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ESTUDO SOBRE OS CASAMENTOS INFANTIS NA PROVÍNCIA DE O CASO DOS MUNICÍPIOS DE GANDA E

Realizada pelo CIES por Desiderio Segundo

FEVEREIRO 2016

INDICE

ABREVIAÇÕES 3

INTRODUÇÃO 4

I CAPITULO - CONTEXTUALIZAÇÃO 6

1.1 ENQUADRAMENTO HISTORICO GEOGRAFICO 6

1.1.1 SOBRE 6

1.1.2 SOBRE BENGUELA 8

1.1.3 SOBRE CUBAL 9

1.1.4 SOBRE GANDA 12

1.2 CONTEXTUALIZAÇÃO SOCIO-CULTURAL 14

1.2.1 14

II CAPITULO - TEORIZAÇÃO 18

2.1 CONCEITUALIZAÇÃO DO CASAMENTO PRECOCE 18

2.1 CAUSAS 20

2.2 CONSEQUÊNCIAS 22

2.3 ENQUADRAMENTO JURÍDICO 23

2.3.1 LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL 23

2.3.2 LEGISLAÇÃO NACIONAL 27

III CAPITULO - LANÇAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS 30

3.1 BREVE APRESENTAÇÃO DA PESQUISA 30

3.2 RESULTADOS DA PESQUISA 32

3.2.1 CUBAL 32

3.2.2 GANDA 39

3.3 ANALISE DOS RESULTADOS 45

3.4 SUGESTÕES E RECOMENDAÇÕES 52

CONCLUSÃO 54

BIBLIOGRAFIA 56

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ABREVIAÇÕES

CIES Centro Informazione e Educazione allo Sviluppo CFB Caminho de Ferro de Benguela

INAC Instituto Nacional da Criança

MINARS Ministério da Assistência e Reinserção Social

MINFAMU Ministério da Família e Promoção da Mulher

MPLA Movimento Popular para Libertação de Angola

NDHC Núcleo dos Direitos Humanos Comunitários

OMA Organização da Mulher Angolana

OMS Organização Mundial da Saúde

ONG Organização Não Governamental

ONU Organização das Nações Unidas

OUA União Africana

PROMAICA Promoção da Mulher Angolana na Igreja Católica

UNICEF Fundo Das Nações Unidas para a Infância

UNITA União Nacional para Independência Total de Angola

VIH Vírus da imunodeficiência humana

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INTRODUÇÃO

O casamento precoce ou infantil é compreendido como a união formal ou informal entre duas pessoas, desde que uma delas ou os duas tenham menos de 18 anos de idade (maior idade). Neste tipo de situação, os mais afectados, de acordo com os dados estatísticos internacionais, continuam a serem as mulheres, em particular as meninas ou adolescentes.

O casamento precoce enquadra-se fundamentalmente como um problema social, uma vez que este acto viola gravemente a legislação internacional e nacional e põe em causa a dignidade da pessoa humana, em todos os direitos inerentes a criança, ao menor e a mulher.

É importante lembrar que Nascimento, Casamento e Morte são os três principais eventos na vida da maioria dos seres humanos. Mas apenas um deles, o casamento, é determinado por uma escolha. Não decidimos quando nascer e nem quando morrer, mas é possível decidir quando casar. O direito de exercer essa escolha foi reconhecido pela lei já em tempos romanos, e tem sido desde há muito tempo consagrado nos instrumentos jurídicos internacionais de direitos humanos e sucessivamente em cada pais que o adote.

No entanto, é possível ainda verificar, que muitos adolescentes tem sido forçados a se casarem sem serem capazes de exercerem o seu direito de escolha, deixando assim de poder escolher uma das coisas mais importantes na sua vida. Tal acto como vimos representa uma agressiva violação dos direitos humanos e constitui-se como um crime tanto para os pais que dão os seus filhos e filhas em casamento, como para, em muitos casos, os adultos que os/as recebem em casamento.

Em Angola existem poucos dados relativos a situação do casamento precoce a nível nacional, porque ainda não foi realizado um estudo completo, mas somente focados por casos ou áreas específicas. Assim sendo, existe a necessidade de conhecer a real condição do problema, as suas causas profundas, a extensão e sobretudo a percepção social que as comunidades têm sobre o assunto.

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Neste sentido, a presente pesquisa tem como objectivo apresentar a situação relativa ao casamento precoce dos Municípios de Ganda e Cubal, na província de Benguela, em comunidades rurais, como forma de contribuição e apoio na compreensão do problema dos casamentos precoces e encontrar possíveis soluções de redução deste fenómeno.

A estrutura deste estudo destina-se a divulgar informações, melhorar o nível de conhecimento sobre o tema e para ser usado pelos profissionais sociais do sector público e privado que trabalham em diferentes níveis na sociedade, em particular na educação dos jovens, no diálogo entre governo e sociedade civil, portanto com pessoas capazes de compreender as mudanças na sociedade e responder adequadamente as mesmas.

De forma especifica, o presente estudo será uma contribuição importante para poder apoiar os grupos mais vulneráveis da população, que estão expostos e sujeitos aos casamentos precoces, violando assim os direitos humanos e os direitos das crianças.

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I CAPITULO - CONTEXTUALIZAÇÃO

1.1 ENQUADRAMENTO HISTORICO GEOGRAFICO

1.1.1 SOBRE ANGOLA

Angola está situada na parte ocidental do Continente Africano e na costa sul do Oceano Atlântico, limitada geograficamente pelas República do Congo, Namíbia e Zâmbia, com uma superfície total de 1.246.700 km2. Administrativamente está divididas em 18 províncias, 173 municípios e 618 comunas, admitindo ainda a divisão em povoações nas zonas rurais e, com uma população estimada em cerca de 24.3 milhões de habitantes, sendo que 52% por cento do sexo feminino. Ainda deste total importa dizer que 62,5% é representado por pessoas que vivem nas cidades, portanto, 37,5% desse total vivem nas zonas rurais, apesar do êxodo rural desencadeado pela guerra civil.

Angola é um país com uma imensa diversidade histórica e cultural e de uma imensa riqueza natural, mas também com muitos problemas sociais, tanto nas zonas rurais como nas zonas urbanas.

Historicamente o país teve varias ocupações, desde os seus primeiros habitantes Khoisan, dispersos e pouco numerosos, que posteriormente com a expansão do povo Bantu, que chegaram no Norte de Angola a partir do segundo milénio, foram forçados a recuar para o Sul, abandonado assim o seu território habitual, dando lugar a ocupação Bantu.

Esta ocupação ganho corpo e no período que vai entre os séculos XIV e XVII, com o estabelecimento no território de uma série de reinos, sendo o principal o Reino do Congo que abrangeu o Noroeste da Angola de hoje e uma faixa adjacente da hoje República Democrática do Congo, da República do Congo e do Gabão, passou a ser considerado um território do povo Bantu.

No ano de 1568, entrava um novo grupo pelo norte, os Jagas, que combateram os Bakongo que os empurraram para sul, para a região de Kassanje. No século XVI ou

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mesmo antes, os Nnhanecas (Vanyaneka) entraram pelo sul de Angola, atravessaram o Cunene e instalaram-se no planalto da Huíla.

No mesmo século XVI, um outro povo abandonava a sua terra na região dos Grandes Lagos, no centro de África, e veio também para as terras angolanas. Eram os Hereros (ou Ovahelelos), um povo de pastores. Os Hereros entraram pelo extremo leste de Angola, atravessaram o planalto do Bié e depois foram-se instalar entre o Deserto do Namibe e a Serra da Chela, no sudoeste angolano.

Também no século XVI os portugueses instalam-se na região e fundam São Paulo da Assunção de , a actual cidade de Luanda.

Já no século XVIII, entraram os Ovambos (ou ambós), grandes técnicos na arte de trabalhar o ferro, deixaram a sua região de origem no baixo Cubango e vieram estabelecer-se entre o alto Cubango e o Cunene. No mesmo século, os Quiocos (ou Kyokos) abandonaram o Catanga e atravessaram o rio Cassai. Instalaram-se inicialmente na Lunda, no nordeste de Angola, migrando depois para sul.

Finalmente, já no século XIX apareceu o último povo que veio instalar-se em Angola: os Cuangares (ou Ovakwangali). Estes vieram do Orange, na África do Sul, em 1840.

Com o colonialismo português não se pode falar de fluxos de migrações consideráveis, mas de deslocações de povoações autóctones das áreas rurais, dirigidas pelos Portugueses, para o trabalho nas obras.

As grandes mudanças e misturas étnicas serão relevantes somente durante a guerra civil após a independência, porque milhões de pessoas se movimentarão das áreas rurais às cidades a procura de melhores condições e salvação. A guerra e as suas consequências estimularão de forma indirecta a aproximação entre as etnias e os casamentos entre as mesmas, reduzindo a distancia entre os grupos.

Todas estas e outras ocupações fazem do território angolano um grande mosaico cultural ainda hoje é visível e o tornam um país onde os hábitos e os costumes diferem de região à região, pelo que, alguns fenómenos, muitas vezes são vistos como algo completamente normal, mesmo quando estes ultrapassam os limites do costume.

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1.1.2 SOBRE BENGUELA

Benguela é umas das 18 províncias de Angola, tem como capital a cidade de Benguela e é composta por 10 municípios: Baía Farta, , Benguela, , , Chongorói, Cubal, Ganda, . A província de Benguela ocupa uma área de cerca de 39 827 km² e, dos dados preliminares do Censo Populacional 2014, tem uma população de 2.036.662 habitantes, dos quais 961.484 do sexo masculino e 1.075.178 do sexo feminino.

A maior parte desta população (1.278.680 pessoas) vive em zonas urbanas, correspondendo 62,8% da população total, contra 37,2% (757.982 pessoas) que vive nas zonas rurais.

A província de Benguela apresenta ainda uma grande maioria da população pertence hoje à etnia dos Ovimbundu, mas os diferentes grupos - (Mu) Ndombe, (Mu) Hanha (ortografia internacional: Hanya), (N) Ganda, Lumbo, - foram em geral "umbundizados" apenas no século XIX. Como consequência da Guerra Civil angolana e do êxodo rural que esta desencadeou, muitos Ovimbundu de outras regiões, nomeadamente da Província do , migraram para as cidades de Benguela e do Lobito que, como todas as grandes cidades de Angola, cresceram enormemente nas últimas décadas.

Benguela é um território rico e diverso, com recursos minerais, energéticos, agrícolas, marinhos e hídricos. De entre os recursos disponíveis na província são da salientar pela relevância extraordinária aptidão agrícola, a tradição no sector pecuário, os recursos marinhos oferecidos pela vasta costa, a disponibilidade de água e os recursos minerais.

A agricultura da província de Benguela mostra uma diversidade elevada, que a torna uma das áreas mais férteis do país. A pecuária tem também uma relevância sobretudo ao nível do consumo local e a pesca, quer artesanal, quer de frota, é um dos recursos naturais mais forte da para o que muito contribui o porto as vantagens naturais que lhe estão associadas.

A Província de Benguela detém uma centralidade excecional, que apoiada pela existência de um Porto comercial, de três aeroportos dos quais um internacional, lhe

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confere um posicionamento geoestratégico impar a nível nacional. A localização da província é também alavancada pelo Corredor de Benguela, que une Angola à República Democrática do Congo e à Zâmbia (zona de mineração e capital zambiana). O potencial turístico é também elevado; as praias e todo o enquadramento urbanístico-histórico, fazem da província de Benguela, uma área apetecida para o investimento hoteleiro, restauração e oferta de serviços complementares, nomeadamente, ligados ao mar.

