Continuação da Resenha Diária 22/11/14 2

MINISTÉRIO DA DEFESA 22 NOV 14 EXÉRCITO BRASILEIRO Resenha GABINETE DO COMANDANTE Diária Sábado CCOMSEX

Elaborado pelo Centro de Comunicação Social do Exército

DESTAQUES O GLOBO - A ‘ruivinha’ que deu prejuízo FOLHA DE S. PAULO - Governo agora prevê superavit primário de R$ 10 bi neste ano - Dilma acena ao mercado e deve anunciar Joaquim Levy para comandar O ESTADO DE S. PAULO Fazenda - Ministro diz que corrupção é ‘cultural’ no Brasil CORREIO BRAZILIENSE - Supersalários de volta à Câmara

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A ‘ruivinha’ que deu prejuízo Pasadena ganhou apelido após estatal constatar, antes da compra, que ela estava toda enferrujada Eduardo Bresciani

BRASÍLIA- A polêmica refinaria de Pasadena já era malvista pela área técnica da Petrobras desde o início do processo de avaliação para a aquisição. O desconforto era tal que a refinaria americana tinha um curioso apelido dados por funcionários antes da realização da compra. O diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, que no cargo desde 2003, contou em depoimento à Comissão Interna de Apuração que a refinaria era chamada de “ruivinha”, e explicou o motivo mostrando o desconforto com o negócio: Pasadena estava toda enferrujada. “Pessoas desta sede viajaram para avaliação in loco, e houve reação negativa dessas pessoas, que não gostaram do que viram e apelidaram a refinaria de ruivinha, porque estava tudo enferrujado. Havia sentimento muito negativo, mas também desejo muito forte da área Internacional de que o negócio ocorresse”, disse Barbassa em 13 de maio deste ano. Apontado no relatório da comissão como principal articulador do negócio e responsável em dez das 11 irregularidades levantadas pela investigação interna, o ex-diretor da área Internacional Nestor Cerveró atribuiu o mau estado de conservação à falta de preocupação dos americanos com “aparência”. Ele foi ouvido antes de Barbassa, em 5 de maio. “Questionado sobre as recomendações iniciais das avaliações, com itens apontando deficiências, o depoente declara que as refinarias nos EUA não têm a mesma preocupação com a aparência como ocorre com as da Petrobras (meio-fio pintado de branco, tanques pintados etc.)”, registra o extrato do depoimento do ex-diretor internacional. Cerveró foi além, dizendo que eventuais problemas nunca foram apontados pela área técnica como “algo inaceitável ou irreparável”. Destacou que a refinaria nunca tinha sido proibida de operar nos EUA.

PREJUÍZO CHEGA A US$ 530 MILHÕES O GLOBO teve acesso ao relatório da comissão e aos extratos dos depoimentos prestados. Além de Cerveró, foram apontados como responsáveis pelas irregularidades o ex-presidente José Sérgio Gabrielli, os ex-diretores Paulo Roberto Costa e Jorge Zelada e cinco funcionários. O documento foi encaminhado à área jurídica, para se avaliar a obrigatoriedade de enviá-lo ao Ministério Público Federal. A refinaria foi comprada da belga Astra Oil por US$ 1,25 bilhão, em 2 operações. A Petrobras já reconheceu prejuízo contábil de US$ 530 milhões. Em seu depoimento, Barbassa fez diversas críticas ao negócio. Para ele, o processo de compra foi “bem rápido”, e a Diretoria Internacional tinha autonomia “muito grande” e adotava procedimentos “mais simplificados”. Destacou que a compra da 1ª metade começou a ser negociada no fim de 2005, e em fevereiro de 2006 já foi aprovada pela Diretoria Executiva e pelo Conselho de Administração. Barbassa disse que a diretoria, em fevereiro, não sabia das cláusulas Marlim e “put option”, que garantiam rentabilidade mínima à sócia e obrigavam a Petrobras a comprar a 2ª metade em caso de desacordo comercial. Afirmou que as cláusulas estavam no anexo XXX e só foram conhecidas após aprovado o negócio. Mas frisou que isso ocorreu antes da assinatura do contrato, em setembro de 2006. Disse que o negócio não foi desfeito pois, na Diretoria Internacional, “havia muita vontade de levar adiante”. Barbassa contou que só em 2007 sua diretoria conseguiu precificar a cláusula Marlim, e passou-se a saber quanto representariam os 6,9% de rendimento mínimo à Astra. Não disse qual seria esse custo, mas frisou não ser usual que se oferecesse ao vendedor parte do que seria ganho no futuro. Observou que a ampliação da refinaria para 200 mil barris/dia foi adiante mesmo estando no contrato a manutenção em 100 mil barris/dia. Isso gerou briga com a sócia. Afirmou que a compra da 2ª metade foi negociada para se livrar das duas cláusulas. Barbassa disse que Pasadena deu prejuízo todos os anos até 2013 e defendeu seu fechamento. Cerveró apoiou a condução do negócio. Disse não ser comum se alongar sobre “cláusulas de saída” quando se negocia proposta de compra. Seu advogado, Edson Ribeiro, enviou depois carta registrando que a responsabilidade pela compra era do Conselho de Administração, então presidido pela presidente Dilma. Gabrielli também defendeu na comissão a lisura da compra. Em depoimento em 7 de maio, destacou a necessidade de, naquele momento, investir-se em refino no exterior. Costa respondeu a perguntas da comissão antes da delação premiada. Seu atual advogado, João Mestieri, disse que o ex-diretor “não teve nada a ver” com a compra de Pasadena. Mas não comentou a informação de que na delação Costa admitiu ter recebido US$ 1,5 milhão para não atrapalhar o negócio.

Indigentes Ilimar Franco

A Comissão Nacional da Verdade não conseguiu identificar os oito mil indígenas e camponeses mortos pela ditadura. Até o número é estimativa. Sem identificá-los, não é possível acrescentá-los à lista oficial de mortos e desaparecidos.

Cenário positivo Merval Pereira

A escolha do economista Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, ainda dependente de confirmação oficial, pegou o ex-ministro Maílson da Nóbrega, hoje um conceituado consultor, em meio a uma palestra organizada pela Rede Continuação da Resenha Diária 22/11/14 4

Gazeta de Notícias em Pedra Azul, no Espírito Santo. Ele saudou a escolha, que parece promissora para a tomada de decisões do segundo governo de Dilma, indicando um retorno à racionalidade econômica. Levy na Fazenda, previsivelmente com poderes para tomar as medidas necessárias e até impopulares, enquadra- se também num cenário que a Macroplan, empresa especializada em estratégia e estudos prospectivos, está elaborando para o Brasil 2015-2018, o terceiro cenário, e menos provável. Assim como Maílson considera uma mudança de rumos na economia como também menos provável, mas que, diante da escolha de Levy, ganhou nova força. O que Maílson teme é que a presidente Dilma não tenha condições políticas para garantir a atuação de Levy nos dois primeiros anos, que serão muito duros e sofrerão muitas críticas de alas do PT que já o criticavam antes, quando era secretário do Tesouro do então ministro Palocci. Eu também temo que Levy não tenha um ambiente favorável para exercer todo o poder de que necessitará. Em uma coluna recente, escrevi que Dilma escolher um ministro da Fazenda como ou Trabuco, do Bradesco, seria como dar um salto triplo carpado. Bem que ela tentou, mas a escolha de Levy, sem tanto peso político, também representa um avanço no quadro econômico muito bem-vindo. O economista Claudio Porto, da Macroplan, chamou esse cenário de “reforma política e retorno da racionalidade econômica”, que encerraria um aparente paradoxo, pois emergiria de uma grave crise político-institucional em razão de impactos intensos e amplos do “petrolão”, associados com uma aguda deterioração de expectativas econômicas em 2015. Como consequência benigna, experimenta o desenrolar de uma “Operação Mãos Limpas à brasileira”, com a punição de corruptores e corrompidos, o que torna praticamente inevitável a reforma política, a “repactuação da governabilidade” e consequente redirecionamento da política econômica “pró- mercado”, com uma progressiva reabertura da economia e reconquista da confiança dos principais agentes econômicos em relação ao Brasil. Neste cenário, o setor privado é o principal “motor” do crescimento, e o “tripé macroeconômico” é revigorado com disciplina fiscal, metas de inflação rigorosas e decrescentes, e câmbio flutuante. Porto não afirma isso, mas a escolha de Levy para a Fazenda pode ser o indício de que a presidente Dilma está antevendo os desdobramentos do caso da Petrobras e antecipou-se às consequências possíveis tentando controlar a parte econômica. No cenário da Macroplan, o Brasil experimenta uma recessão ou baixo crescimento e aumento temporário do desemprego provavelmente em 2015 e 2016, mas segue uma trajetória semelhante à do primeiro mandato do ex- presidente Lula, com PIB predominantemente ascendente (média entre 3% e 3,5% ao ano) e inflação declinante, podendo chegar a 3,5% em 2018. Como prever qual cenário se concretizará? A resposta a essa pergunta, revela Claudio Porto, presidente da Macroplan, não é nada fácil no atual momento. “Não se pode esquecer que o Brasil chega ao fim do primeiro mandato da presidente Dilma na iminência de uma crise aguda”. As expectativas em relação ao futuro estão sendo conduzidas não apenas pelo conjunto de indicadores econômicos previsíveis no horizonte, mas também em função do quadro político- institucional associado ao desdobramento do atual processo do “petrolão”. E antecedentes históricos recentes em nosso país apontam que algumas vezes, se não chegamos a um “final feliz”, pelo menos reorientamos nossas rotas rumo a um “porto seguro”.

Barusco confessa ter recebido US$ 22 milhões da holandesa SBM Ex-gerente da estatal diz que ganhava por negócios escusos há 18 anos Jailton de Carvalho

BRASÍLIA- Depois de fazer acordo de delação premiada, o ex-gerente da diretoria de Serviços da Petrobras Pedro Barusco confessou ter recebido US$ 22 milhões em propina da SBM, empresa holandesa de afretamento de navios- plataforma. Ao todo, o ex- gerente afirma ter recebido mais de US$ 100 milhões na intermediação de contratos entre grandes empresas e a maior estatal brasileira. O ex-gerente confessou também que recebe propina por negócios escusos na Petrobras há 18 anos, disse ao GLOBO uma pessoa vinculada à investigação. Barusco fez a confissão num dos depoimentos que vem prestando ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal em Curitiba desde que decidiu firmar um acordo de delação premiada com a força- tarefa encarregada das investigações da Lava-Jato. Pelo acordo, Barusco se comprometeu a devolver cerca de US$ 100 milhões, algo em torno de R$ 253 milhões, o maior volume de dinheiro que um investigado resolve devolver aos cofres públicos a partir de uma investigação criminal no país. São US$ 97,5 milhões depositados em contas no exterior e mais R$ 6,5 milhões que estão guardados em contas bancárias no Brasil. Do total em reais, Barusco vai devolver R$ 3,25 milhões para o Ministério Público em Curitiba, que investiga fraudes na Petrobras a partir de negócios do ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef com grandes empreiteiras. Outros R$ 3,25 milhões serão entregues ao Ministério Público Federal no , que está à frente das investigações sobre pagamentos de propina de representante da SBM para ex-diretores e funcionários da Petrobras. Os valores das propinas confessadas por Barusco por iniciativa própria surpreenderam até mesmo autoridades acostumadas a investigar grandes escândalos financeiros. Um dos investigadores quis saber como o engenheiro tinha acumulado tamanha fortuna. Os recursos são suficientes para financiar uma campanha à Presidência da República. Barusco respondeu que recebe propina por negócios nebulosos na Petrobras desde 1996. Por isso, teria acumulado mais dinheiro desviado que outros ex-diretores.

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Juristas alertam para mudanças em projetos de mediação e arbitragem Propostas para desafogar Justiça podem ficar limitadas por emendas André de Souza

BRASÍLIA- A intenção é desafogar a Justiça brasileira, abarrotada de processos, mas a forma escolhida para alcançar esse objetivo peca em alguns aspectos. A avaliação foi feita por juristas que participaram ontem de seminário organizado pelo Conselho da Justiça Federal (CJF) para debater a arbitragem e a mediação. Há duas propostas tramitando no Congresso, uma sobre mediação e outra sobre arbitragem. Parte dos textos é elogiada, mas outra parte, na opinião de juristas, mais atrapalha do que ajuda. Em 2013, uma comissão de juristas, presidida pelo ministro Luis Felipe Salomão, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), elaborou duas propostas: uma ampliando o alcance da Lei de Arbitragem e outra criando o marco legal para a mediação de conflitos. A arbitragem ocorre quando as partes escolhem um árbitro, que vai ditar uma sentença. Na mediação, a terceira parte estimula o consenso, mas não tem o poder de impor uma decisão. Na prática, o primeiro mecanismo é usado em causas maiores, que envolvem valores mais vultosos. A mediação, em geral, é para causas menores. As duas propostas já foram aprovadas pelo Senado e ainda tramitam na Câmara, mas sofreram algumas alterações. O professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) Carlos Alberto Carmona criticou, por exemplo, uma emenda apresentada na Câmara dos Deputados ao projeto que altera a Lei de Arbitragem. Entre outras coisas, o projeto prevê que a arbitragem pode ser usada para resolver os litígios relacionados a contratos com a administração pública. A emenda, porém, limita seu alcance, dizendo que isso poderá ocorrer “desde que previsto no edital ou nos contratos da administração, nos termos do regulamento”. — Nós quisemos dar um estímulo à administração pública. Estímulo que acabou até sendo sendo um pouco refreado por uma iniciativa, a meu ver, muito infeliz da Câmara dos Deputados, que colocou ali um adendo, dizendo ou sugerindo que deveria haver uma regulamentação completamente desnecessária — disse Carmona. No seminário, houve também críticas à proposta que trata da mediação. O projeto juntou as contribuições da comissão de juristas com outras propostas em tramitação no Senado. A advogada Roberta Rangel, que participou da comissão, criticou, por exemplo, a proibição, aprovada pelo Senado, de aplicar a mediação em algumas questões familiares: filiação, adoção, poder familiar e invalidade do matrimônio. Esse dispositivo não constava no anteprojeto proposto pelos juristas.

