Interpretando Nélson Rodrigues Uma introdução à representação do desagradável

Marcelo Bolshaw Gomes∗

Resumo: Apresenta aqui uma visão a dever a Michel Foucault e aos historiadores panorâmica sobre a obra do escritor atuais. Freire é fascinante, sobretudo, porque brasileiro Nélson Rodrigues, discutindo constrói uma perspectiva de crítica social todas as adaptações de suas peças teatrais e diferente da ótica marxista e de quase todo romances para o cinema. pensamento social de sua época. Tanto Cascudo como Freire são exem- plos de jornalistas que edificaram as ciên- Sempre me considerei uma pessoa pro- cias sociais no Brasil antes do advento da gressista. E sempre considerei embaraçosa comunicação social. E que, pelo fato de minha paixão intelectual por três jornalistas serem nordestinos (que nunca se distancia- nordestinos reacionários: Câmara Cascudo, ram de seus locais de origem) e defenderem Gilberto Freire e Nélson Rodrigues. posições de direita no cenário político na- Debati-me bastante contra Cascudo, até cional, sempre foram desprezados e escon- aceitá-lo e reconhecer nele o contador de es- didos pela academia. tórias como uma dimensão que engloba a Nélson Rodrigues, no entanto, é um caso antropologia e o jornalismo. Ele não é um especial. Ele não era elitista. Também não folclorista! Tecnicamente, um etnógrafo di- foi um ‘cientista social’, embora seu tra- versificado (alimentação, gestos, costumes); balho seja devastador enquanto crítica de mas sobretudo um pensador com consciên- costumes. Tão pouco pode ele ser oculto cia narrativa, isto é, sabe que é um contador pelo preconceito das esquerdas, uma vez de estórias e essa simplicidade é que o faz que seus textos não apenas revolucionaram grande e realmente relevante como pensador e popularizaram o teatro nacional como tam- pois faz uma leitura do erudito a partir do bém ajudaram a construir a comunicação de popular. massas no Brasil, tanto no cinema como na Com Gilberto Freire, que só conheci TV. bem tarde devido ao preconceito, descobri Autor da primeira telenovela brasileira, A a crítica sociológica de costumes em uma morta sem espelho (1963)1, sua obra segue metodologia genealógica que em nada deixar 1 Escrita pessoalmente por Nelson Rodrigues (e ∗Jornalista, professor de Comunicação da UFRN não adaptada de sua obra), a telenovela, com direção e doutor em Ciências Sociais. de Fernando Torres e Sérgio Britto na extinta TV Rio, música-tema de Baden Powell e Vinicius de Moraes, 2 Marcelo Bolshaw Gomes

sendo adaptada até hoje com grande audiên- nil e de peças psicológicas (1936-43); c) fase cia2. Além disso, também era conhecido do mítica (1944-52); d) fase da tragédia cario- grande público por ser por ser um cronista ca (1953-66); e e) fase memorialista (1967- esportivo atuante e inteligente. Sua obra é 80). Curiosamente, todas as cinco fases es- marcada pelo erotismo rasgado, pela violên- téticas na evolução do trabalho de Nelson cia em todas as suas dimensões, pelo ci- Rodrigues correspondem a mudanças na sua nismo moral que desmascara a hipocrisia – vida profissional como jornalista. todos sabem, mesmo os que não conhecem A primeira etapa é a do repórter e crítico, seu trabalho. Nélson Rodrigues, no entanto, vivida nas redações dos jornais de seu pai, se tornou muito conhecido pelas suas frases A Manhã e Crítica. Nélson começou a escr- polêmicas e sintéticas, dizendo coisas deli- ever aos quinze anos, quando A Manhã ga- ciosamente revoltantes como "Toda mulher nhou uma nova sede, em fins de 1927. Daí gosta de apanhar"ou "Mineiro só é solidário até o início de 1935, sua atividade principal no câncer"– que atribuía ao seu amigo Otto foi o jornalismo policial, ao lado da crítica de Lara Resende. Ele se divertia em escan- arte, na maioria das vezes literária. Em 1935 dalizar tanto gregos como troianos, tendo in- passa a trabalhar no jornal do seu amigo clusive chamado sua dramaturgia de ‘teatro Roberto Marinho, O Globo. do desagradável’. Há, em seu texto, de dizer Na fase seguinte, até 1946, Nélson per- a verdade que repousa sob a representação da manece no Globo como crítico de ópera realidade através de uma meta-representação da seção "O Globo na arte lírica"e tam- que nos revele o desejo. bém trabalhou no Globo Juvenil. Como Caco Coelho3 (incorporando a classifi- repórter lírico, Nélson assistiu e escreveu so- cação de Sábato Magaldi4 e a biografia de bre cerca de 300 óperas em diversas tempo- Ray de Castro5) estabelece cinco fases de radas do Teatro Municipal do . evolução do trabalho intelectual de Nélson Em 1941, ele escreveu sua primeira peça, Rodrigues, cada um com características es- A mulher sem pecado, que entrou em car- téticas próprias: a) repórter e crítico (1927- taz no ano seguinte, sem grande sucesso. 35); b) crítico e repórter lírico, Globo Juve- Vestido de noiva surgiu em 1943; com o sucesso da peça, Nélson saiu do Globo e teve problemas com a censura e foi proibida, antes de terminada. foi para os Diários Associados, de pro- 2 Telenovelas baseadas em Nélson Rodrigues: priedade de seu antigo desafeto político As- Sonho de amor (TV Rio/1964); O desconhecido (TV sis Chateaubriand. Rio/1964); O homem proibido (TV Globo/1982); Começa a terceira fase do escritor, Meu Destino É Pecar (TV Globo/1984); Engraçad- chamada de ‘Mítica’ por Sábato Magaldi, inha (TV Globo/1995); e A Vida Como Ela É (TV Globo/1996). que se estende até o nascimento das tragédias 3 Coleção Baú de Nelson Rodrigues, (Companhia cariocas, em 1953, a quarta fase. É o período das Letras, 2004). de maior produção de Nélson. Durante nove 4 Teatro Completo de Nelson Rodrigues, quatro anos, além das contribuições para diversos volumes (Nova Fronteira, 1981). veículos dos Diários Associados, ele escreve 5 O anjo pornográfico: a vida de Nelson Ro- drigues (Companhia das Letras, 1992). seis romances e cinco peças.