A económica da Província de Benguela é prevalentemente de tipo agro-pecuária no âmbito da recolha do sisal, algodão, açúcar, café, bananas, feijão, e horticultura. Já a produção animal é feita com carne de porco, e bovina, além de leite e seus derivados. Na Província há também uma actividade de extração de mineral em particular o tungstênio, grafite e outros minerais.

A industria, sobretudo com a presença do Porto de Lobito é principalmente metalurgia, projectada ao refino de petróleo, a importação e produção de materiais de construção, têxtil e produtos alimentares.

Este êxodo rural étnico e populacional que Benguela hoje apresenta influencia claramente com a estrutura social da província, com o aumento do número de cidadão que procuram o seu bem-estar social e claramente com o aumento da população vulnerável e que necessita de protecção social.

1.1.3 SOBRE CUBAL

O Cubal é uma cidade (desde 23 de Janeiro de 1968) e um município da província de Benguela situa-se a 146 km da cidade de Benguela e a 200 km da cidade do Huambo, antiga. O município tem 4.794 km² e 287.931 habitantes, sendo o terceiro município mais populoso da Província de Benguela. Limita a Norte com o município do Bocoio, a Este com o município da Ganda, a Sul com o município de Chongoroi e a Oeste com o município de Caimbambo.

É banhado por um rio que partilha o seu nome, o rio Cubal. À sua volta, existem numerosos campos de cultivo do sisal, que conferem à sua terra um aroma muito

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particular. O sisal desempenhou um papel importante na economia da região durante o século XX, fornecendo grandes quantidades dessa matéria-prima para exportação.

O Caminho de Ferro de Benguela (CFB) chegou ao Cubal em 1908. Em 1974, foi concluída a construção de uma nova variante ligando o Cubal à cidade do Lobito, diminuindo a distância entre as duas cidades de 197 km para 153 km. Após muitos anos de interrupção de actividade a causa da guerra, esta variante foi reinaugurada em 2004, circulando nela actualmente três comboios por semana.

Na cidade de Cubal existem dois hospitais, um no centro da cidade o Hospital Municipal do Cubal, atualmente em fase de reabilitação e outro na área da missão católica no Tchambungo, o Hospital Nossa Senhora da Paz de Cubal, gerido pelas irmãs Teresianas. Há também centros de saúde nas diferentes comunas do município.

A administração municipal do Cubal é o órgão da administração do Estado que representa o poder e a autoridade estatal naquela localidade, bem como, o principal responsável no município pela implementação das políticas definidas a nível central, tal como responsável por dar uma resposta a todos os problemas estruturais, administrativos e sociais que o município enfrenta.

O município como tal existe já desde antes da independência (1975), ficando após a mesma sobre a responsabilidade das autoridades angolanas.

A população é composta por povoações, cada povoação é formada por um grupo de aldeias. Cada aldeia é constituída por um grupo de "Kimbos", que são um conjunto de casas de construção tradicional (adobe, palha e madeira) de uma ou mais unidades da família alargada. Estão actualmente identificados pela Administração Municipal 417 autoridades tradicionais distribuídas em quatro comunas.

Os grupos mais vulneráveis no âmbito municipal são: menores, idosos, deficientes físicos, órfãos (pessoas que vivem com VIH e pobres) e repatriados.

Em geral, as principais ocupações dos jovens da cidade são os estudos e algumas atividades geradoras de renda (empresa de pequeno porte, pescas, agricultura). Nas áreas urbanas, há alguns jovens que trabalham em empresas públicas e outras

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empresas privadas, mas o acesso a este trabalho é muito limitado, uma vez que nem todos os jovens têm formação.

Para os jovens, especialmente em áreas rurais, a situação é bastante crítica, uma vez que a maioria não tem formação ou condições financeiras para cursos de formação.

A agricultura é a principal actividade económica do município e è praticada por 91% das famílias. No passado, Cubal foi considerado o maior produtor de cereais na província de Benguela.

Um dos grandes problemas é que a maioria dos agricultores não têm nenhum título ou documento que concede o uso da terra e por isso, as autoridades tradicionais desempenham um papel muito importante no controle da disputa de terras.

A economia do município é composta por pequenos agricultores, médios e grandes agricultores. Os pequenos agricultores são proporcionalmente em número maior, e têm a agricultura como sua principal actividade para a sobrevivência, organizando-se em cooperativas. As principais culturas são o milho, feijão macunde, milho, amendoim. Em algumas regiões também cultivam mandioca, girassol e sorgo.

A criação animal no município é bastante frequente. Os principais criadores de animais se ocupam de gado (59%), caprinos (21%) e suínos (19%).

Os animais criados por camponeses têm várias finalidades. Aqueles de pequeno tamanho (cabras, porcos e galinhas) são usados em alimentos e comércio. Os bovinos são mais utilizados para tração animal.

A actividade de pesca é usada como fonte de subsistência econômica, mas não há dados sobre o volume das capturas. O Rio Cubal, Cuporolo e são aqueles que oferecem maiores possibilidades para a prática da pesca, embora têm riscos com a presença de crocodilos em alguns rios.

A caça também é uma atividade praticada em muitas partes da cidade, especialmente nos distritos de Tumbulu, Yambala e .

No Cubal o tipo de comércio dominante é aquele informal, como em todos os bairros há pequenos mercados em que o povo exerce suas atividades diárias.

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As principais actividades desenvolvidas por mulheres são na área da agricultura e a sua maioria não conseguiu um nível académico elevado. Nas áreas urbanas, são principalmente vendedoras informais de mercado. As mulheres que conseguiram estudar estão principalmente enquadradas na função pública, sendo principalmente enfermeiras e professoras.

Esta situação de baixa escolaridade das mulheres e de poucas oportunidades de ser enquadradas em um contexto laboral e social mais desenvolvido, as expõe desde criança, mas sobretudo no principio da adolescência, ao risco de serem assediadas sexualmente ou de serem utilizadas para trabalho domestico e rural, fechando as já poucas possibilidades das mesmas de ter acesso a oportunidades diferentes e fazer uma escolha de vida própria e não tomada pela família.

1.1.4 SOBRE GANDA

Ganda é uma cidade e município da província de Benguela, em Angola. Tem 4 817 km² e 224.668 habitantes, sendo o quarto município mais populoso da Província de Benguela. É composto por 4 Comunas (, Casseque, Chikuma, , Ganda), limita a Norte com os municípios do Bocoio e do Balombo, a Este com os municípios de Tchinjenje, e , a Sul com os municípios de e e a Oeste com o município do Cubal. Até 1975 designou-se Vila Mariano Machado.

Circundado de vários outros municípios, a cidade e o município da Ganda apresentam- se ainda como um dos municípios em que a protecção social se enquadra na linha dos principais problemas que a população enfrenta.

Do ponto de vista estrutural e administrativo figura naqueles em que a administração municipal é a principal instituição que assegurar a presença dos serviços do Estado na localidade. Assim, os representantes das instituições contactadas são principalmente funcionários da administração que desenvolvem as funções e representam os serviços dos órgãos do Estado no município.

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A principal fonte de rendimento económico da população é a agricultura. As diversas plantações de ananases, mangas, bananas e milho na Ganda são reconhecidas como sendo uma das melhores em termos de qualidade, obtendo várias colheitas por ano. Estas produções são posteriormente vendidas para todo o território Angolano destinando-se mesmo, em alguns casos, à exportação. Deste modo, constituem uma importante fonte de subsistência e de rendimento para a população.

Para fortalecer a capacidade económica e as trocas comerciais, foi recentemente reabilitada a estrada de ligação à província do Huambo.

Presentemente a Ganda encontra-se em fase de reestruturação e reconstrução de diversas infraestruturas básicas, as quais foram parcialmente destruídas aquando da guerra civil.

No entanto, Ganda é o município onde a protecção social dos idosos, jovens e crianças é fundamentalmente garantida pela administração do Estado com as suas insuficiências e limitações, devida por exemplo a falta de recursos humanos suficientes a responder as exigências e aos serviços de apoio complementares.

O contexto social no qual os menores e as meninas em particular crescem é parecido àquele de Cubal, no qual as mulheres têm um nível académico mais baixo em relação aos homens e estão ocupadas principalmente em actividades domesticas, no sector comercial informal e na agricultura. Assim sendo, também no contexto do município da Ganda encontram-se jovens que por falta de oportunidades de crescimento no âmbito académico, por falta do apoio da família em melhorar a própria condição social com as próprias capacidades escolares e, por vezes, por falta de outras oportunidades a nível de crescimento social, devida a falta de serviços, se encontram a contrair casamento após uma gravidez e serem obrigadas a constituir a própria família, não tendo a preparação física e mental para faze-lo.

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1.2 CONTEXTUALIZAÇÃO SOCIO-CULTURAL

Angola possui três principais grupos etno-linguísticos, os quais juntos, representam cerca de três quartos da população africana. Esses grupos, que não são linguisticamente homogêneos, são os Ovimbundu, Mbundu e Bakongo. Embora durante o período de guerra, por causa das migrações internas e dos acontecimentos bélicos, estes grupos misturaram-se bastante, a província de Benguela é actualmente composta na sua maioria pelos Ovimbundu.

1.2.1 OVIMBUNDU

Os Ovimbundu falam o Umbundu e estiveram historicamente concentrados nas províncias de Huambo e Bié, no planalto central do país. No período colonial, começaram a migrar para o litoral devido à falta de terra e à competição com agricultores brancos. Foram principalmente para as cidades de Lobito e Benguela. Muitos homens Ovimbundu também integraram as forças armadas portuguesas, em parte por razões econômicas e em parte porque os portugueses, deliberadamente, concentraram seu processo de recrutamento militar nas regiões centro e sul de Angola, na sequência do início da revolta nacionalista, em 1961.

Havia um certo desenvolvimento industrial na região dos Ovimbundu, sendo que Huambo e Lobito tornaram-se o segundo e o terceiro maiores centros industriais, atrás apenas de Luanda. A ferrovia de Benguela tornou-se um factor-chave na indução do desenvolvimento do planalto central.

De acordo com o censo de 1960, 38% dos angolanos eram Ovimbundu. Essa proporção parece não ter mudado desde então. Uma pesquisa nacional feita em 1996 (realizada em todas as 18 províncias, em áreas controladas tanto pelo MPLA como pela UNITA) mostrou que o Umbundu era a língua-materna de 30% da população.

O povo Ovimbundu é um povo culturalmente ligado a tradição e por isso as suas práticas antigas são ainda visíveis em muitos lugares, como é o caso da iniciação de jovens para a vida cultural e social que começa com a circuncisão.

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A palavra circuncisão masculina na sua língua tradicional, denomina-se por “Evamba ou Ekwendje” dependendo das áreas e, é uma prática sagrada e obrigatória. Trata-se de um rito que serve de transição da infância para a adolescência.

Normalmente realiza-se o acto na época do Cacimbo, por ser uma época friorenta por facilitar a cura das feridas que surgem após o corte.

Um contacto prévio é feito com os pais ou tutores das crianças. Posteriormente, cada família selecciona os rapazes em condições de partir e, depois todos juntos numa semi-caravana rumam à mata, num local já preparado que fica a dez ou mais quilómetros da zona habitada.

Por regra, o local escolhido possui um riacho próximo. O recinto que vai albergar os garotos designa-se por “Otjilombo”. Cada criança faz-se acompanhar do seu farnel que entregará ao seu tutor “Onawa” com habilidades para solucionar todas as questões durante o período de circuncisão que por norma dura 90 dias. O treino serve para aprender as técnicas de autodefesa, saber proteger o seu território, a família, dominar as técnicas de construção das suas residências e as artes de caça. Sobre este último aspecto, quem passou por esses acampamentos aprendeu e sabe que quem arremessa uma flecha aos olhos do animal, fica sujeito a uma multa caso seja visto pelos anciãos.

