Cinema Português: Um Guia Essencial Paulo Cunha
Total Page:16
File Type:pdf, Size:1020Kb
https://www.academia.edu/5720305/ Cinema_Portugu%C3%AAs_um_Guia_Essencial_2013_ed._com_Michelle_Sales CINEMA PORTUGUÊS: UM GUIA ESSENCIAL PAULO CUNHA MICHELLE SALES (org.) Nº EB48 Introdução 1896-1909 Os primeiros anos de cinema em Portugal Manuela Penafria 1910-1919 Uma cinematografia "sem olhar" ganha o primeiro realizador, Leitão de Barros Maria do Carmo Piçarra 1920-1929 O cinema “tipicamente português” Tiago Baptista 1930-1939 O Cinema Português de Salazar Wagner Pinheiro Pereira 1940-1949 Os cinemas periféricos e o caso português dos anos 40: elementos para uma análise crítica Leandro Mendonça 1950-1959 Anos de cinefilia e formação Michelle Sales 1960-1969 Quando o cinema português foi moderno Paulo Cunha 1970-1979 O cinema na transição democrática Jorge Luiz Cruz 1980-1989 A “diferença” portuguesa? Paulo Cunha 1990-1999 Estabilidade, crescimento e diversificação Carolin Overhoff Ferreira 2000-2009 O cinema do futuro Daniel Ribas Bibliografia Introdução Este projecto nasceu em janeiro de 2009, fruto de uma vontade conjunta em criar uma ferramenta de trabalho que fosse útil para quem quer iniciar estudos ou aprender mais sobre cinema português. O objectivo central inicial era apresentar um texto conciso e de referência na introdução ao estudo do cinema português, esperando que se torne, pela qualidade e actualidade, uma obra de referência para todos os que pretendam conhecer mais da cultura portuguesa, em particular da história e estética do cinema português. A ideia deste projecto surgiu depois de constatado o enorme sucesso editorial da obra colectiva O Cinema Português através dos seus filmes (coord. Carolin Overhoff Ferreira, Campo das Letras, 2007) e pelo bom acolhimento do público em geral e dos jovens estudantes e investigadores que trabalham sobre cinema português. Em menos de um ano, esta obra tornou-se uma referência obrigatória e indispensável em qualquer trabalho entretanto publicado, quer em Portugal como no estrangeiro, sobre os filmes e os autores portugueses. Esta recepção demonstrou, definitivamente, que o estudo do cinema português desperta gradualmente o interesse de cada vez mais audiências, que continuam ávidas por novas publicações. De diversas conversas com colegas académicos de instituições de ensino superior em diversas latitudes surgiu a constatação de que faz falta ao estudo do cinema português um texto geral que promova um primeiro contacto com a história e a estética do cinema português. Naturalmente, pretende-se que seja uma obra actual, que reflicta os resultados das mais recentes investigações feitas sobre o cinema português que nos últimos anos têm aumentado exponencialmente. A estrutura deste livro pressupõe uma divisão em onze capítulos, cada um dedicado a uma década dos cerca de 110 anos da história do cinema português. A opção editorial por esta forma cronológica de estruturar e organizar esta obra não ignora a subjectividade da construção do objecto em estudo, impondo uma unidade a cada capítulo que não é mais do que meramente indicativa das balizas cronológicas em causa e não uma crença de que cada década compõe um corpo fechado e imutável. Cada capítulo pretendeu abordar, de forma sintética e objectiva, os principais aspectos da história e estética do cinema português: produção fílmica e escrita, contexto político e social, legislação e economia cinematográfica, aspectos culturais e artísticos, movimentos e correntes estéticas, relacionamento com o público e tentativas de internacionalização. Sempre em contacto com a realidade portuguesa, esta abordagem não descurou os assuntos extra-cinematográficos, tentando oferecer uma leitura mais abrangente do fenómeno cinematográfico em Portugal ao longo da sua existência, destacando os principais filmes, os autores fundamentais e os temas incontornáveis de cada período histórico. Foi dada a necessária e suficiente liberdade de trabalho aos autores de cada capítulo para que o texto reflicta a sua identidade mas também para que possa ser lido autónoma e independentemente do conjunto que integra. Os capítulos são assinados por investigadores de diversos centros de investigação e ensino superior em Portugal e no Brasil que gentilmente aceitaram o nosso desafio. Com este grupo de colaboradores pretendeu-se também uma abordagem interdisciplinar, pelo que os investigadores convidados a colaborar tem apresentado trabalho de reconhecido mérito científico em diversas áreas das ciências sociais e humanas, estudos artísticos, estudos culturais, ciências da comunicação, história da arte, entre outros. Provenientes de várias instituições portuguesas e brasileiras e de áreas científicas diversas, este grupo reflecte a diversidade de aproximações e de interesses que o cinema português desperta na