SALOMÃO ESPERA MELHORAS O ministro Luis Felipe Salomão, que foi o coordenador científico do evento, reconheceu algumas limitações, mas acredita que, como os projetos ainda tramitam no Congresso, podem sofrer algumas alterações para melhorá-los. — As duas leis buscam atacar uma parte do problema, que é um dentre tantos do Judiciário — disse o ministro.

Opinião Ação contra formação de cartéis falha no caso da Petrobras

Desde que a Suprema Corte dos Estados Unidos tomou a célebre decisão, em maio de 1911, que obrigou John Rockefeller a desmembrar a Standard Oil (que na época dominava o mercado de petróleo) em várias companhias, com base na lei antitruste (Sherman) do país, os mecanismos de proteção à concorrência evoluíram em todo o mundo. Grandes fusões e incorporações são submetidas à aprovação dos órgãos de defesa da concorrência antes de se concretizarem, para evitar excessiva concentração de mercado. No Brasil, os ministérios da Fazenda e da Justiça investigam abusos de poder econômico e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) tem competência para multar ou coibir tentativas de cartelização. Agências reguladoras também participam desse esforço, estabelecendo marcos regulatórios para atividades e serviços sob concessão pública ou para os chamados monopólios naturais. Em paralelo, o consumidor conta com uma legislação que o apoia. Quando se trata de preços finais de bens e serviços, a ação de cartéis e acordos entre empresas concorrentes são muitas vezes detectados quando visivelmente provocam “dumping” (uma manipulação destinada a asfixiar concorrentes indesejáveis) ou destoam dos parâmetros de mercado. No entanto, em obras e encomendas de grande porte, contratadas pelo setor público ou por companhias estatais, o aparato que combate e tenta inibir a cartelização não se mostra tão eficaz, tantas são as denúncias e casos investigados pelos tribunais de contas, controladorias e Polícia Federal. São chocantes as revelações feitas pela Operação Lava-Jato em relação a contratos superfaturados em grandes obras e serviços da Petrobras, especialmente na área de abastecimento de combustíveis (refinarias e outras instalações). Ressalvada a ação do Tribunal de Contas da União, os órgãos de controle e auditoria falharam na prévia detecção das combinações de preços e condições que camuflaram esses superfaturamentos, fonte de alimentação do pagamento de propinas. Os valores envolvidos no esquema de corrupção são aterradores, demonstrando igualmente fragilidade no sistema de combate à lavagem de dinheiro. Os recursos têm origem em pagamentos formais, contabilizados nas empresas, com movimentação bancária. Passaram-se anos até que a atividade de um doleiro reincidente fosse enfim percebida em um esquema criminoso envolvendo executivos da Petrobras e de empreiteiras. Continuação da Resenha Diária 22/11/14 6

Todo esse episódio sugere mudanças nos controles internos da Petrobras e de outras companhias estatais. Mas as instituições responsáveis, inclusive o Congresso, precisam atuar no aperfeiçoamento da legislação e no uso dos mecanismos já disponíveis de combate à cartelização e de controle externo.

Convidados, mas não oficiais Dilma escolhe nomes para ministérios, porém anúncio fica para depois da votação da LDO Martha Beck, Catarina Alencastro e Eliane Oliveira

BRASÍLIA E RIO- A presidente já escolheu os principais integrantes de sua equipe econômica no segundo mandato. Fontes do Palácio do Planalto informaram ontem que o ex-secretário do Tesouro Nacional Joaquim Levy vai comandar o Ministério da Fazenda. Já o ex-secretário executivo da Fazenda irá para o Planejamento, e permanecerá no Banco Central (BC). O senador e candidato derrotado ao governo de Pernambuco Armando Monteiro (PTB) vai para o Desenvolvimento, e a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) deverá ficar com a Agricultura. O anúncio da nova equipe era esperado para ontem, o que criou uma grande expectativa no mercado financeiro. Mas a oficialização, que poderia ser capitalizada positivamente pelo governo, já que desde o início de setembro a presidente deixou claro que não continuaria à frente da Fazenda num segundo mandato, acabou não ocorrendo. No fim da tarde, a presidente desistiu da divulgação, que agora é esperada para a próxima semana. Interlocutores de Dilma disseram ao GLOBO que o adiamento ocorreu porque o governo quer esperar a votação das mudanças propostas na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2014 no Congresso, prevista para segunda ou terça- feira. A atual equipe econômica quer mudar a lei para conseguir fechar as contas de 2014. Sem a alteração, a meta de superávit primário (economia para pagamento de juros da dívida pública) não será cumprida e os técnicos terão que responder por desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). — O anúncio não foi hoje (ontem) para deixar o Congresso votar a LDO e dar à nova equipe um início sem ter que explicar os problemas fiscais de 2014 — disse uma fonte do governo.

CARLOS HAMILTON DE ARAÚJO FICA COM TESOURO Dilma também decidiu esperar para que Levy e Barbosa tenham tempo para montar seu segundo escalão. A ideia é que a nova equipe seja anunciada em conjunto. Para substituir Arno Augustin no Tesouro Nacional foi convidado o atual diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton de Araújo. Segundo fontes da Fazenda, ele já teria aceito. Já o secretário executivo da Fazenda, Paulo Caffarelli, é cotado para assumir a presidência do Banco do Brasil, no lugar de Aldemir Bendine. A presidente também quer alguns dias para debater com Mantega, e com a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, se os dois deixarão o governo ou se serão remanejados para outros lugares. Mantega e Dilma haviam combinado que ele ficaria na Fazenda até 31 de dezembro, mas o anúncio oficial de Levy pode antecipar esse calendário. Quanto a Miriam, seu futuro no governo é incerto. Auxiliares presidenciais diziam ontem que ela poderia assumir a presidência de alguma estatal. Levy, atual diretor da Bradesco Asset Management, foi a alternativa sugerida a Dilma pelo presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Lázaro Brandão, depois que o presidente do banco, Luiz Carlos Trabuco, declinou, por duas vezes, o convite para ocupar a pasta. Trabuco era a primeira opção do Planalto e tinha um grande apoio do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas não aceitou o convite em função de questões societárias e sucessórias que teriam que ser resolvidas no Bradesco. Ele é visto como o sucessor natural de Brandão na instituição. Lula também tentou emplacar o nome do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles para a Fazenda, mas Dilma disse não. Levy, que comandou o Tesouro quando era o ministro da Fazenda, foi apontado como alternativa para resgatar a credibilidade da política fiscal. Ele ajudou a executar o ajuste realizado nos primeiros meses do governo Lula, em 2003. Para Mário Mesquita, sócio do Banco Brasil Plural e ex-diretor do BC, a escolha de Levy aumentará a credibilidade do governo na área: — O nome dele é excelente, tem uma formação muito boa e experiência focada no fiscal. Para o presidente da Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, Levy e Barbosa formarão uma boa dupla, porque “ambos seguem uma linha séria, de falar pouco e fazer muito". Mas a escolha desagradou o núcleo petista, que considera Levy muito ortodoxo e uma opção oposta ao que pregam economistas da escola de Dilma, como o ministro da Casa Civil, , de maior intervenção do Estado. Eles argumentam que Levy é da linha do arrocho, condenada pela presidente na campanha à reeleição. Seu nome foi uma forma de acalmar o mercado, já que o ponto fraco de Dilma é a política fiscal, com forte deterioração no primeiro mandato. Apenas o anúncio informal já fez com que a Bolsa registrasse a maior alta em três anos, subindo 5,01%. Barbosa era um dos nomes que Dilma considerava para a Fazenda. E contava com a simpatia de Lula. Acabou levando o Planejamento. Com um perfil desenvolvimentista, porém contrário a gastos excessivos, tem grande afinidade com a presidente, embora tenha deixado o governo em 2013 após se desentender com Arno sobre a política fiscal. Monteiro também foi um dos nomes endossados por Lula. E teve como outro padrinho o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Braga de Andrade. Sua ida para o Desenvolvimento faz com que o governador da Bahia, , que era cotado para a pasta, deva ir agora para Comunicações ou Justiça. (Colaborou Clarice Spitz) Continuação da Resenha Diária 22/11/14 7

Convite a Katia Abreu abre crise com PMDB Cúpula do partido se revolta por não ter sido consultada e ameaça impedir votação da meta fiscal Fernanda Krakovic

BRASÍLIA- A presidente Dilma Rousseff convidou, na última quarta- feira, a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), que é presidente da Confederação Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), para assumir o Ministério da Agricultura, e ela aceitou. Porém, o vazamento da informação, ontem, abriu uma crise no comando do PMDB, que não foi consultado. Pegos de surpresa, peemedebistas ameaçam se unir à oposição e implodir a votação do projeto de lei que altera a meta fiscal na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2014, caso o governo confirme oficialmente a ida da senadora para a pasta. Filho da senadora, o deputado federal Irajá Abreu (PSD-TO) chegou a parabenizar a mãe na rede de microblogs Twitter, na tarde de ontem, “por mais essa conquista”. Irajá, que também reproduziu uma notícia informando que sua mãe fora convidada para o ministério e havia aceitado, acabou retirando a publicação da rede social. Atualmente, o Ministério da Agricultura é da cota dos peemedebistas da Câmara, e Kátia é considerada uma “cristã nova” na bancada do Senado. Ela trocou o PSD pelo PMDB há apenas um ano, e há senadores peemedebistas mais antigos na fila por um ministério. Dilma ainda não abriu a conversa com os partidos sobre a reforma ministerial. Segundo peemedebistas, a informação do Palácio do Planalto era que a presidente estava tratando apenas da equipe econômica, que pretendia inicialmente anunciar ontem. Só depois ela negociaria os demais ministérios. O vicepresidente da República, , que é presidente do PMDB, não foi informado sobre o convite feito à Kátia e só ficou sabendo ontem, quando a informação vazou. Hoje, o PMDB tem cinco ministros: Edison Lobão (Minas e Energia), Garibaldi Alves (Previdência), (Aviação Civil), Neri Geller (Agricultura) e Vinícius Lages (Turismo). Parte do partido defende a permanência de Geller na Agricultura. Ele também tem como padrinho o senador Blairo Maggi (PR-MT). A saída de Lobão do Ministério de Minas e Energia é dada como certa. Ele ficou desgastado depois de ter sido citado no escândalo da Petrobras. O ministro nega envolvimento no esquema de desvio de dinheiro. Ainda assim, diante do aprofundamento da operação Lava-Jato, da Polícia Federal, a presidente deve tirar o PMDB do comando da pasta e colocar alguém de sua confiança.

APROXIMAÇÃO GRADUAL Com a devassa que está sendo feita pela Polícia Federal e pela Justiça na Petrobras, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, integrantes do PMDB afirmam que a pasta virou um “pepino” e que o partido não faria questão de mantê- la. Mesmo assim, vão tentar uma compensação. Egressa do DEM, Kátia Abreu foi um dos expoentes da oposição na gestão de Lula. A aproximação do governo foi feita em etapas. Primeiro, ela se filiou ao PSD, criado pelo ex-prefeito de São Paulo para dar suporte ao governo, mas que, num primeiro momento, adotou postura de independência. Ela se aproximou de Dilma durante a discussão do marco regulatório dos portos, matéria de interesse da bancada ruralista para escoamento da produção.

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Governo agora prevê superavit primário de R$ 10 bi neste ano Novo objetivo, porém, também pode não ser atingido; meta anterior era de R$ 80 bilhões Gustavo Patu e Eduardo Cucolo DE BRASÍLIA

A exatos 40 dias do final do ano, o governo Dilma Rousseff admitiu, na prática, que superestimou sua previsão de receitas e subestimou a de despesas - e deu dimensões mais precisas desse irrealismo fiscal. Divulgado nesta sexta-feira (21), o relatório bimestral da execução orçamentária projetou que a arrecadação de tributos e outras fontes de recursos somará R$ 1,046 trilhão em 2014. Até setembro, a área econômica previa um montante superior em R$ 38,4 bilhões. Já a estimativa de despesas aumentou R$ 32,3 bilhões. A maior parte desse aumento veio de gastos obrigatórios e rotineiros, que normalmente são calculados com precisão. Só com seguro-desemprego e abono salarial, a previsão de desembolsos cresceu R$ 8,8 bilhões; com benefícios da Previdência Social, R$ 8,1 bilhões. O deficit esperado do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) foi elevado de R$ 40,6 bilhões para R$ 49,2 bilhões. No início do ano, a área econômica contestou afirmação do Ministério da Previdência de que o buraco ficaria perto dos R$ 50 bilhões. Houve ainda elevação dos subsídios do Tesouro Nacional destinados a atenuar os reajustes das contas de luz, cujo custo subiu de R$ 9 bilhões para R$ 10,5 bilhões. Com as novas projeções, o Executivo assume formalmente que não cumprirá a meta de poupar R$ 80,8 bilhões para o abatimento da dívida pública. No documento publicado, a poupança calculada é de R$ 10,1 bilhões -mas nem isso é certeza. O governo enviou neste mês ao Congresso um projeto que sepulta oficialmente a meta. O texto permite até que as contas fechem no vermelho, ou seja, com gastos acima das receitas. O plano do governo é tentar aprovar até terça-feira (25) no Congresso a manobra fiscal para fechar as contas deste ano. De acordo com o líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), a votação é "prioridade zero" do governo. A estratégia do Planalto neste ano reeleitoral foi trabalhar com uma projeção excessivamente otimista de receitas para, assim, evitar cortes de despesas. Pela Lei de Responsabilidade Fiscal, as despesas devem ser bloqueadas quando a arrecadação é reestimada para baixo nos relatórios bimestrais do Orçamento. Dessa forma, a legislação procura garantir o cumprimento da meta fixada para a poupança do ano.