Durante a sua convivência no acampamento, os jovens também aprendem agricultura e outros ofícios, numa rigorosa iniciação que começa no mês de Junho e termina em Outubro, quando o juramento é feito.

No dia decidido, os jovens são levados um a um para um lugar específico onde lhes será subtraído a ponta do prepúcio “Utue” a sangue frio. Os mestres “Otjilue” orientam aos “Onawa” para tocar batuques, apitos e canções com o propósito de impedir que os gritos sejam captados pelos outros que aguardam pela sua vez.

Quando a cicatrização está consolidada, o jovem começa a ensaiar danças com a máscara (otchingandje), já se considerando evoluído em termos de aprendizagem.

Logo, a circuncisão como elemento cultural é uma tradição que marca o dia-a-dia dos povos Bantu. É uma maneira de aprender as regras, as normas de uma determinada sociedade, transmitidas e conservadas de geração em geração.

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Entre as meninas, o rito de iniciação chama-se Efiko e não consiste na circuncisão mas num ritual que serve como passagem para as meninas da infância a idade matura, porque no fim pode casar-se e ter uma família.

Efiko, kusikala, ovangolo ou hangolo são terminologias que se traduzem literalmente como rituais de iniciação feminina, uma referência a identidade do povo da região da Hanha que abarca os municípios do Chongoroi, Caimbambo, Cubal e uma parte da Ganda.

Depois que as meninas começam a menstruar, as famílias enviam as jovens para o “Otchitenda”, local do ritual, onde elas ficaram a saber sobre os regulamentos e vestes a serem usadas durante o rito.

A cerimónia do Efikó, envolve várias etapas, nomeadamente a preparação das jovens no Octhiotelo, o sacrifício de alguns animais e o processo de pintura com argila, que decorre debaixo de uma árvore, denominada “Utiwopanda”, que é um local proibido para os homens.

As raparigas são ainda ordenadas ao banho de rio e a trançar o cabelo segundo a linhagem familiar de cada uma, bem como a prepararem as suas vestes e serem submetidas a danças como Ondjando, Wtembo e Batuque.

A última etapa é o culminar das festividades, pois estão preparadas para a vida futura. Nesta fase elas associam-se aos jovens do sexo masculino circuncisados, que não tiveram a oportunidade de passar por esta cerimónia, que termina com passeatas em casas dos familiares dos participantes.

Os ritos de iniciação, na perspectiva sociológica, são processos de socialização, através dos quais as crianças e os adolescentes aprendem as normas, as regras da sociedade onde estão inseridas.

Em termos antropológicos, a cerimónia de iniciação é uma endo-culturação, que significa aprendizagem cultural das normas dos valores das sociedades Bantu, em que durante três ou mais meses os adolescentes são submetidos a um conjunto de ensinamentos sobre as tradições.

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Com estes mitos aprende-se a caçar, a pescar, durante a noite há um mais velho a contar histórias e provérbios. As meninas aprendem a cuidar da casa, dos maridos e como enfrentar as dificuldade da vida como esposa. Ambos aprendem num processo de transmissão filosófica da visão do mundo da sociedade cultural Bantu

Importa salientar que a iniciação (masculina ou feminina) é um rito de passagem, que marca a transição de uma posição social para outra, porque nas aldeias um jovem não circuncidado ou uma jovem que não passou pelo Efiko são estigmatizados, por não estarem completamente integrados na sociedade e nem preparados para enfrentarem os desafios da vida.

É por isso, que o próprio acto culmina com uma grande festa, em que é convidada toda a comunidade, a fim de testemunhar que o e a adolescente passaram para a classe de adultos e já têm outro estatuto social.

Nos últimos tempos, com o processo de urbanização, com o cristianismo e a escolarização, o sentido cultural da circuncisão começa a desaparecer e este vem sendo confundido unicamente como a preparação do homem para arranjar mulher, ignorando-se que a cultura Bantu também prevê que o homem para poder constituir família deve ter propriedades e capacidades de gestão da mesma.

Ainda assim, a evolução social e o afastamento das tradições meteram as mulheres na condição de não passarem nos ritos de iniciação e serem projectadas de um dia para outro da condição de criança a condição de mulher, mãe, esposa e chefe de família, não tendo a capacidade física, mental, cultural e emocional de poder gerir esta situação.

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II CAPITULO - TEORIZAÇÃO

2.1 CONCEITUALIZAÇÃO DO CASAMENTO PRECOCE

Analisando isoladamente cada um dos termos que compõem a palavra casamento precoce, poderemos ver que a palavra casamento etimologicamente é derivada de “casa” também pode ser do latim medieval casamentu: Ato solene de união entre duas pessoas, capazes e habilitadas, com legitimação religiosa e/ou civil.

Casamento ou matrimônio do ponto de vista global é um vínculo estabelecido entre duas pessoas, mediante o reconhecimento governamental, religioso ou social e que pressupõe uma relação interpessoal de intimidade, cuja representação arquetípica é a coabitação, embora possa ser visto por muitos como um contrato.

Segundo o Dicionário do Pensamento social do século XX (1996), o casamento é encarado como a ligação socialmente aprovada de um homem e uma mulher para fins de comunhão sexual procriação e colaboração económica. No entanto, esta concepção tem sofrido várias críticas principalmente para a disjunção da função económica. Para John Locke, o casamento por exemplo não é mais do que um pacto voluntário que tem a sua importância apenas na proteção das crianças.

No entanto, se pode dizer que ao longo dos anos a ideia do casamento teve várias vertentes, desde a vertente espiritual com a igreja no centra das atenções, encarando este como um acto sacramental e divino, passando a ideia mais contratual, onde o mesmo assumia uma característica mais de um contrato de pacto social, até as ideias mais marxista em que procuravam colocar o matrimónio mais no contexto das lutas de classes e das teorias feministas, tendo como principal foco a exploração da mulher na instituição casamento.

Assim as discussões e debates sobre o casamento levaram os sociólogos a olharem para vários aspectos e mudanças (positivos e negativos) da vida familiar e do casamento enquanto instituição social que a proclamava. Porém, as mudanças que se seguiam enfatizaram a nova importância do casamento no ajustamento da personalidade adulta e posteriormente os sociólogos, imbuídos das ideias feministas,

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começaram a olhar para um casamento com um pendor mais igualitário entre as partes como o modelo para o futuro.

Por outro lado a palavra Precoce é o nome atribuído a algo que nasce, se desenvolve ou acontece antes do tempo previsto; referente ao que surge ou ocorre com antecedência, fora do período habitual.

Etimologicamente, o termo "precoce" surgiu do latim praecox, e na língua portuguesa é utilizado como um adjetivo para qualificar um processo, uma condição ou uma pessoa.

A palavra precoce pode ser empregada para adjetivar determinado acontecimento prematuro, ou seja, que aconteceu mais cedo do previsto. Quando uma criança nasce antes dos nove meses de gestação da mulher, por exemplo, diz-se que nasceu precocemente (prematuro), antes do período considerado normal pela medicina para a formação completa e sadia do bebê.

O termo precoce também caracteriza os acontecimentos que podem provocar complicações ou problemas futuros, por exemplo, os recém-nascidos que nascem de maneira precoce, normalmente, apresentam complicações após o parto, como dificuldades para respirar. Por norma, as crianças prematuras devem permanecer em observação em incubadoras ou berços sob cuidados específicos de enfermeiros e médicos.

Dai que, o casamento precoce é definido como um casamento formal ou união informal entre duas pessoas, desde que uma delas ou as duas tenham menos de 18 anos de idade.

Alguns sociólogos definem ainda o casamento precoce como um vínculo ou união estabelecido por duas pessoas sendo uma delas menor, sem o reconhecimento governamental, que muitas vezes tem sido forçado originado por várias razões que apoquentam a sociedade.

Assim, porque uma pessoa com idade inferior a 18 anos (criança) não é capaz de dar o seu consentimento válido para se casar, os casamentos em que ambas ou apenas uma

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das partes é menor de idade, são considerados como uniões forçadas, o vulgarmente chamado casamento precoce.

2.1 CAUSAS

Existem vários factores que influenciam ou facilitam o envolvimento de crianças em relações que chegam a ser de convivência familiar na condição de marido ou mulher. Assim podemos agrupar a causas do casamento precoce nos seguintes níveis:

Nível Económico: o casamento precoce muitas vezes é usado como forma de melhoria de renda da família e para a redução de custos familiares com a saída de um dos membros. Nesta condição, o facto de a família ser de renda baixa leva muitas vezes os pais a decidirem mais cedo o futuro conjugal de seus filhos de modo a “liberarem-se” destes como peso na situação financeira da família, como despesa. Ainda para os casos nos quais a menina é de família pobre, o casamento é uma forma para obter algum rendimento com dote do alambamento e que melhorar a renda económica da família.

Nível Social: a nível social encontramos como uma das causas do casamento precoce, o comportamento social do individuo na adolescência, ou seja, geralmente o comportamento que o adolescente tem a causa da influência do meio social em que está inserido. Esta influência, é fundamental na formação da consciência da pessoa. O individuo muitas vezes toma decisões porque é influenciado no seu comportamento por parte dos outros, sob condição de que se não o fazer poder ser julgado e até mesmo afastado do grupo.

Isso pode acontecer quando os adolescentes têm tendência de partirem para a vida sexual muito mais cedo, faz com que muitos o façam sem mesmo terem noção dos riscos, mas apenas para poder estar em concordância com o grupo, provocando muitas vezes as gravidezes precoces e consequentemente o casamento precoce.

Outros motivos podem ser identificados nas influências que o mau aproveitamento dos meios de comunicação modernos produz. Os adolescentes de hoje fazem apenas um uso negativo dos serviços de comunicação social como televisão, internet, redes sociais. Por exemplo de uma novela pegam apenas a parte do namoro e do sexo,

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deixando de lado toda a mensagem positiva que a mesma traz sobre estes temas ou ainda utilizam internet não para enriquecer o próprio conhecimento, mas para visitas em sites pornográficos e inscrições nestes.

Nível Cultural: Os ritos de iniciação masculina e feminina em áreas muito mais rígidas culturalmente funcionam como o período em que a criança é preparada para ter uma vida sexualmente activa e a partir daí a mesma é também considerada como apta para iniciar uma vida familiar.

Esta visão muito limitada das crianças que completam estas fases de iniciação sejam já confrontadas e obrigada a nível familiar e comunitário com a ideia de constituir uma família.

Nível Familiar: A pobreza familiar leva os pais, garantes do bem-estar social e económico dos filhos, imbuídos muitas vezes de ideias que o casamento dos filhos é uma responsabilidade deles, procuram um casamento para os filhos que vise satisfazer os interesses da família, sem que os filhos em causa sejam tidos em conta.

Familiarmente os pais são responsáveis pela felicidade dos filhos e são estes que devem procurar o parceiro ou parceira para o mesmo ou mesma. Este acto geralmente acontece após o nascimento da criança, ou seja, duas crianças que nascem na mesma época podem ser acordadas para um futuro casamento pelos pais e, de forma a garantir que isso aconteça na normalidade, as mesmas crianças são criadas e educadas com ideia de que serão marido e mulher, o que faz com que isso possa acontecer antes dos 18 anos de idade.

Nível Religioso: Há ainda aqueles que se casam porque veem no casamento uma forma de fugir da tentação de fornicar. Neste caso o casamento passa a ter o único objetivo de dar ao jovem a liberdade de se relacionar sexualmente sem pecar.

