava uma camada de gesso e se es se e gesso aplicava umacamadade se (umtipodeagave).eraa Outro suporte em Nahuatl significa papel, daí o daí papel, significa Nahuatl em Amatl

. Havia também o papel de Havia também opapel s eastelpuchcalli. Lá para a França. para a França. - ,

135

- - - Tlatoani 2 Tempo, espaço e passado na Mesoa Códice, onde se veem quatro sacerdotes segu : o calendário, a cosmografia e a cosmogonia nos códices e textos mérica nahuas. São Paulo: Alameda Casa Editorial, 2009, p.79. 2 Ibidem, nota 143 da p. 104. terísticas da cosmogonia mesoamericana era, justamente, era, terísticas da cosmogonia mesoamericana a centralidade das ideias de transformação e movimento, citada a com consonantes são quais as do Mundo, renovação e construções objetos, periódica de prática de renovação Natalino. livros”, explica o historiador Eduardo residências públicos e as os prédios os palácios, Os templos, O mundo extintas. eram chamas as fogo e todas o apagavam descartados. ser deviam velhos objetos os e escuras às ficava Até que era o fogo reacendido em uma cerimônia no templo de Huixachtepelt, pelos conduzido sacerdotes do fogo. É o que relata o acessos no fogo primordial. a serem feixes prestes rando Em seguida, emissários serão enviados para acenderem Mayor, pelo Templo começando tochas em todo o território, o próprio participa qual da cerimônia uma em templos, o rei), depois os demais que tem a voz, (aquele as escolas, os edifícios públicos e as residências – até os confins do império. 1 SANTOS, Eduardo Natalino. Sahagún (1499-1590). O Fogo Novo era comemorado a cada comemorado era Novo O Fogo (1499-1590). Sahagún quando se encerrava uma era e começava tudo de 52 anos, o universo os mesoamericanos, entendiam porque, novo sempre precisava recomeçar. “Uma das principais carac - - - 1 , o anônimo, Borbónico do Códice 34 na página exemplo, Por tlacuilo nahua conta que no ano “2 junco” houve a celebra ção do Fogo Novo. Entende-se que no calendário ocidental esta data corresponda ao ano 1507, quando foi celebrado o último Fogo Novo antes da chegada dos furiosos caste conforme relata o frade franciscano Bernardino delhanos, delidade; e dos sacerdotes do templo, de suas idolatrias e que e alcançavam sabiam, e ensinar de memória todos os o Tudo suas ciências e histórias. observavam que cantos qual mudou o tempo, com a queda dos reis e senhores e perseguições de seus descendentes e a calamidade de seus súditos e vassalos.” repartição das terras e a quem pertenciam. Outros, dos repartição das terras e a quem pertenciam. Outros, dos infi sua em usavam que e cerimônias ritos leis, das livros modos da e sua idólatra das doutrina festas dos seus falsos que e sábios filósofos os finalmente, E, calendários. e deuses ciência a toda pintar seu cargo a estavam eles, entre tinham que tratavam dos anais, colocando emque tratavam dos anais, colocando ordem as coisas que Outros tinham a e hora. mês dia, aconteciam em cada ano, seu cargo as genealogias e a descendência dos reis, senho- e nasciam os que registrando de linhagem, e pessoas res apagando os Uns que cuidavam da morriam. dos pintura da e lugares, povoações províncias, limites das cidades, Zapoteco e Tlapaneco, entre outros. Zapoteco e Tlapaneco, entre outros. nobreza de Texcoco, Um descendente cristianizado da Fernando de Alva Ixtlilxochitl (1578–1650), explica da seguinte forma a exuberância da linguagem escrita de seu povo: “Porque tinham para cada gênero seus escritores, uns Nahuatl, Otomie, Totonaco, Cuicateco, Chocho, Mixteco, 136 espanhola: históriasmexicas gua específica,oquepermitiacompartilhamentodeum notação eraa nãovinculaçãoaumalín- de sistema desse latino, sobretudopormeiodotrabalhomissionário. ocorreu atranscrição de línguasindígenasparaoalfabeto Muito do que conhecemos sobre o funcionamento da língua língua ofuncionamento da sobre conhecemos que do Muito colonial à nova por outrosmaisadequadosrealidade substituídos indígenas que oshaviam confeccionadoe, posteriormente, manuscritos foramdestruídosouescondidospelospróprios do cultoàsdeidadespré-hispânicas. Alémdisso, muitos seja, “idolatria”, ou de eles por era chamado que coisas, do caram eliminar osmanuscritos que tratavam, entre outras e missionários que, munidos deintérpretes bilíngues, bus tativas de evangelização empreendidas por conquistadores a conquistacastelhana,ocorreramasprimeirasten- Após diferentes idiomas. mesmo conjunto deglifosentre populações que falavam próprias lógicas e fonéticos, dandoorigem aregistros comorganização e glifos calendários, numéricos, toponímicos, antroponímicos com figurativas ou pictóricas representações combinava utilizavam o sistema pictoglífico pré-hispânico, cujo registro manuscritos Esses bem diferentes. tinham características associado essesobjetosaoslivros europeus, oscódices códices de genericamente Eduardo HenriqueGorobetsMartins O Nahuatl Capítulo 22 A série de manuscritos de diversos gêneros, chamados série demanuscritosdiversosgêneros,chamados uma produziram Puebla de e Mixteca da regiões povosdas Mexicase dachegadadosespanhóis, ntes 3 . Ao longo desse processo de mudanças, também de processo . Ao longodesse 2 . Além disso, um dos principais atributos um dos disso, . Além 1 . Embora os espanhóis tenham . Emboraosespanhóis * ea conquista - década de 1520, e no colégio de Santa Cruz de Tlatelolco, Santa Cruzde de 1520, de e nocolégio década na escola de San José de los Naturales, fundada no fim da franciscanos realizados pelos estudos nahuatl provémdos produzidos nos séculos XVI e XVII, que aproximavam XVII, os que e XVI séculos nos produzidos osvocabulários (dicionários) que destacar importante é depois deixoudeserutilizadapelosespanhóis). Alémdisso, letras dalínguaespanholanoNahuatl,comoo“ç” (que de utilização a notarmos de além grafias, diferentes com palavra umamesma encontrar possível nahuasé nos textos fossem preservadosaolongodosséculos. Éporissoque palavras e cada umadasletras maneira queossonsde de para realizaratranscrição fonéticos sistemas de munidos dessa línguanahuatlnão contou comoapoiodelinguistas escrita a Assim, XV. século do finais desde tandardização es- de processo ainda em estava que e no idiomaespanhol existiam que gráfico-fonológicos padrões em baseado foi O processodetranscriçãodalínguanahuatlparaoalfabeto antes dachegadadoseuropeus. mexica, que foi difundida amplamente na Mesoamérica guas, mas tinhamaomenosumintérprete falantedalíngua entre espanhóisepovosindígenasquefalavam outras lín- uma espéciedelínguafranca,utilizadanacomunicação tornou se também colonial, oNahuatl o período Durante espanhóis. funcionários e missionários como bem genas, indí- informantes e México do centro do cidades das elites de relações horizontais) demembros edescendentes das trabalho conjunto (porém não decorrente necessariamente como ashistóriaseoutrostipos,passaramaserresultadode fundado em1536. Alémdisso, aproduçãodemanuscritos, ** 137 - - Manus Historia de la . Las formas del formas Las , 4 (4), São Paulo: USP, São Paulo: 4 (4), , XXI Coloquio Internacional de Proyecto Amoxcalli – CIESAS/ In , n. 30, Rio de Janeiro: UFF, 2019. no interior da nahuatl palavra foi man- h – os antigos livros do Novo Mun- do Novo Códices – os antigos livros . . Historia de la Conquista. después nahuas Los Manuscrito 40, cujas referências foram menciona- Literatura e Sociedade Literatura : o calendário, a cosmografia e a cosmogonia nos códices nos cosmogonia a e cosmografia a calendário, o : São Paulo: Alameda Casa Editorial, 2009. Revista Cantareira . como um som aspirado. Além disso, utilizar o gentílico como um som aspirado. apor- nauas poderia gerar ambiguidade com o gentílico da etnia naua – Historia mexicana desdehasta 1594. Estudo 1221 e comentá-