PIB MAIS LENTO O relatório bimestral ainda reduz as previsões para o crescimento neste ano, de 0,9% para 0,5%, e, em 2015, de 3% para 2%. Ainda assim, trata-se de otimismo: o mercado prevê 0,2% em 2014 e 0,8% no próximo ano. A justificativa para o desempenho é a crise internacional. Argumenta-se no texto que outros países, como Estados Unidos, Japão, China e Índia, deverão fechar o ano com deficit nas contas públicas. O Brasil, porém, tem gastos com a dívida pública bem acima do padrão tanto dos países ricos como dos emergentes.

Nelson Barbosa é chamado para assumir Planejamento Presidente convida Alexandre Tombini a permanecer no Banco Central Escolha de Levy teve apoio de Lula e aval de Trabuco, primeira opção para a pasta; mercado reage bem Vera Magalhães, Andréia Sadi, Valdo Cruz, Mariana Haubert e Julia Borba DA EDITORA DO PAINEL DE BRASÍLIA

A presidente Dilma Rousseff convidou Joaquim Levy para assumir o Ministério da Fazenda e Nelson Barbosa para o Ministério do Planejamento. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, foi convidado para permanecer no posto. Os escolhidos aceitaram os convites para a equipe econômica, mas o governo decidiu adiar para a próxima semana o anúncio oficial. A ida de Levy para a Fazenda teve apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Teve também o aval do presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, primeira opção de Dilma para o lugar de Guido Mantega. Trabuco recusou o convite para atender ao pedido do presidente do Conselho de Administração do banco, Lázaro Brandão, que quer que o executivo o suceda. Com a postergação do anúncio, no entanto, assessores do Palácio do Planalto passaram a dizer que a presidente ainda pretende definir a área em que cada um atuará. As escolhas devem ser divulgadas até quinta-feira (27). O mercado reagiu bem à antecipação do convite a Levy, que foi secretário do Tesouro na equipe do ex-ministro Antonio Palocci e hoje é diretor-superintendente da Bradesco Asset Management. Nelson Barbosa, ex-secretário-executivo da Fazenda, atualmente é professor da Fundação Getulio Vargas. Durante a semana, Dilma conversou com os três futuros auxiliares separadamente. Ela ouviu cada um sobre os cenários econômicos de 2015 e todos concordaram que deve haver um ajuste fiscal no começo do ano. Continuação da Resenha Diária 22/11/14 9

Além disso, avaliaram que será um bom sinal ao mercado corte de despesas com seguro-desemprego, pensões por morte e abono salarial a fim de aumentar a economia feita pelo setor público para pagar juros da dívida. "Ela teve a sinalização de que haverá unidade na nova equipe", revelou um ministro. O governo deve divulgar na próxima semana um pacote fiscal para garantir economia de gastos de 2% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2015. Neste ano, o Tesouro deve fechar com deficit primário. Depois que a composição da equipe econômica vazou, primeiramente na Folha e depois nos demais jornais e sites, houve reação de setores do PT e do governo. Um dos principais conselheiros de Dilma na montagem do governo, Aloizio Mercadante (Casa Civil) é um dos que manifestam dúvida sobre a nomeação de Levy, considerado próximo do PSDB e de Armínio Fraga, que seria o titular da Fazenda num governo de Aécio Neves (PSDB). Pessoas próximas a Levy, no entanto, dizem que ele dificilmente deixará sua posição no Bradesco se não for para comandar a economia. Da mesma forma, o nome de Tombini é considerado de baixa densidade num momento em que a economia patina e o governo precisa emitir sinais de força para o mercado. "Seria transformar o Ministério da Fazenda de uma vez em secretaria", opinou um membro do governo.

SURPRESA Ontem, a Bolsa subiu cerca de 5% e o dólar caiu 2%, com a expectativa do anúncio da nova equipe. Meia hora antes de o mercado fechar, no entanto, o Planalto divulgou que o anúncio não ocorreria nesta sexta (21). Dilma quer divulgar o pacote completo'' na economia: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Agricultura e os bancos públicos, como Banco do Brasil e BNDES. Outra versão é que o Planalto quis esperar a votação do projeto de lei que altera a Lei de Diretrizes Orçamentárias no Congresso, o que permitirá o descumprimento da meta fiscal.

Escândalo na Petrobras Procurador pede que firmas sejam declaradas inidôneas Medida impediria empreiteiras de participar de licitações por até 5 anos Solicitação foi feita ao TCU e inclui oito das principais empresas de construção do país citadas na Lava Jato Rubens Valente, Aguirre Talento e Gabriel Mascarenhas DE BRASÍLIA

O Ministério Público junto ao TCU (Tribunal de Contas da União) requereu ontem (21) ao tribunal a declaração de inidoneidade de oito das principais empresas de construção civil do país, em decorrência das investigações da Operação Lava Jato. Na prática, a declaração impediria as empresas de participar de licitações ou fechar contratos com a administração pública federal por um prazo de até cinco anos. A proibição não atingiria as obras em andamento. O pedido foi endereçado pelo procurador junto ao TCU Júlio Marcelo de Oliveira ao ministro Augusto Sherman, responsável pelos casos no tribunal relativos à Petrobras. Segundo a assessoria do TCU, Sherman deverá submeter o assunto à área técnica do órgão e pedir informações à Petrobras. Em casos de maior repercussão, os ministros costumam submeter a decisão ao plenário do tribunal. Não há prazo para uma decisão final. O procurador pediu que o TCU determine à Petrobras que abra um procedimento administrativo interno, num prazo máximo de 30 dias, para declarar inidôneas as empreiteiras Queiroz Galvão, Mendes Júnior Trading Engenharia, Iesa Engenharia, Galvão Engenharia, Grupo Camargo Corrêa, Engevix Engenharia S.A., UTC Engenharia e Grupo OAS. Juntas, essas empreiteiras registraram uma receita bruta de pelo menos R$ 56 bilhões no ano passado e empregaram pelo menos 206 mil funcionários, segundo os balanços divulgados por essas companhias. Essas empresas têm contratos com órgãos da administração direta e principalmente com empresas estatais, como é o caso da Petrobras. A representação do procurador também solicita "a recomposição aos cofres da Petrobras dos valores pagos indevidamente aos envolvidos" e a "repactuação dos contratos para eliminar sobrepreço e corrigir os valores contratados". Segundo o procurador, a respeito das "empreiteiras e seus dirigentes, há provas significativas" na Operação Lava Jato, que tramita em Curitiba (PR), para investigar supostos desvios de recursos da Petrobras e pagamentos a agentes públicos em troca de contratos. "Afirmar que a declaração de inidoneidade pode parar o país e que não haveria mais empresas hábeis a realizar as necessárias obras públicas é puro exercício de terrorismo", escreveu Júlio Marcelo. Na quarta-feira passada (19), a presidente Dilma Roussef manifestou preocupação com a possível paralisação de grandes obras em razão da prisão dos executivos das empreiteiras. Procuradas, as assessorias de UTC, Engevix e Camargo Corrêa informaram que não iriam se manifestar sobre o assunto, mas que estão colaborando com as investigações. As demais não responderam.

Continuação da Resenha Diária 22/11/14 10

500 anos de corrupção Foco na corrupção passada tenta inocular-nos o soro da letargia, normalizando o escândalo em curso Demétrio Magnoli

De repente, como um raio no céu claro, o governo foi tomado por extraordinário interesse pela corrupção - no passado. Na Austrália, Dilma Rousseff ensaiou "listar uma quantidade imensa de escândalos no Brasil que não foram investigados". A historiadora amadora, porém, só fingia falar sobre o passado: "Talvez esses escândalos que não foram investigados sejam responsáveis pelo que aconteceu na Petrobras". Ah, sim!, trata-se, então, do presente. Governantes deveriam exercitar a prudência ao especular sobre corrupção em governos anteriores. Se têm conhecimento de denúncias fundamentadas, a lei os obriga a deflagrar uma investigação policial e judiciária. Se não o fazem, a fim de manipular halos de suspeita em seu benefício político, incorrem no crime de prevaricação. Os áulicos, por outro lado, não sendo autoridades, podem especular alegremente. Nesses dias de Lava Jato, é fácil identificá-los por seus frêmitos de indignação moral com a corrupção pregressa. O passado que preferem é o recente: o governo FHC. Do nada, adoradores do estatismo começaram a honrar a memória do incauto Paulo Francis privatista de 1996, submetido a processo intimidador depois de afirmar que "os diretores da Petrobras" constituíam "a maior quadrilha que já atuou no Brasil". Mas, num tour de force, os neo- historiadores da corrupção já se aventuram em tempos anteriores, reavivando a memória da ditadura militar, que converteu em potências a Odebrecht, a Camargo Corrêa, a Mendes Júnior e a Queiroz Galvão, além de servir de berço para a OAS e a UTC. Logo, sua ira santa nos conduzirá ao estouro da bolha do Encilhamento, sob Deodoro da Fonseca, e às aquisições de escravos traficados ilegalmente por Paulino José de Souza, então ministro do Exterior, no Segundo Reinado. O foco nos "500 anos de corrupção" não se destina a recordar que a corrupção nasceu antes de 2003, pois o óbvio dispensa explicação. A finalidade é entorpecer-nos, normalizando o escândalo em curso. Eles almejam dissolver a corrupção investigada na corrupção falada e o presente singular (a colonização partidária da Petrobras) no genérico histórico (a captura do poder público por interesses privados). Somos assim, sempre fomos, sussurram, inoculando-nos o soro da letargia, enquanto o ministro da Justiça critica a "politização" do escândalo (não a da Petrobras!). A corrupção mora na índole do povo brasileiro: "Cada um de nós tem um dedão na lama", assegura um célebre empresário, enquanto a presidente antecipa que pretende violar a lei sobre declaração de inidoneidade ("A gente não vai colocar um carimbo na empresa"). Não há lei que puna a corrupção da linguagem. Nos tempos bons, o lulopetismo anuncia-se como o Ato Inaugural: "Nunca antes na história deste país". Nos tempos ruins, exibe-se como vítima da Tradição: "Nunca foi diferente na história deste país". Mas a contradição sempre tem o potencial para se superar como dialética. Na Austrália, Dilma se esqueceu do tão recente "mensalão" para rotular o "petrolão" como o "primeiro escândalo da nossa história que é investigado". Os áulicos já a seguem (afinal, é para isso que existem), saudando o Ano Zero da guerra à corrupção. "Dilma agora lidera a todos nós", anuncia o empresário dos dedos sujos de lama - que, casualmente, tem como maior cliente a estatal Correios. A narrativa do Ano Zero descortina possibilidades ilimitadas. Dilma "não sabia de nada"? Esqueça. Nos 12 anos em que dirigiu a Petrobras diretamente (como presidente do Conselho de Administração) ou indiretamente (como ministra e presidente da República), os partidos da "base aliada" privatizaram a estatal, desviando dezenas de bilhões de reais. Não é que a Líder dos Imundos "não sabia". Sabia - mas, sábia, deixou a operação se alastrar para, no Ano Zero, pegar todos os bandidos juntos. Ah, bom!

Civilização ou barbárie Hélio Schwartsman

SÃO PAULO - Se instituições fortes são importantes para assegurar que as sociedades se mantenham estáveis e resistam a ataques predatórios de "free riders", elas se tornam um problema quando o objetivo e eliminar um comportamento destrutivo que já esteja arraigado. É bem este o caso do trote universitário em geral e das denúncias de abusos sexuais e morais na Faculdade de Medicina da USP em particular. Gostamos de pensar a medicina moderna como um feliz encontro do humanismo iluminista com o saber científico e a tecnologia do século 21, mas a verdade é que mesmo aí identificamos certos traços bárbaros de nossa espécie, como os ritos iniciáticos e a cultura da força que marcam os trotes e o tratamento dispensado aos calouros na faculdade paulista. Curiosamente, quanto mais elitista a instituição, mais brutais tendem a ser os procedimentos. O trote na medicina e na engenharia costuma ser bem pior do que o dos cursos de letras ou de matemática. O mesmo fenômeno se repete nas unidades de escol dos militares. É difícil acabar com esse tipo de cultura porque as próprias vítimas são muitas vezes participantes voluntários dos abusos. No afã de ser aceitos como membros plenos do grupo, calouros entregam-se entusiasmadamente aos trotes. Depois, quando veteranos, sentem-se no direito de reproduzir nos mais jovens os castigos que sofreram. Os responsáveis pelas instituições, que teriam o dever legal de pôr fim às piores práticas, tendem a ser lenientes. Além de serem eles mesmos produtos dessa cultura, tentam sempre preservar o nome da instituição, o que frequentemente exige fechar os olhos para coisas feias. A Igreja Católica vive o mesmo dilema em relação aos padres pedófilos. Continuação da Resenha Diária 22/11/14 11

Não importa, porém, quais sejam os impulsos ancestrais, no mundo de hoje essas instituições têm de fazer uma escolha entre a civilização e a barbárie. Voto na primeira.