Além dos conflitos que o jovem enfrenta para manter uma vida de castidade, existem ainda as cobranças em casa e principalmente na igreja, resultando muitas vezes em casamentos apressados, com um tempo muito curto de namoro, não dando aos noivos a oportunidade de se conhecerem bem.

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Embora o casamento possa ser um meio de extravasar legitimamente os impulsos sexuais, isto não significa que se deva apressar o casamento apenas por esta razão.

Jovens que se casam apenas por essa razão ignoram completamente o verdadeiro sentido do casamento e o compromisso que estão assumindo.

2.2 CONSEQUÊNCIAS

O casamento precoce, mesmo a causa da imaturidade de um ou de ambos os parceiros, provoca algumas consequências, que poem em risco nao somente o direito a felicidade no seio da família e da sociedade de cada pessoa, como também a vida da parte mais vulnerável no casamento e da sua descendência. A seguir podem ser identificadas as principais consequências do casamento precoce, sobretudo do ponto de vista das meninas.

Violência domestica: As meninas estão sujeitas a um elevado risco de violência dos seus parceiros e famílias, porque não tem capacidade de se defender e poder gerir as situações familiares. As meninas de facto são mais propensas em sofrer actos de agressão física ou ameaças por parte dos seus maridos do que as mulheres que se casam mais tarde.

Violência sexual: Também neste caso, as meninas são mais propensas em descrever a sua primeira experiência sexual como forçada e não desejada, quase traumática e, em geral, também porque casam com homens muito mais velhos.

Violência psicológica e emocional: Muitas vezes as meninas sofrem pressão emocional de suas famílias, dos maridos ou dos parentes limitando assim a sua capacidade em tomar decisões sobre a sua própria vida, corpo e filhos.

A iniciação sexual forçada e a gravidez precoce também podem ter efeitos duradouros e nefastos sobre a saúde física, emocional e psicológica da rapariga vitima durante toda a sua vida.

Limitações no desenvolvimento humano das meninas/mulheres: O casamento prematuro enfraquece a rapariga, limita as suas oportunidades de desenvolvimento

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seja do ponto de vista pessoal como do seu envolvimento e contribuição no crescimento nacional. Ainda, a gravidez precoce pode ter consequências e uma ligação directa com a taxa de mortalidade materno-infantil, diminuindo o numero dos cidadãos e das pessoas que possam desenvolver o país.

Abandono escolar: O casamento prematuro é uma das principais causas da desistência escolar entre as raparigas.

Do ponto de vista da saúde nacional, podem ser encontradas três principais consequências do casamento precoce:

Mortalidade materna: O casamento prematuro tem ligação com a gravidez precoce e riscos elevados associados a mortalidade materna porque o corpo da adolescente não está preparado para uma gravidez e tem mais probabilidade de poder morrer durante o parto que uma mulher mais madura. Mortalidade infantil: As taxas de mortalidade neonatal, infantil e menor de 5 anos são mais elevadas para as crianças nascidas de mães com idade abaixo dos 20 anos. Riscos de malnutrição infantil: As crianças de mães adolescentes estão também sujeitas a elevados riscos de subnutrição a causa da imaturidade na responsabilidade de ser mãe das adolescentes.

2.3 ENQUADRAMENTO JURÍDICO

2.3.1 Legislação Internacional

Há toda uma série de instrumentos legais de direitos humanos e da legislação nacional que estabelecem as regras para aplicar ao casamento e que tratam de aspectos como a idade, o consentimento, a igualdade no relacionamento conjugal, os direitos da pessoa e da propriedade das mulheres.

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O Artigo 16° da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), de 1948 reconhece que:

(1) Os homens e as mulheres em idade adulta (...) têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. No casamento, a união conjugal e após a sua dissolução, eles têm direitos iguais.

(2) O contrato de casamento é somente com o livre e pleno consentimento das partes.

Existem disposições semelhantes no Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966 e no Pacto Internacional sobre os direitos civis e políticos, também de 1966.

Já a Convenção Suplementar sobre a Abolição da Escravatura, do Tráfico de Escravos e instituições e práticas similares à escravatura, de 1956, inclui entre as instituições e práticas análogas à escravidão: (c) do artigo 1.º “Qualquer instituição ou consultório em que (i) uma mulher, sem o direito de recusar, é prometida ou dada em casamento mediante o pagamento de um benefício em dinheiro ou em espécie para o benefício de seus pais, tutores ou familiares”.

O artigo 16.º no ponto 1. da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres de 1979, prevê a igualdade entre homens e mulheres, dando-lhes: (a) igual direito de se casar; (B) Igual direito de escolher livremente o cônjuge e de contrair matrimônio somente com o livre e pleno consentimento; (...), no Artigo 16.º Ponto 2º estabelece que: “o noivado e casamento de uma criança não terão validade legal, e serão tomadas todas as medidas necessárias, inclusive legislativas, para estabelecer uma idade mínima para o casamento”.

A nível da União Africana, em que Angola é parte encontramos em grande plano e como instrumento de maio realce a em relação a criança, a Carta Africana sobre os Direitos e Bem-estar da Criança de 1990, onde no seu Artigo XXI, diz claramente o seguinte: “Está proibido o casamento de menores e a promessa de casamento de meninos e meninas, e serão tomadas medidas eficazes, incluindo actos de direito, para corrigir que seja fixada a 18 anos a idade mínima para o casamento”.

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Já a Convenção Sobre os Direitos das Crianças (aprovada na 44ª sessão da ONU, 1989), define a criança como todo o ser humano com menos de dezoito anos, excepto se a lei nacional conferir a maioridade mais cedo. A mesma definição de criança é subscrita pela Carta Africana dos Direitos e Bem-estar da Criança (XXVI Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da OUA, 1990).

Assim, porque uma pessoa com idade inferior a 18 anos (criança) não é capaz de dar o seu consentimento válido para se casar, os casamentos em que ambas ou apenas uma das partes é menor de idade, são considerados como uniões forçadas, o vulgarmente chamado casamento prematuro. Um relatório das Nações Unidas para o tráfico de pessoas, em particular mulheres e crianças de 2007 vai mais longe: “o casamento imposto a uma mulher não pela força explícita, mas submetendo-a a pressão implacável e/ou manipulação, muitas vezes dizendo-lhe que a recusa de um pretendente irá prejudicar a sua família na comunidade, também pode ser entendido como forçado”.

Por estas razões, o casamento prematuro é condenado tanto ao nível do sistema universal dos direitos humanos, como em instrumentos legais regionais e nacionais.

Começando com a Convenção Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres (1979), onde podemos ver que há um princípio de base, definido no seu artigo 1.º segundo o qual:

“Para efeitos da presente Convenção, a expressão “discriminação contra a mulher” referir-se-á a toda a distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objecto ou resultado menoscabar ou anular o reconhecimento, o gozo ou exercício por parte da mulher, independentemente do seu estado civil, com base na igualdade do homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdades fundamentais nas esferas política, económica, social, cultural e civil ou em qualquer outra esfera”.

Esta Convenção vincula os estados a tomarem medidas efectivas para acabar com a discriminação das mulheres nas leis e práticas (art. 2) e mais adiante estabelece que “Os Estados Partes tomarão todas as medidas apropriadas para: a) Modificar os padrões socioculturais de conduta de homens e de mulheres, com vista a alcançar a eliminação dos preconceitos e das práticas consuetudinárias e de qualquer outra

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índole que estejam baseadas na ideia da inferioridade ou superioridade de qualquer dos sexos ou em funções estereotipadas de homens de e de mulheres” (art. 5).

Por seu turno, a Convenção Sobre os Direitos das Crianças (já referida mais acima), estabelece que “a criança, para o desenvolvimento harmonioso da sua personalidade, deve crescer num ambiente familiar, em clima de felicidade, amor e compreensão” (artigo 1). E que, “Todos os direitos se aplicam a todas as crianças sem excepção. O Estado tem obrigação de proteger a criança contra todas as formas de discriminação e de tomar medidas positivas para promover os seus direitos” (art. 2, nº 1).

Esta Convenção define também o “Interesse superior da criança” (art. 3), que diz que o estado é, em última instância, responsável por garantir os cuidados adequados à criança, quando os pais, ou outras pessoas responsáveis por ela não tenham capacidade para o fazer”. Quer isto dizer que o garante máximo dos direitos das crianças é o estado. Por isso, mesmo que elas se encontrem à guarda dos pais ou outro representante legal, o estado deve intervir se houver violação dos seus direitos.

“1. Os Estados Partes tomam todas as medidas legislativas, administrativas, sociais e educativas adequadas à protecção da criança contra todas as formas de violência física ou mental, dano ou sevícia, abandono ou tratamento negligente; maus tratos ou exploração, incluindo a violência sexual, enquanto se encontrar sob a guarda de seus pais ou de um deles, dos representantes legais ou de qualquer outra pessoa a cuja guarda haja sido confiada”.

A mesma convenção, da ainda um grande destaque à violência sexual ao reconhecer que “Os Estados Partes comprometem-se a proteger a criança contra todas as formas de exploração e de violência sexual. Para esse efeito, os Estados Partes devem, nomeadamente, tomar todas as medidas adequadas, nos planos nacional, bilateral e multilateral para impedir:

Que a criança seja incitada ou coagida a dedicar-se a uma actividade sexual ilícita” (Artigo 34).

Esta legislação estatui, clara e irrefutavelmente, o direito à maior protecção das crianças. Não devem constituir barreiras para o exercício dos seus direitos nem a

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vontade dos pais ou seus tutores legais, nem práticas religiosas ou culturais em uso no contexto em que se encontra a criança.

2.3.2 Legislação Nacional

Todas estas medidas encontram correspondência também na legislação nacional, começando pela Constituição da República de Angola, onde no seu artigo 24.º (Maioridade) vem definido como 18 anos a altura em que o individuo adquiri a maioridade, ou seja em termos gerais, um individuo em angola só adquiri uma capacidade jurídica, isso quer dizer, de decidir livremente e sem autorização prévia a partir daquela idade.

Já no artigo 35.º (Família, Casamento e Filiação), ponto 6 a Constituição reconhece a responsabilidade de uma protecção do menor, justamente pelo facto de este não ter ainda capacidade jurídica, tanto por sua parte como por parte da família, conforme descrito “A protecção dos direitos da criança, nomeadamente, a sua educação integral e harmoniosa, a protecção da sua saúde, condições de vida e ensino constituem absoluta prioridade da família, do Estado e da sociedade”.

Na lei n.º 25/12, lei sobre a protecção e desenvolvimento integral da criança, a criança goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana em geral, sem prejuízo dos direitos fundamentais especialmente destinados à protecção e ao desenvolvimento da criança ou do sistema de protecção e de desenvolvimento integral previsto pela presente lei (Artigo 3.º Direitos Fundamentais).

A lei prevê ainda, no âmbito da protecção da criança, a adopção de medidas contra raptos e abusos, onde no seu artigo 33.º ponto 2 a linha a) diz o seguinte: “As medidas referidas no número anterior devem ainda assegurar a protecção da criança contra as formas de abuso e exploração sexual, impedindo, designadamente: a) Que a criança seja incitada ou coagida a dedicar-se à actividade sexual pelos pais, tutor, família de acolhimento, representante legal ou terceira pessoa;” daqui pode-se intender que o casamento precoce, quer seja ou não por iniciativas dos pais, põe em causa o princípio ora enunciado.

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A criança é ainda vista como elemento de especial atenção e protecção, no Código da família de Angola, no seu artigo 4.º sobre a protecção e igualdade da criança onde diz o seguinte: “ As Crianças merecem especial atenção no seio da família, a qual cabe, em colaboração com o Estado, assegura-lhes a mais ampla protecção e igualdade para que eles atinjam o seu integral desenvolvimento físico e psíquico, e no esforço da sua educação, se reforcem os laços entre a família e a sociedade.”