(Trad. Carla de(Trad. Jesus Carbone). Florianópolis: Editora da Universidade * Utilizo alguns dos critérios definidos por outros pesquisadores- brasilei ros, como Eduardo Natalino dos Santos: 1) o acento gráfico foi suprimido frequente de nahuatl, pois deriva da oxitonização na palavras, da palavra normatização da língua espanhola, e também porque a maioria das palavras em nahuatl, transcritas no século XVI, não possuía tal sinal gráfico e eram geralmente 2) a letra paroxítonas; ** Mestre em História Social pela Universidade de São Paulo e pesquisa dor-associado do Centro de Estudos Mesoamericanos e Andinos da Univer- sidade Coordena o Grupo de Estudos de São Paulo. de Nahuatl do CEMA/ USP desde 2015. Miguel LEÓN-PORTILLA, 1 do. Ana. ÁLVAREZ, DÍAZ 2012. Federal de Santa Catarina, tida, pois, embora não seja tida, pois, embora não pronunciada em português, foi grafada no século dessadessa língua pronun- XVI muitas variantes maneira e, atualmente, ciam a letra h tuguesado nawa), grupo (também nomeada como indígena proveniente do estado do Eduardo Acre, Brasil. SANTOS, e passado espaço Natalino dos. Tempo, Mesoamérica na e textos nahuas tiempo. Tradiciones cosmográficas en los documentos calendá- . Tese. (Doutorado del México Central em História). ricos indígenas 2011. México: Facultad de Filosofía y Letras – UNAM, 2 - Gordon. Traduzindo a lingua SANTOS, pp. 84-105. BROTHERSTON, da escrita. gem visível 1999. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/ls/article/view/18018. Federico. Los libros quemados y los nuevos li- LINARES, 3 NAVARRETE bros. Paradojas de la autenticidad DALLAL, en la tradición mesoamericana. del arte – Alberto abolición (ed.). La Historia del Arte. México: Instituto de Investigaciones Estéticas – UNAM, 1998, p. 53-71. James. 4 LOCKHART, social y cultural de los indios del México Central, del siglo XVI al XVIII. México: 1992). inglês, em ed. 1ª Mazzoni; Reyes Ramón Roberto (Tradução Fondo de Cultura Económica, 1999. 5 Os exemplos citados podem em histórias como o Códice ser encontrados Codex Aubin Charles E. DIBBLE, Aubin e Manuscrito 40. nación mexicana. Reproducción a todo color del Códice de Colección 1576. 1963. Madrid: EdicionesTuranzas, 16. José Porrúa Chimalistac, v. crito 40 CONACyT. Projeto de microfilmagem, paleografia, tradução e estudo dos manuscritos do Fundo de Manuscritos Mexicanos da Biblioteca Nacional da França (2000–2010). Disponível em: amoxcalli.org.mx. de elementos A incorporação Eduardo Henrique Gorobets. da 6 MARTINS, cultura escrita castelhana nas histórias dos códices mexicas dos séculos XVI e início do XVI. das anteriormente. rios por Elia Rocío Hernández Andón. 7 Os exemplos citados podem ser encontrados, por exemplo, em histórias como e o Códice Aubin - - no totecuyo, . 7 , , miercoles (nosso), pelo pelo to- (nosso), . Essa expressão é Essa . expressão é China 5 . Segundo esse autor,. e 4 , Florida , oidor . Assim, os textos nahuas passam a ter Assim, . 6 abreviado, que tem como significado algo tecuhtli (senhor) e pelo sufixo de substantivo –yotl elementos castelhanos nos textos nahuas, criando uma elementos castelhanos nos textos nahuas, criando uma espécie de amálgama entre as duas tradições, segundo ao observar Podemos compreender essa etapa Lockhart. nas histórias castelhanas a utilização de diversas palavras seu por exemplo, tiveram, indígenas que produzidas por até Assim, nahuatl. gramática a segundo formado plural escrita castelhana como castelhanas, de série uma palavras viembre, emperador Por fim, a terceira etapa, datada entre 1640–1650 e até de pelo aumento é caracterizada o início do século XIX, limitações. Nas histórias produzidas por nahuas durante por nahuas durante produzidas Nas histórias limitações. de a introdução uma série esse é período observar possível de palavras castelhanas relacionadas ao calendário e aos às localidades ritos cristãos, à administração colonial, do de exemplo, além da incorporação por mundo hispânico, notas introdutórias e da utilizaçãode gêneros da cultura utilizada para se referir a Deus ou antecedendo se referir a Deus ou antecedendo utilizada para a palavra abstrato como “nossa senhoridade”. 1540– de décadas das foi período cujo etapa, segunda na Já os 1550 até elementos 1640–1650, castelhanos chegam a vida nahua, mas com penetrar em todos os aspectos da de termos em Nahuatl que procuravam descrever novidadesde termos em Nahuatl que procuravam de exemplo origem hispânica. Um é a expressão Dios em textos espanhol nos nahuas composta por um prefixo pronominal substantivo nhola, também foram permeados por algumas limitações, Lockhart James por etapas propostas etapa, ocorrida entre 1519 e as décadas durante a primeira de 1540–1550, os textos nahuas faziam poucas inclusões de palavras castelhanas,uma série utilizando, ao invés disso, significados daspalavras entreas línguas Nahuatl e espa em cada distintas das palavras como as origens conceituais ameríndio e europeu. um dos mundos, Para entendermosessa as transformações que língua pas- sou ao longo do período colonial, pode-se recorrer às três 138 (juiz), queaparececomopluraljueztin, utilizando o sufixo pode-se encontraralgunsexemploscomoapalavrajuez antes, décadas algumas narrativas produzidas em mesmo passado de amplo domínio dos Mexicas nas esferas política, passado deamplodomíniodosMexicasnasesferaspolítica, o glorificou independente México O línguas. outras vam fala- que indígenas grupos e espanhóis entre nos contatos de línguafranca, como ocorreuduranteoperíodo colonial mexicana, o papel o Nahuatlperdeu Com aindependência ocorre namaioriadaspalavrasemespanhol. roxítonas ouproparoxítonas esetornaram oxítonas, como pa ser de muitasdeixaram mexicana: da línguaespanhola sobretudo dentro popularizaram se que palavras nahuas de longo dessesséculos foi a mudança na tônica das sílabas que ocorreuao espanhóis.Outroprocesso pelos diferente loniais nãodavacontaoufoiinterpretadocomoumfonema especificar alguns sons de que a grafia das transcrições co- letras detalmaneira 30 que houveaintroduçãodas no México) são algumasvariantes regionais(atualmente, desenvolveu e transformações por passando continuou nahuatl língua Após operíodocolonial, duranteosséculosXIX eXX, a , originandoapalavracristianome da línguaNahuatl-me substantivo de plural de sufixo o com grafada é que tão), de pluralsubstantivo-tin, ou apalavra k ew , que foram incluídasnoalfabetonahuapara cristiano (cris- 8 - . estava marginalizada socialmente. Ainda assim, o Nahuatl estava marginalizadasocialmente.Aindaassim,oNahuatl idioma nacionalalínguaindígenaque,àindependência,já econômica e cultural, mas isso não significou adotar como língua indígenamaisfaladanoMéxico. viva a como segue sobreviveu e ela cinco séculos, últimos dos ao longo sofreu a língua nahuatl que transformações colonial. Eemsegundolugar porque, apesar detodasas regime do com aimplantação na reorganizaçãopolítica e na evangelização implicadas sociais e culturais mudanças pelas quanto comepidemias, indígena apopulação assolou nhóis no atual México, tanto pela catástrofe demográfica que que foi ameaçada constantemente após a chegada dosespa ameríndia língua uma é porque Primeiramente motivos. des instituído pela Unesco em 2019, por pelomenos doisgran Indígenas, Línguas das noAnoInternacional celebrada ser Dessa maneira, de línguaa a línguanahuatléumexemplo mil pessoasnaAméricaCentraleEstadosUnidos. 200 outras de além no México, somente pessoas de meio um milhãoe por maisde falada atualmente é e povoados pequenos de ou ruralizadas mais nasregiões sobreviveu Manuscrito 40 8 Tambémessesexemplospodemserencontradosno . Códice Aubineno - - 139 - - - - - no interior da h nawa), grupo indígena como um som aspirado. Além disso, nauas poderia gerar ambiguidade com **