Republicanos iniciam retaliação a Obama Deputados entram com ação contra subsídios da lei de saúde um dia após presidente anunciar reforma migratória Oposição ameaça reduzir o orçamento de agências, bloquear o governo e levar o presidente à Justiça Raul Juste Lores DE WASHINGTON

A oposição republicana endureceu o discurso contra o presidente Barack Obama em razão conta do decreto presidencial que evita a deportação de cerca de 5 milhões de imigrantes sem documentos. Em retaliação, deputados republicanos entraram com um processo contra os Departamentos de Saúde e do Tesouro em razão dos subsídios previstos pelo plano de saúde criado por Obama, apelidado de "Obamacare". "O presidente decidiu sabotar deliberadamente qualquer chance de reformas suprapartidárias que diz buscar", afirmou o presidente da Câmara dos Deputados, o republicano John Boehner, que chamou Obama de "rei". Boehner não deu mais detalhes do que seria feito, mas vários deputados republicanos sugeriram que vão aprovar leis que reduzam o orçamento das agências encarregadas de regularizar a situação dos imigrantes ilegais. Outros opositores falaram em interpelar o presidente na Justiça. Houve quem levantasse a possibilidade de impeachment de Obama. O deputado Stephen King, que visitou na sexta-feira (21) a fronteira com o México, disse que uma das opções era "fechar o governo" - termo usado para não se votar o orçamento no Congresso.

DECRETO As ameaças foram feitas antes de Obama assinar o decreto presidencial anunciado na quinta (20), que evita a deportação de imigrantes que estejam há mais de cinco anos no país e tenham filhos americanos ou com residência legal, desde que tirem uma certidão de antecedentes criminais e paguem impostos devidos. A decisão de Obama traz riscos políticos para os dois partidos. Para os democratas, a ideia de que o presidente está excedendo seus poderes constitucionais e oferecendo uma "anistia" aos ilegais para agradar um de seus eleitorados mais fiéis, o latino. A deputada republicana Michelle Bachmann, de Minnesota, ligada ao movimento ultraconservador Tea Party, disse na quarta (19) ao jornal Washington Post que Obama queria "aumentar o número de eleitores analfabetos do Partido Democrata". Mas várias lideranças republicanas admitem que podem se queimar se a "linha dura" do partido exagerar nas críticas ao presidente. O senador republicano Lindsey Graham, da Carolina do Sul, advertiu que, "se os republicanos exagerarem na reação, o caso será sobre nós, não sobre Obama". Segundo pesquisa do jornal Wall Street Journal e da rede de TV NBC, 48% dos americanos desaprovam a ação unilateral de Obama, enquanto 38% aprovam. Mas 57% apoiam um programa rumo à cidadania para os imigrantes sem papéis, número que sobe para 74% se incluídos antecedentes criminais e regularização de impostos devidos, como prevê o decreto. Em Las Vegas, Obama afirmou ter "autoridade para fazer o sistema mais justo". "Tem quem fale que é dura contra os ilegais, mas se aproveita para pagar salários mais baixos a quem é vulnerável e pode ser deportado", disse.

Hamas planejou matar chanceler, diz Israel Serviço de inteligência anuncia prisão de quatro palestinos por suposto plano de atacar Lieberman na Cisjordânia Conspiração foi frustrada por Shin Bet durante confrontos de Hamas e Israel em Gaza entre julho e agosto DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Israel prendeu quatro palestinos suspeitos de planejar matar o ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, com um foguete antitanque quando ele voltava para sua residência em uma colônia israelense na Cisjordânia ocupada, anunciaram autoridades israelenses na sexta-feira (21). A suposta conspiração foi frustrada durante os confrontos entre o grupo militante islâmico Hamas e Israel entre julho e agosto na faixa de Gaza, disse em um comunicado o Shin Bet, serviço de inteligência de Israel. O Shin Bet identificou três dos detidos como membros do Hamas e, citando suas confissões sob interrogatório, disse que eles esperavam matar Lieberman para "mandar uma mensagem para o Estado de Israel que levaria a um fim a guerra em Gaza". Os quatro palestinos vivem perto da colônia de Nokdim, onde Lieberman tem uma casa. Segundo o serviço de inteligência israelense, eles haviam realizado operações de monitoramento do comboio do chanceler e tentado obter armamento para atacá-lo. A revelação foi feita em meio ao aumento de tensão entre Israel e o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, que controla a Cisjordânia, após vários episódios de violência em Jerusalém. Continuação da Resenha Diária 22/11/14 12

O Hamas, que controla a faixa de Gaza, embora a região esteja formalmente sob o comando de Abbas, não confirmou nem negou as acusações de Israel. "Não temos informações sobre isso. No entanto, salientamos que líderes da ocupação que sejam responsáveis pela morte de crianças e de mulheres e pelo desrespeito a locais sagrados são alvos legítimos da resistência", disse o porta-voz do Hamas, Sami Abu Zuhri. O Shin Bet descreveu o suposto plano como um sinal de que o Hamas, que foi reprimido pelas forças de Abbas na Cisjordânia após a guerra civil palestina de 2007 em Gaza, está aumentando suas atividades no território e em Jerusalém Oriental. Militantes do grupo sequestraram e mataram três israelenses na Cisjordânia em junho, o que fez judeus retaliarem matando um jovem palestino em Jerusalém. Logo depois, teve início o confronto de 50 dias em Gaza.

Dilma acena ao mercado e deve anunciar Joaquim Levy para comandar Fazenda Novo governo. Expectativa é que nome do ex-secretário do Tesouro do governo Lula seja oficializado na semana que vem, assim como o do novo titular do Ministério do Planejamento, Nelson Barbosa; petistas mostram descontentamento com escolha da presidente Débora Bergamasco, João Domingos, Rafael Moraes Moura, Ricardo Della Coletta, Tânia Monteiro e Vera Rosa / BRASÍLIA

A presidente Dilma Rousseff escolheu o ex-secretário do Tesouro Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e montou uma equipe econômica de forma a agradar ao mercado. O Ministério do Planejamento será ocupado pelo ex- secretário executivo da Fazenda Nelson Barbosa e Alexandre Tombini deve continuar no Banco Central. Mas o anúncio da equipe, que era esperado ao longo do dia de ontem e ajudou a elevar o Índice Bovespa, foi deixado para uma data a ser definida. Ontem, o Palácio do Planalto chegou a pedir extraoficialmente aos jornalistas que ficassem preparados para uma entrevista coletiva a qualquer momento. No fim do dia, os repórteres foram avisados de que não haveria anúncio nenhum. Uma explicação para a frustrada confirmação da futura equipe econômica é preservá-la das “más notícias” esperadas para a próxima semana. Caberá a Guido Mantega – titular da Fazenda prestes a encerrar o ciclo mais longo à frente da pasta na história da República –dar explicações para a agenda negativa e evitar que seu sucessor enfrente desgaste antes mesmo de assumir o cargo. Na segunda-feira, o Banco Central vai divulgar a nota do setor externo no mês de outubro, com as transações e investimentos estrangeiros diretos recebidos pelo País. À noite, a Comissão do Orçamento tentará aprovar o projeto que muda a Lei de Responsabilidade Fiscal (LDO) e flexibiliza a meta de superávit primário, medida vista com ressalvas por parte dos economistas. Pela proposta, a União passaria a incluir investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o que deixou de arrecadar com os cortes de impostos como parte do esforço fiscal. E na quinta o Tesouro deve divulgar o resultado primário do governo central (Tesouro, BC e Previdência) em outubro, cujos dados não devem ser positivos. Continuação da Resenha Diária 22/11/14 13

Idas e vindas . Seja como for, o adiamento é mais um ruído na tentativa do governo de melhorar o diálogo com os agentes econômicos. Ontem, também surgiram os nomes dos futuros ministros da Agricultura e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, ambos sem confirmação oficial. No início da semana, Dilma convidou para a Fazenda o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco. Para viabilizar a escolha, a petista conversou com o presidente do conselho de administração do banco, Lázaro Brandão, que vem preparando Trabuco para lhe suceder no principal posto do Bradesco. A operação foi malsucedida e, mesmo preparada para o desgaste político de nomear um “banqueiro” após criticar o setor na campanha eleitoral, Dilma foi surpreendida pela recusa de Trabuco, que alegou seus compromissos com o Bradesco para rejeitar a Fazenda. A decisão de adiar a confirmação da equipe econômica causou surpresa até entre ministros e assessores da presidente. Não foi dada nenhuma explicação para a medida e tampouco uma data para o anúncio oficial. Apesar disso, segundo auxiliares da presidente, Levy, Barbosa e Tombini já vão começar a sondar nomes para suas respectivas equipes. ‘Mãos de tesoura’ . Um assessor chegou a citar reações no PT com a escolha de Levy. No partido, o ex-secretário do Tesouro tem o apelido de “Joaquim mãos de tesoura” por causa dos grandes cortes promovidos nessa função, no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. Na Fazenda, o comentário foi de que Mantega – com quem Dilma esteve à noite, na capelinha do Palácio do Alvorada – ficou magoado com a escolha de Levy, visto como contraponto à atual gestão. O ex-secretário do Tesouro é administrador de fundos de investimento do Bradesco e sempre foi defensor de uma política fiscal mais dura e ortodoxa que Mantega, hoje sem credibilidade no mercado. Quando foi secretário da Fazenda no Rio, entre 2007 e 2010, fez o Estado ser o primeiro do Brasil a ter o selo de grau de investimento da agência Standard and Poor’s (S&P) – um dos desafios da próxima equipe econômica será manter esse status para o País, hoje sob risco de ser perdido. Auxiliares da presidente também disseram que o adiamento seria uma “tática” para “testar” o nome de Levy no mercado e manter a Bolsa aquecida – foi registrada a maior alta em 3 anos. A definição da equipe econômica é só uma das questões a serem equacionadas por Dilma. No desenho da reforma ministerial, a presidente avalia se é melhor seguir com José Eduardo Cardozo na Justiça pelo menos no início do segundo mandato. A avaliação é de que o momento é “delicado demais” para mudar o ministério sob o qual está a Polícia Federal, responsável pela Operação Lava Jato.

CORRUPÇÃO NA PETROBRÁS. Versão oficial Ministro diz que corrupção é ‘cultural’ no Brasil Titular da Justiça, Cardozo afirma que País passa por processo ‘doloroso’ e critica cidadão que reclama dos políticos, mas comete ilícitos na vida privada Beatriz Bulla / BRASÍLIA

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, criticou ontem a “cultura social” brasileira, na qual “público e privado se misturam”, sugerindo que o comportamento da população está entre as “causas” da corrupção no País. De acordo com o ministro, a classe política é um “reflexo da sociedade” que, ao não distinguir o público e o privado, escolhe sem esse critério seus representantes “e depois os reprime sem olhar para si”. As afirmações foram direcionadas aos que criticam os atos de corrupção da classe política, mas cometem ilícitos na vida privada. “O mesmo empresário que por vezes protesta, e com razão, dos desmandos dos nossos governantes é aquele que quando chega um fiscal de renda diz: ‘Bem, como podemos acertar isto?’”, criticou. “Vivemos numa sociedade que até o síndico de prédio superfatura quando compra o capacho. E é o mesmo síndico que por vezes sai protestando dizendo ‘esses políticos’. Políticos eleitos por ele”, disse Cardozo, em evento da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB). Para o ministro da Justiça, pode-se dizer, ao mesmo tempo, que o Brasil vive e não vive uma República. As críticas dos brasileiros à corrupção entre os políticos, para Cardozo, são legítimas e a disseminação de práticas irregulares na sociedade não serve de desculpa para parlamentares e governantes que agem em desconformidade com a lei. “É evidente que temos que punir todos os corruptos, mas temos que atacar frontalmente as causas da corrupção.” O ministro lembrou situações desde a chegada dos portugueses ao Brasil para apontar que o País tem um “histórico” que mostra que a distinção entre o público e o privado “não vem na nossa origem”. “Ainda vivemos sob o peso dos nossos mortos. E estamos tentando aliviá-lo.” Cardozo defendeu o avanço na reforma política para superar os problemas atuais e disse ser favorável ao financiamento público de campanhas eleitorais. A forma atual do financiamento, para ele, é um ponto permanente de geração de corrupção. “Ou fazemos uma reforma política no Brasil ou continuaremos a conviver com uma mentalidade promíscua nas próximas décadas em relação a financiamento eleitoral e à forma na qual os nossos representantes são eleitos”, disse Cardozo. Lava Jato . Na saída do evento, questionado sobre os desdobramentos da Operação Lava Jato, que investiga suspeita de corrupção e pagamento de propinas na Petrobrás, Cardozo defendeu um “equilíbrio” para que eventual punição das empreiteiras envolvidas na investigação não impeça a continuidade de obras públicas no País. “É fundamental que quem praticou atos ilícitos seja punido, mas ao mesmo tempo temos que fazer com que a economia do País não seja atingida”, disse. Continuação da Resenha Diária 22/11/14 14

Para o ministro, a legislação brasileira permite a possibilidade de combinar “sanções duras e rigorosas com o saneamento necessário para que a vida econômica não seja atingida”. Na semana passada, o advogado de um dos investigados chegou a dizer que não se faz obra pública no Brasil “sem acerto”.