O código define ainda o casamento como a união voluntária entre um homem e uma mulher, o que pressupõe a necessidade de uma aceitação das partes, e, estabelece no artigo 24.º sobre a idade núbil que: “1. Só podem casar os maiores de 18 anos”, no entanto a mesma atribui ainda a responsabilidade da decisão de um casamento por menores de 18 anos aos pais ou encarregados de educação, sempre que o casamento se verifique necessário e como forma de protecção de um bem superior, como é o caso da criança. Assim no ponto 2º do artigo 24.º podemos encontrar que “Excepcionalmente poderá ser autorizado a casar o homem que tenha completado 16 e a mulher que tenha completado 15 anos, quando ponderada as circunstâncias do caso e tendo em conta o interesse dos menores, seja o casamento a melhor solução”.

Uma outro diploma que também pode ser usado como forma de proteção do menor em caso de verificação de casamento precoce são os 11 compromissos assumidos pelo governo de Angola na lei n.º 25/12 sobre a protecção e desenvolvimento integral da criança, que, embora serem pertences desta como objecto normativo, são de aplicação pratica e regulam a actividade governamental no âmbito da protecção a criança.

Por isso, quando em presença de um casamento prematuro, há matéria legal para intervir no sentido de proteger a criança e criminalizar todos os responsáveis envolvidos tanto os pais ou responsável legal que entregou a criança, quantos os adulto que recebem as criança e a mantém para fins de exploração laboral e ou sexual.

É ainda importante notar que em situação de casamento precoce e nos guiarmos pela Convenção sobre os Direitos da Criança, são normalmente negados as crianças os seguintes Direitos:

O direito à educação;

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O direito a ser protegida contra todas as formas de violência física ou mental, dano ou abuso, inclusive sexual e de todas as formas de exploração sexual; O direito ao gozo do mais alto nível possível de saúde; O direito à informação escolar e profissional e orientação; O direito de procurar, receber e transmitir informações e ideias; O direito ao descanso e lazer, e de participar livremente na vida cultural; O direito de não ser separada de seus pais contra a sua vontade; O direito à protecção contra todas as formas de exploração que afectem de qualquer modo o bem-estar da criança.

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III CAPITULO - LANÇAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS

3.1 BREVE APRESENTAÇÃO DA PESQUISA

A presente pesquisa foi desenvolvida na Província de Benguela nos municípios de Cubal e Ganda, com o objectivo de conhecer e recolher dados qualitativos e quantitativos sobre o quadro situacional do casamento precoce, ligado seja as gravidezes precoces e seja a casos de violação dos direitos dos menores nestas localidades. Durante a recolha dos dados foram envolvidos os activistas e as comunidades locais para também raciocinar em conjunto em relação ao problema, de forma encontrar soluções a nível local para a sua resolução e diminuição.

Assim sendo, foram entrevistadas individualmente um total de 23 pessoas, das quais 10 eram pessoas que viveram ou vivem um caso de casamento precoce e 13 eram pessoas que representavam instituições a nível das localidades. Isso para ter obter dados de tipo quantitativo e ter informações sobre idade, sexo, nível social e académico das pessoas que casam, quais as razões que levam ao casamento precoce e como vivem na relação depois do mesmo, dando relevância as situações de violência.

Além das entrevistas individuais foram realizados encontros com os grupos focais, nos quais foram recolhidos dados qualitativos sobre a percepção que a comunidade tem do problema dos casamentos precoces, das gravidezes na adolescência e dos casos de violência domestica como possível consequência da discriminação entre os géneros e da diferencia de idade, se existe no casal.

A nível das pessoas vítimas de casamento precoce, o grupo foi representado por 6 meninas e 4 rapazes com uma idade compreendida entre 14 e 30 anos conforme o Gráfico 1 abaixo.

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Idade dos entrevistados 12

10

8

6

4

2

0 10 a 14 15 a 17 Mais 18 Total

Menino Menina Total Lineare (Menina)

Gráfico 1

Como representado no Gráfico 1, das pessoas vítimas de casamento precoce que foram entrevistadas apenas uma até ao momento apresenta uma idade que não supera os catorze anos e consequentemente é ainda uma menina. No entanto fica claro que a maioria das meninas entrevistadas e que foram vítimas de casamento precoce não superaram ainda a idade de 17 anos.

No que concerne aos rapazes, todos os entrevistados embora tenham-se casado precocemente, já apresentam uma idade avançada.

Considerando os representantes das instituições, a pesquisa abrangeu instituições estatais, religiosas e associações ou instituições da sociedade civil locais, tais como; o MINFAMU, INAC, Repartição Municipal da Saúde, a OMA, Igreja Católicas, NDHC, aceitas e reconhecidos nas diferentes localidades como representantes e ou líderes locais, tais como podemos ver no Gráfico 2 abaixo.

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Autoridades Locais 30

25

20 13

15

10 4 2 2 5 1 5 2 7 0 2 1 Autoridade Civil Religiosa Tradicional Total

Chefia Liderança Conhecimento Tematico Total

Gráfico 2

3.2 RESULTADOS DA PESQUISA

3.2.1 CUBAL

A nível do município do Cubal foram realizadas entrevistas tanto com as vítimas de casamento precoce, como com os representantes locais de instituições como o INAC, MINFAMU, OMA, NDHC, os representantes de grupos religiosos como a PROMAICA, a Comissão de Catequese e o representante do grupo coral, o Director Escolástico e o representante do Hospital Municipal, para a compreensão de como este facto é encarado pelas autoridades civis, religiosas e da sociedade civil.

Assim no trabalho feito com as autoridades e segundo dados fornecidos pelos mesmos, foi ainda possível apurar que, para os dados referentes ao mês de Novembro de 2015, num total de 338 mulheres atendidas em estado de gestação 157 ainda não superaram a idade dos 24 anos e destas, 56 apresentam uma idade inferior a 14 anos, conforme a Tabela 1 abaixo.

TABELA 1: Referente aos dados de mulheres grávidas que deram entrada no hospital municipal do Cubal

≤14 15-24 25- 34 35-44 +45 TOTAL FAIXA ETARIA 56 101 89 65 27 338 TOTAL 338

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Fonte: ficha de controlo estatístico e consulta pré natal – CPN província de Benguela Município do Cubal, Novembro 2015.

A nível das entrevistas com as autoridades foi possível apurar ainda que existem no município mais casos de gravidez precoce que casos de casamento precoce e que a maior parte desses casos dão-se entre casais da mesma faixa etária, ou seja, tanto a menina como o menino não apresentam ainda uma idade superior aos 18 anos, facto que é visto tanto pela saúde pública, como pelas outras instituições ligadas ao trabalho com as crianças, como um problema.

Como nos diz o representante do INAC que ao responder a pergunta como é que era visto o casamento precoce a nível do Cubal, foi claro em dizer que:

“Há coisas que são tradicionais mais que com o desenvolvimento ficam ultrapassadas, por exemplo para a história do Cubal, antigamente casar-se com 15 ou 16 anos era o normal, mas hoje, com o desenvolvimento, algumas coisas ficaram ultrapassadas (…). Hoje os mais velhos ou encarregados preferem primeiro a educação, e esta não pode ser inferior ao segundo ciclo do ensino secundário. Daí o facto de hoje não se falar mais de uma aceitação do casamento precoce, mas o que não significa que eles já não existem, existem mais são poucos”.

Os casos de gravidez precoce chegam quase sempre ao casamento precoce por uma exigência familiar como forma de reparar o erro ou para não manchar o nome da família e consequentemente garantir o lar dos mesmos de forma a evitar constrangimentos futuros.

A representante da Família e Promoção da Mulher (MINFAMU) a nível local admite ainda que a comunidade não vê com bons olhos este tipo de acções, ou seja, há por parte da mesma uma rejeição: “A comunidade não olha como coisa normal, porque o que se nota é que quando uma menor se envolve com um mais velho, esta relação não demora, porque depois a menor vai dar conta que este é mais velhos e já não vão se aguentar então a relação não tarda a desfazer-se”.

Já para a enfermeira chefe do hospital municipal, muitas vezes, o simples facto de reprovação deste acto ou ainda mesmo do namoro precoce por parte da comunidade, tanto como forma de aconselhamento quanto como forma de privação, estimula mais

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os menores a encaminharem-se por uma vida sexualmente activa sem controlo, o que normalmente resulta em gravidezes: “Nos aqui conversamos com elas, depois tem ainda palestras, mas estas meninas… até, a comunidade reprovando tem sido causa de mais gravidezes, porque elas vão se esconder, se afastam daqueles conselheiros e o conselheiro se torna inimigo. Quando você pergunta mas não conversou? Não tens ninguém em casa? A mãe é já tão velha? Não a mãe ainda é jovem! (…) Como a sociedade reprova então elas fazem as escondidas”.

As autoridades concordam ainda que a maior parte de casos de casamentos precoces se verificam nas zonas suburbanas e rurais onde o índice de instrução e educação dos pais, para além baixo, é ainda muito ligado as tradições antigas que permitem mesmo em muitos casos, em contrário, o incesto e a poligamia. Já a nível da cidade, esta visão foi substituída pela visão da melhoria da qualidade de vida que os pais procuram para os filhos.

Esta opinião é ainda partilhada pelo representante do Núcleo dos Direitos Humanos do Cubal, que diz: “Naquilo que é o conhecimento paliativo aqui na sede e nas comunidades um pouco distantes da comuna há uma diferença; nas comunas regista- se sim casamento precoce por uma questão de cultura local. Porque ali aos 17 anos as jovens vêm-se na obrigação não muito direita de se casarem. (…), Agora aqui! Já aqui na Urbi é o contrario, aqui não há casamentos assim tão adiantados porque aqui se revela primeiro o estudo, a profissão., e até que se concretiza este ciclo. De facto não acho que aqui na cidade haja casamentos precoces”.

No entanto, tendo em conta que a maioria destes factos ocorrem nas zonas rurais onde o único meio de comunicação global é a televisão, pela qual os jovens são fortemente influenciados nos aspectos comportamentais negativos dos programas que são transmitidos, como as novelas. Desta forma considera-se também como uma das causas do aumento dos casos de gravidezes precoces também os mais exemplos que os jovens recolhem através da televisão e consequentemente o casamento precoce. Isso a nível comunitário representa uma grande preocupação e é fonte de discussão e reflexão.

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Para o coordenador da Comissão de Pais e Encarregados de Educação e coordenador paroquial da Catequise regular a nível da Igreja Católica o casamento precoce constitui um enorme problema para o Cubal: “Olha na verdade este fenómeno nos preocupa bastante! Porquê ameaça o futuro dos jovens, compromete até certo ponto as grandes expectativas que os jovens têm para o futuro”. O mesmo, admite ainda a necessidade de se trabalhar para evitar que tais casos venham a acontecer, porque muitas vezes apresentam consequências nefastas: “Imagina uma criança de catorze anos se estiver a fazer a 6ª ou 7º classe com uma gravidez não tem como suportar as aulas, a tendência de quem engravidou é de abandonar a formação! (…). Por isso é que a nossa proposta é o próximo ano fazermos assembleia e palestras a nível das escolas para falarmos sobre isso, porquê está a prejudicar seriamente as crianças na idade de formação, é um fenómeno que está a destruir a vida de muita gente (…). As crianças nessa situação têm a tendência em prostituir-se porquê quando não encontra recursos para suportar o bebé e não sei o quê não tem outra saída (…) por isso é que aparece muitas crianças que com 18 anos já têm 3 a 4 filhos cada um com o seu pai”.

