Sob a Moldura Da Tropicália: Canções E Capas De Discos Em Relações Intersistêmicas

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Sob a Moldura Da Tropicália: Canções E Capas De Discos Em Relações Intersistêmicas UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – UFPB CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS TESE DE DOUTORADO SOB A MOLDURA DA TROPICÁLIA: CANÇÕES E CAPAS DE DISCOS EM RELAÇÕES INTERSISTÊMICAS LUÍS ANDRÉ BEZERRA DE ARAÚJO ORIENTADOR: PROF. DR. AMADOR RIBEIRO NETO JOÃO PESSOA-PB 2013 LUÍS ANDRÉ BEZERRA DE ARAÚJO SOB A MOLDURA DA TROPICÁLIA: CANÇÕES E CAPAS DE DISCOS EM RELAÇÕES INTERSISTÊMICAS Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Letras da Universidade Federal da Paraíba em cumprimento às exigências para obtenção do título de Doutor em Letras. Área de concentração: Literatura e Cultura Orientador: Prof. Dr. Amador Ribeiro Neto JOÃO PESSOA-PB 2013 BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Amador Ribeiro Neto (UFPB) Professor orientador Prof. Dr. Jorge Luiz Antonio (UNISO) Examinador Prof. Dr. Edson Soares Martins (URCA) Examinador Profª. Drª. Elinês de Albuquerque Vasconcélos e Oliveira (UFPB) Examinadora Profª. Drª. Genilda Azerêdo (UFPB) Examinadora Prof. Dr. Luiz Antonio Mousinho Magalhães (UFPB) Suplente RESUMO A Tropicália surgiu no final de 1967, com as canções ―Alegria, alegria‖ (Caetano Veloso) e ―Domingo no parque‖ (Gilberto Gil). Mas foi em 1968 que o movimento musical deixou registrado em disco suas principais obras. Naquele ano foram lançados os discos de Tom Zé, Mutantes, Caetano Veloso, Gilberto Gil e o disco coletivo Tropicália ou panis et circensis. Estes álbuns representaram um novo momento na canção brasileira: da abertura explícita aos diálogos culturais com outros países e com diversas linguagens artísticas. Nosso trabalho investiga como se deu, paralelamente, a virada de rumo no design gráfico brasileiro, a partir da análise das capas destes discos, dialogando as imagens com as canções. Partimos dos estudos de Luiz Tatit sobre canção e do conceito de diálogo cultural segundo a Semiótica da Cultura. Palavras-chave: Tropicália; canção; design gráfico; capas de discos; Semiótica da Cultura. ABSTRACT Tropicalia emerged in late 1967 with the songs ―Alegria, Alegria‖ (Caetano Veloso) and ―Domingo no Parque‖ (Gilberto Gil). But it was in 1968 that the musical movement left his major works recorded. In that year were released records by Tom Zé, Os Mutantes, Caetano Veloso, Gilberto Gil and the collective record Tropicália ou panis et circensis. These albums represented a new moment in the Brazilian Music: opening the explicit cultural dialogues with other countries and with different artistic languages. Our work investigates how was, parallely, turned towards the Brazilian graphic design, from the analysis of the covers of these records, discussing the images with the songs. We started from Luiz Tatit‘s studies on song and the concept of cultural dialogue according to the Semiotics of Culture. Keywords: Tropicália; song; graphic design; album covers; Semiotics of Culture. AGRADECIMENTOS Aos meus pais, irmãos, sobrinhas, minha afilhada e demais familiares (da Paraíba e do Ceará) que sempre me deram todo tipo de apoio durante a pesquisa; A Sylvia toda a paciência durante um longo período em que estivemos distantes. Mas ela sempre esteve presente de alguma forma, com muita amizade e companheirismo, compartilhando momentos importantes que serviram de motivação para que eu seguisse em frente; Ao professor Amador (grande mestre) a amizade, as aulas, as orientações precisas e, acima de tudo, a demonstração de estar sempre à disposição para auxiliar, para ajudar bastante; Aos professores da graduação na URCA, que me deram a base para que eu cumprisse importantes etapas. Em especial ao professor Edson Martins, que além do importante auxílio nas pesquisas, acertou em cheio ao apontar-me o caminho do PPGL da UFPB; Aos meus professores da pós-graduação, que muito contribuíram para a minha formação em diversos momentos, especialmente: Genilda Azerêdo, Elinês Albuquerque, Luiz Mousinho e Hélder Pinheiro; Ao professor Jorge Luiz Antonio, pela disponibilidade em ler o trabalho e colaborar com a pesquisa; Ao trio Eduardo, Harlon e Rafael, com quem dividi contas, espaço, aperreios e comédias durante a estada em João Pessoa; Ao casal David e Dalila, que sempre esteve presente, no Ceará ou na Paraíba, para compartilhar momentos importantes de amizade e descontração; Aos amigos d‘O Berro, camaradas de longa data: Hudson, Regi, Ythallo e Fredson; Aos pesquisadores do LES (companheiros na pesquisa sobre poesia digital), a tantas outras amizades que fiz na Paraíba e aos amigos com quem mantive contato (de perto ou à distância), motivando ainda mais a realização dos meus trabalhos. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 8 CAPÍTULO 1 ..................................................................................................................... 12 Tropicália ............................................................................................................................. 12 Um objeto sim, um objeto não......................................................................................... 12 Breves conceitos da Semiótica da Cultura ...................................................................... 18 O ―texto Tropicália‖ ........................................................................................................ 23 Organizando o movimento e orientando o carnaval ........................................................ 28 O programa e suas convergências ................................................................................... 29 CAPÍTULO 2 ..................................................................................................................... 36 A canção e o design gráfico ................................................................................................. 36 Campo interdisciplinar .................................................................................................... 36 A canção e o cancionista brasileiro ................................................................................. 37 Capas de discos no Brasil ................................................................................................ 47 As molduras e as capas .................................................................................................... 55 O design gráfico............................................................................................................... 57 CAPÍTULO 3 ..................................................................................................................... 78 Análises de canções e capas dos discos ............................................................................... 78 Tropicalista beatlemaníaco .............................................................................................. 83 A roda-gigante da capoeira .............................................................................................. 89 Yes, nós temos design gráfico ....................................................................................... 109 Sol nos quintais .............................................................................................................. 125 Palacete e dentadura ...................................................................................................... 144 As mutações com os Mutantes ...................................................................................... 153 Dos Mutantes para (outr)as mutações ........................................................................... 160 CONCLUSÃO .................................................................................................................. 163 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................. 166 8 INTRODUÇÃO ―Vocês não estão entendendo nada! Nada!‖, gritava Caetano Veloso para uma barulhenta plateia no III Festival Internacional da Canção (FIC), em 1968. Caetano estava dividindo o palco com Os Mutantes e aquele clima pesado deixava claro que existia um conflito. Mas aquele era apenas um dos conflitos de 1968 no Brasil sob regime militar — que teria a repressão ampliada assustadoramente a partir de dezembro daquele ano, com o Ato Institucional número 5, que suprimia do povo brasileiro direitos básicos, como o de ir e vir e a liberdade expressão, entre outros. Naquele dia do discurso de Caetano, durante a tentativa de cantar ―É proibido proibir‖, não havia agente do governo censurando ou proibindo a execução da canção, o conflito estava posto diretamente entre o artista e o público. Mais de quatro décadas se passaram daquele festival e muita coisa que os tropicalistas, liderados por Caetano Veloso e Gilberto Gil, queriam que se fizesse entender já foi entendido. Ou não. Se num primeiro momento as canções da Tropicália eram chamadas de ―alienantes‖, ―imperialistas‖, ―vendidas‖ — fossem por agentes de direita ou de esquerda, naquele conturbado (e maniqueísta) cenário político — num segundo momento os atores daquela novidade que se anunciava viraram referência para a Nova Canção Brasileira. Nova canção que já não se aceitava ―subdesenvolvida‖, fechada nos muros do isolamento cultural. Havia uma vontade crítica de dar um passo além, pular os muros e entender a fronteira não como algo que separa, mas também como algo que aproxima. Essa máxima vale não apenas para a canção, pois a cultura não trabalha com receitas prontas ou segue um projeto previamente estabelecido, com normas e restrições rígidas, como muitos gostariam,
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