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Novamente uma mudança de jornal deter- Ao todo, Nélson Rodrigues escreveu 17 mina uma transformação estética. Nélson peças teatrais6; 27 livros (9 romances7, 5 é contratado como colunista do jornal Úl- livros de contos8 e 13 livros de Crônicas9); tima Hora, que Samuel Wainer "ganhou"de 23 filmes10 foram feitos baseados em seus Getúlio Vargas. Surge A vida como ela é... 6 Sua edição completa abrange quatro volumes, E em 1953, com a peça A falecida e o ro- divididos segundo critérios do crítico Sábato Magal- mance A mentira, Nélson entra na quarta di, que agrupou as obras de acordo com suas ca- fase, a das tragédias cariocas. Nessa etapa, racterísticas, dividindo-as em três grupos: Peças psi- que vai até 1967, ele escreve oito peças e cológicas: A mulher sem pecado (1941), Vestido de noiva (1943), Valsa no 6 (1951), Viúva, porém ho- três romances. Também são desse período as nesta (1957), e Anti-Nélson Rodrigues (1974); Peças primeiras crônicas esportivas no Jornal dos míticas: Álbum de família (1946), Anjo negro (1947), Sports e na revista Manchete Esportiva. Senhora dos Afogados (1947), e Dorotéia (1949); e Aos 54 anos de idade, outra mudança de Tragédias cariocas: A falecida (1953), Perdoa-me por jornal acompanha a quinta e última fase do me traíres (1957), Os sete gatinhos (1958), Boca de ouro (1959), O beijo no asfalto (1960), Bonitinha, autor: Nélson é convidado para escrever suas mas ordinária ou Otto Lara Rezende (1962), Toda memórias no jornal Correio da Manhã – de Nudez Será Castigada (1965), e A serpente (1978). onde surgiram vários livros de memória e 7 Meu destino é pecar (1944); Escravas do amor de crônicas esportivas. Esse período, que (1944); Minha vida (1944); Núpcias de fogo (1948); começa em 1967, vai até morte de Nél- A mulher que amou demais (1949); O homem proibido (1959); A mentira (1953); Asfalto selvagem son, por insuficiência cardiorrespiratória, em ou engraçadinha (1959); e O casamento (1966). dezembro de 1980. Essa fase é importante 8 Cem contos escolhidos – A vida como ela é... porque nela Nélson repensa sua obra; porque (1972); Elas gostam de apanhar (1974); A vida como ele vê novos diretores de cinema repen- ela é – O homem fiel e outros contos (1992); A dama do lotação e outros contos e crônicas (1992); A coroa sando seu trabalho (Neville D’Almeida, J. de orquídeas (1992). B. Tanko, Arnaldo Jabor – para citar os 9 Memórias de Nélson Rodrigues (1967); O ób- principais); porque se formula um entendi- vio ululante: primeiras confissões (1968); A cabra mento amplo do significado de sua obra para vadia (1970); O reacionário: memórias e confissões cultura brasileira e para o teatro do ponto (1977); Fla-Flu...e as multidões despertaram (1987); O remador de Ben-Hur (1992); A cabra vadia - No- de vista internacional. Nélson Rodrigues é vas confissões (1992); A pátria sem chuteiras – No- bem superior aos principais autores teatrais vas Crônicas de Futebol (1992); A menina sem estrela de sua época (Eugene O’ONeill, Tennessee – memórias (1992); À sombra das chuteiras imortais Williams, Arthur Miller e Edward Albee) – Crônicas de Futebol (1992); A mulher do próximo e um marco nas artes dramáticas a nível (1992); Nélson Rodrigues, o Profeta Tricolor (2002); e O Berro impresso nas Manchetes (2007). mundial. 10 Meu destino é pecar (1952); Boca de Ouro (1962); Bonitinha, mas ordinária (1963); Asfalto Sel- vagem (1964); A Falecida (1965); O Beijo (1966); Engraçadinha depois dos trinta (1966); Toda nudez será castigada (1973); O Casamento (1975); A Dama do Lotação (1978); Bonitinha, mas ordinária ou Otto Lara Resende (1980); Os Sete gatinhos (1980); O Beijo no asfalto (1980); Álbum de Família (1981); Engraçadinha (1981); A Serpente (1980-82); Perdoa- www.bocc.ubi.pt 4 Marcelo Bolshaw Gomes textos até o momento; mas apenas Beijo bicho nos anos 50 para o da criminalidade no Asfalto11 foi adaptado e publicado em e do tráfico de drogas dos anos 80. A di- Histórias em Quadrinhos até hoje, embora reção coube a Walter Avancini, diretor de te- existam vários trabalhos inéditos. lenovelas e minisséries, mas sem experiência A primeira adaptação de um texto de Nél- com a linguagem do cinema. Talvez por isso, son Rodrigues para o cinema – Meu Des- esse segundo Boca de Ouro (1990) seja raso tino é pecar (1952) – não foi feliz. O ponto e artificial, com os diálogos superficiais e alto do filme – a fotografia de Mário Pagés, desconectados da realidade dos personagens, em P&B, dando um caráter expressionista sendo bem inferior ao primeiro filme12. e gótico ao trabalho – contrastava com ati- O segundo sucesso desta primeira geração tude naturalista do diretor e roteirista Manuel de adaptações para o cinema, ainda em P&B Pelufo, que simplificou bastante o texto – re- – Bonitinha, mas ordinária (1963), de J. P. de duzindo o cipoal de