Rachel E Clarice, Têm Mais Em Comum Do Que Faz Supor Uma Primeira Observação
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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO LÍGIA REGINA CALADO DE MEDEIROS MULHER, MULHERES: TATEANDO O SELVAGEM EM PERSONAGENS DE RACHEL DE QUEIROZ E CLARICE LISPECTOR Rio de Janeiro 2010 2 LÍGIA REGINA CALADO DE MEDEIROS Mulher, mulheres: tateando o selvagem em personagens de Rachel de Queiroz e Clarice Lispector Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como quesito para a obtenção do Título de Doutor(a) em Letras Vernáculas (Literatura Brasileira). Orientadora: Profa Rosa Maria de Carvalho Gens. Rio de Janeiro 2010 3 FICHA CATALOGRÁFICA MEDEIROS, Lígia Regina Calado de. Mulher, mulheres: tateando o selvagem em personagens de Rachel de Queiroz e Clarice Lispector/ Lígia Regina Calado de Medeiros. Rio de Janeiro: UFRJ/FL, 2010. xi, 252 f.; 3 cm Orientadora: Rosa Maria de Carvalho Gens Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ/ Faculdade de Letras/ Programa de Pós Graduação em Letras Vernáculas (Literatura Brasileira), 2010. Referências Bibliográficas: f. 263-275. 1. Rachel de Queiroz. 2. Clarice Lispector. 3. Mulher. 4. Representação. 5. Selvagem. 6. Literatura. I. Gens, Rosa Maria de Carvalho. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós- Graduação em Letras Vernáculas. III. Mulher, mulheres: tateando o selvagem em personagens de Rachel de Queiroz e Clarice Lispector. 4 Lígia Regina Calado de Medeiros Mulher, mulheres: tateando o selvagem em personagens de Rachel de Queiroz e Clarice Lispector Orientadora: Professora Doutora Rosa Maria de Carvalho Gens Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do Título de Doutor(a) em Letras Vernáculas. EXAMINADA POR: Presidente, Profa Doutora Rosa Maria de Carvalho Gens - Orientadora Profa Doutora Anélia Montechiari Pietrani - UFRJ Profa Doutora Angélica Soares - UFRJ Profa Doutora Elódia Xavier – UFRJ Profa Doutora Nadilza Martins de Barros Moreira – UFPB Profa Doutora Fátima Cristina Dias Rocha – UERJ, Suplente Prof. Doutor Godofredo de Oliveira Neto – UFRJ, Suplente Rio de Janeiro, 25/02/2010. 5 Ao “cabrêro” meu pai (IN MEMORIAM), dedico. Que, no ―espeto‖ da vida, soube guardar pensamentos como quem guarda um selvagem rebanho. 6 Agradecimentos A Deus, por ter me colocado sempre em mãos seguras; À minha família, um porto em que, nas minhas idas e vindas, posso ancorar para me abastecer de energia e afeto; Aos amigos antigos, de quem tive que me afastar, ainda que temporariamente; aos amigos que fiz durante o Doutorado; aos recém-conquistados, na alegre volta para casa; e às minhas queridas da Residência Maria Adelaide, onde morei, no Rio de Janeiro. Todos constituindo uma torcida pelo bom desempenho deste trabalho; À Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), em especial, à Unidade Acadêmica de Letras (UAL-Cajazeiras-PB), por me concederem a liberação pelos quatro anos necessários ao desenvolvimento do Curso e à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde fui tão bem acolhida; À CAPES, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, pela concessão da bolsa de estudos; À Rosa Maria de Carvalho Gens, pela confiança depositada, tranqüilidade na orientação, autonomia concedida ao trabalho, competência e amizade com que me conduziu desde o primeiro encontro, ainda quando eu era para ela uma desconhecida; Aos professores José Maurício Gomes de Almeida, Ronaldes de Melo e Souza e Elódia Carvalho de Formiga Xavier, estes últimos a quem devo, por intermédio das disciplinas que ministraram, grande parte do rumo tomado pela tese; Ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, nas pessoas de Ângela Beatriz de Carvalho Faria (Coordenadora) e Maria Urânia Pacheco Marinho (Secretária), ambas prestativas ao atender às minhas solicitações, mesmo quando à distância; Ao NIELM, Núcleo Interdisciplinar de Estudos da Mulher na Literatura, pela oportunidade de envolvimento maior com as questões relacionadas à mulher no texto literário; À Banca da minha Qualificação, principalmente à Elódia Xavier e à Angélica Soares, pela leitura lúcida, crítica, e pelas sugestões encaminhadas a este trabalho de tese; À Nadilza Moreira, pelo convite aceito para participar da Banca do Exame de Defesa e pela presença efetiva em momentos importantes; À Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), no Rio de Janeiro, nas pessoas de Eliane Vasconcelos e de Eduardo Coelho, Chefes do Arquivo-Museu de Literatura Brasileira (AMLB), que me possibilitaram a pesquisa através do acesso ao Arquivo Clarice Lispector, onde realizei uma fundamental coleta de dados. Agradeço principalmente aos funcionários Paula Ferreira, Leonardo Cunha e Cláudio Vitena, da Sala de Consulta, a gentileza da colaboração; 7 Ao Instituto Moreira Salles (IMS), Rio de Janeiro, nas pessoas de Élvia Bezerra (Coordenadora) e Manoela Purcell Daudt D‘Oliveira, funcionária da Biblioteca, por me permitirem o acesso aos originais de A hora da estrela, sob guarda da casa; À Maria Luíza, irmã de Rachel de Queiroz, pela simpatia