* soamericanos e Andinos da Universidade de São Paulo. Coordenou o Grupo Coordenou o Grupo São Paulo. soamericanos e Andinos da Universidade de 2012 e 2018. de Estudos de Nahuatl do CEMA/USP entre ** Pesquisador-associado do Centro de Estudos - Mesoamericanos e Andi nos da Universidade de São Paulo. Coordena o Grupo de Estudos de Nahuatl do CEMA/USP desde 2015. 1 Neste texto, versões a aportuguesadas grafia como das definidas palavras pelo Vocabulário nahuatlLíngua Ortográfico Portuguesa. da e Utilizamos alguns nahua dos não critérios seguem as definidospesquisadores brasileiros, como Eduardo Natalino dos Santos: 1) o acento por outros gráfico foi suprimido da palavra nahuatl, pois deriva da oxitonização de pa- da língua espanhola, e também porque frequente na normatização lavras, a maioria das palavras em no século nahuatl, transcritas XVI, não possuía tal sinal gráfico e eram geralmente paroxítonas; 2) a letra seja pronunciada em portu- pois, embora não nahuatl foi mantida, palavra guês, foi grafada no século XVI dessa maneira e, atualmente, muitas varian tes a letra h dessa língua pronunciam utilizar o gentílico aportuguesado o gentílico da etnia naua (também nomeada como proveniente do estado do Acre, Brasil. * Mestre em História Social pela coordena o Centro de USP, Estudos Me (prefixos e sufixos). Além disso, é uma língua polissinté de classes gramaticais ou mais palavras duas isto é, tica, com dis palavras novas e formar podem se unir diferentes principais características suas de Outra significados. tintos relaciona-se à estilística dessa língua. O Nahuatl utiliza-se amplamente e sinônimos. O uso de repetição de metáforas de palavras, ou redundâncias também é muito presente em tanto na prosa, rítmicos, efeitos produzindo sua estilística, quanto na poesia. Uma das características da língua nahuatl é que sua es é que nahuatl da língua Uma das características são trutura é altamente ou seja, suas palavras aglutinante, afixos a unidas raízes mais ou uma de meio por compostas - - - - - é 1