actualidade, quebrando barreiras geográficas e culturais. Como parece crónico no próprio cinema português, este projecto teve um “parto” dificil, atravessando por diversos obstáculos que atrasaram a sua concretização mas que não seriam suficientes para impedir que, mesmo passados quatro anos, este livro agora publicado fosse realidade. Por isso mesmo, enquanto coordenadores, não podemos deixar de agradecer, em primeiro lugar, a paciência e a compreensão manifestada por todos os colaboradores. Sentimos, desde a primeira hora, que este projecto foi “perfilhado” por todos e mereceu a atenção e o respeito que merecia. Sem eles, este projecto não teria sido possível.Paulo Cunha Michelle Sales 1896-1909 Os primeiros anos de cinema em Portugal Manuela Penafria Em Portugal, o cinema surge com duas sessões que assinalam uma separação entre o início das sessões de cinema em Portugal e o início do cinema português. Quanto à introdução do cinema em Portugal, o nome a reter é o de Edwin Rousby; quanto ao início do cinema português, o nome que se impõe é o de Aurélio da Paz dos Reis. Neste texto iremos apresentar momentos importantes da evolução histórica do cinema em Portugal e tentar tecer algumas considerações sobre o cinema português. As primeiras sessões de cinema – Edwin Rousby Desde finais de 1894 que “espectáculo ópticos” estavam disponíveis ao espectador português. Na Rua do Príncipe Real, em Lisboa, foi criado um gabinete de “curiosidades fotográficas”, com projecções da Lanterna Mágica e vistas estereoscópicas (Cf. Ferreira, 2009). Já as imagens animadas propriamente ditas estavam disponíveis, em 1895, num aparelho semelhante ao Kinetoscópio de Edison, na Tabacaria Neves, Lisboa. Era um aparelho vindo de Londres fabricado por Robert William Paul, pioneiro do cinema inglês, e apresentado por George Georgiades. Este início encontra-se bem relatado por António J. Ferreira: “Em 1894, dois negociantes gregos, Georgiades e Trajedis, compram nos Estados Unidos da América um ou alguns Kietosocpes de Edison, e trouxeram-nos para Inglaterra, onde se dedicam à sua exploração. Desejando ampliar o negócio com o mínimo de despesas, conseguiram que Robert Paul lhes fizesse várias cópias. Seria uma dessas cópias que Georgiades trouxe a Lisboa, numa ‘tournée’ desconhecida dos próprios historiadores ingleses. Só uma fita foi noticiada: os movimentos de uma bailarina. A película continha 1380 fotografias, que passavam à cadência de 46 por minuto, donde resultaria um ‘espectáculo’ de meio minuto. Assim, era maior do que as normalmente utilizadas por Edison, que duravam 20 segundos. A Tabacaria Neves não dispunha de luz eléctrica, e o kinetoscópio seria accionado por acumuladores. Podia ser visto das 10 horas da manhã às 11 da noite, por 100 réis. A estadia foi de curta duração, e a sua repercussão praticamente nula – inferior à do Electro-Tachiscópio Eisenlohr. Em Julho do ano seguinte, o Diário Ilustrado fez uma resenha dos aparelhos de fotografia animada apresentados em Lisboa, e nela não constava o nosso kinetoscópio Georgiades.” (Ferreira, s. d.: 12-13). Ainda que estes acontecimentos sejam importantes, pois tratam-se de um primeiro contacto do espectador português com imagens em movimento, consideramos que possui efectiva relevância a primeira sessão de cinema, ou seja, a apresentação pública - e já não individual, como acontecia com o kinetoscóspio e aparelhos semelhantes – de imagens em movimento. Essa primeira sessão de cinema decorreu dia 18 de Junho de 1896 no Real Colyseu, na Rua da Palma, em Lisboa. A sessão do Animatographo Rousby - concretizada por iniciativa do empresário António Manuel dos Santos Júnior - “encanta e maravilha, por ser a reprodução da vida” (Diário de Notícias, 19 de Junho de 1896). Antecipando a sessão, o Diário Ilustrado de 15 de Junho de 1896, informa: “Vamos admirar dentro de poucos dias a novidade mais prodigiosa e mais recente, que tem sido o assombro de Londres, Paris e Madrid. É o animatógrafo apresentado por Mr. Rousby. Nesta máquina apresenta-se a fotografia viva, exibindo as cenas da vida real com a maior perfeição e fidelidade, pois com o animatógrafo obtém-se a fotografia instantânea com a rapidez de quinze provas por segundo [e por isso, em cada minuto cada quadro é formado por novecentas fotografias].” (Pina, 1977: 7). A primeira sessão pública de cinema decorreu “num dos intervalos da representação de uma opereta de costumes populares [intitulada O comendador ventoinha] e nem sequer provocou alteração nos preços do cartaz.” (Santos, 1990: 57). Dos filmes apresentados, os mais apreciados foram Dança Guerreira, Bailes Parisienses e A ponte nova de Paris (O Século, 19 de Junho de 1896 apud Ibidem: 61). Supõe-se que os filmes apresentados terão sido oito: Dança Guerreira pela troupe singalesa; Chineses fumando ópio; Bailes parisienses