com que me atendeu e prestou esclarecimentos sobre o projeto de criação do Memorial da escritora, em Quixadá-CE; À Daise Lilian Fonseca e à Luciana Calado, especializadas em Língua Estrangeira. É pela mão amiga que elas participam desta atividade, traduzindo e/ou revisando as minhas traduções; À Talita Coriolano, que me apresentou à Maria Luíza de Queiroz, tornando possível meu contato com ela. 8 Minhas mulheres são danadas, não são? Talvez seja ressentimento do que não sou e gostaria de ser. (Rachel de Queiroz) Bom, eu, agora, eu morri. Vamos ver se renasço de novo. Por enquanto eu estou morta. Estou falando de meu túmulo. (Clarice Lispector) 9 RESUMO MEDEIROS, Lígia Regina Calado de. Mulher, mulheres: tateando o selvagem em personagens de Rachel de Queiroz e Clarice Lispector. Rio de Janeiro, 2010. Tese (Doutorado em Letras). Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. 2010. Este trabalho de tese tem por princípio fazer um cotejo entre Rachel de Queiroz e Clarice Lispector. Mulheres que fizeram da escrita a sua ficção e mulheres representadas por elas na Literatura. Assim, sem a pretensão de estabelecer uma comparação de valor, o instigante desafio desta análise consiste em fazer, no sentido polifônico do termo, um contraponto entre as duas escritoras. Ou seja, perceber de que maneira as vozes de uma e de outra, cada qual ao seu modo, concorrem, em O quinze, Perto do coração selvagem, A hora da estrela e Memorial de Maria Moura, para a orquestração de um tema maior que é a representação da mulher no texto literário, sob um prisma de relação com o selvagem. Analisar, portanto, as primeiras e as últimas obras, publicadas em vida, é também uma forma de acompanhar, textualmente, a maneira como a temática se apresenta em distintos momentos da produção. O termo ―selvagem‖ assume, dependendo do emprego, acepções diversas, tanto correspondendo aos sentidos da natureza quanto da sociabilidade. Ao primeiro se relacionam referências ao agreste, primitivo, bravio, resvalando até para o feroz. Ao segundo se ligam requisitos que anunciam incivilidade grosseira. Por esta ótica, selvagem é o inconversável, o intratável, o inculto. Há, como se vê, diferentes aspectos de manifestação do conceito, compreendido de forma polarizada, como o faz Lévi Strauss (2004), na distinção que estabelece entre ―cru e cozido‖, para fazer oposição entre natureza e cultura; ou de forma relativizada, como aparece em textos organizados por Adauto Novaes (2004), em que o selvagem pode ser tomado como mediação para a relação entre nós e os outros. No jogo da diferença, selvagem muitas vezes é tão-somente o invertido, o negado e por que não dizer o explorado, para império de outra identidade. Neste entendimento, muito contribui a pesquisa na teoria de gênero para uma maior compreensão do universo representado nas obras supramencionadas. Perseguindo este propósito, então, o estudo sobre a representação da mulher passa por reflexões que consideram a autoria feminina, a inserção das autoras em território literário ainda ―selvagem‖, como proposto por Showalter (1994), a autonomia das personagens refletida também pela representação do corpo no texto, e os motivos narrativos que dão contribuição às imagens criadas. Por fim, contata-se que as duas escritoras, Rachel e Clarice, têm mais em comum do que faz supor uma primeira observação. Além de trajetórias de vida literária que em muito combinam entre si, a mulher criada por elas, aqui evidenciada, muito denuncia delas próprias e daquela, não raro posta à margem de exceção, vivida em seu tempo. Forte e decidida, como Conceição; reflexiva e amante, como Joana; impetuosa e guerreira como Maria Moura ou carente e pura, como Macabéa, todas elas constituem, na Literatura Brasileira, a representação de um tatear selvagem. 10 ABSTRACT MEDEIROS, Lígia Regina Calado de. Mulher, mulheres: tateando o selvagem em personagens de Rachel de Queiroz e Clarice Lispector. Rio de Janeiro, 2010. Tese (Doutorado em Letras). Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. 2010. This doctorial research is interested to analyze aspects of Rachel de Queiroz and Clarice Lispector literary production. These women made of writing their own fiction and represented women in their Literature. There is no objective of making a comparison between them, however, the challenge of this analysis consists of the establishment of a counterpoint, in the polyphonic aspect of the term, between the two writers. For example, perceiving the way their voices - each one in its own way - represent women in the literary text, under the perspective of the savage, as in O quinze, Perto do coração selvagem, A hora da estrela e Memorial de Maria Moura. Analyzing their first and last novels, published while they were still alive, it is also a way of accompanying, textually, the way the theme is presented in different moments of their production. The term ―savage‖ is loaded, depending on its usage, with several possibilities of interpretation, for example, it can correspond to the senses of nature and also to aspects of social interaction.