Presidente também atende à indústria e ao agronegócio Kátia Abreu, da CNA, e Monteiro, ex-CNI e senador do PTB, vão para pastas da Agricultura e do Desenvolvimento Ricardo Brito e Nivaldo Souza / BRASÍLIA

A decisão da presidente Dilma Rousseff de indicar os senadores Armando Monteiro (PT-BPE) e Kátia Abreu (PMDB-TO) para ocupar, respectivamente, os ministérios do Desenvolvimento (MDIC) e da Agricultura tem por objetivo reaproximá-la dos dois setores. Ao mesmo tempo, Dilma busca isolar o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), dos movimentos que costura para presidir a Casa Legislativa a partir de 2015. O convite feito por Dilma para Kátia Abreu irrita principalmente o PMDB da Câmara. Atual presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), ela vai ocupar um ministério que hoje é da “cota” dos deputados do partido, com aliados de Cunha integrando a pasta. A indicação não agradou à bancada peemedebista. Um dos integrantes disse que se a presidente fez isso, ela vai ter de dar a eles outro ministério para “compensar”. O ex-ministro Antônio Andrade (MG) teria saído da pasta em março com a promessa de Dilma de que ele indicaria um deputado para ser o titular da Agricultura em 2015, caso ele conseguisse uma boa vantagem eleitoral para a presidente em Minas. Andrade venceu a eleição mineira como vice na chapa do governador eleito (PT) e estaria trabalhando para emplacar o deputado Mauro Lopes (PMDB-MG) no ministério. A bancada peemedebista do Senado também não considera que ganharia mais uma pasta com a indicação de Kátia Abreu. A avaliação é de que a senadora reeleita é uma neófita na sigla – saiu do DEM e passou pelo PSD antes do PMDB – e não seria um “espaço” para a legenda. Um senador do partido definiu Katia como “um nome bom”, mas que seria da cota pessoal de Dilma. Atualmente, o PMDB tem cinco pastas: Minas e Energia, com o senador licenciado Edison Lobão; Previdência, com o também senador licenciado ; Agricultura, com Neri Geller; Turismo, com Vinícius Lages; e Aviação Civil, com Moreira Franco. No caso da escolha de Armando Monteiro, a intenção é tentar levar o PTB a apoiar uma candidatura à presidência da Câmara que será lançada pelo PT para tentar derrotar Cunha. O partido elegeu 25 deputados e terá três senadores a partir do ano que vem. Ao Estado, Monteiro reconheceu que o partido tem seu “peso” no Congresso. Sem entrar em detalhes, ele disse que, durante a conversa que teve com Dilma ontem, discutiu também a situação política atual. Para ele, porém, uma eventual confirmação sua para o MDIC, seria uma indicação da “cota pessoal” da presidente. / COLABOROU RICARDO DELLA COLETTA

No fio da navalha Marco Aurélio Nogueira

Há uma dissonância querendo crescer no Planalto. Ela dá o ar da graça mediante uma velha conhecida das esquerdas no mundo todo. Pode ser assim apresentada: quanto mais complexas parecem ser as tarefas do governo reeleito, mais deveriam as forças que o apoiam pressioná-lo a ir para a esquerda, ou seja, a radicalizar suas posições, seu discurso, suas políticas e suas alianças. Se o raio de manobra diminuiu, a melhor saída seria “empoderar” o governo pela via do movimento social, libertando-o dos gargalos que lhe impõem o sistema político e a estrutura econômica. Todos reconhecem, sem exceção, que ficou mais difícil a situação do governo, em que pese Dilma ter vencido a eleição. Há o megaevento da Petrobrás, cujos desdobramentos não se consegue prever, há o rombo nas contas públicas, a disputa pela presidência da Câmara, o crescimento econômico que não desponta e a inflação que persiste, a educação e a saúde a latejar, tudo isso combinado com a presença de uma oposição mais forte e a necessidade que o governo terá de formar nova maioria no Congresso sem se deixar levar pela chantagem excessiva do PMDB e de seus aliados. O governo estará obrigado a dedicar tempo e atenção à política, negociar mais e melhor, dialogar de verdade, buscar novas fontes de legitimação e recuperar o tempo perdido, fazendo tudo isso com uma marca clara de inovação. Não poderá simplesmente reproduzir o toma-lá-dá-cá que tem prevalecido nas relações Executivo-Legislativo ou a rotina das políticas assistencialistas dos últimos anos, que deverão ser sustentadas e consolidadas sem que sejam tidas como a única marca registrada da ação governamental. Se o governo forçar a mão, poderá perder parte de seus apoios e comprar briga com o mercado; sua base parlamentar, aliás, que operou em regime de engorda crescente ano após ano, bateu no teto. Se mantiver tudo como está, poderá terminar engessado e frustrar os eleitores que viram na reeleição da presidente a possibilidade de “mudar mais”. Caminhará, pois, no fio da navalha. Um Ministério “mais qualificado” é esperado tanto pelo mercado quanto pelo PT, mas por motivos distintos. Os operadores econômicos querem uma equipe que estabilize e promova crescimento, ao passo que o partido quer nomes que agreguem suas correntes e seus militantes, ajudando-os a permanecer no campo da mudança e do reformismo social. O País, por sua vez, espera que a presidente lhe apresente uma agenda para o futuro. Continuação da Resenha Diária 22/11/14 15

A “reforma política”, que está na ordem do dia, não poderá ser o principal recurso para enfrentar o furacão que se anuncia. Corrupção casa com financiamento eleitoral, mas tem mil tentáculos. Governos podem funcionar seja qual for o sistema de voto. E uma reforma política, por mais bem-sucedida que venha a ser, não produzirá efeitos imediatos nem sobre a dinâmica política, nem sobre a governabilidade, pouco servindo, portanto, para melhorar o desempenho governamental. O momento indica que o PT deve reposicionar-se. Sua direção nacional fala em “construir hegemonia na sociedade”. Se a expressão for bem traduzida, poderá significar que o partido dará maior atenção à elaboração de uma cultura que sirva de parâmetro para a educação política dos brasileiros, podendo até implicar maior questionamento das ações governamentais. Isso jogaria o PT mais no longo que no curto prazo, mais na guerra de posição que na guerra de movimento. O partido, porém, deseja atuar, “em conjunto com partidos de esquerda”, para desencadear um amplo processo de mobilização social. Como disse o governador Tarso Genro (RS) – defensor de uma reestruturação profunda do PT –, o partido “deve deixar de ser mero apoiador-espectador, excessivamente preocupado com cargos e espaços na máquina pública, para se tornar um partido apoiador-proponente, disputando os rumos do governo”. Sua proposta põe em xeque o sistema de alianças em vigor, o que significaria aumentar a distância do PMDB: “O governo da presidenta Dilma deve não só ser defendido da direita tradicional dos tucanos, mas também da direita que integra sua própria base parlamentar”. Cabe ao PT ser “o núcleo de sustentação mais coerente das medidas progressistas e democráticas do segundo governo Dilma”. Uma “frente de esquerda” voltou assim a frequentar os discursos petistas. O contraponto tem sido feito pelo ministro Gilberto Carvalho, um dos mais próximos do ex-presidente Lula. Para ele, o momento é de valorizar o diálogo tanto para “reunificar o País” quanto para sanar deficiências que se acumularam. Imprimir outro curso ao governo, corrigir falhas e erros, mas sem implodir a base parlamentar duramente construída, mantendo próximos e unidos todos os partidos que apoiam o governo, sem vetos. O PT da “frente de esquerda” distingue-se do PT do “diálogo” à direita, mas ambos se compõem: o governo governaria com a aliança à direita e o partido o pressionaria pela esquerda, ativando os movimentos sociais, numa espécie de “duplo poder”, o do governo e o do partido. Diante disso, três questões ficam em aberto. A primeira é se o diagnóstico acerta ao constatar a existência de forças e movimentos de esquerda para integrar uma frente como a pretendida; mesmo que existam, elas podem não ter disposição para atuar de modo unitário. A segunda é se a união dessas correntes encontraria respaldo efetivo no PT e ajudaria o governo. E a terceira tem que ver com o que a “frente de esquerda” fará com os democratas liberais e a esquerda democrática não petista. Se empurrá-los em bloco para a “direita”, estará praticando uma infâmia e turbinando as oposições. O mais razoável seria agregá-los ao “novo ciclo reformista” que se deseja inaugurar em 2015. Para isso, porém, a “frente de esquerda” precisaria ser convertida numa “frente democrática”, proposta para a qual a cultura petista majoritária não se mostra suficientemente preparada. Professor Titular de Teoria Política e Diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da UNESP

México reprime ato contra governo Protesto motivado pelo desaparecimento de 43 estudantes em setembro reuniu 30 mil e teve como alvo principal o presidente Peña Nieto Lourival Sant'Anna Enviado Especial Cidade do México

Na maior manifestação desde o desaparecimento de 43 estudantes no dia 26 de setembro, cerca de 30 mil pessoas ocuparam o Zócalo, a praça central da Cidade do México, e outros milhares se espalharam pelas ruas ao redor em um ato iniciado na noite de quinta-feira e concluído na madrugada de ontem. Muitos exigiram a saída do presidente Enrique Peña Nieto. Ele é acusado não só de omissão frente ao crime organizado e aos constantes massacres, mas também de corrupção. Pena Nieto enfrenta a insatisfação de sindicalistas e estudantes com suas reformas liberais. Uma “grevecivica” foi convocada para dia 1˚ de dezembro. Durante três horas, a manifestação transcorreu pacificamente, com apenas dez policiais federais observando discretamente de uma esquina do Palácio Nacional, sede do governo, que teve parte da porta principal queimada na última manifestação, dia 8. Às 20 horas (meia-noite em Brasília), cerca de 50 jovens mascarados tentaram forçar a passagem pela barreira de metal que protegia o palácio, lançando coquetéis molotov e pedras contra a porta recém-restaurada. Reforços policiais dispersaram o grupo com bombas de gás lacrimogêneo. Quinze pessoas – 12 rapazes e 3 moças – foram detidas, incluindo um chileno. Dois jovens ficaram feridos. Mais cedo, um dos oradores na praça havia pedido que os mascarados exibissem os rostos, um apelo para que não houvesse violência. Quando o grupo avançou contra o palácio, vários manifestantes tentaram dissuadi-los, sem sucesso. Antes do episódio, o clima na noite de quinta-feira estava descontraído, com grupos de dança indígena encenando rituais ao som de tambores no Paseo de la Reforma, que conduz a praça. Dois enormes painéis luminosos com as imagens de Pancho Villa e Emiliano Zapata, heróis da Revolução Mexicana (1910), que fazia aniversário na quinta-feira, adornavam o Zocalo. Chamava a atenção também o professor Ismael Padilla, que dá aula no ensino médio em Guadalajara. Vestido de revolucionario mexicano, com um grande “sombrero”, bigodes artificiais e o clássico pente de balas formando um “X” no torax, ele protestava não só contra os desaparecimentos, mas também contra a reforma na educação promovida por Continuação da Resenha Diária 22/11/14 16

Pena Nieto, que vincula os salários e contratações de professores ao seu desempenho. Eletricistas e trabalhadores do setor de telefonia também protestavam contra as privatizações. Os militares transferiram sua tradicional cerimônia de aniversário da revolução do Zocalo para um campo de equitação, para evitar confrontos. O tom mais belicoso foi o dos estudantes de Guerrero, onde os jovens desapareceram. Munidos de bastões de madeira e protegidos por capacetes e mascaras, eles gritavam: “Cuidado com Guerrero, Estado guerrilheiro”, numa referência a presença histórica de grupos armados no Estado, incluindo o Exército Popular Revolucionário (EPR), única guerrilha formalmente em atividade nos pais – embora seus últimos atentados, contra oleodutos da estatal do petróleo Pemex, tenham ocorrido em 2007. Alguns pais levaram seus filhos. Era o caso do médico Eric Reyes, de 38 anos, que veio com a mulher, Laura, de 28, e a filha Sofia, de um ano e sete meses, trazendo um cartaz que dizia: “Nossos filhos não merecem um narcogoverno”. Segundo Reyes, o caso dos 43 jovens “se une ao descontentamento geral por outros desaparecidos na guerra contra o narcotráfico, pela corrupção do governo, que só quer tapar a realidade, por todas as reformas e pela injustica”.