desejos, traições e mal- Carvalho, novamente com a dupla Jesse Va- entendidos do original e inserindo um final ladão e Odete Lara – também mereceu duas feliz na trama. refilmagens: Bonitinha, mas Ordinária ou Em compensação, a segunda adaptação Otto Lara Resende (1980), de Braz Chediak, – Boca de Ouro (1962), de Nélson Pereira colorido, com Lucélia Santos e Vera Fiches; dos Santos, com Jece Valadão e Odete Lara, e Bonitinha, mas Ordinária (2010), de Moa- em atuações memoráveis – foi um grande cyr Goés. A adaptação de Braz Chediak tem sucesso de público e crítica, desencadeando grandes méritos e deméritos em relação as a primeira fase de adaptações das peças versões anterior e posterior. Ela também tra- rodriguianas para o cinema. O enredo – balha com a estratégia de Rashomon, uti- influenciado pelo jornalismo policial dos lizada no primeiro Boca de Ouro, tentando anos 50 – fala do jogo do bicho no Rio de discutir a ideia de verdade e suas diferentes Janeiro e do relacionamento da elite cario- interpretações de formação cultural contra- ca com a criminalidade. A estrutura do posta a sucessivos flashbacks que vão acres- filme é influenciada pelo Rashomon de Kuro- centando detalhes a narrativa para compreen- sawa, em que um personagem conta a mesma são do que realmente aconteceu. As outras história de maneira diferente, de acordo com versões apresentam um roteiro mais linear, as suas circunstâncias emocionais. Um casa- mais interessante e mais próximo da peça de mento perfeito entre um cineasta de esquerda teatro original. com um autor de direita. Outro texto rodriguiano que mereceu ver- Quase trinta anos depois, o produtor Jo- sões das diferentes gerações de diretores ffre Rodrigues, filho de Nélson, resolveu re- do cinema brasileiro foi o romance Asfalto filmar Boca de Ouro, em cores, transplan- Selvagem. Inicialmente houve o filme As- tando o ambiente da contravenção do jogo do falto Selvagem – Engraçadinha dos 12 aos 18 anos (1964), em P&B, sobre a primeira me por me traíres (1983); Boca de Ouro II (1990); Traição (1998); Gêmeas (1999); Véu de Noiva parte do folhetim; e, em seguida com En- (2006); e Bonitinha mas ordinária (2010). 12 Com exceção da famosa cena do ’concurso dos 11 Arnaldo Branco (roteiro) e Gabriel Góes (arte). peitinhos’. NOVA FRONTEIRA, 2007.

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graçadinha depois dos trinta (1966), tam- fidelidade ao texto e à intenção original do bém em P&B – ambos de J. B. Tanko. autor. Jabor quer fazer um filme popu- Em 1981, Haroldo Marinho Barbosa faz lar (sobre e para o povão) e ’tropicalista’ Engraçadinha, uma releitura melodramática (incorporando vários gêneros narrativos) e do romance todo, enfatizando seu aspecto não mais o realista vanguardista do cinema trágico. E, finalmente, em 1995-96, a TV novo. Aliás, para muitos esse filme é a Globo realizou a minissérie Engraçadinha, mais brilhante tradução de Nélson Rodrigues seus amores e seus pecados, com direção e um marco importante para o cinema na- de Denise Saraceni e supervisão de Carlos cional, com destaque para atuação de Dar- Manga. lene Glória como Geni. Arnaldo Jabor soube Na primeira geração de adaptações do como ninguém valorizar os múltiplos senti- cinema da obra rodriguiana, em P&B, cons- dos dos diálogos aparentemente coloquiais tam ainda quatro filmes: A Falecida e O de Nélson Rodrigues: interrupções, suspiros, Beijo. frases inacabadas, a um milímetro da comé- A Falecida (1965) de Leon Hirszman, dia e do dramalhão. Em 1975, O Casa- com Fernando Montenegro no papel princi- mento dá continuidade a esse feliz encontro pal e roteiro de Eduardo Coutinho, lembra estético entre Jabor e Rodrigues, desta vez o primeiro Boca de Ouro em vários aspec- tendo o tango moderno de Astor Piazzolla tos. Trata-se de um ’cineasta de esquerda’ como trilha sonora. com ’um texto de direita’, trata-se do Ci- No contraponto das adaptações in- nema Novo, feito sobre o povo mas não para teligentes e tropicalistas de Arnaldo o povo, há um certo pudor, tentando retirar a Jabor estão os filmes escrachados e semi- brutalidade do texto original e manter apenas pornográficos de Neville D’Almeida: seu aspecto trágico. É um filme de imagens A Dama da Lotação (1978) e Os Sete belas e grandes silêncios, e, apesar de modi- Gatinhos (1980). ficar a estória e o estilo narrativo, permanece A Dama da Lotação foi um grande sucesso fiel à intenção original do autor. de bilheteria do cinema nacional, impulsion- Já O Beijo (1966), filme expressionista ado pela presença da atriz Sônia Braga, na- de Flávio Tambellini foi publicamente con- cionalmente conhecida do grande público denado pelo próprio Nélson Rodrigues, devido a sua participação na telenovela chamando Tambellini de "Kafka do Circo Gabriela, cravo e canela, inspirada em livro Democrata". É que, além de modificar a de Jorge Amado. Aliás, A Dama é um filme