UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS a China
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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS A China e Macau a partir de duas “navegações” portuguesas do século XX: O Caminho do Oriente (1932) de Jaime do Inso e Nocturno em Macau (1991) de Maria Ondina Braga Jiayi Yuan Orientadores: Prof. Doutor Everton V. Machado Prof.ª Doutora Fernanda Gil Costa Tese especialmente elaborada para obtenção do grau de Doutor no ramo de Linguística, na especialidade de Linguística Aplicada 2020 UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS A China e Macau a partir de duas “navegações” portuguesas do século XX: O Caminho do Oriente (1932) de Jaime do Inso e Nocturno em Macau (1991) de Maria Ondina Braga. Jiayi Yuan Orientadores: Prof. Doutor Everton V. Machado Prof.ª Doutora Fernanda Gil Costa Tese especialmente elaborada para obtenção do grau de Doutor no ramo de Linguística, na especialidade de Linguística Aplicada Júri: Presidente: Doutor Paulo Jorge Farmhouse Simões Alberto, Professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Voga i s : - Doutora Mônica Muniz de Sousa Simas, Professora Associada Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, Brasil - Doutor Everton Vasconcelos Machado, Professor Auxiliar Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, orientador - Doutor Rogério Miguel Puga, Professor Auxiliar Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa - Doutora Fernanda Cândida da Mota Alves, Professora Associada Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa - Doutora Catarina Isabel Sousa Gaspar, Professora Auxiliar Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Fundação Oriente Bolsas para Doutoramento 2020 A Grande Marcha Lü-shih O Exército Vermelho não receia as provas da Grande Marcha e dez mil montanhas e rios são como um breve passeio. As cinco cordilheiras são como ondas suaves e Wumeng é apenas uma fieira de bolas de lama. As águas de Chinsha envoltas em névoa e encostas quentes e fria a ponte de ferro sobre o rio Tatu. Que alegria mil li de neve sobre Minshan: os três exércitos começam então a sorrir. Outubro de 1935 (Mao Tsé-Tung, tradução direta do chinês de Manuel de Seabra) Resposta ao Camarada Kuo Mo-Jo segundo a melodia Man Chiang Hung […] São tantas as tarefas, todas urgentes; o mundo rola e o tempo aperta. Dez mil anos é tempo demais – é preciso aproveitar o dia de hoje. […] 9 de Janeiro de 1963 (Mao Tsé-Tung, tradução direta do chinês de Manuel de Seabra, citação parcial) RESUMO Tendo como corpus O Caminho do Oriente (1932) e Nocturno em Macau (1991), o presente trabalho foca-se em duas “navegações” portuguesas ligadas à China e a Macau, aproximadamente empreendidas nos finais dos anos 20 e na primeira metade da década de 60 do século XX, e que são ficcionalizadas pelos escritores Jaime do Inso (1880-1967) e Maria Ondina Braga (1932-2003), respetivamente. O objetivo é perscrutar a autoperceção dos viajantes portugueses, a sua atitude em relação à realidade de Macau, o seu modo de interagir com a população chinesa local e a representação da China e das vivências chinesa e portuguesa em vivo contraste, tudo isto que se interpreta nos dois romances. Numa perspetiva mais ampla, e a partir da demonstração de Edward W. Said sobre o orientalismo e o imperialismo, visa-se dar visibilidade ao complexo e dinâmico panorama que existe por trás das duas obras literárias e que consiste, sobretudo, nos seguintes fatores, a saber: as contemporâneas conjunturas histórico-políticas de Portugal e da China, os vieses ideológicos ocorridos nestes dois universos, bem como as singulares experiências sociais dos dois escritores, que se veem espelhadas nas suas criações literárias. Enfim, pretende-se contribuir para o entendimento da coexistência das comunidades portuguesa e chinesa em Macau enquanto território chinês sob administração portuguesa, ou seja, no âmbito do império colonial português. Palavras-chave: China, império português, literatura portuguesa, Macau, orientalismo ABSTRACT With O Caminho do Oriente (1932) and Nocturno em Macau (1991) as the corpus, the present work focuses on two Portuguese “navigations” linked to China and Macao. These two “navigations” were undertaken in the late 1920s and in the first half of the 1960s and were fictionalized respectively by Jaime do Inso (1880-1967) and Maria Ondina Braga (1932-2003). The objective of this study is to examine the self-perception of the Portuguese travelers, their attitude towards the reality of Macao, their way of interacting with the local Chinese, as well as the depiction of China and of the contrastive living conditions of the Portuguese and the Chinese in Macao, which are fully interpreted in the two novels. Based on Edward W. Said’s elaboration of orientalism and imperialism, the present work aims to give visibility to the complex and dynamic panorama illustrated by the two literary works, which is mainly composed by the following factors: the contemporary historical and political conjunctures of Portugal and China, the ideological tendencies that occurred in these two countries