Nahuatl (também grafado Náuatle em português) a língua indígena mais falada atualmente no México. Também é uma das línguas nacionais desse país, ou Eduardo Henrique Gorobets Martins Henrique Gorobets Eduardo sete delas são classificadas com risco muito alto de desa parição, enquanto outras quinze variantes não apresen tam riscos imediatos, de acordo com um levantamento Indígenas realizado pelo Instituto Nacional de Lenguas (Inali), em 2009. de povos nahuas. Pertencente ao tronco linguístico uto-asteca (ou uto -nahua), o Nahuatl tem parentesco com uma série de línguas do noroeste mexicano e do sudoeste norte-a mericano. Possui cerca de 30 variantes, dentre as quais (que abrange os estados de Veracruz, Puebla, Hidalgo, (que abrange os estados de Puebla, Veracruz, Hidalgo, San Luis Potosí, Querétaro e Tamaulipas), e o estado de Guerrero. Embora o número maior de falantes de Nahuatl esteja no México, essa nos EUA e língua também é falada em países da AméricaCentral que receberam migrações (Inegi), em 2010, 23% dos falantes de línguas 23% indígenas no em 2010, (Inegi), país eram falantes de Nahuatl – em números absolutos isso corresponde a 1,2% da população do México, cerca de 1,5 falantes distribuídosmilhão de pessoas. Apesar de possuir em pequenos núcleos em praticamente em todos os estados as localidades número de falantes mexicanos, maior com de Nahuatl são o estado de México, a região da Huasteca seja, possui o mesmo reconhecimento pelo estado mexica no que o espanhol. Segundo o último censo realizado pelo do y México de Geografía Estadística Nacional Instituto Ana Cristina de Vasconcelos Lima de Vasconcelos Ana Cristina Capítulo 23 Capítulo hoje nahuatl A língua O 140 tomate eoabacate. o chocolate, o são palavras aportuguesadas cujas México, do provenientes comidas de exemplos citados ser podem palavras nahuasque maissepopularizaram nomundo, nos nomesdepessoas, localidadesecomidas. Dentre as arqueológicos, sítios informativas de músicas, nasplacas suas em daculturamexicana, parte faz mastambém tes, falan seus de através apenas não viva segue língua Essa o Nahuatlcomolínguanativa. mos comoMéxico,inclusiveentrepovosquenãotinham conhece hoje dopaísque porboaparte econômicos e domínios políticos, militares seus os Mexicasestenderam Astecas, como conhecidos Também Mexicas. os pecífico, proeminência políticaganhaporumgruponahuaemes- mas em diversas regiões da Mesoamérica, devido à grande de línguafranca, no CentrodoMéxico, não somente pécie durante operíodocolonial, oNahuatltornou-seumaes- dos espanhóise,posteriormente, Pouco antesdachegada produção dehistóriasorigem. a e espaciais concepções escrita,aformulaçãode rio ede calendá- de sistemas de traços culturais,comoautilização comum, oNahuatl, tambémcompartilhavam umasériede unificados, os Nahuas, além de compartilharem uma língua politicamente não serem de Apesar México. do Centro do em português)queocupavammajoritariamentearegião vos desseperíodo estãoosNahuas(tambémgrafado Nauas utilizada naregiãodaMesoamérica.Dentreosdiversospo No períodopré-hispânico alínguanahuatlera amplamente grande cidadedeUxmal, Yucatán, México recreação. Nafoto, o aneldaquadra doJogo deBolada equilíbrio douniverso. Emoutrosmomentos, eraapenas os pés. Faziapartedeumritualpara restabelecer ofrágil e através deumanel, fixado noalto,semusarasmãos quadra comumaboladelátex. Oobjetivo eralançá-la olmecas ezapotecas, entreoutros, jogavamemuma recriava simbolicamenteomundo. Astecas, maias, Matriz dasculturasmesoamericanas, oJogodeBola - - -

141 Reprodução: Pixabay Reprodução: 142

Foto: Renato Soares 143

O Ano Internacional das Línguas Indígenas O Ano Internacional das Línguas Indígenas Capítulo 24 e a diversidade linguística brasileira Angel Corbera Mori 144 144 M Angel CorberaMori brasileira diversidade linguística Línguas Indígenasea O AnoInternacionaldas Capítulo 24 o usodesuaslínguasmaternas aespaçosmaisrestritos, originários —, vemos comoessespovos vêm relegando dos territóriostradicionaispovosrando adestruição o desenvolvimentoeconômicocapitalistaextrativo —ge- Dentro docontextoatualdeglobalização, que privilegia continente americano. do habitam parte originários que povos numerosos pelos tuação naqual seinseremaslínguasameríndias faladas si- perigo, em consideradas línguas revitalização das de e meçaram a desenvolvervários projetos de documentação que diversas organizações nacionais einternacionaisco constatação dessa partir a Foi situação. essa mudar para preventivas medidas nãotomassem linguístico-cultural que apresentavamdiversidade vernos dosdiversospaíses go- os caso XXI no século subiria para90% número esse ameaçadas deextinção. Adicionalmente, conforme Krauss, total delínguasfaladasnomundointeiroseencontravam que 50%do internacional acercadofatode linguística de crise”). Nessetexto, oautor chama a atenção dacomunida Cada línguarepresentaumavisãodiferentedomundo languages in crisis” (“Aslínguas domundo em “Theworlds’s intitulado oartigo publicou Alaska, ichael Krauss (1992), linguistadaUniversidade de * (Unesco, 2019) ** - - juntamente com ela morre sua identidade, a autoidentifi p. 144). Nestaperspectiva, aodesaparecer umalíngua, parte dacultura humana seperde para sempre” (1997, organizam suas vidas. Quando umalínguamorre, uma como rodeia, os que mundo o classificam como creem, visão domundodeseusfalantes—comopensam,em que a condensa língua “cada Dixon, linguista o com acordo das tradiçõesdeumasociedadeecadaindivíduo. De mento crucialdaidentidade, dahistória, doscostumese socialização edesenvolvimento, mastambémcomoele- não simplesmentecomomeio decomunicação, educação, desempenham papelfundamentalnavida daspessoas, inerente aumadeterminadasociedade. Logo, aslínguas assim,representalínguacada dosaber culturalespelho o e cultural éparte dopatrimônio imaterial dahumanidade; Como resposta, podemosdizer que adiversidade linguística deixa deserfaladaouexistir? consequênciasas são quando umadeterminada língua final a extinção dessas línguas. Cabe então perguntar: quais em detrimento das línguas originárias tem como resultado nhola, respectivamente. Osurgimento domonolinguismo e oespanhol, nocasodoBrasilenospaísesdefalaespa- português o nacionais, estados pelos oficial considerado mo. Essemonolinguismosedirecionaaousodoidioma incrementando, cada vez mais, ocaminho domonolinguis- - 145 - - -