estória e descontextualizar a narrativa do meio baiano: o conjunto A Cor do Som cenário carioca suburbano, o diretor também desconstroe uma música de Caetano Veloso, optou um universalismo sombrio, distante com um arranjo/andamento para cada cena; e tanto do pornográfico popular como da es- o próprio enredo do filme, com várias cenas tética realista do cinema novo. de sexo explícito gratuitas, foge bastante do A segunda geração de adaptações rodri- padrão de Nélson Rodrigues e lembra as do guianas começa com Toda nudez será Cas- livro do escritor de Ilhéus. Solange, virgem tigada (1973) de Arnaldo Jabor. Não so- tímida e depois esposa frígida, se transforma mente por ser colorido, mas sobretudo pela em uma mulher insaciável, que devora des- www.bocc.ubi.pt 6 Marcelo Bolshaw Gomes

conhecidos pelas ruas do Rio de Janeiro. mortes, loucura e traições de costume. Pro- Solange retorna ao casamento não como uma duzido pelos filhos de Nelson Rodrigues, o prostituta arrependida, como gostaria a so- filme conta com direção musical de Radamés ciedade patriarcal, mas como uma mulher e Roberto Gnattali, uma bela canção inter- razoavelmente liberada e conciliada com o pretada por Gal Costa e e Lídia seu desejo. É um filme ’feminista’, em que Brondi nos papeis principais. até mesmo a dissimulação feminina, se jus- Há ainda dois filmes neste segundo ciclo tifica diante da situação da personagem. O de adaptações da obra rodriguiana: O Beijo roteiro do filme não foi baseado nem em no Asfalto (1980), de Bruno Barreto e A Ser- peças teatrais nem em romances, mas em pente (1980-82), de Alberto Magno. uma crônica da coluna de jornalismo A vida A Serpente, adaptada de uma peça do como ela é... e teve colaboração do próprio tipo ’psicológica’ (e não da tragédia carioca Nélson na construção dos diálogos. como a maioria das outras adaptações), lem- Com Os Sete Gatinhos, Neville continua bra os filmes de Ingmar Bergman: simbóli- sua interpretação escrachada das situações cos, herméticos, prolixos, apresentando as dramáticas, sendo que agora seguindo a situações narradas como padrões arquetípi- risca o texto teatral rodriguiano e expondo cos que se repetem. Todos os efeitos de o que parece ser o essencial: as paixões distanciamento são usados: interpretação irredutíveis da carne contra os códigos de teatralizante, forte antinaturalismo do espaço conduta social e familiar. Essa caracterís- cenográfico, utilização de objetos de cena tica – o paradoxal por detrás do burlesco como comentário de ações, etc. Jece Va- – dá uma tonalidade tragicômica à forma ladão, ator-símbolo do ’macho’ rodriguiano, aparentemente deselegante da narrativa. rodeado de mulheres, é o epicentro da nar- Outro trabalho importante deste segundo rativa. É um filme denso e cansativo. Já ciclo de adaptações de Nélson Rodrigues em O Beijo no Asfalto é um filme de ação, para o cinema é a obra de Braz Chediak. em que temos o cruzamento do universo fa- Além da segunda versão Bonitinha, mas miliar típico da ’tragédia carioca’ com o uni- Ordinária ou Otto Lara Rezende (1980) e verso jornalístico e seus dilemas éticos. Há de adaptações importantes de outros autores um tratamento naturalista, sem maiores ela- teatrais inspirados pela obra rodriguiana13, borações visuais, os diálogos são adaptados Chediak filmou: Álbum de Família (1981) e pelo próprio Nélson Rodrigues. Perdoa-me por me traíres (1983). O terceiro e último ciclo de adaptações Perdoa-me por me traíres (1983) é outro para o cinema ainda está em curso e é com- texto ’feminista’ de Nélson, uma vez que de- posto (até agora) por quatro filmes – Traição fende a liberdade do prazer feminino acima (1998), Gêmeas (1999), Vestido de Noiva das convenções sociais, porém desta há o (2006), a terceira versão de Bonitinha, mas atormentado universo de dilemas morais, ordinária (2010) – pela minissérie A Vida como ela é (1996) – talvez o melhor tra- 13 Chediak fez adaptações importantes de Plínio Marcos: as primeiras versões cinematográficas de balho de adaptação de Nélson Rodrigues até Navalha na carne e de Dois perdidos numa noite suja. hoje, capaz de dar uma visão de conjunto e de detalhe de sua forma pensar, dirigido por

