A Canção Tropicalista: Um Percurso Crítico Belo Horizonte 2015
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Universidade Federal de Minas Gerais Escola de Música Pedro Henrique Dutra Martins Rocha Elias A canção tropicalista: um percurso crítico Belo Horizonte 2015 Universidade Federal de Minas Gerais Escola de Música Pedro Henrique Dutra Martins Rocha Elias A canção tropicalista: um percurso crítico Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Música da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Música. Linha de pesquisa: Música e Cultura Orientador: Prof. Dr. Flavio Terrigno Barbeitas Coorientador: Prof. Dr. Marcos Rogério Cordeiro Fernandes Belo Horizonte 2015 E42c Elias, Pedro Henrique Dutra Martins Rocha A canção tropicalista: um percurso crítico. / Pedro Henrique Dutra Martins Rocha Elias. --2015. 107 f., enc.; il. Orientador: Flavio Terrigno Barbeitas. Área de concentração: Música e Cultura. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Música. Inclui bibliografia. 1. Tropicalismo (movimento musical) 2. Antropofagia. 3. Indústria cultural. I. Barbeitas, Flavio Terrigno. II. Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Música. III. Título. CDD: 780.981 AGRADECIMENTOS Dedico estas páginas à memória de Nilza Marçal Dutra Martins, minha querida avó, que tanto fez para que eu chegasse até aqui. Agradeço: aos meus familiares, e à Camilla, por justificarem em cada gesto os laços afetivos que nos aproximam; aos professores que me acompanharam durante o trabalho, por me acolherem e inspirarem com exemplos de conhecimento e grandeza humana; aos meus amigos, pelos ouvidos e corações atentos; aos secretários do Programa, pelo auxílio sempre gentil; e à CAPES, que financiou esta pesquisa. RESUMO Este trabalho propõe o estudo da canção tropicalista como objeto de discussão e problematização da cultura no Brasil. Valendo-se da produção do poeta Oswald de Andrade, os tropicalistas reinterpretam a metáfora modernista da devoração, desencadeando uma ruptura que logrou a) colocar a produção cultural brasileira em sintonia com o cenário global e b) evidenciar a importância do trabalho estético como procedimento crítico e, também, um gesto político. Ora, o ímpeto de incorporar o sincretismo e as contradições intrínsecas à formação cultural do país levou a Tropicália ao controverso terreno da indústria cultural. Abraçando os grandes meios de comunicação como parte de seu projeto, os tropicalistas tencionam o debate sobre a possibilidade e o caráter da arte no âmbito da indústria cultural: a utopia do “biscoito fino” repartido com as massas ou a criação formatada por uma lógica de mercado? É possível vislumbrar outro caminho? Eis a tarefa que norteia o presente estudo. Palavras-chave: Tropicália; Modernismo; antropofagia; canção; indústria cultural SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 8 1. A ANTROPOFAGIA COMO MÉTODO .................................................................. 11 Contexto e legado ................................................................................................................. 11 “Neoantropofagismo” ........................................................................................................... 15 a. Colocação do problema ............................................................................................. 16 b. Escolha do caminho ................................................................................................... 19 c. Realização do anseio de ruptura ................................................................................ 24 d. Desconstrução das hegemonias socioculturais .......................................................... 31 e. Reformulação crítica do imaginário nacional ............................................................ 37 2. O CATÁLOGO TROPICALISTA ............................................................................. 43 Atores e canções ................................................................................................................... 43 Exemplo 1 ......................................................................................................................... 47 Exemplo 2 ......................................................................................................................... 47 Alegria, alegria ...................................................................................................................... 48 Exemplo 3 ......................................................................................................................... 50 Exemplo 4 ......................................................................................................................... 53 Exemplo 5 ......................................................................................................................... 54 Exemplo 6 ......................................................................................................................... 56 Exemplo 7 ......................................................................................................................... 56 Exemplo 8 ......................................................................................................................... 58 Tabela 1 ............................................................................................................................. 62 Exemplo 9 ......................................................................................................................... 63 3. VANGUARDA, MERCADO E O LUGAR DA TROPICÁLIA ............................... 72 Bat macumba ........................................................................................................................ 79 Exemplo 1 ......................................................................................................................... 80 Exemplo 2 ......................................................................................................................... 81 Parque industrial ................................................................................................................... 83 Exemplo 3 ......................................................................................................................... 85 Exemplo 4 ......................................................................................................................... 86 Panis et circensis ................................................................................................................... 90 Exemplo 5 ......................................................................................................................... 92 Baby ...................................................................................................................................... 96 CONCLUSÃO .............................................................................................................. 103 BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................... 106 DISCOGRAFIA ........................................................................................................... 108 VIDEOGRAFIA ........................................................................................................... 108 INTRODUÇÃO Escrever sobre a Tropicália após quase cinquenta anos da apresentação de “Alegria, alegria” e “Domingo no parque” no III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, em 1967, foi um exercício perigoso. Os grandes comentadores do assunto produziram no calor da hora. É o caso de Roberto Schwarz e Augusto de Campos, que, com disposições diferentes, reagiram de imediato à informação nova trazida pelo grupo baiano. Na década seguinte, Celso Favaretto publica Tropicália, alegoria, alegria (1979), que se torna um título de referência. Sem o aqui e agora de Schwarz e Campos, e num escopo menor que o de Favaretto, qual o rendimento possível destas páginas? A pergunta me ocorreu já com o trabalho em andamento. De alguma maneira, eu trazia a resposta comigo há algum tempo, mas era preciso perscrutá-la. Sabia que meu interesse pela Tropicália era menos uma questão de afinidade estética que de elucidação crítica, pois os problemas formalizados naquelas canções incidiam, a um tempo, sobre minhas indagações acadêmicas e minha prática musical. Formado numa geração em que a indústria cultural já havia consolidado a autoridade sobre o universal, aprendi a viver em meio à coexistência de mundos distintos: o do entretenimento midiático, isto é, das músicas, livros e filmes que alimentam a imaginação do grande público (somos todos “grande público” em alguma medida e para algum segmento do mercado); o da educação oficial, com cânones e linearidades construídas sob o signo da brasilidade; e, enfim, o da práxis cotidiana, sem encanto nem pretensão de totalidade, fragmentário por definição. O primeiro mundo certamente colocou a guitarra em meu caminho; o segundo, a ambição de conhecer meu lugar no processo histórico e entender os sentidos possíveis do que eu queria fazer. No entanto, conciliar esses dois mundos de ideias com o terceiro, das ações, não é tarefa simples. O tempo presente do verbo sugere o caminhar sem fim que tal busca compreende, para o qual o trabalho em questão, com algum otimismo, significa um passo. Revisitar a produção e a fortuna crítica da Tropicália foi uma oportunidade de conduzir ao terreno da música um debate há muito estabelecido,