(2019), o número Liames – Línguas Indígenas 15 39 201 8 80 21 19 105 1 37 Argentina Bolívia Brasil Chile Colômbia Equador Paraguai Peru Uruguai Venezuela Contexto linguístico das nações sul-americanas Contexto linguístico por apresenta caracterizam-se Os países sul-americanos pelos diversos povos atualmente minorizados foram, até minorizados foram, até pelos diversos povos atualmente totalmente uns anos atrás, ignoradas ou tratadas simples mente como dialetos ou gírias. Há dados muito variados em relação ao número real de línguas indígenas atualmente como tomando Contudo, países sul-americanos. nos faladas base os dados registrados pelo Etnologue do dessa parte países por indígenas de línguas aproximado continente são: * Meus sinceros agradecimentos ao colega Ricardo Campos de Castro (Unicamp e FAPESP) por seus valiosos comentários e correções. Americanas, publicação do Instituto de Estudos da Linguagem, da Uni camp, onde leciona. rem uma enorme diversidade linguística e cultural. Esta Esta linguística e cultural. diversidade rem uma enorme vezes, é negligenciada realidade, muitas pelos países que se autodefinem como Estados-Nações monolíngues, pelo suas de oficiais línguas como reconhecerem apenas de fato nos e o espanhol/castelhano Brasil no ações o português As línguas originárias faladas países de fala espanhola. ** Linguista peruano, editor do periódico - -

nacional; dos povos indígenas, sociedade civil, instituições acadê- dos povos indígenas, sociedade civil, micas, setores públicos e privados, entre outros. Segundo a Unesco (2019), o Ano Internacional das Línguas Indí- em cinco (5) áreas genas promoveu as línguas indígenas a saber: principais, e cooperação inter 1 - maior compreensão, reconciliação 2 - criação de condições favoráveis ao compartilhamento de conhecimentos e disseminação de boas práticas em relação às línguas indígenas; nacional e internacional no que se refere à necessidade se refere à necessidade nacional e internacional no que as línguas e promover revitalizar de se preservar, urgente No lugares do mundo. indígenas ainda faladas em vários site oficial do IYIL 2019 encontram-se as informações tomadas pelas agências e medidas eventos acerca das ações, organizações locais, pelos governos das Nações Unidas, 3 - integração de línguas indígenas no contexto de uma configuração padrão (tronco, família etc.); 4 - empoderamento dos povos indígenas por meio da capacitação; 5 - crescimento e desenvolvimento através da elaboração de novos conhecimentos. Ciente dessa problemática, a Organização das Nações Ciente dessa problemática, a Organização das Nações a Ciência e a Cultura (Unesco), Unidas para a Educação, estabeleceu o ano de dentro de suas diversas atividades, (In Indígenas das Línguas como Ano Internacional 2019 2019). – IYIL ternational Year of Indigenous Languages a sociedade Esta iniciativa teve o intuito de sensibilizar cação das pessoas imersas em determinado grupo social. social. imersas em determinado grupo cação das pessoas de comunicação próprias as formas perdem-se Em suma, de apesar Infelizmente, de uma sociedade. como membros seu valor, muitas línguas ameríndias imenso encontram-se extinção. em sério perigo de 146 cito osTorá (Txapakura, AM), osUmutina(, MT), falantes apenasdalínguaportuguesa.Comoexemplo, atualidadena materna,sendo língua sua perderama cioculturais, porém, por diversos fatores sócio-históricos so mantendo seus padrões continuam que originários cionalmente, háqueseconsideraraexistênciade povos ambas faladasnaregiãonortedoestadoAmapá. Adi do Amapá),(Karipuna Karipuna doNorte o Uaçá) e de falam línguas crioulas: alíngua GalibíMarworno (Galibí e Tikúna(AM).Háaindaduassociedadesindígenas que (MT), Kanoê (RO), Trumai(MT), Kwazá ouKoazá(RO) situação: Aikanã (RO),Irantxe/Mynky nessa consideradas linguístico. Tradicionalmente, seislínguasindígenassão famíliaoutronco numadeterminada jáinseridas línguas padrões fonológicos,gramaticaiselexicaisdiferiremdas seus de virtude em tais como consideradas “isoladas”, gues 1993, 2013). Também devemos considerar aslínguas linguísticos –otronco Tupi eotronco Macro-Jê (Rodri- de parentesco, em43famíliaslinguísticasedoistroncos linguistas agrupam-nas, considerandoasuasrelações mero exatodelínguasindígenas atualmente vivas, os faladas. Emboranãoexistaumconsensoacercadonú- originárias aindae 274línguas etnias 305 constituindo milpessoas,indígena édeaproximadamente896.917 Segundo dadosdoCensoIBGE (2010), apopulação esparsas portodooterritóriobrasileiro. europeia; habitantesinvasãohistóricos,antesda desde existentes outras, aquelas culturasdospovosoriginários, coexistem pluricultural línguas autóctonesfaladaspelosdiversos povos originários; as conflitante, diglóssica situação uma de dentro xistem, o português(Art.13 oficial, língua à junto porque Multilíngue multiétnica. e siderado,por isso,uma naçãomultilíngue, pluricultural senta a maior diversidade linguística ecultural, sendo con apre que aquele é oBrasil sul-americanos, países diversos Nesse conglomeradodelínguasindígenaspresentesnos O Brasileaslínguasindígenas a na medida em que há diversas etnias etnias hádiversas que em a namedida multiétnic , tendo em vistaquejuntoàculturaocidental , tendo o ConstituiçãoBrasileira, 1988), coe - - - - - etnias, somente274 línguascontinuamsendofaladas, e 305 de 2010.Assim, de Censo do dados os comparando ver extinção daslínguascontinuaemcurso, como sepode ameaça de povos indígenas”(1993,de p. 99).Oprocesso corresponde, quase diretamente, àredução dospróprios 85% oumais,nadiversidadeindígenadoBrasil,aqual de extinção, por drástica, redução uma [...] “houve autor, o afirma Como línguas. 1.175 aproximadamente de era mética realizada peloprofessor Aryon Rodrigues onúmero de línguasindígenaseramaior, média arit- pois segundo Calcula-se que, noiníciodoperíodo colonial, aquantidade Juruna, sudestedoPará),entreoutros. (troncoTupi,famíliaos Kamba(Isolada,MT),Xipaya sentados noquadroaseguir. para outra. Os níveis considerados pelaUnescosãoapre- transmitida deumageração se umalínguacontinuaaser aspecto importante nessas categorias consiste em verificar O desaparecimento ounãomaisfaladasporseuprópriopovo. mais),passandoporlínguaspróximasdo língua nãoexistem línguas commaior vitalidade àsjáextintas(quando povo e risco –das há diversosníveisde ameaça. Para a Unesco de línguas indígenasfaladasnoBrasil enfrentam omesmotipo as Unidos. Contudo,nemtodas atrás apenasdosEstados ficando crítica, situação em línguas mais com país gundo faladas enfrentamoperigodeextinção.OBrasilése 2017), todasaslínguas indígenas brasileiras atualmente Segundo o Atlas das Línguas doMundo em Perigo (Unesco, çada” ou“línguaemperigo”deextinção. amea- “língua de numa situação encontram-se elas todas cia para orientar projetos derevitalização linguística. Um