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Daniel Filho e Denise Saraceni e produzido mais fácil observar esse lado mais filosófico pela TV Globo. A minissérie – com o cu- em duas peças teatrais mais antigas, quando rioso formato de 39 esquetes de oito minu- ele era menos ’popular’: Vestido de Noiva tos – é quem desencadeia esse terceiro ci- (1943) e Álbum de Família (1946). clo de adaptações cinematográficas consor- Apesar das peças escritas por Oswald de ciadas com a TV. Nela, emergem as ob- Andrade, há um consenso entre os críticos de sessões rodriguianas: o marido infiel, a cu- que o teatro moderno no Brasil começa em nhada provocante, o corno de subúrbio, a es- 1943, com a peça Vestido de Noiva, de Nél- posa obsessiva, o velho tarado, a mãe domi- son Rodrigues, dirigida por Zbigniew Ziem- nadora, a mulher que gosta de apanhar, o binski. Nela, a narrativa acontece simul- garoto mimado, o jornalista voyeur. taneamente em três planos de tempo/espaço Por outro lado, nessa adaptação as perver- – memória, realidade e alucinação – nos sões e o moralismo perdem a força, tornam- quais as cenas se sucedem. Os planos postos se ’folclóricos’. lado a lado eram definidos através de dife- A primeira geração de adaptações de Nél- rentes efeitos de iluminação. A narrativa, as- son Rodrigues para o cinema foi anterior ao sim, era descontínua e fragmentada. Além movimento internacional da contracultura e disso, a protagonista – Alaíde – se confunde à liberação dos costumes. Nos tempos de re- várias vezes com o narrador da história. A pressão sexual patriarcalista, as leituras dos narrativa é subjetiva, não apenas porque é textos de Nélson tinham um caráter revolu- ora memória, ora alucinação; mas, princi- cionário, atacando a hipocrisia da sociedade palmente, porque guia o público no sentido diante do sexo. Nos anos 70, no entanto, a de organizar o quebra-cabeça dos aconteci- leitura do texto rodriguiano foi liberada de mentos. A peça tinha diálogos populares e seu papel de crítica social, se tornando mais recursos de sonoplastia, como o uso de mi- popular e se aproximando da pornochan- crofones para expressar os pensamentos dos chada, que então, em plena ditadura militar, personagens (em oposição, a voz não ampli- estava no auge de seu sucesso comercial. A ficada expressando a fala) ou o uso de música terceira geração enfatiza a inteligência e a ou de gravações (como as notícias da guerra profundidade psicológica dos diálogos. no rádio ou de sons como telefones tocando Hoje, no entanto, quando se fala de Nél- ou de ambulâncias). Tudo isso foi novidade son Rodrigues, todos logo o associam às em 1943. Era como se a linguagem cine- narrativas eróticas e dramáticas ou à psi- matográfica entrasse na cena teatral, reinven- canálise pornográfica da classe média ca- tando a linguagem dramática – o que garan- rioca. Mas, certamente, ele é muito mais tiu um sucesso consensual inédito de público do que isso. Suas estórias, mais que sim- e crítica. Porém, essa mesma leitura teatral ples narrativas cínicas do erotismo patriarcal da linguagem cinematográfica – a narrativa decadente, valorizam o amor obsessivo pela descontínua e o narrador subjetivo – é prin- verdade, a intenção do narrador de enunciar cipal entrave para adaptação da peça para uma narrativa ficcional que dê conta do real a linguagem áudio visual, uma vez que es- vivido, que revele os motivos últimos e ex- sas primam pela continuidade e pela narra- plique as intenções ocultas de cada um. É tiva a partir do público e não do protago- www.bocc.ubi.pt 8 Marcelo Bolshaw Gomes nista. Por exemplo: a “mulher de véu”. Na fantasias do subconsciente. Na narrativa dramática original, Alaíde não con- exploração das verdades profun- seguia se lembrar claramente de sua irmã das do individuo, o passo seguinte Lúcia, que aparecia no plano da memória se dirigiria para o estabelecimento e da alucinação coberta por um véu. Ape- dos arquétipos, dos mitos que se sar de o artifício teatral ser comparado à encontram na origem das nossas ideia de ‘censura freudiana’ – associação que forças “vitais”. A menos que Nélson certamente reprovava – ao ser trans- traísse sua vocação autêntica, Nel- posto para as linguagens visuais, a ‘mulher son teria mesmo que escrever Ál- de véu’ se transforma em uma alegoria sem bum de Família. Teatro Completo, sentido, perdendo o seu efeito de ‘suspense’ introdução do vol. 2, peças míti- dramático. Nas narrativas visuais, só há sus- cas, p. 14. pense se houver um segredo for comum ao protagonista e ao público. Uma narrativa em Como esse texto é a mais incestuosa das que o público já sabe do segredo antes dos peças míticas, a partir do qual Nélson será personagens é sempre mais complexa e de considerado abominável e seu teatro, de- difícil entendimento. É o contrário do acon- sagradável, é possível também dizer que tece em Álbum de Família, em que o ele- ele representa uma antecipação da fase das mento surpresa foi eliminado na adaptação tragédias cariocas em vários aspectos. Ál- para cinema. bum de Família é um texto central da pro- Como texto teatral, Álbum de família dução rodrigueana, que combina elementos (1946) foi a terceira peça de Nélson, escrita de várias fases. E é onde Nélson mais se após o sucesso de Vestido de Noiva (1943), aproxima e mais se distancia de Freud. Os tendo sido censurada por 19 anos. A peça personagens são arquétipos familiares: o pai marca o início da fase mítica que antecede a dominador, a mãe sedutora, os filhos tarados, fase das ’tragédias cariocas’. Há influência a cunhada careta, a tia