Senado da Colômbia interrogará general capturado pelas Farc Militar foi sequestrado à paisana e sem escolta; operação de resgate dele e de mais 4 prisioneiros começou na quinta-feira BOGOTÁ

O Senado colombiano cobrara explicações do general Ruben Dario Alzate, preso pelas Forças Armadas Revolucionarias da Colômbia (Farc) no domingo no Departamento (Estado) de Choco, assim que o comandante, o mais graduado militar a ser capturado pelo grupo guerrilheiro em 50 anos de conflito, for libertado. Ontem, as operações para a libertação do general e os outros quatro prisioneiros da guerrilha transcorriam em sigilo. De acordo com o senador Jimmy Chamorro, que preside a Segunda Comissão da Câmara Alta, na quarta-feira será apresentada a proposição. Alzate foi capturado, segundo as autoridades colombianas, quando supervisionava um projeto energético no Rio Atrato, em uma remota região rural de Quibdo, capital de Choco. O comandante militar viajava em uma lancha civil, sem uniforme e sem escolta, acompanhado do cabo Jorge Rodriguez e da advogada Gloria Urrego, que também foram aprisionados, no momento em que o trio havia desembarcado na margem do rio. Um soldado que conduzia a embarcação conseguiu fugir. A captura fez com que o presidente Juan Manuel Santos suspendesse as negociações de paz entre Bogotá e as Farc – que começaram há dois anos em Havana. No dia 9, os soldados Cesar Rivera e Jonathan Diaz foram capturados no Departamento de Arauca – e também deveriam ser libertados pelas operações em curso ontem. O parlamentar –do governista e direitista Partido Social de Unidade Nacional, liderado pelo presidente colombiano – quer saber porque o comandante quebrou o protocolo de seguranca, circulando à paisana e sem escolta pela região em que foi capturado. Além das Farc, atuam na zona o grupo guerrilheiro guevarista Exército de Libertação Nacional (ELN) e a quadrilha de traficantes “Cla Usuga”, formada por paramilitares de extrema direita desmobilizados entre 2003 e 2006. O senador Jose Obdulio Gaviria, do partido opositor Centro Democrático, qualificou de “ridícula” a convocação do general para depor, pois Alzate “é vítima das Farc” e estava “cumprindo ordens”. Juntamente com Alzate, autoridades do Ministério da Defesa deverão ser convocadas para explicar aos parlamentares as circunstancias da captura do comandante – que suscitaram suspeitas sobre a atividade do militar. Mau tempo . As autoridades colombianas afirmaram ontem que o clima chuvoso nas regiões em que os prisioneiros seriam libertados poderia atrasar as operações de resgate. “E altamente provável que se apresente nebulosidade que possa dificultar a navegação aérea”, disse o chefe de serviços e prognósticos do Instituto de Hidrologia, Meteorologia e Estudos Ambientais, Christian Uscategui. / EFE eAP

Justiça condena torturadores do pai de Bachelet SANTIAGO

A Justiça chilena condenou ontem dois coronéis reformados a prisão por torturar o pai da presidente Michelle Bachelet– o general Alberto Bachelet, que era leal ao presidente Salvador Allende, deposto pelo golpe militar de 11 de setembro de 1973. O pai da líder socialista morreu de ataque cardíaco, aos 50 anos, em 12 de marco de 1974, após um longo interrogatório em que foi torturado. O juiz Mario Carroza sentenciou Edgar Cevallos Jones a 2 anos de prisão e Ramon Caceres Jorquera, a 3 anos. O magistrado considerou os coronéis culpados por “crime de tortura” que resultou na morte do general Bachelet, acusado de traição pela ditadura de Augusto Pinochet. Depois de ser detido em uma prisão comum, o pai da presidente chilena, como outros servidores públicos que se opunham ao regime militar, foi levado periodicamente à Academia de Guerra para ser torturado. / REUTERS

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Bolsa tem a maior alta em 3 anos com a expectativa sobre equipe econômica Disparada. Com a informação veiculada na imprensa de que o economista de formação ortodoxa Joaquim Levy será nomeado ministro da Fazenda, a Bolsa subiu 5%, com alta de 11,89% nas ações PN da Petrobrás; dólar caiu 2,26% e fechou cotado a R$ 2,514 Clarissa Mangueira, Claudia Violante, Fernando Dantas e Renato Martins

A expectativa com a equipe econômica do segundo mandato de Dilma Rousseff impulsionou a Bolsa de Valores. Ontem, o Ibovespa – principal termômetro do mercado acionário – subiu 5,02%, para 56.084 pontos. Foi a maior valorização registrada desde 9 de agosto de 2011. O dólar também foi influenciado e fechou em queda de 2,26%. A moeda americana foi cotada a R$ 2,514. A alta expressiva do mercado de ações teve como pano de fundo a possível nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. Levy foi secretário do Tesouro no primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva e é um nome bem recebido pelo mercado financeiro. Atualmente, é diretor-superintendente da Bradesco Asset Management. Levy se tornou o plano B de Dilma, depois das informações publicadas pela imprensa de que o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, teria rejeitado o posto de ministro. “O mercado estava precificando o Trabuco e agora está precificando o Levy”, afirmou um experiente economista- chefe e sócio de uma gestora de recursos. “O Levy é um técnico acima de qualquer suspeita, PhD em Chicago (universidade de pendor ortodoxo e liberal em Economia), e foi um bom secretário do Tesouro, que cumpriu as metas fiscais (contas públicas).” Além do Ministério da Fazenda, Dilma teria sinalizado outras mudanças na equipe econômica. Nelson Barbosa, ex-secretário executivo da Fazenda, poderá assumir o Ministério do Planejamento. Carlos Hamilton, diretor de Política Econômica do Banco Central, deve deixar a instituição para ocupar a Secretaria do Tesouro no lugar de Arno Augustin. Alexandre Tombini deverá permanecer na presidência do BC. O anúncio da nova equipe econômica era esperado para ontem, mas foi adiado, segundo fontes do Planalto. Não há detalhes sobre o motivo de Dilma deixar a divulgação para depois. A alta na Bolsa foi generalizada, mas atingiu sobretudo os papéis das empresas estatais. As ações preferenciais da Petrobrás encerraram em alta de 11,89%. Os papéis ordinários do Banco do Brasil e da Eletrobrás avançaram 8,32% e 7,03%, respectivamente. Exterior . As informações econômicas da China também ajudaram a impulsionar o Ibovespa. De forma surpreendente, o governo chinês anunciou um corte na taxa de juros – o primeiro desde julho de 2012. Com a notícia, os preços das empresas vendedoras de commodities foram estimulados, com destaque para Vale e mineradoras europeias. O mercado acionário internacional ainda foi impulsionado pela declaração do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi. Ele afirmou que a instituição está preparada para expandir o programa de estímulos econômicos. A Bolsa de Londres fechouemaltade1,08%, a de Frankfurt avançou 2,62% e a de Paris subiu 2,67%.

São Luiz repete polêmica de Belo Monte Informações e laudos técnicos sobre o projeto de usina no Rio Tapajós no Ibama já acumulam mais páginas do que o da hidrelétrica do Xingu André Borges / BRASÍLIA

Está longe o dia em que a hidrelétrica de São Luiz do Tapajós começará a produzir seus primeiros megawatts, como deseja o governo, mas seu projeto já foi suficiente para gerar um amontoado de 15 mil páginas de informações e laudos técnicos empilhados em dezenas de blocos, na sede do Ibama. A papelada que trata do licenciamento ambiental da hidrelétrica é recorde nas prateleiras do órgão ambiental e supera até mesmo o volume enciclopédico acumulado no conturbado processo de Belo Monte, que somou 12 mil páginas. Uma força-tarefa foi montada pelo Ibama para cuidar do caso. Nove analistas ambientais foram deslocados para analisar exclusivamente a viabilidade socioambiental daquela que tem a ambição de ser última grande hidrelétrica erguida no País. Com 8.040 megawatts, seria a primeira barragem no Rio Tapajós, no Pará, um dos principais afluentes do Rio Amazonas. Apesar da mobilização em torno do projeto, o Estado apurou que os levantamentos de dados encaminhadas pelo Grupo de Estudo Tapajós, formado por gigantes do setor elétrico e empreiteiras, não têm atendido a todas exigências do Ibama. Demandas de informações complementares e mais aprofundadas serão entregues pelo órgão ambiental aos responsáveis pelos estudos. A avaliação do relatório de impacto ambiental de São Luiz do Tapajós teve início em maio. No dia 17 de setembro, o governo chegou a anunciar que o leilão da usina seria feito ainda neste fim de ano. No dia seguinte, porém, o Ministério de Minas e Energia voltou atrás e cancelou oficialmente o plano. Cronograma . Para que o projeto da usina possa ser leiloado, é preciso que o governo obtenha a licença prévia ambiental. Trata- se de regra do setor elétrico, para dar mais segurança ao investidor que vencer o leilão. Hoje, porém, São Luiz é um empreendimento sem cronograma definido, apesar do desejo do Ministério de Minas e Energia de ver a hidrelétrica contratada em 2015. Na prática, porém, não há previsão no Ibama sobre quando a licença prévia será emitida, ou nem mesmo se ela é, de fato, viável. As audiências públicas, que devem ser realizadas em povoados e municípios da região para discutir o assunto, ainda não têm data nem local definidos. Continuação da Resenha Diária 22/11/14 18

Paralelamente à complexidade socioambiental de São Luiz, corre ainda o processo que trata dos impactos a terras e comunidades indígenas, um capítulo à parte na história da usina e que ainda deve render muita discussão. A Fundação Nacional do Índio (Funai), que no início de outubro já havia concluído pela inviabilidade do empreendimento, por causa das interferências em terras e aldeias, ainda não enviou seu parecer ao Ibama, a quem cabe dar um posicionamento final sobre a obra. Protesto . No próximo dia 27, está prevista uma manifestação na comunidade de São Luiz, próxima ao município de Itaituba, cerca de 70 km abaixo do local do rio previsto para a barragem. A manifestação é liderada pelo padre Edilberto Sena, ligado ao Movimento Tapajós Vivo. Envolta em polêmicas, a hidrelétrica acumula mais de quatro anos de atraso em relação ao cronograma original. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que chegou a programar o início de operação da usina para janeiro de 2016, agora estima que isso só vá ocorrer em agosto de 2020. Dos 18 novos projetos hidrelétricos previstos para entrar em operação entre 2019 a 2023 – um conjunto de usinas que soma 14.679 MW –, a São Luiz representa sozinha 55% de toda essa energia. O investimento previsto é de R$ 30 bilhões.

CONGRESSO Supersalários de volta à Câmara A três meses de deixar a Casa, autoriza pagamentos acima do teto, de R$ 29,4 mil, contrariando decisão do STF Julia Chaib, Naira Trindade, Amanda Almeida e Eduardo Militão

A Câmara dos Deputados voltou a pagar salários acima do teto constitucional para servidores. Embora o Supremo Tribunal Federal (STF) tenha determinado o corte imediato da remuneração de todos os funcionários públicos que recebam acima de R$ 29,4 mil por mês, o presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), liberou o pagamento dos chamados supersalários no contracheque de novembro, com direito até ao retroativo pelo que esses funcionários deixaram de receber no mês anterior. O movimento do peemedebista ocorre a três meses de deixar a Presidência da Câmara e pouco tempo depois de ser derrotado nas eleições ao governo do Rio Grande do Norte. Apesar de ter obedecido a decisão do STF em outubro — em meio ao segundo turno da disputa eleitoral —, Alves agora mudou de ideia e argumenta que o acórdão com o entendimento da Corte precisa ser publicado para que a Câmara corte os supersalários. O STF tem 60 dias, a partir do julgamento, para publicar o acórdão. Esse prazo expira em dezembro. Caso seja provocada até lá, a Corte pode avaliar se Alves age ilegalmente ao não suspender os pagamentos. A decisão do presidente da Câmara foi publicada no Boletim Administrativo interno na última segunda-feira. O peemedebista alega que acatou o recurso da Associação dos Consultores Legislativos e de Orçamento da Câmara (Aslegis) à Casa. “De fato, verifico que a Suprema Corte não publicou o acórdão referido na decisão combatida, de modo a se ter, com exatidão, compreensão sobre seu alcance. Observo ainda que pende de resposta do ministro Marco Aurélio (Mello), indagação anteriormente formulada sobre a questão do foro administrativo competente para a apreciação das defesas apresentadas pelos interessados”, diz o texto assinado pelo peemedebista.

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Controvérsia A polêmica em torno dos salários no Congresso se arrasta desde 2013. Em outubro do ano passado, um acórdão do Tribunal de Contas da União (TCU) determinou que nenhum funcionário público deve receber acima do teto constitucional. Um processo administrativo foi instaurado e a Mesa Diretora concluiu pelo cumprimento imediato da determinação e o corte dos supersalários até fevereiro deste ano, quando o ministro do Supremo Marco Aurélio Mello atendeu ao recurso do sindicato da categoria e decidiu pela suspensão do corte até que funcionários da Casa enviassem explicação sobre a remuneração à direção. Marco Aurélio não foi encontrado para comentar o assunto. Os pagamentos acima do teto, então, foram retomados entre março e setembro. E novamente suspensos no mês passado, por causa da decisão do STF. Parte dos funcionários da Câmara voltou a receber acima do teto na semana passada, depois da decisão de Alves. Levantamento no qual o TCU se baseou para determinar o corte identificou que 1.341 servidores recebiam valores acima do teto constitucional. A folha da Câmara consumia R$ 2,5 bilhões anuais, dos quais 18,75% (R$ 517 milhões) correspondiam a pagamentos irregulares. Henrique Eduardo Alves não foi localizado para comentar a reportagem. A decisão do STF se deu em julgamento de recurso apresentado pelo governo de Goiás contra decisão do Tribunal de Justiça do estado, que manteve salários superiores ao teto para um grupo de servidores aposentados. O recurso teve repercussão geral reconhecida, o que significa que todos os juízes do país terão de seguir o entendimento.