Quando questionados sobre que tipo de casamento era mais visível a nível do município as autoridades foram unânimes em reconheceram que, tanto a nível das comunas mais distantes como da sede municipal, o casamento precoce acontece a nível familiar, ou seja o que mais ocorre é o Alambamento, ou casamento tradicional, que consiste no entendimento entre as famílias.

Neste tipo de casamento, os meninos não têm voz, a sua sorte está nas mãos dos pais e tios, fazendo o que estes mandam. Daí o facto de ter sido na maior parte dos casos resolvidos com o Alambamento e a concretização dos pais da decisão de fazer casar o próprio filho após a realização deste acto (Alambamento).

Porém estes admitem que o casamento precoce que acontecem a nível do registo civil, é aquele que esta prevista na lei e com os trâmites legais que a mesma prevê, no entanto, se pode mesmo assegurar que ainda assim este é muito mais raro de se verificar.

Já no que concerne ao casamento precoce a nível religioso, se defende que a igreja em si não permite este casamento, mas sim, o baptismo do recém-nascido que vem desta

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relação, como forma de protecção do mesmo. Os pais nesta situação são reenquadrados em outras áreas da igreja até atingirem uma maturidade para a celebração do casamento.

Em conclusão, podemos dizer que o município do Cubal reconhece a existência de casos de casamentos precoces a nível familiar e que na sua maioria se apresentam como consequência de uma gravidez precoce, por exigência da família como forma de reparação do erro. Fruto disso, verifica-se com grande frequência o abandono escolar e o recurso a outras formas de sustento da gravidez e da criança, como é caso da prostituição. Por outro lado, as autoridades admitem também que embora haja uma grande negação deste fenómeno como tal, o desconhecimento da gravidade desse tipo de comportamento, e das violações em que muitas vezes incorrem, é ainda maior, pelo que, muitas vezes as meninas incorrem ao casamento de forma inocente e sem meterem em causa o mal que lhes causa tal relação precoce, tanto do ponto de vista psicológico como físico.

3.2.1.1 História de Vida: Teté

Teté mãe solteira de 19 anos de idade que tem já 2 filhos; a primeira é uma menina que se chama Joaninha de 5 anos e o segundo é um rapaz que se chama Marcos 3 anos.

Teté é casada tradicionalmente com o Fernando de 28 anos de idade, com quem viveu durante mais de 4 anos.

Teté conheceu o Fernando quando tinha os seus 13 anos de idade e esse já tinha 22 anos, numa visita na casa da tia. As primas, que eram amigas do mesmo apresentaram-na a pedido de Fernando que já desde o início tivera gostado de Teté.

Após algum tempo de saídas constantes e noturnas escondida da mãe e com a proteção das primas para encontrar Fernando, os dois começaram a namorar.

Findo 5 messes de namoro, Teté descobre que estava concebida e decide informar Fernando da novidade. Este por sua vez, começa a desculpar-se que no momento não era oportuno para uma gravidez.

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No entanto, as coisas continuam e a mesma decidiu portar avante a gravidez. Fernando por sua vez, decide de retardar o pedido de casamento até que a criança não nasça. Após isso, finalmente oficializam a relação com um casamento tradicional e partem logo para a uma vida em família.

Já em casa do marido, com uma criança e 14 anos de idade, Teté vivia cuidando da criança e da casa, tendo por isso abandonado os estudos, e, procurando ser uma boa dona de casa, como lhe aconselhava e ensinava a mãe desde criança.

Negou a sua juventude, as suas amizades e seus sonhos de meninas para numa vida real ocupar da comida do marido a tempo e hora e preparar as suas roupas como ele gosta.

Fernando no entanto, quase nunca estava em casa aos finais de semana, tinha sempre encontros e saídas com os amigos, para festas e discotecas, onde Teté já não podia participar, porque devia cuidar da casa.

Esta situação, não era bem vista por parte da mesma, mas a chegada do segundo filho, fez com que esta continuasse a aceitar o fato que vivia, com tranquilidade.

Com a chegada do segundo filho e a continuidade de comportamento de Fernando, Teté após uma grande discussão com a mesmo, decidiu arruma as suas coisas e por fim aos cinco anos de relação, tornando assim para a casa da mãe.

Hoje a mesma encontra-se a viver com a sua mãe, desempregada e fora do sistema de ensino, não tem como sustentar os filhos se não com a ajuda da mãe, uma vez que por parte do marido, nunca recebeu nenhum apoio.

Embora não se arrependa dos filhos que teve com Fernando, Teté hoje reconhece que o ter filhos muito cedo o impossibilitou de ter um nível de escolaridade que o permitiria entrar no mercado de trabalho e que tem de recuperar o tempo perdido.

A história apresentada é muito comum na vida de muitas meninas que começam a vida sexual antes de atingirem uma certa maturidade e é uma história contada em

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base as informações fornecidas por meninas vítimas de casamento precoce que decidiram abrir-se e contarem ao mundo as suas ilusões e decepções. Os nomes são fictícios de forma a garantir o anonimato.

No âmbito da pesquisa foi ainda facilitada a realização de um grupo focal sobre a temática da gravidez precoce, em que participaram 18 jovens de ambos os sexos e que teve como objectivo refletir e colher a opinião dos jovens do município do Cubal sobre o fenómeno em causa e ver possíveis formas de resoluções simples por parte dos mesmo.

Deste grupo focal e actividade foi possível obter as seguintes respostas:

Pergunta Resposta Consensual 1. Quem já ouviu falar sobre Todos já ouvimos falar porque aqui mesmo casamento precoce, prematuro ou temos muitos casos e o casamento antes do tempo e o que sabe sobre prematuro é mau porque é um casamento isso? realizado fora do período adequado e trás consigo varias consequências negativas para o futuro. 2. Conhecem casos que se assemelham A maioria apresentou a sua experiencia ao que foi descrito? pessoal como exemplo do conhecimento que tinha sobre casamento precoce e reconheceram que em geral o casamento precoce dura pouco tempo tendo em conta a imaturidade do casal ou de um deles. 3. Com que idade é que uma mulher já Após os 20, porque segundo as suas pode se casar? Qual é a vossa experiencias quando uma menina se casa experiência? cedo esta obrigada a interromper os estudos e outros sonhos que os pais tinham para ela. 4. Porque as pessoas na vossa Para os mesmos os principais motivos que comuna/aldeia ou município se levam a casamento precoce são: casam com está idade? Falta de apoio familiar;

O medo da Fuga a Paternidade;

A inexistência de diálogo entre pais e filhos.

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5. Que conselhos dariam as pessoas O conselho que o grupo deixa aos pais que que dão os seus filhos em dão as suas filhas em casamento casamento e a aquelas que se casam precocemente é que deveriam pensar mais precocemente? nas consequências do mesmo. E permitir com que os filhos formam-se primeiro para que o casamento surja de forma salutar.

3.2.2 GANDA

No município da Ganda, participaram às entrevistas não apenas pessoas vítimas de casamento precoce, mas também autoridades locais e instituições como o hospital municipal, o representante local da Família e Promoção da Mulher, o representante do INAC e o responsável da catequese da comuna da Catanda pela igreja Católica.

Assim, com as autoridades da Ganda foi possível verificar que a nível do município o hospital tem registado dados relevantes das mulheres em estado de gestação, onde encontramos uma triagem das mulheres gestantes de menor idade.

Nos dados fornecidos referentes ao ano 2015, foi possível verificar a presença no hospital de um total de 204 meninas, sendo que destas 102 apresentam idade correspondente a 17 anos, ao passo que 65 meninas apresentam uma idade corresponde a 16, constituindo-se nos dois maiores grupos de meninas em estado de gravidez precoce.

Ainda neste dois grupos, foi possível apurar que das 65 meninas com idade correspondente a 16 anos uma delas está já na segunda gravidez, enquanto, no grupo das 102 meninas com idade correspondente a 17 anos três meninas já estão na segunda gravidez.

Para a idade correspondente aos 14 anos foram registados no hospital da GANDA 5 meninas em estado de gestação, enquanto, na idade correspondente aos 15 foram identificadas um total de 28 meninas no mesmo estado. Todas elas como primeira gravidez, conforme a Tabela 2 abaixo:

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TABELA 2: Partos de mulheres com menor idade de Janeiro a Agosto 2015.

Grávidas de 14 Grávidas de 15 Grávidas de 16 Grávidas de 17 Nº de Total ITEM Anos de Idade Anos de Idade Anos de Idade Anos de Idade Parturiente Casadas 1ª 5 28 65 102 0 200 Gravidez 2ª 0 0 1 3 0 4 Gravidez Total 0 204

Fonte: secção da Maternidade do Hospital provincial da Ganda, 2015.

Tal como ilustrado no quadro acima, a médica em serviço no hospital municipal da Ganda, confirma que a maior parte das mulheres que ocorrem ao serviço de saúde não tem ainda um casamento concretizado, mesmo aquelas que já têm idade superior a 18 anos e com mais de 2 filhos, quando questionada se estas meninas declaravam já ter qualquer tipo de casamento “algumas não! muitas são solteiros, por isso não fazem analises, porque não têm dinheiro (…) e há ainda muitas jovens que veem aqui que não querem a gravidez! Querem tirar a gravidez, porque muitas delas estão grávidas e estão muito arrependidas!”

As autoridades entrevistadas confirmam ainda que a maioria das menina em estado de casamento ou gravidez precoce, não dão continuidade aos estudos após a gravidez e muitas que se encontram neste estado, não têm um nível de escolaridade avançado, tal como adiantou o médico auxiliar de ginecologia e obstetrícia do mesmo hospital: “Nem todas dão continuidade aos estudos, nas nossas palestras a gente promove o estudo, a gente sempre dá essa educação, só que o que elas têm na mente é o seguinte; eu quando sou jovem tenho de experimentar se eu faço filho ou não (…) o que nos leva a notar que o problema é mesmo a pobreza.”.

Para a representante da Família e Promoção da Mulher na Ganda a maioria dos casos de casamento precoce vem das comunas ou comunidades mais distantes, onde claramente o facto de as famílias serem de um nível de vida muito baixa, influencia grandemente para que estas optem por um casamento precoce como forma de garantir um futuro melhor para a menina, tal como afirma a mesma: “No município da

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Ganda aparecem muitos casos de casamentos precoces, muito mais é nas comunidades rurais, nos conhecemos, mas não temos ainda dados elevados embora recolhemos e mandamos para Benguela (...) essas meninas casam se cedo por causa da falta de economia (…) estes casamentos acontecem fundamentalmente no seio familiar porque estes casamentos na sua maioria são casamentos forçados”

A mesma apresenta ainda alguns casos recolhidos e registados a nível de algumas comunas, bairros ou povoações, tal como descrito na Tabela 3:

Tabela 3: Dados dos casamentos precoces nos Bairros e nas Povoações.

Povoação ou Bairro Idade correspondente Total de casos Registados

Bairro II 15 Aos 16 anos 4

Povoação das Plantações 14 Aos 17 anos 7

Povoação Santa Maria 15 Aos 17 anos 5

Bairro da Maia 1º 17 Anos 3

Dongoroca II 14 Aos 16 anos 8

Total Geral 27

Tanto para a Família e Promoção da Mulher como para o Hospital Municipal da Ganda, tais casamentos são sempre de característica tradicional, ou seja, na sua maioria estes casamentos não se dão nem nas igrejas, nem no registos, uma vez que, são casamentos viciosos. Isso porque, para além de serem entre menores ou com a presença de um menor, são também casamentos em que se verificam a pratica do incesto e onde a diferença de idade é evidente ou onde o parceiro, em caso de o voltar a fazer estará a cometer um crime de bigamia.