solteirona, etc. do dramaturgo americano Eugene O’Neill e O tema é o incesto. Entre a filha e o pai, o confronto com a psicanálise freudiana. entre os filhos e a mãe. Um dos filhos, Nonô, Sábato Magaldi aponta a peça Álbum de que concretizou o ato, enlouqueceu, fugiu e Família como um texto chave, transição da vive rondando ameaçadoramente a casa dos fase psicológica para a fase mítica: pais. Nunca aparece em cena, só escuta- mos seus gritos; e essa ausência é uma das A evolução dramática de Nelson forças dramáticas da peça. No final, quando levava inevitavelmente a esse mer- a família desmorona, é com ele que a mãe gulho na inconsciência primitiva vai se reunir, num inusitado happy end entre do homem. A mulher sem pecado Édipo e Jocasta. Há uma ’solução matriar- já estava carregada de motivos psi- cal’ para o complexo de Édipo freudiano! cológicos, prestes a romper as bar- Na adaptação de Braz Chediak, Nonô foi reiras da censura interior. Vestido materializado, destruindo assim o eixo prin- de Noiva rasgou o véu da cons- cipal da narrativa no texto teatral: o perigo ciência, para dar livre curso às invisível que ronda a família. Presente, Nonô

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é bem menos ameaçador. Esse equívoco já Com que direito queremos personagens se repetira em outra adaptação do mesmo coerentes em nossas estórias? grupo: o filme Bonitinha, mas ordinária abre com a curra da protagonista, situação que na peça é apenas mencionada, e só no meio da Nelson Rodrigues – Filmografia trama. Novamente, temos a questão do sus- Completa por ordem Cronológica pense e da mudança de linguagem. MEU DESTINO É PECAR – SÃO PAULO, 1952, P&B, 35 MM, 72 MIN. DIRETOR: Manuel Pelufo; Conclusão PRODUTORA: Companhia Cine- matográfica Maristela; PRODUÇÃO: Voltamos, então, ao nosso ponto de par- Mário Civelli; DIÁLOGOS: Carlos tida. Hoje, já conseguimos distanciamento Ortiz; ADAPTAÇÃO: Manuel Pelufo para distinguir com a lente da história, as (baseada no romance homônimo de semelhanças entre Nélson Rodrigues e os Nelson Rodrigues); FOTOGRAFIA: trabalhos de Câmara Cascudo e Gilberto Mário Pagés; MONTAGEM: José Freire. Com Freire a proximidade é mais evi- Cañizares; CENOGRAFIA: Luciano dente e já rendeu até estudos14 sobre a admi- Gregory, Franco Ceni e Francisco ração e a influência mútua. Com Cascudo, Balduino; MÚSICA: Henrique Simo- no entanto, a semelhança é menos visível e netti; ELENCO: Antonieta Morineau, mais profunda: o uso das narrativas como Alexandre Carlos, Zilah Maria, Rubens explicação do real. de Queiroz, Maria de Lourdes Lebert, O importante é que se perceba a grande Great George, Nair Pimentel, Ilza inovação em termos de linguagem dramática Menezes, Iracema, Diana Lepore, instituída por Nélson Rodrigues em dife- José Penteado, Adolfo Leicys, Artur rentes mídias e que sua grande contribuição Carvalhal, Ayres Campos, Raul Breda, à arte de contar histórias é que somos seres João Pinto de Oliveira. complexos, ambíguos, paradoxais e que os BOCA DE OURO – RIO DE JANEIRO, personagens de nossas estórias também de- 1962, P&B, 35 MM., 101 MIN. DIRE- viam ser – para nós retratar melhor. Falamos TOR: Nelson Pereira dos Santos; PRO- uma coisa e fazemos outra. É preciso re- DUTORA: Copacabana Filmes; PRO- conhecer. Escondemos nossos desejos mais DUÇÃO: Jarbas Barbosa e Gilberto profundos, nós apaixonamos pelo que mais Perrone; ROTEIRO E ADAPTAÇÃO: tememos e odiamos. Nelson Pereira dos Santos (baseado na 14 GUSMÃO, Henrique Buarque de. Nélson Ro- peça homônima de Nelson Rodrigues); drigues leitor de Gilberto Freyre: aproximações entre ELENCO: Jece Valadão, Odete Lara, Casa-Grande & Senzala, Sobrados & Mucambos e a Daniel Filho, Maria Lúcia Monteiro, dramaturgia de Nélson Rodrigues. IV Reunião Cien- Ivan Cândido, Adriano Lisboa, Geór- tífica de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas , Belo Horizonte, 2007. gia Quental, Maria Pompeu, Sulamith Yaari, Rodolfo Arena, Wilson Grey, www.bocc.ubi.pt 10 Marcelo Bolshaw Gomes

Pérola Negra, Hildemar Barbosa, Ri- e Leon Hirszman (baseado em peça cardo Lima, Paulo Copacabana, Fran- homônima de Nelson Rodrigues); cisco Santos FOTOGRAFIA: José Medeiros; CÂMERA: Dib Lutfi; ELENCO: BONITINHA MAS ORDINÁRIA – RIO , Ivan Cândido, DE JANEIRO, 1963, P&B, 35 MM., Nelson Xavier, Paulo Gracindo, Dino- 100 MIN. DIRETOR: J. P. de Carvalho; rah Brillante, Joel Barcellos, Virginia PRODUTORA: Magnus Filmes; PRO- Valli. DUÇÃO: Jece Valadão e Joffre Ro- drigues; ARGUMENTO E ROTEIRO: O BEIJO – RIO DE JANEIRO, 1966, Jece Valadão; FOTOGRAFIA: Amleto P&B, 35 MM., 78 MIN. DIRETOR: Daissé; MONTAGEM: Rafael Justo Flávio Tambellini; PRODUTORA: Valverde e Lúcia Erita; MÚSICA: Serrador Companhia Cinematográfica e Carlos Lyra; ELENCO: Jece Val- Flávio Tambellini P. C.; PRODUÇÃO: adão, Odete Lara, Ambrósio Frego- Flávio Tambellini; DISTRIBUIDORA: lente, Angela