and the unique social experiences of the two writers that are reflected in their literary creations. Also, the present work is meant to contribute to the understanding of the coexistence of the Portuguese and Chinese communities in Macao, part of the Chinese territory under the Portuguese rule until 1999. Key words: China, Portuguese empire, Portuguese Literature, Macao, orientalism Agradecimentos O trabalho que aqui é apresentado resulta de esforços, apoios e boa vontade oriundos de diversos indivíduos, instituições e, não o posso deixar de mencionar, da minha pátria – a República Popular da China –, como da minha terra adotiva, Portugal, onde começa a minha carreira académica e o lugar onde passei a minha idade de ouro. Gostaria de dirigir os agradecimentos mais sinceros a todos que me seguem orientando, apoiando, encorajando; em suma, aqueles que me acompanham nesta “navegação”, que nunca é fácil. As minhas primeiras palavras de gratidão são para o meu orientador, Prof. Doutor Everton V. Machado, pela sua consciência da necessidade de estimular a minha capacidade de pensar com independência, de insistir na importância de estabelecer um diálogo crítico com todo o tipo de discurso e de desconfiar dos lugares-comuns estabelecidos, pelos seus respeito e encorajamento em relação à minha autonomia académica e pelas suas incondicionais disponibilidade e paciência consagradas à tese presente durante mais de três anos. Graças ao meu orientador, também pude conhecer e interagir com excelentes professoras e investigadores do Centro de Estudos Comparatistas (CEC) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Palavras de cordial gratidão à Prof.ª Doutora Fernanda Gil Costa, a minha coorientadora, pelo que aprendi com ela acerca da literatura de língua portuguesa que tem Macau como palco central, e pela suas encantadora gentileza e atitude como académica, padrão ideal em que gostaria de tornar-me um dia. À Prof.ª Doutora Fernanda Mota Alves, diretora do CEC, pelo ensinamento e pela partilha de conhecimentos, pelos encorajamentos prestados a uma jovem estrangeira, pelo oferecimento de livros relevantes para o tema deste trabalho e pela carta de recomendação apresentada à Fundação Oriente, que garantiu o sucesso da minha candidatura à bolsa de doutoramento. À Doutora Ana Cristina Alves, pelos encontros às quintas-feiras, em que como “conselheira literária” me ajudava a tirar as dúvidas que eu encontrava durante a leitura do meu corpus e como amiga carinhosa mostrava confiança e apreço por mim. Jamais me esquecerei das suas palavras: “Força Jiayi! Deus ajuda quem se ajuda”. Aos demais professores do curso de Português como Língua Estrangeira/Língua Segunda: Prof. Doutor António Avelar, Prof.ª Doutora Margarita Correia e Prof.ª Doutora Isabel Drumond Braga, pelos ensinamentos inspiradores, pelas orientações prestadas acerca da escrita académica e pela atitude rigorosa perante a investigação académica. Ao CEC, pelas informações úteis sobre congressos e oportunidades, entre as quais a abertura do concurso de bolsas da Fundação Oriente. À Fundação Oriente, pela atribuição da bolsa de estudo. Quanto à minha família, queria expressar um agradecimento muito especial aos meus pais, pelas virtudes que me transmitem, sobretudo o espírito de tentar tudo resolver em vez de desistir face a situações difíceis, pela crença firme de que é o saber que muda o destino, pelo apoio permanente e pela atmosfera familiar equilibrada – um dos fatores fundamentais que permitiram a continuação e a realização de um projeto longo e até mesmo árduo como o presente. Gostaria ainda de agradecer à minha prima Yuming Yao, pela revisão do resumo em inglês. Por fim, imensa gratidão à minha pátria e a Portugal. Na altura em que se desenrolavam os enredos dos dois romances, a China era marcada pela fome, pela pobreza e pela guerra, e o mundo ria-se da China. Atualmente, a China já se organizou e já não é nenhum motivo de escárnio. É minha felicidade e orgulho nascer neste país pacífico e em rumo do pleno desenvolvimento. Dar contribuição para o seu progresso futuro, é um dos motivos que resultam na minha dedicação ao curso de doutoramento. Na minha estadia em Portugal durante mais de cinco anos, primeiro em Aveiro e depois em Lisboa, este país fez-me sentir as suas compreensão e aceitação da alteridade, assim como a conciliação entre a humildade e o orgulho que ele guarda sempre na alma. Votos de esperança pela prosperidade de ambos os países! Muito obrigada! ÍNDICE Introdução 1 1. Revisão da literatura 16 1.1 Introdução 16 1.2 Análise crítica dos trabalhos académicos 18 1.3 Notas conclusivas 57 2. Enquadramento teórico 61 2.1 O Oriente e o orientalismo no âmbito europeu segundo Edward W. Said 61 2.1.1 O Oriente: uma existência real “inventada” pelo Ocidente 61 2.1.2 O orientalismo no âmbito europeu segundo Said 67 2.2 O orientalismo, a “hiperidentidade” e a colonização portugueses 81 2.2.1 O orientalismo português – discurso formado ao longo da experiência de Portugal no Oriente 81 2.2.2 “Hiperidentidade” e colonização portuguesas 102 2.3 O Oriente literário europeu e português dos séculos XIX e XX 130 3.