“Sobre a diferença de idade nos não podemos ter os dados concretos porque elas não aparecem aqui com os mesmos, algumas perguntamos, por exemplo as que estudam você vê que ela mete que ela é estudante e o namorado também é estudante, aquilo as vezes ocorre lá na escola naquela devida altura, mas há algumas que já não conhece o nome do parceiro, você pergunta e a gente já tem também isso na consciência, que

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quando ela não quer falar o nome do parceiro significa que ou é adulto ou é uma das pessoas que é de família que ela não quer que o nome seja reportado no cartão.”

Ou ainda como argumenta o responsável do sector do hospital: “Porque que chegam cedo ao casamento, nalguns casos se calhar mexeu na família mas próxima, segundo a genealogia, são parentes e esse casal é protegido.”

Para o INAC a nível da Ganda, o casamento ocorre por diversas causa e não tem uma linha comum para todas as comunidades que o município apresente. Assim existem comunas em que acontece mais o casamento precoce por iniciativa dos pais e ainda aquelas em que o casamento vem fruto de outras causas como a gravidez.

O INAC defende que a falta de hábito de denúncia por parte da população não permite nem mesmo que se tenha um quadro mais realístico da situação. Além disso, a falta de denuncias, evita uma prévia intervenção do organismo para a defesa dos direitos daquele menor.

Quando questionado se existem registo de denúncia por parte das vítimas, responde: “Muito teríamos registado, mas, a nossa comunidade não tem essa cultura de apresentar as queixas, o que que acontece, a gente se apercebe muito depois, só quando fazemos algumas visitas e que nos apercebemos de como tudo aconteceu, pelo que isso deve ser repreendido”.

Para o catequista da igreja Católica, a principal causa de casamento precoces é a perda de valores morais por parte da juventude e o desrespeito das orientações familiares, tal como afirma: “Aqui as crianças, o namoro delas, não é como antes, porque anteriormente elas entendiam os pais, agora já não, cada qual faz o que é dela e quando o pais falam, elas já não aceitam e começam a namorar e quando surge a gravidez o pai já não sabe o que falar porque ela é criança, isso é que causa o casamento precoce”

Para o mesmo, a maioria dos casamentos que vem acontecendo são feitos de forma natural ou tradicional. Isso portanto acontece quase sempre após uma gravidez e dificilmente acontece dentro da igreja, embora os pais e as vezes mesmo algumas vitimas procuram pelo apoio da igreja, para a tentativa de celebração de um casamento como forma de resolução do problema.

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Assim, o mesmo aponta ainda como principal forma para se ultrapassar o problema a realização de jangos comunitários com as crianças para abordar a questão do casamento precoce, de forma a se poder repescar os hábitos e costumes das tradições antigas que impediam esse tipo de casamento.

3.2.2.1 História de Vida: Ana

Apresentamos a história da Ana, uma menina de 14 anos da comunidade da Catanda.

Ana nasceu e cresceu na Catanda, num bairro humilde e tipicamente rural, onde desde a tenra idade começou a aprender a cuidar da casa e trabalhar a terra. Posteriormente, iniciou a frequentar a escola e conheceu Gaspar, um rapaz do mesmo bairro.

Quando já estava a frequentar a 5º classe e com aproximadamente 13 anos, Ana viu Gaspar, rapaz com quem saia habitualmente a procurar os seus pais para pedir-lha em casamento.

Estes responderam positiva e prontamente ao pedido Gaspar, uma vez que, se constituía numa grande alegria na família.

Dias depois foi o mesmo Gaspar que comunicou a Ana a sua intenção de se casar manifesta e aceite já pelos seus pais.

O casamento aconteceu, respeitando os ritos tradicionais e religiosos da igreja católica e posteriormente os dois passaram a viver juntos como uma família normal. No entanto, Ana passou a assumir o papel de dona de casa, cuidando da roupa do esposo, da sua boa alimentação e do cultivo da terra uma vez que após o casamento a quantidade aumento com aquela que eram também as terras de Gaspar.

Hoje Ana de 14 anos de idade, está casada já a mais de um ano e vive em casa do marido de quem desconhece a idade e que no momento, encontra-se a trabalhar em Luanda, enquanto, Ana grávida de 8 meses esta sozinha na casa em que o marido à deixou.

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Gaspar que nunca frequentou a escola é um rapaz que começou cedo a ganhar a vida trabalhando a terra e cuidando do gado, mas, após o casamento decidiu procurar outras formas de ganhar a vida.

Ana tem ainda como maior desejo continuar a estudar, mas, não sabe se isso será possível após o nascimento do filho.

A presente história, mostra como em alguns casos o casamento precoce e normalmente aceite também por parte das famílias, mesmo quando não estamos em presença de uma gravidez precoce.

A mesma tem como base a história de uma rapariga na comuna da Catanda, município da Ganda e pode ser usada como modo de compreensão do tratamento que é dado a estes casos a nível família, principalmente nas zonas rurais. No entanto importa referir que os nomes apresentados são fictícios de forma a garantir o anonimato.

No município da Ganda foi ainda realizado um grupo focal em que participaram um total de 20 jovens divididos em 10 para ambos os sexo, e que teve como objectivo conhecer os casos de casamentos precoces no município e apontar possíveis soluções conjuntas ou mesmo métodos eficazes de combate.

Após cerca de uma hora e meia de conversa com grupo jovem e participante chegaram as seguintes considerações finais:

Pergunta Resposta Consensual 1. Quem já ouviu falar sobre Todos reconhecerem já terem ouvido falar casamento precoce, prematuro ou de casamento precoce ou terem sido antes do tempo e o que sabe sobre envolvidos em casos semelhantes. E o isso? definem como aquele que acontecem antes do tempo. 2. Conhecem casos que se assemelham Sim se conhece muitos dados, mesmo aqui ao que foi descrito? na Catanda temos muitos casos 3. Com que idade é que uma mulher já A idade certa é dos 18 aos 30 anos, mas aqui pode se casar? Qual é a vossa não é assim é muito menos dos 18. experiência?

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As pessoas na Catanda se casam 4. Porque as pessoas na vossa precocemente porque vem o casamento comuna/aldeia ou município se como uma brincadeira, não sabem controlar casam com está idade? o período de uma relação, também porquê engravidaram e o pai da menina manda casar e por fim porque namoram na inocência.

3.3 ANALISE DOS RESULTADOS

Em termos analítico podemos dizer que na Província de Benguela, em particular nos municípios do Cubal e da Ganda, o problema do Casamento Precoce é existente e tem a sua maior incidência nas comunidades mais distantes. Nestas comunidades os factores socioeconómicos, como a pobreza extrema, a falta de educação sexual, o baixo nível de escolaridade e falta de um dialogo e acompanhamento família influenciado principalmente com alguns hábitos e costumes locais, levam com que meninas e meninos na flor da idade, na sua maioria já em presença de uma gravidez sejam forçados a casarem e a começarem muito cedo a vida a dois.

Importa realçar que este fenómeno não atinge unicamente as meninas, pós, tal como vimos, das 10 pessoas vítimas de casamento precoce, 4 são rapazes. Na sua maioria, também os rapazes foram constrangidos a abandonar a vida escolar ou a ver a mesma atrasada por alguns anos, já que, há estes lhes foi entregue não apenas a menina como a responsabilidade de mantimento da mesma.

Em alguns casos mesmo estes são aqueles que mais levam o peso da responsabilidade familiar tal como nos mostram os dados recolhidos, quando na fase das entrevistas procurou-se saber com quem é que estes viviam actualmente.

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Com quem vivem as meninas e meninos 12

10

8

6

4

2

0 Pais Esposo/a Sozinho/a Total

Menino Menina Total

Gráfico 3

Neste gráfico pode-se verificar que do total das 10 vítimas entrevistadas apenas três tinham um casamento precoce e viviam com os pais, já os 7 nos quais 4 são do sexo masculino, já conviviam com os seus esposos ou esposas.

Um dado não menos importante a ter em conta no gráfico é que nenhuma das vitimas até ao momento da entrevista e após um casamento precoce falido, decidiu assumir a vida sozinha. Dessa mera visão podemos concluir que os mesmos por um lado reconhecem e confirmam a dificuldade que é a de manter uma criança sozinho/a, bem como o facto de não estarem suficientemente maduras para assumir uma vida independente.

Quanto a motivação do casamento, tal como foi reconhecido pelas autoridades, na sua maioria, tais casamentos são realizados na sequência de uma gravidez precoce, o que por sua vez não nega a possibilidade do mesmo acontecer por exigência dos pais que, procurando uma forma de reparação do “erro” ou preocupados pela futura visão social que a família terá, optam pelo casamento.

Estes dados são confirmados no Gráfico 4 abaixo onde verificamos que das 10 pessoas vítimas de casamento precoce que entrevistamos 9 estão nessa condição porque engravidaram-se antes e como forma de resolução os pais encontram o casamento.

Como se vê ainda no gráfico do total das vítimas apenas uma encontra-se dentro de um casamento sem ainda ter filhos. A mesma que encontra-se já em estado de mãe,

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afirma que esta casada e a viver com o marido já a mais de um ano, o que pressupõe dizer que quando foi para o casamento não estava ainda casada. No entanto devemos também dizer que não foi possível obter informações relevantes ao parceiro da mesma, uma vez que esta, desconhecia qualquer informação sobre o mesmo principalmente a idade.

Meninas/os que casaram com ou sem filhos 12

10 9 10

8

6 5 4 4

2 1 1

0 Menino Menina Total

SIM NÃO estou para ter Total

Gráfico 4

De forma a entender se os casamentos precoces tinham claramente motivações socioeconómicas e se essa era uma das questão que levava que os adolescente muitas vezes fossem dada em casamento a um adulto, ou se estes estava ligado a outros motivos, perguntamos as mesmas a idade dos seus parceiros ou parceiras, para que em comparação com as suas verificarmos se a diferença de idade poderia possibilitar a verdadeira razão que leva a realização de tais casamentos e obtivemos os seguintes dados:

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Grafico da Idade dos Parceiros 12

10

8

6

4

2

0 Menos de 14 14 a 17 Anos 18 a 24 anos Mais de 25 Desconhece Total anos

Menino Menina Total

Gráfico 5

Como se vê no Gráfico 5 acima, há uma ligeira ascendência por parte dos parceiros que superam a idade dos 25 anos em relação a idade das pessoas vítimas de casamentos precoce entrevistadas conforme o primeiro gráfico apresentado (Gráfico 1), onde o número de vítimas com menos de 18 anos contrasta com o número de parceiros maiores de 25 anos.

Um paradoxo, nas entrevistas com as vitimas, para algumas a gravidez e sucessivamente o casamento constitui um problema tanto no principio como para o futuro, para as outras, tanto a gravidez como o casamento não constitui de maneira alguma qualquer problema no seu modo e estilo de vida. Acontece porque devia acontecer e serve para ela como um modo de aprendizado e compreensão do mundo e da vida, logo não teria problema algum em repetir as acções que a levou ao casamento precoce, conforme o testemunho de uma das vitimas abaixo. Após uma gravidez e uma vida conjugal de aproximadamente 5 anos com o parceiro que, por sua vez a quando da relação, já era adulto e uma separação no momento em que esta esperava pelo segundo filho a mesma, quando questionada que se tivesse a oportunidade de voltar no tempo se teria maior preocupação em evitar uma gravidez prematura, respondeu dizendo não, pois para a mesma:

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“Seria bom, porque também é uma grande experiencia que eu ganhei. Porque só ali é que eu pude compreender todo o esforço que a minha mãe fez por nós.“ (Entrevista em Áudio n.º 6 Feita no Cubal).