LAVA-JATO Apostas arriscadas de Dilma para aliados As escolhas de Armando Monteiro e Kátia Abreu para o governo são uma tentativa da presidente de mostrar que não está refém das denúncias na Petrobras. Nomes, contudo, passam longe da unanimidade Paulo de Tarso Lyra e Grasielle Castro

Embora tenha adiado o início da reforma ministerial, a presidente Dilma Rousseff convidou ontem dois nomes políticos de peso para compor a sua futura equipe de trabalho: o senador Armando Monteiro Neto (PTB-PE) para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic) e a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) para o Ministério da Agricultura. Com isso, a presidente tenta passar o recado de que as pastas políticas não ficarão refém da Operação Lava-Jato e da lista de parlamentares envolvidos nas denúncias de corrupção na Petrobras, o que poderia adiar a formação do novo governo para depois de janeiro. Pelo movimento da petista, isso não deve ocorrer. Monteiro e Kátia, embora não sejam unanimidades nas legendas às quais são filiados nem nos setores que, em tese, representam, são considerados pelo Planalto nomes representativos para estabelecer um diálogo com empresários e ruralistas. Além disso, tiveram papel preponderante durante a corrida eleitoral: o petebista concorreu ao governo de Pernambuco, ao lado do PT; e a peemedebista comprou a briga por Dilma Rousseff junto de representantes do agronegócio, avessos à presidente e declaradamente simpatizantes à candidatura do tucano Aécio Neves (PSDB-MG). No caso de Armando Monteiro, há ainda uma outra questão: Dilma sinaliza com gratidão a Pernambuco, estado que lhe deu quase 2 milhões de votos de vantagem sobre Aécio no segundo turno das eleições, apesar da família do ex- governador Eduardo Campos ter declarado apoio ao presidenciável tucano. Interlocutores pernambucanos, contudo, pontuam que Monteiro, apesar de hábil, tem pouco trânsito com os empresários que comandam o PIB nacional. Os representantes da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) e da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) são rompidos com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que foi presidida por Monteiro por oito anos durante o governo Lula. Já a senadora Kátia Abreu, que foi presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), é amiga pessoal da presidente da República e sempre teve seu nome especulado para assumir o Ministério da Agricultura. A proximidade entre ambas foi intensificada após a senadora deixar o DEM e filiar-se ao PSD, a convite do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab — que também é apontado como ministeriável. Em 15 de dezembro, ela toma posse em seu segundo mandato como presidente da CNA, mas se licencia em seguida para assumir o ministério em janeiro. A ida de Kátia para o PMDB foi a convite do atual vice-presidente Michel Temer, o que gera ciúmes na legenda. Por ser neopeemedebista e amiga pessoal da presidente, ela é vista como uma estranha no PMDB, que tende a não se considerar contemplado na reforma com a indicação da senadora por Tocantins. Além disso, o Ministério da Agricultura pertencia à Câmara no primeiro mandato. Por fim, alguns ruralistas acham que Kátia esgarçou demais as relações defendendo a presidente durante a campanha, o que pode dificultar uma retomada de diálogo com os representantes do setor.

Jaques Wagner Armando foi convidado oficialmente ontem, durante encontro no Palácio da Alvorada com a presença do atual ministro da pasta, Mauro Borges, que deixará o governo para assumir um cargo no governo de Fernando Pimentel, em Minas Gerais. A presidente já havia conversado com ele por telefone dias atrás, tão logo retornou da reunião do G20, em Brisbane, na Austrália. Com a escolha de Armando Monteiro para o Mdic, a presidente Dilma Rousseff precisa pensar em outras alternativas para encaixar o governador da Bahia, Jaques Wagner. Em um encontro informal no Palácio da Alvorada no dia seguinte à vitória eleitoral, Dilma confessou ao petista que “quero você mais pertinho de mim”. A frase foi interpretada como uma sondagem para um ministério no núcleo palaciano. Mas Dilma não pretende tirar Aloizio Mercadante da Casa Civil. Para substituir Gilberto Carvalho na Secretaria- Geral da Presidência, o nome praticamente certo é de Miguel Rossetto, que coordenou a campanha presidencial da Continuação da Resenha Diária 22/11/14 20 petista. Sobraria a Secretaria de Relações Institucionais (SRI), mas o atual titular, , deve permanecer por ter experiência em lidar com o PMDB da Câmara, liderado por Eduardo Cunha (RJ). Mesmo assim, ninguém consegue imaginar um desenho na Esplanada sem a presença de Jaques Wagner. E em uma pasta importante. Ontem, o governador reuniu-se em Salvador com o secretário de Portos, César Borges, e o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, para discutir investimentos no Porto Sul, em Ilhéus. O encontro despertou o receio do PR, que se esforça para não perder o direito de indicar o sucessor de Paulo Sérgio Passos no principal ministério ligado às obras de infraestrutura.

LAVA-JATO MP quer barrar contrato de empresas com governo Pedido enviado ao TCU atinge oito empreiteiras, que poderão ficar proibidas de participar de licitações por até cinco anos Amanda Almeida

O Ministério Público de Contas quer que o Tribunal de Contas da União (TCU) considere inidôneas as oito empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato. O procedimento impediria essas empresas de participar de licitações na administração pública federal por até cinco anos. A representação, assinada pelo procurador de Contas Julio Marcelo de Oliveira, é baseada nas investigações da Lava-Jato. “No âmbito administrativo, há que se ter a celeridade necessária para que o patrimônio público seja recomposto e as sanções aos infratores da lei, aplicadas”, ressalta o procurador. O documento foi entregue ao ministro Augusto Sherman, responsável pelos casos relativos à Petrobras. O ministro não tem prazo para levar o pedido ao plenário do Tribunal. As empresas que podem ser atingidas pela medida são Camargo Correa, OAS, UTC, Queiroz Galvão, Engevix, Mendes Júnior, Galvão Engenharia e Iesa. De acordo com a Polícia Federal, essas empreteiras e a Odebrecht têm contratos com a Petrobras que somam R$ 59 bilhões. A Operação Lava-Jato investiga suposto envolvimento das empreiteiras no esquema de pagamento de propina a agentes públicos em troca de contratos com a Petrobras. O procurador de Contas pede ainda que a estatal tenha 30 dias para tomar providências para “recomposição” aos cofres da empresa dos valores pagos indevidamente aos envolvidos. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, defendeu ontem que haja “equilíbrio” para que a eventual punição das empreiteiras não afete obras em andamento. “É fundamental que quem praticou atos ilícitos seja punido, mas ao mesmo tempo temos que fazer com que a economia do país não seja atingida”, disse Cardozo. Ontem, a defesa do vice-presidente da empreiteira Mendes Junior, Sérgio Cunha Mendes, pediu que ele seja solto. Na petição, o advogado anexa o depoimento dele à Polícia Federal. Mendes negou participação no esquema e disse desconhecer a existência de cartel para participar de licitações da Petrobras. Embora tenha negado envolvimento nos crimes investigados, Mendes admitiu que pagou R$ 8 milhões em propina para o doleiro Alberto Youssef na época em que foi fechado contrato para obras da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), em Araucária, no Paraná.

Depoimento Ontem, o juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava-Jato, decretou a prisão preventiva do empresário Fernando Antonio Falcão Soares, conhecido como Fernando Baiano. Ele estava preso temporariamente e seria solto hoje. Baiano, apontado pelas investigações como o operador do PMDB no esquema, depôs à PF ontem. De acordo com a defesa dele, o empresário negou ter relações com o partido. Ele relatou que começou a fechar contratos com a Petrobras no governo Fernando Henrique Cardoso, segundo o jornal O Estado de S. Paulo. “Por volta do ano de 2000, ainda durante a gestão Fernando Henrique, celebrou um contrato com uma empresa espanhola, de nome Union Fenosa, visando a gestão de manutenção de termelétricas”, relata a descrição do depoimento. Baiano afirmou ainda que Youssef pediu a ele que “fizesse doações para campanhas políticas”. O empresário se apresentou à PF esta semana, embora a prisão dele tenha sido decretada na sexta-feira passada. Ele admitiu que mantém duas contas em um paraíso fiscal. O criminalista Fábio Tofic Simantob disse à Justiça Federal que o engenheiro Gérson de Mello Almada, vice- presidente da Engevix Engenharia e alvo da PF, fez remessas de valores para os Estados Unidos em 13 de novembro, um dia antes da sétima fase da Lava-Jato. De acordo com o advogado, as operações foram declaradas pelo Banco Central e são para ampliação de um hotel nos Estados Unidos mantido por uma filha americana do empresário. O ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou um pedido de liberdade feito pela defesa de Agenor Franklin Magalhães Medeiros, diretor internacional da OAS, e de José Ricardo Nogueira Breghirolli, funcionário da construtora. Um dos presos, Eduardo Leite, da Camargo Correa, passou mal ontem e teve de ser levado ao hospital.

Continuação da Resenha Diária 22/11/14 21

Resgate da confiança é vital Antonio Temóteo

Os desafios dos novos integrantes da equipe econômica do governo Dilma Rousseff não serão triviais. Joaquim Levy, Nelson Barbosa e Alexandre Tombini terão que domar a inflação, tirar a economia do atoleiro, resgatar a confiança de empresários e investidores, reduzir o rombo das contas externas e colocar em ordem as contas públicas. Para dificultar ainda mais a missão do trio, a crescente ameaça de aumento do desemprego poderá atormentar o país no próximo ano. O ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e vice-presidente do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Marcos Lisboa, alerta que o país não cria vagas há pelo menos um ano. Ele ressalta que o temor do aumento da taxa de desocupação ganhou força após o Ministério do Trabalho e Emprego divulgar que em outubro o número de demissões foi maior do que o de contratações com carteira assinada. “Além disso, os brasileiros têm optado por não trabalhar. A população em idade economicamente ativa cresce, mas menos pessoas buscam um posto no mercado”, diz. Lisboa ainda comenta que o ajuste fiscal dependerá muito mais de uma ação coordenada entre os ministérios do que de uma canetada do chefe da Fazenda. Ele menciosa como uma das ações necessárias o corte de subsídios concedidos aos bancos oficiais que cresceram de maneira exponencial nos últimos anos. “Essa agenda também passa pelo Legislativo porque requer medidas legais e boa parte delas não está na alçada do ministro que comanda a economia”, afirma. Para o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, a equipe econômica terá de mudar radicalmente a política fiscal em meio a um cenário de baixo crescimento e inflação em alta. Ele avalia que o desafio será ainda maior porque essa mudança precisa preservar os ga-nhos sociais das últimas décadas. “O governo tentou ser o indutor do crescimento e não foi bem-sucedido. A casa precisa ser arrumada para que o setor privado desperte o espírito animal. Isso possibilitará um ajuste menos doloroso”, pondera. Rostagno ainda destaca que o Banco Central terá a dura missão de trazer o índice que mede a carestia para o centro da meta mesmo com as expectativas de que o indicador permaneça acima do teto de tolerância, de 6,5%. Os analistas preveem que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) terminará o ano em 6,4% e registre o mesmo resultado em 2015. “O mercado não vê uma convergência da inflação para patamares abaixo de 6% sem que o arrocho não gere recessão”, projeta.

Crescimento Na opinião do economista-chefe do Banco J. Safra, Carlos Kawall, além dos desequilíbrios nas contas externas, o deficit nominal deve crescer 5 pontos percentuais e a dívida bruta pode fechar o ano em 62% do Produto Interno Bruto (PIB). Ele explica que o descontrole nos gastos públicos e o abandono do superavit primário aumenta as ameaças de rebaixamento do grau de investimento da economia brasileira. “A recuperação da política fiscal é viável nos próximos dois anos e isso sinaliza ao mercado que o país é confiável. Deixar de fazer esse ajuste terá uma implicação terrível para a economia”, alerta. O professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) José Luis Oreiro comenta que a principal missão da nova equipe econômica será colocar o país nos trilhos do crescimento. Ele define como medíocre o desempenho do PIB no primeiro mandato de Dilma, mas acredita que seja possível mudar esse quadro. “Para que a expansão da economia varie entre 3,5% e 4% entre 2017 e 2018 será necessário fazer fortes ajustes e o primeiro deles é nas contas públicas”, aponta. O mercado estima que o país crescerá apenas 0,21% em 2014 e somente 0,8% em 2015. Oreiro ainda defende que com uma política fiscal austera e um superavit que deve correspoder a 1,5% do PIB será possível levar o dólar para um patamar de R$ 3, mais favorável a indústria e a exportações. “Com essas medidas é possível desvalorizar o real sem gerar pressões inflacionárias e recolocar a economia no caminho do crescimento econômico”, diz. Na avaliação da economista do Banco ABC Brasil Mariana Hauer, o cenário econômico ainda é incerto. Diante das indefinições, ela projeta crescimento do PIB de 0,3% este ano, e de 0,5%, em 2015. “Estamos considerando um ajuste fiscal moderado a partir do próximo ano, e uma taxa de juros básica em 12,%.”

CONJUNTURA China corta taxas de juros Banco central do país tenta estimular o crédito para conter a desaceleração da economia, que terá em 2014 a menor expansão em 25 anos

Pequim — Preocupado com a desaceleração da economia do país, que deve ter em 2014 a expansão mais baixa em quase 25 anos, o banco central da China anunciou ontem a redução da taxa básicas de juros num esforço para criar um clima mais favorável ao crescimento. Os juros para empréstimos de 365 dias do BC chinês foram cortados em 0,40 ponto percentual, para 5,60% ao ano, com o objetivo de estimular as instituições financeiras a ampliar o crédito ao setor produtivo. A decisão surpreendeu os analistas, já que as autoridades chinesas vinham optando por aumentar os gastos públicos para apoiar o crescimento econômico, que, ao que tudo indica, não deverá atingir a meta de 7,5% estabelecida Continuação da Resenha Diária 22/11/14 22 pelo governo. Os dirigentes da segunda maior economia do mundo afirmavam também que poderiam tolerar um ritmo de atividade um pouco mais lento, desde que não houvesse recuo na oferta de emprego.

Perigos Algumas semanas atrás, o presidente do país, Xi Jinping, havia garantido a líderes empresariais de todo o mundo que o risco enfrentado pela economia não era “tão assustador”, e que o governo estava confiante de que poderia controlar os perigos. O anúncio do Banco do Povo da China, nome oficial da autoridade monetária pode indicar, contudo, que a situação não é tão confortável, segundo observadores. O último corte de taxas promovido pelo governo foi em julho de 2012. A nova redução ocorre em um momento em que a atividade industrial caiu em estagnação, e o mercado imobiliário, há muitos anos um pilar de crescimento, permanece fraco. “A indústria está ficando perigosamente perto da contração”, disse o analista-chefe do grupo financeiro IG, Alexandre Baradez. Para o analista, a autoridade monetária chinesa está seguindo o mesmo caminho dos bancos centrais dos Estados Unidos, da Europa e do Japão, que montaram políticas expansionistas para encorajar os negócios. “Eles estão realmente direcionando os mercados”, disse Baradez. A coincidência de estratégias indica ainda que o mapa das dificuldades econômicas está se ampliando. “Definitivamente, há mais preocupação sobre o estado da economia global do que há alguns meses, você vê isso não apenas quando se fala sobre a Europa”, disse o ministro das Finanças britânico, George Osborne, a uma plateia de líderes empresariais em Londres na semana passada. Além de reduzir o juro básico dos empréstimos, o BC chinês cortou em 0,25 ponto percentual, para 2,75%, a taxa de depósito de um ano — valor que remunera os recursos que os bancos mantêm na autoridade monetária. Além disso, concedeu maior flexibilidade às instituições, permitindo que elas ofereçam aos depositantes juro equivalente a 1,2 vez a taxa de referência. Muitos analistas, contudo, têm dúvidas sobre se esses movimentos vão se traduzir em diminuição dos custos de financiamento e em mais crédito para empresas chinesas. Eles ponderam que a economia enfraquecida torna os credores mais avessos ao risco. Por isso, acreditam que novos cortes de juros serão necessários no ano que vem.