Bonatti, Ribeiro Fortes, Columbia Pictures; ROTEIRO: Flávio Ida Gomes, Sandra Menezes, Maria Tambellini, Glauro Couto e Geral- Gladys, Roberto Batalin. do Gabriel (baseado na peça Beijo no asfalto, de Nelson Rodrigues); ASFALTO SELVAGEM – RIO DE DIÁLOGOS: Nelson Rodrigues; JANEIRO, 1964, P&B, 35 MM., 99 COREOGRAFIA: Jerry Maretzky; FO- MIN. DIRETOR: J. B. Tanko; PRO- TOGRAFIA: Tony Rabatoni, Amleto DUTORA: P. C. Herbert Richers e Daissé e Alberto Attili; MONTAGEM: J. B. Tanko Filmes; PRODUÇÃO: J. Lupe e Luiz Elias; CENOGRAFIA: B. Tanko, Alexandre Horvat e Adal- João Maria dos Santos; MÚSICA: berto Vieira; ROTEIRO: J. B. Tanko Moacir Santos; ELENCO: Reginaldo (baseado em romance homônimo de Farias, Ambrósio Fregolente, Jorge Nelson Rodrigues); FOTOGRAFIA: Dória, Norma Blum, Nelly Martins, Tony Rabatoni; MONTAGEM: Rafael Xandó Batista, Elieser Gomes, Eliza- Justo Valverde; MÚSICA: João Ne- beth Gasper, Glauce Rocha, Jorge grão; ELENCO: Vera Viana, Jece Cherques, Miriam Persia, Raul da Valadão, Maria Helena Dias, Ambrósio Mata, Betty Faria, Giorgia Quental, Fregolente, Nestor Montemar, Milton Liana Duval, Paulo Max, Miguel O. Carneiro, Roberto Duval, Lícia Magno, Schneider, Marilena de Carvalho. Tina Gonçalves. ENGRAÇADINHA DEPOIS DOS A FALECIDA – RIO DE JANEIRO, 1965, TRINTA – RIO DE JANEIRO, 1966, P&B, 35 MM., 85 MIN. DIRETOR: P&B, 35 MM., 95 MIN. DIRETOR: Leon Hirszman; PRODUTORA: P. C. J. B.Tanko; PRODUTORA: Cine- Meta; PRODUÇÃO: Joffre Rodrigues matográfica Herbert Richers e J. B. e Aluisio Leite Garcia; ROTEIRO Tanko Filmes; PRODUÇÃO: Nel- E ADAPTAÇÃO: Eduardo Coutinho

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son Rodrigues e Herbert Richers; Camila Amado, Nelson Dantas, Mara ROTEIRO: J. B. Tanko (baseado em Rúbia , Érico Vidal, An- argumento de Nelson Rodrigues); dré Valli, Ambrósio Fregolente, Cidi- DIÁLOGOS: Nelson Rodrigues; nha Milan, Abel Pêra. FOTOGRAFIA: José Rosa; MON- TAGEM: Rafael Justo Valverde; A DAMA DO LOTAÇÃO – RIO DE MÚSICA: Roberto Nascimento; JANEIRO, 1978, COR, 35 MM., 105 ELENCO: Irma Alvarez, Fernando MIN. DIRETOR: Neville D’Almeida; Torres, Vera Viana, Nestor Montemar, PRODUTORA: Regina Filmes, Mário Petraglia, Carlos E. Dolabella, Embrafilme; PRODUÇÃO: Nelson Cícero Costa, Cláudio Cavalcanti. Pereira dos Santos; ADAPTAÇÃO: Neville D’Almeida (baseada em conto TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA – homônimo de Nelson Rodrigues); RIO DE JANEIRO, 1973, COR, 35 DIÁLOGOS: Nelson Rodrigues; MM., 107 MIN. DIRETOR: Arnaldo FOTOGRAFIA: Edson Santos; MON- Jabor; PRODUTORA: P. C. R. F. TAGEM: Raimundo Higino; ELENCO: Farias, Ventania P. C.; PRODUÇÃO: Sônia Braga, Nuno Leal Maia, Jorge Paulo Porto; ROTEIRO: Arnaldo Ja- Dória, Paulo César Pereio, Márcia Ro- bor (baseado em peça homônima de drigues, Iara Amaral, Cláudio Marzo, Nelson Rodrigues); FOTOGRAFIA E Roberto Bonfim, Paulo Villaça. CÂMERA: Lauro Escorel; DIREÇÃO DE ARTE: Régis Monteiro; MON- BONITINHA, MAS ORDINÁRIA OU TAGEM: Rafael Justo Valverde; DI- OTTO LARA RESENDE – RIO DE REÇÃO MUSICAL: Paulo Santos; JANEIRO, 1980, COR, 35 MM., 105 MÚSICAS: Astor Piazzola; Roberto MIN. DIRETOR: Braz Chediak; PRO- e Erasmo Carlos; Carl Orff; George DUTORA: Sincrocine; PRODUÇÃO: M. Cohan e Al Jolson; Quincy Jones; Pedro Carlos Rovai; ROTEIRO: Gilvan ELENCO: Darlene Glória, Paulo Porto, Pereira, Sindoval Aguiar, Jorge La- Paulo César Pereio, Paulo Sacks, Isabel clette e Doc Comparato (baseado Ribeiro, , Elza Gomes, em peça homônima de Nelson Ro- Henriqueta Brieba, Sérgio Mamberti, drigues); DIÁLOGOS: Nelson Ro- Abel Pêra. drigues; FOTOGRAFIA: Hélio Silva; MONTAGEM: Rafael Justo Valverde; O CASAMENTO – RIO DE JANEIRO, MÚSICA: John Neschling ; ELENCO: 1975, COR, 35 MM., 96 MIN. DI- Lucélia Santos, José Wilker, Vera Fis- RETOR: Arnaldo Jabor; PRODU- cher, Carlos Kroeber, Milton Moraes, TORA: Ventania P. C., P. C. R. F. Sônia Oiticica, Xuxa Lopes, Wilson Farias; PRODUÇÃO EXECUTIVA: Grey. Paulo Porto; FOTOGRAFIA: Dib Lufti; MONTAGEM: Rafael Justo Valverde; OS SETE GATINHOS – RIO DE ELENCO: Adriana Prieto, Paulo Porto, JANEIRO, 1980, COR, 35 MM., 109 MIN. DIRETOR: Neville D’Almeida; www.bocc.ubi.pt 12 Marcelo Bolshaw Gomes