No entanto, a mesma reconhece ainda que nem sempre as gravidezes ou os casamentos surgem por descuido ou vontade dos parentes, mas sim porque estas olham para o casamento como um estilo de vida a seguir e que, em varias situações tal facto não é nem mesmo resultado de uma falta de orientação, tal como testemunha:

“Conselhos sempre temos, mas só que sempre há aquela ilusão, de não querer seguir e fazer mesmo por vontade própria. Conselho não falta, mas é mesmo aquilo de querer experimentar! Certas pessoas fazem por ilusão, se calhar é só porque a amiga tem, ela também faz por ilusão.” (Entrevista Áudio n.º6 Cubal)

Em análise de tais declarações e tendo como base o conceito de que o casamento precoce é de facto um casamento ilegal, porque naquela fase a consciência da menina/o não está ainda suficientemente formada para a vida que lhes é proposta, verificamos que, de facto os casamentos tanto em consequências de uma gravidez precoce como motivado pelos parentes não repara o “erro” como desejado pelas mesmas e pode, muitas vezes, ser usada de forma imatura, pelos outros adolescentes, como motivação para novos casos na comunidade, uma vez que para as amigas aquele passa a ser o estilo de vida ideal.

Quanto ao trabalho com os grupos focais foi possível identificar que por parte dos jovens, quer seja das zona rurais como das zonas urbanas, há de facto uma aceitação de que o casamento precoce é um problema e são ainda os mesmos a reprovarem tanto as suas atitudes que os leva a esta situação, quanto a atitude de alguns pais que apoia, ou entregam os filhos.

Pelo que podemos dizer que esta consciencialização por parte dos jovens é uma grande oportunidade de trabalho no que consiste ao combate a gravidez precoce, pois nem sempre ela é vista e tida como um hábito e costume socialmente imutável.

Embora a comunidade reconhece que existem casos de menores casarem-se com homens muito mais velhos, as entrevistas feitas especificaram que nas comunidades

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rurais os casamentos precoces acontecem principalmente entre jovens da mesma idade ou com uma diferencia de idade muito baixa. Um dos aspectos relevantes é que, na sua maioria, as meninas não conhecem a idade certa do parceiro e da pessoa que estão a casar.

Ainda das entrevistas não foram realçados explicitamente relações claras entre os casamentos precoces e a violência domestica, física e psicológica. Conforme as entrevistas, é evidente o risco de violência pode existir, sobretudo naqueles casais com uma diferencia de idade relevante, mas não é possível afirmar com certeza que isso aconteceu nos casos das pessoas entrevistadas.

Pode ser ainda evidenciado que as meninas que fica grávida é responsabilizada pela comunidade e pela família nas tarefas próprias duma mulher, como cuidar da casa e dos filhos, tendo em conta as diferencias de género já existentes nestas comunidades rurais. Isso deve ser enquadrado não como culpa da mulher ou prejuízos, que neste caso não é discriminada por ter sido engravidada ou ter-se casado muito jovem, mas é certamente responsabilizada em quanto mulher e esposa.

Temos ainda duas histórias de vida, uma a cada município estudado, que nos chamam a reflexão para o seguinte: é importante que as nossas decisões, no relacionamento, sejam tomadas, em base de um conhecimento profundo da outra pessoa, com a orientação dos pais ou mais velhos, de forma a garantir um maior respeito por parte do parceiro na relação.

O casamento precoce é prejudicial para ambos, mas principalmente para a menina que uma vez dentro de um casamento precoce pode perder a oportunidade de uma formação adequada, a possibilidade de um melhor enquadramento no mercado de trabalho e pode ainda reduzir a possibilidade de ser tratada com dignidade, igualdade e respeito dentro do lar.

Por outro lado, estas histórias nos mostram que alguns hábitos e costumes, muitas vezes, fazem com que determinados pais, confundem os limites da responsabilidade de educação, alimentação e proteção dos filhos e preferem transferir, mais cedo possíveis, isso ainda mesmo na adolescência, as suas responsabilidades a outra pessoa, sem uma reflexão dos riscos à que tal pessoa esta a ser exposta.

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Importa ainda considerar que dos números e declarações apresentadas e reconhecendo as limitações de ambos municípios em recolher dados, o problema pode ser ainda maior do que o apresentado já que 167 e 204 meninas, como dados recolhidos apenas nos hospitais municipais, onde sabemos que nem sempre todas as mulheres grávidas dão entrada, tanto por falta de conhecimento como por falta de condições financeiras, são números que devem preocupar qualquer sociedade que acima de tudo apresenta também uma taxa elevada de Mortalidade materno infantil, se termos em conta os dados relatados pelo Index Mundi, em que Angola apresenta uma taxa de 79,99 mortes/1.000 nascimentos, estado divididos em homens: 83,74 mortes/1.000 nascimentos e mulheres: 76,05 mortes/1.000 nascimentos, isso em 2014.

Claramente que se de um lado estes números nos mostram que o índice em Angola tem estado a diminuir, por outro eles continuam a ser preocupantes, uma vez que como objectivo o documento estratégico para o desenvolvimento a longo prazo (Angola 2025), o Governo fixou as seguintes metas quantificáveis para o período 2008 a 2015:

Reduzir significativamente a mortalidade materna de 1.400/100.000 para 200/100.000 em 2015. Fazer baixar a mortalidade infantil de 150 para 57 por mil em 2015. Diminuir a taxa de mortalidade em crianças menores de 5 anos, de 260 para 96 por mil no período 2008-2015.

Se a estes dados, acrescentamos o facto que já na agenda estratégica da OMS para o período 2009-2013, que teve como base as principais lições tiradas da análise da situação, nas prioridades nacionais e nas orientações estratégicas regionais da OMS. Em que se pretendia alcançar resultados como o melhoramento da saúde da mãe e da criança, a luta contra as doenças e a organização e a gestão do sistema de saúde.

Logo podemos dizer que o casamento precoce deve ser tido seriamente em consideração, como um fenómeno social em ascensão que tem metido em risco o alcance de certas metas a nível da saúde, uma vez que estamos em presença de um período em que uma possível gravidez acarreta consigo vários riscos e consequências

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negativas tanto para mãe como para o bebé. Claramente porque sem uma boa saúde pública ou educação para saúde, onde são inseridos também questões relevantes de saúde reprodutiva, dificilmente teremos êxitos no que concerne a redução da mortalidade materno infantil, o aumento da taxa de literacia e redução da pobreza extrema.

Ou seja, o casamento precoce deve ser vista como um problema de saúde pública, que afecta não apenas as famílias e as comunidade longínquas, mas toda a sociedade, uma vez que, a proliferação deste fenómeno vai se dando um pouco por todo o lado e não sendo ainda encarado como um problema que merecesse uma intervenção estratégica e concertada, que visa prevenir e informar os adolescentes e familiares sobre os ricos concretos do mesmo, tem crescido a cada dia que passa.

Por outro, o reconhecimento tanto das vitimas como das autoridades demonstra a necessidade de uma intervenção de todos os actores sociais desde a família, como primeiro elemento de socialização do individuo, até aos órgãos governamentais, sem se esquecer da sociedade civil e organizações não-governamentais, como actores fundamentais na consciencialização e mobilização da população urbana e rural.

3.4 SUGESTÕES E RECOMENDAÇÕES

Os dados recolhidos no terreno e analisados aqui, permite-nos apresentar algumas sugestões ou recomendações, que poderão servir tanto para a pesquisa em si, como para a organização que desenvolveu a mesma, o governo provincial e as suas representações locais, bem como passíveis organizações interessadas a trabalharem na mesma temática.

São as seguintes:

Sugerimos que a temática do casamento precoce fosse sempre enfrentada, tanto no âmbito do trabalho de sensibilização e redução do mesmo, como de possíveis outras pesquisas, em conexão com a temática da gravidez precoce, pois os dois estão interligados;

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Sugerimos também o aprofundamento do mesmo estudo nos municípios referidos, com possível alargamento para as comunidades mais distantes, de forma a se apurar, se a questão cultural é ou não determinante para a realização de casamentos precoces; Sugerimos também uma maior capacitação da rede das organizações da sociedade civil e das autoridades locais para aumentar o acesso à serviços de protecção e de saúde sociais desenvolvendo estratégias para comunidade rural de forma reduzir os riscos de gravidez indesejada e apoiando as comunidade a reconhecer e denunciar os casos de violações dos direitos dos menores. Sugere-se também que os próximos projectos que envolvem tais temáticas tenham linhas viradas ao melhoramento da recolha de dados por parte das organizações competentes, de forma a permitir uma visão geral do fenómeno e identificar as principais áreas de intervenção; Sugere-se ainda que se envolva mais os adolescentes e jovens em debates e grupos temáticas de casamento precoce, para que possam estar informados sobre as causas e consequências e sucessivamente, poderem ser embaixadores de tais mensagens a outros jovens e adolescentes.

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CONCLUSÃO

A presente pesquisa analisa de facto uma situação muito precisa que preocupa bastante as comunidades e as autoridades seja públicas e seja privadas: o casamento precoce e as gravidades na adolescência.

Infelizmente se requer um estudo muito mais abrangente para ver qual é a real situação dos casamentos precoces em Angola, tendo em conta que muitos não são registados.

O perfil das vitimas concentra-se principalmente nas mulheres, como elementos mais fracos e vulneráveis nas comunidades identificadas, mas é muito interessante ver como também para os rapazes entrevistados, que representam uma pequena parte das vitimas dos casamentos precoces, a união com uma outra pessoa por vontade dos pais e reparar a um erro, tem consequências igualmente difíceis na vida deles e das suas esposas. Assim sendo os rapazes entram no circulo da vulnerabilidade.

As causas destas situações criticas é de procurar também na falta de modelos positivos no seio dos adultos que leva os adolescentes, especialmente nas áreas rurais e peri- urbanas, a ter comportamentos desviantes em relação a idade.

Além disso, as poucas possibilidades e alternativas sociais e educativas que os ambientes de desenvolvimento dos adolescentes oferecem, permitem a exposição dos mesmo a situação de violência e de pouca proteção social, promovendo e envolvendo o adolescente em situação que violam os seus direitos.

Os adultos, responsáveis da educação das gerações futuras, deve ser alvo de intervenções sociais e de educação que os permita intervir com os adultos que se envolvem com menores e com os mesmos menores para corrigir alguns comportamentos e ajudar a própria comunidade a evitar e prevenir comportamentos de risco.

Os menores, como pessoas numa condição física e mental de desvantagem, não têm os instrumentos para poder se defender e reconhecer os riscos que encontram e isso permite que adultos possam aproveitar-se facilmente deles.

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Embora as comunidades consideram o casamento precoce uma situação não normal, a aceitação social é elevada e pode resolve um caso de violação com um casamento, não envolvendo as autoridades competentes e judiciarias sobre o caso.

Isso indica que para os activistas e os trabalhadores sociais existe uma bagagem de trabalhão na assistência e proteção dos menores bastante amplo, que toca cada membros da comunidade.

O grupo focal formado, que deverá dar seguimento as actividades desenvolvidas durante a formação e as entrevistas, tem de facto todos os instrumentos para acompanhar as comunidade presentes nos municípios de Ganda e Cubal e procurar soluções locais para resolução do problema.

É necessário um empenho das autoridades e instituições a todos os níveis para debelar os casamentos precoces e dar a liberdade de escolha a estes meninos. É importante entender que os casamentos precoces resultam da falta de oportunidade e de serviços que algumas populações sofrem e que as lava a procurar de forma rápida uma solução.

Espera-se que um futuro estudo nacional sobre o tema dos casamentos precoces, posso, conforme acontece em outros países, fazer conhecer a dimensão do mesmo e finalmente encontrar soluções eficazes para ajudar os grupos mais vulneráveis e sujeitos a este risco.

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