Foto: Renato Soares Atlas considera seis categorias como ponto de referên- de ponto como categorias seis considera - 147 inclui línguas desaparecidas desde os anos Atlas inclui línguas desaparecidas desde partir de um diálogo comunidade, com a própria de forma Os falantes devem estar autoconscientes colaborativa. no que se refere ao nível de vitalidade de sua língua, para que Essa tabela estabelecida pela Unesco é importante para Essa tabela estabelecida pela Unesco é importante para desenvolver qualquer projeto de revitalização linguística e de uma proposta revitalização que Ela nos mostra cultural. que língua cada de específicas situações a adequar se deve não se pode impor que Fica evidente se pretende revitalizar. um modelo os a todos os casos. É importante também que indígenas estejam cientes de sua própria participação na deve A revitalização e culturas. de suas línguas revitalização Transmissão intergeracional das línguas Transmissão intergeracional uma sua transmissão continua viva de as gerações falam a língua e Nessa categoria todas é contínua geração a outra e fica restrito a determinados falam a língua, porém seu uso A maioria das crianças familiar ou entre amigos. por exemplo, no uso da comunicação âmbitos de comunicação, tais como Apinayé, Assurini 93 línguas indígenas brasileiras, Nessa condição estariam Kisêdje, Kuikuro, , , Kaxinawá, , , do Xingu, Aweti, Munduruku, Tapirapé, . porém as crianças já não adquirem ou mesmo não a Os pais e avós ainda falam a língua, aprendem como língua 17 materna. línguas indígenas encontram-se nessa situação, entre Tikúna, Tupari, Wapixana. elas Aikaná, Apurinã, Kadiwéu, Paresí, mais adultas falam a língua. Os membros das Somente os avós e pessoas de gerações língua, mas não a usam para se comunicar entre gerações mais jovens entendem a indígenas são consideradas nessa categoria: Aruá, si, nem com seus filhos. 19 línguas Tapayúna e Sakirabiá, , Katukina do Rikbaktsá, , Acre, Kulina, Paumarí, entre outras. são os avós e as gerações dos mais velhos. Contudo, Nessa categoria, os únicos falantes bastante parcial e esporádico. Aproximadamente, 45 o uso da língua na comunicação é condição, tais como: , Apiaká, Arikapú, Avá- línguas estariam passando por essa Ofayé, Tariana, Trumai, Xokléng, Yawalapiti. canoeiro, Guató, Kanoê, Kaxarari, O Nesse nível já não existem falantes. de 1950. Assim, as línguas indígenas brasileiras que deixaram de ser faladas são: Makú, de 1950. Assim, as línguas indígenas Xetá, e Torá, entre outras. Mura, Nukini, Puroborá, Xipaya, Entardecer na aldeia yawalapíti durante o quarup: logo asEntardecer na aldeia yawalapíti durante o quarup: fogueiras serão acesas para a noite de chorar os mortos e terminar o luto Tabela 1: Níveis de vitalidade das línguas 1: Níveis de vitalidade Tabela Níveis de vitalidade A salvo Vulnerável Em perigo Seriamente em perigo Em situação crítica Extinta 148 abordam estudosrelativosàslínguasindígenas. que originais artigos de àpublicação dedicada mericana a Americanas. Próximaacumprir 20anosdesuacriação, –Línguas Indígenas darevistaLiames número o primeiro impressa, versão em 2001,foipublicado, Brasil. Assim,em estudos das línguas ameríndias, sobretudo as faladas no especializada. Tal publicação sededicaria à divulgação dos uma revista criação de de IEL/Unicamp oprojeto do tica Linguís de Departamento ao apresentou indígenas, línguas da áreade quisadora, em coordenaçãocomosprofessores no ano2000, concretizada quando aprópriapes foi ideia revista “dedicadaàs línguas indígenas brasileiras”. Esta criaruma se de anecessidade (1999)levantou Lucy Seki doIEL/Unicamp professora e na noBrasil,apesquisadora Em umestudosobreasituaçãodaárea delinguísticaindíge cífica delínguasindígenas. uma áreaespe pós-graduação, mantém, noprogramade Unicamp da Linguagem da Estudos de Instituto o apenas Noconjuntodoscentrosacadêmicosmencionados, Belém. área delinguísticadoMuseuParaenseEmílioGoeldi, de Araraquara); (Campus Paulista a e Paulo; aUniversidade a UniversidadeFederaldeRoraima; aUniversidadedeSão sidade FederaldoPará, aUniversidade FederaldoAmapá; Brasília; aUniver- de Nacional; aUniversidade Museu do Linguística de setor o com conjunto Janeiro, em de Rio do deCampinas; versidade Estadual a UniversidadeFederal Entre elas, oInstituto deEstudosda Linguagem da Uni seus programas depós-graduação (mestrado edoutorado). com línguas indígenas ofazem principalmente por meio de guas indígenas. Aquelas que mantêmumalinhadepesquisa Nem todas as universidades doBrasil têm como focoas lín das línguasindígenas As universidadesbrasileiraseosestudos jeto derevitalizaçãotemsentido. sem ointeresseeaparticipaçãodosfalantes,nenhumpro entendam as opções e os desafios para mantê-la. Em suma, Liames temseconvertidonaprimeirarevistalatino-a