Mais liberdade financeira Em comunicado divulgado após o corte das taxas de juros, o banco central chinês informou que vai liberar mais as taxas de juros no país, permitindo que companhias e indivíduos vendam certificados negociáveis de depósitos. No comunicado, o BC afirmou também que a economia ainda cresce a uma velocidade razoável e que não há necessidade de usar qualquer medida agressiva para estimular a atividade.

VISÃO DO CORREIO Acordo nuclear com Irã não pode caducar

O mais provável sobre a data fatal para o fechamento do acordo nuclear com o Irã, cujo prazo termina na segunda-feira, é que ela seja adiada. Seria mais sensato do que dar por encerradas as negociações. De um lado, Alemanha, China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia querem que a República Islâmica renuncie à produção de armas atômicas. De outro, o país asiático assegura não ter a intenção de fabricar bombas. Mas a aparente confluência de propósitos das partes ainda não evoluiu para um compromisso concreto. Isso, apesar de, desde novembro de 2013, estar em vigor acerto provisório — o máximo a que se conseguiu chegar, depois de anos de tentativas. Na ocasião, Teerã comprometeu-se a congelar as atividades nucleares, enquanto as seis potências assumiram a contrapartida da retirada paulatina das sanções internacionais impostas pelo Ocidente. Agora, prevalece a cisma de lado a lado, situação de insegurança indesejada pela humanidade, cujo esforço para reduzir o arsenal atômico carece de avanços significativos. Seria paranoia imaginar a explosão das tensões nesta segunda-feira, com imediata intervenção externa. Mas o horizonte para o acerto fica cada dia mais curto. E a ansiedade, maior. É que Barack Obama perde musculatura na mesma proporção em que se fortalecem os republicanos, bastante mais chegados a uma guerra. Nesse meio tempo, o fim do mandato democrata rapidamente se aproxima. Pode até acabar antes de terminar, da forma que o anedotário político costumou retratar na figura da copeira que se recusa a servir café ao chefe esvaziado de poder. Até onde vai a tolerância com o Irã é, pois, a questão presente. Mas, antes dela, vem outra: se o país de fato não tem a pretensão de produzir arma nuclear, qual a razão de resistir a assumir compromisso definitivo — a ser supervisionado pela Agência Internacional de Energia Atômica — com o enriquecimento de urânio abaixo do limite de 20%, suficiente para a geração de energia, mas aquém do necessário para a fabricação da bomba? Se a resposta for a falta de confiança em organismos multilaterais dominados pelo Ocidente, há que encontrar saída satisfatória, capaz de atender ao imperativo da paz mundial e simultaneamente preservar segredos de Estado. Nesse caso, cabe ao mundo ocidental garantir a própria credibilidade. Aliás, a reforma do Conselho de Segurança da ONU é tema sistematicamente protelado, contribuindo para dar eco ao discurso ancorado na defesa da soberania, argumento que seria facilmente anulado num fórum internacional insuspeito. No âmbito restrito das negociações em andamento, pode-se dizer que a disposição ao diálogo vem sendo mantida. Pede-se um pouco mais de vontade política. A hipótese de novo acerto provisório, alongando o prazo, evitaria deixar que o acordo vigente — hoje, a dois dias da data de vencimento — caduque, mas não que o problema se agrave. Numa região conflituosa, cujas fronteiras fazem divisa com o Afeganistão, o Paquistão e o Iraque, e na qual a organização terrorista Estado Islâmico tenta fundar um califado, energia nuclear é assunto para lá de delicado. Continuação da Resenha Diária 22/11/14 23

A maldição André Gustavo Stumpf, Jornalista

Nestes tempos estranhos de escândalos na Petrobras é necessário entender melhor o assunto por meio da leitura de um livro de quase mil páginas cujo título é O petróleo, uma história mundial de conquistas, poder e dinheiro, de Daniel Yergin, Editora Paz e Terra. Por intermédio de uma pesquisa séria, profunda e sistemática, o autor demonstra que a descoberta do chamado ouro negro moldou o mundo ocidental, criou países, inventou guerras, produziu fronteiras e tornou a convivência no Oriente Médio no caos que hoje é facilmente perceptível. O petróleo e seus muitos derivados movimentam a economia mundial. Sem ele, tudo cessa. É a principal fonte de energia não renovável que está sendo pesquisada e descoberta em locais antes inimagináveis. Nas profundezas do oceano, nas geleiras eternas do Polo Norte, nas proximidades das Ilhas Malvinas. As reservas teimam em aumentar. Mas o preço internacional, neste momento, está com viés de queda. Os norte-americanos encontraram a maneira de produzir petróleo do gás de xisto. E já o fazem em escala industrial. O novo componente determinou a queda do preço internacional. Os grandes exportadores continuam vendendo seu produto sem maiores embaraços. É importante perceber que a maioria dos países vendedores de petróleo é constituída por ditaduras — que recebem as mais diferentes denominações. Mas são países totalitários. Daí decorre o primeiro problema. Onde o petróleo é farto, normalmente, não há indústria, nem qualquer outra atividade comercial importante. O exemplo mais próximo ao Brasil é o da Venezuela. O país foi inventado pelos norte-americanos depois que foram descobertas as grandes reservas na região do Lago de Maracaibo. A partir daí, alguns ditadores se revezaram no poder, sempre com o generoso e efetivo respaldo do operador do petróleo. As crises de Chávez e de Maduro decorrem do fato de que o país se endividou muito por causa de políticas populistas no momento em que o petróleo caiu de preço. O país quebrou. A Venezuela é um rico país muito pobre. Sua elite vive em Miami. Os países árabes não tinham a menor ideia da riqueza de seu subsolo até os anos 30 do século passado, quando pesquisadores norte-americanos e ingleses fizeram prospecções no local. Na Arábia Saudita, depois de dimensionado um campo de enormes proporções, foi realizado um acordo de cooperação militar entre Washington e o príncipe saudita. Esse texto vale até hoje. E o petróleo jorra lá por intermédio de empresas que foram construídas por estrangeiros. Os sauditas hoje ganham muito dinheiro com a atividade. Erguem palácios, cidades e mantêm a sociedade sob estreita vigilância. Petróleo é uma espécie de maldição bendita. Bendita porque gera riqueza. Maldita porque mata todas as iniciativas industrias ou comerciais dentro do país. É muito confortável abrir a torneira e dela jorrar um líquido viscoso e negro que é vendido, por barril de 159 litros, na faixa de 85 ou 90 dólares. Para se ter uma ideia da dimensão do negócio, o Brasil produz atualmente, segundo a Petrobras, algo em torno de 2.100 mil barris por dia. Consome cerca de 2.300 mil. Importa perto de 200 mil barris/dia. Basta multiplicar por 85 para se ter uma noção do montante que está em discussão em apenas um dia. Nesse caso, milhão é troco. Por essa razão, um gerente da Petrobras pego em flagrante aceita devolver inacreditáveis US$ 100 milhões. É a gorjeta. O Brasil nunca foi contaminado pelo problema, porque jamais foi grande produtor de petróleo. Aqui não há nem ministério específico para tratar do assunto. Muita gente dá palpite, tem algum tipo de influência nesta ou naquela decisão. O poder é fragmentado, o que facilita o curso da propina. Nos Estados Unidos, petróleo é assunto de segurança nacional, rigidamente controlado pelo governo federal. Em outros países produtores, o ministro do Petróleo é homem de confiança do presidente da República, do príncipe ou do ditador de plantão. São conversas e propinas objetivas para quem, de fato, decide. O escândalo da Petrobras vai proporcionar um espetáculo de efeitos colaterais e a descoberta de que o país entrou no clube dos produtores intermediários e dos bons compradores — compra sempre e paga em dia. Os corruptores estão prestando depoimento na Polícia Federal do Paraná. Diretores e funcionários desfilam pelos corredores das delegacias. A lama vai alcançar os parlamentares que utilizaram o dinheiro fácil. Será versão política da maldição do petróleo no Brasil.

Conexão diplomática Tão próximo e tão distante… por Silvio Queiroz

Se há um episódio representativo das questões colocadas para a política externa brasileira no segundo mandato de Dilma Rousseff, trata-se do momento delicado vivido nesta semana pelo processo de paz entre o governo colombiano e a guerrilha das Farc, desenvolvido em Havana. O fim de semana começa em meio à expectativa pela libertação de um general capturado no domingo passado pelos rebeldes, incidente que levou o presidente Juan Manuel Santos a suspender os diálogos. A rápida desmontagem da crise, que ameaçava tirar dos trilhos dois anos de negociações, foi possível graças à intervenção pronta e segura da diplomacia cubana e norueguesa. Os dois países atuam como garantes do processo, destinado a encerrar uma guerra que se arrasta por meio século, embora estejam ambos a distância segura do cenário. Em outro período crítico do conflito colombiano, entre 2008 e 2010, o governo brasileiro esteve no centro de um conjunto de operações nas quais a guerrilha libertou vários grupos de pessoas — “reféns”, na terminologia do Estado colombiano, ou “prisioneiros de guerra”, no dicionário das Farc. No clima de aguda desconfiança entre as partes, fruto de Continuação da Resenha Diária 22/11/14 24 uma sequência de operações militares contundentes, em que até mesmo o símbolo da Cruz Vermelha foi usado para enganar os rebeldes em uma ação de resgate, a presença de helicópteros e militares brasileiros foi essencial para garantir a entrega dos cativos em coordenadas geográficas mantidas sob estrito sigilo praticamente até a decolagem. A essa altura, ainda sob o governo Lula, a diplomacia brasileira atuava com desenvoltura em uma situação que, embora na essência diga respeito à Colômbia, tem (ainda hoje) desdobramentos regionais e inclusive impacto doméstico nos países vizinhos. Basta mencionar o tráfico de armas e drogas, efeito colateral que transbordou as fronteiras na década passada. Ou a presença de acampamentos das Farc na Venezuela e no Equador, que colocou ambos os governos em rota de colisão com o de Bogotá — e, também nessa frente, a diplomacia brasileira foi essencial para desarmar espíritos.

Paz e terra Curiosamente, o país contribuiu indiretamente para o acordo sobre a questão agrária, que está nas raízes das Farc, um exemplo clássico de guerrilha rural com motivação autóctone, por mais que seu desenvolvimento tenha se enquadrado no contexto da Guerra Fria. O governo colombiano estabeleceu cooperação com o Ministério do Desenvolvimento Agrário para assimilar experiências de assentamento rural e de apoio à agricultura familiar. Caso as conversações de Havana cheguem a bom termo, o reordenamento fundiário será uma das questões-chave no pós- conflito.

Promissor ou indigesto? Se no apoio logístico à libertação de reféns da guerrilha o papel do Brasil conjugou o binômio “discrição e eficiência” — marca registrada que o Itamaraty invocou para responder a críticas —, no atual processo de Havana o Brasil parece mais próximo da presença tímida nas negociações de 1999-2002, com Andrés Pastrana na Casa de Nariño. Naquela altura, essa atitude ilustrava à perfeição o lugar dos assuntos sul-americanos na agenda de política externa. Ainda que a presença das Farc em boa parte da fronteira com o país tivesse impacto indisfarçável, como ficaria claro, em 2001, com a captura de Fernandinho Beira-Mar pelo Exército colombiano. Passada uma década, e com a guerrilha drasticamente debilitada, o interesse representado pela Colômbia é outro. Em franco crescimento, firmando-se como a segunda economia sul-americana e o destino preferencial do capital externo na região, o vizinho do norte pode ser promissor como parceiro, ou indigesto como concorrente.

Não é madrinha Ao contrário do que se poderia pensar, o papel central desempenhado por Cuba nas negociações de paz para a Colômbia não reside em algum tipo de influência que o regime de Havana possa exercer sobre as Farc. Embora se declare comunista e solidária à revolução de Fidel e Raúl Castro, a principal guerrilha colombiana — e aquela que marcou mais profundamente a história sul-americana — não tem a ilha caribenha como madrinha. Fidel, é certo, teve uma espécie de batismo no “bogotazo” de 1948, a erupção de violência política que teria como desdobramento, em 1964, o surgimento das Farc. Nascida de frentes agrárias do Partido Comunista, a insurgência se desenvolveu com dinâmica própria e nunca se configurou como “braço armado” da legenda. Da mesma maneira, não teve relação de dependência seja com Cuba, seja com a hoje extinta União Soviética. Embora tenha fomentado guerrilhas em vários países da região, Havana construiu desde os anos 1980 e 1990 uma sólida relação de Estado com Bogotá, inclusive no processo que pacificou a América Central. Com o desmanche do campo socialista, ganhou autoridade perante a geração que compõe atualmente o alto comando das Farc — sem exceção, militantes estudantis da Juventude Comunista que tomaram o caminho das armas.