PRODUTORA: Cineville, Embrafilme Carlos Gregório, Miriam Fischer, Dora e Terra Filmes; PRODUÇÃO: Scar- Pellegrino, Adriana Figueiredo. lett Moon de Chevalier; ROTEIRO: Gilberto Loureiro e Neville D’Almeida; ENGRAÇADINHA – RIO DE JANEIRO, FOTOGRAFIA: Edson Santos; MON- 1981, COR, 35 MM., 100 MIN. TAGEM: Marco Antonio Cury; DIRETOR: Haroldo Marinho Bar- MÚSICA: Lulu Santos, A Cor do Som; bosa; PRODUTORA: Encontro P. C. ELENCO: , Cristina Aché, e Embrafilme; PRODUÇÃO: Paulo Regina Casé, Thelma Reston, Ary Thiago; ROTEIRO: Haroldo Marinho Fontoura, Sura Berditchevsky, Antônio Barbosa; FOTOGRAFIA: Antonio Fagundes. Penido; MONTAGEM: Gilberto San- teiro; MÚSICA: Sérgio Guilherme O BEIJO NO ASFALTO – RIO DE Saraceni; ELENCO: Lucélia Santos, JANEIRO, 1980, COR, 35 MM., 77 José Lewgoy, Nina de Pádua, Luiz MIN. DIRETOR: Bruno Barreto; PRO- Fernando Guimarães, Daniel Dantas, DUTORA: Embrafilme e Filmes do Nélson Dantas, Wilson Grey, Carlos Triângulo; PRODUÇÃO: Luiz Carlos Gregório e Cláudio Correa e Castro. Barreto; ROTEIRO: Doc Comparato (baseado na peça Beijo no Asfalto de A SERPENTE – RIO DE JANEIRO, Nelson Rodrigues); FOTOGRAFIA: 1980-82, COR, 35 MM., 77 MIN. Murilo Salles; MONTAGEM: Ray- DIRETOR: Alberto Magno; PRODU- mundo Higino; MÚSICA: Guto Graça TORA: Magnus Films; PRODUÇÃO: Mello; DIÁLOGOS: Nelson Ro- Alberto Magno; ROTEIRO: Alberto drigues; ELENCO: Tarcísio Meira, Magno (baseado em peça homônima Ney Latorraca, Lídia Brondi, Chris- de Nelson Rodrigues); FOTOGRAFIA: tiane Torloni, Daniel Filho, Oswaldo Dib Lutfi; MONTAGEM: Rubens A. Loureiro, Nélson Caruso. Amorim; ELENCO: Jece Valadão, Monique Lafond, Cristina Berio, Marco ÁLBUM DE FAMÍLIA – RIO DE Nanini, Zezé Motta, Ary Fontoura. JANEIRO, 1981, COR, 35 MM., 99 MIN. DIRETOR: Braz Chediak; PRO- PERDOA-ME POR ME TRAÍRES – DUTORA: P. C. Herbert Richers e J. RIO DE JANEIRO, 1983, COR, 35 B. Tanko Filmes; PRODUÇÃO: J. B. MM., 101 MIN. DIRETOR: Braz Che- Tanko, Alexandre Horvat e Adalberto diak; PRODUTORA: J. N. Filmes; Vieira; ROTEIRO: J. B. Tanko (baseado PRODUÇÃO: Joffre Rodrigues e Nel- no romance Asfalto selvagem, de Nel- son Rodrigues Filho; ROTEIRO: Gilson son Rodrigues); FOTOGRAFIA: Tony Pereira, Nelson Rodrigues Filho, Jof- Rabatoni; ELENCO: Lucélia Santos, fre Rodrigues e Braz Chediak (baseado Rubens Corrêa, , Vanda La- em peça homônima de Nelson Ro- cerda, Marcos Alvisi, Gustavo José, drigues); FOTOGRAFIA: Hélio Silva; MONTAGEM: Rafael Justo Valverde; MÚSICA: Radamés e Roberto Gnattali;

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ELENCO: Vera Fischer, Lídia Brondi, Ludmila Dayer, , Fran- Rubens Corrêa, Nuno Leal Maia, Zaira cisco Cuoco, Jorge Doria, Fernanda Zambelli, João Dória, Angela Leal, Montenegro; CACHORRO! ELENCO: Sadi Cabral. Alexandre Borges, Drica Moraes, José Henrique Fonseca BOCA DE OURO II – RIO DE JANEIRO, 1990, COR, 35 MM., 108 MIN. DI- GÊMEAS – RIO DE JANEIRO, 1999, RETOR: Walter Avancini; PRODU- COR, 35 MM., 75 MIN. DIRE- TORA: J.N. Filmes; PRODUÇÃO: TOR: Andrucha Waddington; PRO- Joffre Rodrigues; ROTEIRO: Walter DUTORA: Conspiração Filmes; PRO- Avancini (baseado em peça homônima DUÇÃO: Flávio Tambellini, Leonardo de Nelson Rodrigues); FOTOGRAFIA: M. de Barros, Pedro Buarque de Carlos Egberto, Hélio Silva e Didi Hollanda; ROTEIRO: Elena Soarez Doblutei; ELENCO: Tarcísio Meira, (baseado em conto homônimo de Cláudia Raia, Hugo Carvana, Luma Nelson Rodrigues); FOTOGRAFIA: de Oliveira, Ricardo Petraglia, Maria Breno Silveira; MONTAGEM: Sergio Padilha, Osmar Prado, João Signorelli Mekler; MÚSICA: Michelle Dibucci; ELENCO: Fernanda Torres, Evandro TRAIÇÃO – RIO DE JANEIRO, 1998, Mesquita, Francisco Cuoco, Matheus COR, 35 MM., 110 MIN. DIREÇÃO: Nachtergaele, Fernanda Montenegro. Arthur Fontes, Cláudio Torres e José Henrique Fonseca; PRODUTORA: VESTIDO DE NOIVA – RIO DE Conspiração Filmes, Globosat e JANEIRO, 2006 (Brasil) direção: Joffre Ravina Produções e Comunicações; Rodrigues. Estúdio:JBR Filmes Ltda. PRODUÇÃO: Flávio R. Tambellini, Distribuidora:Riofilme. Roteiro:Joffre Leonardo Monteiro de Barros e Pedro Rodrigues, baseado em peça teatral de Buarque de Holanda; ROTEIRO: Nélson Rodrigues. Produção:Joffre Maurício Zacharias, Fernanda Torres, Rodrigues. Fotografia:Nonato Estrela. Cláudio Torres e Patrícia Melo (baseado Direção de arte:Alexandre Meyer. nos contos "O primeiro pecado", "Dia- Figurino:Rita Murtinho. Edição:Eric bólica"e "Anemia perniciosa", de Marin atores: Marília Pêra , Simone Nelson Rodrigues); FOTOGRAFIA: Spoladore , Letícia Sabatela , Marcos Affonso Beato e Breno Silveira; Winter , Bete Mendes. TRUCAGENS: The Effects House Corp., John Alagna, Robert Rowohlt BONITINHA, MAS ORDINÁRIA – e Bob Schulze; MONTAGEM: João 2010, DIREÇÃO: Moacyr Góes; Paulo de Carvalho e Sérgio Mekler; O ESTUDIO:Diler & Associados. PRIMEIRO PECADO ELENCO: Pe- ROTEIRO: Moacyr Góes, baseado em dro Cardoso, Fernanda Torres, Tonico peça teatral de Nelson Rodrigues; PRO- Pereira, Fernanda Montenegro; DIA- DUÇÃO: Diler Trindade; MÚSICA: BÓLICA ELENCO: Daniel Dantas, Ary Sperling; FOTOGRAFIA: Jacques Cheuiche; DIREÇÃO DE ARTE: www.bocc.ubi.pt 14 Marcelo Bolshaw Gomes

Paulo Flaksman; FIGURINO: Bettine Silveira; EDIÇÃO E EFEITOS ESPE- CIAIS: imagens – 9; ELENCO: João Miguel (Edgar); Leandra Leal (Riti- nha); Letícia Colin (Maria Cecília); Gracindo Junior (Werneck); Ângela Leal (D. Berta); André Valli (Porteiro Osíris); Leon Góes (Peixoto; Lí- gia Cortez (D. Lígia); Giselle Lima (Teresa); Alcemar Vieira (Alfredinho); Alexandre Zachia (Coveiro); e outros.

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