------municípios de Pimenteiras, Costa Marques e Vilhena (RO), (RO), Vilhena e Marques Costa Pimenteiras, de municípios tantes doagronegócio.Assim, passaram a eles morar nos território tradicional por grileiros, fazendeiros erepresen os Warazúkwe foram, aos poucos, sendo despojados deseu das regiões localizadas entre osrios Riozinho eSanta Cruz, originários Habitantes bolivianos. índios como referidos são vezes, muitas e, brasileiro Estado do oficiais políticas sua identidadeétnico-cultural, vivem negligenciadospelas ou Guarasugwe. OsWarazúkwe, apesardeaindamanterem Warazúkwe, conhecidos também como Guaraiutá, Pauserna faladapelos é umalínguaemavançadoestágiodeextinção, linguística” descrição primeira (tupi-guarani): ço de2016. mar em: 20de ras_RODRIGUES,Aryon_Dall%C2%B4Igna.pdf. Acessado http://www.letras.ufmg.br/lali/PDF/L%C3%ADnguas_indigenas_brasili- Brasília, Línguas Indígenas, 2013. DF: Laboratório de em: 29p. Disponível (2013). Dall’Igna Aryon RODRIGUES, view/8647468. Acessoem30desetembro2020. vel em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/liames/article/ Indígenas Americanas linguística. primeira descrição (tupi-guarani): ré 1 RAMIREZ, H.; VEGINI, V.; Guapo- FRANÇA, M.C.V.Owarázudo de. línguas indígenas,desapareçaparasempre. pelas humanas, representada dasculturas essencial parte cional dasLínguasIndígenas.Oobjetivoéevitarqueuma - doAnoInterna aimportância portanto, evidente, Resta língua originária. primeiro etalvezoúltimoregistrodessa o considerado é artigo disso, o Além tupi-guarani. língua ativosdessa falantes últimos osdois Possivelmente, reno). Mo- Ernestina e Leite Hiwa (JoséFrei e ao casalKänätsü Ramirez (UniversidadeFederaldeRondônia–UNIR),junto tensivo trabalhodecamporealizado pelopesquisador Henri um in - de o resultado artigo divulgadonarevistaLiames é Vista, naBolívia.O Bela em também como no Brasil,bem ção no volume 17 (2017) do artigo “O warázu do Guaporé warázu do “O artigo (2017) do ção novolume17 por exemplo,apublica destaca-se, estudos, esses Dentre , v. 17, n.2, p. 411-506, 16 nov. 2017. Disponí- Línguas indígenas brasileiras Liames – Línguas 1 . O Warázu . OWarázu - - - . 149 - - , adjacentes regiões e do Brasil etno-histórico Mapa

* Acesso pelo endereço: - https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/bibliote ca-catalogo?id=214278&view=detalhes. O de Curt Nimuendaju, foi elaborado artesanalmente em da síntese de uma vida inteiratrata-se Com 1943. 2m x 2m, dedicada ao estudo das línguas e das culturas indígenas os que (1883–1945), pelo Unckel etnólogo alemão Curt por de Nimuendajú batizaram do oeste paulista Guarani volta de 1905. As informações georreferenciadas sobre a diversidade lin- guística do Brasil até início da o década de reunidas 1940, e a revelarapresentadas de forma a dinâmica ocupação/ linguísticos grupos de muitos territorial/migração dispersão sido extintos) fazem desse Mapa já haviam os que (inclusive o país. se conhecer para um documento imprescindível Memória que foi inscrito pela Unesco no Programa Tanto humanida da patrimônio como reconhece que do Mundo, de acervos e documentos arquivísticos e bibliográficos de grande valor cultural, histórico e de memória. o pú para Nimuendaju está disponível O Mapa de Curt blico na Biblioteca do Instituto Brasileiro de Geografiae Estatística — IBGE*. Foto: Renato Soares Renato Foto: 150 com.br/ Acessadoem:20demarço2016. em: http://www.laliunb. Línguas Indígenas.Disponível DF: Laboratório de RODRIGUES, Aryon Dall’Igna (2013). Línguas indígenas brasileiras. Brasília, 217-239. pp. UFMG. Editora Horizonte: no Brasil. Belo ticos ALTENHOFEN, CléoV.;RASO, Tommaso. 2 MOORE,Denny(2011).Línguasindígenas.InMELLO,Heliana; editor] do [Nota 2020. de outubro de 1º em: Acesso vas_l%C3%ADnguas em: https://pib.socioambiental.org/pt/L%C3%ADnguas_silenciadas,_no Disponível estigmatizantes”. claramente últimostermos dois estes sendo ‘gírias’, e dialetos ou ‘idiomas’, talvez ‘línguas’, de chamadas ser a custam hoje até que dooutrolado,aquelas e, universitários) nos departamentos assento (as quetêm literaturas civilização comsuas de línguas só língua)e nacional (umanação,uma um lado,língua entre, de da distinção torturante na perpetuação exemplo, Brasil, por no resultou, que ideológico, construto um de Trata-se língua? uma é que o prossegue:“afinal, E homogêneos”. ‘objetos’ como apresentadas sempre quase são elas português; do interna com relaçãoàslínguas indígenas a mesma atençãodestinada àvariedade temos Não outra. para comunicativa situação uma de e social) e gráfico (geo espaço no e tempo no varia língua qualquer ficção: uma é interna Nacional, “uma línguasemdiversidade Bruna Franchetto,doMuseu guista esclareçam, por exemplo, oque éum dialeto ameríndio. Segundo a lin 1 OBrasilcarecedeestudoslinguísticossobreaslínguasameríndias que Aryon RodrigueseDennyMoore dos linguistas e troncoslinguísticos,baseadanosestudos dialetos famílias, em indígenas línguas das Classificação Línguas indígenasnoBrasil Apêndice 2 Os contatos linguís - - - - 1

Yatê Rikbaktsá Ofayé Maxakali Krenák Karajá geográfica) e extensão de línguas pelo número importante (a mais Jê Jabutí Guató Bororo Famílias Tabela 1.TroncoMacro-Jê Karajá • Bororo, Umutima Yatê (Fulni-ó) Rikbaktsá Ofayé (Ofayé-) Pataxó Há-Há-Hãe Pataxó Maxakali Krenák Xokléng (Laklânô)• (Kisêdjê)• Panará (Kren-akore) Kayapó (Mebengokre)• Kaingáng • Apinayé (Apinajê) Akwén • Jabutí (Jereomitxí),Arikapú Guató Mentuktire (Txukahamãe),Xikrin Kokraimoro, Kubenkrankegn,Menkrangnoti, Línguas (unidadeslinguísticas) Sudeste Central, KaingángdoSudoeste, Krahô, Krinkati. (Parkateyé), GaviãodoMaranhão(Pukobjê), Canela Ramkokamekra,GaviãodoPará Javaé, Karajá,Xambioá Xakriabá, Xavánte,Xerénte Kaingáng doParaná, Suyá, Tapayúna Canela Apaniekra, Gorotire, Kararaô, • Dialetos 151 Guajajára, Tembé Parintintin, Diahói, Juma, Karipúna, Parakaná, Suruí de , Parakaná, Suruí de Kokáma, Kambéba (Omágua) Kaiowá, Mbyá, Nhandeva , Amondáva (Uru-Eu-Wau-Wau) Anambé Apiaká Araweté Asuriní do Xingú Avá-Canoeiro Guajá Kaapor (Urubu-Kaapor) Kamayurá Kayabí Kawahib • Kokáma • Nheengatú (língua geral amazônica) Tapirapé Tenetehára • Wayampí Xetá Zo’é Akwáwa • Amanayé Guarani • Asuriní de Tocantins, Asuriní de Trocará Asuriní de Tocantins, Tupi-Guarani (a mais importante pelo número de línguas e extensão geográfica) Dialetos • Tabela 2. Tronco Tupi Tabela 2. Tronco Ajuru Aruá Kuruáya Puruborá Káro (Arara) Makuráp Sakyriabiát (Mekens) Tuparí Akuntsú Karitiána Aweti Jurúna (Yudjá) Xipaya Mawé (Sateré-Mawé) Gavião Mondé Suruí- Zoró Munduruku Línguas (unidades linguísticas) Línguas (unidades Tuparí Munduruku Puruborá Ramarama Jurúna Mawé Mondé Famílias Arikem Aweti 152 (Maipure) Arawák Famílias Karib Tabela 3.Famíliasnãoagrupadasnostroncos

Warére, Káwali Mehináku Mawayana Kinikinau Axaninka (Axeninka/Kampa) Kaixána Baré Baniwa doIçana(Kurripaco)• Apurinã Línguas (unidadeslinguísticas) Piro • Paresí (Halití)• Waurá (Wauja) Siuci Kaxuyána • Kuikuro Kalapálo Ingarikó (Akawaio) Ikpeng (Txicão) Hixkaryana Galibí doOiapoque Bakairí Arara doPará Aparaí (Apalaí) Yawalapiti (Yawalapühü) Waúja (Waurá) Warekena Wapixana Terena Tariana Enawenê-Nawê (Salumã) Warikyana linguísticos principais Manitenéri, Maxinéri Shikuyana, Pawiyana,Pawixi, Waymáre, Kozárene(Kabixí), 3 Hohõdene, • Dialetos Tukano Pano Arara (Shawãdawa)• Wayána Wai-Wai Waimirí-Atroarí Tiriyó Taulipáng (Pemóng) Nahukwá Mayongóng (Yekuána) Matipú Makuxí Yepâ-masa Tuyuka Tukano Pirá-Tapuya (Waikana) Kubewa (Kubeo) Kotiria (Wanano) Karapaná Desana Barasana Bará Arapáso Yawanawá Yamináwa Shanenáwa Poyanáwa Nukiní Matsés Matís Marubo Korúbo Kaxinawá Kaxararí Katukína Pano Yamináwa, Yawanawá 153 4

Dialetos Dialetos Dialetos • • •

Mynky (Münkü) • Línguas (unidades linguísticas) Línguas (unidades Línguas (unidades linguísticas) Línguas (unidades linguísticas) Galibí Marworno (Galibi de Uaçá) Karipuna do Norte (Karipuna do Amapá) Kadiwéu Kanoê (Kapixanã) Trumái Pirahã Kwazá (Koaiá) Tikúna Aikaná (Masaká) Variação do crioulo falado na Guiana francesa Tabela 6. Linguas crioulas Tabela 5. Linguas consideradas isoladas Tabela 5. Linguas consideradas Tabela 4. Famílias consideradas menores Tabela 4. Famílias 4 Como não foram encontradas semelhanças suficientes para agrupá-las em4 Como não foram encontradas semelhanças suficientes [Nota do editor] como línguas isoladas. os linguistas classificam-nas famílias, portanto, famílias independentes [Nota do editor]. Famílias Chiquito Guaikurú Mura

Oro Waram. Oro Mon, • Tsohom-Djapá Yuhúp do Sul Urupá Sanumá Kulina (Madiha) Jamamadí Oro Win Katawixí Hupda (Hup) Sabanê Dení Zuruahá Oro Yowin (cf. Apontes 2015) Warí’ (Pakaanova) Yanomám Torá Ninám Pedá Djapá (Katukina do Rio Biá) Nadëb Nambikwara do Norte Moré Jarawara Paumarí Kanamarí Dâw Banawá 3 As famílias que constam nas tabelas 3 a 12 não pertencem nem ao tronco Macro-Jê nem ao tronco Tupi. Elas também não guardam entre si semelhanças suficientes paras serem classificadas em um novo tronco. São, Yanomámi Txapakúra Nadahup (Makú) Nambikwara Katukina Arawá 154 foi impressanospapéiscartãoduodesign300g/m Este livrofoicompostocomafonteGeorgia. Atiragemde1000exemplares pela RBCOMUNICAÇÃOVISUAL EIRELI -EPP,emdezembrode2020 2 e couchéfosco150g/m . 2 ,

Foto: Renato Soares 155 156